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    Parte 2 3 realm

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    Parte 2 3 realm - Página 8 Empty Re: Parte 2 3 realm

    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 9:59 am

    - E um resfriado, nada mais. Ele tosse, tem arrepios e febre. Em breve, Meistre Pylos irá deixá-lo bom. Em si mesmo, o garoto não é nada, entende? Mas nas veias dele corre o sangue de meu irmão. Há poder no sangue de um rei, diz ela,
    Davos não teve de perguntar quem ela era.
    Stannis tocou a Mesa Pintada,
    - Olhe-o, Cavaleiro das Cebolas. Meu reino de direito. Meu Westeros. - Passou uma mão pelo mapa. - Essa conversa de Sete Reinos é uma loucura. Aegon compreendeu isso há trezentos anos, quando estava onde nos encontramos agora. Pintaram esta mesa por ordem dele. Pintaram rios e baías, colinas e montanhas, castelos, cidades e vilas francas, lagos, pântanos e florestas... mas nenhuma fronteira. É tudo um só. Um reino, para que um rei o governe sozinho.
    - Um rei - concordou Davos. - Um rei significa a paz.
    - Eu trarei justiça a Westeros. Algo que Sor Axell compreende tão mal quanto com¬preende a guerra. A Ilha da Garra não me traria nada... e seria uma coisa maligna, como você disse. Celtigar tem de pagar o preço da traição pessoalmente. E quando eu subir ao trono, pagará. Cada homem colherá o que semeou, do mais alto dos senhores ao mais baixo rato de sarjeta. E alguns perderão mais do que as pontas dos dedos, garanto. Fize¬ram o meu reino sangrar, e não me esqueço disso. - O Rei Stannis afastou-se da mesa. - De joelhos, Cavaleiro das Cebolas.
    - Vossa Graça?
    - Pelas cebolas e pelo peixe, fiz-lhe um dia cavaleiro. Por isso, estou decidido a fazê-lo senhor.
    Isso? Davos não entendia.
    - Sinto-me satisfeito por ser seu cavaleiro, Vossa Graça. Não saberia como começar a ser senhorial.
    - Ótimo. Ser senhorial é ser falso. Aprendi duramente essa lição. Agora, ajoelbe-se. E o seu rei que o ordena.
    Davos ajoelhou-se e Stannis puxou a espada. Melisandre chamara-a de Luminífera; a espada vermelha dos heróis, arrancada dos fogos onde os sete deuses eram consumidos. A sala pareceu ficar mais luminosa quando a lâmina saiu de dentro da bainha. O aço possuía brilho; ora laranja, ora amarelo, ora vermelho. O ar tremeluzia em volta dela, e nenhuma joia algum dia cintilou tão vivamente. Mas quando Stannis tocou com ela no ombro de Davos, este não a sentiu diferente de qualquer outra espada.
    - Sor Davos da Casa Seaworth — disse o rei é meu verdadeiro e honesto vassalo, agora e para sempre?
    - Sou, Vossa Graça.
    - E jura servir-me com lealdade todos os seus dias, dar-me conselhos honestos e obe¬diência rápida, defender os meus direitos e o meu reino contra todos os adversários, em grandes e pequenas batalhas, proteger o meu povo e punir os inimigos?
    - Sim, Vossa Graça.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 9:59 am

    - Então volte a levantar-se, Davos Seaworth, e levante-se como Senhor da Mata de Chuva, Almirante do Mar Estreito e Mão do Rei.
    Por um momento, Davos ficou atordoado demais para se mexer. Hoje de manhã acor¬dei em sua masmorra.
    - Vossa Graça, não pode... eu não sou o homem certo para ser Mão do Rei.
    - Não há homem mais certo. - Stannis embainhou Luminífera, ofereceu a mão a Davos e ajudou-o a se levantar.
    - Sou de baixo nascimento - recordou-lhe. - Um contrabandista elevado a nobre. Seus senhores nunca me obedecerão.
    - Então arranjaremos novos senhores.
    - Mas... eu não sei ler... nem escrever.
    - Meistre Pylos pode ler por você. Quanto a escrever, meu último Mão escreveu tan¬to que sua cabeça saiu de cima de seus ombros. Tudo que lhe peço é aquilo que sempre me deu. Honestidade. Lealdade. Serviço.
    - Certamente haverá alguém melhor... algum grande senhor...
    Stannis fungou.
    - Bar Emmon, aquele rapaz? Meu avô sem fé? Celtigar abandonou-me, o novo Velaryon tem seis anos, e o novo Sunglass zarpou para Volantis depois de eu quei¬mar seu irmão. - Fez um gesto irritado. - Restam alguns bons homens, é verdade. Sor Gílbert Farring ainda controla Ponta Tempestade em meu nome, com duzen¬tos homens leais. Lorde Morrigen, o Bastardo de Nocticantiga, o jovem Chy ttering, meu primo Andrew... mas não confio em nenhum deles como confio em você, senhor da Mata de Chuva. Será minha Mão. E o senhor que eu quero ao meu lado para a batalha.
    Outra batalha será o fim de todos nós, pensou Davos. Lorde Alester viu isso com bastante clareza.
    - Vossa Graça pediu conselhos honestos. Então honestamente... faltam-nos as forças para outra batalha contra os Lannister.
    - Sua Graça está falando da grande batalha - disse uma voz de mulher, enriquecida com o sotaque do leste, Melisandre encontrava-se junto à porta, vestida com suas sedas ver¬melhas e seus cintilantes cetins, com um prato de prata tampado nas mãos. - Essas guer- rinhas não são mais do que uma briga de crianças diante daquilo que está por vir. Aquele cujo nome não pode ser proferido está reunindo o seu poder, Davos Seaworth, um poder impiedoso, maligno e poderoso para lá de todas as medidas. Em breve chegará o frio, e a noite que nunca termina. - Apoiou o prato de prata na Mesa Pintada. - A não ser que ho¬mens verdadeiros encontrem a coragem de lutar contra ele. Homens cujo coração seja fogo.
    Stannis fitou o prato de prata.
    - Ela mostrou-me, Lorde Davos, Nas chamas.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 9:59 am

    - Viu isso, senhor? - mentir sobre uma coisa dessas não seria algo que Stannis Baratheon faria.
    - Com meus próprios olhos. Depois da batalha, quando estava perdido em deses¬pero, a Senhora Melisandre pediu-me para fitar o fogo da lareira. A chaminé puxava o ar com força, e pedacinhos de cinzas erguiam-se do fogo. Eu fitei-os, sentindo-me um pouco tolo, mas ela me pediu para olhar mais fundo, e... as cinzas eram brancas, erguendo-se na corrente ascendente de ar, mas de repente era como se estivessem cain¬do, Neve, pensei. Então as fagulhas no ar pareceram formar um círculo, para se trans¬formarem em um anel de archotes, e eu estava olhando através do fogo para um monte alto qualquer numa floresta. As brasas tinham se transformado em homens de negro atrás dos archotes, e havia silhuetas em movimento através da neve. Apesar de todo o calor do fogo, senti um frio tão terrível que me arrepiei, e quando isso aconteceu, a visão desapareceu, e o fogo era de novo apenas um fogo. Mas o que vi foi real, apostaria nisso o meu reino.
    - E foi o que fez - disse Melisandre.
    A convicção na voz do rei assustou Davos profundamente.
    - Um monte numa floresta... silhuetas na neve... eu não...
    - Significa que a batalha começou - disse Melisandre. - A areia corre agora mais depressa pela ampulheta, e o tempo do homem sobre a terra está quase no fim, Temos de agir com ousadia, senão toda a esperança estará perdida, Westeros tem de se unir sob seu único rei verdadeiro, o príncipe que foi prometido, Senhor de Pedra do Dragão e escolhido de Rhllor.
    - Então R'hllor faz estranhas escolhas. - O rei fez uma careta, como quem saboreia algo desagradável, - Por que eu e não meus irmãos? Renly e seu pêssego. Em meus so¬nhos, vejo o sumo escorrendo da boca dele, e o sangue da garganta. Se tivesse cumprido seu dever para com o irmão, teríamos esmagado Lorde Tywin, Uma vitória de que até Robert poderia se orgulhar, Robert... - Seus dentes rangeram, de um lado para o outro. - Ele também aparece em meus sonhos. Rindo, Bebendo. Vangloriando-se. Eram as coi¬sas que ele fazia melhor. Isso, e lutar. Nunca o venci em nada. O Senhor da Luz devia ter feito de Robert o seu campeão. Por que eu?
    - Porque é um homem reto - disse Melisandre.
    - Um homem reto. - Stannis tocou com um dedo a bandeja de prata tampada. - Com sanguessugas.
    - Sim - falou Melisandre mas tenho de lhe dizer de novo, esta não é a maneira certa.
    -Jurou que daria certo. - O rei parecia zangado.
    - Dará... e não dará,
    - Ou uma coisa ou a outra.
    - Ambas,
    - Fale com sentido comigo, mulher,
    - Quando os fogos falarem mais claramente, o mesmo farei eu, Há verdade nas cha¬mas, mas nem sempre é fácil ver. - O grande rubi em sua garganta bebia fogo do clarão do braseiro. - Dê-me
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:00 am

    o garoto, Vossa Graça, E a maneira mais segura, A melhor manei¬ra. Dê-me o garoto e acordarei o dragão de pedra.
    -Já lhe disse que não,
    - Ele é apenas um garoto ilegítimo, contra todos os garotos de Westeros e todas as garotas também. Contra todas as crianças que podem nunca chegar a nascer, em todos os reinos do mundo.
    - O garoto é inocente.
    - O garoto conspurcou sua cama nupcial e, se assim não fosse, certamente teria filhos seus. Ele envergonhou-o.
    - Quem fez isso foi Robert. Não o garoto. Minha filha tornou-se amiga dele. E ele é do meu próprio sangue.
    - É do sangue de seu irmão - disse Melisandre. - Do sangue de um rei. Só o sangue de um rei pode acordar o dragão de pedra.
    Stannis rangeu os dentes.
    - Não quero ouvir mais nada sobre isso. Os dragões acabaram-se. Os Targaryen ten¬taram trazê-los de volta meia dúzia de vezes. E fizeram papel de bobos, ou de cadáve¬res. Cara-Malhada é o único bobo de que precisamos neste rochedo esquecido por deus. Você tem as sanguessugas. Faça o seu trabalho.
    Melisandre inclinou rigidamente a cabeça e disse:
    - Às ordens de meu rei. - Enfiou a mão direita na manga esquerda e atirou um pu¬nhado de pó dentro do braseiro. Os carvões rugiram. Enquanto chamas pálidas se con- torciam por cima deles, a mulher vermelha pegou o prato de prata e levou-o ao rei. Davos viu-a levantar a tampa. Por baixo dela encontravam-se três grandes sanguessugas negras, inchadas com sangue.
    O sangue do garoto, soube Davos, Sangue de um rei.
    Stannis estendeu uma mão, e seus dedos fecharam-se em volta de uma das sangues¬sugas.
    - Diga o nome - ordenou Melisandre.
    A sanguessuga retorcia-se na mão do rei, tentando se prender a um de seus dedos.
    - O usurpador - disse ele, - JofFrey Baratheon, - Quando atirou a sanguessuga no fogo, ela enrolou-se entre os carvões como uma folha de outono e incendiou-se.
    Stannis agarrou a segunda,
    - O usurpador - declarou, dessa vez mais alto. - Balon Greyjoy. - Deu-lhe um piparote ligeiro para dentro do braseiro, e o corpo do animal abriu-se e crepitou. O san¬gue jorrou de seu interior, silvando e fiimegando,
    A última sanguessuga estava na mão do rei. Estudou aquela por um momento, en¬quanto se contorcia entre seus dedos.
    - O usurpador - disse por fim, - Robb Stark. - E atirou-a para as chamas.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:00 am

    Jaime 435



    A casa de banhos de Harrenhal era uma sala sombria, repleta de vapor e com teto baixo, cheia de grandes banheiras de pedra. Quando fizeram Jaime entrar, foram encontrar Brienne sentada numa delas, esfregando o braço quase furiosamente.
    - Com menos força, garota - gritou ele. - Assim faz sair a pele. - Ela deixou cair a escova e cobriu os peitos com mãos tão grandes quanto as de Gregor Clegane. Os peque¬nos botões pontiagudos que estava tão decidida a esconder teriam parecido mais natu¬rais em qualquer garotinha de dez anos do que em seu peito amplo e musculoso.
    - O que está fazendo aqui? - exigiu saber.
    - Lorde Bolton insiste que eu jante com ele, mas esqueceu de convidar as minhas pulgas. - Jaime puxou o guarda com a mão esquerda. - Ajude-me a tirar estes farra¬pos fedorentos. - Com apenas uma mão nem sequer era capaz de desatar os calções. O homem obedeceu de má vontade, mas obedeceu. - Agora deixe-nos - disse Jaime quando sua roupa já jazia numa pilha no chão úmido de pedra. - A Senhora de Tarth não quer ralé como você olhando de boca aberta para os peitos dela. - Apontou com o coto para a mulher com rosto de machadinha que prestava assistência a Brienne. - Você também. Espere lá fora. Só há essa porta, e a garota é grande demais para tentar subir por uma chaminé.
    O hábito de obediência estava profundamente entranhado. A mulher seguiu o guarda para fora, deixando a casa de banhos para os dois. As banheiras tinham tamanho sufi¬ciente para seis ou sete pessoas, à moda das Cidades Livres, e Jaime entrou na da moça, desajeitado e lento. Tinha ambos os olhos abertos, embora o direito ainda estivesse um pouco inchado, apesar das sanguessugas de Qyburn. Jaime sentia-se com cento e nove anos, o que era bastante melhor do que se sentia quando tinha chegado a Harrenhal.
    Brienne encolheu-se para longe dele.
    - Há outras banheiras.
    - Esta está bastante boa para mim. - Imergiu-se na água fumegante, com cautela, até o queixo. - Não tenha medo, garota. Suas coxas estão roxas e verdes e não estou interes¬sado no que tem entre elas. - Teve de apoiar o braço direito na borda da banheira, pois Qyburn prevenira-o para manter o linho seco. Conseguia sentir a tensão desaparecendo de suas pernas, mas a cabeça começou a girar. Se eu desmaiar, puxe-me para fora. Nun¬ca nenhum Lannister se afogou no banho, e não pretendo ser o primeiro.
    - Por que me importaria se morresse?
    Prestou um voto solene. - Sorriu quando um rubor subiu pela grossa coluna bran-ca que era o pescoço da garota. Ela virou as costas para ele. - Continua se fazendo de donzela recatada? O que
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:00 am

