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    Parte 2 3 realm

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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:22 am

    Bran 473



    A torre erguia-se numa ilha, com a gêmea refletida nas calmas águas azuis, Quando o vento soprava, ondulações deslocavam-se pela superfície do lago, perseguindo- -se umas às outras como crianças brincando. Carvalhos cresciam densos ao longo das margens, um bosque cerrado com um tapete de bolotas caídas por baixo de seus ramos. Depois das árvores ficava a aldeia, ou aquilo que dela restava.
    Era a primeira aldeia que viam desde que estiveram nos montes. Meera tinha batido o terreno em frente, para se certificar de que não havia ninguém escondido entre as ruínas. Caminhando com prudência entre carvalhos e macieiras, com sua rede e lança na mão, espantou três veados vermelhos e fez os animais fugirem aos saltos por entre a vegeta¬ção rasteira. Verão viu o movimento repentino e imediatamente partiu para perseguir os animais. Bran viu o lobo gigante afastar-se aos saltos, e, por um momento, não havia nada que desejasse mais do que enfiar-se na pele dele e correr junto, mas Meera estava acenando para que avançassem. Relutantemente, deu as costas ao Verão e disse a Hodor para prosseguir até a aldeia. Jojen acompanhou-os.
    Bran sabia que o terreno dali até a Muralha era composto por pastagens, campos in¬cultos e colinas baixas e onduladas, prados nas terras altas e brejos nas baixas. Progre¬diriam muito mais facilmente do que nas montanhas que tinham ficado para trás, mas tanto espaço aberto deixava Meera inquieta.
    - Sinto-me nua - confessou. - Não há lugar para nos escondermos.
    -De quem é esta terra? - perguntou Jojen a Bran.
    - Da Patrulha da Noite - respondeu este. - Esta é a Dádiva. A Nova Dádiva, e a norte dela fica a Dádiva de Brandon. - Meistre Luwin ensinara-lhe a história. - Bran¬don, o Construtor, deu toda a terra a sul da Muralha aos irmãos negros, dentro de uma distância de vinte e cinco léguas. Para o seu... para o seu sustento e suporte. - Sentiu-se orgulhoso por ainda se lembrar daquela parte. - Alguns meistres dizem que foi outro Brandon qualquer, não o Construtor, mesmo assim é a Dádiva de Brandon. Milhares de anos mais tarde, a Boa Rainha Alysanne visitou a Muralha em seu dragão Asaprata e achou a Patrulha da Noite tão corajosa que levou o Velho Rei a duplicar o tamanho de suas terras, até cinqüenta léguas. Portanto, essa foi a Segunda Dádiva, - Fez um gesto com a mão. - Aqui. Tudo isto.
    Bran via que ninguém vivia na aldeia havia longos anos. Todas as casas estavam desa¬bando. Até a estalagem. Nunca fora grande coisa como estalagem, pelo aspecto, mas agora
    tudo que dela restava era uma chaminé de pedra e duas paredes rachadas, erguidas no meio de uma dúzia de macieiras. Uma crescia no meio da sala comum, onde uma camada de úmidas folhas marrons e maçãs em putrefação atapetava o chão. O ar estava pesado, com o cheiro que elas exalavam, um odor nauseabundo de sidra que era quase sufocante. Meera apunhalou algumas maçãs com sua lança para rãs, tentando encontrar alguma que ainda estivesse boa para comer, mas estavam todas marrons e bichadas.
    Era um ponto pacífico, calmo, tranqüilo e bonito, mas Bran achou que havia tristeza numa estalagem vazia, e Hodor pareceu sentir isso também,
    - Hodor? - disse ele, com um ar confuso. - Hodor? Hodor?
    - Esta terra é boa. - Jojen pegou um punhado de solo, desfazendo-o entre os dedos. - Uma aldeia, uma estalagem, uma fortaleza robusta no lago, todas essas macieiras... mas onde estão as pessoas, Bran? Por que abandonariam um lugar como este?
    - Tinham medo dos selvagens - disse Bran. - Os selvagens passam por cima da Mura¬lha ou atravessam as montanhas, para fazer incursões, roubar e levar mulheres. Se pegam alguém, transformam seu crânio numa taça para beber sangue, costumava dizer a Velha Ama. A Patrulha da Noite não é tão forte como foi nos tempos de Brandon ou da Rai¬nha Alysanne, por isso mais selvagens conseguem passar. Os lugares próximos da Muralha começaram a ser atacados com tanta freqüência que o povo se mudou para o sul, para as montanhas ou para as terras dos Umber, a leste da estrada do rei. O povo do Grande-Jon também era atacado, mas não tanto quanto as pessoas que costumavam viver na Dádiva.
    Jojen Reed virou a cabeça devagar, ouvindo uma música que só ele era capaz de ouvir.
    - Temos de nos abrigar aqui. Vem aí uma tempestade. Uma das grandes.
    Bran olhou para o céu. Tinha sido um belo, revigorante e cristalino dia de outono, ensolarado e quase quente, mas era verdade que agora surgiam nuvens escuras a oeste, e o vento parecia estar aumentando.
    - Não há telhado na estalagem e só há as duas paredes em pé - ressaltou. - Devería¬mos ir para a fortaleza.
    - Hodor - disse Hodor. Talvez estivesse de acordo.
    - Não temos barco, Bran. - Meera remexeu ociosamente as folhas com a lança para rãs.
    - Há um caminho elevado na água. Um caminho de pedra, escondido sob a água. Podíamos chegar lá a pé. - Eles podiam, pelo menos; Bran teria de ir de cavalinho nos ombros de Hodor, mas pelo menos assim ficaria seco.
    Os Reed trocaram um olhar.
    - Como sabe disso? - perguntou Jojen. - Já esteve aqui, meu príncipe?
    - Não, A Velha Ama me contou. A torre tem uma coroa dourada, está vendo? - Apontou para o edifício. Viam-se manchas de tinta dourada descascando por toda a volta, nas ameias. - A Rainha Alysanne dormiu ali, e por isso pintaram os merlões de dourado em sua honra.
    - Um caminho elevado? - Jojen estudou o lago. - Tem certeza?
    - Absoluta - disse Bran.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:23 am

    Meera encontrou o início com bastante facilidade, depois de saber o que procurar; um caminho de pedra, com um metro de largura, projetado diretamente para dentro do lago. Levou os outros passo a passo, com toda a cautela, testando o caminho com a lança para rãs. Eles viram o local onde o caminho voltava a emergir, saindo da água para a ilha e transformando-se num curto lance de degraus de pedra que levavam à porta da fortaleza.
    Trilha, degraus e porta estavam dispostos em linha reta, o que levava a pensar que o caminho elevado seguia direto, mas não era assim. Sob o lago, ele ziguezagueava, rodeando um terço da ilha antes de fazer uma curva brusca para o outro lado. As curvas eram traiçoeiras, e o longo caminho significava que qualquer um que se apro¬ximasse estaria exposto durante muito tempo a tiros de flecha vindos da torre. Além disso, as pedras escondidas estavam cobertas de lodo e eram escorregadias; por duas vezes, Hodor quase pisou em falso e gritou "HODOR!", alarmado, antes de recuperar o equilíbrio. A segunda vez assustou fortemente Bran. Se Hodor caísse no lago com ele no cesto, podia muito bem se afogar, especialmente se o enorme cavalariço entras¬se em pânico e se esquecesse de que Bran estava lá, como às vezes acontecia. Talvez devêssemos ter ficado na estalagem, debaixo da macieira, pensou, mas a essa altura era tarde demais.
    Felizmente, não houve uma terceira vez, e a água nunca chegou a ultrapassar a cintura de Hodor, embora chegasse ao peito dos Reed. E não muito tempo depois estavam na ilha, subindo os degraus que levavam à fortaleza. A porta ainda era robusta, embora suas pesadas tábuas de carvalho tivessem se deformado com os anos e já não fosse possível fechá-la por completo. Meera abriu-a toda, fazendo as enferrujadas dobradiças de ferro gritar. O lintel era baixo.
    - Abaixe, Hodor - disse Bran, e o cavalariço obedeceu, mas não o suficiente para evi¬tar que Bran batesse a cabeça. - Isso doeu - protestou.
    - Hodor - disse Hodor, endireitando-se.
    Encontravam-se numa caixa-forte sombria, que mal tinha espaço para abrigar os qua¬tro. Degraus esculpidos na parede interior da torre curvavam-se para cima à esquerda e para baixo à direita, por trás de grades de ferro. Bran olhou para cima e viu outra grade bem acima de sua cabeça. Um alçapão. Sentiu-se feliz por não haver ninguém agora lá em cima para despejar óleo fervente por cima deles.
    As grades estavam trancadas, mas as barras de ferro encontravam-se vermelhas de ferrugem. Hodor agarrou a porta da esquerda e deu um puxão nela, grunhindo com o esforço. Nada aconteceu. Tentou empurrar, sem sucesso. Sacudiu as barras, chutou- -as, empurrou-as com o ombro, chacoalhou-as e esmurrou as dobradiças com uma mão enorme até deixar o ar cheio de lascas de ferrugem, mas a porta de ferro não se movia. A que levava ao porão não se mostrou mais cooperante.
    - Não há como entrar - disse Meera, encolhendo os ombros.
    O alçapão ficava bem acima da cabeça de Bran, sentado ali em seu cesto às costas de Hodor. O garoto estendeu as mãos e agarrou-se às barras, para testá-las. Quando puxou para baixo, a grade desprendeu-se do teto, numa cascata de ferrugem e pedra esmigalhada.
    - HODO&/ - gritou Hodor. A pesada grade de ferro deu a Bran outra pancada na cabeça e caiu com estrondo junto aos pés de Jojen quando ele a afastou com as mãos,
    Meera soltou uma gargalhada,
    - Veja só, meu príncipe - disse -, você é mais forte do que Hodor. - Bran corou.
    Com a grade fora do caminho, Hodor foi capaz de erguer Meera e Jojen através do
    alçapão escancarado. Os cranogmanos pegaram Bran pelos braços e puxaram-no tam¬bém. Fazer Hodor entrar foi a parte difícil. Ele era pesado demais para os Reed o ergue¬rem como tinham feito com Bran. Por fim, Bran disse-lhe para procurar algumas pedras grandes. Disso a ilha não tinha falta, e Hodor conseguiu empilhá-las até a altura sufi¬ciente para se agarrar às bordas esfareladas do alçapão e subir por ele.
    - Hodor - ofegou em tom feliz, sorrindo para todos eles.
    Viram-se num labirinto de pequenas celas, escuras e vazias, mas Meera explorou até encontrar o caminho de volta aos degraus. Quanto mais subiam, melhor era a luz; no terceiro andar a espessa parede exterior era perfurada por seteiras, o quarto tinha janelas de verdade e o quinto e último era um grande aposento redondo com portas em arco em três lados que se abriam para pequenas varandas de pedra. No quarto ao lado ficava uma latrina, empoleirada por cima de uma calha de escoamento que descarregava diretamente no lago.
    Quando chegaram ao telhado, o céu estava completamente encoberto, e as nuvens para oeste mostravam-se negras. O vento soprava com tanta força que levantou o manto de Bran e fez com que ondulasse e batesse.
    - Hodor - respondeu Hodor ao barulho.
    Meera descreveu um círculo.
    - Sinto-me quase uma gigante, aqui por cima do mundo.
    - Há árvores no Gargalo que são duas vezes mais altas do que isto - lembrou-lhe o irmão.
    - Sim, mas têm outras árvores em volta com a mesma altura - disse Meera. - O mundo no Gargalo é apertado, e o céu é muito menor. Aqui... sente este vento, irmão? E olhe como o mundo se tornou grande.
    Era verdade, dali via-se a uma longa distância» A sul erguiam-se os sopés dos montes, com as montanhas cinzentas e verdes mais atrás. As planícies onduladas da Nova Dádiva estendiam-se a perder de vista em todas as outras direções.
    - Tinha esperança de conseguirmos ver a Muralha daqui - disse Bran, desapontado. - Foi besteira, ainda devemos estar a cinqüenta léguas de distância. - Só de falar nisso sentia-se cansado e com frio também. - Jojen, o que faremos quando chegarmos à Mura¬lha? Meu tio contava
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:23 am

    sempre como ela é grande. Duzentos metros de altura, e tão espessa na base que os portões são como túneis abertos no gelo. Como é que vamos passar para ir à procura do corvo dos três olhos?
    - Há castelos abandonados ao longo da Muralha, segundo ouvi dizer - respondeu Jojen. - Fortalezas construídas pela Patrulha da Noite, mas agora deixadas sem guarni- ção. Uma delas pode ser o caminho para passar.
    A Velha Ama chamava-os de castelos fantasma. Uma vez, Meistre Luwin obrigara Bran a aprender o nome de todos os fortes ao longo da Muralha. Foi uma tarefa difícil; havia dezenove ao todo, embora não mais de dezessete tivessem tido, em algum momen¬to, guarnição. No banquete dado por ocasião da visita do Rei Robert a Winterfell, Bran recitou os nomes para o tio Benjen, de leste para oeste e depois de oeste para leste. Ben- jen Stark riu e disse:
    - Você os conhece melhor do que eu, Bran. Talvez devesse ser você o Primeiro Patru- lheiro. Eu fico aqui no seu lugar. - Mas isso foi antes de Bran cair. Antes de ficar mutila¬do. Quando acordou aleijado de seu sono, o tio já tinha retornado para Castelo Negro.
    - Meu tio dizia que os portões eram selados com gelo e pedras sempre que um caste¬lo tinha de ser abandonado - disse Bran.
    - Então teremos de abri-los de novo - disse Meera.
    Aquilo deixou-o inquieto.
    - Não devíamos fazer isso. Podem entrar coisas más vindas do outro lado. Devíamos simplesmente ir a Castelo Negro e dizer ao Senhor Comandante para nos deixar passar.
    - Vossa Graça - disse Jojen - temos de evitar Castelo Negro, tal como evitamos a estrada do rei. Há centenas de homens lá.
    - Homens da Patrulha da Noite - disse Bran. - Eles prestam juramentos, de não participar de guerras ou algo parecido.
    - Sim - disse Jojen -, mas bastaria um homem disposto a quebrar seu juramento para vender o seu segredo aos homens de ferro ou ao Bastardo de Bolton, E não temos certeza se a Patrulha concordaria em nos deixar passar. Podiam decidir nos reter ou nos mandar de volta,
    - Mas meu pai era amigo da Patrulha da Noite, e meu tio é Primeiro Patrulheiro. Talvez ele saiba onde vive o corvo de três olhos. E Jon também está em Castelo Negro. - Bran acalentara a esperança de voltar a ver Jon e o tio. Os últimos irmãos negros a visitar Winterfell disseram que Benjen Stark tinha desaparecido durante uma patrulha, mas certamente já teria encontrado uma forma de voltar. - Aposto que a Patrulha até nos daria cavalos - prosseguiu.
    - Silêncio. - Jojen fez sombra com a mão sobre os olhos e olhou na direção do sol poente. - Olhem. Há alguma coisa,., um cavaleiro, parece. Conseguem vê-lo?
    Bran também fez sombra com a mão sobre os olhos, e mesmo assim teve de semicerrá- -los. A princípio nada viu, até que um movimento o fez virar-se. Pensou que poderia ser o Verão, mas não era. Um homem a cavalo. Estava afastado demais para conseguir ver muito mais do que isso.
    - Hodor? - Hodor também tinha posto a mão sobre os olhos, mas estava olhando para o lugar errado. - Hodor?
    - Ele não vem com pressa - disse Meera mas parece-me que se dirige para esta aldeia.
    - E melhor irmos para dentro antes que sejamos vistos - disse Jojen.
    - Verão está perto da aldeia - objetou Bran.
    - Verão vai ficar bem - prometeu Meera. - E só um homem montado num cavalo cansado.
    Algumas gotas gordas começaram a bater contra a pedra na hora em que o grupo se retirava para o andar inferior. O momento foi bem escolhido; a chuva começou a cair forte pouco tempo depois. Conseguiam ouvi-la vergastando a superfície do lago mesmo através das espessas paredes. Sentaram-se no chão da sala redonda e vazia, no meio das sombras que aumentavam. A varanda virada para o norte dava para a aldeia abandonada. Meera rastejou até lá fora, para espreitar por sobre o lago e ver o que tinha acontecido ao cavaleiro.
    - Ele abrigou-se nas ruínas da estalagem - disse-lhes quando voltou para dentro, - Parece que está fazendo uma fogueira na lareira,
    - Gostaria que pudéssemos fazer o mesmo - disse Bran, - Estou com frio, Há mobí¬lia quebrada no fundo das escadas, eu vi. Poderíamos botar o Hodor para cortá-la e nos aquecermos.
    Hodor gostou da idéia.
    - Hodor - disse, em tom esperançoso.
    Jojen sacudiu a cabeça.
    - Fogo significa fumaça. Fumaça vinda desta torre pode ser vista a longa distância.
    - Se houver alguém para ver - argumentou a irmã.
    - Há o homem na aldeia,
    - Um homem,
    - Um homem seria o suficiente para levar Bran aos seus inimigos, se for o homem errado. Ainda temos meio pato que sobrou de ontem. Devíamos comer e descansar. Ao amanhecer, o homem seguirá caminho e nós faremos o mesmo.
    Jojen conseguiu o que queria; conseguia sempre, Meera dividiu o pato entre os qua¬tro. Apanhara-o com sua rede no dia anterior, no momento em que a ave tentava le¬vantar voo do charco onde foi surpreendida. Não era tão saboroso frio como havia sido quente e crocante, recém-saído do espeto, mas pelo menos não iriam passar fome, Bran e Meera dividiram o peito, enquanto Jojen comeu a sobrecoxa. Hodor devorou a asa e a coxa, murmurando "Hodor" e lambendo a gordura dos dedos após cada mordida. Era a vez de Bran de contar uma história, e falou-lhes de outro Brandon Stark, aquele que chamavam de Brandon, o Construtor Naval, o qual velejara para lá do Mar do Poente.
    Caía o crepúsculo quando pato e história terminaram e a chuva continuava caindo. Bran perguntou a si mesmo se Verão estaria muito longe e se teria caçado algum dos veados.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:23 am

