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    Parte 2 3 realm

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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 2:00 pm

    render. Lancei e Daven deve¬rão se casar com garotas Frey, Joy deverá se casar com um dos filhos ilegítimos de Lorde Walder quando tiver idade para isso, e Roose Bolton torna-se Protetor do Norte e leva para casa Arya Stark.
    - Arya Stark? - Tyrion inclinou a cabeça. - Bolton também? Devia ter compreen¬dido que o Frey não teria estômago para agir sozinho, Mas Arya... Varys e Sor Jacelyn procuraram-na durante mais de meio ano. Arya Stark está morta com certeza.
    - Renly também estava, até a Água Negra.
    - O que isso quer dizer?
    - Talvez Mindinho tenha obtido sucesso onde você e Varys falharam. Lorde Bolton casará a garota com o seu filho bastardo. Permitiremos que o Forte do Pavor lute contra os homens de ferro durante alguns anos e veremos se consegue levar os outros vassa¬los dos Stark a se ajoelhar. Ao chegar a primavera, todos eles deverão estar no fim de suas forças e prontos para dobrar o joelho. O Norte passará para o seu filho e de Sansa Stark... se alguma vez arranjar suficiente virilidade para gerar um. Não se esqueça de que não é só Joffrey quem tem de pôr fim a uma virgindade.
    Não me esqueci, embora tivesse esperança de que você tivesse esquecido.
    - E quando acha que Sansa estará mais fértil? - perguntou Tyrion ao pai num tom que pingava ácido. - Antes ou depois de eu lhe contar como assassinamos sua mãe e seu irmão?
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 2:01 pm

    Davos 623




    Por um momento, pareceu que o rei não tinha ouvido. Stannis não mostrou qualquer prazer com a notícia, nem ira, nem incredulidade, nem mesmo alívio. Encarou a sua Mesa Pintada com os dentes cerrados com força.
    - Tem certeza? - perguntou.
    - Não estou vendo o corpo, não, Vossa Realdade - disse Salladhor Saan. - Mas na cidade, os leões pavoneiam-se e dançam. O povo está chamando de O Casamento Verme¬lho. Juram que Lorde Frey cortou a cabeça do rapaz, costurou a cabeça do lobo gigante dele no lugar e pregou uma coroa sobre as orelhas. A senhora mãe dele também foi mor¬ta e atirada nua ao rio.
    Num casamento, pensou Davos. Sentado à mesa de seu assassino, um hóspede sob o seu teto. Aqueles Frey estão amaldiçoados. Sentia de novo o cheiro do sangue ardendo e ouvia a sanguessuga silvar e cuspir nas brasas quentes do braseiro.
    - Foi a ira do Senhor que o matou - declarou Sor Axell Florent. - Isso tem a mão de Rhllor!
    - Louvem o Senhor da Luz! - entoou a Rainha Selyse, uma mulher magra e macilen- ta, com grandes orelhas e um lábio superior peludo.
    - Será que a mão de Rhllor é manchada e entrevada? - perguntou Stannis. - Isso parece mais obra de Walder Frey do que de qualquer deus.
    - Rhllor escolhe os instrumentos de que necessita, - O rubi na garganta de Melisan¬dre brilhava, rubro. - Seus caminhos são misteriosos, mas nenhum homem pode resistir à sua vontade ardente.
    - Nenhum homem pode resistir a ele! - gritou a rainha.
    - Fique calada, mulher. Não está numa fogueira noturna agora. - Stannis exami¬nou a Mesa Pintada. - O lobo não deixa herdeiros, a lula gigante deixa muitos. Os leões vão devorá-los, a menos que... Saan, vou precisar de seus navios mais rápidos para levar enviados às Ilhas de Ferro e a Porto Branco. Oferecerei indultos, - O modo como cerrou os dentes mostrou o pouco que gostava da palavra. - Indultos totais, para todos aqueles que se arrependerem da traição e jurarem lealdade ao seu legítimo rei. Têm de compreender...
    - Não compreenderão. - A voz de Melisandre era suave. - Lamento, Vossa Graça. Isso não é um fim. Mais falsos reis irão se erguer em breve para tomar a coroa daqueles que morreram.
    - Mais? - Stannis parecia com vontade de esganá-la. - Mais usurpadores? Mais trai¬dores?
    - Vi nas chamas.
    A Rainha Selyse aproximou-se do rei.
    - O Senhor da Luz enviou Melisandre para guiá-lo até a glória. Dê ouvidos a ela, suplico. As chamas sagradas de Rhllor não mentem.
    - Há mentiras e mentiras, mulher. Mesmo quando essas chamas falam a verdade, estão cheias de truques, parece-me.
    - Uma formiga que escute as palavras de um rei pode não compreender o que ele está dizendo - disse Melisandre - e todos os homens são formigas perante o rosto ardente de deus. Se às vezes confundi um aviso com uma profecia ou uma profecia com um aviso, a falha cabe ao leitor, não ao livro. Mas sei isso com certeza: enviados e indultos não lhe serão agora mais úteis do que sanguessugas. Tem de mostrar ao reino um sinal. Um sinal que prove o seu poder!
    - Poder? - o rei fungou. - Tenho mil e trezentos homens em Pedra do Dragão, mais trezentos em Ponta Tempestade. - A mão varreu a Mesa Pintada. - O resto de Westeros está nas mãos de meus inimigos. Não tenho frota além da de Salladhor Saan. Não tenho moeda para contratar mercenários. Não tenho expectativas de saque ou glória para atrair cavaleiros livres à minha causa.
    - Senhor esposo - disse a Rainha Selyse tem mais homens do que Aegon tinha há trezentos anos. Tudo que lhe falta são dragões.
    O olhar que Stannis lhe dirigiu era sombrio.
    - Nove magos cruzaram o mar para chocar os ovos de Aegon Terceiro. Baelor, o Abençoado, rezou sobre o seu durante meio ano. Aegon, o Quarto, construiu dragões de madeira e ferro. Aerion Chamaviva bebeu fogovivo para se transformar. Os magos falha¬ram, as preces do Rei Baelor não obtiveram resposta, os dragões de madeira queimaram, e o Príncipe Aerion morreu aos gritos.
    A Rainha Selyse mostrou-se inflexível.
    - Nenhum desses homens era o escolhido de Rhllor. Nenhum cometa vermelho ar¬deu nos céus para anunciar a sua chegada. Nenhum brandia a Luminífera, a espada ver¬melha dos heróis. E nenhum deles pagou o preço. A Senhora Melisandre dirá, senhor. Só a morte pode pagar pela vida,
    - O garoto? - o rei quase cuspiu as palavras.
    - O garoto - concordou a rainha.
    - O garoto - ecoou Sor Axell.
    - Já estava farto desse maldito garoto antes mesmo de ele nascer - protestou o rei. - Até o nome dele é um rugido aos meus ouvidos e uma nuvem negra que paira sobre a minha alma.
    - Dê-me o garoto e nunca mais terá de ouvir pronunciar seu nome novamente - pro¬meteu Melisandre.
    Não, mas vai ouvi-lo gritar quando ela o queimar. Davos segurou a língua. Era mais sensato não falar até que o rei ordenasse.
    - Dê-me o garoto para Rhllor - disse a mulher vermelha - e a antiga profecia será cumprida. O seu dragão acordará e estenderá suas asas de pedra. O reino será seu.
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 2:01 pm

    Sor Axell ajoelhou-se.
    - Sobre um joelho dobrado lhe suplico, senhor. Acorde o dragão de pedra e faça os traidores tremerem. Tal como Aegon, começa como Senhor de Pedra do Dragão. Tal como Aegon, conquistará. Que os falsos e os inconstantes sintam as suas chamas.
    - A sua própria esposa suplica também, senhor esposo. - A Rainha Selyse ajoelhou- -se perante o rei, com as mãos unidas como que em prece. - Robert e Delena profanaram a nossa cama e fizeram cair uma maldição sobre a nossa união. Esse garoto é o sujo fruto de sua fornicação. Levante esta sombra de meu ventre, e eu lhe darei muitos filhos legíti¬mos, eu sei que sim. - Envolveu as pernas dele com os braços. - Ele é apenas um garoto, nascido da luxúria de seu irmão e da vergonha da minha prima.
    - Ele é do meu sangue. Pare de me agarrar, mulher. - Rei Stannis pôs uma mão no ombro dela, soltando-se desajeitadamente de seu abraço. - Robert talvez tenha amaldi¬çoado nosso leito nupcial. Jurou-me que nunca pretendeu me envergonhar, que estava bêbado e não chegou a saber de quem era o quarto em que entrou naquela noite. Mas será que importa? O garoto não tem culpa, seja qual for a verdade.
    Melisandre pousou a mão no braço do rei.
    - O Senhor da Luz aprecia os inocentes. Não há sacrifício mais precioso. Do seu san¬gue de rei e do seu fogo sem mácula nascerá um dragão.
    Stannis não se afastou do toque de Melisandre como havia se afastado do da rainha. A mulher vermelha era tudo que Selyse não era; jovem, de corpo cheio, e estranhamente bela, com seu rosto em forma de coração, cabelos acobreados e olhos sobrenaturalmente vermelhos.
    - Seria uma coisa maravilhosa ver a pedra ganhar vida - admitiu de má vontade.
    - E montar um dragão... lembro-me da primeira vez que o meu pai me levou à corte, Robert teve de ir de mãos dadas comigo. Eu não podia ter mais de quatro anos, o que significa que ele devia ter cinco ou seis. Depois concordamos que o rei tinha sido tão nobre como os dragões eram temíveis. - Stannis fungou. - Anos mais tarde, nosso pai disse-nos que Aerys tinha se cortado no trono naquela manhã, e por isso a sua Mão tomara o lugar dele. O homem que tanto nos impressionou foi Tywin Lannis¬ter. - Os dedos do rei tocaram a superfície da mesa, traçando levemente um caminho através dos montes envernizados. - Robert tirou os crânios das paredes quando co¬locou a coroa, mas não suportou a idéia de mandar destruí-los. Asas de dragão sobre Westeros... isso seria uma.,,
    - Vossa Graça! - Davos inclinou-se para a frente. - Posso falar?
    Stannis fechou a boca com tanta força que os dentes soltaram um estalido.
    - Senhor da Mata de Chuva. Por que julga que fiz de você Mão, se não para falar? - o rei fez um gesto com a mão. - Diga o que quiser.
    Guerreiro, dê-me coragem.
    , - Pouco sei de dragões e menos ainda de deuses... mas a rainha falou de maldições. Ninguém é tão amaldiçoado aos olhos dos deuses e dos homens como quem mata a família.
    - Não há deuses além de Rhllor e do Outro, cujo nome não pode ser pronunciado.
    - A boca de Melisandre era uma linha dura e vermelha. - E os homens pequenos amal¬diçoam aquilo que não são capazes de compreender.
    - Eu sou um homem pequeno - admitiu Davos -, portanto, explique-me por que necessita desse garoto, Edric Storm, para acordar o seu grande dragão de pedra, senhora.
    - Estava determinado a proferir o nome do garoto tantas vezes quantas pudesse.
    - Só a morte pode pagar pela vida, senhor. Uma grande dádiva requer um grande sacrifício.
    - Onde está a grandeza numa criança ilegítima?
    - Ele tem o sangue de um rei nas veias. Já viu o que até um pouco desse sangue pode fazer...
    - Vi a senhora queimar algumas sanguessugas.
    - E dois falsos reis estão mortos.
    - Robb Stark foi assassinado por Lorde Walder da Travessia, e ouvimos dizer que Balon Greyjoy caiu de uma ponte. Quem foi que as suas sanguessugas mataram?
    - Duvida do poder de Rhllor?
    Não. Davos lembrava-se bem demais da sombra viva que saíra se contorcendo do ven¬tre da mulher naquela noite sob Ponta Tempestade, das mãos negras empurrando as suas coxas. Aqui tenho de pisar com cuidado, senão uma sombra pode vir me procurar também.
    - Até um contrabandista de cebolas sabe distinguir duas cebolas de três. Falta-lhe um rei, senhora.
    Stannis resfolegou uma risada.
    - Ele pegou-a, senhora. Dois não é igual a três.
    - Com certeza, Vossa Graça. Um rei pode morrer por acaso, até dois... mas três? Se Joffrey morrer, no meio de todo o seu poder, rodeado por seus exércitos e sua Guarda Real, isso não mostraria o poder do Senhor em ação?
    - Talvez mostre. - O rei falou como se se ressentisse de cada palavra.
    - Ou talvez não. - Davos fez o melhor que pôde para esconder o medo.
    -Joffrey morrerá - declarou a Rainha Selyse, serena em sua confiança.
    - Até pode já estar morto - acrescentou Sor Axell.
    Stannis olhou-os com um ar aborrecido.
    - São corvos treinados, para crocitarem comigo um de cada vez? Basta.
    - Esposo, escute-me... - rogou a rainha.
    - Por quê? Dois é diferente de três. Os reis sabem contar tão bem quanto os contra¬bandistas. Podem ir. - Stannis virou as costas a eles.
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 2:02 pm

    Melisandre ajudou a rainha a se levantar. Selyse saiu do aposento, hirta, com a mu¬lher vermelha atrás. Sor Axell deixou-se ficar tempo suficiente para lançar a Davos um último olhar. Um olhar feio num rosto feio, pensou o contrabandista ao encará-lo.
    Depois de os outros saírem, Davos pigarreou. O rei ergueu os olhos.
    - Ainda está aqui?
    - Senhor, a propósito de Edric Storm...
    Stannis fez um gesto brusco.
    - Poupe-me.
    Davos persistiu.
    - A sua filha tem aulas com ele e brinca todos os dias em sua companhia no Jardim de Aegon.
    - Eu sei disso.
    - O coração dela iria se quebrar se algo de mal...
    - Também sei disso.
    - Se ao menos o visse...
    - Já o vi. Parece-se com Robert. Sim, e venera o pai. Deverei falar-lhe da freqüência com que o seu querido pai lhe dirigia um pensamento? Meu irmão gostava bastante do fabrico de crianças, mas depois do nascimento eram um aborrecimento.
    - Ele pergunta pelo senhor todos os dias, ele...
    - Está me irritando, Davos. Não quero ouvir falar mais desse bastardo.
    - O nome dele é Edric Storm, senhor.
    - Eu sei o nome dele. Terá alguma vez existido um nome mais adequado? Proclama a sua bastardia, o seu elevado nascimento, e o tumulto que traz consigo. Edric Storm. Aí está, eu disse. Está satisfeito, senhor Mão?
    - Edric... - começou.
    - ... é um garotol Poderia ser o melhor garoto que alguma vez respirou, que não teria im-portância. Meu dever é para com o reino. - A mão varreu a Mesa Pintada. - Quantos garotos vivem em Westeros? Quantas garotas? Quantos homens, quantas mulheres? A escuridão vai devorá-los todos, diz ela. A noite que não tem fim. Fala de profecias... um herói renascido no mar, dragões vivos chocados a partir de pedra morta... fala de sinais e jura que apontam para mim. Nunca pedi isso, assim como não pedi ser rei. Mas vou me atrever a não lhe dar ouvi¬dos? - rangeu os dentes. - Não escolhemos o nosso destino. Mas temos... temos de cumprir o nosso dever, não é? Grande ou pequeno, temos de cumprir o nosso dever. Melisandre jura que me viu em suas chamas, enfrentando a escuridão com a Luminífera erguida bem alto. Lumi- ntferal - Stannis soltou uma fungadela derrisória. - Cintila lindamente, admito, mas na Água Negra essa espada mágica não me serviu melhor do que qualquer aço banal. Um dragão teria virado essa batalha. Aegon esteve um dia onde estou agora, olhando para esta mesa. Pensa que lhe chamaríamos hoje Aegon, o Conquistador, se não tivesse tido dragões?
    - Vossa Graça - disse Davos -, o preço...
    - Eu conheço o preço! Na noite passada, olhando para aquela lareira, também vi coisas nas chamas. Vi um rei, com uma coroa de fogo na testa, ardendo... ardendo, Davos. Sua própria coroa consumiu sua carne e transformou-o em cinzas. Acha que preciso que Melisandre me diga o que isso significa? Ou você? - o rei mudou de posição e sua sombra caiu sobre Porto Real. - Se JofFrey morrer... o que é a vida de um garoto bastardo perante um reino?
    - Tudo - disse Davos em voz baixa.
    Stannis olhou-o, com as mandíbulas cerradas.
    - Vá - disse o rei por fim - antes que consiga se levar de volta à masmorra.
    As vezes os ventos de tempestade sopram com tanta força que um homem não tem alternativa exceto guardar as velas,
    - Sim, Vossa Graça. - Davos fez uma reverência, mas, aparentemente, Stannis já o tinha esquecido.
    Quando saiu do Tambor de Pedra, fazia frio no pátio. Um vento fresco soprava do leste, fazendo os estandartes baterem ruidosamente ao longo das muralhas. Davos sentia o cheiro do sal no ar. O mar. Adorava aquele cheiro. Fazia-o desejar caminhar de novo por um convés, içar a sua vela e velejar para o sul, para ir até Marya e seus dois filhos pe¬quenos. Agora pensava neles quase todos os dias e ainda mais durante a noite. Parte de si nada desejava mais ardentemente do que pegar Devan e ir para casa. Não posso. Ainda não. Agora sou um senhor e Mão do Rei, não posso falhar com ele.
    Ergueu os olhos e fitou as muralhas. Em vez de merlões, um milhar de ornamentos grotescos e de gárgulas olhavam-no lá de cima, cada uma diferente de todas as outras;
    serpes, grifos, demônios, mantícoras, minotauros, basiliscos, mastins do inferno, cocatri- zes, e um milhar de criaturas mais estranhas que brotavam das ameias do castelo como se tivessem nascido ali. E havia dragões por todos os lados. O Grande Salão era um dragão deitado sobre a barriga. Entrava-se por sua boca aberta. As cozinhas eram um dragão enrolado numa bola, com a fumaça e o vapor dos fornos saindo através de suas narinas. As torres eram dragões empoleirados nas muralhas, ou prontos para levantar voo; o Dra¬gão de Vento parecia gritar em desafio, ao passo que a Torre do Dragão Marinho olhava serenamente por sobre as águas. Dragões menores enquadravam os portões. Garras de dragão emergiam das paredes para agarrar archotes, grandes asas de pedra abraçavam o ferreiro e o arsenal, e caudas formavam arcos, pontes e escadas exteriores.
    Davos ouvia dizer com freqüência que os feiticeiros de Valíria não cortavam e buri¬lavam como os pedreiros vulgares, mas trabalhavam a pedra com fogo e magia como um oleiro trabalharia o barro. Mas agora duvidava. E sefossern dragões verdadeiros, de algum modo transformados em pedra?
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 2:02 pm