    é que você acha que eu ainda não vi? - procurou às apalpadelas a escova que ela tinha deixado cair, encontrou-a com os dedos e começou a se esfregar sem método. Até isso era difícil e incômodo. Minha mão esquerda não presta para nada.
    Apesar de tudo, a água escureceu à medida que a sujeira incrustada que tinha na pele foi se dissolvendo. A garota manteve as costas voltadas para ele, com os músculos de seus grandes ombros corcovados e duros.
    - Ver o meu coto aflige-a assim tanto? - perguntou Jaime. - Deveria estar satisfeita. Perdi a mão com que matei o rei. A mão que atirou o pequeno Stark daquela torre. A mão que enfiava entre as coxas de minha irmã para deixá-la molhada, - Pôs o coto diante do rosto dela. - Não admira que Renly tenha morrido, com você a guardá-lo.
    Brienne ficou em pé de um salto, como se Jaime tivesse batido nela, fazendo com que uma onda de água quente percorresse a banheira, Jaime obteve um vislumbre do espesso matagal louro que a garota tinha entre as coxas quando ela saiu da banheira. Era mui¬to mais peluda do que sua irmã. Absurdamente, sentiu o pau se agitar dentro da água. Agora sei que estou há tempo demais longe de Cersei. Desviou os olhos, perturbado pela resposta de seu corpo.
    - Isso foi indigno - murmurou. - Fui estropiado e estou amargo. Perdoe-me, garo¬ta. Protegeu-me tão bem quanto qualquer homem poderia proteger, e melhor do que a maioria.
    Ela enrolou sua nudez numa toalha.
    - Está zombando de mim?
    Aquilo voltou a enfurecê-lo.
    - Terá uma cabeça tão dura como a muralha de um castelo? Isso foi um pedido de desculpas. Estou farto de lutar com você. O que diz de fazermos uma trégua?
    - As tréguas constroem-se com base na confiança. Quer que eu confie...
    - No Regicida, sim. O perjuro que assassinou o pobrezinho do Aerys Targaryen. - Jaime fungou. - Não é de Aerys que me arrependo, é de Robert, "Ouvi dizer que cha¬mam você de Regicida", disse-me no banquete de sua coroação. "Que não pense em fazer disso um hábito." E riu. Por que é que ninguém chama Robert de perjuro? Ele despeda¬çou o reino, e no entanto eu é que tenho merda no lugar da honra.
    - Robert fez o que fez por amor. - A água escorria pelas pernas de Brienne e formava uma poça sob seus pés.
    - Robert fez o que fez por orgulho, uma boceta e um rosto bonito. - Fechou a mão em punho... ou teria fechado, se tivesse mão. A dor atravessou seu braço, cruel como uma gargalhada.
    - Ele foi à guerra para salvar o reino - insistiu ela.
    Para salvar o reino.
    - Sabia que meu irmão incendiou a Torrente da Água Negra? O fogovivo arde na água. Aerys teria tomado banho nele se tivesse se atrevido. Todos os Targaryen eram loucos por fogo. - Jaime sentia-se entontecido. Será por causa do calor que faz aqui, do veneno que tenho no coração, dos
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:01 am

    restos da febre? Não sou eu mesmo. Recostou-se até que a água chegou na altura de seu queixo. - Sujei o meu manto branco... nesse dia usava a armadura dourada, mas...
    - Armadura dourada? - a voz dela soava distante, tênue.
    Jaime flutuava no calor, na memória.
    - Depois que grifos dançantes perdeu a Batalha dos Sinos, Aerys exilou-o. - Por que estou dizendo isso a esta criança absurdamente feia? - Tinha finalmente compreen¬dido que Robert não era um mero senhor fora da lei que pudesse ser esmagado ao seu bel-prazer, mas sim a maior ameaça que a Casa Targaryen havia enfrentado desde Daemon Blackfyre. O rei rudemente lembrou Lewyn Martell de que tinha Elia em seu poder e ordenou-lhe que fosse comandar os dez mil dorneses que subiam a estrada do rei. Jon Darry e Barristan Selmy cavalgaram para o Septo de Pedra a fim de reunirem todos os homens dos grifos que conseguissem, e o Príncipe Rhaegar retornou do sul e persuadiu o pai a engolir o orgulho e mandar chamar meu pai. Mas nenhum corvo voltou de Rochedo Casterly, e isso deixou o rei ainda mais assustado. Via traidores em todo lugar, e Varys estava sempre lá para apontar algum que ele pudesse ter dei¬xado escapar. Assim, Sua Graça ordenou que seus alquimistas escondessem reservas de fogo vivo por todo Porto Real. Sob o Septo de Baelor e os casebres da Baixada das Pulgas, por baixo de estábulos e armazéns, em todos os sete portões, até mesmo nos porões da própria Fortaleza Vermelha.
    "Tudo foi feito no maior segredo por um punhado de mestres piromantes. Nem se¬quer confiaram em seus próprios acólitos para ajudar. Os olhos da rainha já estavam fe¬chados havia anos, e Rhaegar andava ocupado organizando um exército. Mas o novo ocupante do cargo de Mão de Aerys, o da maça e punhal, não era inteiramente burro, e com Rossart, Belis e Garigus entrando e saindo noite e dia, começou a desconfiar. Chels- ted, era esse o nome dele, Lorde Chelsted. "O nome veio-lhe de súbito à memória, com o contar da história." Eu julgava o homem covarde, mas no dia em que confrontou Aerys encontrou coragem em algum lugar. Fez tudo que pôde para dissuadi-lo. Argumentou, gracejou, ameaçou e por fim implorou. Quando isso falhou, tirou a corrente do cargo e jogou-a no chão. Por causa disso, Aerys queimou-o vivo, e pendurou a corrente no pes¬coço de Rossart, seu piromante preferido. O homem que cozinhara Lorde Rickard Stark em sua própria armadura. E, durante todo esse tempo, eu fiquei em pé com a minha ar-madura branca, na base do Trono de Ferro, imóvel como um cadáver, guardando o meu suserano e todos os seus queridos segredos.
    "Todos os meus irmãos juramentados estavam longe, compreende? Mas Aerys gos¬tava de me manter por perto. Eu era filho do meu pai, por isso não confiava em mim. Queria-me onde Varys pudesse me vigiar, de dia e de noite. Portanto, ouvi tudo. "Re¬cordou como os olhos de Rossart costumavam brilhar quando desenrolava seus mapas para mostrar onde a substância devia ser colocada. Garigus e Belis eram iguais." Rhaegar defrontou Robert no Tridente, e já sabe o que aconteceu aí. Quando a notícia chegou à corte, Aerys enviou a rainha para Pedra do Dragão com o Príncipe Viserys. A Princesa Elia também queria ir, mas ele proibiu-a. De algum modo, tinha se
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:01 am

    convencido de que o Príncipe Lewyn devia ter traído Rhaegar no Tridente, mas achava que podia manter Dorne leal desde que mantivesse Elia e Aegon junto a si. 'Os traidores querem a minha cidade', ouvi-o dizer a Rossart,'mas não lhes darei nada a não ser cinzas. Que Robert seja rei de ossos carbonizados e carne esturricada. Os Targaryen nunca enterram seus mor¬tos, queimam-nos. Aerys queria ter a maior pira funerária de todas. Se bem que, a bem da verdade, não creio que ele realmente esperasse morrer. Tal como Aerion Chama-Viva, antes dele, Aerys acreditava que o fogo o transformaria... que se ergueria novamente, re¬nascido como dragão, e transformaria todos os inimigos em cinzas.
    "Ned Stark corria para o sul com a vanguarda de Robert, mas as forças de meu pai chegaram primeiro à cidade. Pycelle convenceu o rei de que seu Guardião do Oeste viera defendê-lo, por isso mandou abrir os portões. A única vez em que devia ter dado ouvidos a Varys, ignorou-o, Meu pai mantivera-se afastado da guerra, remoendo todas as desfei¬tas que Aerys tinha feito a ele e determinado a ver a Casa Lannister do lado dos vencedo¬res. O Tridente decidiu-o.
    "Coube a mim defender a Fortaleza Vermelha, mas eu sabia que estávamos perdidos. Mandei uma mensagem a Aerys, pedindo sua autorização para combinar uma rendição. Meu homem regressou com uma ordem régia.'Traga-me a cabeça de seu pai, se não for um traidor,' Aerys não se renderia. Meu mensageiro disse-me que Lorde Rossart se en¬contrava com ele. Eu sabia o que isso queria dizer,
    "Quando encontrei Rossart, ele estava vestido como um homem de armas comum e caminhava apressado na direção de uma porta falsa, Foi quem matei primeiro. E depois matei Aerys, antes que ele pudesse encontrar mais alguém que levasse sua mensagem aos piromantes. Dias mais tarde, cacei os outros e matei-os também. Belis ofereceu-me ouro, e Garigus chorou por misericórdia. Bem, uma espada é mais misericordiosa do que o fogo, mas não me parece que Garigus tenha gostado muito da bondade que lhe fiz."
    A água tinha esfriado. Quando Jaime abriu os olhos, deu por si fitando o coto da sua mão da espada. A mão que fez de mim Regicida. O bode privara-o da glória e da vergonha, tudo ao mesmo tempo. Deixando o quê? Quem sou eu agora?
    A garota tinha um aspecto ridículo, apertando a toalha aos seus pobres peitos, com as grossas pernas brancas saindo por baixo.
    - Minha história deixou-a sem fala? Vá lá, amaldiçoe-me, beije-me ou chame-me de mentiroso. Qualquer coisa.
    - Se isso é verdade, por que é que ninguém sabe?
    - Os cavaleiros da Guarda Real juram guardar os segredos do rei. Queria que que¬brasse o juramento? - Jaime soltou uma gargalhada. - Acha que o nobre Senhor de Winterfell queria ouvir as minhas débeis explicações? Um homem tão honroso. Bastou olhar para mim para me julgar culpado. - Jaime pôs-se em pé, com a água escorrendo fria por seu peito. - Com que direito o lobo
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:01 am

    julga o leão? Com que direito ? - um violento arre¬pio dominou-o, e bateu com o coto contra a borda da banheira quando tentava sair dela.
    A dor trespassou-o... e de repente a casa de banhos estava girando. Brienne apanhou- -o antes de ele cair. O braço dela estava todo arrepiado, úmido e gelado, mas a garota era forte, e mais gentil do que ele julgara. Mais gentil do que Cersei, pensou enquanto ela o ajudava a sair da banheira, com pernas bambas como um pau mole.
    - Guardas/ - ouviu a garota gritar. - O Regicidal
    Jaime, pensou ele, meu nome é Jaime.
    Quando acordou, jazia no chão úmido com os guardas, a moça e Qyburn em pé à sua volta, com expressões preocupadas no rosto. Brienne estava nua, mas no momento pare¬cia ter se esquecido do fato,
    - O calor das banheiras é capaz disso - Meistre Qyburn estava lhes dizendo. Não, ele não é um meistre, tiraram seu colar. - E também ainda há veneno em seu sangue, e está malnutrido. O que lhe têm dado para comer?
    - Vermes, mijo e vômito cinzento - informou Jaime.
    - Pão duro, água e mingau de aveia - insistiu o guarda. - Mas ele quase não come. O que devemos fazer com ele?
    - Esfreguem-no, vistam-no e carreguem-no até a Pira do Rei, se for preciso - disse Qyburn. - Lorde Bolton insiste em jantar com ele esta noite. Começamos a ficar sem tempo.
    - Tragam roupas limpas para ele - disse Brienne -, vou me certificar de que se lave e se vista.
    Os outros ficaram mais do que satisfeitos por ceder a tarefa à garota. Puseram-no de pé e sentaram-no num banco de pedra junto da parede. Brienne afastou-se para recupe¬rar a toalha, e voltou com uma escova rija para acabar de esfregá-lo. Um dos guardas deu- -lhe uma navalha para aparar a barba de Jaime. Qyburn retornou com roupas de baixo de tecido grosseiro, uns calções limpos de lã negra, uma túnica larga e verde, e um gibão de couro amarrado na frente. Jaime já se sentia menos tonto a essa altura, embora igualmen¬te desajeitado. Com a ajuda da garota conseguiu se vestir.
    - Agora só preciso de um espelho de prata.
    Meistre Sangrento também trouxera roupa lavada para Brienne; um vestido de cetim cor-de-rosa manchado e uma túnica de linho.
    - Lamento, senhora. Estes são os únicos trajes de mulher que temos em Harrenhal grandes o suficiente para você.
    Tornou-se evidente de imediato que o vestido fora cortado para alguém com braços mais esbeltos, pernas mais curtas e seios muito mais cheios. A fina renda de Myr pouco fazia para ocultar os hematomas que manchavam a pele de Brienne. Juntando tudo, o vestido fazia a garota parecer ridícula. Ela tem ombros mais largos do que os meus e um pes¬coço maior, pensou Jaime. Pouco admira que prefira vestir cota de malha, E o rosa também não era cor que a favorecesse
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:01 am