    Sombras cinzentas encheram a torre e, lentamente, foram se transformando em escu¬ridão. Hodor ficou inquieto e começou a andar circulando as paredes, parando toda vez que passava pela latrina, para espiar lá dentro, como se tivesse se esquecido do que havia ali. Jojen ficou em pé, junto da varanda norte, escondido pelas sombras, olhando para a noite e para a chuva. Em algum lugar para o norte, um relâmpago ziguezagueou pelo céu, iluminando o interior da torre por um instante. Hodor deu um salto e soltou um ruído assustado. Bran contou até oito, à espera do trovão. Quando ele chegou, Hodor gritou:
    - Hodor!
    Espero que o Verão não esteja assustado também, pensou Bran. Os cães nos canis de Winterfell sempre assustavam-se com as trovoadas, assim como Hodor, Devia ir ver o companheiro, para acalmá-lo...
    O relâmpago voltou a cair e dessa vez o trovão chegou aos seis.
    - Hodor! - berrou de novo Hodor. - HODOR! HODOR! - Pegou a espada, como que para lutar com a tempestade.
    Jojen disse:
    - Quieto, Hodor. Bran, diga para ele não gritar. Consegue tirar a espada dele, Meera?
    - Posso tentar.
    - Hodor, chiu - disse Bran. - Fique calado. Chega desse estúpido hodorar. Sente-se.
    - Hodor? - o grande homem entregou obedientemente a espada a Meera, mas seu rosto era uma máscara de confusão.
    Jojen voltou a se virar para a escuridão, e todos o ouviram prender a respiração.
    - O que se passa? - perguntou Meera.
    - Homens na aldeia.
    - O homem que vimos antes?
    - Outros homens. Armados. Vi um machado e lanças também - Nunca antes Jojen tinha soado tanto como o garoto que era. - Vi-os quando o relâmpago caiu, em movi¬mento entre as árvores.
    - Quantos?
    - Muitos e mais ainda. Demais para contar.
    - Montados?
    - Não.
    - Hodor. - Hodor parecia assustado, - Hodor. Hodor.
    Bran também se sentia um pouco assustado, embora não quisesse admitir isso na frente de Meera.
    - E se vierem até aqui?
    - Não virão. - Ela sentou-se a seu lado. - Por que viriam?
    - Em busca de abrigo. - A voz de Jojen era lúgubre. - A menos que a tempestade passe. Meera, você pode ir até lá embaixo barrar a porta?
    - Nem sequer conseguiria fechá-la. A madeira está deformada demais. Mas eles não passarão por aqueles portões de ferro.
    - Podem passar. Podiam quebrar a fechadura, ou as dobradiças. Ou subir pelo alça¬pão, como nós fizemos.
    Um relâmpago rasgou o céu e Hodor choramingou. Então, um grande trovão rolou por sobre o lago.
    - HODOR - rugiu o cavalariço, apertando as orelhas com as mãos e andando em círculos e aos tropeções através das trevas. - HODOR! HODOR! HODOR!
    - NÁO! - gritou-lhe Bran. - PARE DE HODORAR!
    De nada serviu.
    - HOOOODOR! - gemeu Hodor. Meera tentou segurá-lo e acalmá-lo, mas ele era forte demais. Atirou-a para o lado com apenas um encolher de ombros. - HOOOOOODOOOOOOOR! - gritou o cavalariço quando um relâmpago voltou a encher o céu, e agora até Jojen estava gritando, gritando para que Bran e Meera calas¬sem Hodor,
    - Fique quieto! - disse Bran numa voz esganiçada e assustada, tentando inutilmente alcançar a perna de Hodor quando ele passou ao seu lado, tentando alcançá-lo, tentando alcançá-lo.
    Hodor vacilou e fechou a boca. Balançou lentamente a cabeça de um lado para o ou¬tro, deixou-se cair de novo no chão e sentou-se de pernas cruzadas. Quando o trovão ressoou, pareceu quase não ouvi-lo. Os quatro ficaram sentados na torre escura, quase sem se atreverem a respirar.
    - Bran, o que você fez? - murmurou Meera,
    - Nada. - Bran sacudiu a cabeça. - Não sei. - Mas sabia. Consegui alcançá-lo, da mesma forma que consigo alcançar o Verão. Bran tinha sido Hodor durante meio segundo. Aquilo assustava-o.
    - Está acontecendo alguma coisa para lá do lago - disse Jojen. - Acho que vi um ho¬mem apontando para a torre.
    Não vou ter medo. Ele era o Príncipe de Winterfell, filho de Eddard Stark, quase um homem-feito e, além disso, um warg, já não era um garotinho como Rickon. Verão não teria medo.
    - O mais provável é que sejam homens dos Umber - disse. - Ou podem ser Knott, Norrey ou Flint descidos das montanhas, ou mesmo irmãos da Patrulha da Noite. Usa¬vam mantos negros, Jojen?
    - De noite, todos os mantos são negros, Vossa Graça. E o relâmpago apareceu e desa¬pareceu depressa demais para eu ver o que vestiam.
    Meera mostrava-se prudente.
    - Se fossem irmãos negros, estariam montados, não é verdade?
    Bran tinha pensado em outra coisa.
    - Não importa - disse com confiança. - Eles não poderiam chegar até nós, mesmo se quisessem. A não ser que tenham um barco ou saibam do caminho pela água.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:23 am

    - O caminho elevado! - Meera esfregou os cabelos de Bran e beijou-o na testa. - Nosso querido príncipe! Ele tem razão, Jojen, esses homens não sabem do caminho ele¬vado. E mesmo se soubessem, nunca o encontrariam à noite e na chuva.
    - Mas a noite terminará. Se ficarem até de manhã... - Jojen deixou o resto por dizer. Uns momentos mais tarde, disse: - Eles estão alimentando a fogueira que o primeiro homem acendeu. - Um relâmpago cruzou o céu, e a luz encheu a torre e delineou-os nas sombras. Hodor balançava-se de um lado para o outro, cantarolando.
    Bran conseguiu sentir o medo de Verão naquele instante luminoso. Fechou dois olhos e abriu um terceiro, e sua pele de garoto deslizou de cima de si como um manto ao deixar a torre para trás...
    ... e se ver na chuva, com a barriga cheia de veado, aninhando-se com medo na vegeta¬ção rasteira enquanto o céu se abria e ressoava por cima de si. O cheiro de maçãs podres e folhas molhadas quase afogava o odor dos homens, mas ele estava lá. Ouviu o tinir e deslizar da pele dura, viu homens se deslocando sob as árvores. Um homem com um pedaço de madeira e uma pele puxada por cima da cabeça passou por ele aos tropeções, deixando-o cego e surdo. O lobo rodeou-o a distância, por trás de um espinheiro que gotejava e por baixo dos ramos nus de uma macieira. Conseguia ouvi-los conversando, e sentiu, sob os odores de chuva, folhas e cavalo, o fedor vivo e vermelho do medo...
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:24 am

    Jon 481


    O
    terreno estava coberto de agulhas de pinheiro e folhas sopradas pelo vento, um tape¬te de verde e marrom ainda úmido das chuvas recentes. Esguichava água por baixo dos pés do grupo. Enormes carvalhos de ramos nus, altas sentinelas e tropas de pinheiros marciais erguiam-se por toda a volta, Numa colina acima deles, erguia-se outra torre redonda, antiga e vazia, com um espesso musgo verde escalando o seu lado quase até o cume.
    - Quem construiu aquilo, assim, tudo em pedra? - perguntou-lhe Ygritte. - Algum rei?
    - Não. Foram só os homens que viviam aqui.
    - O que aconteceu com eles?
    - Morreram ou foram embora. - A Dádiva de Brandon tinha sido cultivada durante milhares de anos, mas, conforme a Patrulha ia minguando, o número de mãos para arar os campos, cuidar das abelhas e plantar os pomares diminui, e assim a natureza reclamou o controle de muitos campos de cultivo e salões. Na Nova Dádiva houve aldeias e castros, cujos impostos, entregues em bens e trabalho, ajudavam a alimentar e vestir os irmãos negros. Mas essas também tinham desaparecido em grande parte.
    - Foram tolos por deixar um castelo como este - disse Ygritte.
    - E só uma casa-torre. Um pequeno fidalgo qualquer viveu aí um dia, com a família e alguns homens juramentados a ele. Quando chegavam assaltantes, acendia um farol no telhado. Winterfell tem torres três vezes maiores do que estas,
    Ela olhou-o como se julgasse que Jon estava inventando aquilo.
    - Como é possível que os homens construam tão alto, sem gigantes para levantar as pedras?
    Segundo as lendas, Brandon, o Construtor, tinha usado gigantes para ajudar a erguer Winterfell, mas Jon não quis confundir as coisas.
    - Os homens conseguem construir a alturas muito maiores do que esta. Em Vilavelha há uma torre mais alta do que a Muralha. - Percebeu que ela não acreditou no que ele di- zia.. Se pudesse lhe mostrar Winterfell... dar uma flor apanhada nos jardins de vidro, banqueteá- -Ia no Grande Salão e mostrar os reis de pedra em seus tronos. Poderíamos tomar banho nas la¬goas quentes e fazer amor à sombra da árvore-coração enquanto os deuses antigos nos vigiavam.
    O sonho era agradável.,, mas Winterfell nunca seria seu para mostrar. Pertencia ao seu irmão, o Rei no Norte. Ele era um Snow, não um Stark. Bastardo, perjuro e vira-casaca...
    - Talvez, depois a gente possa voltar para cá e viver naquela torre - disse ela. - Você gostaria, Jon Snow? Depois?
    Depois. A palavra era uma estocada de lança. Depois da guerra. Depois da conquista. Depois de os selvagens abrirem uma brecha na Muralha...
    Um dia, o senhor seu pai havia falado em fazer novos senhores e instalá-los nos cas¬tros abandonados como escudo contra os selvagens. O plano exigiria que a Patrulha ce¬desse uma grande parte da Dádiva, mas o tio Benjen acreditava que o Senhor Coman¬dante podia ser persuadido a fazer isso, desde que os novos fidalgos pagassem impostos a Castelo Negro, e não a Winterfell.
    - Mas é um sonho para a primavera - tinha dito Lorde Eddard. - Com o inverno chegando, nem mesmo a promessa de terras atrairia homens ao norte.
    Se o inverno tivesse chegado e partido mais depressa e a primavera tivesse seguido seu curso, eu poderia ter sido escolhido para ocupar uma destas torres em nome de meu pau Mas Lorde Eddard estava morto e seu irmão Benjen, desaparecido; o escudo que tinham so¬nhado juntos nunca seria forjado.
    - Esta terra pertence à Patrulha - disse Jon.
    As narinas dela dilataram-se.
    - Ninguém vive aqui.
    - Os seus corsários afugentaram-nos,
    - Então eram covardes. Se queriam a terra, deviam ter ficado e lutado.
    - Talvez estivessem cansados de lutar. Cansados de barrar as portas todas as noites, imaginando se Camisa de Chocalho ou alguém como ele as arrombaria para raptar suas mulheres. Fartos de verem as colheitas roubadas, juntamente com qualquer coisa de va¬lor que possuíssem. E mais fácil ir viver fora do alcance de assaltantes. - Mas, se a Mura¬lha cair, todo o Norte ficará ao alcance deles.
    - Você não sabe nada, Jon Snow, São as filhas que são levadas, não as mulheres. São vocês que roubam. Roubaram o mundo inteiro e construíram a Muralha pra manter o povo livre fora dele.
    - Ah, é? - às vezes, Jon se esquecia de quão selvagem ela era, e então Ygritte o lem¬brava disso. - Como foi que isso aconteceu?
    - Os deuses fizeram a terra pra todos os homens partilharem. Mas aí os reis chegaram com suas coroas e espadas de aço e disseram que a terra era toda deles. "As árvores são minhas", disseram, "não podem comer as maçãs", "O riacho é meu, não podem pescar aqui. A floresta é minha, não podem caçar. A minha terra, a minha água, o meu castelo, a minha filha, mantenham as mãos longe, senão eu as corto, mas se vocês se ajoelharem, deixo vocês cheirarem." Chamam-nos de ladrões, mas ao menos um ladrão tem que ser corajoso, esperto e rápido. O tipo que ajoelha só tem que ajoelhar.
    - Harma e Saco de Ossos não fazem incursões em busca de peixe e maçãs. Rou¬bam espadas e machados. Especiarias, sedas e peles. Arrecadam todas as moedas, anéis e taças incrustadas
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:24 am