    - Se a mulher vermelha os trouxer à vida, o castelo ruirá, imagino. Que espécie de dragão está cheia de quartos, escadas e mobília? E de janelas. E de chaminés. E de fossas.
    Davos virou-se para deparar com Salladhor Saan ao seu lado.
    - Isso significa que perdoou a minha traição, Salla?
    O velho pirata brandiu um dedo em sua direção.
    - Perdoei, sim. Esqueci, não. Todo aquele bom ouro na Ilha da Garra que podia ter sido meu, fico velho e cansado só de pensar nele. Quando morrer empobrecido, minhas esposas e concubinas vão amaldiçoá-lo, Senhor das Cebolas. Lorde Celtigar tinha muitos belos vinhos que não estou saboreando, uma águia do mar que treinara para levantar voo de seu pulso e um berrante mágico para fazer sair lulas gigantes das profundezas. Muito útil seria esse berrante, para puxar para baixo os tyroshi e outras criaturas incô¬modas. Mas posso soprar esse berrante? Não, porque o rei fez de meu velho amigo sua Mão. - Deu o braço a Davos e disse: - Os homens da rainha não simpatizam com você, velho amigo. Estou ouvindo dizer que uma certa Mão tem andado fazendo seus próprios amigos. Isso é verdade, não?
    Ouve coisas demais, velho pirata. E bom que um contrabandista conheça tão bem os homens como as marés, caso contrário não sobreviverá muito tempo contrabandean¬do. Os homens da rainha podiam continuar sendo fervorosos seguidores do Senhor da Luz, mas o povo de Pedra do Dragão estava voltando aos deuses que tinha conhecido a vida inteira. Diziam que Stannis estava enfeitiçado, que Melisandre o afastara dos Sete para se curvar perante um demônio qualquer feito de sombras, e que... o pior de todos os pecados... ela e seu deus lhe tinham falhado. E havia cavaleiros e fidalgos que tinham os mesmos sentimentos. Davos tinha ido atrás deles, escolhendo-os com o mesmo cuidado como antes escolhia as suas tripulações. Sor Gerald Gower tinha lu¬tado intrepidamente na Água Negra, mas depois foi ouvido dizendo que R'hllor devia ser um deus fraco, se permitia que seus seguidores fossem escorraçados por um anão e um morto. Sor Andrew Estermont era primo do rei e tinha servido como seu escudei¬ro anos antes. O Bastardo de Nocticantiga comandou a retaguarda que permitiu que Stannis chegasse à segurança das galés de Salladhor Saan, mas adorava o Guerreiro com uma fé tão feroz quanto ele mesmo. Homens do rei, não homens da rainha. Mas não seria boa idéia gabar-se deles.
    - Um certo pirata liseno disse-me uma vez que um bom contrabandista fica longe da vista - respondeu cuidadosamente Davos. - Velas negras, remos abafados e uma tripula¬ção que saiba controlar a língua.
    O liseno riu.
    - Uma tripulação sem língua é ainda melhor. Mudos grandes e fortes que não saibam ler nem escrever. - Mas depois tornou-se mais sombrio. - Mas agrada-me saber que alguém vigia sua retaguarda, velho amigo. Acha que o rei vai dar o garoto à sacerdotisa vermelha? Um pequeno dragão poderia acabar com esta grande guerra.
    O hábito antigo fez Davos levar a mão à sua sorte, mas os ossos dos dedos já não esta¬vam pendurados em seu pescoço, e nada encontrou.
    - Ele não fará isso - disse Davos. - Não poderia fazer mal ao seu próprio sangue.
    - Lorde Renly ficará feliz por saber disso.
    - Renly era um traidor em armas. Edric Storm é inocente de qualquer crime. Sua Graça é um homem justo.
    Salla encolheu os ombros.
    - Veremos. Ou você verá. Quanto a mim, volto ao mar. Neste mesmo instante, pode haver contrabandistas vis velejando pela Baía da Água Negra, esperando evitar o paga¬mento das obrigações legais para com o seu senhor. - Deu uma palmada nas costas de Davos. - Cuide-se. Você e seus amigos mudos. Tornou-se muito grande, mas quanto mais alto um homem sobe, maior é a queda.
    Davos refletiu sobre aquelas palavras enquanto subia os degraus da Torre do Dragão Marinho que levavam aos aposentos do meistre, sob a colônia dos corvos. Não precisa¬va que Salla lhe dissesse que subira alto demais. Não sei ler, não sei escrever, os lordes me desprezam, nada sei de governar, como posso ser Mão do Rei? Meu lugar é no convés de um navio, não em uma torre de castelo.
    Tinha dito isso mesmo ao Meistre Pylos.
    - E um capitão notável - respondeu o meistre. - Um capitão governa o seu navio, não é verdade? Tem de navegar por águas traiçoeiras, içar as velas para apanhar o vento que se levanta, saber quando uma tempestade se aproxima e a melhor forma de ultrapassá-la. Isso é muito semelhante.
    Pylos pretendera ser amável, mas a sua confiança soava vazia.
    - Não é, nem de longe, a mesma coisa! - protestou Davos. - Um reino não é um na¬vio... e ainda bem, caso contrário este reino estaria afundando. Eu conheço de madeira, cordas e água, sim, mas como isso me será útil agora? Onde vou encontrar o vento que empurrará Rei Stannis até seu trono?
    O meistre riu daquilo,
    - E aí está, senhor. As palavras são vento, entende? E soprou as minhas para longe com o seu bom-senso. Sua Graça sabe o que tem em você, acho.
    - Cebolas - disse Davos em tom sombrio. - É isso que ele tem em mim. A Mão do Rei devia ser um senhor bem-nascido, alguém sábio e instruído, um comandante de ba¬talha ou um grande cavaleiro...
    - Sor Ryam Redwyne foi o maior cavaleiro de seu tempo e um dos piores Mãos que já serviu um rei. As preces do Septão Murmison faziam milagres, mas como Mão rapida¬mente conseguiu pôr o reino em peso a rezar por sua morte. Lorde Butterwell era famoso pela inteligência, Myles Smallwood pela coragem, Sor Otto Hightower pela instrução, e no entanto falharam como Mãos,
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 2:02 pm

    todos eles. Quanto ao nascimento, era freqüente os reis do dragão escolherem Mãos de seu próprio sangue, com resultados tão variados quanto Baelor Lança-Quebrada e Baelor, o Cruel. Em contraponto a isso, há o Septão Barth, o filho de ferreiro que o Velho Rei arrancou da biblioteca da Fortaleza Vermelha, que deu ao reino quarenta anos de paz e abundância. - Pylos sorriu. - Leia a história, Lorde Da¬vos, e verá que as suas dúvidas são infundadas.
    - Como poderei ler história, se não sou capaz de ler?
    - Qualquer homem é capaz de ler, senhor - disse Meistre Pylos. - Não é necessário ter nem magia nem elevado nascimento. Eu estou ensinando a arte ao seu filho, por or¬dem do rei. Deixe que lhe ensine também.
    Era uma oferta amável, que Davos não podia recusar. E assim, todos os dias se dirigia aos aposentos do meistre, no topo da Torre do Dragão Marinho, para franzir a testa pe¬rante rolos, pergaminhos e grandes volumes em couro e tentar desvendar mais algumas palavras. O esforço dava-lhe freqüentes dores de cabeça, e além disso fazia-o sentir-se um idiota tão grande quanto o Cara-Malhada. O filho Devan ainda não tinha doze anos, e no entanto estava bem à frente do pai, e para a Princesa Shireen e Edric Storm a leitura parecia tão natural quanto a respiração. No que tocava aos livros, Davos era mais criança do que qualquer um deles. Mas persistiu. Era agora Mão do Rei, e uma Mão do Rei devia ler.
    Os degraus estreitos e sinuosos da Torre do Dragão Marinho passaram a ser uma dolorosa provação para o Meistre Cressen depois de quebrar a bacia. Davos ainda dava por si sentindo falta do velho. Pensava que Stannis devia partilhar esse sentimento. Pylos parecia esperto, diligente e bem-intencionado, mas era muito jovem, e o rei não se apoia¬va nele como se apoiara em Cressen. O velho tinha acompanhado Stannis durante tanto tempo... Até que entrou em colisão com Melisandre, e morreu por isso.
    No topo dos degraus, Davos ouviu um tênue tinir de guizos que só podia anunciar o Cara-Malhada. O bobo da princesa estava à espera dela junto à porta do meistre, como um cão fiel. Mole como massa de pão e de ombros caídos, tinha uma face larga, tatuada com um padrão de quadrados vermelhos e verdes. Cara-Malhada usava um elmo feito de um par de chifres de veado presos a um balde de estanho. Uma dúzia de guizos pendia dos galhos e tilintava quando ele se movia... o que era o mesmo que dizer constantemen¬te, pois o bobo raramente parava quieto. Tinia e retinia para onde quer que fosse; pouco admirava que Pylos o tivesse exilado das aulas de Shireen.
    - Debaixo do mar, o peixe velho come o peixe novo - murmurou o bobo a Davos. Balançou a cabeça e seus guizos tiniram, tilintaram e cantaram. - Eu sei, eu sei, ei, ei, ei.
    - Aqui em cima os peixes novos ensinam os peixes velhos - disse Davos, que nunca se sentia tão antigo como quando se sentava para tentar ler. Podia ser diferente se tivesse sido o idoso Meistre Cressen a ensiná-lo, mas Pylos era novo o suficiente para ser seu filho.
    Foi encontrar o meistre sentado à sua longa mesa de madeira coberta com livros e per¬gaminhos, diante de três crianças. A Princesa Shireen sentava-se entre os dois garotos. Até agora, Davos conseguia obter grande prazer de ver seu próprio sangue na companhia de uma princesa e de um bastardo real. Devan será agora um senhor, e não apenas um cavaleiro. O Senhor da Mata de Chuva. Davos sentia mais orgulho nisso do que em ostentar o título. E também sabe ler: Sabe ler e escrever, como se tivesse nascido para isso. Pylos nada tinha a di¬zer sobre a sua diligência, exceto elogios, e o mestre de armas dizia que Devan também se mostrava promissor com a espada e a lança. E é também um garoto devoto.
    - Meus irmãos ascenderam ao Salão da Luz, para ocupar seus lugares junto do Se¬nhor - tinha dito Devan quando o pai lhe contou como os quatro irmãos mais velhos tinham morrido. - Rezarei por eles nas fogueiras noturnas e por você também, pai, para que possa caminhar à Luz do Senhor até o fim dos seus dias. - Um bom dia para o se¬nhor, pai - saudou-o o garoto.
    Ele é tão parecido com Dale na sua idade, pensou Davos. Era certo que o filho mais velho nunca havia se vestido tão bem como Devan, com os seus trajes de escudeiro, mas partilhavam o mesmo rosto quadrado e simples, os mesmos olhos castanhos e francos, o mesmo cabelo fino, castanho e solto. As bochechas e o queixo de Devan estavam salpica¬dos de pelos louros, uma penugem que teria envergonhado um pêssego respeitável, em¬bora o rapaz se orgulhasse ferozmente de sua "barba". Tal como Dale se orgulhou da dele, antes. Devan era a mais velha das três crianças que se encontravam à mesa.
    Mas Edric Storm era três centímetros mais alto e mais largo de peito e ombros. Nisso era filho de seu pai; e também nunca perdia uma manhã de trabalho com a espada e o escudo. Aqueles que eram suficientemente velhos para terem conhecido Robert e Renly quando crianças diziam que o bastardo se assemelhava mais a eles do que Stannis jamais se assemelhou; os cabelos negros de carvão, os profundos olhos azuis, a boca, o queixo, os malares. Só as orelhas faziam lembrar que a mãe tinha sido uma Florent.
    - Sim, bom dia, senhor - ecoou Edric. O garoto podia ser feroz e orgulhoso, mas os meistres, castelões e mestres de armas que o tinham educado o instruíram bem no que dizia respeito à cortesia. - Vem de junto de meu tio? Como passa Sua Graça?
    - Bem - mentiu Davos. Para falar a verdade, o rei tinha um ar fatigado, assombrado, mas Davos não viu nenhum motivo para sobrecarregar o garoto com os seus receios. - Espero que não tenha perturbado as suas lições.
    - Acabamos de terminar, senhor - disse o Meistre Pylos.
    - Estávamos lendo a respeito do Rei Daeron Primeiro. - A Princesa Shireen era uma criança triste, doce e gentil, longe de ser bonita. Stannis dera-lhe o maxilar quadrado e Selyse, as orelhas Florent, e os deuses, em sua cruel sabedoria, tinham achado por bem aumentar a sua falta de graça afligindo-a de escamagris no berço. A doença deixara-lhe um lado do rosto e metade do
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 2:02 pm

    pescoço cinzento, rachado e duro, embora tanto sua vida quanto sua visão tivessem sido poupadas. - Partiu para a guerra e conquistou Dorne. Chamavam-no de Jovem Dragão.
    - Ele adorava falsos deuses - disse Devan mas, fora isso, era um grande rei, e mui¬to corajoso em batalha.
    -Se era - concordou Edric Storm mas o meu pai era mais. O Jovem Dragão nunca venceu três batalhas num só dia.
    A princesa olhou-o de olhos esbugalhados.
    - O tio Robert venceu três batalhas num só dia?
    O bastardo confirmou com a cabeça.
    - Foi logo depois de retornar para casa, para convocar os vassalos. Os Lordes Grandi- son, Cafferen e Fell planejaram juntar forças em Solarestival e marchar sobre Ponta Tem¬pestade, mas ele soube dos planos deles através de um informante e avançou imediatamente com todos os seus cavaleiros e escudeiros. Quando os conspiradores chegaram a Solares¬tival, um de cada vez, derrotou-os um por um antes de conseguirem juntar forças com os outros. Matou Lorde Fell em combate singular e capturou seu filho, o Machado de Prata.
    Devan olhou para Pylos.
    - Foi assim que as coisas se passaram?
    - Foi o que eu disse, não foi? - disse Edric Storm.antes de o meistre ter tempo de responder. - Esmagou os três, e lutou com tanta bravura que Lorde Grandison e Lorde Cafferen se tornaram seus homens, e o Machado de Prata também. Nunca ninguém ven¬ceu meu pai.
    - Edric, não devia se vangloriar - disse Meistre Pylos. - O Rei Robert sofreu derro¬tas, como qualquer outro homem. Lorde Tyrell venceu-o em Vaufreixo, e Robert tam¬bém perdeu muitas justas em torneios.
    - Mas ganhou mais do que perdeu. E matou o Príncipe Rhaegar no Tridente.
    - Isso é verdade - concordou o meistre, - Mas agora tenho de dar a minha atenção ao Lorde Davos, que espera com tanta paciência. Amanhã leremos mais da Conquista de Dorne do Rei Daeron,
    A Princesa Shireen e os garotos despediram-se com cortesia. Depois de se retirarem, Meistre Pylos aproximou-se de Davos.
    - Senhor, talvez quisesse experimentar um pouco da Conquista de Dorne também? - empurrou o estreito livro encadernado em couro para a sua frente. - O Rei Daeron es¬crevia com uma simplicidade elegante, e sua história é rica em sangue, batalhas e bravura. Seu filho está bastante cativado.
    - Meu filho ainda não tem nem doze anos. Eu sou a Mão do Rei. Dê-me outra carta, por favor.
    - As suas ordens, senhor. - Meistre Pylos esquadrinhou a mesa, desenrolando e de¬pois colocando de lado vários recortes de pergaminho. - Não há cartas novas. Talvez uma antiga...
    Davos gostava tanto de uma boa história quanto qualquer homem, mas achava que Stannis não o tinha nomeado Mão para se divertir. Seu primeiro dever era ajudar o rei a governar, e para isso tinha de compreender as palavras que os corvos traziam. Des¬cobrira que a melhor forma de aprender algo era fazendo; velas ou pergaminhos, não fazia diferença.
    - Isto pode servir para o que queremos. - Pylos passou uma carta para a sua mão.
    Davos esticou o pequeno quadrado de pergaminho enrugado e semicerrou os olhos
    para as letras, minúsculas e difíceis de decifrar. Ler era pesado para os olhos, pelo menos isso aprendera depressa. Às vezes se perguntava se a Cidadela ofereceria uma bolsa de campeão ao meistre que escrevesse numa letra menor. Pylos riu da idéia, mas...
    - Aos... cinco reis - leu Davos, com uma breve hesitação em cinco, palavra que não via freqüentemente escrita por extenso. - O rei... pa... o rei... para cá?
    - Para lá - corrigiu o meistre.
    Davos fez uma careta.
    - O Rei-para-lá-da-Muralha vem... vem para o sul Lidera uma... uma... basta...
    - Vasta,
    - ... uma vasta tropa de sei... selv... selvagens. Lorde M„. Mmmor... Mormont enviou um... corvo da... fio.., flo„.
    - Floresta. A floresta assombrada. - Pylos sublinhou as palavras com a ponta do dedo.
    - ... a floresta assombrada. Está... sob a... ataque?
    - Sim.
    Satisfeito, continuou a abrir caminho através da mensagem.
    - Out... outras aves chegaram depois, sem notícias. Nós... tememos... que Mormont tenha sido morto com toda... com todas as suas... forcas... não, forças. Nós tememos que Mormont tenha sido morto com todas as suas forças... - De repente, Davos compreen¬deu o que estava lendo. Virou a carta e viu que a cera que a selara era negra. - Isto vem da Patrulha da Noite. Meistre, o Rei Stannis viu esta carta?
    - Eu levei-a ao Lorde Alester quando ela chegou. Naquela época era ele a Mão. Creio que a discutiu com a rainha. Quando lhe perguntei se desejava enviar uma resposta, disse-me para não ser tolo."Sua Graça não tem homens suficientes para travar suas pró¬prias batalhas, também não os tem para desperdiçar em selvagens", disse-me.
    Aquilo era bem verdade. E essa conversa de cinco reis teria sem dúvida enfurecido Stannis.
    - Só um homem esfomeado suplica pão a um pedinte - murmurou.
    - Perdão, senhor?
    - Uma coisa que a minha mulher disse um dia. - Davos tamborílou no tampo da mesa com os seus dedos encurtados.
    A primeira vez em que viu a Muralha era mais novo do que Devan e servia a bordo do Gato da Calçada às ordens de Roro Uhoris, um tyroshi conhecido de cima a baixo do mar estreito como
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 2:03 pm

    Bastardo Cego, embora nem fosse cego nem filho ilegítimo. Roro tinha passado por Skagos e entrado no Mar Tremente, visitando uma centena de pe¬quenas angras que nunca antes tinham visto um navio mercante. Trouxe aço; espadas, machados, elmos, boas camisas de cota de malha, para trocar por peles, marfim, âmbar e obsidiana. Quando o Gato da Calçada voltou para o sul, trazia os porões repletos, mas na Baía das Focas surgiram três galés negras e pastorearam-no até Atalaialeste. Perderam a carga e o Bastardo perdeu a cabeça, pelo crime de vender armas aos selvagens.
    Davos tinha comerciado em Atalaialeste nos seus dias de contrabandista. Os irmãos negros eram inimigos duros, mas bons clientes, para um navio com o tipo certo de carga. Mas apesar de ter aceitado o seu dinheiro, nunca esqueceu o modo como a cabeça do Bastardo Cego tinha rolado pelo convés do Gato da Calçada.
    - Conheci alguns selvagens quando era garoto - disse ao Meistre Pylos. - Eram la¬drões razoáveis, mas ruins na pechincha. Um deles desapareceu com a nossa garota de cabine. Tudo somado, pareceram-me homens como os outros, uns bons, outros maus.
    - Homens são homens - concordou Meistre Pylos. - Voltamos à leitura, senhor
    Mão?
    Som a Mão do Rei, certo. Stannis podia ser o Rei de Westeros no nome, mas na rea¬lidade era o Rei da Mesa Pintada. Controlava Pedra do Dragão e Ponta Tempestade e tinha uma aliança cada vez mais incômoda com Salladhor Saan, mas era só. Como podia a Patrulha ter voltado os olhos para ele em busca de ajuda? Podem não saber como ele é fraco, como a sua causa está perdida.
    - O Rei Stannis nunca viu esta carta, tem certeza absoluta? E Melisandre também não?
    - Não. Deveria levá-la? Tão tarde?
    - Não - disse Davos de imediato. - Cumpriu o seu dever quando a levou ao Lorde Alester. - Se Melisandre soubesse desta carta... O que foi que ela disse? Aquele cujo nome não pode ser proferido está reunindo o seu poder, Davos Seaworth. Em breve chegará o frio, e a noite que nunca termina... E Stannis teve uma visão nas chamas, um anel de archotes na neve, rodeados de terror.
    - Senhor, está se sentindo mal? - perguntou Pylos.
    Estou assustado, meistre, Davos podia ter respondido. Recordava-se de uma história que Salladhor Saan tinha lhe contado, sobre o modo como Azor Ahai temperara a Lu- minífera mergulhando-a no coração da mulher que amava. Ele matou a mulher para com¬bater a escuridão. Se Stannis for Azor Ahai regressado, será que isso quer dizer que Edric Storm tem de desempenhar o papel de Nissa Nissa?
    - Estava pensando, meistre. As minhas desculpas. - Onde está o mal em um rei sel¬vagem qualquer conquistar o Norte? Afinal, Stannis sequer controlava o Norte. Sua Graça dificilmente podia ser acusada de não proteger pessoas que se recusavam a reconhecê-lo como rei. - Dê-me outra carta - disse abruptamente. - Esta é muito...
    - ... difícil? - sugeriu Pylos.
    Em breve chegará o frio, sussurrara Melisandre, e a noite que nunca termina.
    - Perturbadora - disse Davos. - Muito... perturbadora. Outra carta, por favor.
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 2:04 pm