    Uma dúzia de piadas cruéis vieram-lhe à cabeça, mas, por uma vez, manteve-as lá dentro. Era melhor não irritá-la; Jaime não tinha chance contra ela, com uma mão apenas.
    Qyburn também tinha trazido um frasco.
    - O que é isso? - perguntou Jaime quando o meistre sem colar insistiu para que be- besse.
    - Alcaçuz macerado em vinagre, com mel e cravo. Vai dar alguma força e limpar a sua cabeça.
    - Traga-me a poção que faz nascer novas mãos - disse Jaime. - E essa que eu desejo.
    - Beba - disse Brienne, sem sorrir, e ele bebeu.
    Passou-se meia hora até que se sentisse suficientemente forte para ficar em pé. Depois do calor sombrio e úmido da casa de banhos, o ar lá fora foi como um tapa na cara.
    - A esta hora, o senhor deve andar à procura dele - disse um guarda a Qyburn» - E dela também. Tenho de carregá-lo?
    - Ainda consigo andar. Brienne, dê-me o braço.
    Agarrando-se a ela, Jaime permitiu que o pastoreassem através do pátio e para o interior de um grande salão cheio de correntes de ar, que era maior até do que a sala do trono em Porto Real. Enormes lareiras abriam-se nas paredes, uma a cada três metros, mais ou me¬nos, em maior número do que ele era capaz de contar, mas nenhum fogo fora aceso, e o frio entre as paredes chegava aos ossos, Uma dúzia de lanceiros com manto de peles guardava as portas e os degraus que levavam às duas galerias superiores. E, no centro daquele imenso vazio, em uma mesa de montar rodeada por aquilo que parecia ser acres de assoalho liso de ardósia, o Senhor do Forte do Pavor aguardava, servido apenas por um copeiro.
    - Senhor - disse Brienne, quando se aproximaram dele.
    Os olhos de Roose Bolton eram mais claros do que pedra, mais escuros do que leite, e sua voz tinha a suavidade das aranhas.
    - Agrada-me vê-lo suficientemente forte para me fazer companhia, sor. Senhora, sente-se. - Fez um gesto para o queijo, o pão, as carnes frias e as frutas que cobriam a mesa. - Preferem branco ou tinto? Receio que sejam de uma colheita banal. Sor Amory deixou a adega da Senhora Whent quase seca.
    - Confio que o tenha mandado matar por isso. - Jaime deslizou rapidamente para a cadeira que lhe foi oferecida, de modo que Bolton não pudesse ver quão fraco se encon¬trava. - Branco é para os Stark. Bebo do tinto, como um bom Lannister.
    - Eu preferiria água - disse Brienne.
    - Elmar, o tinto para Sor Jaime, água para a Senhora Brienne e hipocraz para mim. - Bolton sacudiu uma mão na direção da escolta, mandando-a embora, e os homens se retiraram em silêncio.
    O hábito levou Jaime a estender a mão direita para o vinho. O coto fez a taça balançar, salpicando de vermelho vivo suas ataduras de linho limpas e forçando-o a pegar a taça com a mão
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:02 am

    esquerda antes que ela caísse, mas Bolton fingiu não notar sua falta de jeito. O nortenho serviu-se de uma ameixa seca e comeu-a com pequenas e rápidas dentadas.
    - Experimente estas ameixas, Sor Jaime. São extremamente doces, e também ajudam as tripas a trabalhar. Lorde Vargo tirou-as de uma estalagem antes de incendiá-la.
    - Minhas tripas trabalham bem, o bode não é lorde nenhum, e suas ameixas não me despertam nem metade do interesse que sinto por suas intenções.
    - A seu respeito? - um leve sorriso tocou os lábios de Roose Bolton. - E um troféu perigoso, sor. Semeia a discórdia onde quer que vá. Até aqui, em minha feliz casa de Har¬renhal. - Sua voz era um milímetro acima de um murmúrio. - E em Correrrio também, ao que parece. Sabe que Edmure Tully ofereceu mil dragões de ouro por sua recaptura?
    Só isso?
    - Minha irmã pagará dez vezes esse valor.
    - Ah, sim? - de novo aquele sorriso, exibido por um instante, desaparecido no se¬guinte. - Dez mil dragões é uma soma formidável. Claro, deve-se também considerar a oferta de Lorde Karstark. Ele promete a mão da filha dele ao homem que lhe trouxer sua cabeça.
    -Só mesmo seu bode para entender isso ao contrário - disse Jaime.
    Bolton soltou um suave risinho.
    - Harrion Karstark era cativo aqui quando tomamos o castelo, sabia? Dei-lhe to¬dos os homens de Karhold que ainda tinha comigo e mandei-o com Glover. Espero que nada de mal lhe aconteça em Valdocaso... caso contrário, Alys Karstark será tudo que resta da descendência de Lorde Rickard. - Escolheu outra ameixa seca. - Feliz¬mente para você não preciso de uma esposa. Casei com a Senhora Walda Frey enquan¬to estava nas Gêmeas.
    - A Bela Walda? - desajeitadamente, Jaime tentou segurar o pão com o coto enquan¬to o partia com a mão esquerda.
    - A Walda Gorda. O senhor de Frey ofereceu-me o peso de minha noiva em pra¬ta como dote, portanto fiz a escolha apropriada. Elmar, parta um pouco de pão para Sor Jaime.
    O rapaz arrancou um bocado do tamanho de um punho de uma das extremidades do pão e entregou-o a Jaime. Brienne partiu seu próprio pão.
    - Lorde Bolton - perguntou a garota dizem que pretende entregar Harrenhal a Vargo Hoat.
    - Foi esse o seu preço - disse Lorde Bolton. - Os Lannister não são os únicos que pagam as suas dívidas. Em todo o caso, tenho de me retirar em breve. Edmure Tully deverá se casar com a Senhora Roslin Frey nas Gêmeas, e meu rei ordena-me que es¬teja presente.
    - Edmure vai se casar? - perguntou Jaime. - Não é Robb Stark?
    - Sua Graça o Rei Robb já se casou. - Bolton cuspiu um caroço de ameixa na mão e deixou-o de lado. - Com uma Westerling do Despenhadeiro. Foi-me dito que o nome dela é Jeyne. Sem dúvida a conhece, sor. O pai dela é vassalo do seu.
    - Meu pai tem bastantes vassalos, e a maioria deles tem filhas. - Jaime tateou só com uma mão em busca da taça, tentando se recordar daquela Jeyne. Os Westerling eram uma casa antiga, com mais orgulho do que poder.
    - Isso não pode ser verdade - disse teimosamente Brienne. - O Rei Robb jurou se casar com uma Frey. Ele nunca quebraria a promessa, ele...
    - Sua Graça é um rapaz de dezesseis anos - disse brandamente Roose Bolton. - E eu agradeceria se não questionasse a minha palavra, senhora.
    Jaime quase sentiu pena de Robb Stark. Ele ganhou a guerra no campo de batalha e perdeu-a numa cama, pobre tolo.
    - Lorde Walder aprecia jantar truta em vez de lobo? - perguntou.
    - Oh, truta dá um jantar saboroso. - Bolton levantou um dedo pálido para o copei- ro. - Embora meu pobre Elmar tenha sido posto de lado, Ele deveria se casar com Arya Stark, mas meu sogro Frey não teve escolha exceto quebrar o noivado, quando o Rei Robb o traiu.
    - Há alguma notícia de Arya Stark? - Brienne inclinou-se para a frente, - A Senhora Catelyn temeu que... a garota ainda está viva?
    - Oh, sim - disse o Senhor do Forte do Pavor.
    - Tem conhecimento seguro desse fato, senhor?
    Roose Bolton encolheu os ombros.
    - Arya Stark andou perdida durante algum tempo, é verdade, mas agora foi encontra¬da. Pretendo enviá-la de volta ao Norte em segurança.
    - Tanto ela quanto a irmã - disse Brienne. - Tyrion Lannister prometeu-nos ambas as garotas em troca do irmão.
    Aquilo pareceu divertir o Senhor do Forte do Pavor.
    - Minha senhora, ninguém lhe disse? Os Lannister mentem.
    - Isso é uma desfeita à honra de minha Casa? - Jaime pegou a faca do queijo com a mão boa. - Uma ponta redonda, e pouco afiada - disse, deslizando o polegar pelo gume da lâmina -, mas entrará em seu olho mesmo assim. - O suor cobriu sua testa de gotícu- las. Só podia esperar que não parecesse tão fraco quanto se sentia.
    O pequeno sorriso de Lorde Bolton fez outra visita aos seus lábios.
    - Fala com ousadia, para um homem que precisa de ajuda para partir o pão. Recordo- -lhe de que meus guardas se encontram em toda a nossa volta.
    - Em toda a nossa volta e a meia légua de distância. - Jaime lançou um olhar de re¬lance ao longo do vasto comprimento do salão, - Quando chegarem até nós, estará tão morto como Aerys.
    - É pouco cavalheiresco lançar ameaças ao seu anfitrião por cima de seus próprios queijos e azeitonas - disse o Senhor do Forte do Pavor, em tom de reprimenda. - No Norte ainda temos como sagradas as leis da hospitalidade.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:02 am

    - Eu aqui sou um prisioneiro, não um hóspede. Seu bode cortou minha mão. Se acha que um punhado de ameixas secas fará com que me esqueça disso, está muito enganado.
    Aquilo surpreendeu Roose Bolton.
    - Talvez esteja. Talvez deva fazer de você um presente de casamento para Edmure Tully... ou cortar sua cabeça, como sua irmã fez a Eddard Stark,
    - Não aconselharia isso. Rochedo Casterly tem boa memória.
    - Há mil léguas de montanha, mar e pântano entre as minhas muralhas e o seu ro¬chedo. A inimizade dos Lannister pouco significa para um Bolton.
    - A amizade dos Lannister poderia significar muito. - Jaime julgava conhecer o jogo que agora jogavam. Mas será que a garota também o conhece? Não se atreveu a olhar para ver.
    - Não estou certo de que sejam o tipo de amigos que um homem sensato quereria. - Roose Bolton fez um gesto para chamar o garoto. - Elmar, corte uma fatia de assado para os nossos convidados.
    Brienne foi servida primeiro, mas não fez qualquer movimento para comer.
    - Senhor - disse -, Sor Jaime deve ser trocado pelas filhas da Senhora Catelyn. Deve nos libertar para prosseguirmos o nosso caminho.
    - O corvo que chegou de Correrrio falou de uma fuga, não de uma troca. E se ajudou este prisioneiro a escapar de suas correntes, é culpada de traição, senhora.
    A grande moça pôs-se em pé.
    - Eu sirvo a Senhora Stark.
    - E eu sirvo o Rei no Norte. Ou o Rei que Perdeu o Norte, como alguns o chamam agora. O qual nunca desejou negociar Sor Jaime com os Lannister.
    - Sente-se e coma, Brienne - exortou Jaime, enquanto Elmar colocava uma fatia de assado à sua frente, escura e sangrando. - Se Bolton pretendesse nos matar, não estaria desperdiçando suas preciosas ameixas conosco, colocando suas tripas em tamanho peri¬go. - Fitou a carne e compreendeu que não tinha como cortá-la só com uma mão. Agora valho menos do que uma menina, pensou. O bode equilibrou a troca, embora eu duvide que a Senhora Catelyn lhe agradeça quando Cersei lhe devolver as cachorrinhas em igual estado. A idéia levou Jaime a fazer uma careta. Também arcarei com a culpa por isso, aposto.
    Roose Bolton cortou metodicamente sua carne, fazendo o sangue escorrer pelo prato.
    - Senhora Brienne, vai se sentar se lhe disser que espero deixar Sor Jaime prosseguir viagem, tal como você e a Senhora Stark desejam?
    - Eu... o senhor nos deixaria prosseguir? - a garota soava cautelosa, mas sentou-se. - Isso é bom, senhor.
    - É. No entanto, Lorde Vargo criou-me uma pequena... dificuldade. - Virou os olhos claros para Jaime. - Sabe por que motivo Hoat cortou sua mão?
    - Ele gosta de cortar mãos. - O linho que cobria o coto de Jaime estava salpicado de sangue e vinho. - Também gosta de cortar pés. Não parece precisar de um motivo.
    - No entanto, tinha um. Hoat é mais astuto do que parece. Nenhum homem coman¬da por muito tempo uma companhia como os Bravos Companheiros, a menos que tenha alguns miolos. - Bolton apunhalou um bocado de carne com a ponta de seu punhal, colocou-o na boca, mastigou pensativamente, engoliu. - Lorde Vargo abandonou a Casa Lannister porque eu lhe ofereci Harrenhal, uma recompensa mil vezes maior do que qualquer uma que pudesse esperar obter de Lorde Tywin. Sendo estranho a Westeros, ele não sabia que o prêmio estava envenenado.
    - A maldição de Harren, o Negro? - zombou Jaime.
    - A maldição de Tywin Lannister. - Bolton estendeu a taça e Elmar voltou a enchê-la em silêncio. - O nosso bode devia ter consultado os Tarbeck ou os Reyne. Eles talvez o tivessem prevenido de como o senhor seu pai lida com a traição.
    - Não há nenhum Tarbeck ou Reyne - disse Jaime.
    - É exatamente aí que eu quero chegar. Não há dúvida de que Lorde Vargo esperava que Lorde Stannis triunfasse em Porto Real, e então confirmasse a sua posse deste caste¬lo como forma de gratidão pelo pequeno papel que ele desempenhou na queda da Casa Lannister. - Soltou um risinho seco. - Temo que ele também saiba pouco sobre Stannis Baratheon. Este podia ter-lhe dado Harrenhal pelos serviços prestados, mas teria dado também um nó corrediço por seus crimes.
    - Um nó corrediço é mais simpático do que aquilo que receberá de meu pai.
    - A essa altura, ele já chegou à mesma conclusão. Com Stannis derrotado e Renly morto, só uma vitória Stark pode salvá-lo da vingança de Lorde Tywin, mas as chances de isso acontecer estão ficando perigosamente escassas.
    - O Rei Robb ganhou todas as batalhas - disse Brienne em tom resoluto, tão obsti¬nadamente leal de discurso como era de atos.
    - Ganhou todas as batalhas enquanto perdia os Frey, os Karstark, Winterfell e o Norte. E uma pena que o lobo seja tão novo. Os rapazes de dezesseis anos pensam sem¬pre que são imortais e invencíveis. Um homem mais velho dobraria o joelho, penso eu. Após uma guerra há sempre uma paz, e com a paz há perdões... para gente como Robb Stark, pelo menos. Não para homens como Vargo Hoat. - Bolton dirigiu a Jaime um pe¬queno sorriso, - Ambos os lados o usaram, mas nenhum derramará uma lágrima com a sua morte. Os Bravos Companheiros não lutaram na Batalha da Água Negra, mas mor¬reram lá mesmo assim.
    - Vai me perdoar se não fizer luto?
    ~ Não tem piedade de nosso desgraçado e condenado bode? Ah, mas os deuses de¬vem ter... caso contrário, por que teriam colocado você nas mãos dele? - Bolton mastigou outro pedaço de carne. - Karhold é menor e pior do que Harrenhal, mas fica bem fora de alcance das garras do leão. Depois de se casar com Alys Karstark, Hoat pode se tornar um verdadeiro senhor. Se conseguisse
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:02 am