    de jóias que conseguem encontrar, barris de vinho no verão e barris de carne no inverno, e roubam mulheres em todas as estações e levam-nas para lá da Muralha.
    - E daí se fazem isso? Cá pra mim, é melhor ser raptada por um homem forte do que ser dada a algum fraco te pelo meu pai.
    - É o que você diz, mas como é que sabe? E se fosse raptada por alguém que detes¬tasse?
    - Ele teria de ser rápido, astuto e bravo pra me raptar. Assim, nossos filhos também seriam fortes e espertos. Por que é que eu ia detestar um homem assim?
    - Pode ser que ele nunca se lave, e cheire tão mal como um urso.
    - Nesse caso, eu o empurraria pra dentro de um riacho ou atiraria um balde dagua nele. Seja como for, os homens não devem cheirar bem como flores.
    - O que as flores têm de errado?
    - Nada, pra uma abelha. Pra cama, eu quero um destes. - Ygritte tentou agarrar a parte da frente dos calções de Jon.
    Este agarrou o pulso dela.
    - E se o homem que a raptasse bebesse demais? - insistiu. - E se fosse brutal ou cruel? - Apertou com mais força, para dar peso ao argumento. - E se fosse mais forte do que você e gostasse de espancá-la até deixá-la em carne viva?
    - Cortava a goela dele quando estivesse dormindo. Você não sabe nada, Jon Snow. - Ygritte retorceu-se como uma enguia e libertou-se dele.
    Sei uma coisa. Sei que você é selvagem até os ossos. As vezes era fácil se esquecer disso, quando estavam rindo juntos, ou beijando-se. Mas então um deles diria alguma coisa ou faria algo, e ele subitamente se lembraria da muralha que se erguia entre seus mundos.
    - Um homem pode ser dono de uma mulher ou pode ser dono de uma faca - disse-lhe Ygritte -, mas nenhum homem pode ser dono das duas coisas. Todas as meninas apren¬dem isso com as mães. - Ergueu o queixo em desafio e sacudiu os espessos cabelos ruivos.
    - E os homens não podem ser donos da terra, como não podem ser donos do mar ou do céu. Vocês, os ajoelhadores, pensam que são, mas o Mance vai mostrar outra coisa a vocês.
    Era uma vangloria bela e corajosa, mas soava vazia. Jon deu um olhar de relance para trás, a fim de se certificar de que o Magnar não pudesse ouvi-lo. Errok, o Grande Fu- rúnculo, e o Dan de Cânhamo caminhavam alguns metros atrás deles, mas não estavam prestando atenção na discussão. O Grande Furúnculo se queixava do traseiro.
    - Ygritte - disse em voz baixa -, Mance não pode ganhar esta guerra.
    - Claro que pode! - insistiu ela. - Você não sabe nada, Jon Snow. Nunca viu o povo livre lutar!
    Os selvagens lutavam como heróis ou demônios, dependendo de quem contava a his¬tória, mas no fim das contas acabava dando no mesmo. Eles lutam com uma coragem intré¬pida, com todos os homens em busca de glória.
    - Não duvido de que sejam todos muito corajosos, mas quando chega a hora da bata¬lha, a disciplina sempre vence o valor. No fim, Mance falhará, como todos os Reis-para- -lá-da-Muralha antes dele. E quando isso acontecer, morrerão. Todos vocês.
    Ygritte pareceu tão zangada que Jon pensou que ela fosse bater nele.
    - Todos nós - disse. - Você também. Agora já não é um corvo, Jon Snow. Eu jurei que não era, portanto é melhor não ser. - Empurrou-o contra o tronco de uma árvore e beijou-o em cheio nos lábios, bem ali, no meio da coluna desordenada. Jon ouviu Grigg, o Bode, dizer-lhe para continuar andando. Outra pessoa soltou uma gargalhada. Ele devol¬veu o beijo, apesar de tudo. Quando enfim se separaram, Ygritte estava corada. - É meu
    — sussurrou. - Meu, como eu sou sua. E se morrermos, morremos. Todos os homens têm de morrer, Jon Snow. Mas, primeiro, vivemos.
    - Sim, - A voz de Jon estava pesada, - Primeiro vivemos,
    Ela sorriu ao ouvir aquilo, mostrando-lhe os dentes tortos que ele, sem saber como, acabara amando. Selvagem até o osso, pensou de novo, com uma sensação doentia e triste na boca do estômago. Dobrou os dedos da mão da espada e perguntou a si mesmo o que Ygritte faria se soubesse o que se passava em seu coração, Ela o trairia caso se sentasse com ela e lhe dissesse que ainda era filho de Ned Stark e um homem da Patrulha da Noi¬te? Esperava que não, mas não se atrevia a correr esse risco. Vidas demais dependiam de sua capacidade para chegar a Castelo Negro antes do Magnar... partindo do princípio de que encontraria uma oportunidade de fugir dos selvagens.
    Tinham descido a face sul da Muralha em Guardagris, um castelo abandonado havia duzentos anos. Uma seção dos enormes degraus de pedra tinha ruído havia um século, mesmo assim a descida foi bastante mais fácil do que a subida. Dali, Styr levou-os para o interior profundo da Dádiva, para evitar as habituais patrulhas dos homens de negro, Grigg, o Bode, guiou-os ao redor do punhado de aldeias habitadas que restavam naque¬las terras. Além de umas poucas torres redondas que se projetavam para o céu como dedos de pedra, não viram sinal de homens. Marcharam por colinas úmidas e planícies ventosas, sem serem vigiados, sem serem vistos.
    Não pode se recusar, não importa o que lhe seja solicitado, tinha dito o Meia-Mão. Cavalgue com eles, coma com eles, lute com eles, durante o tempo que for preciso. E ele cavalgara, ao longo de muitas léguas, e caminhara mais ainda, partilhara o pão e o sal deles e também as mantas de Ygritte, mas ainda assim não confiavam nele» Os Thenn observavam-no noite e dia, alertas a qualquer sinal de traição. Não conseguia se afas¬tar, e logo seria tarde demais.
    Lute com eles, disse Qhorin, antes de entregar a vida à Garralonga,,. mas ainda não ha¬via chegado a esse ponto. Assim que derramar o sangue de um irmão, estou perdido. Então atravesso a Muralha para sempre, e não há caminho de volta.
    Após a marcha de cada dia, o Magnar chamava-o para fazer perguntas astutas e perspi¬cazes sobre Castelo Negro, sua guarnição e suas defesas. Jon mentia naquilo que se atrevia e às vezes
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:25 am

    fingia ignorância, mas Grigg, o Bode, e Errok também estavam ouvindo e eles sabiam o suficiente para deixar Jon cauteloso. Uma mentira evidente demais poderia traí-lo,
    Mas a verdade era terrível. Castelo Negro não tinha defesas além da própria Muralha. Nem sequer possuía paliçadas de madeira ou diques de terra. O "castelo" nada mais era do que um aglomerado de torres e fortalezas, dois terços das quais estavam quase em ruí¬nas» Quanto à guarnição, o Velho Urso levara duzentos homens em sua incursão. Teria algum regressado? Jon não tinha como saber. Talvez restassem quatrocentos no castelo, mas a maior parte desses homens era de construtores ou intendentes, não patrulheiros.
    Os Thenns eram guerreiros tarimbados, e mais disciplinados do que um selvagem co¬mum; fora sem dúvida por isso que Mance os escolhera. Os defensores de Castelo Ne¬gro incluiriam o cego Meistre Aemon e seu intendente meio cego Clydas, o Donal Noye, que não tinha um braço, o bêbado do Septão Cellador, Dick Surdo Follard, o cozinheiro Hobb Três-Dedos, o velho Sor Wynton Stout, bem como Halder, Sapo, Pyp, Albett e o resto dos rapazes que tinham treinado com Jon, E no comando deles estaria Bowen Marsh, com seu rosto vermelho, o rechonchudo Senhor Intendente que fora nomeado castelão na ausência de Lorde Mormont. Às vezes, Edd Doloroso chamava Marsh de" Ve¬lha Romã" o que se adequava a ele tão bem quanto"Velho Urso" se ajustava a Mormont.
    - Ele é o homem que você quer na liderança quando os inimigos estão em campo - dizia Edd com sua habitual voz severa. - Ele vai contá-los direitinho por você. E um autêntico demônio para as contas, esse.
    Se o Magnar pegar Castelo Negro ãesprevenido, será um massacre sangrento, com rapa¬zes assassinados em suas camas antes mesmo de saberem que estão sob ataque, Jon tinha de preveni-los, mas como? Nunca era mandado para forragear ou caçar, nem lhe era per¬mitido ficar sozinho de vigia. E também temia por Ygritte. Não podia levá-la, mas, se a deixasse, será que o Magnar iria fazê-la responder por sua traição? Dois corações que batem como um só...
    Todas as noites dividiam as mesmas peles de dormir, e ele adormecia com a cabeça dela sobre o seu peito e os cabelos ruivos fazendo cócegas em seu queixo. O cheiro dela tinha se tornado uma parte de Jon. Seus dentes tortos, a textura de seu seio quando ele o segurava, o sabor de sua boca... eram o seu júbilo e o seu desespero. Muitas noites ficava acordado, com Ygritte quente ao seu lado, perguntando a si mesmo se o senhor seu pai teria se sentido assim tão confuso com a sua mãe, quem quer que ela tivesse sido. Ygritte montou a armadilha, e Mance Rayder empurrou-me para dentro dela.
    Cada dia passado entre os selvagens tornava mais difícil aquilo que tinha de fazer, Teria de arranjar alguma maneira de trair aqueles homens e, quando o fizesse, eles mor¬reriam. Não desejara a sua amizade, tal como não desejara o amor de Ygritte. E no en¬tanto ... Os Thenns expressavam-se no Idioma Antigo e raramente falavam com ele, mas era diferente com os homens de Jarl, com os homens que tinham escalado a Muralha. Jon começava a conhecê-los, apesar de não querer: o magro e calmo Errok, o sociável Grigg, o Bode, os rapazes Quort e Bodger, o Dan de Cânhamo, o cordoeiro. O pior de todos era Del, um jovem com cara de cavalo e quase da mesma idade de Jon, que costumava falar em tom sonhador da garota selvagem que pretendia raptar.
    - Ela é sortuda, como a sua Ygritte. E beijada pelo fogo.
    Jon tinha de morder a língua. Não queria saber nada a respeito da garota de Del ou da mãe de Bodger, do lugar junto ao mar de onde Henk, o Elmo, tinha vindo, de como Grigg ansiava por visitar os homens verdes na Ilha das Caras, ou daquela ocasião em que um alce obrigou Dedo-do-Pé a subir em uma árvore. Não queria ouvir falar do furúncu- lo no traseiro do Grande Furúnculo, nem da quantidade de cerveja que Polegares de Pe¬dra conseguia beber ou da forma como o irmão mais novo de Quort havia lhe implorado que não partisse com Jarl. Quort não podia ter mais de catorze anos, embora já tivesse raptado uma mulher e tivesse um filho a caminho.
    - Pode ser que ele nasça num castelo qualquer - vangloriava-se o rapaz. - Nascido num castelo, como um senhor! - Estava muito arrebatado pelos "castelos" que tinham visto, designando por essa palavra as torres de vigia.
    Jon interrogava-se sobre onde estaria agora o Fantasma. Teria ido para Castelo Ne¬gro, ou andaria vagueando pelos bosques com alguma alcateia? Não tinha qualquer per¬cepção do lobo gigante, nem mesmo em sonhos. Isso fazia-o sentir como se parte de si mesmo tivesse sido cortada. Até com Ygritte dormindo ao seu lado sentia-se só. Não queria morrer sozinho.
    Nessa tarde, as árvores começaram a se tornar mais esparsas, e o grupo marchou para leste, sobre planícies suavemente onduladas. Em volta deles, a grama erguia-se à altura da cintura, e plantações de milho selvagem oscilavam lentamente quando o vento soprava, mas a maior parte do dia foi quente e ensolarado. No entanto, à medida que o pôr do sol se aproximava, nuvens começaram a se acumular, ameaçadoras, a ocidente. Em pouco tempo, engoliram o sol laranja, e Lenn previu que uma tempestade violenta se aproxima¬va, A mãe dele era uma bruxa dos bosques, por isso todos concordavam que o homem possuía um dom para prever o tempo.
    - Há uma aldeia aqui perto - disse Grigg o Bode, ao Magnar. - A quatro ou cinco quilômetros. Poderíamos arranjar abrigo lá. - Styr concordou de imediato,
    Foi já bem depois de escurecer e de a tempestade eclodir que chegaram ao lugar. A aldeia encontrava-se junto a um lago e estava abandonada havia tanto tempo que a maior parte das casas tinha ruído. Até a pequena estalagem de madeira que um dia devia ter sido uma visão bem-vinda para os viajantes estava meio derrubada e sem teto. Aqui, pou¬co abrigo encontraremos, pensou Jon sombriamente. Sempre que o relâmpago caía, via uma torre circular de pedra que se erguia de uma ilha no meio do lago, mas, sem barcos, não tinham como chegar lá.
    Errok e Del avançaram cautelosamente para explorar as ruínas, mas Del retornou quase de imediato. Styr fez a coluna parar e mandou uma dúzia de seus Thenns em fren¬te, a trote, de lanças nas mãos. Então Jon também já tinha visto: o clarão de uma fogueira, avermelhando a chaminé da estalagem. Não estamos sozinhos. O temor enrolou-se em seu interior como uma serpente. Ouviu
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:25 am