    Jon 637



    Q
    uando acordaram, viram a fumaça em Vila Toupeira, o lugar estava em chamas.
    No topo da Torre do Rei, Jon Snow apoiou-se na muleta almofadada que Meis- tre Aemon lhe dera e observou a nuvem cinzenta subindo. Styr tinha perdido toda a esperança de pegar Castelo Negro desprevenido quando Jon escapou, mesmo assim não teria sido necessário avisar tão claramente que estava chegando. Pode nos matar, refletiu, mas ninguém será massacrado na sua cama. Pelo menos isso consegui
    Sua perna ainda doía como brasas quando se apoiava nela. Naquela manhã precisou que Clydas o ajudasse a vestir a roupa negra recém-lavada e a amarrar as botas, e, quando terminaram, desejou se afogar em leite de papoula. Em vez disso, contentou-se com meia taça de vinho dos sonhos, um pouco de casca de salgueiro para mascar e a muleta. O fa¬rol ardia no Espinhaço do Tempo, e a Patrulha da Noite necessitava de todos os homens.
    - Posso lutar - tinha insistido quando tentaram impedi-lo.
    - Sua perna está curada, é? - Noye fungou. - Então não vai se importar que lhe dê um pontapezinho?
    - Preferia que não o fizesse. Está dura, mas posso coxear por aí suficientemente bem, e ficar em pé lutando, se precisar de mim.
    - Preciso de todos os homens que saibam qual das extremidades de uma lança se espeta nos selvagens.
    - A pontiaguda. - Jon recordou que um dia tinha dito à irmã mais nova qualquer coisa parecida.
    Noye esfregou os pelos que tinha no queixo.
    - Pode ser que sirva. Colocamos você numa torre com um arco, mas se cair é melhor que não venha choramingar para mim.
    Via a estrada do rei abrindo seu caminho sinuoso para o sul, através de campos mar¬rons pedregosos e por cima de colinas varridas pelo vento. O Magnar chegaria por aquela estrada antes de terminar o dia, com os seus Thenns marchando atrás dele com macha¬dos e lanças nas mãos, e seus escudos de bronze e couro nas costas. Grigg, o Bode, Quort, o Grande Furúnculo e os outros virão também. E Ygritte. Os selvagens nunca tinham sido seus amigos, ele não permitiu que fossem seus amigos, mas ela...
    Sentia a dor latejar no local onde a flecha de Ygritte tinha atravessado carne e múscu¬lo de sua coxa. Lembrava-se também dos olhos do velho e do sangue negro correndo de sua garganta enquanto a tempestade rebentava no céu. Mas lembrava-se melhor da gru-
    ta, de como Ygritte era, nua, à luz do archote, do sabor de sua boca quando a abria sob a dele. Ygritte, fique longe. Vá para o sul e pilhe, vá se esconder numa dessas torres redondas de que tanto gostou. Aqui não encontrará nada a não ser a morte,
    Do outro lado do pátio, um dos arqueiros no telhado das velhas Casernas de Sílex tinha desatado os calções e estava urinando por uma ameia. Mully. Jon reconheceu-o pe¬los cabelos oleosos e alaranjados. Viam-se também homens com manto negro em outros telhados e topos de torres, embora nove em dez fossem na verdade feitos de palha. Donal Noye chamava de "as sentinelas-espantalho". Só que os corvos somos nós, refletiu Jon, e já estamos quase todos hem espantados.
    Fosse qual fosse o nome que lhes era dado, os soldados de palha tinham sido idéia de Meistre Aemon. A Patrulha possuía, nos armazéns, mais calções, gibões e túnicas do que homens para enchê-los, sendo assim, por que não rechear algumas dessas roupas com palha, envolver seus ombros com manto e colocá-los em todas as torres e em metade das janelas? Alguns dos espantalhos até seguravam lanças, ou tinham bestas enfiadas debaixo do braço. A esperança era que os Thenns os vissem de longe e decidissem que Castelo Negro se encontrava bem defendido demais para ser atacado.
    Jon dividia o topo da Torre do Rei com seis espantalhos, além de dois irmãos de ver¬dade, dos que respiravam. Dick Surdo Follard estava sentado numa ameia, limpando e oleando metodicamente o mecanismo de sua besta, assegurando-se de que a roda gira¬va suavemente, enquanto o rapaz de Vilavelha vagueava impacientemente ao longo dos parapeitos, remexendo a roupa dos homens de palha. Ele talvez pense que lutarão melhor se estiverem na posição certa. Ou talvez a espera esteja mexendo com seus nervos, como está mexendo com os meus.
    O rapaz dizia ter dezoito anos, mais do que Jon tinha, mas apesar disso era verde como a grama do verão. Chamavam-no de Cetim, mesmo vestido com a lã, a cota de malha e o couro fervido da Patrulha da Noite; era o nome que obtivera no bordel onde nascera e fora criado. Era bonito como uma menina, com olhos escuros, pele macia e caracóis negros como um corvo. Mas meio ano em Castelo Negro endurecera suas mãos, e Noye dizia que não era ruim com uma besta. Agora, se tinha ou não coragem para en¬frentar o que vinha por aí...
    Jon usou a muleta para atravessar o topo da torre coxeando. A Torre do Rei não era a mais alta do castelo; a Lança, alta, esguia e arruinada, detinha esse título, embora Othell Yarwyck tivesse declarado que poderia desabar a qualquer momento. A Torre do Rei tampouco era a mais forte das torres: a Torre dos Guardas, junto à estrada do rei, seria uma noz mais dura de quebrar. Mas era suficientemente alta, suficientemente forte, e bem colocada ao lado da Muralha, dominando o portão e a base da escada de madeira.
    Na primeira vez que viu Castelo Negro com os próprios olhos, Jon perguntou a si mesmo por que alguém seria tão tolo a ponto de construir um castelo sem muralhas. Como poderia ser defendido?
    - Não pode - tinha lhe dito o tio. - É exatamente essa a idéia. A Patrulha da Noite jura não participar nas disputas do reino. Mas, ao longo dos séculos, certos Senhores Comandantes, mais orgulhosos do que sensatos, esqueceram os votos e quase nos des¬truíram com suas ambições. O Senhor Comandante Runcel Hightower tentou deixar a patrulha como herança ao seu filho bastardo. O Senhor Comandante Rodrik Flint decidiu fazer de si mesmo Rei-para-lá-da-Muralha. Tristan Mudd, o Louco Marq
    Rankenfell, Robin Hill... sabia que há seiscentos anos os comandantes do Portão da Neve e de Fortenoite partiram para a guerra um contra o outro? E que quando o Senhor Comandante tentou impedi-los, juntaram forças para assassiná-lo? O Stark de Win¬terfell teve de dar uma mão... e cortar a cabeça deles. Coisa que fez com facilidade, por¬que os fortes deles não eram defensáveis. A Patrulha da Noite teve novecentos e noventa e seis Senhores Comandantes antes de Jeor Mormont, e em sua maioria foram homens de coragem e honra... mas também tivemos covardes e idiotas, os nossos tiranos e os nossos loucos. Sobrevivemos porque os senhores e reis dos Sete Reinos sabem que não constituímos ameaça para eles, independente de quem nos lidere. Os nossos únicos inimigos estão ao norte, e ao norte temos a Muralha.
    Mas agora esses inimigos passaram pela Muralha e chegam do sul, refletiu Jon, e 05 senho¬res e reis dos Sete Reinos esqueceram-nos. Estamos encurralados entre o martelo e a bigorna. Sem uma muralha, Castelo Negro não podia ser mantido; Donal Noye sabia disso tão bem quanto todos os outros.
    - O castelo não lhes serve para nada - tinha dito o armeiro à sua pequena guarnição. - Cozinhas, sala comum, estábulos, até as torres... que capturem tudo. Vamos esvaziar o arsenal, deslocar todos os abastecimentos que pudermos para o topo da Muralha e resis¬tir em volta do portão.
    E assim, Castelo Negro tinha finalmente uma espécie de muralha, uma barricada em forma de crescente, com três metros de altura, feita de material armazenado; barris de pregos e de carneiro salgado, caixotes, fardos de pano preto, troncos empilhados, tábuas, estacas endurecidas pelo fogo e sacos e mais sacos de cereais. O baluarte improvisado rodeava as duas coisas que mais valiam a pena defender: o portão para o norte e a base da grande escada de madeira em zigue-zague que arranhava e escalava a face da Muralha como um relâmpago bêbado, sustentada por traves de madeira grandes como troncos de árvore, profundamente enterradas no gelo.
    Jon viu que o último punhado de toupeiras ainda fazia a longa subida, incentivado pelos irmãos. Grenn levava um garotinho nos braços, enquanto Pyp, dois lances abaixo, deixava que um velho se apoiasse em seu ombro. Na base da escada, os aldeões mais velhos esperavam que a gaiola acabasse de fazer o caminho de volta desde o topo da Muralha. Pousou os olhos numa mãe que puxava duas crianças, uma em cada mão, no momento em que um rapaz mais velho passava por eles, correndo pelos degraus. Sessen¬ta metros mais acima, Su Azul-Celeste e a Senhora Meliana (que todos os amigos eram unânimes em dizer que não era senhora coisa nenhuma) estavam paradas num patamar, olhando para o sul. Tinham uma vista da fumaça melhor do que a dele, sem
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 2:04 pm

    dúvida. Jon perguntou a si mesmo o que acontecera aos aldeões que tinham decidido não fugir. Ha¬via sempre alguns teimosos, estúpidos ou corajosos demais para se refugiarem, alguns que preferiam lutar, esconder-se ou render-se. Os Thenns talvez os poupassem.
    O que devíamos ter feito era levar o ataque até eles, pensou. Com cinqüenta patrulheiros bem montados, podíamos desbaratá-los na estrada. Mas não tinham cinqüenta patrulhei¬ros, nem metade dos cavalos necessários. A guarnição não tinha retornado, e não havia como saber onde estava, ou mesmo se os correios que Noye enviara a tinham alcançado.
    A guarnição somos nós, disse Jon a si mesmo, e olhe para nós. Os irmãos que Bowen Marsh deixou para trás eram velhos, aleijados e rapazes ainda verdes, tal como Donal Noye tinha avisado. Via alguns carregando barris pelos degraus acima, e outros na bar¬ricada; o velho e robusto Barricas, tão lento como sempre, o Bota Extra, saltitando vi¬vamente sobre a sua perna de madeira esculpida, o meio louco do Calma, que se achava Florian, o Bobo, renascido, o Dilly Dornês, o Alyn Vermelho da Mata de Rosas, o Jovem Henly (bem para lá dos cinqüenta anos), o Velho Henly (bem para lá dos setenta), o Hal Peludo, o Pate Malhado da Lagoa da Donzela, Alguns deles viram Jon olhando do topo da Torre do Rei e acenaram para ele. Outros afastaram o olhar. Ainda me julgam um vira-casaca. Isso era desagradável, mas Jon não podia censurá-los. Afinal, ele era um bastardo. Todos sabiam que os bastardos eram desonestos e traiçoeiros por natureza, por terem nascido da luxúria e do engano. E ele tinha feito tantos inimigos como amigos em Castelo Negro... Rast, para começar. Jon certa vez ameaçou ordenar a Fantasma para rasgar sua goela se não parasse de atormentar Samwell Tarly, e Rast não se esquecia de coisas desse tipo. Naquele momento, empilhava folhas secas sob as escadas, mas de vez em quando parava tempo suficiente para dirigir a Jon um olhar maldoso.
    - Não - rugiu Donal Noye para três dos homens de Vila Toupeira, lá embaixo, - O piche vai para o guincho, o azeite para as escadas, dardos para bestas para o quarto, o quinto e o sexto patamares, lanças para o primeiro e o segundo. Enfiem a banha de porco debaixo das escadas, sim, aí, entre as tábuas. Os barris de carne são para a barricada. Já, seus empurradores de arado piolhentos, JÁ!
    Ele tem uma voz de senhor, pensou Jon. O pai sempre dizia que em batalha os pulmões de um comandante eram tão importantes quanto o braço com que empunhava a espada. "Se as suas ordens não puderem ser ouvidas, não importa quão corajoso ou brilhante um homem seja", dizia Lorde Eddard aos filhos, e por isso Robb e Jon costumavam su¬bir às torres de Winterfell para gritar um ao outro por cima do pátio. Donal Noye teria abafado a ambos. Os toupeiras andavam todos aterrorizados por ele, e com razão, pois o homem ficava o tempo todo ameaçando arrancar suas cabeças.
    Três quartos da aldeia tinham levado a sério o aviso de Jon e vindo para Castelo Ne¬gro em busca de refugio. Noye decretara que qualquer homem suficientemente vivo para pegar numa lança ou brandir um machado ajudaria a defender a barricada, caso con¬trário podiam perfeitamente voltar para casa e correr seus riscos com os Thenns. Tinha esvaziado o arsenal para pôr bom aço em suas mãos, grandes machados de lâmina dupla, punhais afiados como navalhas, espadas longas, clavas, maças de guerra com espigões. Vestidos com gibões de couro tachonado e pequenas camisas de cota de malha, com gre- vas nas pernas e gorjais para manter as cabeças sobre os ombros, alguns até pareciam soldados. Com pouca luz. Caso se olhe de viés.
    Noye também tinha colocado mulheres e crianças para trabalhar. Aqueles que eram novos demais para lutar transportariam água e cuidariam das fogueiras, a parteira de Vila Toupeira ajudaria Clydas e Meistre Aemon com os feridos e o Hobb Três-Dedos de repente tinha tantos assadores, mexedores de panelas e cortadores de cebolas que não sabia o que fazer com eles. Duas das prostitutas tinham se oferecido para lutar e mos¬traram habilidade suficiente com a besta para lhes ser atribuído um lugar nos degraus a doze metros de altura.
    - Está frio. - Cetim tinha enfiado as mãos nas axilas por baixo do manto. Suas bo¬chechas estavam fortemente vermelhas.
    Jon obrigou-se a sorrir.
    - Nas Presas de Gelo está frio. Isto é um dia fresco de outono.
    - Nesse caso, espero nunca ver as Presas de Gelo. Conheci uma garota em Vilavelha que gostava de gelar o vinho, Esse é o melhor lugar para o gelo, acho. No vinho. - Cetim deu um olhar de relance para o sul e franziu a testa. - Acha que as sentinelas-espantalho os assustaram, senhor?
    - Podemos ter essa esperança. - Jon supunha que era possível... mas o mais certo era que os selvagens tivessem simplesmente feito uma pausa para se dedicarem a um pouco de estupro e saque em Vila Toupeira, Ou talvez Styr estivesse à espera do cair da noite, para se aproximar com a cobertura da escuridão.
    O meio-dia chegou e partiu, ainda sem sinal de Thenns na estrada do rei. Mas Jon ouviu passos dentro da torre, e Owen Idiota saltou do alçapão, vermelho da subida. Tra¬zia um cesto de bolos de leite com passas debaixo de um braço, uma rodela de queijo debaixo do outro, um saco de cebolas pendurado em uma mão.
    - O Hobb disse para lhes dar de comer, para o caso de ficarem presos aqui algum tempo.
    Ou isso, ou para a nossa última refeição.
    - Agradeça ao Hobb por nós, Owen,
    Dick Follard era surdo como uma pedra, mas o nariz funcionava bastante bem. Os bolos de leite ainda estavam quentes do forno quando ele enfiou a mão no cesto e tirou um. Encontrou também um pote de manteiga e, com o punhal, espalhou um pouco no bolo.
    - Passas - anunciou em tom feliz. - E também frutas secas. - Tinha uma pronúncia carregada, mas era bastante fácil compreendê-lo depois de se habituar a ela.
    - Pode ficar com os meus - disse Cetim. - Não tenho fome.
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 2:04 pm

