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    Parte 2 3 realm

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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:32 am

    Jaime 522


    Embora a febre persistisse teimosamente, o coto estava cicatrizando bem, e Qyburn dizia que o braço já não corria perigo. Jaime estava ansioso para ir embora, para dei¬xar Harrenhal, os Saltimbancos Sangrentos e Brienne de Tarth para trás. Uma mulher de verdade esperava por ele na Fortaleza Vermelha,
    - Vou mandar Qyburn junto, para cuidar de você durante a viagem até Porto Real - disse Roose Bolton na manhã da partida. - Ele alimenta a esperança de que o seu pai se mostre suficientemente grato para forçar a Cidadela a devolver-lhe a corrente.
    - Todos alimentamos esperanças. Se me fizer crescer uma mão nova, meu pai fará dele Grande Meistre,
    Walton Pernas-de-Aço comandava a escolta de Jaime; sem papas na língua, brusco, brutal, no fundo um simples soldado, Jaime tinha servido a vida inteira com aquele tipo de homem. Homens como Walton matariam às ordens de seu senhor, violariam quando seu sangue fer¬vesse após a batalha e saqueariam sempre que possível, mas assim que a guerra terminasse voltariam para suas casas, trocariam as lanças por enxadas, casariam com a filha dos vizinhos e criariam uma matilha de filhos ruidosos. Homens daqueles obedeciam sem questionar, mas a profunda crueldade maligna dos Bravos Companheiros não fazia parte de sua natureza.
    Ambos os grupos abandonaram Harrenhal na mesma manhã, sob um céu frio e cin¬zento que prometia chuva. Sor Aenys Frey tinha seguido em marcha três dias antes, avançando para nordeste, rumo à estrada do rei. Bolton pretendia segui-lo.
    - O Tridente está em cheia - ele disse a Jaime. - A travessia será difícil, mesmo no vau rubi. Dará as minhas cordiais saudações ao seu pai?
    - Desde que dê as minhas a Robb Stark.
    - Darei.
    Alguns Bravos Companheiros tinham se reunido no pátio para assistir à partida. Jai¬me foi a trote até junto deles.
    - Zollo. Que bondade a sua vir se despedir de mim. Pyg. Timeon. Sentirão saudades de mim? Não há uma última brincadeira para rirmos, Shagwell? Para aliviar meu cami¬nho estrada afora? E Rorge, veio me dar um beijo de despedida?
    - Desapareça, aleijado - disse Rorge.
    -Já que insiste tanto. Mas sossegue, voltarei. Um Lannister sempre paga suas dívidas. -Jaime deu meia-volta com o cavalo e voltou a se juntar a Walton Pernas-de-Aço e aos seus duzentos homens.
    Lorde Bolton paramentara-o como um cavaleiro, preferindo ignorar a mão em falta que transformava em caricatura esse vestuário guerreiro. Jaime seguia com espada e punhal ao cinto, escudo e elmo pendurados na sela, cota de malha sob um sobretudo marrom-escuro. Mas não era tão idiota para exibir o leão dos Lannister em suas armas, nem o brasão bran¬co puro que era seu de direito como Irmão Juramentado da Guarda Real. No arsenal, tinha encontrado um velho escudo, amassado e fendido, cuja tinta lascada ainda exibia a maior parte do grande morcego negro da Casa Lothston num fundo de prata e ouro. Os Lothston tinham sido os donos de Harrenhal antes dos Whent e foram uma família poderosa em seus dias, mas estavam mortos havia séculos, por isso era improvável que alguém levantasse objeções a ele usar as suas armas. Não seria primo de ninguém, inimigo de ninguém, espa¬da juramentada a ninguém... em suma, não seria ninguém.
    Saíram através do portão oriental de Harrenhal, menor, e despediram-se de Roose Bolton e de sua tropa dez quilômetros adiante, virando para sul a fim de seguir a estrada do lago durante algum tempo. Walton pretendia evitar a estrada do rei enquanto pudes¬se, preferindo os caminhos de agricultores e as trilhas de caça perto do Olho de Deus.
    - A estrada do rei seria mais rápida. - Jaime estava ansioso por voltar tão depressa quanto possível para Cersei. Caso se apressassem, até poderia chegar a tempo do casa¬mento de JofFrey.
    - Não quero encrenca - disse Pernas-de-Aço. - Só os deuses sabem quem iríamos encontrar nessa estrada do rei.
    - Ninguém que pudesse temer, certamente. Tem duzentos homens.
    - Tenho mesmo. Mas outros podem ter mais. O senhor disse para levá-lo a salvo ao senhor seu pai, e é isso que eu vou fazer.
    Já passei por aqui, refletiu Jaime alguns quilômetros mais à frente, quando passaram por um moinho deserto junto ao lago. Agora cresciam ervas daninhas no local de onde a filha do moleiro havia lhe sorrido timidamente e o próprio moleiro gritara para ele: "O torneio é para o outro lado, sor". Como se eu não soubesse.
    Rei Aerys tinha feito um grande espetáculo da investidura de Jaime. Proferiu os votos perante o pavilhão real, ajoelhado na grama verde com a sua armadura branca, enquan¬to metade do reino o observava. Quando Sor Gerald Hightower o ajudou a se levantar e colocou o manto branco em volta de seus ombros, ressoou uma aclamação tamanha que Jaime ainda a recordava, depois de todos esses anos. Mas, nessa mesma noite, Aerys amargou, declarando que não precisava de sete membros da Guarda Real ali em Harre¬nhal. Foi ordenado a Jaime que voltasse a Porto Real, para proteger a rainha e o pequeno Príncipe Viserys, que tinham ficado para trás. Mesmo quando o
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:33 am

    Touro Branco se ofe¬receu para desempenhar esse dever, a fim de que Jaime pudesse competir no torneio de Lorde Whent, Aerys recusou,
    - Ele não conquistará aqui nenhuma glória - tinha dito o rei. - Agora é meu, não de Tywin. Servirá como eu bem entender. O rei sou eu. Eu governo, e ele obedecerá.
    Foi então que Jaime compreendeu, pela primeira vez, que não fora sua perícia com a espada e a lança que conquistara para ele o manto branco, nem quaisquer feitos de valor que teria realizado contra a Irmandade da Mata de Rei, Aerys o tinha escolhido para humilhar o seu pai, para roubar o herdeiro de Lorde Tywin.
    Mesmo agora, tantos anos depois, a idéia era amarga. E naquele dia, enquanto ca¬valgava para o sul com seu novo manto branco sobre os ombros, a fim de defender um castelo vazio, havia sido quase intolerável. Se pudesse, teria arrancado o manto naquele momento, mas era tarde demais. Proferira as palavras sob os olhares de metade do reino, e um homem da Guarda Real servia para a vida inteira.
    Qyburn se aproximou.
    - A mão está incomodando?
    - A falta da mão está incomodando. - As manhãs eram a pior hora. Em seus sonhos, Jaime era um homem completo, e todas as madrugadas ficava deitado, meio acordado, e sentia os dedos mexendo. Foi um pesadelo, sussurrava uma parte de si, recusando-se a acreditar, mesmo agora, só um pesadelo. Mas, depois, abria os olhos.
    - Ouvi dizer que teve uma visita ontem à noite - disse Qyburn. - Espero que tenha desfrutado dela.
    Jaime deu-lhe um olhar frio.
    - Ela não disse quem a tinha enviado.
    O meistre sorriu com modéstia.
    - Sua febre tinha praticamente passado, e pensei que talvez gostasse de um pouco de exercício. Pia é bastante habilidosa, não achou? E tão... solícita.
    Ela certamente tinha sido. Deslizou tão depressa porta adentro e das roupas para fora que Jaime achou que ainda estava sonhando.
    Só despertou depois que a mulher se enfiou debaixo das mantas e colocou a mão boa dele sobre um seio. E também era uma coisinha bonita.
    - Eu não passava de uma criancinha quando o sor veio ao torneio de Lorde Whent e o rei lhe deu o manto - tinha confessado. - Era tão bonito todo de branco, e todos elogiavam o bravo cavaleiro que era. As vezes, quando estou com algum homem, fecho os olhos e finjo que é você quem está ali, em cima de mim, com a sua pele lisa e seus caracóis dourados. Mas nunca pensei que realmente o teria.
    Depois daquilo, mandá-la embora não tinha sido fácil, mas Jaime fez isso mesmo as¬sim. Tenho uma mulher, lembrou a si mesmo.
    - Manda mulheres a todos os homens que você sangra? - perguntou a Qyburn.
    - E mais freqüente que seja Lorde Vargo que as manda a mim. Gosta que eu as examine antes de... bem, basta que lhe diga que uma vez amou insensatamente, e não deseja voltar a fazê-lo. Mas nada tema, Pia é bastante saudável. Assim como a sua don¬zela de Tarth.
    Jaime lançou-lhe um olhar penetrante.
    - Brienne?
    - Sim. Garota forte, essa. E ainda tem a virgindade intacta. Até a noite passada, pelo menos. - Qyburn soltou um risinho,
    - Ele mandou-o examiná-la?
    - Com certeza. E... melindroso, digamos.
    - Isso diz respeito ao resgate? - perguntou Jaime. - O pai dela exige uma prova de que a garota continua donzela?
    - Não ouviu as novidades? - Qyburn encolheu os ombros. - Recebemos uma ave de Lorde Selwyn. Em resposta à minha. A Estrela da Tarde oferece trezentos dragões pela devolução da filha em segurança. Eu disse ao Lorde Vargo que não havia safiras em Tarth, mas ele não quis me dar ouvidos. Está convencido de que a Estrela da Tarde pretende enganá-lo.
    - Trezentos dragões é um bom resgate por um cavaleiro. O bode devia aceitar o que lhe oferecem.
    - O bode é Senhor de Harrenhal, e o Senhor de Harrenhal não regateia.
    A novidade irritou-o, embora achasse que devia ter previsto aquilo. A mentira poupou¬-a durante algum tempo, garota. Fique grata por isso.
    - Se a virgindade dela for tão dura quanto o resto, o bode vai quebrar o pau ao tentar entrar - gracejou.
    Jaime calculava que Brienne fosse suficientemente dura para sobreviver a alguns estu¬pros, embora Vargo Hoat pudesse começar a cortar-lhe mãos e pés se a garota resistisse com vigor em excesso. E se o fizer, por que devo me importar? Ainda poderia ter minha mão se ela tivesse me deixado ficar com a espada de meu primo sem ficar estúpida. Ele mesmo quase tinha cortado a perna dela com o seu primeiro golpe, mas depois a garota lhe deu mais do que desejara. O Hoat pode não conhecer a fiorça anormal que ela possui. E melhor que tenha cuidado, senão ela quebra aquele pescoço magricela. E que agradável isso seria.
    A companhia de Qyburn estava o deixando farto. Jaime trotou até a cabeça da co¬luna. Um nortenho chamado Nage, que mais parecia um carrapatozinho, ia à frente de Pernas-de-Aço, com o estandarte de paz; uma bandeira riscada de arco-íris com sete lon¬gas pontas, num bastão encimado por uma estrela de sete pontas.
    - Vocês, os nortenhos, não deveriam ter uma espécie diferente de bandeira de paz? - perguntou a Walton. - O que são os Sete para vocês?
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:33 am

    - Deuses do sul - disse o homem -, mas aquilo de que precisamos é de uma paz do sul para levá-lo a salvo ao seu pai.
    Meu pai. Jaime gostaria de saber se Lorde Tywin tinha recebido a exigência de resgate do bode, acompanhada ou não da mão apodrecida. Quanto vale um espadachim sem sua mão da espada? Metade do ouro de Rochedo Casterly? Trezentos dragões? Ou nada? O pai nunca se deixara influenciar indevidamente pelas emoções. O pai de Tywin Lannister, Lorde Tytos, certa vez aprisionara um vassalo indisciplinado, Lorde Tarbeck. A temí¬vel Senhora Tarbeck respondeu aprisionando três Lannister, incluindo o jovem Stafford, cuja irmã estava prometida ao primo Tywin.
    - Envie-me o meu senhor e amor, senão estes três responderão por qualquer mal que lhe aconteça - a mulher escreveu para Rochedo Casterly.
    O jovem Tywin sugeriu que o pai fizesse a vontade dela, mandando de volta Lorde Tarbeck em três pedaços. Mas Lorde Tytos era um tipo mais brando de leão, e a Senho¬ra Tarbeck conquistou mais alguns anos com o seu estúpido senhor, e Stafford se casou, procriou e continuou fazendo asneiras até Cruzaboi. Mas Tywin Lannister perdurara, eterno como o Rochedo Casterly. E agora tem um filho aleijado para somar ao anão, se¬nhor. Como detestará esse fato...
    A estrada levou-os a atravessar uma aldeia queimada. Devia ter passado um ano ou mais desde que o lugar fora incendiado. Os casebres estavam enegrecidos e sem telhados, mas as ervas daninhas que cresciam nos campos em volta batiam na cintura. Pernas-de- -Aço ordenou uma parada para permitir que dessem água aos cavalos. Também conheço este lugar, pensou Jaime enquanto esperava junto do poço. Houvera uma pequena estala¬gem no local onde agora se erguiam apenas algumas pedras de fundação e uma chaminé, e ele tinha entrado para beber uma cerveja. Uma criada de olhos escuros trouxe-lhe quei¬jo e maçãs, mas o estalajadeiro recusou o seu dinheiro.
    - É uma honra ter um cavaleiro da Guarda Real debaixo de meu teto, sor - o homem disse. - É uma história que vou contar aos meus netos.
    Jaime olhou para a chaminé que se projetava por entre as ervas daninhas e perguntou a si mesmo se o homem teria arranjado esses netos. Terá dito a eles que um dia o Regicida bebeu de sua cerveja e comeu de seu queijo e de suas maçãs, ou terá tido vergonha de admitir que alimentou um homem como eu? Não que algum dia chegasse a saber; quem quer que tivesse incendiado a estalagem provavelmente também matara os netos.
    Sentiu os dedos fantasma cerrarem-se. Quando Pernas-de-Aço disse que talvez de¬vessem acender uma fogueira e comer um pouco, Jaime sacudiu a cabeça.
    - Não gosto deste lugar. Prosseguimos.
    Ao cair da noite, deixaram o lago para seguir uma trilha sulcada através de um bosque de carvalhos e olmos. O coto de Jaime latejava surdamente quando Pernas-de-Aço de¬cidiu acampar. Felizmente, Qyburn tinha trazido um odre de vinho de sonhos. Enquan¬to Walton distribuía os turnos de vigia, Jaime esticou-sejunto à fogueira e encostou uma pele de urso enrolada a um toco de árvore para servir de almofada, A garota teria dito que ele devia comer antes de dormir, para manter as forças, mas ele sentia mais cansaço do que fome. Fechou os olhos e esperou sonhar com Cersei. Os sonhos febris eram todos tão vividos...
    Achou-se nu e sozinho, rodeado de inimigos, com uma muralha de pedra por toda a volta, muito próxima. 0 Rochedo, compreendeu. Sentia seu imenso peso sobre a cabeça. Estava em casa. Estava em casa e inteiro.
    Levantou a mão direita e dobrou os dedos para sentir a sua força. Era tão bom quanto sexo. Tão bom quanto lutar de espada na mão. Quatro dedos e um polegar, Tinha sonhado que estava mutilado, mas não era verdade. O alívio entonteceu-o. A minha mão, a minha mão boa. Nada lhe faria mal, desde que estivesse inteiro.
    A sua volta, encontrava-se uma dúzia de vultos altos e escuros, vestidos com togas encapuzadas que escondiam seus rostos. Nas mãos, traziam lanças.
    - Quem são vocês? - perguntou-lhes em tom de desafio. - O que querem de Roche¬do Casterly?
    As sombras não deram resposta, limitaram-se a cutucá-lo com a ponta das lanças. Não teve alternativa a não ser descer. Seguiram por uma passagem que se encurvava, com degraus estreitos esculpidos na rocha viva, para baixo e mais para baixo» Tenho de ir para cima, disse a si mesmo. Para cima, não para baixo. Por que estou descendo? Por baixo da terra esperava a sua perdição, soube com a certeza do sonho; algo sombrio e terrível o esperava ali, algo que o desejava. Jaime tentou parar, mas as lanças obrigaram-no a pros¬seguir. Se ao menos tivesse a espada, nada poderia me fazer mal.
    Os degraus terminaram abruptamente numa escuridão cheia de ecos. Jaime teve a sensação de um vasto espaço à sua frente. Parou de súbito, balançando na borda do nada. Uma ponta de lança espetou-se na parte de baixo de suas costas, atirando-o para o abismo. Gritou, mas a queda foi curta. Caiu sobre as mãos e os joelhos, em areia mole e água rasa. Havia cavernas cheias de água bem abaixo de Rochedo Casterly, mas aquela era-Ihe estranha.
    - O seu lugar. - A voz ecoou; era uma centena de vozes, um milhar, as vozes de todos os Lannister desde Lann, o Esperto, que vivera na aurora dos dias. Mas, acima de tudo, era a voz de seu pai, e ao lado de Lorde Tywin encontrava-se a irmã, pálida e bela, com uma tocha ardendo na mão. JofFrey, o filho que tinham feito juntos, também estava lá, e atrás deles havia mais uma dúzia de silhuetas escuras com cabelos dourados.
    - Irmã, por que o pai nos trouxe para cá?
    - "Nos"? Este lugar é seu, irmão. Esta escuridão é sua. - A tocha dela era a única luz na caverna. A tocha dela era a única luz no mundo. Virou-se para ir embora.
    - Fique comigo - suplicou Jaime, - Não me deixem aqui sozinho, - Mas eles esta¬vam partindo. - Não me deixem no escuro! - algo terrível vivia lá embaixo. - Deem-me ao menos uma espada,
    - Eu lhe dei uma espada - disse Lorde Tywin.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:33 am