    arrecadar algum ouro de seu pai, melhor ainda, mas entregaria o sor ao Lorde Rickard, não importa a quantia que Lorde Tyrion pagasse. Seu preço seria a donzela e um refúgio seguro.
    "Mas para vendê-lo tem de mantê-lo em sua posse, e as terras fluviais estão cheias de ho¬mens que de bom grado o raptariam. Glover e Tallhart foram derrotados em Valdocaso, mas restos de sua tropa ainda andam por aí, com a Montanha a massacrar os que ficam para trás.
    Mil Karstarks percorrem as terras a sul e a leste de Correrrio, à sua caça. Em outros pontos, há homens de Darry deixados sem senhor e sem lei, matilhas de lobos de quatro patas, e os bandos de foras da lei do senhor do relâmpago. Dondarrion de bom grado enforcaria você e o bode na mesma árvore. - O Senhor do Forte do Pavor ensopou um pedaço de pão no sangue.
    - Harrenhal era o único lugar onde Lorde Vargo poderia ter esperança de mantê-lo a salvo, mas aqui os seus Bravos Companheiros estão em grande desvantagem numérica em relação aos meus homens, e a Sor Aenys e seus Frey. Ele sem dúvida temia que eu o devolvesse a Sor Edmure em Correrrio... ou pior, que o deixasse seguir caminho para junto de seu pai.
    "Ao mutilá-lo, pretendeu remover a ameaça de sua espada, arranjar uma lembrança macabra para enviar ao seu pai e diminuir o valor que teria para mim. Pois ele é homem meu, tal como eu sou um homem do Rei Robb. Portanto, o crime dele é meu, ou pode assim parecer aos olhos de seu pai. E aí reside a minha... pequena dificuldade. - Fitou Jaime, sem pestanejar, com os olhos claros, expectante, gelado.
    Estou vendo.
    - Quer que o absolva de culpa. Que diga ao meu pai que este coto não é obra sua. - Jaime soltou uma gargalhada. - Senhor, mande-me para Cersei, e eu cantarei uma can¬ção tão doce quanto quiser sobre a gentil forma como me tratou. - Sabia que qualquer outra resposta significava que Bolton voltaria a entregá-lo ao bode. - Se eu tivesse uma mão, escreveria. Como fui mutilado pelo mercenário que meu próprio pai trouxe para Westeros, e resgatado pelo nobre Lorde Bolton.
    - Confiarei na sua palavra, sor.
    Eis algo que não ouço com freqüência.
    - Quando nos será permitido que partamos? E como planeja fazer que eu passe por todos esses lobos, salteadores e Karstark?
    - Partirá quando Qyburn disser que está suficientemente forte, com uma forte escolta de homens selecionados e sob o comando de meu capitão, Walton. Chamam-no de Pernas de Aço. Um soldado de férrea lealdade. Walton vai entregá-lo a salvo e inteiro em Porto Real.
    - Desde que as filhas da Senhora Catelyn também sejam entregues a salvo e inteiras
    - disse a garota. - Senhor, a proteção desse seu Walton é bem-vinda, mas as meninas estão a meu cargo.
    O Senhor do Forte do Pavor deu-lhe um relance de olhos desinteressado.
    - Já não tem de se preocupar com as meninas, senhora. A Senhora Sansa é esposa do anão, só os deuses podem separá-los agora.
    - A esposa dele? - disse Brienne, espantada. - Do Duende? Mas... ele jurou, perante a corte inteira, à vista dos deuses e dos homens...
    Ela é tão inocente. Jaime estava quase tão surpreso quanto a garota, mas escondia me¬lhor. Sansa Stark, isso deve ter posto um sorriso na cara de Tyrion. Lembrou-se de como o irmão fora feliz com a pequena filha do caseiro... durante uma quinzena.
    - O que o Duende jurou ou deixou de jurar pouco importa agora - disse Lorde Bol¬ton. - Principalmente a você. - A garota pareceu quase machucada. Talvez tenha final¬mente sentido as mandíbulas de aço da armadilha quando Roose Bolton fez sinal aos guardas. - Sor Jaime prosseguirá até Porto Real. Receio que eu não tenha dito nada a seu respeito. Seria pouco escrupuloso de minha parte privar Lorde Vargo de ambos os seus troféus. - O Senhor do Forte do Pavor estendeu a mão para outra ameixa. - Se fosse você, senhora, iria me preocupar menos com os Stark e bastante mais com safiras.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:03 am

    Tyrion 446



    Um cavalo relinchou impacientemente atrás dele, entre as fileiras de homens de manto dourado formadas na estrada. Tyrion ouvia também Lorde Gyles tossir. Não tinha pedido a presença de Gyles, tal como não solicitara as de Sor Addam, Jalabhar Xho ou qualquer um dos demais, mas o senhor seu pai achou que Doran Martell talvez não gos¬tasse se apenas um anão viesse escoltá-lo na travessia do Água Negra.
    O próprio Joffrey devia ter vindo ao encontro dos dorneses, refletiu enquanto esperava, mas ele estragaria tudo, sem dúvida. Nos últimos tempos, o rei andava repetindo piadi- nhas sobre os dorneses que tinha ouvido dos homens de armas de Mace Tyrell. Quantos dorneses são necessários para pôr a ferradura em um cavalo? Nove. Um para prender a ferra¬dura e oito para levantar o cavalo. Por algum motivo, parecia a Tyrion que Doran Martell não acharia aquilo divertido.
    Viu os estandartes esvoaçando quando os cavaleiros emergiram da verde floresta viva numa longa coluna poeirenta. Dali até o rio, só restavam árvores nuas e enegrecidas, um legado de sua batalha. Estandartes demais, pensou amargamente, enquanto observava as cinzas que eram levantadas pelos cascos dos cavalos que se aproximavam, tal como ti¬nham sido erguidas pelos cascos da vanguarda Tyrell antes de ela esmagar Stannis pelo fíanco. Aparentemente, Martell trouxe metade dos senhores de Dorne. Tentou pensar em algum bem que pudesse advir disso, mas não conseguiu.
    - Conta quantos estandartes? - perguntou a Bronn.
    O cavaleiro mercenário pôs a mão acima dos olhos para tapar o sol.
    - Oito... não, nove.
    Tyrion virou-se na sela.
    - Pod, venha aqui. Descreva as armas que vê e diga-me que casas representam.
    Podrick Payne aproximou-se em seu castrado. Transportava o estandarte real, o gran¬de veado e leão de Joffrey, e lutava com o seu peso. Bronn levava o estandarte de Tyrion, o leão de Lannister em ouro sobre carmesim.
    Ele está ficando mais alto, percebeu Tyrion quando Pod ficou em pé sobre os estribos para ver melhor. Em breve vai fazer sombra em mim como todos os outros. O garoto andara fazendo um estudo diligente da heráldica de Dorne, por ordem de Tyrion, mas estava nervoso, como sempre.
    - Não consigo ver. O vento está agitando os estandartes.
    - Bronn, diga ao garoto o que vê.
    Bronn. parecia muito cavaleiro naquele dia, com gibão e manto novos, e o colar fíame- jante sobre o peito.
    - Um sol vermelho em fundo laranja - anunciou - com uma lança espetada na parte de trás.
    - Martell - disse imediatamente Podrick Payne, visivelmente aliviado. - A Casa Martell de Lançassolar, senhor. O Príncipe de Dorne.
    - Até meu cavalo saberia essa - disse secamente Tyrion. - Mande outra, Bronn.
    - Há uma bandeira púrpura com bolas amarelas,
    - Limões? - perguntou Pod em tom esperançoso. - Um fundo púrpura coberto de limões? Da Casa Dalt? De... de Limoeiros.
    - Pode ser. A próxima é um grande pássaro preto sobre fundo amarelo. Com qual¬quer coisa rosa ou branca nas garras, é difícil saber o que, com a bandeira tremulando,
    - O abutre de Blackmont segura um bebê nas garras - disse Pod, - A Casa Black- mont de Monpreto, sor,
    Bronn soltou uma gargalhada.
    - Outra vez lendo livros? Os livros vão arruinar seu olho da espada, garoto. Também vejo um crânio. Um estandarte preto.
    - O crânio coroado da Casa Manwoody, osso e ouro sobre negro. - Pod soava mais confiante a cada resposta correta. - Os Manwoody de Tumbarreal.
    - Três aranhas pretas?
    - São escorpiões, sor. Casa Qorgyle de Arenito, três escorpiões negros sobre vermelho.
    - Vermelho e amarelo, com uma linha em zigue-zague entre eles.
    - As chamas de Toca do Inferno, Casa Uller.
    Tyrion estava impressionado. O rapaz não é nada burro, depois de desatada a língua.
    - Continue, Pod - instou. - Se acertar todos, lhe darei um presente.
    - Uma rodela com fatias vermelhas e pretas - disse Bronn. - Há uma mão dourada no centro.
    - A Casa Allyrion de Graçadivina.
    - Uma galinha vermelha comendo uma cobra, parece.
    - Os Gargalen de Costa do Sal, Um basilisco. Sor, Perdão. Não é galinha. Vermelho, com uma serpente negra no bico.
    - Muito bem! - exclamou Tyrion. - Mais um, garoto.
    Bronn examinou as fileiras de dorneses que se aproximavam.
    - O último é uma pena dourada sobre xadrez verde.
    - Jordayne da Penha.
    Tyrion soltou uma gargalhada.
    - Nove, e muito bem. Eu mesmo não teria conseguido identificar a todos. - Aquilo era uma mentira, mas daria ao rapaz certo orgulho, e isso era algo de que ele precisava desesperadamente.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:03 am

    0 Martell traz alguns formidáveis companheiros, ao que parece. Nenhuma das casas que Pod havia identificado era pequena ou insignificante, Nove dos maiores senhores de Dorne subiam a estrada do rei, eles ou seus herdeiros, e de algum modo não parecia a Tyrion que tivessem percorrido toda aquela distância só para ver o urso dançarino. Ha¬via ali uma mensagem. E não é uma mensagem que me agrada. Perguntou a si mesmo se teria sido um erro enviar Myrcella para Lançassolar.
    - Senhor - disse Pod, com uma certa timidez não há nenhuma liteira.
    Tyrion virou vivamente a cabeça. O rapaz tinha razão.
    - Doran Martell viaja sempre numa liteira - disse o garoto. - Uma liteira entalhada,
    com cortinas de seda e sóis nos panos.
    Tyrion tinha ouvido dizer o mesmo. O Príncipe Doran tinha já mais de cinqüenta anos e sofria de gota. Ele pode ter desejado fazer um tempo melhor, disse a si mesmo. Pode ter temido que sua liteira constituísse um alvo tentador demais para bandoleiros, ou que se revelasse incômoda demais nas passagens de altitude do Caminho do Espinhaço. Talvez esteja melhor da gota.
    Então por que tinha um pressentimento tão ruim a respeito daquilo?
    Aquela espera era intolerável.
    - Estandartes, em frente - exclamou. - Vamos ao encontro deles. - Esporeou o cava¬lo. Bronn e Pod seguiram-no, um de cada lado. Quando os dorneses viram que eles se pu¬seram em movimento, esporearam as próprias montarias, fazendo ondular os estandar¬tes ao avançar. De suas ornamentadas selas pendiam os escudos redondos de metal que preferiam, e muitos traziam feixes de curtas lanças de arremesso, ou os arcos dorneses de dupla curvatura que sabiam usar tão bem de cima dos cavalos.
    Havia três tipos de dorneses, observara o primeiro Rei Daeron. Havia os dorneses salgados, que viviam ao longo das costas, os dorneses arenosos dos desertos e longos va¬les fluviais e os dorneses pedregosos, que construíam suas fortalezas nos passos e nas al¬turas das Montanhas Vermelhas. Os dorneses salgados eram os que tinham mais sangue de Roine e os pedregosos, os que menos tinham.
    Os três tipos pareciam bem representados na comitiva de Doran. Os dorneses sal¬gados eram ágeis e escuros, com uma pele lisa cor de azeitona e longos cabelos negros tremulando ao vento. Os dorneses arenosos eram ainda mais escuros, com o rosto bron¬zeado pelo quente sol de Dorne até tomar um tom pardo-escuro. Enrolavam longos len¬ços de cores claras em volta dos elmos, para se protegerem da insolação. Os dorneses pedregosos eram maiores e mais claros, filhos dos ândalos e dos primeiros homens, de cabelos castanhos ou louros, com um rosto que ganhava sardas ou queimava ao sol em vez de se bronzear.
    Os senhores usavam vestes de seda e cetim, com cintos cravejados de jóias e mangas soltas. Suas armaduras eram fortemente esmaltadas e possuíam relevos de cobre poli¬do, prata cintilante e suave ouro vermelho. Vinham montados em cavalos vermelhos e dourados e alguns brancos como a neve, todos eles esguios e ligeiros, com pescoço longo e cabeça estreita e bela. Os legendários corcéis de areia de Dorne eram menores do que cavalos de guerra propriamente ditos e não agüentavam todo o peso das armaduras que estes costumavam usar, mas dizia-se que eram capazes de correr durante um dia, uma noite e o dia seguinte sem nunca se cansar.
    O líder dornês vinha montado num garanhão negro como o pecado, com crina e cauda da cor do fogo. Sentava-se na sela como se ali tivesse nascido, alto, esguio, gracio¬so. Um manto de seda vermelho-clara flutuava preso aos seus ombros, e sua camisa era couraçada com fileiras sobrepostas de discos de cobre, que cintilavam como um milhar de moedas recém-cunhadas quando ele se movia. Seu grande elmo dourado exibia um sol de cobre na testa, e o escudo redondo pendurado atrás dele trazia o sol e a lança da Casa Martell em sua superfície de metal polido.
    Um sol Martell, mas dez anos novo demais, pensou Tyrion ao puxar as rédeas do cava¬lo, e também em muito boa forma, e muito mais feroz do que deveria. A essa altura, já sabia com o que tinha de lidar. Quantos dorneses são necessários para começar uma guerra?, per¬guntou a si mesmo. Só um. E, no entanto, não tinha outra alternativa.
    - Prazer, senhores. Recebemos notícias de sua chegada, e Sua Graça, o Rei JofFrey, pediu-me para vir ao seu encontro, a fim de lhes dar as boas-vindas em seu nome. O se¬nhor meu pai, a Mão do Rei, manda igualmente as suas saudações. - Fingiu uma confu¬são amigável. - Qual dos senhores é o Príncipe Doranf
    - A saúde de meu irmão exige que permaneça em Lançassolar. - O príncipe infante tirou o elmo. Por baixo, seu rosto era marcado e sombrio, com finas sobrancelhas arquea- das sobre olhos grandes, tão negros e brilhantes como lagoas de betume. Só alguns fios de prata manchavam o lustroso cabelo negro que se afastava de sua testa, formando, ao centro, um bico tão marcado quanto seu nariz. Um dornês salgado, com toda a certeza. - O Príncipe Doran enviou-me para ocupar o lugar dele no conselho do Rei JofFrey, se Sua Graça desejar.
    - Sua Graça ficará muito honrada por ter o conselho de um guerreiro de tanto reno¬me como o Príncipe Oberyn de Dorne - disse Tyrion, ao mesmo tempo que pensava: Isso vai significar sangue nas sarjetas. - E os seus nobres companheiros também são muito bem-vindos.
    - Permita-me que os apresente, senhor de Lannister. Sor Deziel Dalt, de Limoei¬ros. Lorde Tremond Gargalen. Lorde Harmen Uller e seu irmão, Sor Ulwyck. Sor Ryon Allyrion e seu filho natural, Sor Daemon Sand, o Bastardo de Graçadivina. Lorde Dagos Manwoody, seu irmão, Sor Myles, seus filhos Mors e Dickon. Sor Arron Qorgyle. E não poderia deixar de mencionar as senhoras. Myria Jordayne, herdeira da Penha, Senhora Larra Blackmont, sua filha Jynessa, e o filho Perros. - Ergueu uma mão esguia para uma mulher de cabelos negros que se encontrava na retaguarda, fazendo-lhe sinal para que se aproximasse, - E esta é Ellaria Sand, minha amante.
    Tyrion engoliu um gemido. Sua amante, e bastarda. Cersei vai ter um chilique daqueles se ele a quiser no casamento. Se atribuísse à mulher um lugar em algum canto escuro afas¬tado dos
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:03 am