    - Coma - disse-lhe Jon. - Não sabemos quando haverá outra oportunidade. - Es¬colheu dois bolos para si. As frutas secas eram pinhões e, além das passas, havia também pedaços de maçã.
    - Os selvagens vêm hoje, Lorde Snow? - perguntou Owen.
    - Se vierem, saberá - disse Jon, - Fique à escuta dos berrantes.
    - Dois, Dois é para os selvagens. - Owen era alto, de cabelos muito loiros e amigável, um trabalhador incansável, e surpreendentemente hábil quando se tratava de trabalhar a madeira, consertar catapultas e coisas do gênero. Mas, tal como ele alegremente afirma¬va, a mãe deixara-o cair de cabeça quando era bebê, e metade dos seus miolos tinham se derramado pela orelha.
    - Lembra-se para onde deve ir? - perguntou-lhe Jon.
    - Donal Noye diz que devo ir para as escadas. Devo subir até o terceiro patamar e disparar a besta contra os selvagens se tentarem escalar a barreira. O terceiro patamar, um, dois, três. - Sacudiu a cabeça para cima e para baixo. - Se os selvagens atacarem, o rei vem e nos ajuda, não é verdade? Ele é um grande guerreiro, o Rei Robert. Com certe¬za vem. Meistre Aemon enviou-lhe um pássaro,
    Não valia a pena contar-lhe que Robert Baratheon estava morto. Esqueceria disso mais uma vez.
    - Meistre Aemon enviou-lhe um pássaro - concordou Jon. Aquilo pareceu deixar Owen feliz.
    Meistre Aemon tinha enviado um monte de pássaros... não a um rei, mas a quatro. Selvagens ao portão, dizia a mensagem. O reino está em perigo. Envie toda a ajuda que puder para Castelo Negro. Os corvos voaram até lugares tão distantes como Vilavelha e a Cidadela, e para meia centena de castelos de senhores poderosos. Os senhores do norte constituíam a melhor esperança, por isso Aemon enviou duas aves a cada um deles. As aves negras levaram seu apelo aos Umber e aos Bolton, ao Castelo Cerwyn e à Praça de Torrhen, a Karhold e ao Bosque Profundo, à Ilha dos Ursos, a Castelovelho, à Atalaia da Viúva, a Porto Branco, à Vila Acidentada e aos Regatos, às fortalezas de montanha dos Liddle, dos Burley, dos Norrey, dos Harclay e dos Wull. Selvagens ao portão. O norte em perigo. Venha com todas as suas forças.
    Bem, os corvos podiam ter asas, mas lordes e reis não as tinham. Se a ajuda estava a caminho, não chegaria hoje.
    A medida que a manhã foi se transformando em tarde, a fumaça de Vila Toupeira foi soprada para longe e o céu ao sul ficou de novo limpo. Não há nuvens, pensou Jon. Isso era bom. A chuva ou a neve poderiam condená-los a todos.
    Clydas e Meistre Aemon subiram na gaiola do guincho até a segurança do topo da Muralha, e a maior parte das esposas de Vila Toupeira também. Homens com manto negro patrulhavam incansavelmente os topos das torres e gritavam uns aos outros por cima dos pátios. O Septão Cellador liderou os homens da barricada numa prece, supli¬cando ao Guerreiro que lhes desse forças. Dick Surdo Follard enrolou-se sob seu manto e adormeceu. Cetim percorreu uma centena de léguas aos círculos, ao redor das ameias. A Muralha chorou e o sol atravessou lentamente um céu de um azul intenso. Perto do cair da noite, Owen Idiota voltou com um pão preto e um balde do melhor carneiro de Hobb, cozido num espesso caldo de cerveja e cebolas. Até o Dick acordou para comer. E comeram até a última migalha, usando pedaços de pão para limpar o fundo do balde. Quando terminaram, o sol encontrava-se baixo a oeste, e as sombras estendiam-se, ne¬gras e bem definidas, por todo o castelo.
    - Acenda a fogueira - disse Jon ao Cetim - e encha a panela de azeite.
    Desceu ele próprio as escadas para trancar a porta e tentar afastar um pouco da ri¬gidez de sua perna. Foi um erro, e Jon compreendeu isso rapidamente, mas agarrou-se à muleta e avançou mesmo assim. A porta da Torre do Rei era de carvalho reforçado com ferro. Poderia atrasar os Thenns, mas não os impediria se quisessem entrar. Jon enfiou a tranca nos seus encaixes, fez uma visita à latrina - podia bem ser a sua última oportuni¬dade - e voltou mancando ao topo, fazendo caretas de dor.
    O ocidente tinha tomado a cor de um hematoma, mas o céu por cima de sua cabeça mostrava-se azul-cobalto, aprofimdando-se até o púrpura, e estrelas começavam a surgir. Jon sentou-se entre dois merlões, com apenas um espantalho de companhia, e observou o Garanhão galopar céu acima. Ou seria o Senhor Chifrudo? Perguntou-se onde estaria agora Fantasma. Também se interrogou sobre Ygritte, e disse a si mesmo que esse cami¬nho levava à loucura.
    Eles chegaram de noite, claro. Como ladrões, pensou Jon. Como assassinos.
    Cetim urinou-se quando os berrantes soaram, mas Jon fingiu não reparar.
    - Vá sacudir o Dick pelo ombro - disse ao rapaz de Vilavelha -, senão ele é capaz de passar a luta toda dormindo.
    - Estou assustado. - O rosto de Cetim estava pálido como a morte.
    - Eles também. - Jon encostou a muleta em um merlão e pegou o arco, vergando o liso e grosso teixo de Dorne para enfiar uma corda nos entalhes. - Não desperdice dardos, a menos que saiba que tem uma boa chance de acertar - disse quando Ce¬tim retornou depois de acordar Dick. - Temos um grande estoque aqui em cima, mas grande não significa inesgotável. E fique atrás de um merlão para recarregar, não tente se esconder atrás de um espantalho. Eles são feitos de palha, uma flecha vai atravessá¬mos. - Não se incomodou em dizer qualquer coisa a Dick Follard. Dick sabia ler os lábios se houvesse luz suficiente e tivesse algum interesse no que lhe estava sendo dito, mas já sabia tudo aquilo.
    Os três ocuparam posições em três lados da torre redonda, Jon pendurou uma aljava no cinto e puxou uma flecha. A haste era negra, as penas, cinzentas. Ao encaixá-la na corda, lembrou-se de uma coisa que Theon Greyjoy tinha dito certa vez após uma caça¬da, sorrindo daquele seu jeito habitual: "O javali pode ficar com as suas presas e o urso com as suas garras. Não há nada que seja nem de longe tão mortífero quanto uma pena cinzenta de ganso."
    Jon nunca fora nem metade do caçador que Theon era, mas tampouco era estranho ao arco. Havia silhuetas escuras deslizando em volta do arsenal, com as costas tocando a pedra, mas não as via suficientemente bem para desperdiçar uma flecha. Ouviu gri¬tos distantes, e viu os arqueiros na Torre dos Guardas disparando flechas contra o chão. Isso ficava longe demais para interessar a Jon. Mas quando vislumbrou três sombras se separando dos velhos estábulos, a cinqüenta metros de distância, aproximou-se da ameia, ergueu o arco e puxou. Os homens corriam, por isso seguiu-os, esperando, esperando...
    A flecha soltou um silvo suave quando abandonou a corda. Um momento depois ouviu-se um gemido, e de repente eram apenas duas as sombras que atravessavam o pátio trotando, Corriam o mais depressa que conseguiam, mas Jon já tinha tirado uma segun¬da flecha da aljava. Daquela vez apressou-se demais e errou. Os selvagens tinham desa¬parecido quando voltou a encaixar mais uma flecha. Procurou outro alvo e encontrou quatro, correndo em volta da casca vazia da Fortaleza do Senhor Comandante. O luar cintilou em seus machados e lanças e nos pavorosos símbolos que traziam nos escudos redondos de couro; crânios e ossos, serpentes, garras de ursos, retorcidas caras demonía¬cas. Povo livre, compreendeu. Os Thenns usavam escudos de couro negro fervido, com relevos e bordas de bronze, mas os deles eram simples e sem adornos. Aqueles eram os escudos mais leves, de vime, dos corsários.
    Jon puxou a pena de ganso até a orelha, apontou e soltou a flecha e depois encaixou, puxou e soltou de novo. A primeira flecha perfurou o escudo da garra de urso, a segunda, uma garganta. O selvagem gritou ao cair. Ouviu o profundo trum da besta do Dick Sur¬do à sua esquerda, e, um momento mais tarde, foi a do Cetim que soou.
    - Acertei um! - gritou o rapaz em voz rouca. - Acertei no peito de um.
    - Acerte outro - gritou Jon.
    Agora não tinha de procurar alvos; só precisava escolhê-los. Abateu um arqueiro sel¬vagem no momento em que o homem encaixava uma flecha na corda, e depois enviou uma flecha contra o corsário que atacava a porta da Torre de Hardin com um machado. Daquela vez errou, mas a flecha estremeceu no carvalho e fez o selvagem pensar duas ve¬zes. Foi só quando o homem fugiu que reconheceu o Grande Furúnculo. Meio segundo depois, o velho Mully disparou do telhado das Casernas de Sílex e espetou uma flecha na perna dele, e o homem afastou-se engatinhando, sangrando. Aquilo irá fazer com que deixe de choramingar por causa do furúnculo, pensou Jon.
    Quando a aljava se esvaziou, foi buscar outra, e instalou-se numa ameia diferente, lado a lado com Dick Surdo Follard. Jon soltava três flechas para cada dardo que Dick Surdo disparava, mas era essa a vantagem do arco. Havia quem insistisse que a besta pe¬netrava melhor, mas recarregá-la era um processo lento e incômodo. Ouvia os selvagens gritarem uns para os outros, e em algum lugar a oeste ouviu-se o sopro de um berrante de guerra. O mundo era feito de luar e sombras, e o tempo transformou-se num ciclo sem fim de encaixar, puxar e soltar. Uma flecha selvagem rasgou a garganta da sentinela de palha que estava ao seu lado, mas Jon Snow quase nem reparou. Dê-me uma mira limpa sobre o Magnar de Thenn, suplicou aos deuses do pai. Ao menos o Magnar era um adversário que era capaz de odiar. Dê-me Styr.
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 2:04 pm

    Os dedos estavam ficando rígidos e o polegar sangrava, mas Jon continuava a encaixar, puxar e soltar. Uma mancha de fogo chamou sua atenção e virou-se para ver a porta da sala comum em chamas. Passaram-se apenas alguns momentos até todo o grande edifí¬cio de madeira estar queimando, Sabia que Hobb Três-Dedos e seus ajudantes de Vila Toupeira estavam a salvo no topo da Muralha, mesmo assim sentiu como que um murro na barriga.
    - JON - berrou Dick Surdo em sua voz pesada -, o arsenal. - Viu que havia gente no telhado. Um dos homens levava um archote. Dick saltou para a ameia a fim de ganhar uma posição melhor para o tiro, encostou a besta no ombro e disparou um dardo, com um ruído surdo, contra o homem do archote. Falhou.
    Mas o arqueiro lá embaixo, não.
    Follard não soltou um som, limitou-se a tombar para a frente, de cabeça, por cima do parapeito. A queda até o pátio era de trinta metros. Jon ouviu o baque no momento em que espreitava de trás de um soldado de palha, tentando ver de onde a flecha teria vin¬do. A menos de três metros do corpo de Dick Surdo, vislumbrou um escudo de couro, um manto esfarrapado, um matagal de espessos cabelos ruivos. Beijada pelo fogo, pensou, sortuda. Levantou o arco, mas os dedos recusaram-se a abrir, e ela desapareceu tão su¬bitamente como aparecera. Girou sobre si mesmo, praguejando, e disparou uma flecha contra os homens que se encontravam no telhado do arsenal, mas também errou.
    A essa altura os estábulos orientais também já ardiam, com fumaça negra e nuvens de feno em chamas jorrando das cocheiras. Quando o telhado ruiu, labaredas subiram, rugindo tão alto que quase abafaram os berrantes de guerra dos Thenns. Cinqüenta deles surgiram em marcha pela estrada do rei, em coluna apertada, com os escudos erguidos por cima da cabeça. Outros aproximavam-se em grupos através da horta, através do pá¬tio das lajes, ao redor do velho poço seco. Três tinham atravessado à machadada as por¬tas dos aposentos de Meistre Aemon na fortaleza de madeira, sob a colônia dos corvos, e uma luta desesperada desenrolava-se no topo da Torre Silenciosa, com espadas opondo- -se a machados de bronze. Nada disso importava. A dança avançou, pensou.
    Jon atravessou mancando até junto de Cetim e agarrou-o pelo ombro.
    - Comigo - gritou. Juntos, dirigiram-se ao parapeito norte, onde a Torre do Rei dava para o portão e a muralha que Donal Noye tinha improvisado com vigas, barris e sacas de cereais.
    Os Thenns chegaram lá antes deles. Usavam meios elmos e tinham discos finos de bronze cosidos às suas longas camisas de couro. Muitos empunhavam machados de bronze, embora alguns fossem de pedra lascada. Eram mais os que manejavam lanças curtas e penetrantes, com ponta em forma de folha que cintilava, rubra, à luz vinda dos estábulos incendiados. Gritavam no Idioma Antigo enquanto assaltavam a barricada, lançando estocadas com as lanças, brandindo machados de bronze, derramando milho e sangue com igual desembaraço, enquanto dardos e flechas choviam sobre eles vindos dos arqueiros que Donal Noye posicionara na escada.
    - O que fazemos? - gritou o Cetim.
    - Matamo-los - gritou Jon em resposta, com uma flecha negra na mão.
    Nenhum arqueiro poderia pedir tiros mais fáceis. Os Thenn estavam de costas volta¬das para a Torre do Rei enquanto carregavam sobre o crescente, escalando os sacos e os barris para chegar junto dos homens de negro. Tanto Jon como Cetim escolheram por casualidade o mesmo alvo. Tinha acabado de atingir o topo da barricada quando uma flecha se projetou de seu pescoço e um dardo o atingiu entre as omoplatas. Meio segun¬do depois, uma espada atingiu-o na barriga e ele caiu sobre o homem que vinha atrás. Jon estendeu a mão para a aljava e achou-a de novo vazia. Cetim recarregava a besta. Deixou-o cuidando disso e foi buscar mais flechas, mas não tinha dado mais de três pas¬sos quando o alçapão se abriu com estrondo a um metro dele. Maldito inferno, nem sequer ouvi a porta se quebrando.
    Não houve tempo para pensar, fazer planos ou gritar por ajuda. Jon deixou o arco cair, estendeu a mão por sobre o ombro, arrancou a Garralonga de sua bainha e enterrou a lâmina no meio da primeira cabeça a se levantar da torre. O bronze não era adversário à altura do aço valiriano. O golpe cortou através do elmo do Thenn e mergulhou profun¬damente em seu crânio, e o homem tombou de volta para o lugar de onde viera. Jon com¬preendeu pelos gritos que havia mais atrás dele. Recuou e chamou por Cetim. O homem que subiu a seguir levou um dardo na cara. Também desapareceu.
    - O azeite - disse Jon. Cetim anuiu. Juntos agarraram os grossos pegadores acolchoa' dos que tinham deixado junto da fogueira, ergueram a pesada panela de azeite fervente e despejaram-na pelo buraco, sobre os Thenn que se encontravam embaixo. Os guinchos foram piores que qualquer coisa que tivessem ouvido, e Cetim pareceu prestes a botar tudo para fora. Jon fechou o alçapão com um pontapé, pôs a pesada panela de ferro em cima dele, e deu uma forte sacudida no rapaz de rosto bonito. - Vomite mais tarde - gri¬tou. - Venha.
    Tinham estado afastados das ameias apenas por alguns momentos, mas embaixo tudo havia mudado. Uma dúzia de irmãos negros e alguns dos homens de Vila Toupeira ainda resistiam em cima dos caixotes e barris, mas os selvagens estavam escalando a bar¬ricada ao longo de todo o crescente, empurrando-os para trás. Jon viu um deles espetar a lança na barriga de Rast, de baixo para cima e com tanta força que o ergueu no ar. O Jovem Henly estava morto e o Velho Henly, moribundo e cercado por inimigos. Jon viu o Calma rodopiando e desferindo golpes em todas as direções, rindo como um louco, fazendo o manto esvoaçar ao saltar de barril em barril. Um machado de bronze atingiu-o logo abaixo do joelho, e o riso transformou-se num grito borbulhante.
    - Eles estão quebrando - disse o Cetim.
    - Não - disse Jon -, já quebraram.
    Aconteceu rapidamente. Um dos toupeiras fugiu e depois outro, e subitamente to¬dos os aldeões estavam largando as armas e abandonando a barricada. Os irmãos eram muito poucos para agüentar sozinhos. Jon viu-os tentar formar uma linha para recuar de maneira ordenada, mas os Thenns submergiram-nos com lanças e machados, e então também eles se puseram em fuga. Dilly Dornês escorregou e caiu de cabeça, e um selva¬gem plantou uma lança entre suas omoplatas. Barricas, lento e sem fôlego, tinha já quase chegado ao degrau inferior quando um Thenn agarrou na extremidade de seu manto e o obrigou a se virar com um puxão... mas um dardo de besta abateu o homem antes que desse tempo para seu machado cair.
    - Acertei - exultou Cetim, enquanto Barricas cambaleava na direção da escada e co¬meçava a subir os degraus, sobre os joelhos e as mãos.
    0 portão está perdido. Donal Noye fechara-o e acorrentara-o, mas estava pronto para ser tomado, com as barras de ferro cintilando, vermelhas, com a luz refletida dos incên¬dios, e o túnel frio e negro por trás. Ninguém tinha recuado para defendê-lo; o único local seguro era o topo da Muralha, depois de subir duzentos metros ao longo da zigue- zagueante escada de madeira.
    - A que deuses você reza? - perguntou Jon ao Cetim,
    - Aos Sete - disse o rapaz de Vilavelha.
    - Então reze - disse-lhe Jon. - Reze aos seus deuses modernos, que eu rezo aos meus antigos. - Tudo mudava ali.
    Com a confusão junto ao alçapão, Jon tinha se esquecido de encher a aljava. Atra¬vessou de volta o topo da torre, mancando, e encheu-a, pegando também o arco, A panela não havia se movido de onde a deixara, parecia que por ora se encontravam suficientemente seguros. A dança avançou, e nós estamos a observá-la da galeria, pensou enquanto coxeava de volta. Cetim disparava dardos contra os selvagens que subiam os degraus, e escondia-se atrás de um merlão para recarregar a besta. Além de ser bonito, ele também é rápido.
    A verdadeira batalha desenrolava-se nos degraus. Noye tinha posicionado lanceiros nos dois patamares inferiores, mas a fuga precipitada dos aldeãos deixou-os em pânico e tinham-se juntado à debandada, correndo na direção do terceiro patamar com os Thenns a matar todos os que ficassem para trás. Os arqueiros e besteiros nos patamares superio¬res estavam tentando disparar contra a cabeça dos selvagens. Jon encaixou uma flecha, puxou e soltou, e sentiu-se satisfeito quando um dos Thenns caiu quicando pelos de¬graus. O calor dos incêndios fazia a Muralha chorar, e as chamas dançavam e cintilavam contra o gelo. Os degraus balançavam com os passos dos homens que tentavam se salvar.
    Jon voltou a encaixar, puxar e soltar, mas só havia um Jon e um Cetim, contra uns bons sessenta ou setenta Thenns que arremetiam escadas acima, matando enquanto avançavam, bêbados de vitória, No quarto patamar, três irmãos de manto negro resisti¬ram, ombro com ombro, de espadas na mão, e a batalha passou de novo, brevemente, a um corpo a corpo. Mas eles eram só três, e em pouco tempo a maré de selvagens os sub¬mergiu e seu sangue pingou degraus abaixo,
    "Um homem nunca está tão vulnerável numa batalha como quando foge. Um homem em fuga é para um soldado como um animal ferido. Alimenta sua sede de sangue" tinha dito certo dia Lorde
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 2:04 pm

    Eddard a Jon. Os arqueiros no quinto patamar fugiram antes mes¬mo de a batalha chegar até eles. Era uma debandada, uma rubra debandada.
    - Vá buscar os archotes - disse Jon a Cetim. Havia quatro empilhados junto à foguei¬ra, com as pontas enroladas em trapos empapados em azeite. Havia também uma dúzia de flechas incendiárias. O rapaz de Vilavelha enfiou um archote na fogueira até deixá-lo ardendo bem, e trouxe os outros debaixo do braço, por acender. Parecia de novo assusta¬do, e tinha motivos para isso. Jon também estava assustado.
    Foi então que viu Styr. O Magnar estava subindo a barricada, por cima das sacas de cereais rasgadas, barris quebrados e dos corpos de amigos e inimigos. Sua armadura de escamas de bronze cintilava, escura, à luz das chamas. Styr tinha tirado o elmo para estu¬dar a cena de seu triunfo, e o filho da puta careca e sem orelhas estava sorrindo. Na mão, trazia uma longa lança de represeiro com uma ornamentada ponta de bronze. Quando viu o portão, apontou para ele com a lança e ladrou qualquer coisa no Idioma Antigo para a meia dúzia de Thenns que o rodeava. Tarde demais, pensou Jon. Você devia ter sal¬tado a barricada à frente de seus homens, podia ter sido capaz de salvar alguns.
    Lá em cima soou um berrante de guerra, um sopro longo e grave. Não no topo da Muralha, mas no nono patamar, a cerca de sessenta metros de altura, onde Donal Noye se encontrava.
    Jon encaixou uma flecha incendiária no arco, e Cetim acendeu-a com o archote. Aproximou-se do parapeito, puxou, apontou, soltou. Fitas de chamas perseguiram a has¬te, que ganhou velocidade enquanto caía e atingiu o alvo com um baque surdo, crepitando.
    Não era Styr. Eram os degraus. Ou, mais precisamente, os barris, barricas e sacas que Donal Noye havia empilhado por baixo dos degraus, até a altura do primeiro patamar; os barris de piche e azeite para lâmpadas, os sacos de folhas e os trapos embebidos em óleo, as toras rachadas, as cascas de árvore e as aparas de madeira. "Outra vez", disse Jon, e "Ou¬tra vez", e "Outra vez". Outros arqueiros estavam também disparando, do topo de todas as torres dentro de alcance, alguns lançando suas flechas para o alto, em grandes arcos, para caírem à frente da Muralha. Quando Jon ficou sem flechas incendiárias, ele e Cetim passaram a acender os archotes e a atirá-los das ameias.
    Lá em cima, outro incêndio desabrochava. Os velhos degraus de madeira tinham be¬bido o óleo como esponjas, e Donal Noye empapara-os, do nono patamar até o sétimo. Jon só podia ter esperança de que a maior parte de sua gente tivesse subido até um lugar seguro antes de Noye arremessar os archotes. Os irmãos negros, pelo menos, sabiam do plano, mas os aldeões não.
    O vento e o fogo fizeram o resto. Tudo que Jon precisou fazer foi observar. Com cha¬mas por baixo e por cima, os selvagens não tinham para onde ir. Alguns continuaram a subir, e morreram. Alguns desceram, e morreram. Alguns ficaram onde estavam. Tam¬bém morreram. Muitos saltaram dos degraus antes de se incendiarem, e morreram da queda. Vinte e poucos Thenns ainda se apertavam uns contra os outros entre os incên¬dios quando o gelo rachou devido ao calor e todo o terço inferior da escada se despren¬deu, com várias toneladas de gelo. Essa foi a última vez que Jon viu Styr, o Magnar de Thenn. A Muralha defende-se, pensou.
    Jon pediu a Cetim para ajudá-lo a descer até o pátio. A perna ferida doía tanto que quase não conseguia andar, mesmo com a muleta.
    - Traga a tocha - disse ao rapaz de Vilavelha. - Preciso procurar uma pessoa. - Nos degraus havia principalmente Thenns. Certamente alguns membros do povo livre tinham escapado. Gente de Mance, não do Magnar. Ela podia ter sido um deles. Por isso desceram, passando por corpos de homens que tinham testado o alçapão, e Jon ficou vagueando pela escuridão com a muleta debaixo de um braço e o outro em volta dos om¬bros de um rapaz que tinha sido prostituto em Vilavelha.
    A essa altura, os estábulos e a sala comum já estavam reduzidos a brasas fumegantes, mas o fogo ainda ardia furiosamente ao longo da Muralha, subindo degrau por degrau e um patamar após o outro. De tempos em tempos ouviam um gemido e logo um craaaac, e outro pedaço de Muralha tombava com estrondo. O ar estava repleto de cinzas e cris¬tais de gelo.
    Encontrou Quort morto, e Polegares de Pedra moribundo. Encontrou alguns Thenns que nunca chegara realmente a conhecer mortos e moribundos. Encontrou Grande Fu- rúnculo, fraco de todo o sangue que tinha perdido, mas ainda vivo.
    Encontrou Ygritte estatelada numa mancha de neve velha por baixo da Torre do Se¬nhor Comandante, com uma flecha entre os seios. Os cristais de gelo tinham pousado em seu rosto e, ao luar, parecia que estava usando uma cintilante máscara de prata.
    Jon viu que a flecha era negra, mas tinha penas brancas de pato. Não é minha, disse a si mesmo, não é uma das minhas. Mas sentiu como se fosse.
    Quando ajoelhou-se na neve ao lado dela, Ygritte abriu os olhos.
    - Jon Snow - disse ela, muito baixo. Parecia que a flecha tinha atingido um pulmão. - Isto agora já é um verdadeiro castelo? Não é só uma torre?
    - Sim. - Jon pegou na mão dela.
    - Bom - sussurrou ela. - Queria ver um castelo de verdade antes... antes de...
    - Vai ver uma centena de castelos - prometeu-lhe ele. - A batalha acabou. Meistre Aemon vai cuidar de você. - Tocou os cabelos dela. - E beijada pelo fogo, lembra? Sortuda. Vai ser preciso mais do que uma flecha para matá-la. Aemon vai puxá-la para fora e fazer um curativo em você, e depois arranjamos um pouco de leite de papoula para suas dores.
    Ela limitou-se a sorrir.
    - Lembra daquela gruta? Devíamos ter ficado naquela gruta. Eu disse.
    - Vamos voltar à gruta - disse ele. - Não vai morrer, Ygritte. Não vai,
    - Oh. - Ygritte envolveu o rosto dele com a mão. - Você não sabe nada, Jon Snow - suspirou, e morreu.