    Estava a seus pés. Jaime a procurou, apalpando por baixo da água até que sua mão se fechou em torno do cabo. Nada pode me fazer mal desde que tenha uma espada. Ao levantar a arma, um dedo de uma chama pálida tremeluziu na ponta e avançou ao longo do gume, parando a uma mão do cabo. O fogo tinha tomado a cor do próprio aço, por isso ardia com uma luz azul-prateada, e as sombras afastaram-se. Inclinando-se, à escuta, Jaime descreveu um círculo, pronto para qualquer coisa que pudesse saltar das trevas. A água entrou nas suas botas até o tornozelo, terrivelmente fria. Cuidado com a água, disse a si mesmo. Pode haver criaturas vivendo nela, poços escondidos...
    De trás veio um grande jorrar de água. Jaime rodopiou para o som... mas a tênue luz revelou apenas Brienne de Tarth, com as mãos presas por pesadas correntes.
    - Jurei mantê-lo a salvo - disse teimosamente a garota. - Fiz um juramento. - Nua, ergueu as mãos para Jaime. - Sor. Por favor. Se tivesse a bondade.
    Os elos de aço rasgaram-se como seda.
    - Uma espada - suplicou Brienne, e ali estava ela, com bainha, cinto e tudo. Afivelou- -o em volta de sua larga cintura. A luz era tão tênue que Jaime quase não conseguia vê- -la, embora não estivessem afastados mais do que escassas dezenas de centímetros. Nessa luz, ela podia quase ser uma beldade, pensou. Nessa luz, ela podia quase ser um cavaleiro, A espada de Brienne também se incendiou, ardendo com um azul-prateado. As trevas recuaram um pouco mais.
    - As chamas arderão enquanto viver - ele ouviu Cersei gritar. - Quando morrerem, você também terá de morrer.
    - Irmã! - gritou. - Fique comigo. Fique! - não houve resposta além do som suave de passos que se afastavam.
    Brienne moveu sua espada de um lado para o outro, observando as chamas prateadas tremulando e cintilando. Sob os seus pés, um reflexo da lâmina em chamas brilhava na superfície da água negra e lisa. Ela era tão alta e forte quanto se lembrava, mas pareceu a Jaime que agora tinha mais formas de mulher.
    - Eles têm um urso lá embaixo? - Brienne caminhava de forma lenta e cuidadosa, de espada na mão; um passo, virar e escutar. Cada passo fazia um pequeno barulho de água. - Um leão das cavernas? Lobos gigantes? Um urso? Diga-me, Jaime. O que vive aqui? O que vive nas trevas?
    - A perdição. - Não é um urso, soube ele. Não é um leão. - Só a perdição.
    A fria luz azul-prateada das espadas, a grande garota parecia pálida e feroz.
    - Não gosto deste lugar.
    - Eu mesmo não o aprecio. - As lâminas criavam pequenas ilhas de luz, mas em volta estendia-se um mar de escuridão, sem fim. - Meus pés estão molhados.
    - Podíamos voltar pelo caminho por onde nos trouxeram. Se subisse em meus om¬bros, não teria dificuldade em alcançar a abertura do túnel.
    Então poderia encontrar Cersei. Sentiu-se enrijecendo-se com aquele pensamento e virou-se para que Brienne não reparasse.
    - Escute. - Ela apoiou uma mão em seu ombro e ele estremeceu com o súbito toque. Ela está quente. - Algo está vindo. ~ Brienne ergueu a espada para apontar para a esquer¬da. - Ali.
    Jaime espreitou as sombras até que também conseguiu ver. Algo se movia pelas trevas, mas não conseguia distinguir o que seria.„
    - Um homem a cavalo. Não, dois. Dois cavaleiros, lado a lado.
    - Aqui, por baixo do Rochedo? - não fazia sentido. E, no entanto, ali vinham dois cavaleiros, montados em cavalos claros, tanto os homens como as montarias revestidos de armaduras. Os cavalos de batalha emergiram do negrume a passo lento. Eles não fize¬ram nenhum som, percebeu Jaime. Nenhum esparramar âe água, nenhum tinir de malha ou ruído de casco. Lembrou-se de Eddard Stark, percorrendo a cavalo todo o comprimento da sala do trono de Aerys, envolto em silêncio. Só seus olhos tinham falado; olhos de senhor, frios, cinzentos e cheios de julgamento.
    - E você, Stark? - gritou Jaime. - Venha. Nunca o temi vivo, não o temo morto.
    Brienne tocou seu braço.
    - Há mais.
    Ele também os viu. Parecia-lhe que estavam todos couraçados de neve, e faixas de né- voa fluíam em torvelinhos de seus ombros. As viseiras dos seus elmos estavam fechadas, mas Jaime Lannister não precisava contemplar seus rostos para reconhecê-los.
    Cinco tinham sido seus irmãos. Oswell Whent e Jon Darry. Lewyn Martell, um prín¬cipe de Dorne. O Touro Branco, Gerold Hightower. Sor Arthur Dayne, a Espada da Manhã. E, junto a eles, coroado em névoa e pesar com seus longos cabelos fluindo pelas costas, seguia Rhaegar Targaryen, Príncipe de Pedra do Dragão e legítimo herdeiro do Trono de Ferro.
    - Vocês não me assustam. - Gritou, girando, quando eles se dividiram e o cercaram. Não sabia para que lado se virar. - Lutarei contra vocês um por um ou todos ao mesmo tempo. Mas com quem a garota vai duelar? Ela fica zangada quando é posta de lado.
    - Prestei o juramento de mantê-lo em segurança - disse ela à sombra de Rhaegar. - Prestei um juramento sagrado.
    - Todos nós prestamos juramentos - disse Sor Arthur Dayne, num tom tristíssimo.
    As sombras desmontaram de seus fantasmagóricos cavalos. Quando puxaram as es¬padas, não fizeram um som.
    - Ele ia queimar a cidade - disse Jaime. - Para não deixar a Robert nada além de cinzas.
    - Ele era o seu rei - disse Darry.
    -Jurou mantê-lo a salvo - falou Whent.
    - E às crianças, a elas também - disse o Príncipe Lewyn.
    O Príncipe Rhaegar ardia com uma luz fria, ora branca, ora vermelha, ora escura.
    - Eu deixei minha esposa e meus filhos em suas mãos.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:33 am

    - Nunca pensei que ele lhes faria mal. - A espada de Jaime agora emitia menos luz. - Eu estava com o rei...
    - Matando o rei - disse Sor Arthur.
    - Cortando a garganta dele - falou o Príncipe Lewyn.
    - O rei por quem tinha jurado morrer - disse Touro Branco.
    Os fogos que corriam ao longo da lâmina estavam se apagando, e Jaime lembrou-se daquilo que Cersei tinha dito. Não. O terror cerrou uma mão em volta de sua garganta. Então sua espada escureceu, e só a de Brienne continuava ardendo enquanto os fantas¬mas o atacaram.
    - Não - disse -, não, não, não. Nãããáãããããão!
    Com o coração aos saltos, acordou num pulo e deu por si no meio da escuridão estre¬lada, no interior de um grupo de árvores. Sentia o sabor de bílis na boca e tremia, enchar¬cado em suor, ao mesmo tempo quente e frio. Quando olhou para a mão da espada, viu que o punho terminava em couro e linho, bem apertado em volta de um coto feio. Sentiu que súbitas lágrimas subiam aos seus olhos. Senti, senti a força nos meus dedos e o couro áspero do cabo da espada. A minha mão...
    - Senhor. - Qyburn ajoelhou-se ao seu lado, com o rosto paternal todo enrugado de preocupação. - O que houve? Ouvi-o gritar.
    Walton Pernas-de-Aço estava em pé sobre eles, alto e severo.
    - O que houve? Por que gritou?
    - Um sonho... só um sonho. - Jaime fitou o acampamento que o rodeava, momenta¬neamente desorientado. - Estava no escuro, mas tinha a minha mão de volta. - Olhou para o coto e sentiu-se de novo doente. Não há um lugar como aquele por baixo do Roche¬do, pensou. Sentia o estômago dolorido e vazio, e a cabeça latejava no local onde a encos¬tara ao toco de árvore.
    Qyburn pôs a mão na testa dele.
    - Ainda tem um pouco de febre.
    - Um sonho febril. - Jaime estendeu a mão para cima. - Ajudem-me. - Pernas-de- -Aço pegou-o pela mão boa e o colocou em pé.
    - Outra taça de vinho dos sonhos? - perguntou Qyburn.
    - Não. Já sonhei o suficiente por esta noite. - Perguntou a si mesmo quanto tempo faltaria até a alvorada. De algum modo sabia que se fechasse os olhos voltaria àquele lu¬gar escuro e úmido.
    - Então leite de papoula? E alguma coisa para a febre? Ainda está fraco, senhor. Pre¬cisa dormir, descansar.
    Isso é a última coisa que pretendo fazer. O luar cintilava, pálido, no toco de árvore sobre o qual Jaime tinha descansado a cabeça. O musgo cobria-o de tal forma que antes não notara, mas via agora que a madeira era branca. Fez com que pensasse em Winterfell, e na árvore-coração de Ned Stark. Não era ele, pensou. Nunca foi ele. Mas o toco estava morto, e Stark também, bem como todos os outros, Príncipe Rhaegar, Sor Arthur e as crianças. E Aerys. Aerys é o mais morto de todos.
    - Acredita em fantasmas, meistre? - perguntou a Qyburn.
    O rosto do homem ganhou uma expressão estranha.
    - Uma vez, na Cidadela, entrei numa sala vazia e vi uma cadeira vazia. E, no entanto, sabia que uma mulher tinha estado ali apenas um momento antes. A almofada estava comprimida onde ela se sentara, o tecido ainda estava quente e o cheiro dela permanecia no ar. Se deixamos nossos cheiros atrás de nós quando saímos de uma sala, decerto parte de nossa alma deve permanecer quando deixamos esta vida, não? — Qyburn estendeu as mãos. - Mas os arquimeistres não gostavam de minha forma de pensar. Bem, Marwyn gostava, mas era o único.
    Jaime passou os dedos pelos cabelos.
    - Walton - disse -, sele os cavalos. Quero voltar.
    - Voltar? - Pernas-de-Aço olhou-o com uma expressão de dúvida.
    Ele acha que enlouqueci. E talvez tenha enlouquecido.
    - Deixei uma coisa em Harrenhal.
    - E Lorde Vargo quem agora detém o castelo. Ele e seus Saltimbancos Sangrentos.
    - Tem o dobro dos homens que ele possui.
    - Se não entregá-lo ao seu pai conforme ordenado, Lorde Bolton arranca minha pele. Continuamos rumo a Porto Real.
    Em outros tempos, Jaime poderia ter replicado com um sorriso e uma ameaça, mas aleijados manetas não inspiram muito medo. Perguntou a si mesmo o que o irmão faria. Tyrion encontraria uma saída.
    - Os Lannister mentem, Pernas-de-Aço. Lorde Bolton não lhe disse isso?
    O homem franziu a testa, desconfiado.
    - E se tivesse dito?
    - Se não me levar de volta a Harrenhal, a canção que vou cantar ao meu pai poderá não ser aquela que o Senhor do Forte do Pavor gostaria de ouvir. Posso até dizer que foi Bolton quem ordenou que minha mão fosse cortada, e Walton Pernas-de-Aço quem manejou a lâmina.
    Walton olhou-o boquiaberto.
    - Isso não é verdade.
    - Não mesmo, mas meu pai acreditará em quem? - Jaime obrigou-se a sorrir, da ma¬neira como costumava fazer quando nada no mundo podia assustá-lo. - Seria tão mais fácil se simplesmente voltássemos. Estaríamos bem depressa de novo a caminho, e eu cantaria uma canção tão simpática em Porto Real que nem acreditaria em seus ouvidos. Ficaria com a garota, e uma bela e gorda bolsa de ouro como agradecimento.
    - Ouro? - Walton gostou bastante da idéia. - Quanto ouro?
    E meu.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:33 am

    - Ora, quanto você quer?
    E quando o valor foi acordado, já estavam a meio caminho de Harrenhal.
    Jaime incitou o cavalo muito mais do que no dia anterior, e Pernas-de-Aço e os nortenhos foram obrigados a acompanhar o ritmo dele. Mesmo assim, passou-se o meio-dia antes de chegarem ao castelo que se debruçava sobre o lago. Sob um céu que escurecia e ameaçava desabar, as imensas muralhas e as cinco grandes torres mostravam-se negras e sinistras. Parece tão morto. As muralhas estavam vazias, os portões fechados e trancados. Mas, bem alto, acima da barbacã, um único estandarte pendia, flácido, A cabra negra de Qohor, soube Jaime, Pôs as mãos em volta da boca para gritar,
    - Vocês aí! Abram os portões, senão ponho-os abaixo aos chutes!
    Foi só quando Qyburn e Pernas-de-Aço somaram as vozes à de Jaime que uma ca¬beça finalmente surgiu nas ameias lá em cima, O homem arregalou os olhos para eles, e depois desapareceu. Pouco tempo depois, ouviram a porta levadiça sendo içada. Os portões abriram-se, e Jaime Lannister esporeou o cavalo para atravessar a muralha, quase sem dar um relance aos alçapões enquanto passava por baixo. Tinha se preocupado com a possibilidade de o bode não deixá-los entrar, mas parecia que os Bravos Companheiros ainda pensavam neles como aliados. Idiotas.
    O pátio exterior encontrava-se deserto; só os compridos estábulos com telhado de ardósia mostravam sinais de vida, e o que interessava a Jaime naquele momento não eram cavalos. Puxou as rédeas e olhou em volta. Ouvia ruídos vindos de algum lugar atrás da Torre dos Fantasmas e homens gritando em meia dúzia de línguas. Pernas-de-Aço e Qy¬burn aproximaram-se e pararam junto a Jaime, um de cada lado.
    - Vá buscar o que veio buscar, e vamos de novo embora - disse Walton. - Não quero encrenca com os Saltimbancos.
    - Diga aos seus homens para manterem as mãos no cabo das espadas, e os Saltim¬bancos não quererão encrenca com você. Dois para um, lembra?
    A cabeça de Jaime virou-se vivamente ao ouvir um rugido distante, tênue mas feroz. Ecoou nas muralhas de Harrenhal, e as gargalhadas subiram como o mar. De repen¬te, compreendeu o que estava acontecendo. Teremos chegado tarde demais? Seu estômago deu um solavanco, e ele espetou com força as esporas no cavalo, atravessando a galope o pátio exterior, passando sob uma ponte de pedra em arco, rodeando a Torre dos Lamen¬tos e cruzando o Pátio das Lâminas.
    Tinham-na na arena dos ursos.
    Rei Harren, o Negro, quis fazer até as lutas de ursos em estilo suntuoso. A arena tinha dez metros de diâmetro e cinco de profundidade, era fechada por muros de pedra, possuía um chão de areia e era rodeada por seis fileiras de bancos de mármore. Ao desmontar desa¬jeitadamente do cavalo, Jaime viu que os Bravos Companheiros enchiam apenas um quarto dos lugares. Os mercenários estavam tão absortos pelo espetáculo, lá embaixo, que só aque¬les que se encontravam do outro lado da arena notaram a sua chegada.
    Brienne trajava o mesmo vestido que usara para jantar com Roose Bolton e que tão mal lhe caía. Nada de escudo, nada de placa de peito, nada de cota de malha, nem mesmo couro fervido, só cetim cor-de-rosa e renda de Myr. O bode talvez pensasse que era mais divertida quando estava vestida de mulher. Metade do vestido pendia em farrapos, e o braço esquerdo sangrava onde o urso a arranhara.
    Pelo menos deram-lhe uma espada, A garota pegava nela com uma mão, movendo-se de lado, tentando colocar alguma distância entre si e o urso. Não uai dar certo, a arena é pequena demais, Ela tinha de atacar, dar um fim rápido àquilo. Bom aço era adversário à altura para qualquer urso. Mas a garota parecia ter medo de se aproximar. Os Saltimban¬cos faziam chover sobre ela insultos e sugestões obscenas.
    - Isso não nos diz respeito - preveniu Pernas-de-Aço a Jaime. - Lorde Bolton disse que a garota era deles para fazerem com ela o que quisessem.
    - O nome dela é Brienne. - Jaime desceu os degraus, passando por uma dúzia de mercenários surpresos. Vargo Hoat ocupava o camarote do senhor, na fila de baixo. - Lorde Vargo - chamou por sobre os gritos.
    O qohorik quase cuspiu o vinho.
    - Regijida? - tinha uma atadura desajeitada no lado esquerdo do rosto e o Iinho que cobria sua orelha estava manchado de sangue.
    - Tire-a dali.
    - Não fe meta nífto, Regifida, a menof que queira outro coto. - Brandiu uma taça de vinho. - O feu alfe fêmea arrancou-me uma orelha com of dentef. Pouco admira que o pai não queira refgatar um monftrengo deftes.
    Um rugido fez Jaime se virar. O urso tinha dois metros e quarenta de altura. Gregor Clegane com pelagem, pensou, embora provavelmente mais esperto. O animal não tinha o alcance da Montanha com aquela sua monstruosa espada, porém.
    Berrando de fúria, o urso mostrou uma boca cheia de grandes dentes amarelos e de¬pois voltou a cair de quatro e arremeteu diretamente contra Brienne. Aí está a sua oportu¬nidade, pensou Jaime. Ataque! Agora!
    Mas, em vez disso, ela furou-o ineficazmente com a ponta da espada. O urso recuou, e avançou logo de seguida, urrando. Brienne deslizou para a esquerda e voltou a lançar uma estocada à cara do urso. Dessa vez, ele ergueu uma pata para afastar a espada com uma pancada.
    Ele está cauteloso, percebeu Jaime. Já defrontou outros homens antes. Sabe que espadas e lanças podem feri-lo. Mas isso não o manterá afastado dela por muito tempo.
    - Mate-o! - gritou, mas sua voz perdeu-se no meio de todos os outros gritos.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:34 am