    nobres, a irmã iria se arriscar a despertar a fúria do Víbora Vermelha. Sentá-la ao lado dele faria com que todas as outras mulheres no estrado se ofendessem. O Príncipe Doran tinha a intenção de provocar um quiproquó?
    O Príncipe Oberyn virou o cavalo para trás, para defrontar os outros dorneses.
    - Ellaria, senhores e senhoras, sores, vejam como o Rei JofFrey gosta de nós. Sua Gra¬ça teve a bondade de enviar o próprio tio Duende para nos levar à sua corte.
    Bronn respondeu com um resfolego de risada, e Tyrion foi obrigado a também fingir divertimento.
    - Não sozinho, senhores. Isso seria uma tarefa gigantesca demais para um homem pequeno como eu, - A essa altura, sua comitiva já tinha se aproximado, por isso foi sua vez de enumerar os nomes. - Permitam-me que lhes apresente Sor Flement Brax, her¬deiro de Valcorno. Lorde Gyles de Rosby. Sor Addam Marbrand, Senhor Comandante da Patrulha da Cidade. Jalabhar Xho, Príncipe do Vale da Flor Vermelha. Sor Harys Swyft, sogro de meu tio Kevan. Sor Merlon Crakehall. Sor Philip Foote e Sor Bronn da Água Negra, dois heróis de nossa recente batalha contra o rebelde Stannis Barathe- on. E meu escudeiro, o jovem Podrick da Casa Payne. - Os nomes iam ressoando bem à medida que Tyrion os desenrolava, mas aqueles que os possuíam não eram um grupo nem de longe tão distinto e formidável quanto aquele que acompanhava o Príncipe Oberyn, como ambos sabiam perfeitamente.
    - Senhor de Lannister - disse a Senhora Blackmont -, percorremos um caminho longo e poeirento, e um pouco de descanso seria muito bem-vindo, para restaurarmos as forças. Podemos prosseguir para a cidade?
    - Imediatamente, senhora. - Tyrion virou a cabeça do cavalo e chamou por Sor Addam Marbrand. Os homens de manto dourado que constituíam a maior parte de sua guarda de honra manobraram vivamente os cavalos à ordem de Sor Addam, e a coluna dirigiu-se para o rio e para Porto Real.
    Oberyn Nymeros Martell, resmungou Tyrion, em surdina, enquanto se punha ao lado do homem. A Víbora Vermelha de Dorne. E o que, com os sete infernos, esperam que eu faça com ele?
    Conhecia o homem apenas de reputação, certamente... mas a reputação era assus¬tadora. Quando mal tinha dezesseis anos, o Príncipe Oberyn fora encontrado na cama com a amante do velho Lorde Yronwood, um homem enorme, de feroz reputação e gênio tempestuoso. Seguiu-se um duelo, embora, em vista da juventude e do elevado nasci¬mento do príncipe, fosse apenas até o primeiro sangue. Ambos os homens receberam golpes, e a honra foi satisfeita. Mas o Príncipe Oberyn recuperou-se rapidamente, ao passo que os ferimentos de Lorde Yronwood gangrenaram e o levaram à morte. Depois de seu falecimento, os homens começaram a murmurar que Oberyn lutara com uma espada envenenada, e daí em diante tanto os amigos como os adversários passaram a chamá-lo de Víbora Vermelha.
    Isso havia acontecido muitos anos antes, com certeza. O rapaz de dezesseis anos era agora um homem com mais de quarenta e sua lenda tornara-se mais sombria. Tinha via¬jado pelas Cidades Livres, onde aprendeu a arte dos venenos, e talvez artes ainda mais ne¬gras, caso se acreditasse nos rumores. Estudou na Cidadela, chegando até a foijar seis elos de uma corrente de meistre antes de se aborrecer. Serviu como soldado nas Terras Dispu¬tadas, do outro lado do mar estreito, acompanhando os Segundos Filhos durante algum tempo antes de formar a própria companhia. Seus torneios, suas batalhas, seus duelos, seus cavalos, sua luxúria... dizia-se que dormia tanto com homens quanto com mulheres e que tinha gerado bastardas por todo o Dorne. Os homens chamavam suas filhas de serpentes de areia. Até onde Tyrion sabia, o Príncipe Oberyn nunca fora pai de um filho.
    E, claro, tinha mutilado o herdeiro de Jardim de Cima.
    Não há homem nos Sete Reinos que seja menos bem-vindo a um casamento Tyrell, pensou Tyrion. Mandar o Príncipe Oberyn para Porto Real enquanto a cidade ainda abrigava Lorde Mace Tyrell, dois de seus filhos e milhares de seus homens de armas era uma pro¬vocação tão perigosa quanto o próprio Príncipe Oberyn. Uma palavra errada, um gracejo feito num momento inoportuno, um olhar serão o suficiente, e nossos nobres aliados vão se lançar às gargantas uns dos outros.
    - Já nos encontramos uma vez - disse o príncipe dornês a Tyrion, com ligeireza, en¬quanto cavalgavam lado a lado pela estrada do rei, passando por campos de cinzas e es¬queletos de árvores. - Mas não espero que se lembre. Era ainda menor do que é agora.
    Na voz do homem, havia uma aresta de zombaria que desagradava a Tyrion, mas não ia permitir que o dornês o provocasse.
    - Quando aconteceu isso, senhor? - perguntou, num tom de interesse educado.
    - Oh, há muitos e muitos anos, quando minha mãe governava em Dorne e o senhor seu pai era Mão de um rei diferente.
    Não tão diferente quanto possa pensar, refletiu Tyrion,
    - Foi quando visitei Rochedo Casterly com a minha mãe, o seu consorte e a minha irmã Elia. Tinha, oh, catorze, quinze anos, por aí, e Elia era um ano mais velha. O seu irmão e sua irmã tinham oito ou nove anos, se bem me lembro, e você havia acabado de nascer.
    Estranha hora para uma visita. A mãe havia morrido no parto, então os Martell te¬riam encontrado Rochedo Casterly profundamente mergulhado em luto. Especialmente o pai. Lorde Tywin raras vezes mencionava a mulher, mas Tyrion ouviu os tios falarem do amor que havia entre eles. Naqueles tempos, o pai era Mão de Aerys, e muitos diziam que Lorde Tywin Lannister governava os Sete Reinos, mas a Senhora Joanna governava Lorde Tywin.
    - Ele não era o mesmo homem depois que ela morreu, Duende - disse-lhe um dia o tio Gery. - A melhor parte dele morreu com ela. - Gerion era o mais novo dos quatro filhos de Lorde Tytos Lannister, e o tio de que Tyrion mais gostava.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:03 am

    Mas agora estava desaparecido, perdido além dos mares, e o próprio Tyrion tinha levado a Senhora Joanna para a sepultura.
    - Achou Rochedo Casterly do seu agrado, senhor?
    - Pouco. O seu pai ignorou-nos todo o tempo que lá estivemos, depois de ordenar a Sor Kevan que tratasse de nos entreter. A cela que me deram tinha uma cama de penas e tapetes de Myr no chão, mas era escura e não tinha janelas, muito semelhante a uma masmorra se você parar para pensar, tal como eu disse a Elia na época. Seus céus eram cinzentos demais, seus vinhos, doces demais, suas mulheres, castas demais, sua comida, insípida demais.,, e você foi o maior desapontamento de todos.
    - Tinha acabado de nascer. O que esperava de mim?
    - Enormidade - respondeu o príncipe de cabelo negro, - Era pequeno mas afama- do. Estávamos em Vilavelha quando de seu nascimento, e a cidade só falava do mons¬tro que tinha nascido da Mão do Rei, e de como aquilo podia ser um mau presságio para o reino,
    - Fome, peste e guerra, sem dúvida, - Tyrion deu um sorriso amargo. - E sempre fome, peste e guerra. Ah, e o inverno, e a longa noite que nunca termina,
    - Tudo isso - disse o Príncipe Oberyn - e também a queda de seu pai. Ouvi um irmão mendicante pregar que Lorde Tywin se tornara maior do que o Rei Aerys, mas só um deus deve estar acima de um rei. Você seria a sua maldição, uma punição enviada pelos deuses para lhe ensinar que não era melhor do que qualquer outro homem.
    - Eu tento, mas ele recusa-se a aprender. - Tyrion soltou um suspiro. - Prossiga, por favor. Adoro uma boa história,
    - E é natural, pois a história que se contava de você era que tinha um rabo, duro e recurvado como o de um porco. A sua cabeça era monstruosamente grande, segundo ou¬vimos dizer, com vez e meia o tamanho do seu corpo, e havia nascido com densos cabelos pretos e também com barba, um olho maligno e garras de leão. Seus dentes eram tão longos que não podia fechar a boca, e entre as pernas encontravam-se as partes privadas de uma menina, assim como as de um menino.
    - A vida seria muito mais simples se os homens pudessem se foder a si mesmos, não acha? E eu consigo me lembrar de algumas ocasiões em que garras e dentes poderiam ter se revelado úteis. Mesmo assim, começo a ver a natureza de sua queixa.
    Bronn soltou uma risadinha, mas Oberyn apenas sorriu.
    - Podíamos nem tê-lo visto, se não fosse a sua querida irmã. Você nunca aparecia à mesa ou nos salões, se bem que às vezes, à noite, ouvíssemos um bebê berrando nas profundezas do Rochedo. Tinha uma voz monstruosamente alta, isso garanto. Chorava durante horas, e nada o sossegava a não ser uma teta de mulher.
    - Continua a ser assim, curiosamente.
    Dessa vez o Príncipe Oberyn riu.
    - E um gosto que partilhamos. Lorde Gargalen disse-me uma vez que esperava morrer com uma espada na mão, ao que eu respondi que preferiria partir com um seio na minha.
    Tyrion teve de sorrir.
    - Falava de minha irmã?
    - Cersei prometeu a Elia que iria mostrá-lo a nós. Na véspera do dia em que devía¬mos zarpar, enquanto minha mãe e seu pai estavam fechados, juntos, sua irmã e Jaime levaram-nos até o seu quarto. A sua ama de leite tentou nos mandar embora, mas Cersei não quis nem saber. "Ele é meu" ela disse, "e você é só uma vaca leiteira, não pode me di¬zer o que fazer. Quieta, senão mando meu pai cortar sua língua. Uma vaca não precisa de língua, só precisa de úberes".
    - Sua Graça aprendeu o encanto numa idade precoce - disse Tyrion, divertido com a idéia da irmã a reclamá-lo como seu. Os deuses sabem como nunca mais se esforçou em reclamar por mim.
    - Cersei até tirou seus cueiros para que víssemos melhor - prosseguiu o príncipe dor¬nês. - Realmente possuía um olho maligno, e um pouco de penugem negra no couro ca¬beludo. A sua cabeça talvez fosse maior do que a da maior parte dos bebês... mas não havia rabo, nem barba, nem dentes ou garras, e nada entre as suas pernas além de um minúsculo pinto cor-de-rosa. Depois de todos os maravilhosos murmúrios, o Castigo de Lorde Tywin revelou ser apenas um hediondo bebê vermelho, com pernas atrofiadas. Elia até fez o ruí¬do que as meninas fazem ao ver bebês, estou certo de que já o ouviu. O mesmo ruído que fazem por causa de gatinhos fofos ou cachorros brincalhões. Creio que desejou embalá-lo, por mais feio que fosse. Quando eu comentei que parecia uma espécie fraca de monstro, a sua irmã disse: "Ele matou a minha mãe", e torceu o seu pintinho com tanta força que pensei que poderia arrancá-lo. Você guinchou, mas foi só quando o seu irmão Jaime disse "Largue- -o, está machucando-o" que Cersei o soltou. "Não importa", disse-nos. "Todo mundo diz que ele deve morrer em breve. Nem devia ter sobrevivido tanto tempo."
    O sol brilhava, forte, por cima deles, e o dia estava agradavelmente quente para o outono, mas Tyrion Lannister gelou quando ouviu aquilo. A minha querida irmã. Coçou a cicatriz no nariz e deu ao dornês uma dose de seu "olho maligno". Mas por que motivo será que ele contou essa história? Estará me testando, ou será que deseja simplesmente torcer meu pinto, como Cersei fez, para me ouvir gritar?
    - Não se esqueça de contar essa história ao meu pai. Vai deleitá-lo tanto quanto me deleitou. Especialmente a parte a respeito de meu rabo. Eu realmente tive um, mas ele mandou cortá-lo.
    O Príncipe Oberyn soltou um risinho.
    - Tornou-se mais divertido desde a última vez que nos encontramos.
    - Sim, mas o que tentei foi me tornar mais alto.
    - Por falar em divertimento, ouvi uma história curiosa contada pelo intendente de Lorde Buckler. Ele diz que você criou um imposto sobre as bolsas privadas das mulheres.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:04 am