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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:16 pm

    Bran 650


    É só mais um castelo vazio - disse Meera Reed ao olhar a desolação de entulho, ruínas e ervas daninhas.
    Não, pensou Bran, é Fortenoite, e isto é o fim do mundo. Nas montanhas, só conseguia pensar em chegar à Muralha e encontrar o corvo de três olhos, mas agora que estavam ali sentia-se cheio de temores. O sonho que tivera... o sonho que Verão tivera... Não, não devo pensar no sonho. Nem sequer o tinha contado aos Reed, embora pelo menos Meera parecesse sentir que havia algo errado. Se nunca falasse dele, talvez pudesse esquecer que o sonhara, e então não teria acontecido, e Robb e Vento Cinzento ainda estariam...
    - Hodor. - Hodor deslocou o peso de uma perna para a outra, levando Bran atrás. Estava cansado. Tinham caminhado durante horas. Pelo menos não está assustado. Bran tinha medo daquele lugar, quase tanto quanto tinha de admitir isso aos Reed. Sou um príncipe do Norte, um Stark de Winterfell, quase um homem-feito, tenho de ser tão bravo quanto Robb.
    Jojen fitou-o com seus olhos verde-escuros.
    - Não há nada aqui que nos faça mal, Vossa Graça.
    Bran não tinha tanta certeza. Fortenoite surgia em algumas das histórias mais assustadoras da Velha Ama. Tinha sido ali que o Rei da Noite reinou, antes de seu nome ter sido varrido da memória dos homens. Foi ali que o Cozinheiro Ratazana serviu ao rei ândalo seu empadão de príncipe e bacon, que as setenta e nove sentinelas mantiveram-se de vigia, que o bravo jovem Danny Flint foi violado e assassinado. Era esse o castelo onde o Rei Sherrit rogou a sua praga sobre os ândalos de antigamente, onde os jovens aprendizes tinham enfrentado a coisa saída da noite, onde o cego Sy¬meon Olhos-de-Estrela viu os mastins do inferno lutando. Machado Louco caminhou um dia por aqueles pátios e subiu àquelas torres, assassinando seus irmãos na calada da escuridão,
    Tudo aquilo tinha acontecido havia centenas de milhares de anos, com certeza, e al¬gumas daquelas coisas talvez nem tivessem acontecido de verdade. Meistre Luwin dizia sempre que as histórias da Velha Ama não deviam ser engolidas inteiras, Mas, uma vez, o tio viera visitar o pai, e Bran interrogou-o a respeito de Fortenoite. Benjen Stark não chegou a dizer que as histórias eram verdadeiras, mas também não disse que não eram; limitou-se a encolher os ombros e declarar que haviam abandonado Fortenoite há du¬zentos anos. Como se isso fosse resposta.
    Bran forçou-se a olhar em volta. A manhã estava fria mas luminosa, com o sol a bri¬lhar num céu de um azul duro, mas os ruídos não lhe agradavam. O vento causava um assobio nervoso ao estremecer por entre as torres quebradas, os baluartes gemiam e aquietavam-se e ouviam-se ratazanas arrastando-se sob o chão do grande salão. Os filhos do Cozinheiro Ratazana fugindo do pai Os pátios eram pequenas florestas onde árvores esguias esfregavam seus ramos nus uns nos outros e folhas mortas corriam como ba¬ratas por cima de manchas de neve antiga. Havia árvores crescendo onde os estábulos tinham estado, e um represeiro branco e retorcido assomava por um buraco escancarado no telhado em cúpula da cozinha. Até Verão se sentia desconfortável naquele local. Bran enfiou-se em sua pele, só por um instante, para sentir o cheiro do lugar. Também não gostou dele.
    E não havia maneira de atravessar.
    Bran tinha lhes dito que não haveria. Tinha dito e rédito, mas Jojen Reed insistiu em ver com os próprios olhos. Dizia que tivera um sonho verde, e que seus sonhos verdes não mentiam. Também não abrem portões, pensou Bran,
    O portão que Fortenoite defendia estava selado desde o dia em que os irmãos negros tinham carregado as mulas e os garranos e partido para Lago Profundo; a sua porta le- vadiça de ferro encontrava-se descida, as correntes que a içavam tinham sido levadas e o túnel fora preenchido com pedras e entulho, tudo congelado até se tornar tão impenetrá¬vel como a própria Muralha.
    - Devíamos ter seguido Jon - disse Bran quando o viu. Pensava freqüentemente no irmão bastardo, desde a noite em que Verão o vira se afastando na tempestade. - Devía¬mos ter procurado a estrada do rei e seguido para Castelo Negro.
    - Não nos atrevemos, meu príncipe - disse Jojen. - Já lhe disse por quê,
    - Mas há selvagens. Eles mataram um homem qualquer e também queriam matar o Jon. Jojen, eram uma centena.
    - Foi o que você disse. Nós somos quatro. Ajudou seu irmão, se é que era realmente ele, mas isso quase lhe custou o Verão.
    - Eu sei - disse Bran com um ar infeliz.
    O lobo gigante tinha matado três deles, talvez mais, mas eram muitos. Depois de formarem um anel apertado em volta do homem alto sem orelhas, tinha tentado se es- gueirar através da chuva, mas uma das flechas veio num relâmpago atrás dele e a súbita punhalada de dor expulsou Bran da pele do lobo e fez com que voltasse à sua. Depois que a tempestade finalmente passou, tinham se aninhado no escuro, sem uma fogueira, falando em sussurros quando falavam, escutando a respiração pesada de Hodor e per¬guntando a si mesmos se os selvagens iriam tentar atravessar o lago de manhã. Bran ten¬tara várias vezes alcançar Verão, mas a dor que encontrou afastou-o, da mesma forma que uma chaleira em brasa nos faz afastar a mão quando tentamos pegá-la. Só Hodor dormiu naquela noite, murmurando "Hodor, hodor", enquanto se debatia e virava. Bran estava aterrorizado pela possibilidade de Verão estar morrendo na escuridão. Por favor, oh deuses antigos, rezou, levaram Winterfell, meu pai e minhas pernas, não levem também o Verão. E protejam também Jon Snow e façam com que os selvagens vão embora.
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:16 pm

    Não cresciam represeiros naquela ilha pedregosa no lago, mas de algum modo os deu¬ses antigos devem tê-lo ouvido. Os selvagens levaram tempo até partirem na manhã se¬guinte, despindo os corpos de seus mortos e do velho que tinham matado, e até pescando alguns peixes do lago, e houve um momento assustador quando três deles encontraram o caminho elevado e começaram a avançar pela água,., mas o caminho virou e eles não, e dois quase se afogaram antes de os outros os puxarem para terra. O homem alto e careca berrou para eles, com palavras que ecoaram sobre as águas numa língua qualquer que nem mesmo Jojen conhecia, e pouco depois pegaram escudos e lanças e marcharam para nordeste, a mesma direção que Jon seguira. Bran queria partir também, para ir à procura de Verão, mas os Reed disseram que não.
    - Vamos ficar mais uma noite - Jojen disse -, colocar algumas léguas entre nós e os selvagens. Não quer voltar a encontrá-los, não é?
    Mais tarde nessa noite, Verão voltou de onde quer que estivera escondido, arrastando a pata traseira. Tinha comido partes dos cadáveres na estalagem, afastando os corvos, e depois nadado até a ilha. Meera arrancou a flecha quebrada da pata dele e esfregou a fe¬rida com a seiva de umas plantas que encontrara crescendo em volta da base da torre. O lobo gigante ainda mancava, mas parecia a Bran que o fazia um pouco menos a cada dia. Os deuses tinham escutado.
    - Talvez devêssemos tentar outro castelo - disse Meera ao irmão. - Talvez consiga¬mos atravessar o portão em algum outro lugar. Podia ir bater terreno, se você quisesse, seria mais rápida sozinha.
    Bran sacudiu a cabeça,
    - Se for para leste, tem primeiro o Lago Profundo e depois o Portão da Rainha. Para oeste fica Marcagelo, Mas serão a mesma coisa, só que menores, Todos os portões estão selados, exceto os de Castelo Negro, Atalaialeste e Torre Sombria,
    Hodor respondeu "Hodor" àquilo, e os Reed trocaram um olhar,
    - Eu pelo menos podia subir até o topo da Muralha - decidiu Meera, - Talvez visse alguma coisa lá em cima,
    - O que espera ver? - perguntou Jojen.
    - Alguma coisa - disse Meera, e para variar mostrou-se inflexível.
    Devia ser eu. Bran ergueu a cabeça para olhar a Muralha e imaginou-se escalando centímetro a centímetro, enfiando os dedos em fendas no gelo e abrindo apoios para os pés aos chutes. A idéia fez Bran sorrir, apesar de tudo, dos sonhos, dos selvagens, de Jon e de tudo. Escalava as muralhas de Winterfell quando era pequeno, e todas as torres tam¬bém, mas nenhuma tinha sido tão alta, e eram apenas de pedra. A Muralha podia parecer pedra, toda cinzenta e esburacada, mas então as nuvens abriam-se, o sol brilhava sobre ela de uma forma diferente, e de repente transformava-se e ali surgia, branca e azul e cin¬tilante. Era o fim do mundo, dizia sempre a Velha Ama, Do outro lado havia monstros, gigantes e vampiros, mas não podiam passar enquanto a Muralha se mantivesse em pé. Quero ir lá em cima com Meera, pensou Bran. Quero ir lá em cima e ver.
    Mas era um garoto quebrado, com pernas inúteis, por isso, tudo o que podia fazer era ficar embaixo assistindo enquanto Meera subia em seu lugar.
    Ela não estava realmente escalando, como ele costumava escalar. Estava apenas su¬bindo uns degraus que a Patrulha da Noite talhara havia centenas e milhares de anos, Lembrava-se de Meistre Luwin dízer que Fortenoite era o único castelo onde os degraus tinham sido cortados no gelo da própria Muralha, Ou talvez tivesse sido o tio Benjen. Os castelos mais novos tinham degraus de madeira, ou de pedra, ou longas rampas de terra e cascalho, "O gelo é traiçoeiro demais." Foi o tio que lhe contou aquilo. Ele disse que a superfície exterior da Muralha às vezes chorava lágrimas geladas, embora o núcleo, lá dentro, permanecesse congelado e duro como pedra. Os degraus deviam ter derretido e voltado a congelar mil vezes desde que os últimos irmãos negros tinham abandonado o castelo e, a cada vez que o faziam, encolhiam um pouco e tornavam-se mais lisos, mais arredondados e mais traiçoeiros.
    E menores. É quase como se a Muralha estivesse engolindo-os de volta. Meera Reed tinha pés muito seguros, mesmo assim avançava lentamente, deslocando-se de protuberância em protuberância. Em dois locais, onde os degraus praticamente já não existiam, ficou de quatro. Será pior quando descer, pensou Bran, observando. Mesmo assim, desejou ser ele a estar lá em cima. Quando chegou ao topo, engatinhando pelas saliências geladas que eram tudo que restava dos degraus superiores, Meera desapareceu de sua vista.
    - Quando é que ela desce? - perguntou Bran a Jojen.
    - Quando estiver pronta. Ela vai querer dar uma boa olhada... na Muralha e no que está para lá dela. Devíamos fazer o mesmo aqui embaixo.
    - Hodor? - disse Hodor, com ar de dúvida.
    - Podíamos encontrar qualquer coisa - insistiu Jojen.
    Ou pode ser que alguma coisa nos encontre. Mas Bran não podia dizer isso; não queria que Jojen o julgasse covarde.
    E assim foram explorar, com Jojen Reed na liderança, Bran em seu cesto às costas de Hodor e Verão caminhando a seu lado. Uma vez, o lobo gigante enfiou-se de repente numa porta escura e voltou um momento depois com uma ratazana cinza entre os den¬tes. O Cozinheiro Ratazana, pensou Bran, mas o animal era da cor errada, e só tinha o tamanho de um gato. O Cozinheiro Ratazana era branco e quase tão gigantesco quanto uma porca.
    Havia um monte de portas escuras em Fortenoite e um monte de ratazanas. Bran ouvia seus passos ligeiros por armazéns e adegas e pelo labirinto de túneis negros como breu que os ligava. Jojen queria ir espiar lá embaixo, mas a essa idéia Hodor disse"Hodor", e Bran dis¬se "Não". Havia coisas piores do que ratazanas na escuridão por baixo de Fortenoite.
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:16 pm

    - Este parece um lugar antigo - disse Jojen enquanto atravessavam uma galeria onde a luz do sol caía em feixes poeirentos através de janelas vazias.
    - E duas vezes mais velho do que Castelo Negro - disse Bran, recordando. - Foi o primeiro castelo da Muralha, e também o maior. - Mas também foi o primeiro a ser abandonado, ainda no tempo do Velho Rei. Mesmo então, três quartos dele já se encon¬travam vazios, e era muito dispendioso mantê-lo. A Boa Rainha Alysanne sugeriu que a Patrulha o substituísse por um castelo menor e mais novo, num local a apenas onze quilômetros para leste, onde a Muralha se curvava ao longo da margem de um belo lago verde. Lago Profundo foi pago pelas jóias da rainha e construído por homens que o Ve¬lho Rei enviou para o norte, e os irmãos negros entregaram Fortenoite às ratazanas.
    Mas isso havia sido dois séculos antes. Agora, Lago Profundo estava tão vazio como o castelo que tinha substituído, e Fortenoite...
    - Há fantasmas aqui - disse Bran. Hodor já tinha ouvido todas as histórias, mas Jojen talvez não. - Fantasmas velhos, de antes do Velho Rei, de antes até de Aegon, o Dragão, setenta e nove desertores que foram para o sul a fim de se tornarem fora da lei. Um deles era o filho mais novo de Lorde Ryswell, e por isso, quando chegaram às ter¬ras acidentadas, procuraram refúgio em seu castelo, mas Lorde Ryswell aprisionou-os e devolveu-os a Fortenoite. O Senhor Comandante mandou abrir buracos no topo da Muralha, enfiou neles os desertores e selou-os no gelo, vivos. Têm lanças e berrantes e estão todos virados para o norte. Chamam-se as setenta e nove sentinelas. Abandona¬ram seus postos em vida, portanto, na morte, sua vigília dura para sempre. Anos mais tarde, quando Lorde Ryswell já estava velho e moribundo, fez que o trouxessem para Fortenoite para poder vestir o negro e ficar junto do filho. Enviara-o de volta para a Muralha por uma questão de honra, mas ainda o amava, por isso veio acompanhá-lo na vigília.
    Passaram metade do dia esquadrinhando o castelo. Algumas das torres tinham des¬moronado, e outras pareciam pouco seguras, mas subiram à torre sineira, onde não havia sinos, e à colônia dos corvos, onde não havia corvos. Sob a cervejaria, encontraram uma adega de enormes barris de carvalho que trovejavam ocamente quando Hodor batia ne¬les com os nós dos dedos. Encontraram uma biblioteca onde as prateleiras e os escani- nhos tinham desabado, não havia livros, mas era possível encontrar ratazanas por todo lado. Acharam uma masmorra úmida e fracamente iluminada, com celas suficientes para quinhentos cativos, mas quando Bran pegou numa das barras enferrujadas, ela partiu-se na sua mão. Só restava uma parede em ruínas no grande salão, a casa de banhos parecia estar se afundando no chão, e um enorme espinheiro conquistara o pátio de treinos em frente ao arsenal, onde irmãos negros um dia tinham trabalhado com lanças, escudos e espadas. No entanto, o arsenal e a forja ainda se mantinham em pé, embora as teias de aranha, as ratazanas e a poeira tivessem ocupado o lugar das lâminas, dos foles e da bi- gorna. As vezes, Verão ouvia sons aos quais Bran parecia surdo, ou mostrava os dentes a coisa nenhuma, com o pelo do cangote eriçado... mas o Cozinheiro Ratazana não chegou a aparecer, e as setenta e nove sentinelas e o Machado Louco também não. Bran sentiu-se muito aliviado. Talvez seja apenas um castelo vazio em ruínas.
    Quando Meera regressou, o sol era somente o fio de uma espada acima dos montes ocidentais.
    - O que foi que viu? - perguntou-lhe o irmão Jojen.
    - Vi a floresta assombrada - disse ela num tom pensativo, - Montes selvagens que se erguem até perder de vista, cobertos de árvores nunca tocadas por um machado. Vi a luz do sol cintilando num lago e nuvens que se aproximam vindas do oeste. Vi manchas de neve velha e pingentes do tamanho de lanças. Vi até uma águia pairando no céu. Acho que ela também me viu. Acenei para ela.
    - Viu algum caminho para baixo? - perguntou Jojen.
    Ela sacudiu a cabeça.
    - Não. E uma queda livre, e o gelo é tão liso... eu talvez fosse capaz de descer se tivesse uma boa corda e um machado para abrir apoios para as mãos, mas...
    - ... mas nós não - terminou Jojen.
    - Não - concordou a irmã. - Tem certeza de que este é o lugar que viu no seu sonho? Talvez estejamos no castelo errado.
    - Não. O castelo é este. Há um portão aqui.
    Sim, pensou Bran, mas está bloqueado por pedra e gelo.
    Quando o sol começou a se pôr, as sombras das torres cresceram e o vento soprou com mais força, fazendo rajadas de folhas secas e mortas crepitar nos pátios. As sombras que se reuniam lembraram a Bran outra das histórias da Velha Ama, a história do Rei da
    Noite. Tinha sido o décimo terceiro homem a liderar a Patrulha da Noite, dizia ela; um guerreiro que não conhecia o medo.
    - E esse era o seu defeito - acrescentava —, pois todos os homens devem conhecer o medo. - Sua perdição havia sido uma mulher; uma mulher vislumbrada do topo da Mu¬ralha, com a pele branca como a lua e olhos que eram como estrelas azuis. Sem nada te¬mer, ele perseguiu-a, pegou-a e amou-a, embora a pele dela fosse fria como gelo, e quan¬do lhe entregou a sua semente, entregou também sua alma.
    "Trouxe-a de volta para Fortenoite e proclamou-a rainha e a si o seu rei, e com estranhas feitiçarias prendeu os Irmãos Juramentados aos seus desígnios. Governaram durante treze anos, o Rei da Noite e sua rainha cadáver, até que por fim o Stark de Winterfell e Joramun dos selvagens se aliaram para libertar a Patrulha da servidão. Após a sua queda, quando se descobriu que o Rei da Noite tinha andado fazendo sa¬crifícios aos Outros, todos os registros que se referiam a ele foram destruídos e até seu nome foi proibido.
    "Alguns dizem que era um Bolton - concluía sempre a Velha Ama. - Alguns falam de um Magnar de Skagos, outros dizem Umber, Flint ou Norrey. Alguns querem nos convencer de que era um Woodfoot, membro da família que governava a Ilha dos Ursos antes da chegada dos homens de
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:17 pm