    um cavalo relinchar, e depois gritos. Cavalgue com eles, coma com eles, lute com eles, tinha dito Qhorin.
    Mas a luta tinha terminado.
    - Era só um homem - disse Errok quando voltou. - Um velho com um cavalo.
    O Magnar gritou ordens no Idioma Antigo e uma vintena de seus Thenns espalhou-se para estabelecer um perímetro em volta da aldeia, enquanto outros rondaram por entre as casas, a íim de se certificarem de que ninguém mais estava escondido entre o mato e as pedras caídas. Os outros aglomeraram-se na estalagem sem teto, empurrando-se uns aos outros para se aproximarem da lareira. Os galhos partidos que o velho estivera queimando pareciam ge¬rar mais fumaça do que calor, mas qualquer calor era bem-vindo numa noite selvagem e chu¬vosa como aquela. Dois dos Thenns tinham jogado o homem ao chão e estavam revistando suas coisas. Outro segurava seu cavalo, enquanto outros três saqueavam seus alforjes.
    Jon afastou-se. Uma maçã apodrecida estourou sob seu calcanhar. Styr vai matá-lo. O Magnar havia dito isso em Guardagris; quaisquer ajoelhadores que encontrassem seriam mortos de imediato, para terem certeza de que não dariam o alarme. Cavalgue com eles, coma com eles, lute com eles. Será que isso queria dizer que devia ficar mudo e impotente enquanto abriam a garganta de um velho?
    Perto do limite da aldeia, Jon viu-se cara a cara com um dos guardas que Styr colo¬cara, O Thenn rosnou qualquer coisa no Idioma Antigo e apontou com a lança para a estalagem. Volte para o lugar a que pertence, adivinhou Jon. Mas que lugar é esse?
    Caminhou na direção da água e descobriu um local quase seco sob a parede inclinada de taipa de uma choupana em ruínas que tinha desabado quase por completo. Foi ali que Ygritte o encontrou, sentado, fitando o lago açoitado pela chuva.
    - Eu conheço este lugar - disse-lhe quando ela se sentou ao seu lado. - Aquela tor¬re... olhe para o topo da próxima vez que o relâmpago cair e diga-me o que vê.
    - Tá bem, se quiser - disse ela, e depois: - Alguns dos Thenns tão dizendo que ouvi¬ram barulho ali. Gritos, dizem eles.
    - Trovões.
    - Eles dizem que são gritos. Podem ser fantasmas.
    A fortaleza realmente tinha um aspecto sombrio e assustador, ali erguida, negra, no topo de sua ilha rochosa, com a tempestade vergastando o lago em volta.
    - Podíamos dar uma olhada - sugeriu ele. - Duvido que possamos ficar muito mais molhados do que já estamos.
    - Nadar? No meio da tempestade? - ela riu da idéia. - Isso é algum truque pra tirar minha roupa, Jon Snow?
    - Ainda preciso de um truque para isso? - brincou ele. - Ou será que não sabe na- dar? - Jon era um bom nadador, tendo aprendido a arte quando garoto, no grande fosso de Winterfell.
    Ygritte esmurrou o braço dele.
    - Você não sabe nada, Jon Snow. Eu sou meio peixe, vou lhe mostrar.
    - Meio peixe, meio cabra, meio cavalo... há muitas metades em você, Ygritte. - Balan¬çou a cabeça. - Se este lugar é o que eu penso, não teríamos de nadar. Poderíamos ir a pé.
    Ela recostou-se e olhou-o.
    - Caminhar na água? Que feitiçaria sulista é essa?
    - Não é feit... - começou ele no momento em que um enorme relâmpago se preci¬pitou do céu e tocou a superfície do lago. Durante meio segundo o mundo foi brilhante como ao meio-dia. O trovão soou tão alto que Ygritte se assustou e cobriu as orelhas.
    - Viu? - perguntou Jon enquanto o som rolava para longe e a noite ficava negra nova¬mente. - Percebeu?
    - Amarelo - disse ela. - E isso o que quer dizer? Algumas daquelas pedras em pé lá em cima são amarelas.
    - Chamamos de merlões. Foram pintadas de dourado há muito tempo. Isto é Coroa- darrainha.
    Do outro lado do lago, a torre estava negra novamente, uma silhueta tênue, tenue- mente entrevista.
    - Uma rainha vivia aqui? - perguntou Ygritte.
    - Uma rainha passou uma noite aqui. - Foi a Velha Ama que tinha lhe contado a his¬tória, mas Meistre Luwin confirmou a maior parte dela. - Alysanne, a esposa do Rei Jaeha- erys, o Conciliador. Ele é chamado de Velho Rei por ter reinado durante muito tempo, mas era jovem quando subiu ao Trono de Ferro. Naquela época, era seu costume viajar por todo o reino. Quando veio a Winterfell, trouxe a sua rainha, seis dragões e metade da corte. O rei tinha assuntos a discutir com o seu Protetor do Norte, e Alysanne ficou entediada, por isso montou em seu dragão Asaprata e voou para o norte, a fim de ver a Muralha. Esta aldeia foi um dos lugares onde parou. Mais tarde, o povo pintou o topo de sua fortaleza para se parecer com a coroa de ouro que ela usava quando tinha passado a noite entre eles.
    - Nunca vi um dragão.
    - Ninguém viu. Os últimos dragões morreram há cem anos ou mais. Mas isso foi há mais tempo.
    - A Rainha Alysanne, você diz?
    - A Boa Rainha Alysanne, como a chamaram mais tarde. Um dos castelos da Muralha também foi batizado em sua honra. Portão da Rainha. Antes de sua visita, chamavam-no de Portão da Neve.
    - Se era assim tão boa, devia ter derrubado aquela Muralha.
    Não, pensou ele. A Muralha protege o reino. Dos Outros... e também de você e dos seus, querida.
    - Tive outro amigo que também sonhava com dragões. Um anão. Ele disse...
    -JON SNOW! - um dos Thenns encontrava-se em pé junto deles, de testa franzida.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:25 am

    - Magnar quer. - Jon achou que podia ser o mesmo homem que o encontrara na porta da gruta na noite anterior à escalada da Muralha, mas não tinha certeza. Ficou em pé. Ygritte veio com ele, o que sempre fazia Styr franzir a testa, mas toda vez que tentava mandá-la embora, ela lembrava-lhe que era uma mulher livre, não uma ajoelhadora. Ia e vinha conforme lhe apetecia.
    Foram encontrar o Magnar em pé, embaixo da árvore que crescia no chão da sala co¬mum da estalgem. Seu prisioneiro estava ajoelhado diante da lareira, cercado por lanças de madeira e espadas de bronze. Observou a aproximação de Jon, mas nada disse. A chu¬va corria pelas paredes e tamborilava nas poucas folhas que ainda se prendiam à árvore, enquanto a fumaça subia rodopiando, densa, da fogueira.
    - Ele tem de morrer - disse Styr, o Magnar, - Trate disso, corvo.
    O velho não proferiu uma palavra. Limitou-se a olhar para Jon, que estava entre os selvagens. Por entre a chuva e a fumaça, iluminado apenas pelo fogo, não podia ter visto que Jon estava todo vestido de negro exceto pelo manto de pele de ovelha. Ou podia?
    Jon tirou Garralonga da bainha. A chuva lavou o aço e a luz da fogueira traçou uma lúgubre linha alaranjada ao longo do gume. Uma fogueira tão pequena para custar a vida de um homem. Recordou o que Qhorin Meia-Mão havia dito quando avistaram a fogueira no Passo dos Guinchos. Ofogo é vida aqui em cima, disse-lhes, mas também pode ser morte, Mas aquilo fora nas alturas das Presas de Gelo, nas regiões bravías e sem lei para lá da Muralha. Isso era a Dádiva, protegida pela Patrulha da Noite e pelo poderio de Winterfell. Um ho¬mem devia ser livre para acender ali uma fogueira sem morrer por isso.
    - Por que hesita? - disse Styr, - Mate-o e acabou.
    Mesmo então, o cativo não falou. Podia ter dito "Misericórdia", ou "Roubou-me o ca¬valo, o dinheiro, a comida, deixe-me ficar com a vida", ou "Não, por favor, não lhe fiz nenhum mal". Podia ter dito mil coisas, ou chorado, ou apelado aos seus deuses, Mas nenhuma palavra poderia salvá-lo agora. Ele talvez soubesse disso. Portanto, manteve a língua sob controle e olhou para Jon, com acusação e súplica no olhar.
    Não pode se recusar, não importa o que lhe seja solicitado. Cavalgue com eles, coma com eles, lute com eles... Mas esse velho não tinha oferecido resistência, Teve azar, nada mais, Quem era, de onde viera, onde queria chegar em seu pobre cavalo de dorso muito cur¬vo,,, nada disso importava,
    Ele é um velho, disse Jon a si mesmo. Tem cinqüenta anos, talvez sessenta. Viveu uma vida mais longa do que a maioria dos homens. Os Thenns acabarão matando-o de qualquer forma, nada do que eu diga ou faça poderá salvá-lo. Garralonga parecia mais pesada do que chumbo em sua mão, pesada demais para erguer. O homem não parava de encará-lo, com olhos grandes e negros como poços, Vou cair naqueles olhos e me afogar, O Magnar tam¬bém estava a olhá-lo, e Jon quase conseguia sentir o gosto de sua desconfiança. O homem está morto. Que importa que seja a minha mão a matá-lo? Um golpe resolveria o assunto, rápida e limpamente, Garralonga tinha sido forjada com aço valiriano. Tal como Gelo.
    Jon recordou outra morte; o desertor de joelhos, com a cabeça rolando, o tom vivo do sangue na neve,,, a espada do pai, as palavras do pai, o rosto do pai...
    - Vá, Jon Snow - insistiu Ygritte. - Precisa matá-lo. Pra provar que não é um corvo, e sim um membro do povo livre.
    - Um velho sentado junto a uma fogueira?
    - O Orei tamem tava sentado junto a uma fogueira. E você o matou bem depressa. - O olhar que ela lhe lançou então foi duro. - E tamem queria me matar até ver que eu era uma mulher. E eu tava dormindo.
    - Isso foi diferente. Vocês eram soldados... sentinelas.
    - Sim, e os corvos não queriam ser vistos. É como a gente agora. E a mesma coisa. Mate-o.
    Jon deu as costas ao homem,
    -Não,
    O Magnar aproximou-se, alto, frio, perigoso.
    - Eu disse que sim. Sou eu quem comanda aqui.
    - Você comanda os Thenns - disse-lhe Jon -, não o povo livre,
    - Não vejo povo livre nenhum. Vejo um corvo e uma mulher de corvo,
    - Eu não sou mulher de corvo coisa nenhuma! - Ygritte arrancou a faca de dentro da bainha. Três passos rápidos e puxou pelos cabelos a cabeça do velho para trás e abriu sua garganta de orelha a orelha. Nem mesmo na morte o homem gritou. - Você não sabe nada, Jon Snow - gritou-lhe e atirou a faca ensangüentada aos pés dele.
    O Magnar disse qualquer coisa no Idioma Antigo, Podia estar mandando os Thenns matarem Jon ali mesmo, mas ele nunca saberia se isso era verdade. Um relâmpago tom¬bou do céu, um imenso raio azul-esbranquiçado que atingiu o topo da torre do lago. Conseguiram cheirar sua fúria, e quando o trovão chegou, pareceu sacudir a noite.
    E a morte saltou para o meio deles.
    O relâmpago tinha ofuscado a visão de Jon, mas ele conseguiu vislumbrar a sombra que se movia a grande velocidade meio segundo antes de ouvir o guincho. O primeiro Thenn morreu como o velho, com sangue jorrando de sua garganta rasgada. Então a luz desapareceu e a silhueta estava de novo girando, rosnando, e outro homem caiu na es¬curidão. Houve imprecações, gritos, uivos de dor. Jon viu Grande Furúnculo tropeçar e cair para trás, derrubando três homens. Fantasma, pensou, durante um louco instante. O Fantasma saltou a Muralha. Então o relâmpago transformou a noite em dia, e viu o lobo que estava em pé sobre o peito de Del, com sangue escorrendo, negro, de suas mandíbu- las. Cinza. Ele é cinza,
    A escuridão caiu com o trovão. Os Thenns estavam dando estocadas com as lanças enquanto o lobo voava entre eles, A égua do velho empinou-se, enlouquecida pelo cheiro do massacre e
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:25 am

    atacou furiosamente com os cascos. Garralonga continuava em sua mão. E, de repente, Jon Snow percebeu que nunca teria uma oportunidade melhor.
    Abateu o primeiro homem quando se virou para o lobo, passou por um segundo com um empurrão, golpeou um terceiro. Em meio àquela loucura, ouviu alguém chamar seu nome, mas se foi Ygritte ou o Magnar não soube dizer. O Thenn que lutava para contro¬lar o cavalo nem chegou a vê-lo. Garralonga era leve como uma pena. Brandiu-a contra a barriga da perna do homem e sentiu o aço enterrar-se até o osso. Quando o selvagem caiu, a égua fugiu, mas, sem saber como, Jon conseguiu se agarrar à crina com a mão esquerda e saltar para o dorso dela. Uma mão fechou-se em volta de seu tornozelo, e ele deu um golpe para baixo e viu o rosto de Bodger dissolver-se numa balbúrdia de sangue. O cavalo empinou-se, escoiceando para a frente. Um dos cascos atingiu o Thenn na têm¬pora, com um crunch.
    E então estavam a galope. Jon não fez qualquer esforço para guiar o cavalo. Precisou de todas as suas forças para se manter em cima dele enquanto mergulhavam através da lama, da chuva e dos trovões. Mato úmido chicoteava seu rosto e uma lança passou voan¬do junto à sua orelha. Se o cavalo tropeça e quebra uma pata, apanham-me e matam-me, pensou, mas os deuses antigos acompanharam-no e o cavalo não tropeçou. O relâmpago estremeceu através da cúpula negra do céu e o trovão rolou pelas planícies. Os gritos reduziram-se e morreram atrás de Jon.
    Longas horas mais tarde, a chuva parou. Jon deu por si sozinho, num mar de mato alto e negro. Havia uma profunda dor latejante em sua coxa direita. Quando olhou para baixo, ficou surpreendido por ver uma flecha espetada na parte de trás da coxa. Quando foi que isso aconteceu? Agarrou a haste e deu um puxão, mas a ponta da flecha estava pro¬fundamente enterrada na carne de sua perna, e a dor quando a puxou foi insuportável. Tentou pensar na loucura na estalagem, mas tudo que conseguiu recordar foi o animal, esguio, cinza e terrível. Era grande demais para ser um lobo comum. Um lobo gigante, por¬tanto, Tinha de ser. Nunca tinha visto um animal mover-se tão depressa. Como um vento cinzento... Poderia Robb ter retornado ao Norte?
    Jon sacudiu a cabeça. Não tinha respostas. Era difícil demais pensar... sobre o lobo, o velho, Ygritte, tudo aquilo...
    Desajeitadamente deslizou de cima da égua. A perna ferida cedeu sob seu corpo, e ele teve de engolir um grito. Isso vai ser uma agonia. Mas a flecha tinha de sair, e es¬perar apenas pioraria a situação. Jon colocou a mão em volta das penas, respirou fun¬do e empurrou a flecha para a frente. Soltou um grunhido e depois um xingamento. Doeu tanto que teve de parar. Estou sangrando como um porco na matança, pensou, mas não havia nada a fazer até que a flecha saísse. Fez uma careta e voltou a tentar... e depressa voltou a parar, tremendo. Tentou novamente. Daquela vez gritou, mas, quando terminou, a ponta da flecha espetava a parte da frente da coxa. Jon compri¬miu contra a perna os calções ensangüentados a fim de conseguir pegar melhor na flecha, fez um esgar e puxou lentamente a haste através da perna. Nunca soube como conseguiu terminar aquilo sem desmaiar.
    Depois ficou deitado no chão, agarrado ao seu troféu e sangrando calmamente, fraco demais para se mover. Algum tempo depois compreendeu que, caso não se forçasse a se mover, provavelmente sangraria até a morte. Jon rastejou na direção do riacho raso onde a égua matava a sede, lavou a coxa na água fria e apertou-a bem com uma faixa de tecido arrancada do manto. Lavou também a flecha, virando-a nas mãos. As penas eram cinzen¬tas ou brancas? Ygritte usava penas de ganso cinza-claras nas flechas. Terá disparado uma flecha contra mim quando eu fugi? Jon não podia culpá-la por isso. Perguntou a si mesmo se teria apontado para ele ou para o cavalo. Se a égua tivesse caído, estaria condenado.
    - Sorte que a minha perna se pôs no caminho - murmurou.
    Descansou por algum tempo, para deixar a égua pastar. O animal não vagueou até longe. Isso era bom. Coxo, com uma perna em mau estado, nunca teria conseguido apanhá-la. Precisou de todas as suas forças para se obrigar a ficar em pé e subir ao dorso do animal. Como foi que a montei antes, sem sela nem estribos, e de espada na mão? Essa era outra questão que não conseguia responder.
    Um trovão ribombou a distância, mas, por cima de sua cabeça, as nuvens estavam se abrindo. Jon perscrutou o céu até encontrar o Dragão de Gelo e depois virou a égua para o norte, na direção da Muralha e de Castelo Negro. As pulsações de dor no músculo da coxa fizeram-no estremecer quando bateu os calcanhares no cavalo do velho. Vou para casa, disse a si mesmo. Mas se isso era verdade por que se sentia tão vazio?
    Cavalgou até de madrugada, enquanto as estrelas olhavam para baixo como se fos¬sem olhos.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:26 am