    Se Brienne ouviu, não deu sinal. Moveu-se em volta da arena, mantendo as costas viradas para o muro. Perto demais. Se o urso a encurralar contra o muro...
    O animal virou-se desajeitadamente, longe e depressa demais. Rápida como uma gata, Brienne mudou de direção. Aí está a garota de que me lembro. Deu um salto adiante para lançar um golpe às costas do urso. Rugindo, a fera voltou a se levantar nas patas traseiras. Brienne afastou-se precipitadamente. Onde está o sangue? Então, de repente, compreendeu.
    - Deu uma espada de torneio a ela.
    O bode zurrou uma gargalhada, fazendo chover sobre Jaime vinho e cuspe.
    - Claro que fim.
    - Eu pago o maldito resgate dela. Ouro, safiras, o que quiser. Tire-a dali.
    - Quer a garota? Vá bufcá-la.
    E foi o que ele fez.
    Jaime pôs a mão boa no parapeito de mármore e saltou por cima, rolando ao atingir a areia. O urso virou-se ao ouvir o pof, farejando, observando o novo intruso com precau¬ção. Jaime apoiou-se num joelho. Bem, e o que é que, com os sete infernos, eu faço agora? Encheu o punho de areia.
    - Regicida? - ouviu Brienne dizer, estupefata.
    - Jaime. - Desdobrou-se, atirando a areia na cara do urso. O animal socou o ar e ru- giu como brasas.
    - O que você está fazendo aqui?
    - Uma estupidez. Fique atrás de mim. - Descreveu um círculo na direção dela, colocando-se entre Brienne e o urso.
    - Fique você atrás. Eu tenho a espada,
    - Uma espada sem ponta e sem gume. Fique atrás de mim! - viu uma coisa meio enterrada na areia e apanhou-a com a mão boa. O objeto revelou ser um maxilar hu¬mano, com um pouco de carne esverdeada ainda presa ao osso, repleto de larvas. En¬cantador, pensou, perguntando a si mesmo de quem seria a cara que tinha na mão. O urso aproximava-se lentamente, e Jaime sacudiu o braço e atirou osso, carne e larvas na cabeça do urso. Errou por um bom metro. Devia cortar também a mão esquerda, de tão útil que ela me é,
    Brienne tentou avançar em volta dele, mas Jaime deu-lhe um pontapé nas pernas e fez com que se desequilibrasse. A garota caiu na areia, agarrada à espada inútil. Jaime escarranchou-se sobre ela, e o urso avançou sobre ambos.
    Ouviu-se um profundo tuang, e uma haste com penas brotou de repente sob o olho esquerdo da fera. Sangue e saliva escorreram-lhe da boca aberta, e outro dardo acertou sua pata. O urso rugiu, empinou-se. Voltou a ver Jaime e Brienne e voltou a se arrastar na direção deles. Mais bestas dispararam, rasgando pelagem e carne com seus dardos. A tão curta distância, os besteiros dificilmente falhariam. Os dardos atingiam o urso com a for¬ça de maças, mas o animal deu outro passo. Pobre, burro e corajoso bruto. Quando a fera tentou golpeá-lo, afastou-se dançando, gritando, fazendo voar areia. O urso virou-se para seguir o homem que o atormentava e levou mais dois dardos no dorso. Deu um último rosnado trovejante, sentou-se sobre os quartos traseiros, estendeu-se na areia manchada de sangue e morreu.
    Brienne ajoelhou-se, agarrando a espada e respirando rápida e irregularmente. Os besteiros de Pernas-de-Aço estavam esticando as cordas de suas bestas e recarregando- -as enquanto os Saltimbancos Sangrentos gritavam-lhes xingamentos e ameaças. Jaime viu que Rorge e Três Dedos tinham espadas desembainhadas e Zollo estava desenro¬lando o chicote.
    - Vofê matou o meu urfo! - guinchou Vargo Hoat.
    - E sirvo-lhe o mesmo prato se me causar encrenca - atirou Pernas-de-Aço em res¬posta. - Vamos levar a garota.
    - O nome dela é Brienne - disse Jaime. - Brienne, a donzela de Tarth. Ainda é don¬zela, espero?
    O largo rosto grosseiro da garota ficou vermelho.
    - Sim.
    - Oh, ótimo - disse Jaime. - Só salvo donzelas. - Dirigindo-se a Hoat, disse: - Terá o seu resgate. Por nós dois. Um Lannister paga suas dívidas. Agora vá buscar cordas e tire-nos daqui.
    - Foda-se o resgate - rosnou Rorge. - Mate-os, Hoat. Senão vai acabar desejando ter acabado com eles!
    O qohorik hesitou. Metade de seus homens estavam bêbados; os nortenhos, sóbrios como pedras, e eram duas vezes mais numerosos. Alguns dos besteiros já estavam recar¬regados àquela altura.
    - Pufem-nof pra fora - disse Hoat e depois, para Jaime: - Defidi fer mifericordiofo. Diga ao fenhor feu pai.
    - Direi, senhor. - Não que isso lhe sirva para alguma coisa.
    Foi só depois de estarem a meia légua de Harrenhal e fora do alcance dos arqueiros nas muralhas que Walton Pernas-de-Aço mostrou a sua ira.
    - Está louco, Regicida? Pretendia morrer? Nenhum homem pode lutar com um urso de mãos vazias!
    - Uma mão vazia e um coto vazio - corrigiu Jaime. - Mas eu tinha esperança de que matasse o animal antes que ele me matasse. De outra forma, Lorde Bolton iria descascá- -lo como a uma laranja, não é verdade?
    Pernas-de-Aço amaldiçoou-o e chamou-o de Lannister idiota, esporeou o cavalo e galopou ao longo da coluna.
    - Sor Jaime? - mesmo com cetim cor-de-rosa sujo e renda rasgada, Brienne parecia mais um homem de vestido do que uma mulher. - Sinto-me grata, mas... você estava bem longe. Por que voltou?
    Veio à sua mente uma dúzia de ditos de espírito, cada um mais cruel do que o ante¬rior, mas Jaime limitou-se a encolher os ombros.
    - Sonhei com você - disse.
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 1:46 pm

    havia inimigos atrás deles ao longo de centenas de quilômetros, mas Robb não queria correr riscos.
    Eram três mil e quinhentos, três mil e quinhentos que tinham passado pelo batis¬mo de sangue no Bosque dos Murmúrios, que tinham ruborizado as espadas na Batalha dos Acampamentos, em Cruzaboi, em Cinzamarca, no Despenhadeiro e ao longo dos montes ricos em ouro do ocidente Lannister. A exceção da pequena comitiva de amigos de Lorde Edmure, os senhores do Tridente tinham ficado para trás, a fim de defender as terras fluviais enquanto o rei recuperava o Norte. Ern frente esperavam a noiva de Edmure e a batalha seguinte de Robb... e, para mim, dois filhos mortos, uma cama vazia e um castelo cheio de fantasmas. Era uma perspectiva sem alegria. Brienne, onde você está? Devolva-me as minhas meninas, Brienne. Devolva-as em segurança.
    A garoa que os tinha acompanhado quando partiram de Correrrio transformou-se numa chuva suave e constante pelo meio-dia e prosseguiu até bem depois do cair da noite. No dia seguinte, os nortenhos não chegaram a ver o sol, avançando sob céus de chumbo com o capuz vestido, a fim de manter a água afastada dos olhos. Era uma chuva pesada que transformava estradas em lama e campos em atoleiros, enchendo os rios e despindo as árvores de suas folhas, O bater constante das gotas tornava a conversa miúda muito difícil para o pouco que importava, e por isso os homens falavam apenas quando tinham algo a dizer, o que era bastante raro.
    - Somos mais fortes do que parecemos, senhora - disse a Senhora Maege Mormont enquanto avançavam. Catelyn tinha começado a nutrir amizade pela Senhora Maege e por sua filha mais velha, Dacey; descobrira que eram mais compreensivas do que a maio¬ria no que dizia respeito a Jaime Lannister, A filha era alta e esguia, a mãe, baixa e robus¬ta, mas vestiam-se de forma semelhante, com cota de malha e couro, com o urso negro da Casa Mormont desenhado nos escudos e nos sobretudos. Aos olhos de Catelyn, era um vestuário bizarro para uma senhora, mas Dacey e a Senhora Maege pareciam mais confortáveis, como guerreiras e como mulheres, do que a garota de Tarth jamais esteve.
    - Lutei ao lado do Jovem Lobo em todas as batalhas - disse alegremente Dacey Mor¬mont. - Ainda não perdeu nenhuma.
    Não, mas perdeu todo o resto, pensou Catelyn, mas não seria bom dizê-lo em voz alta. Aos nortenhos não faltava coragem, mas estavam longe de casa, com pouco que os sus¬tentasse além da fé em seu jovem rei. Essa fé tinha de ser protegida, a todo custo. Tenho de ser mais forte, disse a si mesma. Tenho de ser forte por Robb. Se me desesperar, a dor vai me consumir. Tudo dependia daquele casamento. Se Edmure e Roslin estivessem felizes um com o outro, se o Atrasado Lorde Frey pudesse ser apaziguado e seu poderio de novo casado com o de Robb... Mesmo assim, que chances teremos, encurralados entre os Lannister e os Greyjoy? Era uma questão que Catelyn não se atrevia a aprofundar, embora Robb tra¬tasse de pouco mais do que isso. Ela via como ele estudava seus mapas sempre que mon¬tavam o acampamento, em busca de um plano que lhe pudesse reconquistar o Norte.
    O irmão Edmure tinha outras preocupações.
    - Não acreditam que todas as filhas de Lorde Walder se parecem com ele, não éí - perguntou, ao sentar-se em seu grande pavilhão listrado, com Catelyn e os amigos.
    - Com tantas mães diferentes, algumas das donzelas têm necessariamente de sair atraentes - disse Sor Marq Piper -, mas por que haveria o velho patife de lhe dar uma das bonitas?
    - Por absolutamente nada - disse Edmure, deprimido.
    Aquilo foi mais do que Catelyn podia suportar.
    - Cersei Lannister é atraente - disse, num tom cortante. - Seria mais sensato rezar para que Roslin seja forte e saudável, com uma boa cabeça e um coração leal. - E, com aquilo, deixou-os.
    Edmure não acolheu bem aquela atitude. Na marcha do dia seguinte, evitou-a por completo, preferindo a companhia de Marq Piper, Lymond Goodbrook, Patrek Mallister e dos jovens Vance. Eles só o repreendem de brincadeira, disse Catelyn a si mesma quando passaram a toda por ela, naquela tarde, quase sem uma palavra. Sempre fui dura demais com Edmure, e agora o pesar afia todas as minhas palavras. Arrependeu-se da censura. Já havia chuva suficiente caindo do céu sem a ajuda dela. E seria mesmo assim tão terrível desejar uma esposa bonita? Lembrava-se do desapontamento infantil que sofrerá da pri¬meira vez que pôs os olhos em Eddard Stark. Imaginara-o como uma versão mais nova do irmão Brandon, mas tinha se enganado, Ned era mais baixo e tinha um rosto mais simples, e era muito melancólico. Falava de forma bastante cortês, mas, por baixo das palavras Catelyn sentia uma frieza oposta ao que era Brandon, cujas alegrias tinham sido tão violentas quanto as iras. Mesmo quando tomou sua virgindade, o amor deles teve mais dever do que paixão. Mas fizemos Robb naquela noite, fizemos juntos um rei. E depois da guerra, em Winterfell, tive amor suficiente para qualquer mulher, depois de encontrar o co¬ração bom e doce que batia por baixo do rosto solene de Ned. Não há motivo para que Edmure não encontre a mesma coisa com a sua Roslin.
    Segundo a vontade dos deuses, o caminho levou-os a atravessar o Bosque dos Mur¬múrios, onde Robb havia conquistado a sua primeira grande vitória. Seguiram o leito do riacho serpenteante no fundo daquele vale apertado e estreito, tal como os homens de Jai¬me Lannister tinham feito naquela noite fatídica. Naquela época, fazia mais calor, recordou Catelyn, as árvores ainda se mantinham verdes, e o riacho não tinha transbordado das margens. Folhas caídas agora afogavam o curso da água e estendiam-se em emaranhados enchar¬cados por entre as pedras e raízes, e as árvores que tinham escondido o exército de Robb haviam trocado seus trajes verdes por folhas de um dourado opaco, salpicadas de marrom e de um vermelho que fazia Catelyn lembrar de ferrugem e sangue seco. Só os abetos e os pinheiros marciais ainda se mostravam verdes, espetando-se na barriga das nuvens como grandes lanças escuras.
    Foram mais do que árvores o que morreu desde então, refletiu. Na noite do Bosque dos Murmúrios, Ned ainda estava vivo em sua cela por baixo da Colina de Aegon, Bran e Rickon encontravam-se a salvo atrás das muralhas de Winterfell. E Theon Greyjoy lutava ao lado de Robb
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 1:46 pm

    e gabava-se de como quase tinha cruzado espadas com o Regicida. Seria bom que tivesse feito isso. Se Theon tivesse morrido em vez dos filhos de Lorde Karstark, quanto mal teria sido desfeito?
    Ao passarem pelo campo de batalha, Catelyn viu sinais da carnificina que ali tinha ocorrido; um elmo virado ao contrário que se enchia de chuva, uma lança estilhaçada, os ossos de um cavalo. Montes de pedra haviam sido erguidos sobre alguns dos homens que ali tinham tombado, mas os assaltantes de túmulos já tinham caído sobre eles. Por entre os montes de pedra, vislumbrou belos tecidos coloridos e pedaços de metal brilhante. Uma vez viu um rosto a olhá-la, com o contorno do crânio emergindo sob a carne mar¬rom em putrefação.
    Isso fez com que se interrogasse sobre o local onde Ned acabou por descansar. As irmãs silenciosas tinham levado seus ossos para o Norte, escoltadas por Hallis Mollen e uma pequena guarda de honra. Teria Ned conseguido chegar a Winterfell, para ser en¬terrado ao lado do irmão Brandon nas criptas escuras sob o castelo? Ou teria a porta se fechado em Fosso Cailin antes de Hal e das irmãs conseguirem passar?
    Três mil e quinhentos cavaleiros seguiam o seu caminho sinuoso pelo fundo do vale, através do coração do Bosque dos Murmúrios, mas Catelyn Stark raras vezes havia se sentido mais solitária. Cada légua que vencia levava-a para mais longe de Correrrio, e deu por si imaginando se alguma vez voltaria a ver o castelo. Ou estaria perdido para sempre, como tantas outras coisas ?
    Cinco dias mais tarde, os batedores retornaram para preveni-los de que as águas da enchente tinham arrastado a ponte de madeira em Feirajusta. Galbart Glover e dois de seus homens mais ousados tentaram levar as montarias a passar a nado o turbulento Ramo Azul em Vaucarneiro. Dois dos cavalos tinham sido arrastados e afogados, junta¬mente com um dos cavaleiros; o próprio Glover conseguiu se agarrar a um rochedo até que o puxassem para a margem.
    - O rio não corria tão alto desde a primavera - disse Edmure. - E se essa chuva con¬tinuar a cair, subirá ainda mais.
    - Há uma ponte mais a frente, perto de Pedravelhas - recordou Catelyn, que tinha atravessado aquelas terras com freqüência na companhia do pai. - E mais antiga e me¬nor, mas se ainda estiver lá...
    - Desapareceu, senhora - disse Galbart Glover. - Foi levada antes mesmo da de Fei¬rajusta.
    Robb olhou para Catelyn.
    - Há mais alguma ponte?
    - Não. E os vaus estarão intransitáveis. - Tentou vasculhar a memória. - Se não con¬seguirmos atravessar o Ramo Azul, teremos de rodeá-lo, por Seterrios e pelo Atoleiro da Bruxa.
    - Brejos e estradas ruins, quando elas existem - preveniu Edmure. - O avanço será lento, mas suponho que acabaremos chegando.
    - Estou certo de que Lorde Walder esperará - disse Robb. - Lothar enviou-lhe uma ave de Correrrio, ele sabe que estamos a caminho.
    - Sim, mas o homem é suscetível e desconfiado por natureza - disse Catelyn. - Pode tomar esse atraso como um insulto deliberado.
    - Muito bem, vou pedir perdão também por nossa indolência. Serei um rei de dar dó, desculpando-me a cada duas inspirações, - Robb fez uma careta. - Espero que Bolton tenha atravessado o Tridente antes das chuvas começarem. A estrada do rei segue dire¬tamente para o norte, deverá ter uma marcha fácil. Mesmo a pé, deve chegar às Gêmeas antes de nós.
    - E quando tiver juntado os seus homens aos dele e casado o meu irmão, o que vem depois? - perguntou-lhe Catelyn.
    - Para o norte. - Robb coçou Vento Cinzento atrás de uma orelha.
    - Pelo talude? Contra Fosso Cailin?
    Ele deu um sorriso enigmático a ela.
    - Essa é uma forma de ir - disse, e ela compreendeu por seu tom de voz que nada mais diria. Um rei sensato guarda coisas para si, lembrou a si mesma.
    Chegaram a Pedravelhas depois de mais oito dias de chuva contínua e acamparam sobre a colina com vista para o Ramo Azul, dentro de um forte arruinado dos antigos reis do rio. Suas fundações resistiam entre as ervas daninhas, para mostrar onde tinham se erguido as muralhas e as fortalezas, mas o povo local tinha se apropriado da maior parte das pedras havia muito tempo, para levantar seus celeiros, septos e castros. No en¬tanto, no centro daquilo que antigamente teria sido o pátio do castelo, ainda se erguia um grande sepulcro esculpido, meio escondido por mato marrom que chegava à cintura, no meio de um grupo de freixos,
    A tampa do sepulcro tinha sido esculpida para retratar o homem cujos ossos jaziam lá dentro, mas as chuvas e os ventos tinham desempenhado seu papel: conseguiam ver que o rei usava uma barba, mas, fora isso, seu rosto era suave e sem expressão, com ape¬nas vagas sugestões de uma boca, um nariz, olhos e da coroa sobre as têmporas. Suas mãos fechavam-se no cabo de um martelo de guerra em pedra que se apoiava sobre o pei¬to dele. Antigamente, o machado de guerra deveria ter tido gravadas runas que revelavam o nome e a história do morto, mas os séculos tinham-nas levado por completo. A pró¬pria pedra estava rachada e se desfazendo nos cantos, descolorida aqui e ali por manchas brancas de líquenes em crescimento, ao passo que rosas selvagens subiam pelos pés do rei e chegavam quase ao peito dele.
    Foi ali que Catelyn encontrou Robb, em pé e melancólico no crepúsculo que se apro¬fundava, acompanhado apenas por Vento Cinzento. A chuva havia parado pela primeira vez, e ele estava com a cabeça nua.
    - Este castelo tem um nome? - perguntou em voz baixa quando Catelyn se apro¬ximou.
    - Todo o povo o chamava de Pedravelhas quando eu era menina, mas sem dúvida teve outro nome quando ainda era uma sede de reis, - Acampara ali uma vez com o pai, a caminho de Guardamar. Petyr também estava conosco...
    - Há uma canção - recordou Robb, -"Jenny de Pedravelhas, com as flores nos cabelos".
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 1:46 pm