    ferro. Mas não era. Era um Stark, o irmão do homem que o derrubou. - Então dava sempre um beliscão no nariz de Bran, ele nunca esqueceria disso. - Era um Stark de Winterfell, e quem sabe? Talvez seu nome fosse Brandon. Tal¬vez dormisse nesta mesma cama, neste mesmo quarto."
    Não, pensou Bran. Mas caminhou por este castelo, onde vamos dormir esta noite. Não gostava nada daquela idéia. "O Rei da Noite era apenas um homem à luz do dia" dizia sempre a Velha Ama, "mas a noite era por ele governada". E está ficando escuro,
    Os Reed decidiram dormir nas cozinhas, um octógono de pedra com uma cúpula quebrada. Parecia oferecer melhor abrigo do que a maior parte dos outros edifícios, ape¬sar de um represeiro retorcido ter aberto caminho através do chão de ardósia ao lado do gigantesco poço central, se estendendo, inclinado, para o buraco no telhado, com os ramos brancos como ossos se esticando para o sol. Era uma árvore estranha, mais esguia do que qualquer outro represeiro que Bran tivesse visto e desprovida de rosto, mas pelo menos fazia-o sentir que os deuses estavam ali com ele.
    Era a única coisa de que gostava nas cozinhas, porém. O telhado estava lá, na maior parte, então se manteriam secos caso chovesse, mas não parecia que conseguiriam ficar quentes ali dentro. Era possível sentir o frio se infiltrando através do chão de ardósia. Bran também não gostava das sombras, ou dos enormes fornos de tijolo que os rodeavam como bocas abertas, ou dos enferrujados ganchos para carne, ou das cicatrizes e manchas que via na mesa de açougueiro, junto à parede. Foi ali que o Cozinheiro Ratazana cortou o príncipe em pedaços, compreendeu, e ele assou o empadão num daqueles fornos.
    Mas o poço era aquilo de que menos gostava. Tinha uns bons três metros e meio de diâmetro, era todo de pedra, com degraus esculpidos nas paredes, descendo em círculos, cada vez mais para baixo, até se perderem nas trevas. As paredes eram úmidas e estavam cobertas de salitre, mas nenhum deles conseguiu ver a água no fundo, nem mesmo Me¬era com seus penetrantes olhos de caçadora,
    — Talvez não tenha fundo - disse Bran com incerteza.
    Hodor espreitou por sobre a borda do poço, que batia na altura do joelho, e disse:
    - HODOR.' - a palavra ecoou poço abaixo, "Hodorhodorhodorhodor", cada vez mais tênue, "hodorhodorhodorhodor", até se tornar menos do que um murmúrio. Hodor pa¬receu surpreendido. Então riu e dobrou-se para tirar um pedaço quebrado de ardósia.
    - Hodor, não! - disse Bran, mas tarde demais. Hodor atirou a ardósia por sobre a borda. - Não devia ter feito isso. Não sabe o que há lá embaixo. Podia ter machucado alguma coisa ou... ou acordado alguma coisa.
    Hodor olhou-o com uma expressão inocente.
    - Hodor?
    Muito, muito, muito embaixo, ouviram o som da pedra ao encontrar água. Não foi um tchap, não propriamente. Foi mais um glup, como se o que quer que estivesse lá em¬baixo tivesse aberto uma trêmula boca gélida para engolir a pedra de Hodor. Tênues ecos viajaram poço acima, e por um momento Bran pensou ouvir algo se mover, sacudindo-se de um lado para o outro, na água.
    - Talvez não devêssemos ficar aqui - disse, inquieto.
    -Junto ao poço? - perguntou Meera. - Ou em Fortenoite?
    - Sim - disse Bran.
    Ela soltou uma gargalhada e mandou Hodor ir buscar lenha. Verão também foi. A essa altura já era quase noite, e o lobo gigante queria caçar.
    Hodor retornou sozinho com ambos os braços carregados de madeira morta e galhos quebrados, Jojen Reed pegou a sua pederneira e a faca e tratou de acender uma fogueira enquanto Meera desossava o peixe que tinha apanhado no último riacho por onde pas¬saram. Bran perguntou a si mesmo quantos anos teriam transcorrido desde que houve pela última vez um jantar preparado nas cozinhas de Fortenoite. Também perguntou a si mesmo quem o teria preparado, embora talvez fosse melhor não saber.
    Quando as chamas já ardiam bem, Meera pôs o peixe no fogo. Pelo menos não é um empadão de carne. O Cozinheiro Ratazana tinha feito com o filho do rei ândalo um gran¬de empadão com cebolas, cenouras, cogumelos, montes de pimenta e sal, uma fatia de ba¬con e um escuro vinho tinto de Dorne. Depois, serviu-o ao pai dele, que elogiou o sabor e pediu para repetir. Mais tarde, os deuses transformaram o cozinheiro numa monstruosa ratazana branca que só podia comer os próprios filhos. Desde então, vagueava por Forte¬noite, devorando os filhos, mas sua fome ainda não estava saciada.
    - Não foi por assassinato que os deuses o amaldiçoaram - dizia a Velha Ama - nem por servir ao rei ândalo o filho num empadão. Um homem tem direito à vingança. Mas matou um hóspede sob o seu teto, e isso os deuses não podem perdoar.
    - Devíamos dormir - disse solenemente Jojen, depois de encherem a barriga. A fo¬gueira queimava baixa. Avivou-a com um pedaço de madeira. - Talvez tenha outro so¬nho verde para nos mostrar o caminho.
    Hodor já estava enrolado e roncando ligeiramente. De tempos em tempos agitava-se sob o seu manto e choramingava qualquer coisa que podia ser "Hodor". Bran arrastou- -se para mais perto da fogueira. O calor era agradável, e o suave crepitar das chamas acalmou-o, mas o sono não queria vir. Lá fora, o vento mandava exércitos de folhas mortas marchar pelos pátios e fazia-os arranhar levemente as portas e janelas. Os sons fizeram-no pensar nas histórias da Velha Ama. Quase conseguia ouvir as fantasmagó¬ricas sentinelas chamando umas pelas outras no topo da Muralha e soprando seus fan¬tasmagóricos berrantes de guerra. O pálido luar entrava de viés pelo buraco na cúpula, pintando os ramos do represeiro que se esticavam para o teto. Parecia que a árvore estava tentando pegar a lua e atirá-la no poço. Deuses antigos, orou Bran, se me escutam, não enviem um sonho esta noite. Ou se o fizerem, façam com que seja um sonho bom. Os deuses não responderam.
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:17 pm

    Bran obrigou-se a fechar os olhos. Talvez até tivesse dormido um pouco, ou talvez estivesse apenas dormitando, flutuando daquela maneira característica de quando se está meio acordado e meio dormindo, tentando não pensar no Machado Louco, no Cozinhei¬ro Ratazana, ou na coisa que chegava na noite.
    Então ouviu o ruído.
    Seus olhos se abriram. O que foi isso? Segurou a respiração. Terei sonhado? Estaria tendo um estúpido pesadelo? Não queria acordar Meera e Jojen por causa de um pesadelo, mas,., ali... um leve som de arrastar, distante... Folhas, são folhas restolhando nas paredes lá fora e raspando umas nas outras... ou o vento, podia ser o vento... Mas o som não vinha lá de fora. Bran sentiu que os pelos de seus braços começavam a se eriçar. O som está aqui dentro, está aqui conosco, e está ficando mais alto. Apoiou-se num cotovelo, à escuta. Havia vento, e também folhas por ele sopradas, mas isso era outra coisa. Passos. Alguém vinha naquela direção. Algo vinha naquela direção.
    Sabia que não eram as sentinelas. As sentinelas nunca abandonavam a Muralha. Mas podia haver outros fantasmas em Fortenoite, fantasmas ainda mais terríveis. Lembrou-se do que a Velha Ama disse do Machado Louco, de como ele tinha tirado as botas e percorrido os salões do castelo de pés descalços, na escuridão, sem soltar um som que indicasse onde estava, exceto as gotas de sangue que caíam do machado, dos cotovelos e da ponta de sua barba vermelha e úmida. Ou talvez não fosse o Machado Louco, talvez fosse a coisa que chegava na noite. Todos os aprendizes a tinham visto, dizia a Velha Ama, mas depois, quando contaram ao seu Senhor Comandante, todas as descrições mostraram-se diferentes. E três morreram naquele ano, e o quarto enlou¬queceu, e cem anos mais tarde, quando a coisa regressou, os aprendizes foram vistos aos tropeções atrás dela, acorrentados.
    Mas isso era apenas uma história, Só estava assustando a si mesmo. Não existia coisa alguma que chegava na noite, foi Meistre Luwin que disse. Se algo assim tivesse existido, desaparecera do mundo, como os gigantes e os dragões. Não é nada, pensou Bran.
    Mas os sons agora eram mais altos.
    Vem do poço, compreendeu. Isso deixou-o ainda mais assustado. Algo vinha subindo de debaixo do chão, vinha subindo da escuridão, Hodor acordou-o. Acordou-o com aquele estúpido pedaço de ardósia, e agora vem aí. Era difícil ouvir por sobre os roncos de Hodor e o trovejar do próprio coração. Seria o som que o sangue fazia ao pingar de um machadof Ou seria o tênue e distante retinir de algemas fantasmagóricas? Bran escutou com mais atenção. Passos. Eram passos com certeza, cada um ligeiramente mais alto do que o ante¬rior. Mas não conseguia identificar quantos eram. O poço fazia os sons ecoar. Não ouvia nada pingando, e também não ouvia correntes, mas havia algo mais... um som agudo, frágil e lamuriento, como que emitido por alguém com dores, e uma respiração pesada e abafada. Mas os passos eram mais altos. Os passos se aproximavam.
    Bran estava assustado demais para gritar. A fogueira reduzira-se a algumas brasas fracas e todos os seus amigos encontravam-se adormecidos. Quase saiu de sua pele e foi em busca do lobo, mas Verão podia estar a quilômetros de distância. Não podia deixar os amigos na escuridão, impotentes para enfrentar o que quer que viesse subindo o poço. Eu disse-lhes para não vir para cá, pensou, infeliz. Eu disse-lhes que havia fantasmas. Eu disse-lhes que devíamos ir para Castelo Negro.
    Para Bran, os passos soavam pesados, lentos, imponentes, raspando contra a pedra. Deve ser enorme. Machado Louco era um homem grande na história da Velha Ama, e a coisa que chegava na noite era monstruosa. Em Winterfell, Sansa disse-lhe que os demô¬nios da escuridão não podiam tocá-lo caso se escondesse por baixo da manta. Quase fez isso agora, antes de se lembrar de que era um príncipe, e quase um homem-feito.
    Bran contorceu-se pelo chão, arrastando as pernas mortas atrás de si, até conseguir estender a mão e tocar Meera no pé. Ela acordou de imediato. Nunca conhecera alguém que acordasse tão depressa como Meera Reed, ou que ficasse tão alerta tão rapidamente. Bran pôs um dedo sobre a boca para que ela soubesse que não devia falar. Meera ouviu o som de imediato, Bran podia ver no rosto dela; os passos ecoantes, o tênue choramingar, a respiração pesada.
    Meera pôs-se em pé sem uma palavra e recolheu as armas. Com a lança de três dentes para caçar rãs na mão direita e as dobras da rede pendendo da esquerda, deslizou des¬calça para junto do poço. Jojen continuou a dormir, sem perceber nada, enquanto Hodor resmungava e se debatia num sono inquieto. Ela manteve-se nas sombras ao se mover, rodeou o feixe de luz do luar tão silenciosa como uma gata. Bran passou todo o tempo a observá-la, e até ele quase não conseguia ver o tênue reflexo de sua lança. Não posso dei¬xar que ela combata a coisa sozinha, pensou. Verão estava distante, mas...
    ... deslizou para fora de sua pele e procurou Hodor.
    Não era como enfiar-se em Verão. Isso era agora tão fácil que Bran quase nem pen¬sava no que estava fazendo. Com Hodor era mais difícil, como tentar enfiar uma bota esquerda no pé direito. Servia mal, e além disso a bota estava assustada, a bota não sabia o que estava acontecendo e tentava afastar o pé. Sentiu o sabor de vômito no fundo da garganta de Hodor, e isso foi quase o bastante para levá-lo a fugir. Mas, em vez disso, contorceu-se e impulsionou-se, sentou-se, pôs as pernas por baixo de si - as enormes e fortes pernas - e levantou-se. Estou em pé. Deu um passo. Estou andando, Era uma sen¬sação tão estranha que quase caiu. Conseguia ver-se no frio chão de pedra, uma coisinha quebrada, mas agora não estava quebrado. Pegou a espada longa de Hodor. A respiração era tão ruidosa quanto o fole de um ferreiro,
    Do poço veio um lamento, um crich penetrante que o atravessou como uma faca. Uma enorme silhueta negra içou-se das trevas e cambaleou na direção do luar, e o medo subiu tão denso em Bran que, antes mesmo de conseguir pensar em puxar a espada de Hodor como pretendera fazer, viu-se de novo no chão, com Hodor rugindo "Hodor hodor HO¬DOR" como fizera na torre do lago
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:17 pm

    sempre que um relâmpago caía. Mas a coisa que che¬gara na noite também estava gritando, e se agitando violentamente nas dobras da rede de Meera. Bran viu a lança da garota saltar das trevas para apanhá-la, e a coisa cambaleou e caiu, lutando com a rede. O lamento continuava a sair do poço, agora ainda mais ruidoso. No chão, a coisa negra saltou e lutou, guinchando:
    - Não, não, não, por favor, NÃO...
    Meera ficou por cima do homem, com o luar brilhando, prateado, nos dentes de sua lança para rãs.
    - Quem é você? - exigiu saber.
    - Sou o SAM - soluçou a coisa negra. - Sam, Sam, sou o Sam, deixe-me sair, você me jurou... - Passou rolando pela poça de luar, agitando-se e deixando-se cair, enredado na rede de Meera. Hodor continuava a gritar "Hodor hodor hodor".
    Foi Jojen quem alimentou a fogueira com pedaços de madeira e a soprou até que as chamas saltaram, crepitando. Então fez-se a luz, e Bran viu a pálida garota de rosto ma¬gro junto à borda do poço, toda embrulhada em peles sob um enorme manto negro, tentando calar o bebê que chorava em seus braços. A coisa no chão estava tentando atra¬vessar a rede com um braço para pegar a faca, mas as voltas não permitiam. Não era nenhuma fera monstruosa, nem o Machado Negro ensopado em sangue; era apenas um homem muito gordo vestido de lã negra, peles negras, couro negro e cota de malha negra.
    - Ele é um irmão negro - disse Bran. - Meera, ele é da Patrulha da Noite.
    - Hodor? - Hodor acocorou-se para examinar o homem na rede. - Hodor - repetiu, gritando.
    - A Patrulha da Noite, sim. - O gordo continuava a respirar como um fole. - Sou um irmão da Patrulha. - Tinha uma corda sob os queixos, forçando sua cabeça para trás, e outras profundamente enterradas no rosto. - Sou um corvo, por favor. Tire-me disto aqui.
    De repente, Bran ficou em dúvida.
    - E o corvo de três olhos? - Ele não pode ser o corvo de três olhos.
    - Acho que não. - O gordo rolou os olhos, mas só havia dois. - Sou só o Sam. Sam- well Tarly, Deixe-me sair, a rede está me machucando. - Recomeçou a lutar.
    Meera fez um ruído de repugnância.
    - Pare de se debater. Se rasgar a minha rede, atiro-o de volta ao poço. Fique quieto que eu o desenredo.
    - Quem é você? - perguntou Jojen à garota com o bebê.
    - Goiva - disse ela. - Como a flor de goivo. Ele é o Sam. Não queríamos assustá-los. - Embalou o bebê e murmurou para ele, e por fim a criança parou de chorar.
    Meera estava desemaranhando o irmão gordo. Jojen dirigiu-se ao poço e espiou lá dentro.
    - De onde vieram?
    - Da Fortaleza de Craster - disse a garota, - E você o certo?
    Jojen virou-se para olhá-la.
    - O certo?
    - Ele disse que Sam não era o certo - explicou ela. - Que havia mais alguém, disse ele. Aquele que ele havia sido enviado para encontrar.
    - Quem foi que disse isso? - quis saber Bran.
    - O Mãos-Frias - respondeu Goiva em voz baixa.
    Meera puxou uma ponta da rede e o gordo conseguiu se sentar. Bran viu que estava tremendo e ainda lutava para recuperar o fôlego,
    - Ele disse que haveria gente - arquejou, - Gente no castelo. Mas eu não sabia que ia encontrá-los bem no topo dos degraus. Não sabia que iriam atirar uma rede em mim e me furar no estômago. - Tocou a barriga com uma mão enluvada de negro. - Estou sangrando? Não consigo ver.
    - Foi só uma cutucada para derrubá-lo - disse Meera. - Vem cá, deixe-me ver. - Ajoelhou e tateou em volta do umbigo do gordo. - Está usando cota de malha. Nem cheguei perto da sua pele.
    - Bem, doeu do mesmo jeito - lamentou-se Sam.
    - É mesmo um irmão da Patrulha da Noite? - perguntou Bran.
    Os queixos do gordo balançaram quando confirmou com a cabeça. Sua pele parecia pálida e solta.
    - Só um intendente. Cuidava dos corvos de Lorde Mormont. - Por um momento pareceu prestes a chorar. - Mas perdi todos no Punho. A culpa foi minha. E também fiz que nós nos perdêssemos. Nem sequer consegui encontrar a Muralha. Tem cem léguas de comprimento e duzentos metros de altura, e não consegui encontrá-la!
    - Bem, agora encontrou - disse Meera. - Levante o traseiro do chão, quero a minha rede de volta.
    - Como foi que atravessou a Muralha? - quis saber Jojen enquanto Sam lutava para se levantar. - O poço leva a um rio subterrâneo, foi daí que veio? Nem sequer está úmido...
    - Há um portão - disse o gordo Sam. - Um portão escondido, tão velho quanto a própria Muralha. Ele chamou-o de Portão Negro.
    Os Reed trocaram um olhar.
    - Encontramos esse portão no fundo do poço? - perguntou Jojen.
    Sam sacudiu a cabeça.
    - Vocês não. Eu vou ter de levá-los.
    - Por quê? - quis saber Meera. - Se há um portão...
    - Não o encontrarão. Se o encontrassem, ele não se abriria. Para vocês não. E o Por¬tão Negro. - Sam puxou a desbotada lã negra de sua manga. - Só pode ser aberto por um homem da Patrulha da Noite, disse ele. Um Irmão Juramentado que tenha proferido suas palavras.
    - Disse ele. - Jojen franziu a testa. - Este... Mãos-Frias?
    - Esse não é seu verdadeiro nome - disse Goiva, embalando o bebê. - E só um nome que nós demos para ele, o Sam e eu. As mãos dele eram frias como gelo, mas salvou-nos dos mortos, ele e seus corvos, e trouxe-nos para cá no seu alce.
    - O seu alce? - disse Bran, pasmo.
    - O seu alce? - disse Meera, sobressaltada.
    - Os seus corvos? - disse Jojen,
    - Hodor? - disse Hodor.
    - Ele era verde? - Bran quis saber. - Tinha chifres?
    O gordo mostrou-se confuso.
    -O alce?
    - O Mãos-Frias - disse Bran com impaciência. - Os homens verdes montam alces, costumava dizer a Velha Ama. Às vezes também têm chifres.
    -Ele não era um homem verde. Usava panos negros, como um irmão da Patrulha, mas era pálido como uma criatura, com mãos tão frias que a princípio tive medo, Mas as criaturas têm olhos azuis, e não têm línguas, ou então esqueceram-se de como usá-las, - O gordo virou-se para Jojen, - Ele deve estar à espera. Devíamos ir. Têm alguma coisa mais quente para vestir? O Portão Negro é frio, e o outro lado da Muralha é ainda mais frio. Vocês...
    - Por que foi que ele não veio com você? - Meera fez um gesto na direção de Goiva e do bebê. - Eles vieram com você, por que é que ele não veio? Por que foi que não o trouxe também por esse Portão Negro?
    - Ele... ele não pode,
    - Por quê?
    - A Muralha. Disse-nos que a Muralha é mais do que apenas gelo e pedra. Tem feitiços nela urdidos... feitiços antigos, e fortes. Não pode passar para o outro lado da Muralha.
    Então caiu um silêncio muito grande sobre a cozinha do castelo. Bran ouvia o su¬ave crepitar das chamas, o vento agitando as folhas na noite, os rangidos do esquálido represeiro que se estendia para a lua."Do outro lado dos portões vivem os monstros, e também os gigantes e os vampiros", lembrou-se de ouvir a Velha Ama dizer, "mas não podem passar enquanto a Muralha se mantiver forte. Portanto vá dormir, meu pequeno Brandon, meu garotinho". Não tenho nada a temer. Aqui não há monstros,
    - Não sou eu quem lhe disseram para trazer - disse Jojen Reed ao gordo Sam em seus trajes negros, manchados e largos. - E e/e.
    - Oh. - Sam olhou-o com incerteza. Talvez só então tivesse percebido que Bran era aleijado. - Eu não... não sou suficientemente forte para levá-lo, eu...
    - O Hodor pode me levar. - Bran apontou para o cesto. - Eu ando naquilo, nas cos¬tas dele.
    Sam estava a encará-lo.
    - É o irmão de Jon Snow. Aquele que caiu...
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:17 pm