    Daenerys 492



    Seus batedores dothraki tinham-lhe dito como era, mas Dany queria ver por si mesma. Sor Jorah Mormont atravessou com ela, a cavalo, uma floresta de vidoeiros e subiu uma íngreme cumeeira de arenito.
    - Estamos suficientemente próximos - avisou-a ao chegar ao topo.
    Dany freou a égua e olhou por sobre os campos, para o local onde a tropa de Yunkai atravessava seu caminho, Barba-Branca andara ensinando-lhe a melhor forma de estimar os números de um inimigo.
    - Cinco mil - disse, passado um momento.
    - Diria que sim. - Sor Jorah apontou. - Aqueles nos flancos são mercenários. Lan- ceiros e arqueiros a cavalo, com espadas e machados para o trabalho de proximidade. Os Segundos Filhos na ala esquerda, os Corvos Tormentosos na direita. Cerca de quinhen¬tos homens cada. Vê os estandartes?
    A harpia de Yunkai agarrava um chicote e uma coleira de ferro em vez de uma corren¬te. Mas os mercenários hasteavam os próprios estandartes por baixo dos da cidade que serviam: do lado direito, quatro corvos entre relâmpagos cruzados; do esquerdo, uma espada quebrada.
    - São os próprios yunkaitas que constituem o centro - destacou Dany. A distância, seus oficiais eram indistinguíveis dos de Astapor; elmos altos e brilhantes e mantos re¬vestidos de cintilantes discos de cobre. - Os soldados que lideram são escravos?
    - Em grande parte. Mas não se igualam aos Imaculados. Yunkai é conhecida por trei¬nar escravos de cama, não soldados.
    - O que acha? Podemos derrotar este exército?
    - Facilmente - disse Sor Jorah.
    - Mas não sem sangue. - Grande quantidade de sangue empapou os tijolos de Asta¬por quando a cidade caiu, embora pouco dele pertencesse a ela ou aos seus. - Podemos ganhar aqui uma batalha, mas a um custo que talvez não nos permita tomar a cidade.
    - Esse é sempre um risco, khaleesi. Astapor estava complacente e vulnerável. Yunkai está prevenida.
    Dany refletiu. A tropa dos senhores de escravos parecia pequena comparada com a sua, mas os mercenários estavam montados. Viajara tempo demais com os dothraki para não ter um saudável respeito por aquilo que guerreiros a cavalo podiam fazer à infantaria. Os Imaculados poderiam agüentar a carga deles, mas os meus libertados seriam massacrados♦
    - Os senhores de escravos gostam de falar - disse. - Envie uma mensagem dizen¬do que os receberei esta noite em minha tenda. E convide também os comandantes das companhias mercenárias para uma visita. Mas não juntos. Os Corvos Tormentosos ao meio-dia, e os Segundos Filhos duas horas mais tarde.
    - Às suas ordens - disse Sor Jorah. - Mas se não vierem...
    - Virão. Terão curiosidade de ver os dragões e de ouvir o que eu tenho para dizer, e os que forem inteligentes verão aí uma oportunidade para avaliar as minhas forças. - Fez a égua prateada dar meia-volta. - Vou esperá-los em meu pavilhão.
    Céus de um azul carregado e ventos fortes acompanharam Dany de volta à sua tro¬pa, O profundo fosso que iria cercar o acampamento já estava meio cavado, e a floresta encontrava-se cheia de Imaculados que cortavam galhos de vidoeiro para afiar e trans¬formar em estacas. Os eunucos não conseguiam dormir em um acampamento que não estivesse fortificado, ou pelo menos era isso que Verme Cinzento insistia em dizer. Ele estava lá, vigiando o trabalho. Dany parou um momento para conversar com o eunuco.
    - Yunkai preparou-se para a batalha.
    - Isso é bom, Vossa Graça, Estes têm sede de sangue,
    Quando ordenou aos Imaculados para selecionarem oficiais de entre as suas fileiras, Verme Cinzento foi o escolhido da esmagadora maioria para o posto mais elevado. Dany colocou Sor Jorah acima dele, a fim de treiná-lo para o comando, e o cavaleiro exilado dizia que, até agora, o jovem eunuco era duro mas justo, rápido em aprender, incansável e totalmente inflexível em sua atenção aos detalhes,
    - Os Sábios Mestres reuniram um exército de escravos para nos defrontar.
    - Um escravo em Yunkai aprende a natureza dos sete suspiros e as dezesseis posições do prazer, Vossa Graça. Os Imaculados aprendem a natureza das três lanças. O seu Ver¬me Cinzento espera mostrar-lhe.
    Uma das primeiras coisas que Dany fez após a queda de Astapor foi abolir o costu¬me de dar aos Imaculados novos nomes de escravo todos os dias. A maioria daqueles que tinham nascido livres voltou aos nomes com que nasceu; pelo menos os que ainda se lembravam deles. Outros adotaram nome de heróis ou deuses, e às vezes armas, pe¬dras preciosas e até flores, o que resultou em soldados com nomes muito peculiares aos ouvidos de Dany. Verme Cinzento permaneceu Verme Cinzento. Quando lhe perguntou por quê, ele disse:
    - E um nome de sorte. O nome com que este nasceu estava amaldiçoado. Era o nome que ele tinha quando foi escravizado. Mas Verme Cinzento foi o nome que coube a este no dia em que Daenerys Filha daTormenta o libertou.
    - Se houver uma batalha, que Verme Cinzento mostre sabedoria além de valor - disse-lhe Dany. - Poupe qualquer escravo que fugir ou que jogue fora a sua arma. Quan¬to menos forem mortos, mais ficarão para se juntar a nós depois.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:26 am

    - Este vai se lembrar.
    -Eu sei que sim. Venha à minha tenda ao meio-dia. Quero você lá com os outros ofi¬ciais quando tratar com os capitães mercenários. - Dany esporeou a sua prata e dirigiu- -se ao acampamento.
    Dentro do perímetro que os Imaculados tinham estabelecido, as tendas estavam sen¬do erguidas em fileiras ordenadas, com seu grande pavilhão dourado no centro. Havia um segundo acampamento logo depois do dela; cinco vezes maior, irregular e caótico, esse segundo acampamento não tinha fossos, não tinha tendas, não tinha sentineías, não tinha fileiras de cavalos. Aqueles que possuíam cavalos ou mulas dormiam ao lado dos animais, por temerem que fossem roubados. Cabras, ovelhas e cães meio famintos vagueavam livremente entre hordas de mulheres, crianças e velhos. Dany deixara Asta¬por nas mãos de um conselho de antigos escravos liderado por um curandeiro, um erudi¬to e um sacerdote. Todos homens sensatos, pensava, e justos. Mesmo assim, dezenas de milhares preferiram segui-la para Yunkai em vez de permanecer em Astapor. Dei-lhes a cidade e a maioria estava assustada demais para aceitá-la.
    A colcha de retalhos que era a tropa dos libertados fazia a sua parecer pequena, mas eles eram mais um fardo do que uma vantagem. Talvez um em cem possuísse um burro, um camelo ou um boi; a maior parte trazia armas, obtidas pela pilhagem do arsenal de algum dos negociantes de escravos, mas só um em dez era suficientemente forte para lutar, e nenhum se encontrava treinado. Por onde passavam, deixavam a terra nua, como gafanhotos de sandálias. Mas Dany não conseguia se convencer a abandoná-los, como Sor Jorah e seus companheiros de sangue sugeriam. Disse-lhes que eram livres. Não posso dizer-lhes agora que não são livres para se juntarem a mim. Olhou a fumaça que se erguia de suas fogueiras e engoliu um suspiro. Podia ter os melhores soldados de infantaria do mundo, mas também tinha os piores.
    Arstan Barba-Branca encontrava-se em pé à porta de sua tenda, enquanto Belwas, o Forte, se sentava de pernas cruzadas na grama, ali perto, comendo uma tigela de figos. Durante a marcha, o dever de guardá-la caía sobre os ombros daqueles dois. Fizera de Jhogo, Aggo e Rakharo seus kos, além de companheiros de sangue, e agora precisava mais deles para comandar os dothraki do que para proteger a sua pessoa. O khalasar era mi¬núsculo, trinta e poucos guerreiros a cavalo, a maior parte dos quais rapazes sem tranças e velhos corcundas. Mas eram toda a cavalaria que possuía, e não se atrevia a passar sem eles. Os Imaculados podiam ser a melhor infantaria do mundo inteiro, como Sor Jorah dizia, mas também precisava de batedores e guardas avançados.
    - Yunkai terá a guerra - disse Dany ao Barba-Branca, dentro do pavilhão. Irri e Jhi¬qui tinham coberto o chão com tapetes, e Missandei acendera um incenso para adoçar o ar poeirento. Drogon e Rhaegal dormiam sobre um montinho de almofadas, enrolados um no outro, mas Viserion estava empoleirado na borda de sua banheira vazia. - Mis¬sandei, que língua falam estes yunkaitas? Valiriano?
    - Sim, Vossa Graça - disse a garota. - Um dialeto diferente do de Astapor, mas sufi¬cientemente próximo para ser entendido. Os senhores de escravos chamam a si próprios de Sábios Mestres.
    - Sábios? - Dany sentou-se de pernas cruzadas numa almofada, e Viserion abriu as asas brancas e douradas e esvoaçou para junto dela. - Veremos quão sábios são - disse, enquanto coçava a cabeça escamosa do dragão atrás dos chifres.
    Sor Jorah Mormont retornou uma hora mais tarde, acompanhado por três capitães dos Corvos Tormentosos. Os mercenários usavam penas negras em seus elmos polidos, e diziam ser todos iguais em honra e autoridade. Dany estudou-os enquanto Irri e Jhi¬qui serviam o vinho. Prendahl na Ghezn era um ghiscari atarracado, com rosto largo e cabelos escuros que começavam a ficar grisalhos; Sallor, o Calvo, tinha uma retorcida cicatriz em seu rosto claro de qarteno; e Daario Naharis era extravagante até mesmo para um tyroshi. Sua barba era cortada na forma de uma forquilha de três dentes e pintada de azul, da mesma cor dos olhos e dos cabelos encaracolados que caíam sobre seu cola¬rinho. Os bigodes pontiagudos estavam pintados de dourado. A roupa era toda em tons de amarelo; uma nuvem de renda de Myr da cor da manteiga jorrava do colarinho e das mangas, o gibão era decorado com medalhões de latão com a forma de dentes-de-leão, arabescos ornamentais em ouro subiam até suas coxas pelo cano das botas altas de couro. Luvas de suave camurça amarela estavam enfiadas num cinto de anéis dourados, e tinha as unhas pintadas de azul.
    Mas foi Prendahl na Ghezn quem falou pelos mercenários.
    - Faria bem em levar daqui a sua gentalha - disse, - Tomou Astapor pela via da trai¬ção, mas Yunkai não cairá com tanta facilidade.
    - Quinhentos de seus Corvos Tormentosos contra dez mil de meus Imaculados - disse Dany. - Sou apenas uma garotinha, e não compreendo as coisas da guerra, mas suas chances não me parecem boas,
    - Os Corvos Tormentosos não resistirão sozinhos - disse Prendahl,
    - Corvos tormentosos não resistem a nada. Fogem ao primeiro sinal de trovões. Talvez devessem fugir agora. Ouvi dizer que mercenários são notoriamente pouco confiáveis. De que lhes valerá a dedicação quando os Segundos Filhos passarem para o nosso lado?
    - Isso não acontecerá - insistiu Prendahl, inabalável, - E, se acontecesse, não importaria. Os Segundos Filhos não são nada. Lutamos ao lado dos valentes homens de Yunkai.
    - Lutam ao lado de rapazes de cama armados com lanças. - Quando virou a cabeça, as sinetas gêmeas que trazia na trança tiniram com suavidade. - Que não venham pedir clemência depois que a batalha começar. Mas se escolherem se juntar agora a mim, o ouro que os yunkaitas lhe pagaram será seu e poderão, além disso, obter uma parte do saque, com grandes recompensas para mais tarde, quando eu controlar o meu reino. Se lutarem pelos Sábios Mestres, o seu pagamento será a morte. Imaginam porventura que Yunkai abrirá os portões quando os meus Imaculados estiverem massacrando vocês à sombra das muralhas?
    - Mulher, você zurra como um burro, e não faz mais sentido do que ele.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:26 am

    - Mulher? - Dany soltou um risinho. - Isso foi um insulto? Eu daria o troco, se o julgasse um homem. - Dany enfrentou o olhar do mercenário. - Sou Daenerys Filha da Tormenta da Casa Targaryen, a Não Queimada, Mãe de Dragões, khaleesi dos cavaleiros de Drogo e rainha dos Sete Reinos de Westeros.
    - O que você é - disse Prendahl na Ghezn - é uma puta de um senhor dos cavalos. Quando vencermos, será dada ao meu garanhão para que ele monte em você.
    Belwas, o Forte, puxou o arakh.
    - Belwas, o Forte, dá a feia língua dele à pequena rainha, se ela quiser.
    - Não, Belwas. Dei a estes homens salvo-conduto. - Sorriu. - Diga-me o seguinte: os Corvos Tormentosos são escravos ou homens livres?
    - Somos uma irmandade de homens livres - declarou Sallor.
    - Ótimo. - Dany pôs-se em pé. - Nesse caso, volte e conte aos seus irmãos o que lhe disse. Pode ser que alguns deles prefiram se alimentar de ouro e glória do que de morte, Vou querer a sua resposta de manhã.
    Os capitães dos Corvos Tormentosos levantaram-se simultaneamente.
    - A nossa resposta é não - disse Prendahl na Ghezn. Os companheiros seguiram-no para fora da tenda... mas, ao sair, Daario Naharis olhou de relance para trás e inclinou a cabeça numa despedida polida.
    Duas horas mais tarde o comandante dos Segundos Filhos chegou sozinho. Revelou- -se um bravosi muito alto, com olhos verde-claros e uma espessa barba vermelha e dou¬rada que quase chegava ao seu cinto. Seu nome era Mero, mas se autodenominava Bas¬tardo do Titã.
    Mero entornou imediatamente o vinho, limpou a boca com as costas da mão e olhou de esguelha para Dany.
    - Acho que fodi a sua irmã gêmea numa casa do prazer lá na terra. Ou era você?
    - Penso que não. Eu me lembraria de um homem de tal magnificência, sem dúvida.
    - Sim, é verdade. Nunca nenhuma mulher alguma vez esqueceu o Bastardo do Titã. - O bravosi estendeu a taça para Jhiqui. - Que acha de tirar essa roupa e vir sentar no meu colo? Se me der prazer, posso trazer os Segundos Filhos para o seu lado.
    - Se trouxer os Segundos Filhos para o meu lado, posso não mandar capá-lo.
    O grandalhão soltou uma gargalhada.
    - Garotinha, houve outra mulher, uma vez, que tentou me capar com os dentes, Ago¬ra não tem dentes, mas a minha espada é tão longa e grossa quanto sempre foi. Quer que a tire para fora e a mostre?
    - Não há necessidade. Depois que os meus eunucos a cortarem, posso examiná-la quando bem entender. - Dany bebeu um gole de vinho. - E verdade que sou apenas uma garotinha, e não conheço as coisas da guerra. Explique-me como pretende derrotar dez mil Imaculados com os seus quinhentos homens. Inocente como sou, suas chances parecem-me fracas.
    - Os Segundos Filhos enfrentaram condições piores e ganharam.
    - Os Segundos Filhos enfrentaram situações piores e fugiram. Em Qohor, quando os Três Mil defenderam a sua posição. Ou será que nega isso?
    - Isso foi há muitos anos e, além disso, antes de os Segundos Filhos serem liderados pelo Bastardo do Titã.
    - Então é em você que eles arranjam coragem? - Dany virou-se para Sor Jorah. - Quando a batalha começar, mate este primeiro,
    O cavaleiro exilado sorriu.
    - De bom grado, Vossa Graça.
    - Claro - disse a Mero -, poderia voltar a fugir. Não o impediríamos. Pegue o seu ouro de Yunkai e parta.
    - Se já tivesse visto o Titã de Bravos, garota tonta, saberia que não tem rabo para meter entre as pernas.
    - Então fique e lute por mim.
    - É verdade que valeria a pena lutar por você - disse o bravosi - e eu de bom grado a deixaria beijar minha espada, se eu fosse livre. Mas aceitei as moedas de Yunkai e dei a minha palavra sagrada.
    - Moedas podem ser devolvidas - disse ela. - Eu pagarei o mesmo, e mais ainda. Tenho outras cidades a conquistar e um reino inteiro à minha espera a meio mundo de distância. Sirva-me fielmente, e os Segundos Filhos não precisarão voltar a procurar contratos,
    O bravosi afagou sua espessa barba vermelha.
    - O mesmo e mais ainda, e talvez um beijo para arrematar, há? Ou mais do que um beijo? Para um homem tão magnífico como eu?
    - Talvez.
    - Vou gostar do sabor de sua língua, eu acho.
    Dany sentia a ira de Sor Jorah. Meu urso negro não gosta dessa conversa sobre beijos.
    - Pense esta noite no que lhe disse. Posso ter a sua resposta de manhã?
    - Pode. - O Bastardo do Titã deu um sorriso. - Posso levar um jarro deste belo vi¬nho aos meus capitães?
    - Pode levar um tonei. Vem das adegas dos Bons Mestres de Astapor, e tenho carroas cheias dele.
    - Então dê-me uma carroça. Um sinal de sua amizade,
    - Você tem uma grande sede.
    - Eu sou todo grande. E tenho muitos irmãos. O Bastardo do Titã não bebe sozinho, khaleesu
    - Que seja então uma carroça, se prometer beber à minha saúde.
    - Feito! - trovejou o homem. - E feito, e feito! Farei três brindes a você e trarei uma resposta quando o sol nascer,
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:27 am