    - É um imposto sobre a prostituição - disse Tyrion, novamente irritado. E foi idéia de meu maldito pai. - Só uma moeda a cada, ah... ato. A Mão do Rei achou que poderia ajudar a melhorar a moralidade na cidade. - E também a pagar o casamento de Joffrey. Não é pre¬ciso dizer que, como mestre da moeda, Tyrion tinha arcado com toda a culpa. Bronn dizia que andavam chamando a taxa, nas ruas, de moeda do anão."Toca a abrir as pernas para o Meío-Homem", gritavam nos bordéis e tabernas, de acordo com o mercenário.
    - Vou me certificar de manter a minha bolsa cheia de moedas. Até um príncipe pre¬cisa pagar seus impostos.
    - Por que precisaria de prostitutas? - olhou de relance para onde Ellaria Sand caval¬gava entre as outras mulheres. - Cansou-se da sua amante no caminho?
    - Nunca. Dividimos coisas demais. - O Príncipe Oberyn encolheu os ombros. - Mas nunca dividimos uma bela loura, e Ellaria está curiosa. Conhece alguma criatura assim?
    - Sou um homem casado. - Embora de casamento ainda não consumado. - Já não me deito com prostitutas. - A menos que queira que sejam enforcadas.
    Oberyn mudou abruptamente de assunto.
    - Dizem que serão servidos setenta e sete pratos no banquete de casamento do rei.
    - Tem fome, meu príncipe?
    - Há muito tempo que tenho fome, Embora não de comida. Diga-me, por favor, quando será servida a.justiça?
    -Justiça. - Sim, é por isso que ele está aqui, devia ter compreendido isso de imediato. - Você era próximo de sua irmã?
    - Quando crianças, Elia e eu éramos inseparáveis, assim como seu irmão e sua irmã.
    Deuses, espero que não.
    - Guerras e casamentos têm nos mantido bem ocupados, Príncipe Oberyn. Receio que ninguém ainda tenha tido tempo para dedicar a assassinatos cheirando a mofo após dezesseis anos, por mais terríveis que tenham sido, Faremos isso, naturalmente, assim que pudermos. Qualquer ajuda que Dorne possa oferecer para restaurar a paz do rei só iria acelerar o início do inquérito do senhor meu pai...
    - Anão - disse a Víbora Vermelha, num tom que se tornara acentuadamente menos cordial -, poupe-me de suas mentiras de Lannister. Toma-nos por ovelhas ou por idio¬tas? Meu irmão não é um homem sedento de sangue, mas também não passou dezesseis anos dormindo. Jon Arryn veio a Lançassolar um ano depois de Robert subir ao trono, e pode ter certeza de que foi seriamente interrogado. Ele e mais uma centena de homens. Não vim para um espetáculo de saltimbanco em forma de inquérito. Vim em busca de justiça para Elia e seus filhos, e vou obtê-la. Começando por esse cretino do Gregor Cle¬gane... mas não termina aí, creio eu. Antes de morrer, a Enormidade que Cavalga irá me dizer de onde vieram suas ordens, por favor garanta isso ao senhor seu pai. - Sorriu. - Um velho septão certa vez disse que eu era a prova viva da bondade dos deuses. Sabe por que, Duende?
    - Não - admitiu Tyrion com cautela.
    - Ora, se os deuses fossem cruéis, teriam feito de mim o primogênito de minha mãe, e de Doran seu terceiro filho. Eu sou um homem sedento de sangue, entende? E é comigo que tem de lidar agora, e não com meu paciente, prudente e artrítico irmão.
    Tyrion via o sol brilhar na Torrente da Água Negra a cerca de um quilômetro de distância, e nas muralhas, torres e colinas de Porto Real depois do rio. Olhou de relance por sobre o ombro, para a coluna resplandecente que os seguia pela estrada do rei.
    - Fala como quem está à frente de uma grande tropa - disse -, mas não encontro mais de trezentos homens. Vê aquela cidade ali, a norte do rio?
    - A pilha de estrume que chama de Porto Real?
    - Essa mesma.
    - Não só a vejo, como creio que já consigo cheirá-la.
    - Então cheire-a bem, senhor. Encha o nariz. Vai descobrir que meio milhão de pes¬soas fede mais do que trezentas. Cheira os homens de manto dourado? São quase cinco mil. As espadas juramentadas ao meu pai devem somar mais vinte mil, E depois há as rosas. As rosas cheiram tão bem, não é verdade? Especialmente quando há tantas. Cin¬qüenta, sessenta, setenta mil rosas na cidade ou acampadas nos arredores, não sou real¬mente capaz de dizer quantas restam, mas, seja como for, há mais do que desejo contar.
    Martell deu de ombros.
    - Na Dorne de antigamente, antes de casarmos com Daeron, dizia-se que todas as flores se curvam perante o sol. Se as rosas tentarem obstruir meu caminho, de bom grado as pisarei.
    - Tal como pisou Willas Tyrell?
    O dornês não reagiu como era de se esperar.
    - Recebi uma carta de Willas há menos de meio ano. Partilhamos o interesse em cria¬ção de cavalos de qualidade. Ele nunca nutriu nenhuma má vontade por mim por aquilo que aconteceu na liça. Eu atingi sua placa de peito de forma limpa, mas o pé dele ficou preso num estribo ao cair e o cavalo tombou por cima de seu corpo. Mandei um meistre até ele depois, mas só conseguiu salvar a perna do rapaz. O joelho estava longe de poder ser curado. Se há alguém a culpar, é o palerma do pai dele. Willas Tyrell estava tão verde quanto seu sobretudo e não devia andar em tais companhias. A Flor Gorda atirou-o para torneios numa idade tenra demais, assim como fez com os outros dois, Queria outro Leo Grande-Espinho, e arranjou um aleijado.
    - Há quem diga que Sor Loras é melhor do que Leo Grande-Espinho jamais foi - disse Tyrion.
    - A rosinha de Renly? Duvido.
    - Duvide quanto quiser - disse Tyrion mas Sor Loras derrotou muitos bons cava¬leiros, incluindo meu irmão Jaime.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:04 am

    - Por derrotar quer dizer derrubar do cavalo, num torneio. Diga-me quem ele matou em batalha, caso queira me assustar,
    - Sor Robar Royce e Sor Emmon Cuy, para dar dois exemplos. E os homens dizem que realizou prodigiosos feitos de valor na Água Negra, lutando ao lado do fantasma de Lorde Renly.
    - Então os mesmos homens que viram os prodigiosos feitos viram também o fantas¬ma, foi? - O dornês soltou uma leve gargalhada.
    Tyrion olhou-o por um longo tempo.
    - A casa de Chataya na Rua da Seda tem várias garotas que podem se adequar às suas necessidades. Dancy tem cabelos da cor do mel. Os de Marie são de um branco - -louro muito claro. Aconselharia que você mantivesse uma ou outra permanentemente ao seu lado, senhor.
    - Permanentemente? - o Príncipe Oberyn ergueu uma sobrancelha fina e negra. - E por que, meu bom Duende?
    - Disse que deseja morrer com um seio na mão. - Tyrion avançou a meio galope para onde as balsas esperavam, na margem sul do Água Negra. Suportara tudo que pretendia suportar daquilo que passava por sagacidade em Dorne. No fim, o pai devia ter enviado Joffrey. Ele poderia ter perguntado ao Príncipe Oberyn se sabia em que um dornês diferia de uma cagada de vaca. Aquilo fez Tyrion sorrir, a contragosto. Faria questão de estar pre¬sente quando a Víbora Vermelha fosse apresentada ao rei.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:20 am

    Arya 457



    O
    homem no telhado foi o primeiro a morrer. Estava agachado junto à chaminé, a du¬zentos metros de distância, não mais do que uma vaga sombra na escuridão que antecedia a alvorada, mas quando o céu começou a clarear, agitou-se, espreguiçou-se e ficou em pé. A flecha de Anguy acertou seu peito. Tombou sem força do íngreme degrau de ardósia e caiu diante da porta da septeria.
    Os Saltimbancos tinham colocado ali dois guardas, mas o archote deixara-os cegos para a noite, e os fora da lei tinham se arrastado para perto. Kyle e Notch dispararam ao mesmo tempo. Um homem caiu com uma flecha espetada na garganta, o outro, com uma na barriga. O segundo homem deixou o archote cair e as chamas lamberam-no. Soltou um grito quando sua roupa pegou fogo, e isso foi o fim do avanço furtivo. Thoros gritou, e os fora da lei atacaram a sério.
    Arya observou de cima do cavalo, no topo da cumeeira arborizada que se elevava diante da septeria, do moinho, da cervejaria, dos estábulos e da desolação de ervas da¬ninhas, árvores queimadas e lama que os rodeavam. As árvores já estavam praticamente nuas, e as poucas folhas marrons e enrugadas que ainda se agarravam aos galhos pouco faziam para obstruir sua visão. Lorde Beric tinha colocado Dick Sem Barba e Mudge de guarda. Arya detestava ser deixada para trás como se fosse alguma criança estúpida, mas pelo menos Gendry também fora mantido ali. Sabia que não devia tentar discutir. Aqui¬lo era uma batalha, e numa batalha era preciso obedecer.
    O horizonte a leste transformou-se num clarão de ouro e rosa, e por cima de sua ca¬beça uma meia-lua espreitou por detrás de nuvens baixas e rápidas. O vento soprava frio, e Arya ouvia o som de água corrente e o ranger da grande roda de madeira do moinho. Havia um cheiro de chuva no ar da alvorada, mas as gotas ainda não caíam. Flechas in- cendiárias levantaram voo através da névoa da manhã, seguidas por pálidas fitas de fogo, e foram se espetar com um ruído surdo nas paredes de madeira da septeria. Algumas pe¬netraram através de janelas fechadas e, em pouco tempo, finos anéis de fogo começavam a subir através das venezianas perfuradas.
    Dois Saltimbancos irromperam lado a lado da septeria, de machado nas mãos. Anguy e os outros arqueiros estavam à espera. Um dos homens morreu de imediato. O outro conseguiu se esquivar, e a flecha rasgou seu ombro. O homem avançou cambaleando, até que mais duas flechas o atingiram, tão depressa que era difícil dizer qual delas foi a primeira. As longas hastes perfuraram sua placa de peito como se fosse feita de seda em
    vez de aço. Caiu pesadamente. Anguy tinha flechas de ponta larga, mas também possuía outras, com furadores nas pontas. Estes eram capazes de perfurar até placa pesada. Vou aprender a disparar um arco, pensou Arya. Adorava esgrima, mas notava também como as flechas eram boas.
    Chamas escalavam a parede oeste da septeria, e uma fumaça espessa jorrava de uma janela quebrada. Um besteiro de Myr esticou a cabeça através de outra janela, disparou um dardo e se agachou de novo para recarregar a arma. Arya também ouvia sons de luta vindos dos estábulos, gritos misturados com os relinchos dos cavalos e o tinir do aço. Matem-nos todos, pensou, com ferocidade. Mordeu o lábio com tanta força que sentiu o gosto do sangue. Não deixem ficar nem um.
    O besteiro voltou a aparecer, mas, assim que disparou, três flechas passaram silvando por sua cabeça. Uma chocalhou contra seu elmo. O homem desapareceu, com besta e tudo. Arya via chamas em várias das janelas do segundo andar. Entre a fumaça e a névoa matinal, o ar era uma neblina de preto e branco soprada pelo vento. Anguy e os outros arqueiros estavam se aproximando, a fim de melhor ver os alvos.
    Então a septeria entrou em erupção, com os Saltimbancos saltando para o exterior como formigas irritadas. Dois ibbeneses correram pela porta, com escudos marrons e felpudos erguidos bem alto à frente, atrás deles veio um dothraki com um grande arakh curvo e sineta na trança, e, atrás deste, surgiram três mercenários volantenos cobertos de ferozes tatuagens. Outros saltavam por janelas e pulavam para o chão. Arya viu um homem com uma perna passada sobre o parapeito de uma janela ser atingido por uma flecha no peito, e ouviu-o gritar quando caiu. A fumaça estava se tornando mais espessa. Dardos e flechas voavam para todos os lados. Watty caiu com um grunhido, e o arco escorregou de sua mão. Kyle estava tentando encaixar outra flecha em seu arco quando um homem vestido de cota de malha negra trespassou sua barriga com uma lança. Arya ouviu Lorde Beric gritar. E o resto de seu bando jorrou de entre as árvores e das valas, de aço na mão. Viu o luminoso manto amarelo de Limo esvoaçando atrás dele enquanto seu dono abatia o homem que havia matado Kyle. Thoros e Lorde Beric encontravam-se por toda a parte, com as espadas num rodopio de fogo, O sacerdote vermelho golpeou um escudo de peles até que este se desfez em pedaços, enquanto seu cavalo escoiceava o rosto do homem. Um dothraki gritou e atacou o senhor do relâmpago, e a espada flamejante saltou para deter seu arakh. As lâminas beijaram-se, rodopiaram e voltaram a se beijar. Então os cabelos do dothraki pegaram fogo e, um momento mais tarde, ele estava morto. Arya viu também Ned, lutando ao lado do senhor do relâmpago. Não é justo, ele é só um pouco mais velho do que eu, deviam ter me deixado lutar.
    A batalha não durou muito tempo. Os Bravos Companheiros que continuavam de pé rapidamente morreram ou jogaram fora as espadas. Dois dos dothraici conseguiram recuperar os cavalos e fugiram, mas só porque Lorde Beric os deixou ir.
    - Que levem a notícia a Harrenhal - disse, com a espada em chamas na mão. - Dará ao Senhor Sanguessuga e ao seu bode mais algumas noites sem dormir.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:20 am