    - Não - disse Jojen. - Aquele garoto está morto.
    - Não conte - avisou Bran. - Por favor.
    Sam pareceu confuso por um momento, mas por fim disse:
    - Eu... eu sei guardar um segredo. A Goiva também. - Quando olhou para ela, a garota confirmou com a cabeça. - O Jon... o Jon também era meu irmão, Foi o melhor amigo que já tive, mas partiu com Qhorin Meia-Mão para bater as Presas de Gelo e não voltou. Estávamos à espera dele no Punho quando... quando...
    - Jon está aqui - disse Bran. - Verão o viu. Estava com um grupo de selvagens, mas eles mataram um homem e Jon pegou o cavalo dele e fugiu. Aposto que foi para Castelo Negro.
    Sam virou seus olhos grandes para Meera,
    - Tem certeza de que era Jon? Viu-o?
    - Sou a Meera - disse Meera com um sorriso. - Verão é...
    Uma sombra desprendeu-se da cúpula quebrada lá em cima e saltou através do luar. Apesar da pata ferida, o lobo aterrissou leve e silencioso como um floco de neve. A garota chamada Goiva soltou um ruído assustado e apertou o bebê com tanta força contra si que ele começou a chorar de novo.
    - Ele não vai fazer mal a vocês - disse Bran. - Este é o Verão.
    - Jon disse que todos vocês tinham lobos. - Sam tirou uma luva. - Eu conheço o Fantasma. - Estendeu uma mão trêmula, com dedos brancos, moles e gordos como pe¬quenas salsichas. Verão aproximou-se, farejou-os e deu uma lambida em sua mão.
    Foi então que Bran se decidiu.
    - Vamos com você.
    - Todos vocês? - Sam pareceu surpreso com a idéia,
    Meera despenteou os cabelos de Bran.
    - Ele é o nosso príncipe.
    Verão deu a volta no poço, farejando. Fez uma pausa no degrau superior e olhou para Bran. Ele quer ir.
    - Goiva ficará a salvo se deixá-la aqui até voltar? - perguntou-lhes Sam.
    - Deve ficar - disse Meera. - É bem-vinda à nossa fogueira.
    Jojen disse:
    - O castelo está vazio.
    Goiva olhou em volta.
    - Craster costumava nos contar histórias de castelos, mas não sabia que eram tão grandes.
    Isto são só as cozinhas. Bran perguntou a si mesmo o que ela pensaria quando visse Winterfell, se chegasse a vê-lo.
    Demoraram alguns minutos para reunir suas coisas e içar Bran para a cadeira de vime às costas de Hodor. Quando ficaram prontos para partir, Goiva estava sentada junto à fogueira, dando de mamar ao bebê.
    - Vai voltar para mim - ela disse a Sam,
    - Assim que puder - ele prometeu - e depois vamos para um lugar quente. - Quan¬do ouviu aquilo, parte de Bran questionou-se sobre o que estava fazendo. Será que volta¬rei para um lugar quente?
    - Eu vou na frente, conheço o caminho. - Sam hesitou no topo. - Mas há tantos degraus - suspirou, antes de começar a descer. Jojen seguiu-o, depois ia Verão, depois Hodor com Bran de cavalinho. Meera colocou-se na retaguarda, com a lança e a rede na mão.
    Foi uma longa descida. O topo do poço estava banhado em luar, mas ele tornava-se mais estreito e mais sombrio a cada volta que davam. Os passos ecoavam nas pedras úmi¬das, e os sons de água foram ficando mais altos.
    - Devíamos ter trazido tochas? - perguntou Jojen,
    - Seus olhos vão se ajustar - disse Sam, - Mantenham uma mão na parede, e não cairão.
    O poço tornava-se mais escuro e mais frio a cada volta. Quando Bran finalmente er¬gueu a cabeça para olhar para cima, a boca do poço já não parecia maior do que meia lua ."Hodor", sussurrou Hodor"Hodorhodorhodorhodorhodorhodor", murmurou o poço em resposta. Os sons de água estavam próximos, mas quando Bran espiou para baixo, viu apenas negrume.
    Uma volta ou duas mais tarde, Sam parou de repente. Estava a um quarto de volta de Bran e Hodor, e dois metros mais abaixo, mas Bran quase não o via. Mas via a porta. O Portão Negro, chamara-lhe Sam, mas não era nada negro.
    Era represeiro branco, e havia nele um rosto.
    Um brilho saía da madeira, como leite e luar, tão fraco que mal parecia tocar em qual¬quer coisa além da porta propriamente dita, nem sequer em Sam, que estava bem na sua frente. O rosto era velho e pálido, enrugado e encolhido. Parece morto. A boca estava fechada e os olhos também; as faces eram encovadas, a testa mirrada, o queixo caído. Se um homem pudesse viver durante mil anos e não morrer, mas apenas tornar-se mais velho, seu rosto acabaria parecido com este.
    A porta abriu os olhos.
    Também eram brancos, e cegos.
    - Quem é? - perguntou a porta, e o poço sussurrou, "Quem-quem-quem-quem-quem- -quem-quem."
    - Sou a espada na escuridão - disse Samwell Tarly, - Sou o vigilante nas muralhas, Sou o fogo que arde contra o frio, a luz que traz consigo a alvorada, a trombeta que acor¬da os que dormem. Sou o escudo que defende os reinos dos homens.
    - Então passe - disse a porta. Seus lábios se abriram, se abriram, se abriram e se abri¬ram ainda mais, até que nada restou a não ser uma grande boca escancarada, rodeada por um anel de rugas.
    Sam desviou-se e fez sinal para que Jojen passasse na sua frente. Seguiu-se Verão, farejando enquanto seguia, e depois foi a vez de Bran. Hodor abaixou-se, mas não o su¬ficiente. O lábio superior da porta raspou suavemente no topo da cabeça de Bran, e um pingo de água caiu sobre ele e escorreu lentamente por seu nariz. Estava estranhamente quente, e era salgada como uma lágrima.
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:19 pm

    Daenerys 666




    Meereen era tão grande quanto Astapor e Yunkai juntas. Tal como suas cidades- -irmãs, tinha sido construída de tijolos, mas enquanto Astapor era vermelha e Yunkai amarela, Meereen era feita de tijolos de muitas cores. Suas muralhas eram mais altas do que as de Yunkai e estavam em melhor estado, pontilhadas por baluartes e fi¬xadas em grandes torres defensivas em todos os ângulos. Por trás delas via-se o topo da Grande Pirâmide, enorme contra o céu, uma coisa monstruosa com duzentos e cinqüen¬ta metros de altura e uma altaneira harpia de bronze no topo.
    - A harpia é uma coisa covarde - disse Daario Naharis quando a viu. - Tem coração de mulher e pernas de galinha. Pouco admira que seus filhos se escondam atrás de muralhas.
    Mas o herói não se escondia. Atravessou os portões da cidade, revestido de escamas de cobre e azeviche e montado num corcel branco, cujos jaezes listrados de rosa e branco combinavam com o manto de seda que flutuava dos ombros do homem. A lança que tra¬zia tinha quatro metros e vinte de comprimento, pintada numa espiral de rosa e branco, e seus cabelos haviam sido esculpidos, penteados e laqueados, tomando a forma de dois chifres recurvos de carneiro. Cavalgou de um lado para o outro à sombra das muralhas de tijolos multicoloridos, desafiando os sitiantes a enviar um campeão que o defrontasse em combate singular.
    Os companheiros de sangue de Dany estavam numa tal febre de ir ao seu encontro que quase começaram a lutar uns contra os outros.
    - Sangue do meu sangue - ela disse-lhes -, o lugar de vocês é aqui ao meu lado. Este homem é uma mosca zumbidora, nada mais. Ignorem-no, depressa irá embora. - Aggo, Jhogo e Rakharo eram bravos guerreiros, mas eram jovens, e valiosos demais para arris¬car. Mantinham seu khalasar unido, e também eram seus melhores batedores.
    - Isso foi sensato - disse Sor Jorah enquanto observavam o homem da porta do seu pavilhão. - Que o idiota ande de um lado para o outro aos gritos até que o cavalo fique coxo. Não nos faz nenhum mal.
    - Faz - insistiu Arstan Barba-Branca, - As guerras não são ganhas só com espadas e lanças, sor. Duas tropas de igual força podem se enfrentar, mas uma quebrará e fugirá en¬quanto a outra resiste. Este herói fortalece a coragem no coração de seus homens e planta as sementes da dúvida nos nossos.
    Sor Jorah fungou.
    - E se o nosso campeão perdesse, que tipo de semente isso plantaria?
    - Um homem que teme a batalha não conquista vitórias, sor.
    - Não estamos falando de batalhas. Os portões de Meereen não se abrirão se aquele palerma cair. Por que arriscar uma vida por nada?
    - Pela honra, diria eu.
    - Já ouvi o suficiente. - Dany não precisava somar as discussões daqueles dois a todos os outros problemas que a afligiam. Meereen apresentava perigos bem mais sérios do que um herói cor-de-rosa e branco gritando insultos, e não podia se permitir distrações. Após Yunkai, sua tropa era constituída por mais de oitenta mil pessoas, mas menos de um quarto dela eram soldados. O resto... bem, Sor Jorah chamava-os de bocas com pés, e em breve estariam passando fome.
    Os Grandes Mestres de Meereen tinham se retirado diante do avanço de Dany, co¬lhendo tudo o que podiam e queimando o que não conseguiam colher. Por todo lado, a tropa de Dany fora recebida por campos carbonizados e poços envenenados. E o pior era que os meereeneses tinham pregado uma criança escrava em cada marco quilométrico ao longo da estrada costeira que vinha de Yunkai; tinham-nas pregado ainda vivas, com as entranhas saltando da barriga e sempre um braço estendido apontando o caminho para Meereen. A frente de sua vanguarda, Daario tinha dado ordens para que retirassem as crianças dos marcos antes que Dany fosse obrigada a vê-las, mas ela o desautorizou as¬sim que foi informada disso.
    - Eu quero vê-las - disse. - Quero ver cada uma delas, contá-las, e olhar seus rostos. E vou me lembrar.
    Quando chegaram a Meereen, erguida na costa salgada ao lado de seu rio, a conta¬gem somava cento e sessenta e três. Eu terei esta cidade, jurou Dany para si mesma mais uma vez.
    O herói cor-de-rosa e branco levou uma hora provocando os sitiantes, zombando de sua virilidade, das mães, esposas e deuses. Os defensores de Meereen incentivavam-no a partir das muralhas da cidade.
    - O nome dele é Oznak zo Pahl - disse-lhe o Ben Mulato Plumm quando chegou para o conselho de guerra. Era o novo comandante dos Segundos Filhos, escolhido pelo voto de seus mercenários. - Fui guarda-costas do tio dele, antes de me juntar aos Se¬gundos Filhos. Os Grandes Mestres... que maduro monte de vermes. As mulheres não eram muito más, embora olhar para a mulher errada da maneira errada custasse a vida. Conheci um homem, o Scarb, esse Oznak arrancou-lhe o fígado. Disse que estava defen¬dendo a honra de uma senhora, ah, sim, disse que o Scarb a tinha violado com os olhos. Como é que se viola uma mulher com os olhos, pergunto? Mas o tio dele é o homem mais rico de Meereen e o pai comanda a guarda da cidade, por isso tive de fugir como uma ratazana antes que me matasse também.
    Viram Oznak zo Pahl desmontar de seu corcel branco, desatar a túnica, puxar o membro viril para fora e dirigir um jato de urina na direção geral do bosque de oliveiras onde o pavilhão dourado de Dany se erguia no meio das árvores queimadas. Ainda esta¬va urinando quando Daario Naharis chegou a cavalo, de arakh na mão.
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:19 pm

    - Devo cortar aquilo em seu nome e enfiar goela dele abaixo, Vossa Graça? - seu den¬te brilhava, dourado, no meio do azul de sua barba bifurcada.
    - É a sua cidade que eu quero, não o seu pequeno membro. - Mas estava se irritando. Se continuar ignorando isso, meu próprio povo vai me julgar fraca.
    Mas quem podia enviar? Precisava tanto de Daario como de seus companheiros de sangue, Sem o extravagante tyroshi, não tinha controle sobre os Corvos Tormentosos, muitos dos quais tinham sido seguidores de Prendahl na Ghezn e Sallor, o Calvo.
    No alto das muralhas de Meereen, as zombarias tinham se tornado mais ruidosas, e agora centenas dos defensores estavam seguindo o exemplo do herói e urinavam de cima das muralhas para demonstrar o desprezo que sentiam pelos sitiantes. Estão urinando sobre escravos, para mostrar o pouco que nos temem, pensou. Nunca se atreveriam a tal coisa se o que estivesse em volta de suas muralhas fosse um khalasar dothraki.
    - Esse desafio deve ser enfrentado - voltou a dizer Arstan.
    - E será - disse Dany, enquanto o herói guardava o pênis. - Diga a Belwas, o Forte, que preciso dele.
    Foram encontrar o enorme eunuco pardo sentado à sombra do pavilhão de Dany, comendo uma salsicha. Terminou-a em três dentadas, limpou as mãos engorduradas nas calças e ordenou a Arstan Barba-Branca que fosse buscar suas armas. O idoso escudeiro afiava o arakh de Belwas todas as noites e esfregava-o com óleo vermelho vivo.
    Quando Barba-Branca trouxe a espada, Belwas, o Forte, examinou o gume, soltou um grunhido, enfiou a lâmina de volta na bainha de couro e atou o cinto da espada em volta de sua vasta cintura. Arstan também tinha lhe trazido o escudo: um disco redondo de aço não maior do que uma fôrma de torta, que o eunuco segurava com a mão livre em vez de prender ao braço à maneira de Westeros.
    - Arranje fígado e cebolas, Barba-Branca - disse Belwas. - Não para agora; para de¬pois. Matar deixa Belwas, o Forte, com fome. - Não esperou resposta e saiu pesadamente do bosque de oliveiras na direção de Oznak zo Pahl.
    - Por que aquele, khaleesi? - perguntou-lhe Rakharo. - Ele é gordo e estúpido.
    - Belwas, o Forte, foi escravo aqui nas arenas de luta. Se este bem-nascido Oznak cair perante um homem como ele, os Grandes Mestres ficarão cobertos de vergonha, ao passo que se vencer... bem, seria uma vitória fraca para alguém tão nobre, uma vitória da qual Meereen não poderá obter orgulho. - E ao contrário de Sor Jorah, Daario, Ben Mulato e seus três companheiros de sangue, o eunuco não liderava tropas, não planejava batalhas e não lhe dava conselhos. Ele nada faz além de comer, gabar-se e berrar para Arstan, Belwas era o homem que mais facilmente podia dispensar. E era hora de saber que tipo de prote¬tor o Magíster Illyrio tinha lhe enviado.
    üm clamor de excitação percorreu as linhas de sítio quando Belwas foi visto se deslo¬cando lentamente na direção da cidade, e das muralhas e torres de Meereen vieram gritos e zombarias. Oznak zo Pahl voltou a montar, e esperou, com a lança listrada erguida. O corcel sacudiu impacientemente a cabeça e escavou a terra arenosa. Apesar de tão maciço, o eunuco parecia pequeno ao lado do herói no seu cavalo.
    - Um homem cavalheiresco desmontaria - disse Arstan.
    Oznak zo Pahl baixou a lança e avançou.
    Belwas parou com as pernas bem afastadas. Numa mão tinha o pequeno escudo re¬dondo e na outra, o arakh curvo de que Arstan cuidava com tanto cuidado. Sua grande barriga parda e o peito curvo estavam nus por cima da faixa de seda amarela atada em volta da cintura, e não usava armadura além do colete tachonado de couro, tão absurda¬mente pequeno que nem sequer cobria seus mamilos.
    - Devíamos ter lhe dado cota de malha - disse Dany, de súbito ansiosa.
    - A cota de malha só o atrasaria - disse Sor Jorah. - Nas arenas de luta não usam armaduras. O que a multidão corre para ver é sangue.
    Voou poeira dos cascos do corcel branco. Oznak trovejou na direção de Belwas, o Forte, com o manto listrado escorrendo de seus ombros. A cidade de Meereen inteira parecia estar incentivando-o com gritos. As aclamações dos sitiantes pareciam poucas e frágeis se comparadas; os Imaculados de Dany mantinham-se em fileiras silenciosas, observando com rostos de pedra. Belwas podia ter também sido feito de pedra. Perma¬neceu imóvel no caminho do cavalo, com o traje bem apertado nas costas largas. A lança de Oznak foi apontada ao centro de seu peito. A brilhante ponta de aço da arma piscava à luz do sol. Ele vai ser empalado, pensou Dany... no momento em que o eunuco girou para o lado. E, depressa como um piscar de olhos, o cavaleiro estava atrás dele, virando, levantando a lança. Belwas não fez qualquer movimento para atacá-lo. Os meereeneses nas muralhas gritaram ainda mais alto.
    - O que ele está fazendo? - quis saber Dany.
    - Está dando espetáculo à multidão - disse Sor Jorah.
    Oznak fez com que o cavalo rodeasse Belwas num largo círculo, após o que lhe en¬terrou as esporas no flanco e voltou a avançar. De novo Belwas esperou, e depois girou e afastou a ponta da lança. Dany ouviu a gargalhada trovejante do eunuco ecoar na planície quando o herói passou batido por ele.
    - A lança é longa demais - disse Sor Jorah. - Tudo que Belwas tem de fazer é evitar a ponta. Em vez de tentar atravessá-lo tão esteticamente, o palerma devia simplesmente atropelá-lo.
    Oznak zo Pahl carregou uma terceira vez, e agora Dany via claramente que ele esta¬va passando por Belwas, como um cavaleiro de Westeros investiria sobre um adversário numa justa, em vez de sobre ele, como um dothraki atacaria um inimigo. O terreno plano permitia que o corcel ganhasse uma boa velocidade, mas também tornava mais fácil para o eunuco esquivar-se da pesada lança de quatro metros,
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:19 pm