    - No fim, somos todos só canções. Se tivermos sorte. - Naquele dia brincara de ser Jenny, chegando até a colocar flores nos cabelos. E Petyr fingira ser seu Príncipe das Libé- lulas. Catelyn não teria mais de doze anos, Petyr era apenas um garotinho,
    Robb estudou o sepulcro.
    - De quem é esta sepultura?
    - Aqui jaz Tristifer, o Quarto de Seu Nome, Rei dos Rios e dos Montes. - Um dia, o pai lhe contara sua história. - Governou do Tridente ao Gargalo, milhares de anos antes de Jenny e de seu príncipe, nos dias em que os reinos dos Primeiros Homens caíam um atrás do outro perante o avanço dos ândalos. Chamavam-no de Martelo da Justiça. Lu¬tou uma centena de batalhas e venceu noventa e nove, ou pelo menos é isso que os can¬tores dizem, e quando levantou este castelo, era o mais forte de Westeros. - Pousou uma mão no ombro do filho. - Morreu em sua centésima batalha, quando sete reis ândalos juntaram forças contra ele. O quinto Tristifer não se comparava a ele, e em pouco tempo o reino estava perdido, e depois o castelo, e por fim a linhagem, Com Tristifer Quinto morreu a Casa Mudd, que tinha governado as terras fluviais durante os mil anos anterio¬res à chegada dos ândalos,
    - O herdeiro falhou com ele, - Robb passou uma mão sobre a pedra áspera e des¬gastada, - Tive esperança de deixar Jeyne esperando um bebê... tentamos com bastante freqüência, mas não tenho certeza...
    - Nem sempre acontece na primeira vez. - Embora tenha acontecido com você. - Nem mesmo na centésima. E muito novo.
    - Novo, e um rei - disse ele. - Um rei precisa ter um herdeiro. Se morrer em mi¬nha próxima batalha, o reino não pode morrer comigo. Pela lei, Sansa é a seguinte na linha de sucessão, portanto, Winterfell e o Norte devem passar para ela, - A boca dele comprimiu-se, - Para ela, e para o senhor seu esposo. Tyrion Lannister. Não posso per¬mitir que isso aconteça. Não permitirei Esse anão não pode nunca possuir o Norte,
    - Não - concordou Catelyn. - Tem de nomear outro herdeiro, até o momento em que Jeyne lhe dê um filho. - Refletiu por um momento, - O pai do seu pai não tinha irmãos, mas o pai dele tinha uma irmã que se casou com um filho mais novo de Lorde Raymar Royce, do ramo menor da casa, Eles tiveram três filhas, todas as quais casaram com fidalgos do Vale. Um Waynwood e um Corbray com certeza, A mais nova... pode ter sido um Templeton, mas...
    - Mãe. - Havia certa rispidez no tom de Robb. - Está se esquecendo. Meu pai teve quatro filhos homens.
    Catelyn não tinha se esquecido; não quis encarar o fato, mas ali estava,
    - Um Snow não é um Stark.
    -Jon é mais Stark do que um fidalgo qualquer do Vale que nunca sequer pôs os olhos em Winterfell.
    -Jon é um irmão da Patrulha da Noite, ejurou não tomar esposa nem possuir terras. Aqueles que vestem o negro servem para a vida,
    - O mesmo acontece com os cavaleiros da Guarda Real. Isso não impediu os Lannis¬ter de arrancar o manto branco de Sor Barristan Selmy e de Sor Boros Blount quando deixaram de ter utilidade para eles. Se eu enviar a patrulha uma centena de homens para o lugar de Jon, aposto que vão encontrar alguma maneira de libertá-lo de seus votos.
    Ele está decidido afazer isso. Catelyn sabia como o filho podia ser teimoso.
    - Um bastardo não pode herdar.
    - É verdade, a menos que seja legitimado por decreto real - disse Robb. - Há mais precedente para isso do que para libertar um Irmão Juramentado de seus votos.
    - Precedente - disse ela com amargura, - Sim, Aegon Quarto legitimou todos os seus bastardos no leito de morte. E quanta dor, desgosto, guerra e assassinato nasceram daí? Sei que confia em Jon. Mas pode confiar nos filhos dele? Ou nos filhos deles? Os pretendentes Blackfyre atormentaram os Targaryen ao longo de cinco gerações, até que Barristan, o Ou¬sado, matou os últimos nos Degraus. Se legitimar jon, não há maneira de torná-lo bastardo de novo, Se ele se casar e tiver filhos, os filhos que você tiver com Jeyne nunca estarão a salvo.
    - Jon nunca faria mal a um filho meu.
    - Tal como Theon Greyjoy nunca faria mal a Bran e Rickon?
    Vento Cinzento saltou para cima da cripta do Rei Tristifer, com os dentes à mostra. O rosto de Robb estava frio.
    - Isso é tão cruel quanto injusto. Jon não é como Theon.
    - Você reza para que não seja. Já pensou em suas irmãs? E os direitos delas? Concor¬do que não podemos permitir que o Norte passe para o Duende, mas e Arya? Por lei, ela vem depois de Sansa... sua própria irmã, legítima...
    -... e morta. Ninguém viu ou ouviu falar de Arya desde que cortaram a cabeça do pai. Por que você mente para si mesma? Arya partiu, assim como Bran e Rickon, e matarão também Sansa assim que o anão conseguir dela um filho. Jon é o único irmão que me resta. Se eu morrer sem descendência, quero que ele me suceda como Rei no Norte, Tive a esperança de que apoiasse a minha escolha.
    - Não posso - disse ela. - Em tudo o mais, Robb. Em tudo. Mas não nessa... nessa loucura. Não me peça isso.
    - Não tenho de pedir. Sou o rei. - Robb virou-se e afastou-se, com Vento Cinzento saltando de cima da tumba e pulando atrás dele.
    O que eu fiz?, pensou Catelyn, fatigadamente, quando ficou sozinha junto do sepulcro de pedra de Tristifer. Primeiro irrito Edmure, e agora Robb, mas tudo que fiz foi dizer a verdade. Serão os homens tão frágeis que não consigam suportar ouvi-la? Podia ter chorado nesse momento, se o
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 1:46 pm

    céu não estivesse fazendo isso por ela. Tudo que pôde fazer foi vol¬tar à tenda e sentar-se lá, em silêncio.
    Nos dias que se seguiram, Robb esteve por todo lado; cavalgando à cabeça da van¬guarda com o Grande-Jon, batendo terreno com Vento Cinzento, correndo para trás a fim de se juntar a Robin Flint e à retaguarda. Os homens diziam com orgulho que o Jovem Lobo era o primeiro a se levantar todas as madrugadas e o último a adormecer à noite, mas Catelyn perguntava a si mesma se ele dormia de todo. Está se tornando tão magro e esfomeado quanto seu lobo selvagem.
    - Senhora - disse-lhe Maege Mormont certa manhã enquanto atravessavam uma chuva constante parece tão triste. Há algo errado?
    O senhor meu esposo está morto e o meu pai também. Dois de meus filhos foram assassi¬nados, a minha filha foi dada a um anão sem fé para lhe dar à luz filhos nojentos, a minha outra filha está desaparecida e é provável que esteja morta e o meu último filho e o meu único irmão estão ambos zangados comigo. O que é que pode haver de errado? No entanto, aquilo era mais verdade do que a Senhora Maege gostaria de ouvir.
    - Esta é uma chuva maligna - disse, em vez da verdade. - Sofremos muito, e há mais perigos e desgostos adiante. Precisamos enfrentá-los com ousadia, com berrantes soando e estandartes tremulando cheios de bravura. Mas essa chuva nos abate. Os estandartes pendem, encharcados, e os homens aconchegam-se debaixo de seus mantos e quase não conversam uns com os outros. Só uma chuva maligna gelaria nossos corações quando mais precisamos que eles ardam bem quentes.
    Dacey Mormont olhou para o céu.
    - Gosto mais de ter água chovendo sobre mim do que flechas.
    Catelyn sorriu a contragosto.
    - Receio que seja mais corajosa do que eu. Todas as mulheres da Ilha dos Ursos são assim guerreiras?
    - Ursas, sim - disse a Senhora Maege. - Temos precisado ser assim. Antigamente, os homens de ferro faziam incursões com os seus dracares, ou se não eram eles, eram os sel¬vagens vindos da Costa Gelada. Os homens na maior parte das vezes estavam longe, na pesca. As esposas que eles deixavam para trás tinham de defender a si e aos seus filhos, para não serem todos levados.
    - Há uma imagem esculpida em nosso portão - disse Dacey. - Uma mulher ves¬tida com pele de urso, com um bebê em um braço, mamando. Na outra mão traz um machado de batalha. Não é uma senhora como deve ser, essa, mas sempre gostei dela,
    - Uma vez, meu sobrinho Jorah trouxe para casa uma senhora como deve ser - dis¬se a Senhora Maege. - Conquistou-a num torneio. Como ela odiava aquela imagem.
    - Sim, e todo o resto também - disse Dacey. - Tinha cabelos que eram como fios de ouro, aquela Lynesse. A pele era como creme. Mas suas mãos suaves não tinham sido feitas para machados.
    - Nem as tetas para dar de mamar - disse a mãe, sem rodeios.
    Catelyn sabia de quem falavam; Jorah Mormont tinha trazido sua segunda es¬posa a Winterfell para festas, e certa vez permaneceram durante uma quinzena. Lembrava-se de como a Senhora Lynesse era jovem, bela e infeliz. Uma noite, após várias taças de vinho, confessara a Catelyn que o Norte não era lugar para uma Hightower de Vilavelha.
    - Houve uma Tully de Correrrio que sentiu o mesmo um dia - Catelyn respondeu com gentileza, tentando consolá-la -, mas, com o tempo, encontrou aqui muitas coisas que podia amar.
    Tudo agora perdido, refletiu, Winterfell e Ned, Bran e Rickon, Sansa, Arya, tudo per¬dido. Só resta Robb. Teria havido nela muito de Lynesse Hightower, no fim das contas, e pouco dos Stark? Gostaria de ter sabido como manejar um machado, talvez tivesse sido capaz de protegê-los melhor.
    Os dias seguiram-se aos dias, e a chuva continuava a cair. Cavalgaram ao longo de toda a extensão do Ramo Azul, passando por Seterrios, onde o rio se desdobrava numa coníusão de córregos e riachos, e depois atravessando o Atoleiro da Bruxa, onde lagoas de um verde reluzente esperavam para engolir os incautos e o terreno fofo sugava os cas¬cos dos cavalos como um bebê faminto no peito da mãe. O avanço era mais do que lento. Metade das carroças teve de ser abandonada no lodaçal, e suas cargas foram distribuídas entre mulas e cavalos de tração.
    Lorde Jason Mallister alcançou-os nos pântanos do Atoleiro da Bruxa, Restava ainda mais de uma hora de luz do dia quando ele se aproximou com a sua coluna, mas Robb mandou parar de imediato, e Sor Raynald Westerling veio escoltar Cate¬lyn à tenda do rei. Encontrou o filho sentado ao lado de um braseiro, com um mapa sobre as coxas. Vento Cinzento dormia aos seus pés. Grande-Jon acompanhava-o, bem como Galbart Glover, Maege Mormont, Edmure e um homem que Catelyn não reconheceu, um homem robusto e perdendo os cabelos, de aspecto servil, Este não é fidalgo nenhum, compreendeu no momento em que pôs os olhos no estranho. Nem sequer é um guerreiro.
    Jason Mallister levantou-se para oferecer a Catelyn a cadeira. Nos cabelos, tinha qua¬se tanto branco como castanho, mas o Senhor de Guardamar ainda era um homem bo¬nito; alto e esguio, com um rosto bem delineado e escanhoado, maçãs do rosto salientes e uns ferozes olhos azul-acinzentados.
    - Senhora Stark, é sempre um prazer. Trago boas novas, espero.
    - Temos grande necessidade de algumas, senhor. - Sentou-se, ouvindo a chuva tam- borilar ruidosamente na lona por cima de sua cabeça.
    Robb esperou que Sor Raynald fechasse a aba da tenda.
    - Os deuses ouviram as nossas preces, senhores. Lorde Jason trouxe-nos o capitão do Myraham, um navio mercante de Vilavelha. Capitão, conte-lhes o que me disse.
    - Sim, Vossa Graça. - O homem lambeu nervosamente os lábios. - O último porto onde estive antes de Guardamar foi Fidalporto, em Pyke. Os homens de ferro não me deixaram sair durante
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 1:46 pm

    mais de meio ano, pois é. Ordens do Rei Balon. Só que, bom, pra resumir uma história comprida, ele tá morto.
    - Balon Greyjoy? - o coração de Catelyn parou por um momento. - Está nos dizen¬do que Balon Greyjoy está morto?
    O pequeno capitão maltrapilho confirmou com a cabeça.
    - Sabe como Pyke tá construída num promontório, e parte do castelo tá em rochedos e ilhas ao largo da costa, com pontes entre elas? Bem, segundo me contaram em Fidal- porto, veio uma rajada de vento de oeste, com chuva e trovões, e o velho Rei Balon tava atravessando uma das pontes quando o vento a pegou e fez a coisa em pedaços. Deu à costa dois dias depois, todo inchado e partido. Ouvi dizer que os caranguejos comeram seus olhos.
    Grande-Jon soltou uma gargalhada.
    - Caranguejos-reais, espero eu, para jantar essa geleia real, há?
    O capitão balançou afirmativamente a cabeça.
    - Sim, mas isso não é tudo, ah, não! - inclinou-se para a frente. - O irmão voltou.
    - Victarion? - perguntou Galbart Glover, surpreso.
    - Euron. Chamam-no de Olho de Corvo, um pirata mais negro que qualquer outro que tenha içado uma vela. Desapareceu há anos, mas mal Lorde Balon tinha esfriado, lá tava ele, entrando em Fidalporto com o seu Silêncio. Velas pretas e um casco vermelho, e tripulado por mudos. Ouvi dizer que foi a Asshai e voltou. Mas onde quer que tivesse, agora tá em casa e marchou diretinho pra Pyke e sentou o rabo na Cadeira de Pedra do Mar e afogou Lorde Botley numa barrica de água do mar quando ele protestou. Foi nessa hora que eu fugi de volta pro Myraham e icei âncora, esperando conseguir ir embora en¬quanto as coisas tivessem confusas. E foi o que fiz, e aqui estou.
    - Capitão - disse Robb quando o homem terminou -, tem os meus agradecimentos, e não partirá sem uma recompensa. Lorde Jason vai levá-lo de volta ao seu navio quando terminarmos. Por obséquio, espere lá fora.
    - Isso espero, Vossa Graça. Isso espero.
    Assim que o homem saiu do pavilhão real, Grande-Jon desatou a rir, mas Robb silenciou-o com um olhar.
    - Euron Greyjoy não é a idéia de ninguém para um rei, se metade daquilo que Theon disse dele for verdade. Theon é o legítimo herdeiro, a menos que esteja morto... mas Victarion comanda a Frota de Ferro. Não posso crer que permaneça em Fosso Cailin enquanto Euron Olho de Corvo mantiver Cadeira da Pedra do Mar. Ele tem de voltar.
    - Também há uma filha - relembrou-lhe Galbart Glover. - Aquela que mantém em seu poder no Bosque Profundo, e a esposa e o filho de Robett.
    - Se ficar em Bosque Profundo, isso é tudo que pode esperar manter - disse Robb. - O que é verdade para os irmãos é ainda mais verdade para ela. Terá de zarpar para casa, a fim de expulsar Euron e promover a sua pretensão. - O filho de Catelyn virou-se para Lorde Jason Mallister. - Tem uma frota em Guardamar?
    - Uma frota, Vossa Graça? Meia dúzia de dracares e duas galés de guerra. O sufi¬ciente para defender as minhas costas contra corsários, mas não posso ter esperança de enfrentar a Frota de Ferro em batalha.
    - Nem pediria isso ao senhor. Os homens de ferro irão rumar a Pyke, espero. Theon contou-me como a gente dele pensa. Cada capitão é um rei no seu convés. Todos vão querer ter voz na sucessão. Senhor, preciso que dois de seus dracares contornem o Cabo das Águias e subam o Gargalo até a Atalaia da Água Cinzenta.
    Lorde Jason hesitou.
    - A floresta úmida é drenada por uma dúzia de cursos de água, todos eles rasos, asso¬reados e por mapear. Nem chamaria de rios. Os canais andam sempre derivando e se al¬terando. Há inúmeros bancos de areia, troncos caídos e emaranhados de árvores em pu¬trefação. E a Atalaia da Água Cinzenta ãeslocase. Como os meus navios irão encontrá-la?
    - Subam o rio exibindo o meu estandarte. Os cranogmanos vão encontrá-los. Quero dois navios para duplicar as chances de minha mensagem chegar a Howland Reed. A Senhora Maege irá num deles, Galbart no segundo. - Virou-se para os dois que tinha indicado. - Levarão cartas para os meus senhores que permanecem no Norte, mas todas as ordens nelas contidas serão falsas, para o caso de terem o azar de serem capturados. Se isso acontecer, deverão dizer-lhes que se dirigiam ao norte. De volta à Ilha dos Ursos, ou na direção da Costa Pedregosa. - Bateu com um dedo no mapa. - A chave é Fosso Cai- lin. Lorde Balon sabia disso, e foi por sabê-lo que enviou para lá o irmão Victarion com o núcleo duro das forças Greyjoy.
    - Com disputas de sucessão ou sem elas, os homens de ferro não são burros a ponto de abandonar Fosso Cailin - disse a Senhora Maege.
    - Não mesmo - admitiu Robb. - Victarion deixará para trás a melhor parte de sua guarnição, suponho. No entanto, cada homem que levar consigo será um homem a me¬nos com que teremos de lutar. E ele irá levar muitos de seus capitães, contem com isso. Os líderes. Precisará desses homens para falar por ele se quiser ter esperança de se sentar na Cadeira da Pedra do Mar.
    - Não pode querer atacar pelo talude, Vossa Graça - disse Galbart Glover. - As aproximações são estreitas demais. Não há maneira de desdobrar em linha. Nunca nin¬guém tomou o Fosso.
    - A partir do sul - disse Robb. - Mas se pudermos atacar ao mesmo tempo a partir de norte e de oeste, e pegar os homens de ferro pela retaguarda enquanto eles afastam aquilo que julgam ser o ataque principal, ao longo do talude, então temos uma chance. Depois de me unir a Lorde Bolton e aos Frey, terei mais de doze mil homens. Pretendo dividi-los em três batalhões e fazê-los avançar pelo talude com meio dia de intervalo. Se os Greyjoy têm olhos ao sul do Gargalo, verão todas as minhas forças correndo impetuo¬samente contra Fosso Cailin.
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 1:47 pm