    Jack Sortudo, Harwin e Merrit de Vilalua enfrentaram a septeria incendiada em bus¬ca de cativos. Emergiram da fumaça e das chamas alguns momentos mais tarde, com oito irmãos pardos, um dos quais tão fraco que Merrit teve de transportá-lo no ombro. Havia também um septão com eles, de ombros curvados e perdendo os cabelos, mas trajando cota de malha negra sobre suas vestes cinzentas.
    - Encontrei-o escondido debaixo dos degraus do porão - disse Jack, tossindo,
    Thoros sorriu ao vê-lo.
    - Você é Utt.
    - O Septão Utt. Um homem de deus.
    - Que deus ia querer um homem como você? - rosnou Limo.
    - Pequei - choramingou o septão. - Eu sei. Eu sei. Perdoe-me, Pai. Oh, como pequei gravemente.
    Arya lembrava-se do Septão Utt dos tempos passados em Harrenhal. Shagwell, o Bobo, dizia que ele chorava e rezava sempre por perdão depois de matar o seu garoto mais recente. As vezes até obrigava os outros Saltimbancos a flagelá-lo. Todos achavam aquilo muito divertido.
    Lorde Beric enfiou a espada na bainha, abafando as chamas.
    - Deem aos moribundos a dádiva da misericórdia e amarrem os pés e as mãos dos demais, para o julgamento - ordenou, e a ordem foi cumprida.
    Os julgamentos foram rápidos. Vários dos fora da lei avançaram para contar coisas que os Bravos Companheiros tinham feito; vilas e aldeias saqueadas, colheitas incen¬diadas, mulheres violadas e assassinadas, homens mutilados e torturados. Alguns fala¬ram dos rapazes que o Septão Utt tinha dado cabo. O septão chorou e rezou durante todo o julgamento.
    - Sou um fraco caniço - disse ao Lorde Beric. - Rezo ao Guerreiro por força, mas os deuses fizeram-me fraco. Tenha misericórdia de minha fraqueza. Os rapazes, os doces rapazes... nunca pretendi lhes fazer mal...
    O Septão Utt logo acabou pendurado pelo pescoço, sob um grande olmo, balançan¬do lentamente, nu como no dia de seu nascimento. Os outros Bravos Companheiros seguiram-no, um por um. Alguns lutaram, esperneando e se contorcendo enquanto o laço era apertado em volta de sua garganta. Um dos besteiros não parava de gritar "Eu soldado, eu soldado", com um denso sotaque de Myr. Outro ofereceu-se para levar seus captores a um local onde havia ouro; um terceiro explicou-lhes como daria um bom fora da lei. Todos foram despidos, atados e enforcados. Tom Sete-Cordas tocou uma canção fúnebre para eles em sua harpa, e Thoros implorou ao Senhor da Luz para assar suas almas até o fim dos tempos.
    Uma árvore de saltimbancos, pensou Arya ao vê-los pendurados, com a pele branca pin¬tada de um vermelho lúgubre pelas chamas da septeria incendiada. Os corvos já se aproxi¬mavam, vindos de lugar nenhum. Ouviu-os crocitando e cacarejando uns para os outros, e sentiu curiosidade em saber o que estariam dizendo. Arya não temera tanto o Septão Utt como Rorge, Dentadas e alguns outros em Harrenhal, mesmo assim estava satisfeita por ele estar morto. Também deviam ter enforcado ou cortado a cabeça do Cão de Caça. Em vez disso, para seu grande descontentamento, os fora da lei trataram o braço queimado de Sandor Clegane, devolveram-lhe a espada, o cavalo e a armadura, e libertaram-no a alguns quilômetros de distância do monte oco. Tudo que tiraram dele foi o ouro.
    Em pouco tempo, a septeria ruiu, num estrondo de fumaça e chamas, quando as pare¬des deixaram de sustentar seu pesado telhado de ardósia. Os oito irmãos pardos observa¬vam com resignação. Eram os que restavam, explicou o mais velho, que usava um peque¬no martelo de ferro pendurado em uma correia em volta do pescoço, para simbolizar sua devoção ao Ferreiro.
    - Antes da guerra éramos quarenta e quatro, e este lugar era próspero. Tínhamos uma dúzia de vacas leiteiras e um touro, cem colmeias, um vinhedo e um pomar de ma¬çãs. Mas quando os leões chegaram, levaram todo o nosso vinho, mel e leite, abateram as vacas e entregaram o vinhedo à tocha. Depois disso... perdi a conta dos nossos visi¬tantes. Esse falso septão foi apenas o último. Houve um monstro... demos-Ihe toda a nossa prata, mas ele tinha certeza de que tínhamos ouro escondido, por isso seus homens mataram-nos um por um para fazer o Irmão Mais Velho falar.
    - Como foi que vocês oito sobreviveram? - perguntou Anguy, o Arqueiro.
    - Estou envergonhado - disse o velho. - Fui eu. Quando chegou a minha vez de morrer, disse-lhes onde o ouro estava escondido.
    - Irmão - disse Thoros de Myr -, a única vergonha foi não lhes dizer imediatamente.
    Naquela noite, os fora da lei abrigaram-se na cervejaria junto do pequeno rio. Seus
    anfitriões tinham um esconderijo cheio de comida sob o chão dos estábulos, e partilha¬ram um jantar simples; pão de aveia, cebolas e uma sopa de couves aguada que tinha um leve gosto de alho. Arya encontrou uma fatia de cenoura flutuando na sua tigela e considerou-se sortuda. Os irmãos nunca perguntaram os nomes aos fora da lei. Eles sa¬bem, pensou Arya. Como podiam não saber? Lorde Beric usava o relâmpago na placa de peito, no escudo e no manto, e Thoros trazia suas vestes vermelhas, ou aquilo que delas restava. Um irmão, um jovem noviço, foi suficientemente ousado para dizer ao sacerdote vermelho para não rezar ao seu falso deus enquanto se encontrasse sob o seu teto.
    - Que se dane com isso - disse Limo Manto Limão. - Ele também é o nosso deus, e vocês devem a nós suas miseráveis vidas. E o que tem ele de falso? Seu Ferreiro pode reparar uma espada quebrada, mas será que consegue reparar um homem quebrado?
    - Basta, Limo - ordenou Lorde Beric. - Sob o teto deles, honraremos as regras deles.
    - O sol não deixará de brilhar se pularmos uma prece ou duas - concordou branda¬mente Thoros. - Se alguém sabe disso, sou eu.
    O próprio Lorde Beric não comeu. Arya nunca o vira comer, embora de tempos em tem¬pos bebesse uma taça de vinho. Tampouco parecia dormir. O seu olho bom fechava-se com freqüência, como que devido ao cansaço, mas quando se falava com ele, voltava a se abrir de
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:21 am

    imediato. O Senhor da Marcha continuava vestido com o seu maltrapilho manto negro e sua placa de peito amassada, com o relâmpago de esmalte lascado. Até dormia com aquela placa de peito. O baço aço negro escondia o terrível ferimento que Cão de Caça provocara nele, da mesma forma que seu espesso cachecol de lã ocultava o anel escuro que tinha em volta da garganta. Mas nada escondia a cabeça rachada, com um grande buraco na têmpora, ou o poço vermelho em carne viva que era o olho que lhe faltava, ou a forma do crânio sob o seu rosto.
    Arya olhou-o com prudência, recordando todas as histórias que se contavam dele em Harrenhal, Lorde Beric pareceu sentir seu medo. Virou a cabeça e fez-lhe sinal para se aproximar.
    - Eu a assusto, pequena?
    - Não. - Arya mordeu o lábio. - E só que... bem... pensei que o Cão de Caça tinha matado você, mas...
    - Um ferimento - disse Limo Manto Limão. - Um ferimento grave, sim, mas Thoros curou-o. Nunca existiu curandeiro melhor.
    Lorde Beric fitou Limo com uma expressão estranha no olho bom e nenhuma expres¬são no outro, só cicatrizes e sangue seco.
    - Não há melhor curandeiro - concordou num tom fatigado. - Limo, já passa da hora de trocar a guarda, creio eu. Trate disso, por favor.
    - Sim, senhor. - O comprido manto amarelo de Limo rodopiou atrás dele ao pene¬trar na noite ventosa.
    - Até os homens corajosos se cegam, às vezes, quando têm medo de ver - disse Lorde Beric depois de Limo partir. - Thoros, quantas vezes já me trouxe de volta?
    O sacerdote vermelho inclinou a cabeça.
    - E R'hllor quem o traz de volta, senhor. O Senhor da Luz. Eu sou apenas o seu ins¬trumento.
    - Quantas vezes? - insistiu Lorde Beric.
    - Seis - disse Thoros com relutância. - E é cada vez mais difícil. Tornou-se impru¬dente, senhor. A morte é assim tão encantadora?
    - Encantadora? Não, meu amigo. Encantadora, não.
    - Então não a corteje tanto. Lorde Tywin lidera a partir da retaguarda. Lorde Stannis também. O senhor seria sensato se fizesse o mesmo. Uma sétima morte pode significar o fim de nós dois.
    Lorde Beric tocou o local por cima da orelha esquerda, onde a têmpora tinha uma reentrância,
    - Foi aqui que Sor Burton Crakehall quebrou meu elmo e minha cabeça com um gol¬pe da sua maça. - Tirou o cachecol, expondo a ferida negra que emoldurava seu pescoço. - Esta é a marca que a mantícora fez nas Cataratas Impetuosas. Prendeu um pobre cria¬dor de abelhas e a mulher dele, julgando que eram dos meus, e divulgou por todo lado que os enforcaria, a menos que eu me entregasse. Quando fiz isso, enforcou-os mesmo assim, e a mim também, na forca do meio, - Ergueu um dedo para o poço vermelho do seu olho. - Foi aqui que a Montanha enfiou o punhal através de meu visor. - Um sorriso cansado roçou seus lábios. - Com isso, foram três vezes que morri pelas mãos da Casa Clegane. Seria de se imaginar que eu teria aprendido.,,
    Arya sabia que era uma brincadeira, mas Thoros não riu. Apoiou uma mão no ombro de Lorde Beric.
    - E melhor não pensar muito nisso.
    - Será que eu posso pensar naquilo que quase não recordo? Antigamente tive um castelo na Marca, e houve uma mulher com quem estava prometido que me casasse, mas hoje não conseguiria encontrar esse castelo nem dizer a cor dos cabelos dessa mulher. Quem me armou cavaleiro, velho amigo? Quais eram os meus pratos preferidos? Tudo se desvanece. As vezes penso que nasci na relva ensangüentada daquele bosque de freixos, com o sabor de fogo na boca e um buraco no peito, Você é a minha mãe, Thoros?
    Arya fitou o sacerdote de Myr, todo ele cabelo desgrenhado, farrapos cor-de-rosa e partes de velhas armaduras. Uma barba rala grisalha cobria suas faces e a pele solta por baixo do queixo. Não se parecia muito com os feiticeiros das histórias da Velha Ama, mas mesmo assim...
    - Poderia trazer de volta um homem sem cabeça? - perguntou Arya. - Só uma vez, não seis. Poderia fazer isso?
    - Não tenho magia, filha. Só preces. Daquela primeira vez, sua senhoria tinha um buraco que atravessava seu corpo e sangue na boca, eu sabia que não havia esperança. Portanto, quando seu pobre peito rasgado parou de se mover, dei-lhe o beijo do bom deus para encaminhá-lo. Enchi a boca com fogo e soprei as chamas para dentro dele, através de sua garganta, para pulmões, coração e alma. Chama-se o último beijo, e vi mui¬tas vezes os velhos sacerdotes concedendo-o aos servos do Senhor quando estes mor¬riam. Eu mesmo o tinha dado uma ou duas vezes, como todos os sacerdotes têm de fazer. Mas nunca antes tinha sentido um morto estremecer enquanto o fogo o enchia, nem visto seus olhos se abrirem. Não fui eu quem o convocou, senhora. Foi o Senhor. R'hllor ainda pretende algo dele. A vida é calor, e o calor é fogo, e o fogo é de Deus e só de Deus.
    Arya sentiu lágrimas subindo aos seus olhos. Thoros tinha usado muitas palavras, mas tudo que queriam dizer era não, pelo menos isso compreendeu.
    - Seu pai era um homem bom - disse Lorde Beric. - Harwin contou-me muitas coisas sobre ele. Por ele, eu de bom grado renunciaria ao seu resgate, mas necessitamos muito desesperadamente de ouro.
    Arya mordeu o lábio. Lso é verdade, suponho. Sabia que ele tinha dado o ouro do Cão de Caça ao Barba-Verde e ao Caçador, para comprarem provisões a sul do Vago.
    - A última colheita foi queimada, esta está se afogando, e o inverno chegará em breve - ouviu-o dizer quando os enviara. - O povo precisa de cereais e sementes, e nós pre¬cisamos de lâminas e cavalos. Muitos de meus homens montam cavalos ronceiros ou de puxar carreta e mulas contra inimigos montados em corcéis e cavalos de batalha,
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:21 am

    Mas Arya não sabia quanto Robb pagaria por ela. Ele agora era um rei, não o rapaz que deixara em Winterfell, com neve derretendo nos cabelos. E se soubesse das coisas que ela tinha feito, do cavalariço e do guarda em Harrenhal e tudo isso...
    - E se meu irmão não quiser me resgatar?
    - Por que pensaria numa coisa dessas? - perguntou Lorde Beric.
    - Bem - disse Arya - Meus cabelos estão uma bagunça, minhas unhas, sujas e meus pés estão duros. - Robb não se importaria com isso, provavelmente, mas a mãe se impor¬taria. A Senhora Catelyn sempre quis que ela fosse como Sansa, que cantasse, dançasse, costurasse e seguisse os bons modos. Só de pensar nisso, Arya tentou pentear os cabelos com os dedos, mas eram só nós e embaraçamentos e tudo que conseguiu foi arrancar um pouco deles. - Estraguei aquele vestido que a Senhora Smallwood me deu, e não costuro lá muito bem. - Mordeu o lábio. - Não costuro particularmente bem, quero dizer. A Sep- tã Mordane costumava dizer que eu tinha mãos de ferreiro.
    Gendry soltou uma gargalhada.
    - Essas coisinhas moles? - gritou. - Nem sequer conseguiria pegar num martelo.
    - Conseguiria se quisesse! - respondeu, furiosa,
    Thoros soltou um risinho.
    - Seu irmão pagará, filha. Quanto a isso, não tenha medo.
    - Sim, mas e se não pagar? - insistiu ela.
    Lorde Beric suspirou,
    - Então vou mandá-la durante algum tempo para junto da Senhora Smallwood, ou talvez para o meu castelo de Portonegro. Mas estou certo de que isso não será necessário. Assim como Thoros, não tenho o poder para trazer seu pai de volta, mas posso pelo me¬nos tratar de devolvê-la em segurança aos braços de sua mãe.
    -Jura? - perguntou-lhe. Yoren também prometeu levá-la para casa, mas em vez disso tinha se deixado matar.
    - Pela minha honra como cavaleiro - disse solenemente o senhor do relâmpago.
    Estava chovendo quando Limo voltou à cervejaria, resmungando pragas enquan¬to a água escorria de seu manto amarelo e ia se acumular em poças no chão. Anguy e Jack Sortudo estavam sentados perto da porta, jogando dados, mas não importa o jogo que jogavam, o zarolho do Jack não tinha sorte nenhuma. Tom Sete-Cordas substituiu uma corda em sua harpa e cantou "As lágrimas de mãe", "Quando a mulher de Willum se molhou" "Lorde Harte partiu num dia de chuva" e então "As chuvas de Castamere".
    E quem é você, disse o altivo senhor,
    pra que a vênia seja profunda?
    Só um gato com um manto diferente,
    essa é a verdade fecunda.
    Num manto de ouro ou num manto vermelho,
    suas garras um leão mantém,
    E as minhas são longas e afiadas, senhor,
    como o senhor as tem também.
    E assim falou, e assim conversou,
    o senhor de Castamere
    Mas agora a chuva chora no seu salão,
    e ninguém está lá para a ver.
    Sim, agora a chuva chora no seu salão,
    e ninguém está lá para a ver.
    Por fim, Tom ficou sem canções de chuva e pôs de lado a harpa. Então ouviu-se ape¬nas o som da própria chuva tamborilando no telhado de ardósia da cervejaria. O jogo de dados terminou, e Arya equilibrou-se numa perna e depois na outra, escutando as quei¬xas de Merrit a respeito de seu cavalo ter perdido uma ferradura.
    - Eu poderia ferrá-lo - disse Gendry de repente. - Era só um aprendiz, mas o mestre dizia que minha mão tinha sido feita para segurar um martelo. Sei ferrar cavalos, fechar buracos em cotas de malha e tirar amassados de armaduras. Aposto que também conse¬guiria fazer espadas.
    - O que você está dizendo, rapaz? - perguntou Harwin.
    - Posso ser o seu ferreiro. - Gendry ajoelhou-se perante Lorde Beric. - Se me aceitar, senhor, poderia ser útil. Já fiz ferramentas e facas, e uma vez fiz um elmo que não era muito ruim. Um dos homens da Montanha roubou-o quando fomos capturados.
    Arya mordeu o lábio. Ele também quer me abandonar,
    - Estaria melhor servindo Lorde Tully, em Correrrio - disse Lorde Beric. - Não pos¬so pagar por seu trabalho.
    - Ninguém nunca pagou. Quero uma forja e comida e um lugar onde possa dormir, Isso basta, senhor.
    - Um ferreiro é bem-vindo em quase todo lado. Um armeiro experiente, ainda mais. Por que você preferiria ficar conosco?
    Arya viu Gendry franzir seu estúpido rosto, pensando.
    - No monte oco, o que disse sobre serem homens do Rei Robert, e irmãos, eu gostei disso. Gostei de ter oferecido ao Cão de Caça um julgamento. Lorde Bolton só enforcava as pessoas, ou cortava a cabeça delas, e Lorde Tywin e Sor Amory eram iguais. Preferiria trabalhar de ferreiro para o senhor.
    - Temos muita malha precisando de conserto, senhor. - recordou Jack ao Lorde Be¬ric. - A maior parte foi tirada dos mortos, e há buracos por onde a morte a atravessou.
    - Deve ser um retardado, rapaz - disse Limo. - Nós somos fora da lei. Ralé de baixo nascimento, na maioria, exceto sua senhoria. E não pense que será como nas canções bes¬tas de Tom. Não vai
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:21 am