    Mas, quando Mero saiu, Arstan Barba-Branca disse:
    - Aquele ali tem má reputação, até em Westeros. Não se deixe iludir por suas manei¬ras, Vossa Graça, Ele fará três brindes à sua saúde esta noite e amanhã vai violá-la.
    - O velho tem razão, por uma vez - disse Sor Jorah. - Os Segundos Filhos são uma companhia antiga, que não é desprovida de valor, mas, sob a liderança de Mero, tornaram-se quase tão maus quanto os Bravos Companheiros. O homem é tão perigoso para quem o emprega como para os seus inimigos. E por isso que o encontra aqui. Ne¬nhuma das Cidades Livres o contrata mais.
    - Não é a sua reputação que eu quero, são os seus quinhentos homens a cavalo. E os Corvos Tormentosos, há alguma esperança ali?
    - Não - disse Sor Jorah sem rodeios. - Aquele Prendahl é de sangue ghiscari. E pro¬vável que tivesse família em Astapor.
    - Pena. Bem, talvez não precisemos lutar. Esperemos para ouvir o que os yunkaitas têm a dizer.
    Os enviados de Yunkai chegaram ao pôr do sol; cinqüenta homens montados em magníficos cavalos negros e um montado em um grande camelo branco. Seus elmos eram duas vezes mais altos do que as cabeças, para não esmagarem as bizarras torções, torres e esculturas de cabelos que tinham por baixo. Tingiam de um amarelo vivo as saias e túni¬cas de linho e cosiam discos de cobre aos mantos.
    O homem do camelo branco apresentou-se como Grazdan mo Eraz. Esguio e duro, possuía um sorriso branco semelhante ao que Kraznis tinha ostentado até Drogon quei¬mar seu rosto. Os cabelos estavam puxados para o alto, num chifre de unicórnio que se projetava de sua testa, e o tokar era debruado de renda de Myr dourada.
    - Antiga e gloriosa é Yunkai, a rainha das cidades - disse, quando Dany lhe deu as boas-vindas à sua tenda. - Nossas muralhas são fortes; nossos nobres, orgulhosos e fero¬zes; nosso povo, desprovido de medo. Nosso é o sangue da antiga Ghis, cujo império já era antigo quando Valíria não passava de uma criança chorosa. Foi sensata por se sentar para conversar, khaleesu Não encontrará aqui uma conquista fácil.
    - Ótimo. Meus Imaculados apreciarão um pouco de luta» - Olhou para Verme Cin¬zento, que assentiu com a cabeça.
    Grazdan fez um largo encolher de ombros.
    - Se o que deseja é sangue, pois que jorre. Dizem que libertou os seus eunucos. A liberdade tem tanto significado para um Imaculado como um chapéu para um bacalhau. - Sorriu para Verme Cinzento, mas daria para dizer que o eunuco era feito de pedra. - Voltaremos a escravizar aqueles que sobreviverem, e vamos usá-los para arrancar Asta¬por das mãos do populacho. Também poderemos fazer de você uma escrava, não duvide. Há casas do prazer em Lys e Tyrosh onde os homens pagariam belas somas para dormir com a última Targaryen,
    - E bom ver que sabe quem sou - disse Dany em voz branda.
    - Orgulho-me de meu conhecimento do selvagem e disparatado ocidente, - Grazdan abriu as mãos, um gesto de conciliação. - E, no entanto, por que temos de falar tão du¬ramente um ao outro? E verdade que você cometeu selvagerias em Astapor, mas nós, os yunkaitas, somos um povo muito clemente. A sua disputa não é conosco, Vossa Graça. Por que desperdiçar suas forças contra as nossas poderosas muralhas, quando precisa de todos os homens para reconquistar o trono de seu pai no longínquo Westeros? Yunkai só lhe deseja sucesso nessa empreitada. E, para provar a verdade dessas palavras, trouxe-lhe um presente. - Bateu palmas, e dois dos membros de sua escolta avançaram, trazendo uma pesada arca de cedro, reforçada com bronze e ouro. Colocaram-na a seus pés. - Cinqüenta mil marcos de ouro - disse Grazdan num tom muito doce. - São seus, num gesto de ami¬zade dos Sábios Mestres de Yunkai. Ouro dado livremente é decerto melhor do que saque comprado com sangue. Portanto, digo-lhe, Daenerys Targaryen, aceite esta arca e parta.
    Dany abriu a tampa da arca com um pequeno pé enfiado num chinelo. Estava cheia de moedas de ouro, tal como o enviado dissera. Pegou um punhado e deixou-as correr por entre os dedos. Cintilavam, brilhantes, ao rodar e cair; a maioria era recém-cunhada, com uma pirâmide de degraus numa das faces e a harpia de Ghis na outra.
    - Muito lindo. Pergunto a mim mesma quantas arcas como esta encontrarei quando tomar sua cidade.
    Ele soltou um risinho.
    - Nenhuma, pois nunca fará tal coisa.
    - Tenho também um presente para você. - Fechou a arca com estrondo. - Três dias. Na manhã do terceiro dia, mande seus escravos para fora da cidade. Todos. A cada homem, mulher e criança será dada uma arma e tanta comida, roupas, moedas e bens quanto ele ou ela puderem transportar. Será permitido a eles que escolham livremente esses objetos de entre as posses de seus donos, como pagamento pelos anos de servi¬dão. Depois de todos os escravos partirem, vocês abrirão os portões e permitirão que meus Imaculados entrem na cidade e a revistem, para assegurar que ninguém permanece em escravidão. Se fizerem isso, Yunkai não será queimada nem saqueada, e nenhum dos membros de seu povo será molestado. Os Sábios Mestres terão a paz que desejam e terão demonstrado serem realmente sábios. O que diz?
    - Digo que é louca.
    - Ah, sou? - Dany encolheu os ombros e disse: - Dracarys.
    Os dragões responderam. Rhaegal silvou e soltou uma baforada de fumaça, Viserion ten¬tou morder e Drogon cuspiu uma chama rodopiante, vermelha e negra. Esta tocou a prega do tokar de Grazdan e a seda pegou fogo em meio segundo. Marcos de ouro derramaram-se pelos tapetes quando o enviado tropeçou na arca, gritando pragas e batendo no braço até que Barba-Branca lhe despejou um jarro de água em cima, para apagar as chamas.
    -Jurou que eu teria salvo-conduto! - lamentou-se o enviado de Yunkai,
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:27 am

    - Será que todos os yunkaitas se lamuriam tanto por causa de um tokar chamusca¬do? Comprarei um novo para você... se entregar seus escravos dentro de três dias. Caso contrário, Drogon dará um beijo mais quente. - Torceu o nariz. - Você se borrou. Leve o ouro e vá, e assegure-se de que os Sábios Mestres ouçam a minha mensagem,
    Grazdan mo Braz colocou o dedo em riste.
    - Lamentará essa arrogância, vadia. Esses lagartinhos não a manterão a salvo, garan¬to. Encheremos o ar de flechas se eles chegarem a menos de uma légua de Yunkai. Acha que é muito difícil matar um dragão?
    - É mais difícil do que matar um feitor. Três dias, Grazdan. Diga-lhes. Ao fim do terceiro dia, entrarei em Yunkai, quer me abra os portões, quer não.
    A noite já tinha caído por completo quando os yunkaitas partiram do acampamento. Prometia ser uma noite sombria; sem luar, sem estrelas, com um vento gelado e úmido que soprava de oeste, Uma bela noite negra, pensou Dany, Ardiam fogueiras por toda a volta, pequenas estrelas cor de laranja espalhadas por campos e colinas.
    - Sor Jorah - disse -, convoque meus companheiros de sangue. - Dany sentou-se num monte de almofadas para esperá-los, com os dragões à sua volta. Quando se reuni¬ram, disse: - Uma hora depois da meia-noite deverá ser tempo suficiente,
    - Sim, khaleesi - disse Rakharo. - Tempo para quê?
    - Para montar o nosso ataque.
    Sor Jorah Mormont franziu a testa.
    - Disse aos mercenários...
    - ... que queria suas respostas de manhã. Não fiz nenhuma promessa a respeito desta noite. Os Corvos Tormentosos estarão discutindo sobre a minha proposta. Os Segundos Filhos estarão bêbados com o vinho que dei a Mero. E os yunkaitas julgam que têm três dias. Vamos pegá-los com a cobertura desta escuridão.
    - Eles deverão ter batedores nos vigiando.
    - E, na escuridão, verão centenas de fogueiras queimando - disse Dany. - Se chega¬rem a ver alguma coisa.
    - Khaleesi - disse Jhogo -, eu tratarei desses batedores. Não são cavaleiros, são ape¬nas feitores em cima de cavalos.
    - Exatamente - concordou. - Acho que devíamos atacar de três lados. Verme Cin¬zento, seus Imaculados vão atacá-los pela direita e pela esquerda, enquanto meus kos levam a cavalaria em cunha numa arremetida através do centro. Soldados escravos nunca resistirão a dothraki montados. - Sorriu. - Com certeza, sou apenas uma garotinha e pouco sei de guerra. O que acham, senhores?
    - Acho que é a irmã de Rhaegar Targaryen - disse Sor Jorah com um meio-sorriso tristonho.
    - Sim - disse Arstan Barba-Branca -, e também uma rainha.
    Levaram uma hora para resolver todos os detalhes. Agora começa o momento mais pe¬rigoso, pensou Dany quando seus capitães partiram para junto de seus homens. Só podia rezar para que as sombras da noite escondessem do inimigo os preparativos.
    Perto da meia-noite, levou um susto quando Sor Jorah passou disparando por Bel- was, o Forte.
    - Os Imaculados apanharam um dos mercenários tentando entrar no acampamento às escondidas.
    - Um espião? - aquilo assustou-a. Se tinham pego um, quantos mais teriam escapado?
    - Ele diz que veio trazendo presentes. E o idiota amarelo de cabelos azuis.
    Daario Naharis,
    - Esse. Então ouvirei o que tem a dizer.
    Quando o cavaleiro exilado o trouxe, Dany perguntou a si mesma se já teria havido no mundo dois homens mais diferentes um do outro. O tyroshi era claro onde Sor Jorah era moreno; esguio, enquanto o cavaleiro era musculoso; embelezado com abundantes madeixas, ao passo que o outro ia perdendo os cabelos, e no entanto tinha uma pele lisa onde Mormont era peludo. E seu cavaleiro vestia-se com simplicidade, enquanto o outro homem fazia com que um pavão parecesse monótono, embora, para aquela visita, tivesse colocado um pesado manto negro sobre seus brilhantes adornos amarelos. Transportava uma pesada saca de lona atirada sobre um ombro.
    - Khaleesi - gritou -, trago presentes e alegres novas. Os Corvos Tormentosos são seus. - Um dente de ouro cintilou em sua boca, quando sorriu. - E Daario Naharis também!
    Dany tinha dúvidas. Se aquele tyroshi tivesse vindo espiar, aquela declaração podia não passar de uma artimanha desesperada para salvar sua cabeça.
    - O que dizem disso Prendahl na Ghezn e Sallor?
    - Pouca coisa. - Daario virou a saca e a cabeça de Sallor, o Calvo, e a de Prendahl na Ghezn derramaram-se sobre os tapetes. - Meus presentes para a rainha do dragão.
    Viserion farejou o sangue que gotejava do pescoço de Prendahl e soltou um novelo de chamas que atingiu em cheio o rosto do morto, enegrecendo e enchendo de bolhas sua face sem sangue. Dragon e Rhaegal agitaram-se com o cheiro de carne assada.
    - Foi você que fez isso? - perguntou Dany, repugnada.
    - Eu e ninguém mais. - Se os dragões desconcertavam Daario Naharis, ele escondia bem, A julgar pela atenção que prestava neles, bem podiam ser três gatinhos brincando com um rato.
    - Por quê?
    - Por ser tão bela. - As mãos dele eram grandes e fortes, e havia algo em seus duros olhos azuis e no grande nariz curvo que sugeria a ferocidade de uma magnífica ave de ra¬pina. - Prendahl falava muito e dizia pouco. - Seu vestuário, apesar de rico, estava muito usado; manchas de sal criavam um padrão em suas botas, o esmalte das unhas estava lasca¬do, a renda mostrava-se manchada pelo suor, e Dany via o ponto onde a bainha do manto estava ficando puída. - E Sallor escarafunchava o nariz como se o ranho dele fosse feito de ouro. - O homem estava em pé, com as
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:27 am