    "Roose Bolton ficará à frente da retaguarda, enquanto eu comandarei o centro. Grande-Jon, você liderará a vanguarda contra Fosso Cailin. Seu ataque deverá ser tão violento que os homens de ferro não tenham tempo para se perguntar se alguém estará se esgueirando sobre eles a partir do norte."
    Grande-Jon soltou um risinho.
    - E melhor que os seus homens cheguem se esgueirando depressa, senão os meus homens assaltam aquelas muralhas e conquistam Fosso Cailin antes que mostre a cara. Darei o castelo de presente ao senhor quando chegar do passeio.
    - Esse é um presente que ficarei feliz em aceitar - disse Robb.
    Edmure franzia a testa.
    - Fala de atacar os homens de ferro pela retaguarda, senhor, mas como planeja passar para norte deles?
    - Há caminhos através do Gargalo que não se encontram em nenhum mapa, tio. Ca¬minhos que só os cranogmanos conhecem... estreitas trilhas entre os pântanos e as estradas aquáticas através dos juncos que só barcos podem seguir. - Virou-se para os dois mensagei¬ros. - Digam a Howland Reed que ele deve me enviar guias, dois dias depois de eu começar a subir o talude. Que os envie para o batalhão central, onde flutua o meu estandarte. Três tro¬pas partirão das Gêmeas, mas só duas chegarão a Fosso Cailin. Meu batalhão vai se dissolver no Gargalo, para voltar a emergir no Febre. Se formos rápidos depois do casamento de meu tio, poderemos estar todos em posição por volta do fim do ano. Cairemos sobre o Fosso de três lados no primeiro dia do novo século, no momento em que os homens de ferro acorda¬rem com martelos batendo nas cabeças do hidromel que vão emborcar na noite anterior.
    - Gosto desse plano - disse Grande-Jon. - Gosto bastante dele.
    Galbart Glover esfregou a boca.
    - Há riscos, Se os cranogmanos falharem...
    - Não ficaremos pior do que antes, Mas eles não falharão, Meu pai conhecia o valor de Howland Reed. - Robb enrolou o mapa, e só então olhou para Catelyn. - Mãe.
    Ficou tensa.
    - Tem algum papel nisso para mim?
    - O seu papel é ficar a salvo. Nossa viagem através do Gargalo será perigosa, e nada nos espera no norte a não ser batalhas, Mas Lorde Mallister teve a bondade de se oferecer para mantê-la em segurança em Guardamar até a guerra acabar. Sei que lá estará confortável.
    Será esta a minha punição por me opor a ele no assunto de Jon Snow? Ou por ser uma mu¬lher e, pior, uma mãe? Precisou de um momento para perceber que todos a observavam. Eles já sabiam, compreendeu. Catelyn não devia ter se surpreendido. Não conquistara amigos ao libertar o Regicida, e mais de uma vez tinha ouvido Grande-Jon dizer que um campo de batalha não era lugar para mulheres.
    A fúria deve ter relampejado em seu rosto, porque Galbart Glover interveio antes que dissesse uma palavra,
    - Senhora, Sua Graça é sensato. E melhor que não venha conosco.
    - Guardamar será iluminada por sua presença, Senhora Catelyn - disse Lorde Jason Mallister.
    - Quer fazer de mim uma prisioneira - disse ela.
    - Uma hóspede de honra - insistiu Lorde Jason.
    Catelyn virou-se para o filho.
    - Não pretendo ofender Lorde Jason - disse, rigidamente -, mas se não puder pros¬seguir com você, preferiria voltar a Correrrio.
    - Deixei a minha esposa em Correrrio. Quero a minha mãe em outro lugar. Se você guardar todos os seus tesouros numa bolsa, só estará tornando a vida daqueles que querem assaltá-lo mais fácil. Após o casamento, irá para Guardamar, e esta é a minha ordem régia. - Robb levantou-se, e, com igual rapidez, seu destino ficou decidido. Pegou uma folha de pergaminho. - Mais uma coisa. Lorde Balon deixou o caos atrás de si, esperamos nós. Eu não farei o mesmo. Mas ainda não tenho um filho, meus irmãos Bran e Rickon estão mor¬tos e minha irmã encontra-se casada com um Lannister. Refleti longa e duramente sobre quem poderá me suceder. Ordeno-lhes agora, como meus senhores legítimos e leais, que coloquem seus seios neste documento como testemunhas de minha decisão.
    Deveras um rei, pensou Catelyn, derrotada. Só podia esperar que a armadilha que ele tinha planejado para Fosso Cailin funcionasse tão bem quanto aquela na qual acabara de prendê-la.
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 1:47 pm

    Samwell 550


    B
    rancarbor, pensou Sam. Por favor, que isto seja Brancarbor. Lembrava-se de Brancar¬bor. Ficava nos mapas que tinha desenhado, rumo ao norte. Se aquela aldeia fosse Brancarbor, saberia onde se encontravam. Por favor, tem de ser. Desejava isso tanto que se esqueceu dos pés por um instante, esqueceu-se das dores nas panturrilhas e nos rins e dos dedos rígidos e tão gelados que quase não sentia. Até se esqueceu de Lorde Mor¬mont e de Craster, das criaturas e dos Outros. Brancarbor, rezou Sam, a qualquer deus que pudesse estar ouvindo.
    Mas todas as aldeias selvagens eram muito parecidas umas com as outras. Um enor¬me represeiro crescia no centro daquela... mas uma árvore branca não queria necessaria¬mente dizer Brancarbor. O represeiro em Brancarbor não era maior do que aquele? Tal¬vez estivesse se lembrando mal. O rosto esculpido no tronco branco como osso era longo e triste; lágrimas vermelhas de seiva seca escorriam de seus olhos. Era esse o seu aspecto quando viemos para o norte? Sam não conseguia se lembrar.
    Em volta da árvore erguia-se um punhado de cabanas de um só cômodo, com telhado de turfa, um edifício comprido feito de troncos e coberto de musgo, um poço de pedra, um curral de ovelhas... mas sem ovelhas, e sem pessoas. Os selvagens tinham partido para se juntar a Mance Rayder nas Presas de Gelo, levando tudo que possuíam, exceto suas casas. Sam sentia-se grato por isso. A noite estava chegando, e seria bom dormir sob um teto, para variar. Estava tão cansado. Parecia que tinha passado metade da vida caminhando. Suas botas estavam se desfazendo, e todas as bolhas em seus pés tinham estourado e se transformado em calos, mas agora tinha bolhas novas debaixo dos calos e os dedos dos pés estavam ficando queimados pelo frio.
    Mas era caminhar ou morrer, e Sam sabia disso. Goiva ainda estava fraca do parto e além disso transportava o bebê; precisava mais do cavalo do que ele. O segundo cavalo tinha morrido três dias depois de partirem da Fortaleza de Craster. Era um milagre que tivesse durado tanto, pobre animal meio esfomeado. O peso de Sam tinha provavelmente acabado com ele. Podiam ter tentado montar ambos no cavalo que sobrara, mas Sam te¬mia que a mesma coisa pudesse voltar a acontecer. É melhor que eu caminhe.
    Sam deixou Goiva no grande edifício fazendo uma fogueira, enquanto ele enfiava a cabeça nas cabanas. Ela era melhor fazendo fogueiras; ele nunca parecia ser capaz de fazer o fogo pegar; da última vez que tentara tirar uma faísca de pederneira e aço, conse¬guiu se cortar na faca. Goiva atou- lhe o corte, mas sua mão estava rígida e dolorida, ainda
    mais desajeitada do que antes. Sabia que devia lavar o ferimento e trocar a atadura, mas tinha medo de olhar para ele. Além disso, fazia tanto frio que detestava tirar as luvas.
    Sam não sabia o que esperava encontrar nas casas vazias. Os selvagens talvez tivessem deixado para trás alguma comida. Precisava ir ver. Jon tinha feito uma busca às choupanas em Brancarbor, a caminho do norte. Dentro de uma das cabanas, Sam ouviu uma restolhar de ratazanas vindo de um canto escuro, mas fora isso nada havia, em nenhuma delas, além de palha velha, cheiros antigos e algumas cinzas sob os buracos para a fumaça.
    Virou-se para o represeiro e estudou por um momento o rosto nele esculpido. Não é o rosto que vimos, admitiu para si mesmo. A árvore não tem nem metade do tamanho daquela de Brancarbor. Os olhos vermelhos choravam sangue, e também não se lembrava disso. Desajeitadamente, Sam se ajoelhou,
    - Deuses antigos, escutem as minhas preces. Os Sete eram os deuses de meu pai, mas proferi as palavras perante vocês quando me juntei à Patrulha. Ajudem-nos agora. Temo que possamos estar perdidos. Também temos fome, e tanto frio. Não sei em que deuses acredito agora, mas... por favor, se estiverem aí, ajudem-nos. Goiva tem um filhinho. - Aquilo foi tudo em que conseguiu pensar para dizer.
    O ocaso se aprofundava, as folhas do represeiro restolhavam suavemente, ondulando como mil mãos vermelhas de sangue. Se os deuses de Jon o tinham ouvido ou não, não saberia dizer.
    Quando voltou ao salão, Goiva tinha o fogo ardendo. Estava sentada junto a ele, com as peles abertas e o bebê ao peito. Tem tanta fome quanto nós, pensou Sam. A velha dera- -Ihes às escondidas um pouco da comida de Craster, mas já tinham comido a maior parte. Sam era um fracasso como caçador até em Monte Chifre, onde as presas eram abundan¬tes e tinha cães e caçadores para ajudá-lo; ali, naquela floresta vazia sem fim, as chances de pegar alguma coisa eram remotas. Suas tentativas de pescar em lagos e riachos meio congelados também tinham resultado em tristes fracassos.
    - Quanto tempo mais, Sam? - perguntou Goiva. - Ainda está longe?
    - Não muito. Não tanto quanto estava. - Sam encolheu-se para fora das alças da mochila, deixou-se cair desajeitadamente no chão e tentou cruzar as pernas. Tinha uma dor tão abominável nas costas devido à caminhada que teria gostado de se encostar em um dos pilares de madeira esculpida que suportavam o telhado, mas a fogueira estava no centro da sala, sob o buraco para a fumaça, e ansiava ainda mais por calor do que por conforto. - Mais alguns dias e devemos chegar lá,
    Sam tinha seus mapas, mas se aquilo não era Brancarbor, então os mapas não iam lhe servir muito, Fomos para leste demais para contornar aquele lago, afligiu-se, ou talvez para oeste demais quando tentei voltar. Começava a odiar lagos e rios. Ali nunca havia botes ou pontes, o que implicava fazer a pé o percurso inteiro em volta dos lagos e procurar locais onde fosse possível vadear os rios. Era mais fácil seguir uma trilha de caça do que abrir caminho através do mato, era
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 1:47 pm

    mais fácil rodear uma serrania do que subi-la. Se Bannen ou Dywen estivessem conosco, a essa altura estaríamos em Castelo Negro, aquecendo os pés na sala comum. Mas Bannen estava morto e Dywen tinha ido embora com Grenn, Edd Doloroso e os outros.
    A Muralha tem quase quinhentos quilômetros de comprimento e duzentos metros de altu¬ra, lembrou Sam a si mesmo. Se continuassem seguindo para o sul, tinham de encontrá- -la, mais cedo ou mais tarde. E ele estava certo de que se dirigiam para o sul. De dia, orientava-se pelo sol, e nas noites limpas podiam seguir a cauda do Dragão de Gelo, se bem que não tivessem viajado muito de noite desde que o segundo cavalo tinha morrido. Até quando a lua estava cheia a escuridão era excessiva debaixo das árvores, e teria sido muito fácil que Sam ou o último garrano quebrassem uma perna. Temos de estar bem a sul a essa altura, temos mesmo.
    Não tinha grande certeza era quanto poderiam ter se desviado para leste ou oeste. Sim, chegariam à Muralha... dentro de um dia ou de uma quinzena, decerto não poderia estar mais longe do que isso, decerto que não... mas onde? Aquilo que tinham de encon¬trar era o portão em Castelo Negro; a única passagem através da Muralha ao longo de uma centena de léguas.
    - A Muralha é tão grande como Craster dizia? - perguntou Goiva.
    - Maior. - Sam tentou parecer alegre. - E tão grande que nem sequer se conseguem ver os castelos que estão escondidos por detrás, Mas eles estão lá, você vai ver. A Muralha é toda feita de gelo, mas os castelos são de pedra e madeira. Há torres altas e porões pro¬fundos e um salão enorme com um grande fogo ardendo na lareira, de noite e de dia. Faz tanto calor lá dentro, Goiva, que nem vai acreditar.
    - Poderei ficar junto do fogo? Eu e o garoto? Não por muito tempo, só até ficarmos bem quentinhos?
    - Poderá ficar junto do fogo todo o tempo que quiser. Vai ter também o que comer e beber. Vinho aquecido com açúcar, canela e outras coisas e uma tigela de guisado de veado com cebolas, e o pão do Hobb, recém-saído do forno, tão quente que quei¬mará seus dedos. - Sam descalçou uma luva para agitar os dele perto das chamas, e rapidamente se arrependeu. Tinham estado dormentes por causa do frio, mas quando as sensibilidade voltou, doeram tanto que quase gritou. - Às vezes um dos irmãos canta - disse, para afastar a mente da dor. - Daeron era quem cantava melhor, mas mandaram-no para Atalaialeste. Mas ainda temos o Halder. E o Sapo. O nome ver-dadeiro dele é Todder, mas parece um sapo, e o chamamos assim. Ele gosta de cantar, mas tem uma voz horrível.
    - Você canta? - Goiva mudou a posição de suas peles, e passou o bebê de um seio para o outro,
    Sam corou.
    - Eu... eu conheço algumas canções. Quando era pequeno, gostava de cantar. E tam¬bém dançava, mas o senhor meu pai nunca gostou que fizesse isso. Ele dizia que se eu queria dar voltas, devia fazer isso no pátio, com uma espada na mão.
    - Pode cantar uma canção do sul? Para o bebê?
    - Se quiser. - Sam pensou por um momento. - Há uma canção que o nosso septão costumava cantar para mim e para as minhas irmãs, quando éramos pequenos e era hora de irmos para a cama. Chama-se "A canção dos sete". - Limpou a garganta e cantou em voz baixa:
    A face do Pai é severa e forte, entre o bem e o mal determina um corte. Pesa a vida, do nascimento à morte, e adora os seus filhinhos.
    A Mãe concede a dádiva da vida, pras esposas é apoio e guarida. Um sorriso e pra tudo há saída, e ela ama os seus filhinhos.
    O Guerreiro enfrenta o inimigo, e é sempre para todos um abrigo. Com espada e lança e com arco e espigo, protege os seus filhinhos.
    A Velha é tão sabedora e antiga, que de todos o destino investiga. Uma candeia de ouro ergue e liga, orienta os seus filhinhos.
    O Ferreiro trabalha noite e dia, pra devolver ao mundo a harmonia. Com martelo, arado, fogo e mestria, constrói para os filhinhos.
    A Donzela anda pelo céu a dançar, vive quando um amante suspirar. Sorri e as aves aprendem a voar, e dá sonhos aos filhinhos.
    Os Sete Deuses que a todos criaram, sempre ouviram aqueles que os chamaram. Podem adormecer, não cairão, eles vigiam-nos, filhinhos. Só fechem os olhos, não cairão, eles vigiam-nos, filhinhos.
    Sam lembrou-se da última vez que tinha cantado a canção com a mãe, para embalar o bebê Dickon. O pai ouviu as vozes e arremeteu quarto adentro, furioso.
    - Não quero voltar a ver isso - tinha dito Lorde Randyll à mulher num tom duro. - Estragou um rapaz com essas canções moles de septão, quer fazer o mesmo com este bebê? - depois olhou para Sam e disse: - Vá cantar com as suas irmãs, se tem mesmo de cantar. Não quero você perto de meu filho.
    O bebê de Goiva tinha adormecido. Era uma coisinha tão minúscula e estava tão quieto que Sam temeu por ele. Nem sequer tinha nome. Interrogara Goiva a respeito disso, mas ela havia dito que dava azar dar nome a uma criança antes de ela fazer dois anos. Eram muitas as que morriam.
    Voltou a aconchegar o mamilo dentro das peles.
    - Isso foi bonito, Sam. Você canta bem.
    - Devia ouvir o Dareon. Tem uma voz doce como hidromel.
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 1:48 pm