    Da vez seguinte, o herói rosa e branco de Meereen tentou agir por antecipação, e vi¬rou a lança para o lado no último segundo para apanhar Belwas, o Forte, quando ele se esquivasse. Mas o eunuco também tinha antecipado essa tática, e dessa vez abaixou-se em vez de girar para o lado. A lança passou inofensivamente por cima de sua cabeça. E de repente Belwas estava rolando e brandindo o arakh afiado como uma navalha num arco de prata. Ouviram o corcel gritar quando a lâmina mordeu suas patas, e então o cavalo caiu, e o herói tombou da sela.
    Um súbito silêncio varreu os parapeitos de tijolo de Meereen. Agora era o povo de Dany que gritava e o aclamava.
    Oznak saltou para longe do cavalo e conseguiu puxar a espada antes que Belwas, o Forte, caísse sobre ele. Aço cantou contra aço, rápida e furiosamente demais para Dany seguir os golpes. Não podiam ter se passado uma dúzia de segundos antes de o peito de Belwas ficar lavado em sangue, de um corte sofrido abaixo do peitoral, e de Oznak zo Pahl ter um arakh enfiado bem entre seus chifres de carneiro. O eunuco soltou a lâmina e separou a cabeça do herói de seu corpo com três violentos golpes no pescoço, Segurou-a bem alto para que os meereeneses vissem, e em seguida a atirou na direção dos portões da cidade, fazendo-a quicar e rolar pela areia.
    - E lá se foi o herói de Meereen - disse Daario, rindo.
    - Uma vitória sem significado - preveniu Sor Jorah. - Não conquistaremos Meereen matando seus defensores um de cada vez.
    - Pois não - concordou Dany -, mas estou feliz por termos matado este.
    Os defensores nas muralhas começaram a disparar suas bestas contra Belwas, mas os dardos não alcançavam o eunuco ou deslizavam inofensivamente pelo chão. Belwas virou as costas à chuva com pontas de aço, baixou as calças, acocorou-se e cagou na dire¬ção da cidade. Limpou-se com o manto listrado de Oznak e teve tempo para saquear o cadáver do herói e abater o cavalo moribundo antes de caminhar pesadamente de volta ao bosque de oliveiras.
    Os sitiantes deram-lhe sonoras boas-vindas assim que chegou ao acampamento. Os dothraki riram e gritaram, e os Imaculados produziram um grande clangor batendo com as lanças nos escudos.
    - Muito bem - disse-lhe Sor Jorah.
    Ben Mulato atirou ao eunuco uma ameixa madura e disse:
    - Um fruto doce por uma doce luta.
    Até as aias dothraki de Dany tiveram palavras de elogio:
    - Queríamos trançar seus cabelos e pendurar uma sineta neles, Belwas, o Forte - dis¬se Jhiqui -, mas não tem cabelos para trançarmos.
    - Belwas, o Forte, não precisa de sinetas tilintantes. - O eunuco comeu a ameixa de Ben Mulato com quatro grandes mordidas e jogou fora o caroço. - Belwas, o Forte, pre¬cisa de fígado e cebolas.
    - Vai tê-los - disse Dany. - Belwas, o Forte, está ferido. - O eunuco tinha a barriga vermelha do sangue que brotava do golpe sob o peito carnudo.
    - Não é nada. Deixo sempre que me cortem uma vez, antes de matá-los. - Deu uma palmada na barriga ensangüentada. - Conte os cortes e saberá quantos homens Belwas, o Forte, matou.
    Mas Dany tinha perdido Khal Drogo devido a um ferimento semelhante, e não esta¬va disposta a deixar aquele sem tratar. Ordenou a Missandei que fosse buscar um certo liberto yunkaita, famoso por seus conhecimentos nas artes curativas. Belwas urrou e pro¬testou, mas Dany repreendeu-o e chamou-o de grande bebê careca até que ele permitiu que o curandeiro estancasse a ferida com vinagre, desse pontos e enfaixasse o peito com faixas de linho ensopadas em vinho ardente. Só depois levou seus capitães e comandan¬tes para dentro do pavilhão para um conselho.
    - Tenho de conquistar esta cidade - disse-lhes, sentando-se de pernas cruzadas numa pilha de almofadas, rodeada pelos dragões. Irri e Jhiqui serviram vinho. - Seus celeiros estão transbordando de cheios. Há figos, tâmaras e azeitonas crescendo nos terraços de suas pirâmides, e barris de peixe salgado e carne defumada enterrados em seus porões.
    - E também gordas arcas de ouro, prata e pedras preciosas - lembrou-lhes Daario. - Não nos esqueçamos das pedras preciosas.
    -Eu examinei as muralhas viradas para terra firme e não vi nenhum ponto fraco - disse Sor Jorah Mormont. - Com tempo, poderíamos conseguir minar por baixo de uma torre e abrir uma brecha, mas o que comeremos enquanto escavamos? Nossas reservas estão praticamente exauridas.
    - Não há pontos fracos nas muralhas virados para terra firmei - disse Dany. Meereen erguia-se numa saliência de areia e pedra onde o lento e marrom Skahazadhan desembo¬cava na Baía dos Escravos. A muralha norte da cidade corria ao longo da margem do rio, a muralha oeste ao longo da costa da baía. - Isso significa que poderíamos atacar a partir do rio ou do mar?
    - Com três navios? Vamos querer que o Capitão Groleo examine bem a muralha ao longo do rio, mas a menos que esteja em ruínas, isso é apenas uma maneira mais molhada de morrer,
    - E se construíssemos torres de cerco? Meu irmão Viserys contava histórias de coisas assim, sei que podem ser construídas.
    - De madeira, Vossa Graça - disse Sor Jorah. - Os senhores de escravos queimaram todas as árvores num raio de vinte léguas. Sem madeira, não temos trabucos para esma¬gar as muralhas, não temos escadas para passarmos por cima delas, não temos torres de cerco, não temos tartarugas e não temos aríetes. Podemos atacar os portões com macha¬dos, certamente, mas.,.
    - Viu aquelas cabeças de bronze por cima dos portões? - perguntou Ben Mulato Plumm, - Fileiras de cabeças de harpia de boca aberta? Os meereeneses podem esgui¬char azeite fervente por esses bocas e cozinhar os seus homens ali mesmo,
    Daario Naharis dirigiu a Verme Cinzento um sorriso,
    - Talvez os Imaculados devessem manejar os machados. Azeite fervente para vocês não é mais do que um banho quente, segundo ouvi dizer.
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:19 pm

    - Isso é falso. - Verme Cinzento não devolveu o sorriso. - Estes não sentem as queima¬duras como os homens sentem, mas esse azeite cega e mata. Contudo, os Imaculados não temem morrer. Dê a estes aríetes, e derrubamos aqueles portões ou morremos tentando.
    - Morreriam - disse Ben Mulato. Em Yunkai, quando tinha recebido o comando dos Segundos Filhos, afirmou ser um veterano de uma centena de batalhas. "Embora não possa dizer que tenha lutado bravamente em todas elas. Existem mercenários ve¬lhos e mercenários ousados, mas não há mercenários velhos e ousados." Ela via que isso era verdade.
    Dany suspirou.
    - Não desperdiçarei a vida de Imaculados, Verme Cinzento. Talvez possamos derro¬tar a cidade pela fome.
    Sor Jorah fez uma expressão infeliz.
    - Nós passaremos fome muito antes deles, Vossa Graça. Aqui não há alimentos, nem forragem para nossas mulas e cavalos. Também não gosto da água desse rio. Meereen evacua no Skahazadhan, mas retira a sua água de beber de poços profundos. Já temos relatos de doença nos acampamentos, febre, castanheira e três casos de diarréia sangui- nolenta, Haverá mais se ficarmos aqui. Os escravos estão enfraquecidos pela marcha.
    - Libertos - corrigiu Dany. - Eles já não são escravos.
    - Escravos ou livres, têm fome e em breve estarão doentes. A cidade está mais bem aprovisionada do que nós e pode ser reabastecida por via aquática. Seus três navios não são suficientes para lhes negar acesso tanto ao rio quanto ao mar.
    - Então o que aconselha, Sor Jorah?
    - Não gostará de ouvir.
    - Quero ouvir mesmo assim.
    - Como quiser. Digo que deixemos esta cidade em paz. Não pode libertar todos os escravos do mundo, khaleesi. Sua guerra é em Westeros.
    - Não me esqueci de Westeros. - Certas noites Dany sonhava com aquela terra le¬gendária que nunca vira. - Mas se deixar que as velhas muralhas de tijolo de Meereen me derrotem tão facilmente, como poderei conquistar os grandes castelos de pedra de Westeros?
    - Como Aegon conquistou - disse Sor Jorah. - Com fogo. Quando chegarmos aos Sete Reinos, seus dragões já terão crescido. E teremos também torres de cerco e tra¬bucos, tudo aquilo de que não dispomos aqui... mas o caminho através das Terras do Longo Verão é longo e duro, e há perigos que não podemos conhecer. A senhora parou em Astapor para comprar um exército, não para começar uma guerra. Guarde as lanças e espadas para os Sete Reinos, minha rainha. Deixe Meereen para os meereeneses e marche para oeste em direção a Pentos.
    - Derrotada? - disse Dany, irritando-se.
    - Quando os covardes se escondem atrás de grandes muralhas, são eles os derrotados, khaleesi - disse Ko Jhogo.
    Os outros companheiros de sangue concordaram,
    - Sangue do meu sangue - disse Rakharo quando os covardes se escondem e quei¬mam a comida e a forragem, os grandes khals têm de procurar inimigos mais corajosos. E sabido.
    - E sabido - concordou Jhiqui, enquanto servia o vinho.
    - Não por mim. - Dany prezava grandemente os conselhos de Sor Jorah, mas dei¬xar Meereen intacta era mais do que conseguia suportar. Não era capaz de se esquecer das crianças em seus postes, com as aves devorando suas entranhas, seus braços magros apontando para a estrada costeira. - Sor Jorah, diz que não nos resta comida. Se eu mar¬char para oeste, como conseguirei alimentar os meus libertos?
    - Não conseguirá. Lamento, khaleesi. Eles terão de arranjar alimentos para si pró¬prios, ou passarão fome, Muitos e muitos mais ainda morrerão ao longo da marcha, é verdade. Será duro, mas não há maneira de salvá-los. Precisamos pôr esta terra calcinada bem para trás de nós,
    Dany deixou um rastro de cadáveres atrás de si quando atravessou o deserto verme¬lho. Era algo que não queria voltar a ver.
    - Não - disse, - Não levarei meu povo para a morte. - Os meus filhos. - Tem de haver alguma maneira de entrar nesta cidade.
    - Eu conheço uma maneira. - Ben Mulato Plumm afagou sua barba salpicada de cinza e branco. - Esgotos.
    - Esgotos? O que quer dizer?
    - Grandes esgotos de tijolo desembocam no Skahazadhan, despejando os dejetos da cidade. Podem ser uma maneira de entrar, para alguns homens. Foi assim que fugi de Meereen, depois de Scarb ficar sem cabeça. - Ben Mulato fez uma careta. - O cheiro nunca me abandonou. Às vezes sonho com ele.
    Sor Jorah fez uma expressão de dúvida.
    - E mais fácil sair do que entrar, tendo a acreditar. Esses esgotos desembocam no rio, você diz? Isso quer dizer que as desembocaduras estão logo abaixo das muralhas.
    - E fechadas com grades de ferro - admitiu Ben Mulato -, se bem que algumas fo¬ram comidas pela ferrugem, caso contrário eu teria me afogado em merda. Uma vez lá dentro, é uma longa e malcheirosa subida numa escuridão de breu através de um labirin¬to de tijolo onde um homem pode se perder para sempre. A sujeira nunca fica abaixo da cintura, e pode subir acima da cabeça, julgando pelas manchas que vi nas paredes. E tam¬bém há coisas lá embaixo. As maiores ratazanas que você já viu, e coisas piores. Nojentas.
    Daario Naharis soltou uma gargalhada.
    - Tão nojentas como você, quando saiu de lá? Se algum homem fosse suficientemente tolo para tentar uma coisa dessas, todos os feitores de Meereen conseguiriam cheirá-lo no momento em que emergisse.
    Ben Mulato encolheu os ombros.
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:19 pm

    - Sua Graça perguntou se havia uma maneira de entrar, então eu disse... mas Ben Plumm não volta àqueles esgotos, nem por todo o ouro dos Sete Reinos. No entanto, se houver outros que queiram tentar, força.
    Aggo, Jhogo e Verme Cinzento tentaram falar ao mesmo tempo, mas Dany levantou uma mão para pedir silêncio.
    - Esses esgotos não parecem promissores, - Sabia que Verme Cinzento levaria seus Imaculados pelos esgotos se ela ordenasse; os companheiros de sangue não fariam me¬nos. Mas nenhum deles era adequado para a tarefa. Os dothraki eram cavaleiros, e a força dos Imaculados residia em sua disciplina no campo de batalha. Posso enviar homens para morrer no meio das trevas com base numa esperança tão frágil? - Tenho de pensar um pou¬co mais sobre isso. Voltem aos seus deveres.
    Seus capitães fizeram reverências e deixaram-na sozinha com as aias e os dragões. Mas no momento em que Ben Mulato saía, Viserion abriu suas asas brancas e esvoaçou indolentemente na direção de sua cabeça. Uma das asas esbofeteou o mercenário no ros¬to. O dragão branco aterrissou desajeitadamente com uma pata na cabeça do homem e a outra no seu ombro, guinchou e voltou a levantar voo.
    - Ele gosta de você, Ben - disse Dany.
    - E tem razões para isso. - Ben Mulato soltou uma gargalhada. - Eu tenho cá uma gotinha de sangue de dragão, sabia?
    - Você? - Dany estava surpresa. Plumm era uma criatura das companhias livres, um amigável mestiço. Tinha um largo rosto pardo, um nariz quebrado e uma cabeça cheia de cabelos grisalhos crespos, e sua mãe dothraki legara-lhe olhos grandes, escuros e amen- doados. Dizia ser em parte bravosi, em parte ilhéu-do-verão, em parte ibenês, em parte qohorik, em parte dothraki, em parte dornês e em parte westerosi, mas aquela era a pri¬meira vez que Dany ouvia falar de sangue Targaryen, Dirigiu-lhe um olhar perscrutador e perguntou: - Como isso seria possível?
    - Bem - disse Ben Mulato houve um velho Plumm nos Reinos do Poente que casou com uma princesa do dragão. Minha avó contou-me a história. Viveu nos tempos do Rei Aegon.
    - Qual dos Reis Aegon? - perguntou Dany. - Houve cinco Aegons governando Wes¬teros. - O filho do irmão teria sido o sexto, mas os homens do Usurpador tinham esma¬gado a cabeça dele contra uma parede.
    - Ah, houve cinco? Bem, isso é uma confusão. Não saberia lhe dar um número, mi¬nha rainha. Mas esse velho Plumm era um senhor, deve ter sido um cara famoso nos seus tempos, falado por todos os lados. O caso é, com a sua real licença, que ele tinha um pinto de dezoito decímetros.
    As três sinetas na trança de Dany tilintaram quando ela riu.
    - Quer dizer centímetros, creio eu.
    - Decímetros - disse firmemente Ben Mulato. - Se fossem centímetros, quem se preocuparia em falar dele, Vossa Graça?
    Dany riu como uma garotinha.
    - Sua avó alegou ter visto esse prodígio?
    - Isso foi coisa que a velha bruxa não fez. Era meio ibenesa e meio qohorik, nun¬ca esteve em Westeros, meu avô deve ter lhe contado a história. Um dothraki qualquer matou-o antes de eu nascer.
    - E de onde veio o conhecimento de seu avô?
    - Uma daquelas histórias contadas em família, suponho. - Ben Mulato encolheu os ombros. - Receio que seja tudo que sei de Aegon, o Sem-Número, ou do poderoso membro do velho Lorde Plumm. E melhor ir tratar de meus Filhos.
    - Trate disso - disse-lhe Dany.
    Quando Ben Mulato saiu, recostou-se nas almofadas.
    - Se você fosse grande - disse a Drogon, coçando-o entre os cornos - eu voaria com você por sobre as muralhas e transformaria aquela harpia em cinzas. - Mas ainda faltavam anos até que seus dragões fossem suficientemente grandes para serem montados. E quando forem, quem os montará? O dragão tem três cabeças, mas eu só tenho uma. Pensou em Daario. Se alguma vez existiu um homem capaz de violar uma mulher com os olhos...
    Na verdade, ela era igualmente culpada. Dany dava por si lançando olhares ao tyroshi quando seus capitães vinham aos conselhos, e às vezes, de noite, recordava o modo como o dente de ouro cintilava quando ele sorria. Isso, e seus olhos. Seus brilhantes olhos azuis. Na estrada de Yunkai, Daario trouxe-lhe todas as noites, quando vinha fazer o relatório, uma flor, um broto ou uma planta qualquer... para ajudá-la a conhecer aquela terra, di¬zia. Vespalgueiro, rosa-penumbrosa, hortelã silvestre, renda-de-senhora, folha-de-adaga, giesteira, comichosa, ouro-de-harpia... E tentou me poupar da visão das crianças mortas. Não devia ter feito isso, mas a intenção era bondosa» E Daario Naharis fazia-a rir, o que Sor Jorah nunca fazia.
    Dany tentou imaginar como seria permitir que Daario a beijasse, como Jorah a beijara no navio. A idéia era ao mesmo tempo excitante e perturbadora. E arriscado demais. O mercenário tyroshi não era um homem bom, ninguém precisava lhe contar isso. Sob os sorrisos e gracejos era perigoso, até cruel. Sallor e Prendahl tinham acordado uma ma¬nhã como seus parceiros; nessa mesma noite, oferecera-lhe a cabeça deles. Khal Drogo também podia ser cruel, e nunca existiu homem mais perigoso. Mesmo assim, acabou por amá-lo. Poderia amar Daario? O que isso significaria, se o trouxesse para a minha cama? Isso faria dele uma das cabeças do dragão? Sabia que Sor Jorah se zangaria, mas foi ele que disse que ela tinha de tomar dois maridos. Talvez devesse casar com ambos e pôr um ponto final no assunto.
    Mas esses eram pensamentos tolos. Tinha uma cidade a tomar, e sonhar com beijos e com os brilhantes olhos azuis de um mercenário qualquer não a ajudaria a abrir uma brecha nas muralhas de Meereen. Sou do sangue do dragão, recordou Dany a si mesma. Seus pensamentos giravam em círculos, como um rato perseguindo a própria cauda. De repente não conseguia mais suportar

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