    mãos cruzadas nos pulsos, descansando as palmas nos botões de suas armas; um arakh dothraki curvo na anca esquerda e um esguio punhal de Myr na direita. Os cabos formavam um par de mulheres douradas, nuas e sensuais.
    - Usa essas belas lâminas com habilidade? - perguntou-lhe Dany.
    - Prendahl e Sallor diriam que sim, se os mortos falassem. Não conto um dia como vivido, a não ser que tenha amado uma mulher, matado um inimigo ou comido uma bela refeição... e os dias que vivi são tão incontáveis quanto as estrelas no céu. Transformo o massacre num ato de beleza, e muitos acrobatas e dançarinos de fogo suplicaram aos deuses poder ter metade de minha rapidez, um quarto de minha graciosidade. Diria para você o nome de todos os homens que matei, mas, antes de conseguir acabar, seus dragões iriam se tornar tão grandes como castelos, as muralhas de Yunkai ruiriam, transformadas em poeira amarela, e o inverno chegaria, partiria e chegaria novamente.
    Dany soltou uma gargalhada. Gostava da presunção que via naquele Daario Naharis.
    - Puxe a espada e juramente-a ao meu serviço.
    Num piscar de olhos, o arakh de Daario viu-se livre da bainha. A submissão do ho¬mem foi tão extravagante como todo o resto nele, um grande mergulho que levou seu rosto até os dedos dos pés de Dany.
    - Minha espada é sua. Minha vida é sua. Meu amor é seu. Meu sangue, meu corpo, minhas canções, é dona de tudo. Vivo e morro às suas ordens, bela rainha.
    - Então viva - disse Dany - e lute por mim esta noite,
    - Isso não seria sensato, minha rainha. - Sor Jorah lançou a Daario um olhar frio e duro. - Mantenha este homem aqui, guardado, até que a batalha esteja concluída e ganha.
    Dany refletiu por um momento, e depois balançou a cabeça.
    - Se ele puder nos dar os Corvos Tormentosos, a surpresa é certa.
    - E se nos trair, a surpresa estará perdida,
    Dany voltou a examinar o mercenário, Ele mostrou um tal sorriso que ela corou e afastou o olhar.
    - Não trairá.
    - Como pode saber isso?
    Ela apontou para os pedaços de carne esturricada que os dragões estavam consumin¬do, uma dentada sangrenta após a outra.
    - Eu chamaria aquilo de uma prova de sua sinceridade. Daario Naharis, tenha os seus Corvos Tormentosos prontos para atacar a retaguarda yunkaita quando meu ataque co¬meçar. Conseguirá voltar em segurança?
    - Se me pararem, direi que andei batendo o terreno e nada vi. - O tyroshi pôs-se em pé, fez uma reverência e saiu a passos largos,
    Sor Jorah Mormont deixou-se ficar.
    - Vossa Graça - disse, sem rodeios -, isso foi um erro. Nada sabemos sobre esse homem...
    - Sabemos que é um grande guerreiro,
    - Um grande falador, a senhora quer dizer.
    -Ele traz os Corvos Tormentosos para nós. - E tem olhos azuis.
    - Quinhentos mercenários de lealdade incerta.
    - Todas as lealdades são incertas em tempos como estes - recordou-lhe Dany. E eu serei traída mais duas vezes, uma por ouro e outra por amor.
    - Daenerys, tenho o triplo de sua idade - disse Sor Jorah. - Já vi quão falsos são os homens. Muito poucos são dignos de confiança, e Daario Naharis não é um deles. Até na barba tem cores falsas.
    Aquilo a deixou irritada.
    - Ao passo que você tem uma barba honesta, é isso que está me dizendo? Que é o único homem em que poderei confiar?
    Ele endireitou-se.
    - Não disse isso.
    - E o que diz todos os dias. Pyat Pree é um mentiroso, Xaro é um maquinador, Bel- was é um fanfarrão, Arstan, um assassino... pensa que continuo sendo uma garotinha virgem, incapaz de ouvir as palavras por trás das palavras?
    - Vossa Graça...
    Ela interrompeu-o.
    - Você tem sido o melhor amigo que já conheci, um irmão melhor do que Viserys alguma vez foi. E o primeiro membro de minha Guarda Real, o comandante de meu exército, meu conselheiro mais estimado, minha boa mão direita. Honro-o, respeito-o e estimo-o... mas não o desejo, Jorah Mormont, e estou cansada de vê-lo tentando empur¬rar todos os outros homens do mundo para longe de mim, para que tenha de depender de você e apenas de você. Isso não pode ser, e não me fará amá-lo mais.
    Mormont corara quando ela começou a falar, mas, quando Dany terminou, tinha o rosto pálido novamente. Ficou imóvel como pedra.
    - Se a minha rainha ordena - disse, seco e frio.
    Dany estava suficientemente quente para ambos.
    - Ordena - disse. - Ela ordena. E agora vá cuidar de seus Imaculados, sor. Tem uma batalha a travar e vencer.
    Quando o cavaleiro foi embora, Dany jogou-se sobre as almofadas, para junto dos dragões. Não pretendera ser tão ríspida com Sor Jorah, mas a contínua suspeita de Mor¬mont finalmente tinha despertado o dragão.
    Ele vai me perdoar, disse a si mesma. Som a suserana dele. Dany deu por si interrogando- -se sobre se ele teria razão a respeito de Daario. De repente, sentiu-se muito só. Mirri Maz Duur
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:27 am

    assegurara que ela nunca mais daria à luz um filho vivo. A Casa Targaryen terminará comigo. Aquilo entristeceu-a.
    - Vocês têm de ser os meus filhos - disse aos dragões os meus três ferozes filhos. Arstan diz que os dragões vivem mais tempo do que os homens, portanto sobreviverão depois de eu morrer.
    Drogon curvou o pescoço para mordiscar sua mão. Tinha dentes muito afiados, mas nunca rompia sua pele quando brincavam assim. Dany riu e fez o dragão rolar de um lado para o outro até que ele rugiu, com a cauda estalando como um chicote. É mais comprido do que era, ela percebeu, e amanhã será ainda mais. Eles agora crescem depressa e, quando forem grandes, terei as minhas asas. Montada num dragão, poderia ir à frente de seus homens para a batalha, como fizera em Astapor, mas, por enquanto, ainda eram pequenos demais para suportar seu peso.
    Uma quietude caiu sobre o acampamento, quando a meia-noite chegou e passou. Dany permaneceu em seu pavilhão com as aias, enquanto Arstan Barba-Branca e Bel- was, o Forte, montavam guarda. A espera é a parte mais dura. Ficar sentada na tenda com as mãos vazias, enquanto a batalha era travada sem sua presença, fez com que Dany se sentisse de novo quase uma criança.
    As horas arrastaram-se sobre patas de tartaruga. Mesmo depois de Jhiqui massagear seus ombros para aliviar a tensão, Dany permaneceu inquieta demais para dormir. Mis¬sandei ofereceu-se para cantar uma canção de embalar do Povo Pacífico, mas Dany recu¬sou, movendo a cabeça.
    - Traga-me Arstan - disse.
    Quando o velho entrou, Dany encontrava-se enrolada em sua pele de hrakkar, cujo cheiro bolorento ainda lhe fazia lembrar Drogo.
    - Não consigo dormir quando há homens morrendo por mim, Barba-Branca - disse.
    - Fale-me mais a respeito de meu irmão Rhaegar, por favor. Gostei da história que me contou no navio, sobre o modo como ele decidiu que tinha de ser um guerreiro.
    - Vossa Graça é bondosa por pedir isso.
    - Viserys dizia que nosso irmão ganhou muitos torneios.
    Arstan inclinou respeitosamente sua cabeça branca.
    - Não é próprio de minha parte negar as palavras de Sua Graça...
    - Mas? - disse Dany rispidamente. - Conte-me. Eu ordeno.
    - A perícia do Príncipe Rhaegar era inquestionável, mas ele raramente entra¬va nas liças. Nunca gostou da canção das espadas, como Robert ou Jaime Lannister gostavam. Era algo que tinha de fazer, uma tarefa que o mundo tinha lhe atribuído. Desempenhava-a bem, pois fazia tudo bem. Era essa a sua natureza. Mas não tirava dela nenhuma alegria. Os homens diziam que o Príncipe Rhaegar gostava muito mais da harpa do que da lança.
    - Mas ele certamente ganhou alguns torneios - disse Dany, desapontada.
    - Quando era novo, Sua Graça participou brilhantemente num torneio em Ponta Tempestade, derrotando Lorde Steffron Baratheon, Lorde Jason Mallister, a Víbora Vermelha de Dorne e um cavaleiro misterioso, que se revelou ser o infame Simon Toy- ne, chefe dos fora da lei da mata do rei. Quebrou doze lanças contra Sor Arthur Dayne nesse dia.
    - Então foi ele o campeão?
    - Não, Vossa Graça. Essa honra foi para outro cavaleiro da Guarda Real, que derru¬bou o Príncipe Rhaegar na disputa final.
    Dany não queria ouvir falar de Rhaegar sendo derrubado.
    - Mas que torneios meu irmão ganhou?
    - Vossa Graça. - O velho hesitou. - Ele ganhou o maior torneio de todos.
    - Que torneio foi esse? - quis saber Dany.
    - O torneio que Lorde Whent montou em Harrenhal, ao lado do Olho de Deus, no ano da falsa primavera. Um evento notável. Além das justas, houve um corpo a corpo no estilo antigo, disputado entre sete equipes de cavaleiros, bem como tiro com arco e arremesso de machados, uma corrida de cavalos, um torneio de cantores, um espetáculo de saltimbancos e muitos banquetes e divertimentos. Lorde Whent era tão mão-aberta quanto rico. As pródigas bolsas que proclamou atraíram centenas de competidores. Até o seu real pai se deslocou para Harrenhal, ele que não abandonava a Fortaleza Vermelha havia longos anos. Os maiores senhores e mais poderosos campeões dos Sete Reinos participaram desse torneio, e o Príncipe de Pedra do Dragão superou todos eles.
    - Mas esse foi o torneio em que Lyanna Stark foi coroada rainha do amor e da beleza!
    - disse Dany. - A Princesa Elia, esposa dele, estava lá, e, no entanto, meu irmão deu a coroa à garota Stark, e mais tarde roubou-a do prometido dela. Como pôde ter feito uma coisa dessas? A mulher dornesa tratava-o tão mal assim?
    - Não cabe a alguém como eu dizer o que pode ter passado pelo coração de seu ir¬mão, Vossa Graça. A Princesa Elia era uma senhora bondosa e graciosa, embora sua saú¬de sempre tenha sido delicada.
    Dany envolveu os ombros com a melhor pele de leão,
    - Viserys disse uma vez que a culpa era minha, por ter nascido tarde demais. - Lembrava-se de ter negado acaloradamente, chegando ao ponto de dizer a Viserys que a culpa tinha sido dele, por não ter nascido menina. Ele espancara-a cruelmente por essa insolência. — Se eu tivesse nascido em um momento mais oportuno, disse ele, Rhaegar teria se casado comigo e não com Elia, e tudo teria sido diferente. Se Rhaegar tivesse sido feliz com a esposa, não teria necessitado da garota Stark.
    - Talvez fosse assim, Vossa Graça. - Barba-Branca fez uma pausa momentânea. - Mas não tenho certeza de que Rhaegar tivesse a capacidade de ser feliz.
    - Faz com que ele pareça tão amargo - protestou Dany.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:28 am

    - Amargo não, não, mas... havia uma melancolia no Príncipe Rhaegar, um sentido... - O velho voltou a hesitar.
    - Diga - pediu ela. - Um sentido..,?
    - ... de tragédia. Ele nasceu em pesar, minha rainha, e essa sombra pairou sobre ele durante toda a vida.
    Viserys só falara uma vez do nascimento de Rhaegar, A história talvez o entristecesse demais,
    - Era a sombra de Solarestival que o assombrava, não era?
    - Sim, E, no entanto, Solarestival era o lugar que o príncipe mais amava, Ia para lá de tempos em tempos, acompanhado apenas de sua harpa. Nem mesmo os cavaleiros da Guarda Real o serviam ali. Gostava de dormir no salão arruinado, sob a lua e as estrelas, e sempre que regressava trazia uma canção. Quando se ouvia o príncipe tocar sua harpa com cordas de prata e cantar a respeito de penumbras, lágrimas e a morte de reis, era im¬possível não sentir que ele estava cantando sobre si e sobre aqueles que amava»
    - E o Usurpador? Ele também tocava canções tristes?
    Arstan soltou um risinho.
    - Robert? Robert gostava de canções que o fizessem rir, e quanto mais obscenas me¬lhor. Só cantava quando estava bêbado, e então eram coisas do gênero de "Um barril de cerveja", "Cinqüenta e quatro tonéis" ou "O urso e a bela donzela", Robert era muito..,
    Como um só, os dragões ergueram a cabeça e rugiram.
    - Cavalos! - Dany pôs-se em pé imediatamente, apertando-se à pele de leão. Lá fora, ouviu Belwas, o Forte, berrar alguma coisa, e depois outras vozes, e o ruído de muitos cavalos, - Irri, vá ver quem.,,
    A aba da tenda abriu-se de rompante e Sor Jorah Mormont entrou. Vinha empoei- rado e salpicado de sangue, mas fora isso não parecia afetado pela batalha. O cavaleiro exilado ajoelhou-se perante Dany e disse:
    - Vossa Graça, trago-lhe a vitória. Os Corvos Tormentosos viraram a casaca, os es¬cravos fugiram e os Segundos Filhos estavam bêbados demais para lutar, tal como tinha dito. Duzentos mortos, na maioria yunkaitas. Seus escravos jogaram fora as lanças e fu¬giram, e seus mercenários renderam-se. Temos vários milhares de cativos.
    - As nossas perdas?
    - Uma dúzia, Se tanto.
    Só então se permitiu um sorriso.
    - Levante-se, meu bom e corajoso urso. Grazdan foi capturado? Ou o Bastardo do Titã?
    - Grazdan foi a Yunkai entregar as suas exigências, - Sor Jorali levantou-se, - Mero fugiu, assim que percebeu que os Corvos Tormentosos tinham passado para o nosso lado. Tenho homens atrás dele, Não deve permanecer foragido por muito tempo.
    - Muito bem - disse Dany, - Mercenário ou escravo, poupe todos aqueles que me jurarem lealdade. Se um número suficiente dos Segundos Filhos se juntar a mim, mante¬nha a companhia intacta,
    No dia seguinte, marcharam as três últimas léguas até Yunkai, A cidade tinha sido construída com tijolos amarelos em vez de vermelhos; tirando isso, era uma cópia perfei¬ta de Astapor, com as mesmas muralhas esfarelando-se e maciças pirâmides de degraus, e uma grande harpia montada sobre os portões. A muralha e as torres estavam repletas de besteiros e fundibulários. Sor Jorah e Verme Cinzento posicionaram seus homens, Irri e Jhiqui ergueram o pavilhão de Dany, e esta sentou-se, à espera,
    Na manhã do terceiro dia, os portões da cidade abriram-se e uma fileira de escravos começou a sair, Dany montou a prata para ir ao encontro deles, Ao passarem, a pequena Missandei foi-lhes dizendo que deviam a liberdade a Daenerys Nascida na Tormenta, a Não Queimada, Rainha dos Sete Reinos de Westeros e Mãe de Dragões.
    - Mhysa! - gritou-lhe um homem de pele mulata,
    Ele trazia uma criança ao ombro, uma menininha, e ela gritou a mesma palavra em sua vozinha fina:
    - Mbysa! Mhysa!
    Dany olhou para Missandei.
    - O que estão eles gritando?
    ~ E ghiscari, a antiga língua pura. Quer dizer "Mãe".
    Dany sentiu uma leveza no peito. Nunca darei à luz um filho vivo, recordou. Sua mão tremeu ao ser erguida. Talvez tenha sorrido. Deve ter sorrido, pois o homem também sorriu e voltou a gritar, e outros acompanharam o seu grito.
    - Mhysa! - gritaram. - Mhysa! MHYSA! - Estavam todos sorrindo para Dany, es¬tendendo as mãos para ela, ajoelhando à sua frente. Alguns chamavam-na de "Maela", outros gritavam "Aelalla" ou "Qathei" ou "Tato", mas qualquer que fosse a língua, todas as palavras tinham o mesmo significado. Mãe. Eles estão me chamando de Mãe.
    O cântico cresceu, espalhou-se, avolumou-se, Avolumou-se tanto que assustou sua montaria, e a égua recuou, abanou a cabeça e agitou a cauda cinza-prateada. Avolumou- -se até parecer sacudir as muralhas amarelas de Yunkai. Mais escravos saíam pelos por¬tões a cada momento, e, ao chegarem, juntavam-se ao grito, Agora corriam para ela, empurrando-se, tropeçando, desejando tocar sua mão, afagar a crina de sua montaria, beijar seus pés. Seus pobres companheiros de sangue não conseguiam manter todos afas¬tados, e até Belwas, o Forte, grunhíu e resmungou de susto.
    Sor Jorah tentou convencê-la a sair dali, mas Dany lembrou-se de um sonho que tive¬ra na Casa dos Imorredouros.
    - Eles não me farão mal - disse-lhe, - Eles são meus filhos, Jorah. - Soltou uma gargalhada, bateu com os calcanhares na égua e cavalgou na direção dos escravos, com as sinetas nos cabelos tilintando em doce vitória. Trotou, depois passou a meio-galope e em seguida pôs-se a galope, com a trança ondulando atrás de si. Os escravos libertados abri¬ram caminho para ela."Mãe", gritaram cem gargantas, mil, dez mil, "Mãe" cantaram, com os dedos afagando suas pernas enquanto voava através deles. "Mãe, Mãe, Mãef
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:31 am