    - Bebemos o hidromel mais doce que já provei no dia em que Craster fez de mim uma esposa. Naquela época era verão, e não estava tão frio, - Goiva lançou-lhe um olhar de dúvida. - Só cantou sobre seis deuses? O Craster sempre nos disse que vocês, no sul, tinham sete.
    - Sete - concordou ele -, mas ninguém canta sobre o Estranho. - O rosto do Estra¬nho era o rosto da morte. Até falar dele deixava Sam desconfortável. - Devíamos comer qualquer coisa. Uma mordida ou duas.
    Nada restava além de algumas morcelas, duras como madeira. Sam serrou algumas fatias finas para ambos. O esforço fez seu pulso doer, mas tinha fome suficiente para persistir. Se mastigasse as fatias o suficiente, elas amoleciam e tinham um sabor bom. As esposas de Craster condimentavam-nas com alho.
    Depois de terminarem, Sam pediu desculpas e saiu para se aliviar e cuidar do ca¬valo. Soprava um vento mordente do norte, e as folhas das árvores crepitaram para ele ao passar. Teve de quebrar a fina película de gelo que cobria o riacho para que o cavalo pudesse beber. Era melhor que o levasse para dentro. Não queria acordar ao romper da aurora e descobrir que o cavalo tinha morrido congelado durante a noite. Goiva prosse¬guiria mesmo se isso acontecesse. A garota era muito corajosa, ao contrário dele. Desejou saber o que faria com ela quando voltasse a Castelo Negro. A garota andava sempre dizendo que seria sua esposa se ele quisesse, mas os irmãos negros não tinham esposas; e, além disso, ele era um Tarly de Monte Chifre, nunca poderia se casar com uma selva¬gem. Terei de pensar em algo. Desde que cheguemos vivos à Muralha, o resto não importa, não importa nem um pouquinho.
    Levar o cavalo até o casarão foi bastante simples. Fazê-lo atravessar a porta não foi, mas Sam persistiu. Goiva já cochilava quando ele conseguiu obrigar o garrano a entrar. Prendeu o cavalo a um canto, pôs um pouco de lenha na fogueira, tirou seu manto pe¬sado e contorceu-se para baixo das peles, ao lado da selvagem. Seu manto era suficiente¬mente grande para cobrir os três e manter o calor de seus corpos.
    Goiva cheirava a leite, alho e pelo velho e bolorento, mas já tinha se acostumado a isso. Para Sam, eram cheiros bons. Gostava de dormir ao lado dela. Fazia-o lembrar-se de tempos passados havia muito, quando dividia uma enorme cama em Monte Chifre com duas das irmãs. Aquilo terminou quando Lorde Randyll decidiu que o estava tor¬nando mole como uma menina. Mas dormir sozinho na minha cela fria não me tornou mais duro ou corajoso. Perguntou a si mesmo o que diria o pai se o visse agora. Matei um dos Outros, senhor, imaginava-se dizendo. Apunhalei-o com um punhal de obsidiana, e agora meus irmãos juramentados chamam-me de Sam, o Matador. Mas mesmo em imagi¬nação, Lorde Tarly limitava-se a franzir a testa, descrente.
    Os sonhos que teve nessa noite foram estranhos, Estava de volta a Monte Chifre, ao castelo, mas o pai não se encontrava lá. O castelo agora era de Sam. Jon Snow estava com ele. Lorde Mormont, o Velho Urso, também, bem como Grenn, Edd Doloroso, Pyp e o Sapo e todos os outros irmãos da Patrulha, mas usavam cores vivas em vez de negro. Sam sentou-se à mesa e banqueteou-os a todos, cortando grossas fatias de um assado com a espada longa do pai, Veneno do Coração. Havia bolos doces para comer e vinho com mel para beber, havia canto e dança, e todo mundo estava aquecido. Quando o banquete terminou, subiu para dormir; não até o quarto do senhor, onde a mãe e o pai viviam, mas para o quarto que antes dividia com as irmãs. Porém, em vez das irmãs, era Goiva quem esperava na enorme cama macia, sem nenhuma roupa exceto uma grande pele hirsuta, com leite escorrendo de seus seios.
    Acordou subitamente, cheio de frio e de terror.
    A fogueira reduzira-se a brasas rubras. O próprio ar parecia congelado, de tão intenso que era o frio. No canto, o garrano relinchava e escoiceava as toras. Goiva estava sentada ao lado da fogueira, abraçada ao bebê. Sam sentou-se, atordoado, com o hálito saindo em nuvens brancas de sua boca. O salão encontrava-se escuro, cheio de sombras, negras e outras mais negras ainda. Os pelos de seus braços estavam em pé.
    Não é nada, disse a si mesmo. Tenho frio, é só isso.
    Então, junto à porta, uma das sombras moveu-se. Uma sombra grande.
    Isso ainda é um sonho, rezou Sam. Oh,faça com que eu continue a dormir, faça com que isso seja um pesadelo. Ele está morto, ele está morto, eu vi-o morrer.
    - Ele veio buscar o bebê - chorou Goiva. - Sente o cheiro dele. Um bebê recém- - nascido fede a vida. Ele veio buscar a vida.
    A enorme silhueta escura curvou-se sob o lintel, entrou no salão e aproximou-se deles arrastando os pés. A luz tênue da fogueira, a sombra transformou-se em Paul Pequeno.
    - Vá embora - coaxou Sam. - Não o queremos aqui.
    As mãos de Paul eram carvão, seu rosto, leite, os olhos brilhavam com um azul amar¬go. A geada esbranquiçava sua barba e sobre um ombro empoleirava-se um corvo, bi¬cando seu rosto, comendo a carne morta e branca. A bexiga de Sam largou-se, e sentiu o calor que corria pernas abaixo.
    - Goiva, acalme o cavalo e leve-o lá para fora. Faça o que eu digo.
    - Você... - começou ela.
    - Eu tenho a faca, O punhal de vidro de dragão. - Puxou-o às apalpadelas enquanto se punha em pé. Tinha dado a primeira faca a Grenn, mas felizmente lembrou-se de tra¬zer o punhal de Lorde Mormont antes de fugir da Fortaleza de Craster. Agarrou-o bem, afastando-se da fogueira, afastando-se de Goiva e do bebê. - Paul? - pretendera soar bravo, mas a palavra tinha saído como um guincho. - Paul Pequeno. Reconhece-me? Sou o Sam, o gordo Sam, Sam, o Assustado, salvou-me na floresta. Carregou-me quando não consegui dar nem mais um passo. Ninguém mais poderia ter feito isso, mas você fez. - Sam recuou, de faca na mão, fungando. Sou um covarde tão grande. - Não nos faça mal, Paul. Por favor. Por que quereria nos fazer mal?
    Goiva começou a engatinhar, de costas, pelo chão de terra batida. A criatura virou a cabeça para olhá-la, mas Sam gritou "NÁOÍ', e Paul voltou a se virar. O corvo em seu ombro arrancou-lhe uma
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 1:48 pm

    tira de carne da bochecha pálida e arruinada. Sam levantou o punhal à sua frente, respirando como um fole de ferreiro. Do outro lado do salão, Goiva chegou junto do garrano. Deuses, deem-me coragem, rezou Sam. Por uma vez, deem-me um pouco de coragem. Só durante tempo suficiente para ela sair.
    Paul Pequeno dirigiu-se a ele. Sam recuou até se encostar em uma rústica parede de tron¬cos. Agarrou o punhal com ambas as mãos para mantê-lo firme. A criatura não pareceu temer o vidro de dragão. Talvez não soubesse o que era. Movia-se lentamente, mas Paul Pequeno nunca fora rápido, mesmo em vida. Atrás dele, Goiva murmurou para acalmar o garrano e tentar fazê-lo se dirigir para a porta. Mas o cavalo deve ter sentido um pouco do odor es¬tranho e frio da criatura. De repente, recuou, empinando-se, golpeando com os cascos o ar glacial. Paul girou na direção do som e pareceu perder todo o interesse em Sam.
    Não houve tempo para pensar, rezar ou ter medo. Samwell Tarly atirou-se para a frente e mergulhou o punhal nas costas de Paul Pequeno. Meio virada, a criatura não chegou a vê-lo, O corvo soltou um guincho e levantou voo.
    - Está morto! - gritou Sam enquanto apunhalava. - Está morto, está morto. - Apu¬nhalava e gritava, uma vez, e outra, e outra, rasgando enormes buracos no pesado manto negro de Paul. Cacos de vidro de dragão voaram por todo lado quando a lâmina se esti¬lhaçou na malha de ferro por baixo da lã.
    O gemido de Sam criou uma névoa branca no ar negro. Soltou o cabo agora inú¬til e deu um passo apressado para trás enquanto Paul Pequeno se virava. Antes de conseguir puxar a outra faca, a faca de aço que todos os irmãos usavam, as mãos negras da criatura fecharam-se sob seu queixo. Os dedos de Paul estavam tão frios que pareciam queimar. Enterraram-se profundamente na carne mole da garganta de Sam. Foge, Goiva, foge, quis gritar, mas quando abriu a boca, apenas surgiu um ruído afogado.
    Seus dedos atrapalhados finalmente encontraram o punhal, mas quando o empur¬rou contra a barriga da criatura, a ponta resvalou nos elos de ferro, e a lâmina saltou rodopiando da mão de Sam. Os dedos de Paul apertaram inexoravelmente e começaram a torcer. Ele vai arrancar minha cabeça, pensou Sam em desespero. Sentia a garganta gelada, tinha os pulmões em fogo. Esmurrou e puxou os pulsos da criatura, inutilmente. O mundo reduziu-se a duas estrelas azuis, a uma terrível dor esmagadora e a um frio tão intenso que as lágrimas congelaram sobre seus olhos. Sam contorceu-se e puxou-se, desesperado,., e então inclinou-se para a frente.
    Paul Pequeno era grande e poderoso, mas Sam ainda pesava mais do que ele, e as criaturas eram desajeitadas, ele tinha visto no Punho. A súbita mudança de equilíbrio levou Paul a dar um passo cambaleante para trás, e o homem vivo e o morto estatelaram- -se juntos. O impacto arrancou uma mão da garganta de Sam, e este conseguiu encher rapidamente os pulmões de ar antes que os dedos gelados e negros voltassem. O sabor do sangue tomou sua boca. Torceu o pescoço, em busca da faca, e viu um tênue clarão laran¬ja. A fogueira! Só restavam brasas e cinzas, mesmo assim... não conseguia respirar, nem pensar... Sam contorceu-se para o lado, puxando Paul consigo... seus braços bateram no chão de terra, tateando, esticando-se, espalhando as cinzas, até por fim encontrarem algo quente... um pedaço de madeira carbonizada, com brasas vermelhas e laranja dentro da parte negra... os dedos fecharam-se em volta dela e enfiou-a na boca de Paul, com tanta força que sentiu os dentes se quebrando.
    Mesmo assim, a criatura não fraquejou. Os últimos pensamentos de Sam dirigiram- -se à mãe que o amara e ao pai que desiludira. O salão já girava em sua volta quando viu o fio de fumaça que subia de entre os dentes quebrados de Paul, Então o rosto do morto estourou em chamas, e as mãos se foram.
    Sam bebeu o ar, e rolou debilmente para longe. A criatura ardia, com geada escor¬rendo, pingando, de sua barba enquanto a pele, por baixo, enegrecia. Sam ouviu o corvo guinchar, mas Paul não soltou um som. Quando a boca se abriu, só saíram chamas. E os seus olhos... Desapareceu, o brilho azul desapareceu,
    Arrastou-se para a porta. O ar estava tão frio que respirar doía, mas era uma dor tão boa e doce. Abaixou-se para sair do salão.
    - Goiva? - chamou. - Goiva, matei-o. GiL.
    Ela estava em pé, encostada ao represeiro, com o menino nos braços. As criaturas rodeavam-na. Eram uma dúzia, uma vintena, mais... algumas tinham sido selvagens um dia, e ainda usavam peles... mas as que tinham sido irmãos de Sam eram mais numero¬sas. Viu Lark, o homem das Irmãs, Pé-Leve, Ryles. O quisto no pescoço de Chett estava negro e as pústulas estavam cobertas por uma fina película de gelo. E aquele parecia-se com Hake, embora fosse difícil ter certeza com metade da cabeça faltando. Tinham des¬pedaçado o pobre garrano, e estavam arrancando suas entranhas com mãos que pinga¬vam vermelho. Vapor esbranquiçado subia da barriga dele.
    Sam soltou um gemido.
    - Não é justo...
    "Justo" O corvo pousou em seu ombro. "Justo, justo, justo" Bateu as asas e acompa¬nhou o grito de Goiva. As criaturas estavam quase em cima dela, Sam ouviu as folhas vermelho-escuras do represeiro restolhar, sussurrando umas para as outras numa lín¬gua que não conhecia. A própria luz das estrelas parecia se agitar, e por toda a volta as árvores gemiam e estalavam. Sam Tarly ficou da cor do leite coalhado, e seus olhos esbugalharam-se. Corvos! Estavam no represeiro, às centenas, aos milhares, empoleira- dos em galhos brancos como ossos, espreitando através das folhas. Viu seus bicos abri¬rem quando gritaram, viu-os abrirem suas asas negras, Guinchando, batendo as asas, caíram sobre as criaturas em nuvens furiosas. Um enxame deles rodeou o rosto de Chett e lançou-lhe bicadas nos olhos azuis, cobriram o homem das Irmãs como moscas, arran¬caram pedaços de carne crua de dentro da cabeça desfeita de Hake. Havia tantos que, quando Sam olhou para cima, não conseguiu ver a lua.
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 1:48 pm

    "Vá", disse a ave que se empoleirava em seu ombro."Vá, vá, vá"
    Sam correu, com nuvens de geada explodindo de sua boca. A toda a volta, as criaturas brandiam os braços contra as asas negras e os bicos certeiros que as atacavam, caindo num silêncio arrepiante sem soltar um grunhido ou um grito. Mas os corvos ignoravam Sam. Pegou na mão de Goiva e puxou-a para longe do represeiro.
    - Temos de ir.
    - Mas para onde? - Goiva seguiu-o correndo, trazendo o bebê. - Eles mataram o cavalo, como vamos...
    - Irmão! - o grito atravessou a noite, atravessando os guinchos de um milhar de cor¬vos. Sob as árvores, um homem, envolto da cabeça aos pés numa confusão de negros e cinza, montava um alce. - Aqui - gritou o cavaleiro. Um capuz engolia seu rosto,
    Ele veste negro. Sam empurrou Goiva na direção do homem. O alce era enorme, um alce gigante, com três metros de altura no cachaço, e com um par de chifres que tinham quase outros tantos metros de largura. O animal caiu de joelhos para permitir que montassem.
    - Aqui - disse o cavaleiro, estendendo uma mão enluvada para puxar Goiva para trás de si. Então foi a vez de Sam.
    - Muito obrigado - bufou. Só quando agarrou a mão oferecida percebeu que o cava¬leiro não usava luvas. A mão era negra e fria, com dedos duros como pedra.
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 1:48 pm