    andar roubando beijos de uma princesa, nem entrando em torneios com uma armadura roubada. Caso se junte a nós, vai acabar com uma corda no pescoço, ou a cabeça exposta em algum portão de castelo.
    - É a mesma coisa que fariam por você - disse Gendry.
    - Bem, é verdade - disse Jack Sortudo num tom alegre. - Os corvos esperam por to¬dos nós. Senhor, o rapaz parece ter bastante coragem, e precisamos daquilo que nos traz. O Jack diz: aceite-o.
    - E depressa - sugeriu Harwin com um risinho -, antes que a febre passe e ele recu¬pere o juízo.
    Um sorriso abatido atravessou os lábios de Lorde Beric.
    - Thoros, a minha espada.
    Daquela vez o senhor do relâmpago não incendiou a lâmina e limitou-se a apoiá-la levemente no ombro de Gendry.
    - Gendry, jura perante os olhos dos deuses e dos homens defender aqueles que não podem defender a si mesmos, proteger todas as mulheres e crianças, obedecer aos seus capitães, ao seu suserano e ao seu rei, lutar bravamente quando necessário e desempe¬nhar as demais tarefas que lhe sejam atribuídas, por mais duras, humildes ou perigosas que possam ser?
    -Juro, senhor.
    O Senhor da Marcha passou a espada do ombro direito para o esquerdo e disse:
    - Levante-se, Sor Gendry, cavaleiro do monte oco, e seja bem-vindo à nossa irman¬dade.
    Da porta, chegou uma gargalhada rude e áspera.
    A chuva pingava dele. Seu braço queimado estava enrolado em folhas e linho e bem preso ao peito por uma tosca tipoia de corda, mas as queimaduras mais antigas que mar¬cavam seu rosto cintilavam, negras e lisas, ao brilho da pequena fogueira dos fora da lei.
    - Fazendo mais cavaleiros, Dondarrion? - disse o intruso num rosnado. - Devia matá-lo outra vez por causa disso.
    Lorde Beric encarou-o friamente.
    - Esperava que não o víssemos mais, Clegane. Como nos encontrou?
    - Não foi difícil. Fizeram uma fumaceira tão grande que até de Vilavelha se veria.
    - O que aconteceu com as sentinelas que coloquei?
    A boca de Clegane torceu-se.
    - Aqueles dois cegos? Talvez tenha matado ambos. O que faria se assim fosse?
    Anguy prendeu uma corda no arco. Notch estava fazendo o mesmo.
    - Deseja tanto assim morrer, Sandor? - perguntou Thoros. - Deve estar louco ou bêbado para nos seguir até aqui.
    - Bêbado de chuva? Não me deixaram ouro suficiente para comprar uma taça de vi¬nho, seus filhos da puta.
    Anguy pegou uma flecha.
    - Somos fora da lei. Os fora da lei roubam. Está nas canções, se pedir com jeitinho o Tom talvez lhe cante uma. Fique grato por não termos matado você.
    - Venha tentar, Arqueiro. Arranco essa aljava da sua mão e enfio essas flechas pelo seu cuzinho sardento acima.
    Anguy ergueu o arco, mas Lorde Beric levantou uma mão antes de ele ter oportuni¬dade de disparar.
    - Por que veio até aqui, Clegane?
    - Para recuperar o que é meu.
    - Seu ouro?
    - O que mais poderia ser? Não foi pelo prazer de olhar para a sua cara, Dondarrion, devo dizer. Agora é mais feio do que eu. E também um cavaleiro ladrão, ao que parece.
    - Dei-lhe uma nota em troca do ouro - disse calmamente Lorde Beric. - Uma pro¬messa de pagamento para quando a guerra chegar ao fim.
    - Limpei o cu com o seu papel. Quero o ouro,
    - Não o temos. Mandei-o para o sul, com Barba-Verde e Caçador, para comprar cereais e sementes do lado de lá do Vago.
    - Para alimentar todos aqueles cujas colheitas você queimou - disse Gendry.
    - Ah, a história agora é essa? - Sandor Clegane soltou outra gargalhada. - Acontece que era isso mesmo que eu pretendia fazer com ele. Alimentar um monte de feios cam¬poneses e suas crias piolhentas.
    - Está mentindo - disse Gendry.
    - Vejo que o rapaz tem boca. Por que acredita neles e não em mim? Não pode ser pela minha cara, ou pode? - Clegane olhou de relance para Arya. - Vai também armá-la cavaleira? A primeira menina de oito anos cavaleira?
    - Tenho doze - mentiu Arya em voz alta - e podia ser cavaleira se quisesse. Também podia ter matado você, só que o Limo roubou a minha faca. - Lembrar-se daquilo ainda a deixava zangada.
    - Queixe-se ao Limo, não a mim. E depois enfie o rabo entre as pernas e fuja. Sabe o que os cães fazem com lobos?
    - Da próxima vez mato você mesmo. E mato também o seu irmão.
    - Não. - Os olhos escuros dele estreitaram-se. - Isso não fará. - Virou-se de novo para Lorde Beric. - Olha, arme o meu cavalo cavaleiro. Ele nunca caga nos salões, e não dá mais coices do que a maioria, merece ser armado cavaleiro. A menos que também pretenda roubá-lo.
    - E melhor subir nesse cavalo e ir embora - preveniu Limo.
    - Irei com o meu ouro. O próprio deus que adora disse que não sou culpado...
    - O Senhor da Luz devolveu-lhe a vida - declarou Thoros de Myr. - Não o proclamou a reencarnação de Baelor, o Abençoado. - O sacerdote vermelho desem- bainhou a espada, e Arya
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:22 am

    viu que Jack e Merrit também tinham desembainhado as deles. Lorde Beric ainda segurava a lâmina que usara para armar Gendry. Talvez des¬sa vez o matem.
    A boca do Cão de Caça voltou a se torcer.
    - Não são mais do que ladrões comuns.
    Limo olhou-o fixamente.
    - Seus amigos leões entram numa aldeia qualquer, roubam toda a comida e todas as moedas que conseguirem encontrar, e chamam isso deforragear. Os lobos também, por¬tanto por que não nós? Ninguém o roubou, cão. Foi só bem forrageado.
    Sandor Clegane olhou o rosto deles, um a um, como se estivesse tentando gravá-los todos na memória. Então saiu de volta para a escuridão e a chuva intensa de onde viera, sem proferir outra palavra. Os fora da lei ficaram na expectativa, questionando-se...
    - É melhor eu verificar o que ele fez às nossas sentinelas. - Harwin espiou cuidado¬samente pela porta antes de sair, a fim de se certificar de que Cão de Caça não estava só à espreita lá fora.
    - E, de qualquer forma, como terá aquele maldito sacana arranjado todo aquele ouro? - disse Limo Manto Limão, para quebrar a tensão.
    Anguy encolheu os ombros.
    - Ele ganhou o torneio da Mão. Em Porto Real. - O arqueiro deu um sorriso. - Eu mesmo ganhei uma bela fortuna, mas depois conheci Dancy, Jayde e Alayaya. Ensinaram - -me qual é o gosto do cisne assado e como tomar banho em vinho da Árvore.
    - Deu cabo dele todo, foi? - riu Harwin.
    - Todo não. Comprei estas botas e este excelente punhal.
    - Devia era ter comprado alguma terra e tornado uma dessas moças do cisne assado numa mulher honesta - disse Jack Sortudo. - Arranjaria uma colheita de nabos e outra de filhos.
    - Que o Guerreiro me proteja! Que desperdício seria transformar o ouro em nabos.
    - Eu gosto de nabos - disse Jack, ofendido. - Agora mesmo bem que encararia um purezinho de nabo.
    Thoros de Myr não prestou atenção às brincadeiras.
    - Cão de Caça perdeu mais do que alguns sacos de moeda - refletiu. - Perdeu tam¬bém seu dono e o canil. Não pode voltar para os Lannister, o Jovem Lobo nunca o aco¬lheria, e também não é provável que o irmão o receba. Aquele ouro era tudo que lhe restava, parece.
    - Inferno - disse Watty, o Moleiro. - Então ele com certeza virá nos assassinar quan¬do estivermos dormindo.
    - Não. - Lorde Beric tinha embainhado a espada. - Sandor Clegane mataria todos nós de bom grado, mas não enquanto dormíssemos. Anguy, amanhã vá para a retaguarda com o Dick Sem Barba. Se vir o Clegane ainda farejando atrás de nós, mate seu cavalo.
    - E um bom cavalo - protestou Ànguy.
    - Sim - disse Limo. - E o maldito cavaleiro que deveríamos matar. Poderíamos usar aquele cavalo.
    - Eu concordo com o Limo - disse Notch. - Deixe-me pôr penas no cão algumas vezes, desencorajá-lo um pouquinho.
    Lorde Beric sacudiu a cabeça.
    - Clegane conquistou a vida sob o monte oco. Não a roubarei dele.
    - O senhor é sábio - disse Thoros aos outros. - Irmãos, um julgamento pela batalha é algo sagrado. Ouviram-me pedir a Rhllor para dar uma ajuda e viram o seu dedo ar¬dente quebrar a espada de Lorde Beric, justo no momento em que ele se preparava para pôr fim em Clegane. Ao que parece, o Senhor da Luz ainda tem planos para o Cão de Caça de JofFrey.
    Harwyn voltou depressa à cervejaria.
    - Pé-de-Chouriço estava dormindo como uma pedra, mas inteiro.
    - Espere até eu colocar as mãos nele - disse Limo. - Abro um novo olho do cu. Podia ter feito com que todos nós fôssemos mortos.
    Ninguém descansou muito confortavelmente naquela noite, sabendo que Sandor Clegane se encontrava lá fora, no escuro, em algum lugar nas imediações. Arya enrolou- -se perto do fogo, quente e aconchegada, mas o sono não queria vir. Tirou para fora a moeda que Jaqen Hghar lhe dera e enrolou os dedos em volta dela, mantendo-se deitada por baixo de seu manto. Segurá-la fazia com que se sentisse forte, recordando-se de como havia sido o fantasma de Harrenhal. Na época, ela podia matar com um murmúrio.
    Mas Jaqen partiu. Abandonou-a. O Torta Quente também me deixou, e agora é o Gen¬dry que está partindo. Lommy morreu, Yoren morreu, Syrio Forel morreu, até o pai mor¬reu, e Jaqen deu-lhe uma estúpida moeda de ferro e desapareceu.
    - Vaiar morgbulis - murmurou suavemente, apertando tanto o punho que as duras arestas da moeda se enterraram na palma de sua mão. - Sor Gregor, Dunsen, Polliver, Raff, o Querido. Cócegas e Cão de Caça. Sor Ilyn, Sor Meryn, Rei Joffrey, Rainha Cersei. - Arya tentou imaginá-los depois de mortos, mas era difícil trazer seus rostos à memó¬ria. Conseguia ver Cão de Caça, assim como o irmão, a Montanha, e nunca se esqueceria do rosto de Joffrey, ou do da mãe dele... mas Raff, Dunsen e Polliver desvaneciam-se, e até Cócegas, cujo aspecto era tão banal.
    O sono finalmente dominou-a, mas na noite fechada Arya acordou de novo, com uma sensação de formigamento. A fogueira reduzira-se a brasas. Mudge estava em pé, junto à porta, e havia outro guarda fazendo rondas lá fora. A chuva tinha parado, e ouviam-se lobos uivando. Tão perto, pensou, e tantos. Pelo barulho pareciam estar por toda a volta do estábulo, dezenas de animais, talvez centenas. Espero que comam o Cão de Caça, Re¬cordou o que ele havia dito a respeito dos lobos e dos cães.
    Chegada a manhã, o Septão Utt ainda oscilava sob a árvore, mas os irmãos pardos andavam pela chuva com pás, cavando covas rasas para os outros mortos. Lorde Beric agradeceu-lhes pelo alojamento da noite e pela refeição e deu-lhes um saco de veados de prata para ajudar na reconstrução. Harwin, o Luke Promissor e Watty, o Moleiro, saíram batendo o terreno, mas não foram encontrados nem lobos nem cães.
    Arya estava apertando a correia de sua sela quando Gendry veio encontrá-la para lhe pedir desculpas. Ela pôs um pé no estribo e saltou para a sela, para poder olhá-lo de cima, e não de baixo. Podia fazer espadas em Correrrio para o meu irmão, pensou, mas o que disse foi:
    - Se quer ser um estúpido cavaleiro fora da lei e acabar enforcado, por que é que devo me importar? Vou estar em Correrrio, a salvo, com o meu irmão.
    Não houve chuva naquele dia, felizmente, e por uma vez avançaram depressa.

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