    Arya 559



    Q
    uando atingiram o topo da cumeeira e viram o rio, Sandor Clegane puxou as rédeas com força e praguejou.
    A chuva caía de um céu negro de ferro, espicaçando a torrente verde e marrom com dez mil espadas. Deve ter um quilômetro e meio de largura, pensou Arya. As copas de meia centena de árvores projetavam-se das águas rodopiantes, com ramos que tentavam se agarrar ao céu como os braços de homens arrastados pela corrente. Espessos tapetes de folhas encharcadas entupiam a margem, e mais para dentro do canal vislumbrou algo claro e inchado, um veado ou talvez um cavalo morto, deslocando-se rapidamente para jusante. E também se ouvia um som, um rumor surdo no limite da audição, como o ruído que um cão solta logo antes de rosnar.
    Arya contorceu-se na sela e sentiu os elos da cota de malha do Cão de Caça enterrando-se em suas costas. Os braços dele rodeavam-na; no esquerdo, o queimado, tinha colocado um braçal de aço para protegê-lo, mas vira-o trocando as ataduras e o braço por baixo continuava em carne viva e cheio de pus. Mas se as queimaduras doíam, Sandor Clegane não demonstrava.
    - Isto é a Torrente da Água Negra? - tinham cavalgado tanto pela chuva e na escu¬ridão, através de bosques sem trilhas e aldeias sem nome, que Arya perdera qualquer noção de onde se encontravam.
    - E um rio que temos de atravessar, isso é tudo que você precisa saber.
    Clegane respondia-lhe de vez em quando, mas prevenira-a para não retrucar. Tinha lhe dado um monte de avisos naquele primeiro dia.
    - Da próxima vez que me bater, amarro suas mãos atrás das costas - disse. - Da próxi¬ma vez que tentar fugir, amarro seus pés um ao outro. Chore, grite ou volte a me morder, e amordaço você. Podemos seguir montados um atrás do outro, ou posso atirá-la na garupa do cavalo, amarrada como uma porca a caminho da matança. Quem escolhe é você.
    Ela escolhera ir montada, mas da primeira vez que acamparam tinha esperado até julgar que ele dormia e arranjado uma grande pedra irregular para lhe esmagar a cabeça. Silenciosa como uma sombra, disse a si mesma enquanto se aproximava dele, pé ante pé, mas o silêncio não fora suficiente. No fim das contas, Cão de Caça não estava dormindo. Ou talvez tivesse acordado. Fosse como fosse, seus olhos se abriram, sua boca torceu-se e ele tirou a pedra de Arya como se ela fosse um bebê. A única coisa que conseguiu fazer foi chutá-lo.
    - Dessa vez passa - disse ele quando atirou a pedra para o meio dos arbustos. - Mas se for suficientemente burra para voltar a tentar, vou machucá-la.
    - Por que é que não me mata, como fez com o Mycah? - tinha gritado Arya.
    A essa altura, ainda estava desafiadora, mais zangada do que assustada.
    Ele respondeu agarrando a parte da frente da túnica dela e puxando-a até que encos¬tasse em seu rosto queimado.
    - Da próxima vez que disser esse nome, dou-lhe uma sova tão grande que vai desejar que tivesse matado você.
    Depois disso, enrolava-a na manta do cavalo todas as noites quando ia dormir e atava cordas em volta da parte de cima e da parte de baixo do corpo dela, deixando-a tão aper¬tada quanto um bebê enfaixado.
    Tem de ser a Água Negra, decidiu Arya enquanto observava a chuva açoitando o rio. Cão de Caça era o cão de Joffrey; estava levando-a de volta para a Fortaleza Vermelha, para entregá-la a Joffrey e à rainha. Desejou que o sol surgisse para poder ver em que direção seguiam. Quanto mais olhava para o musgo nas árvores, mais confusa ficava. A Água Negra não era tão larga em Porto Real, mas isso foi antes das chuvas.
    - Os vaus vão estar todos impossíveis - disse Sandor Clegane -, e também não me agrada tentar atravessar a nado.
    Não há maneira de atravessar, pensou ela. Lorde Beric vai nos alcançar com certeza. Cle¬gane forçara bastante o seu grande garanhão negro, voltando três vezes para trás, a fim de despistar os perseguidores, chegando até a avançar ao longo de quase um quilômetro pelo leito de um riacho em cheia... mas Arya ainda esperava ver os fora da lei sempre que olhava para trás. Tinha tentado ajudá-los arranhando o nome nos troncos de árvores quando ia para o meio dos arbustos tirar a água do joelho, mas na quarta vez Cão de Caça a flagrou e pôs fim à tentativa. Não importa, tinha dito Arya a si mesma, Thoros vai me encontrar em suas chamas. Só que isso não tinha acontecido. Ainda não, pelo menos, e depois de atravessarem o rio...
    - A vila de Harroway não deve estar longe - disse Cão de Caça. - Onde o Lorde Roote abriga o cavalo de água de duas cabeças do Velho Rei Andahar. Talvez atravesse¬mos nele.
    Arya nunca ouvira falar do Velho Rei Andahar. Também nunca vira um cavalo com duas cabeças, particularmente um que fosse capaz de correr sobre água, mas sabia que não era boa idéia fazer perguntas. Controlou a língua e ficou rígida sobre a sela enquanto Cão de Caça virava a cabeça do garanhão e trotava ao longo da cumeeira, seguindo o rio para jusante. Pelo menos, naquela direção a chuva batia nas costas. Já estava farta de ter a chuva picando os olhos, deixando-a quase cega, e correndo pelo seu rosto como se fos¬sem lágrimas. Os lobos nunca choram, voltou a lembrar a si mesma.
    Não podia passar muito do meio-dia, mas o céu estava escuro como no anoitecer. Arya já tinha perdido a conta dos dias em que não viam o sol. Estava ensopada até os os¬sos, esfolada pela sela, tinha o nariz entupido e sentia-se dolorida. Também tinha febre, e às vezes tremia descontroladamente, mas quando disse ao Cão de Caça que estava doen¬te, ele limitou-se a rosnar para ela e mandar que ela limpasse o nariz e fechasse a boca.
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 1:49 pm

    - Ele passava agora metade do tempo dormindo na sela, confiando que o garanhão seguisse o caminho rural sulcado ou a trilha de caça em que se encontrassem. O cavalo era um corcel pesado, quase tão grande quanto um cavalo de batalha, mas muito mais rá¬pido. Cão de Caça chamava-o de Estranho. Arya tentou roubá-lo uma vez, no momento em que Clegane urinava contra uma árvore, pensando que talvez conseguisse se afastar antes de ele alcançá-la. Estranho quase lhe arrancara o rosto com os dentes. Com o dono, era gentil como um velho castrado, mas com outras pessoas tinha um temperamento tão negro quanto o pelo. Nunca vira um cavalo tão rápido em morder ou escoicear.
    Seguiram pela margem do rio durante horas, passando por dois afluentes lamacentos antes de chegarem ao lugar que Sandor Clegane mencionara.
    - A Vila de Lorde Harroway - disse, e depois, quando a viu: - Seíe infernos! - a vila estava submersa e desolada. As águas da enchente tinham transbordado as margens do rio» Tudo que restava da vila de Harroway era o andar superior de uma estalagem de taipa, a cúpula de sete lados de um septo afundado, dois terços de uma torre redonda de pedra, alguns telhados de sapê bolorentos e uma floresta de chaminés.
    Mas Arya viu que saía fumaça da torre, e um barco largo de fundo achatado encontrava-se bem amarrado por baixo de uma janela em arco. O barco tinha uma dúzia de toletes e um par de grandes esculturas de cabeça de cavalo, montadas na proa e na popa. 0 cavalo de duas cabeças, compreendeu. Havia uma casa de madeira com telhado de turfa bem no meio do convés, e quando Cão de Caça pôs as mãos em volta da boca e gritou, dois homens correram para fora. Um terceiro surgiu na janela da torre, trazendo uma besta engatilhada.
    - 0 que quer? - gritou por sobre as turbulentas águas marrons.
    - Leve-nos para o outro lado - gritou o Cão de Caça em resposta.
    Os homens no barco conferenciaram um com o outro. Um deles, um homem grisalho com braços fortes e costas arqueadas, aproximou-se da amurada.
    - Vai custar dinheiro.
    - Então pagarei.
    Com o quê?, perguntou Arya a si mesma. Os fora da lei tinham levado o ouro de Cle¬gane, mas talvez Lorde Beric lhe tivesse deixado um pouco de prata e cobre. Uma traves¬sia de barco não devia custar mais do que alguns cobres...
    Os barqueiros estavam de novo conversando. Por fim, o das costas arqueadas virou-se e soltou um grito. Surgiram mais seis homens, puxando capuzes por sobre a cabeça para se protegerem da chuva. Outros ainda torceram-se para fora da janela da torre e saltaram para o convés. Metade deles era suficientemente parecida com o homem corcunda para ser de sua família. Alguns desataram as correntes e pegaram em longas varas, enquanto outros encaixaram pesados remos de lâmina larga nos toletes. O barco girou e começou a se aproximar lentamente dos baixios, com os remos batendo regularmente na água de ambos os lados. Sandor Clegane desceu a colina para ir ao seu encontro.
    Quando a parte de trás do barco colidiu com a encosta da colina, os barqueiros abri¬ram uma porta larga que havia por baixo da cabeça esculpida do cavalo, e estenderam uma pesada prancha de carvalho. Estranho refugou à beira da água, mas Cão de Caça enterrou os calcanhares no flanco do corcel e incitou-o a subir na prancha. O homem corcunda esperava-os no convés.
    - Está úmido o suficiente para você, sor? - perguntou, sorrindo.
    A boca de Cão de Caça torceu-se,
    - Preciso de seu barco, não das suas gracinhas, - Desmontou e puxou Arya para baixo. Um dos barqueiros estendeu a mão para o freio do Estranho. - Eu não faria isso - disse
    Clegane, no momento em que o cavalo escoiceava. O homem saltou para trás, escorregou no convés tornado traiçoeiro pela chuva, e estatelou-se sobre o traseiro, xingando.
    O barqueiro com as costas arqueadas já náo estava sorrindo.
    - Podemos levá-lo para o outro lado - disse ele num tom irritado. - Irá custar uma peça de ouro para você. Outra pelo cavalo. Uma terceira pelo rapaz,
    - Três dragões? - Clegane latiu uma gargalhada, - Por três dragões devia me tornar dono da porcaria do barco.
    - No ano passado, talvez se tornasse. Mas com este rio, vou precisar de mãos extras nas varas e nos remos só para tratar de não sermos arrastados cento e cinqüenta quilô¬metros até o mar. As suas opções são essas. Três dragões, ou então ensinar esse seu cavalo infernal a caminhar sobre a água.
    - Gosto de um bandoleiro honesto. Que seja como pretende. Três dragões,,, quando nos deixar a salvo na margem norte.
    - Quero-os agora, senão não vamos. - O homem esticou uma mão grossa e cheia de calos, com a palma para cima,
    Clegane sacudiu a espada para que a lâmina se soltasse dentro da bainha.
    - Aqui tem as suas opções. Ouro na margem norte, ou aço na margem sul.
    O barqueiro ergueu os olhos para o rosto de Cão de Caça. Arya percebeu que o ho¬mem não gostou do que viu ali. Tinha uma dúzia de homens atrás de si, homens fortes com remos e varas de madeira dura nas mãos, mas nenhum deles estava se adiantan¬do para ajudá-lo. Juntos, poderiam dominar Sandor Clegane, embora ele provavelmente matasse três ou quatro antes de o derrubarem.
    - Como é que eu sei que tem o dinheiro? - perguntou o corcunda após um momento.
    Náo tem, ela quis gritar. Em vez disso, mordeu o lábio.
    - Honra de cavaleiro - disse Cão de Caça, sem sorrir.
    Ele nem sequer é um cavaleiro. Também não disse isso.
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 1:49 pm

    - Serve, - O barqueiro cuspiu, - Então venha, podemos levá-lo para a outra margem antes de escurecer. Amarre o cavalo, não o quero espantado quando estivermos a cami¬nho. Há um braseiro na cabine se você e o seu filho quiserem se aquecer.
    - Não sou o estúpido filho dele! - disse Arya, furiosa. Aquilo era ainda pior do que ser confundida com um menino. Estava tão zangada que poderia ter lhes dito quem real¬mente era, mas Sandor Clegane agarrou-a pela parte de trás do colarinho e ergueu-a do convés com apenas uma mão.
    - Quantas vezes tenho de lhe dizer para fechar a merda dessa boca? - sacudiu-a com tanta força que os dentes matraquearam e depois deixou-a cair. - Vá lá para dentro e seque-se, como o homem disse.
    Arya fez o que lhe foi ordenado. O grande braseiro de ferro brilhava, vermelho, en¬chendo a sala com um calor carregado e sufocante. Era agradável estar junto a ele, aque¬cer as mãos e secar-se um pouco, mas assim que sentiu o convés mover-se debaixo dos pés, voltou a deslizar pela porta da frente.
    O cavalo de duas cabeças deslocava-se lentamente pelos baixios, abrindo caminho por entre as chaminés e os telhados da submersa Harroway. Uma dúzia de homens labutava aos remos, enquanto outros quatro usavam as longas varas para empurrar o barco sem¬pre que se aproximassem de uma pedra, uma árvore ou uma casa afundada, O homem corcunda manejava o leme. A chuva tamborilava nas tábuas lisas do convés e respingava nas grandes cabeças de cavalo esculpidas que ficavam na proa e na popa. Arya estava ficando ensopada de novo, mas não se importava. Queria ver. Viu que o homem com a besta ainda se encontrava na janela da torre. Seus olhos seguiram-na enquanto o barco deslizava por baixo. Perguntou a si mesma se seria ele o tal Lorde Roote que Cão de Caça mencionara. Não se parece muito com um senhor. Mas a verdade era que ela também não se parecia muito com uma senhora.
    Depois de estarem fora da vila è no rio propriamente dito, a corrente ficou muito mais forte. Através da neblina cinzenta da chuva Arya conseguiu distinguir um alto pilar de pedra na outra margem, que certamente assinalava o cais para o barco, mas assim que o viu compreendeu que estavam sendo empurrados para longe dele, para jusante. Os re¬madores agora estavam remando com mais vigor, lutando contra a fúria do rio. Folhas e galhos partidos passaram pelo barco rodopiando, tão depressa como se tivessem sido disparados de uma balista. Os homens das varas inclinavam-se para fora e empurravam para longe qualquer coisa que se aproximasse em excesso. Ali também fazia mais vento. Sempre que se virava para olhar para montante, Arya ficava com o rosto molhado da chuva soprada pelo vento. Estranho relinchava e escoiceava enquanto o convés se movia por baixo de suas patas.
    Se eu saltasse pela borda, o rio iria me levar antes mesmo que o Cão de Caça desse por minha falta. Olhou por sobre um ombro, e viu Sandor Clegane lutando com o cavalo as¬sustado, tentando acalmá-lo, Nunca teria uma oportunidade melhor de se ver livre dele. Mas poderia me afogar. Jon costumava dizer que ela nadava como um peixe, mas até um peixe podia ter problemas naquele rio. Mesmo assim, o afogamento podia ser melhor do que Porto Real. Pensou em JofFrey e aproximou-se lentamente da proa, O rio estava marrom-escuro, devido à lama, e era açoitado pela chuva, parecendo-se mais com uma sopa do que com água. Arya perguntou a si mesma se a água estaria muito fria, Não posso ficar muito mais molhada do que estou agora. Apoiou uma mão na amurada.
    Mas um súbito grito fez Arya virar a cabeça antes de ter tempo de saltar. Os barquei¬ros corriam em frente, de varas na mão. Por um momento não compreendeu o que estava acontecendo. Então viu: uma árvore desenraizada, enorme e escura, que vinha direto na direção do barco, Um emaranhado de raízes e ramos projetava-se da água como os bra¬ços estendidos de uma grande lula gigante. Os homens remavam freneticamente para trás, tentando evitar uma colisão que poderia virar o barco ou abrir um rombo em seu casco, O velho tinha virado o leme por completo, e o cavalo da proa estava se voltando para jusante, mas muito devagar, Cintilando em castanho e negro, a árvore corria para eles como um aríete.
    Não podia estar a mais de três metros da proa quando dois dos barqueiros consegui¬ram encostar suas longas varas nela. Uma partiu-se, e o longo craaac do estilhaçamento fez com que parecesse que o barco estava se desfazendo por baixo deles. Mas o segundo homem conseguiu dar um forte empurrão no tronco, apenas o suficiente para afastá-lo. A árvore passou pelo barco a grande velocidade, a uma distância apenas de centímetros, com os galhos arranhando a cabeça de cavalo como se fossem garras. No momento em que pareciam estar a salvo, um dos ramos superiores do monstro deu-lhes uma pancada de raspão. O barco pareceu estremecer, e Arya escorregou, caindo dolorosamente so¬bre um joelho, O homem com a vara quebrada não teve tanta sorte, Arya ouviu-o gritar quando tropeçou na amurada. Depois, as furiosas águas marrons fecharam-se sobre ele, e o barqueiro desapareceu no tempo que Arya demorou para voltar a ficar em pé. Um dos outros homens pegou um rolo de corda, mas não havia ninguém a quem atirá-la.
    Talvez seja levado a algum lugar, mais abaixo, Arya tentou dizer a si mesma, mas o pensamento soava oco. Tinha perdido todo o desejo de nadar. Quando Sandor Clegane gritou para que voltasse para dentro antes que lhe desse uma surra, Arya obedeceu do- cilmente. A essa altura, o barco lutava para voltar à rota, contra um rio que só desejava levá-lo para o mar.
    Quando por fim atracaram, foi a uma considerável distância do embarcadouro habi¬tual. O barco bateu com tanta força na margem que outra vara se partiu, e Arya quase se desequilibrou mais uma vez. Sandor Clegane colocou-a no dorso de Estranho como se não fosse mais pesada do que uma boneca. Os barqueiros fitaram-nos com olhos baços e exaustos, todos menos o corcunda, que estendeu a mão.
    - Seis dragões - exigiu. - Três pela passagem, e três pelo homem que perdi.
    Sandor Clegane esquadrinhou a bolsa e jogou na palma da mão do homem um maço
    amarrotado de pergaminho.
    - Tome. Fique com dez.
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 1:49 pm

    - Dez? - o barqueiro estava confuso. - O que é isso agora?
    - Uma nota de um morto, que vale nove mil dragões, ou por aí. - Cão de Caça saltou para a sela atrás de Arya e deu um sorriso desagradável ao homem. - Dez são seus. Um dia voltarei para vir buscar o resto, por isso vê lá se não gasta tudo.
    O homem semicerrou os olhos para o pergaminho.
    - Escrita. De que vaie a escrita? Prometeu ouro. Honra de cavaleiro, você disse.
    - Os cavaleiros não têm honra nenhuma. Já é hora de aprender isso, velho. - Cão de Caça esporeou o cavalo e afastou-se a galope através da chuva. Os barqueiros lançaram pragas às suas costas, e um ou dois arremessaram pedras, Clegane ignorou tanto as pedras como as palavras, e pouco tempo depois estavam perdidos na sombra das árvores, com o rio reduzido a um rugido minguante atrás deles. - O barco não voltará a atravessar até amanhã - disse - e aqueles ali não aceitarão promessas de papel dos próximos idiotas que aparece¬rem. Se os seus amigos vierem atrás de nós, vão ter de ser nadadores fortes como o diabo.
    Arya encolheu-se e ficou calada. Vaiar morghulis, pensou, de mau humor. Sor Ilyn, Sor Meryn, Rei Joffrey, Rainha Cersei, Dunsen, Polliver, Raff, o Querido, Sor Gregor e Cócegas. E Cão de Caça, Cão de Caça, Cão de Caça.
    Quando a chuva parou e as nuvens se abriram, estava tremendo e espirrando tanto que Clegane decidiu parar para a noite e até tentou acender uma fogueira. Mas a madeira que reuniram revelou-se encharcada demais. Nada que Cão de Caça fizesse era suficiente para que a centelha pegasse. Por fim, desfez o monte de lenha aos pontapés, irritado,
    - Sete malditos infernos - praguejou. - Detesto fogueiras.
    Sentaram-se em pedras molhadas por baixo de um carvalho, escutando o lento bater de água que pingava das folhas enquanto comiam um jantar frio de pão duro, queijo bo¬lorento e salsicha defumada. Cão de Caça cortava a carne com o punhal e semicerrou os olhos quando flagrou Arya olhando para a faca.
    - Nem pense nisso.
    - Não estava pensando - mentiu ela.
    Ele fungou, para mostrar o que pensava daquilo, mas deu-lhe uma grossa fatia de sal¬sicha. Arya pôs-se a roê-la, observando-o enquanto comia.
    - Nunca bati na sua irmã - disse Cão de Caça. - Mas bato em você, se me levar a isso. Pare de tentar pensar em maneiras de me matar. Nenhuma servirá de nada para você,
    Ela não tinha resposta para aquela ameaça. Continuou roendo a salsicha e fitou-o friamente. Dura como pedra, pensou.
    - Ao menos você olha para a minha cara. Isso admito, pequena loba. Gosta dela?
    - Não. Está toda queimada e é feia.
    Clegane ofereceu-lhe um pedaço de queijo com a ponta do punhal.
    - É uma tolinha. De que adiantaria se conseguisse fugir? Acabaria sendo capturada por alguém pior.
    - Não acabaria nada - insistiu ela. - Não há ninguém pior.
    - Não conheceu o meu irmão. Gregor uma vez matou um homem por roncar. Um de seus próprios homens. - Quando sorriu, o lado queimado do rosto retesou-se, torcendo sua boca de uma maneira estranha e desagradável. Ele não tinha lábios desse lado, e a orelha não passava de um resto.
    - Conheci o seu irmão, sim senhor. - A Montanha talvez fosse pior, agora que Arya pensava nisso. - Conheci tanto ele qunato Dunsen, Polliver, Raíf, o Querido, e Cócegas.
    Cão de Caça pareceu surpreso.
    - E como é que a preciosa filhinha de Ned Stark chegou a conhecer gente como essa? Gregor nunca traz suas ratazanas de estimação à corte.
    - Conheço-os da aldeia. - Comeu o queijo, e estendeu a mão para um naco de pão duro. - A aldeia junto ao lago onde capturaram Gendry, eu e Torta Quente, Também capturaram Lommy Mãos-Verdes, mas Raíf, o Querido, matou-o porque tinha a per¬na ferida.
    A boca de Clegane torceu-se.
    - Capturou-a? Meu irmão capturou-a? - Isso fez com que risse, um som amargo, em parte trovão, em parte rosnido. - Gregor nunca soube o que tinha nas mãos, não é? Não podia ter sabido, senão tinha arrastado você, esperneando e aos gritos, para Porto Real, e despejado no colo de Cersei. Oh, que maravilha. Não posso me esquecer de lhe dizer, antes de arrancar o coração dele.
    Não era a primeira vez que ele falava em matar a Montanha.
    - Mas ele é seu irmão - disse Arya, num tom hesitante.
    - Nunca teve um irmão que quisesse matar? - voltou a rir. - Ou talvez uma irmã?
    - então deve ter visto qualquer coisa em seu rosto, porque se debruçou para mais perto.
    - Sansa. E isso, não é? A loba quer matar o passarinho.
    - Não - cuspiu-lhe Arya em resposta. - Quero matar você.
    - Por que cortei ao meio o seu amiguinho? Matei muitos mais do que ele, garanto. Acha que isso faz de mim um monstro qualquer. Bem, talvez faça, mas também salvei a vida de sua irmã. No dia em que a multidão a derrubou de cima do cavalo, abri caminho pelo meio deles com a espada e trouxe-a de volta ao castelo. Caso contrário, teriam dado a ela o mesmo que deram à Lollys Stokeworth. E cantou para mim. Não sabia disso, não é? Sua irmã cantou para mim uma cançãozinha doce.
    - Está mentindo - disse ela de imediato.
    - Não sabe nem metade do que pensa que sabe. A Água Negra? Onde, com os sete infernos, você acha que nós estamos? Para onde acha que vamos?
    O escárnio na voz dele fez com que ela hesitasse.
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 1:49 pm

    - De volta a Porto Real - disse. - Vai me levar a Joffrey e à rainha. - De repente, só pelo modo como ele colocava as questões, compreendeu que se enganava. Mas tinha de
    dizer alguma coisa.
    - Lobinha estúpida e cega. - A voz dele era áspera e dura como um raspar de ferro. - Que se dane o Joffrey, que se dane a rainha, e que se dane aquela gargulazinha retorcida que ela chama de irmáo. Estou farto da cidade deles, farto da sua Guarda Real, farto de Lannisters. O que faz um cão com leões, pergunto a você. - Estendeu a mão para o odre de água e bebeu um longo gole. Enquanto limpava a boca, ofereceu o odre a Arya e disse: - O rio era o Tridente, garota. O Tridente, não a Água Negra. Faça o mapa na cabeça, se for capaz. Amanhã devemos chegar à estrada do rei. Devemos avançar a bom ritmo de¬pois disso, direto às Gêmeas. Serei eu quem vai entregá-la àquela sua mãe. Não o nobre senhor do relâmpago ou a fraude flamejante daquele sacerdote, o monstro. - Sorriu ao ver a expressão de seu rosto. - Acha que seus amigos fora da lei são os únicos capazes de farejar um resgate? Dondarrion ficou com o meu ouro, portanto eu fiquei com você. Diria que vale o dobro daquilo que me roubaram. Talvez até valesse mais se a vendesse de volta aos Lannister, como teme, mas não o farei. Até um cão se cansa de levar pontapés. Se este Jovem Lobo tiver a esperteza que os deuses concederam a um sapo, vai fazer de mim fidalgo e vai me suplicar para entrar no seu serviço. Ele precisa de mim, embora pos¬sa não saber disso ainda. Talvez chegue mesmo a matar Gregor em seu nome, ele haveria de gostar.
    - Ele nunca o aceitará - cuspiu ela em resposta. - Você, não.
    - Nesse caso, aceito tanto ouro quanto consiga carregar, rio na cara dele e vou embo¬ra. Se ele não me aceitar, seria esperto se me matasse, mas não o fará» E demasiado filho do seu pai, segundo tenho ouvido dizer. Por mim tudo bem. Seja como for, quem ganha sou eu. E você também, loba. Portanto pare de choramingar e de me responder torto, que eu estou farto. Mantenha a boca fechada e faça o que eu lhe disser, e talvez até chegue¬mos a tempo do maldito casamento de seu tio.
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 1:50 pm

    Jon 567




    A égua estava esgotada, mas Jon não podia dar descanso a ela, Tinha de chegar à Muralha antes do Magnar. Teria dormido na sela se tivesse uma; na falta disso, já era suficientemente difícil manter-se montado quando acordado. Sua perna ferida doía cada vez mais. Não se atrevia a descansar tempo suficiente para permitir que sarasse. Em vez disso, reabria a ferida sempre que montava.
    Quando chegou ao topo de uma elevação e viu os sulcos marrons da estrada do rei à sua frente, abrindo seu caminho sinuoso para o norte através de montes e planícies, deu palmadinhas no pescoço da égua e disse:
    - Agora tudo que temos de fazer é seguir a estrada, garota. Em breve chegaremos à Muralha. - A essa altura, sua perna já havia se tornado rígida como madeira, e a febre o tinha deixado fora do ar que dera por si por duas vezes cavalgando na direção errada.
    Em breve chegaremos à Muralha. Imaginava os amigos bebendo vinho quente na sala comum. Hobb estaria com suas panelas; Donal Noye, em sua forja; Meistre Aemon, em seus aposentos sob a colônia dos corvos. E o Velho Urso? Sam, Grenn, Edd Doloroso, Dywen com 05 seus dentes de madeira... Jon só podia rezar para que alguns deles tivessem escapado do Punho.
    Ygritte também andava muito em seus pensamentos. Recordava o cheiro de seus ca¬belos, o calor de seu corpo... e a expressão em seu rosto no momento em que cortava a garganta do velho, Fez mal em amá-la, sussurrava uma voz. Fez mal em deixá-la, insistia uma voz diferente. Perguntava a si mesmo se o pai também se sentira assim dilacerado quando tinha deixado a mãe de Jon para voltar para junto da Senhora Catelyn. Estava juramentado a Senhora Stark, e eu estou juramentado à Patrulha da Noite.
    Quando atravessou a Vila Toupeira, estava a tal ponto febril que quase não reconhe¬ceu onde se encontrava. A maior parte da aldeia escondia-se no subsolo, com não mais de um punhado de pequenas cabanas à vista, à luz do quarto minguante. O bordel era um casebre não maior do que uma latrina, com uma lanterna vermelha rangendo ao vento, um olho injetado de sangue espiando a escuridão. Jon desmontou no estábulo anexo, quase caindo do cavalo enquanto acordava dois rapazes com um grito.
    - Preciso de uma montaria nova, com sela e arreios - disse-lhes, num tom que não admitia discussões. Trouxeram-lhe o que pediu; e também um odre de vinho e meia fatia de pão de centeio. - Acordem a aldeia - disse-lhes, - Previna-os. Há selvagens a sul da Muralha. Juntem os seus bens e dirijam-se a Castelo Negro. - Empurrou-se para o dorso
    do castrado negro que lhe deram, cerrando os dentes devido às dores que a perna lhe causava, e cavalgou rapidamente para o norte.
    À medida que as estrelas começavam a desvanecer no céu oriental, a Muralha foi sur¬gindo à sua frente, erguendo-se acima das árvores e das névoas da manhã. O luar cin- tilava, pálido, no gelo. Incentivou o castrado a avançar, seguindo a estrada lamacenta e escorregadia até ver as torres de pedra e os edifícios de madeira de Castelo Negro, ani¬nhados como brinquedos quebrados sob a grande falésia de gelo. A essa altura a Muralha brilhava em tons de rosa e purpura com a primeira luz da alvorada.
    Nenhuma sentinela o desafiou ao passar pelos edifícios exteriores. Ninguém surgiu para barrar seu caminho. Castelo Negro parecia tanto uma ruína como Guardagris. Er¬vas daninhas marrons e quebradiças cresciam entre fendas nas pedras dos pátios. Neve antiga cobria o telhado da Caserna de Pederneira e encostava-se, em montículos em¬purrados pelo vento, à face norte da Torre de Hardin, onde Jon costumava dormir antes de ser nomeado intendente do Velho Urso. Dedos de fuligem manchavam a Torre do Senhor Comandante, nos locais onde a fumaça se derramara das janelas. Mormont tinha se mudado para a Torre do Rei após o incêndio, mas Jon também não viu luzes ali. Do chão não podia dizer se haveria sentinelas patrulhando a Muralha duzentos metros aci¬ma, mas não viu ninguém na enorme escada em zigue-zague que subia a face sul do gelo como se fosse um enorme relâmpago de madeira.
    Mas subia fumaça pela chaminé do arsenal; só um fiapo, quase invisível contra o céu cinzento do Norte. Era o bastante. Jon desmontou e mancou para lá. Jorrava calor da porta aberta como se fosse o hálito quente do verão. Lá dentro, Donal Noye manejava só com um braço os seus foles junto ao fogo. Ergueu o olhar ao ouvir barulho.
    -Jon Snow?
    - Ele mesmo. - Apesar da febre, da exaustão, da perna, do Magnar, do velho, de Ygritte, de Mance, apesar de tudo, Jon sorriu. Era bom estar de volta, era bom ver Noye com a sua grande barriga e a manga arregaçada, com o queixo eriçado de curtos pelos negros.
    O ferreiro largou os foles.
    - A sua cara...
    Quase tinha se esquecido do rosto.
    - Um troca-peles tentou arrancar meu olho.
    Noye franziu a testa.
    - Marcada ou não, é uma cara que eu pensava que não voltaria a ver. Ouvimos dizer que tinha passado para o lado de Mance Rayder.
    Jon agarrou-se à porta para se manter em pé.
    - Quem lhe disse isso?
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    Mensagem  Admin Ter Jun 12, 2012 1:50 pm

    - Jarman Buckwell. Ele voltou há uma quinzena. Seus batedores dizem que viram você com os próprios olhos, acompanhando a coluna dos selvagens com um manto de pele de ovelha sobre os ombros. - Noye observou-o. - Vejo que a última parte é verdade,
    - E tudo verdade - confessou Jon. - Até aí, pelo menos.
    - Nesse caso, devia pegar uma espada para estripá-lo?
    - Não. Estava agindo sob ordens. A última ordem de Qhorin Meia-Mão. Noye, onde está a guarnição?
    - Defendendo a Muralha contra os seus amigos selvagens.
    - Sim, mas onde?
    - Por todo lado. Harma Cabeça de Cão foi vista em Atalaiabosque da Lagoa, Camisa de Chocalho no Monte Longo, Chorão perto de Marcagelo. Ao longo de toda a Mura¬lha... estão aqui, estão ali, estão escalando perto do Portão da Rainha, estão atacando os portões de Guardagris, estão se reunindo para atacar Atalaialeste... mas um vislumbre de um manto negro e desaparecem. No dia seguinte, estão em outro lugar qualquer.
    Jon engoliu um gemido.
    - Simulações. Mance quer que fiquemos bem espalhados, não vê? - E Bowen Marsh fez sua vontade. - O portão está aqui. O ataque será aqui.
    Noye atravessou a sala.
    - Sua perna está ensopada de sangue.
    Jon olhou para baixo, entorpecido. Era verdade. A ferida tinha voltado a abrir.
    - Um ferimento de flecha...
    - Uma flecha de selvagem. - Não era uma pergunta. Noye só tinha um braço, mas o que tinha era grosso e musculoso. Enfiou-o sob o de Jon para ajudar a apoiá-lo. - Está branco como leite, e fervendo. Vou levá-lo a Aemon.
    - Não há tempo para isso. Há selvagens ao sul da Muralha, subindo de Coroadarrai- nha para abrir o portão,
    - Quantos? - Noye quase carregou Jon porta fora.
    - Cento e vinte, e bem armados para selvagens. Armaduras de bronze, alguns pedaços de aço. Quantos homens restam aqui?
    - Quarenta e poucos - disse Donal Noye. - Os aleijados e os enfermos, e alguns ra¬pazes verdes ainda em treinamento.
    - Se Marsh partiu, quem foi que o nomeou como castelão?
    O armeiro soltou uma gargalhada.
    - Sor Wynton, que os deuses o protejam, O último cavaleiro no castelo, e tudo mais. O problema é que o Stout parece ter se esquecido e ninguém se apressou em lembrá-lo disso. Suponho que sou o melhor que temos agora como comandante. O mais feroz dos aleijados.
    Pelo menos isso era bom. O armeiro maneta era obstinado, duro e bem experimenta¬do na guerra. Sor Wynton Stout, por outro lado... bem, ele tinha sido um bom homem outrora, todos concordavam, mas passara oitenta anos como patrulheiro e tanto suas forças como seu juízo tinham sumido. Uma vez adormeceu durante o jantar e quase se afogou numa tigela de sopa de ervilhas.
    - Onde está o seu lobo? - perguntou Noye enquanto atravessavam o pátio.
    - Fantasma. Tive de abandoná-lo quando escalei a Muralha. Tinha esperança de que ele tivesse conseguido chegar aqui.
    - Lamento, jovem. Não houve sinal dele. - Coxearam até a porta do meistre, no lon¬go edifício de madeira sob a colônia de corvos. O armeiro deu um chute nela. - Clydas!
    Após um momento, um homenzinho, de ombros curvados e vestido de negro pôs a cabeça para fora. Seus pequenos olhos cor-de-rosa esbugalharam-se ao ver Jon.
    - Deite o moço, vou buscar o meistre.
    Ardia um fogo na lareira, e a sala estava quase abafada. O calor deixou Jon sonolento. Assim que Noye o deitou de costas, fechou os olhos para fazer com que o mundo parasse de girar. Ouvia os corvos crocitando e protestando, na colônia, por cima de sua cabeça. "Snow", uma ave estava dizendo.'Snow, snow, snow" jon lembrou-se de que aquilo havia
    sido obra de Sam. Perguntou a si mesmo se Samwell Tarly teria retornado em segurança, ou se tinham sido apenas as aves dele.
    Meistre Aemon não demorou a chegar. Deslocava-se lentamente, com uma mão man-chada apoiada no braço de Clydas, enquanto avançava com pequenos passos cautelosos. Em volta de seu pescoço fino, a corrente caía pesadamente, com os elos de ouro e prata cintilando entre ferro, chumbo, estanho e outros metais menos nobres.
    -Jon Snow - disse ele -, quando estiver mais forte, precisa me contar tudo o que viu e fez. Donal, ponha uma chaleira de vinho no fogo e os meus ferros também. Vou querê- -los em brasa. Clydas, vou precisar daquela sua faca boa e afiada. - O meistre tinha mais de cem anos; era encolhido, frágil, calvo e bem cego. Mas se os seus olhos leitosos nada viam, a sua mente ainda era tão aguçada como sempre fora.
    - Há selvagens a caminho - contou Jon, enquanto Clydas lhe abria os calções com uma faca, cortando o pesado pano negro, incrustado de sangue velho e empapado com o novo. - Vindos do sul. Nós escalamos a Muralha...
    Meistre Aemon cheirou o curativo improvisado de Jon quando Clydas o cortou.
    - Nós?
    - Eu acompanhava-os. Qhorin Meia-Mão ordenou-me que me juntasse a eles. - Jon estremeceu quando o dedo do meistre explorou seu ferimento, cutucando e espetando. - O Magnar de Thenn... aaaaaah, isso dói. - Cerrou os dentes. - Onde está o Velho Urso?

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