    Arya 511




    Q
    uando Arya viu a forma do grande monte erguendo-se a distância, dourado ao sol da farde, reconheceu-o de imediato. Tinham retornado a Coração Alto.
    Ao pôr do sol estavam no topo, acampando onde nenhum mal poderia lhes acontecer. Arya percorreu o círculo de tocos de represeiro com o escudeiro de Lorde Beric, Ned, e ficaram em pé sobre um deles, observando a última luz que desaparecia a oeste. Dali de cima via uma tempestade que se enfurecia para o norte, mas Coração Alto erguia-se acima da chuva. No entanto, não estava acima do vento; as rajadas sopravam com tanta força que era como se alguém estivesse atrás de Arya, puxando-a pelo manto. Porém, quando se virou, não havia ninguém lá.
    Fantasmas, recordou. Coração Alto está assombrado.
    Fizeram uma grande fogueira no topo do monte, e Thoros de Myr sentou-se de per¬nas cruzadas diante dela, olhando as profundezas das chamas como se nada mais existis¬se no mundo inteiro.
    - O que ele está fazendo? - perguntou Arya a Ned.
    - As vezes, ele vê coisas nas chamas - disse-lhe o escudeiro. - O passado. O futuro. Coisas que estão acontecendo muito longe.
    Arya observou o fogo com os olhos semicerrados, tentando enxergar o que o sacerdote vermelho via, mas só conseguiu ficar com os olhos cheios de lágrimas e, pouco tempo de¬pois, afastou-os da fogueira. Gendry também estava observando o sacerdote vermelho.
    - Pode mesmo ver o futuro aí? - ele perguntou de súbito.
    Thoros afastou os olhos do fogo, suspirando.
    - Aqui, não. Agora não. Mas certos dias, sim, o Senhor da Luz concede-me visões.
    Gendry não parecia convencido.
    - Meu mestre dizia que você era um bêbado e uma fraude, um sacerdote ruim como nunca houve.
    - Isso foi pouco amável. - Thoros soltou um risinho. - Verdadeiro, mas pouco amá¬vel. Quem era esse seu mestre? Eu conhecia você, rapaz?
    - Eu era aprendiz do mestre armeiro Tobho Mott, na Rua do Aço. Costumava com¬prar as espadas dele.
    - É verdade. Ele cobrava de mim o dobro do que elas valiam, e depois repreendia-me por botar fogo nelas. - Thoros soltou uma gargalhada, - O seu mestre tinha razão. Eu não era um sacerdote lá muito santo. Fui o mais novo de oito filhos, e por isso meu pai
    deu-me ao Templo Vermelho, mas não teria sido esse o caminho que eu escolheria. Ora¬va as orações e proferia os feitiços, mas também liderava ataques às cozinhas e, de tempos em tempos, encontravam garotas na minha cama. Umas garotas tão malvadas... nunca soube como elas iam parar lá.
    "Mas eu tinha um dom para línguas. E quando olhava as chamas, bem, de vez em quando via coisas. Mesmo assim, eu dava mais trabalho do que valia e acabaram me en¬viando para Porto Real, a fim de trazer a luz do Senhor ao sete vezes embrutecido Wes¬teros. O Rei Aerys gostava tanto de fogo que pensavam que poderia ser convertido. Infe¬lizmente, seus piromantes conheciam truques melhores dos que os meus.
    "Porém, o Rei Robert gostava de mim. Da primeira vez que entrei num corpo a corpo com uma espada flamejante, o cavalo de Kevan Lannister empinou-se e atirou-o ao chão, e Sua Graça riu tanto que eu pensei que explodiria. - A recordação fez o sacerdote ver¬melho sorrir. - Mas aquilo não era maneira de tratar uma lâmina, o seu mestre também tinha razão quanto a isso."
    - O fogo consome. - Lorde Beric estava em pé atrás deles, e havia algo na sua voz que silenciou Thoros de imediato. - Ele consome, e quando termina, nada resta. Nada.
    - Beric. Querido amigo, - O sacerdote tocou o senhor do relâmpago no antebraço, - O que está dizendo?
    - Nada que já não tenha dito. Seis vezes, Thoros? Seis vezes é muito, - Afastou-se abruptamente.
    Naquela noite, o vento uivava quase como um lobo, e havia alguns lobos de verdade a oeste dando lições a ele. Notch, Anguy e Merrit de Vilalua estavam de vigia. Ned, Gen¬dry e muitos dos outros dormiam profundamente quando Arya vislumbrou a pequena silhueta clara que se movia por trás dos cavalos, com cabelos finos e brancos esvoaçando loucamente, enquanto se apoiava numa bengala cheia de nós. A mulher não podia ter mais de noventa centímetros de altura. A luz da fogueira fazia seus olhos cintilarem num tom tão vermelho quanto o dos olhos do lobo de Jon. Ele também era um fantasma. Arya esgueirou-se para mais perto e ajoelhou-se a fim de espiar.
    Thoros e Limo faziam companhia ao Lorde Beric quando a anã se sentou junto da fo¬gueira sem ser convidada. Olhou-os de soslaio, com olhos que eram como carvões ardentes.
    - A Brasa e o Limão vêm de novo me visitar, com Sua Graça, o Senhor dos Cadáveres.
    - Um nome de mau agouro. Já lhe pedi que não o usasse.
    - Sim, pediu. Mas o fedor da morte é fresco em você, senhor. - Não lhe restava mais do que um dente. - Dê-me vinho, senão vou embora. Meus ossos estão velhos. Minhas articulações doem quando os ventos sopram, e aqui em cima os ventos não param de soprar.
    - Um veado de prata por seus sonhos, senhora - disse Lorde Beric, com uma solene cortesia. - E outro se tiver notícias para nos dar.
    - Não posso comer um veado de prata e também não posso montá-lo. Um odre de vinho por meus sonhos, e, pelas notícias, um beijo do grande idiota com o manto ama¬relo. - A pequena mulher soltou um cacarejo. - Sim, um beijo molhado, um pouco de língua. Passou-se tempo demais, demais. A boca dele vai ter gosto de limões e a minha, de ossos. Sou velha demais
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:31 am

    - Sim - protestou Limo. - Velha demais para vinho e beijos. Tudo que levará de mim é a parte romba da espada, bruxa.
    - Meus cabelos caem aos montes e ninguém me beija há mil anos. É duro ser tão velha. Bem, nesse caso aceito uma canção. Uma canção do Tom das Sete, pelas notícias.
    - Terá a sua canção do Tom - prometeu Lorde Beric. Foi ele mesmo que lhe entregou o odre de vinho.
    A anã bebeu profundamente, deixando escorrer vinho pelo queixo abaixo. Quando baixou o odre, limpou a boca com as costas de uma mão enrugada e disse:
    - Vinho amargo por notícias amargas, o que poderia ser mais adequado? O rei está morto, isso é suficientemente amargo para você?
    O coração de Arya ficou preso na garganta.
    - Qual dos malditos reis está morto, velha? - exigiu saber Limo.
    - O molhado. O rei da lula gigante, senhores. Sonhei que ele estava morto, e ele mor¬reu, e agora as lulas de ferro viraram-se umas contra as outras. Oh, e Lorde Hoster Tully também morreu, mas vocês sabem disso, não é verdade? No salão dos reis, o bode está só e febril, enquanto o grande cão cai sobre ele. - A velha bebeu outro longo trago de vinho, espremendo o odre enquanto o levava aos lábios,
    O grande cão. Estaria a velha falando do Cão de Caça? Ou talvez do irmão, a Mon¬tanha que Cavalga? Arya não tinha certeza. Ambos usavam as mesmas armas, três cães negros em fundo amarelo. Metade dos homens por cujas mortes rezava pertenciam a Sor Gregor Clegane; Polliver, Dunsen, RafF, o Querido, Cócegas e o próprio Sor Gregor. Talvez Lorde Beric enforque todos.
    - Sonhei com um lobo uivando na chuva, mas ninguém ouvia seu lamento - a anã estava dizendo. - Sonhei com um tal clangor que julguei que minha cabeça fosse estou¬rar, com tambores, berrantes, flautas e gritos, mas o som mais triste era o de pequenas campainhas. Sonhei com uma donzela num banquete com serpentes roxas nos cabelos e veneno pingando das presas delas. E mais tarde voltei a sonhar com essa donzela, matan¬do um gigante selvagem num castelo feito de neve. - Virou vivamente a cabeça e sorriu através das sombras, diretamente para Arya. - Não pode se esconder de mim, filha. Che¬gue mais perto, agora.
    Dedos frios desceram pelo pescoço de Arya. O medo corta mais profundamente do que as espadas, lembrou a si mesma. Levantou-se e aproximou-se cautelosamente da fogueira, pisando levemente nas pontas dos pés, pronta para fugir.
    A anã estudou-a com seus sombrios olhos vermelhos.
    - Estou vendo você - sussurrou. - Estou vendo você, criança lobo. Criança de san¬gue. Achava que era o lorde quem cheirava a morte.., - Começou a soluçar, fazendo es¬tremecer seu pequeno corpo. - E cruel por vir ao meu monte, cruel. Empanturrei-me de pesar em Solarestival, não preciso do seu. Desapareça daqui, coração negro. Desapareça!
    Havia tanto medo na voz dela que Arya deu um passo para trás, perguntando a si mesma se a mulher estaria louca.
    - Não assuste a criança - protestou Thoros. - Não há nenhum mal nela.
    O dedo de Limo Manto Limão dirigiu-se ao seu nariz quebrado e ele disse:
    - Não tenha tanta certeza quanto a isso.
    - Ela partirá de manhã, conosco - garantiu Lorde Beric à pequena mulher. - Vamos levá-la para Correrrio, para junto da mãe.
    - Não - disse a anã. - Não vão. Quem controla os rios agora é o peixe negro. Se querem a mãe, procurem-na nas Gêmeas. Pois haverá um casamento. - Voltou a sol¬tar um cacarejo. - Olhe os seus fogos, sacerdote cor-de-rosa, e verá. Mas não agora, e não aqui, aqui não verá nada. Este lugar ainda pertence aos antigos deuses... per¬manecem aqui, assim como eu, encolhidos e frágeis, mas ainda vivos, E não gostam das chamas. Pois o carvalho recorda a bolota, a bolota sonha o carvalho, e o toco vive em ambos. E eles se lembram de quando os Primeiros Homens chegaram com fogo nos punhos. - Bebeu o resto do vinho em quatro longos tragos, atirou o odre para o lado e apontou a bengala ao Lorde Beric. - Quero agora o meu pagamento. Quero a canção que me prometeram.
    E então Limo despertou Tom Sete-Cordas de debaixo de suas peles, e trouxe-o boce- jando até junto da fogueira com a harpa na mão.
    - A mesma canção de sempre? - perguntou.
    - Ah, sim. A canção da minha Jenny. Existe mais alguma?
    E ele assim cantou, e a anã fechou os olhos e começou a balançar o corpo lentamente de um lado para o outro, murmurando as palavras e chorando. Thoros pegou firmemente na mão de Arya e afastou-se com ela,
    - Deixa-a saborear a canção em paz - disse. - E tudo que lhe resta.
    Eu não ia fazer mal a ela, pensou Arya.
    - O que ela quis dizer com as Gêmeas? Minha mãe está em Correrrio, não está?
    - Estava. - O sacerdote vermelho coçou-se por baixo do queixo. - Um casamento, disse ela. Veremos. Mas esteja onde estiver, Lorde Beric vai encontrá-la.
    Não muito tempo depois, o céu se abriu. Estourou o relâmpago, o trovão rolou sobre os montes e a chuva começou a cair em lençóis que cegavam. A anã desapareceu tão subitamen¬te como surgira, enquanto os fora da lei catavam galhos e erguiam abrigos improvisados.
    Choveu toda a noite e, ao chegar a manhã, Ned, Limo e Watty, o Moleiro, acor¬daram com arrepios. Watty não conseguiu manter o café da manhã no estômago e o jovem Ned estava ora febril, ora tremendo, com a pele fria e úmida ao toque. Notch disse ao Lorde Beric que havia uma aldeia abandonada a meio dia de viagem para norte; lá encontrariam melhor abrigo, um lugar onde esperar que o pior das chuvas passasse. E assim arrastaram-se para cima das selas e fizeram os cavalos descer o grande monte.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:31 am

    As chuvas não davam trégua. Cavalgaram por florestas e campos de cultivo, vadeando riachos em cheia, nos quais as rápidas águas chegavam à altura da barriga dos cavalos. Arya puxou o capuz do manto para cima da cabeça e encolheu-se, ensopada e tremendo, mas determinada a não esmorecer. Merritt e Mudge logo estavam tossindo tanto quanto Watty, e o pobre Ned parecia ficar mais infeliz a cada quilômetro.
    - Quando uso o elmo, a chuva bate no aço e me deixa com dor de cabeça - ele queixou-se. - Mas, quando o tiro, meus cabelos ficam encharcados e colam na minha cara e entram na minha boca.
    - Você tem uma faca - sugeriu Gendry. - Se os cabelos o aborrecem tanto assim, raspa a porcaria da cabeça.
    Ele não gosta âe Ned. O escudeiro parecia a Arya bastante simpático; talvez um pouco tímido, mas de boa índole. Sempre tinha ouvido dizer que os dorneses eram baixos e trigueiros, com cabelos e pequenos olhos negros, mas Ned tinha grandes olhos azuis, tão escuros que quase pareciam púrpuras. E os cabelos eram de um louro claro, mais cinza do que mel.
    - Há quanto tempo é escudeiro de Lorde Beric? - perguntou, para afastar a mente dele dos problemas.
    - Ele tomou-me como pajem quando se comprometeu com a minha tia. - Tossiu. - Tinha sete anos, mas quando fiz dez me promoveu a escudeiro. Uma vez, ganhei um prêmio, avançando contra anéis.
    - Nunca aprendi a usar a lança, mas podia ganhar de você com uma espada - disse Arya. - Já matou alguém?
    Aquilo pareceu alarmá-lo.
    - Só tenho doze anos.
    Matei um rapaz com oito, Arya quase disse, mas achou melhor não fazer isso.
    - Mas esteve em batalhas.
    - Sim, - Não parecia muito orgulhoso do fato. - Estive no Vau do Saltimbanco. Quando Lorde Beric caiu no rio, arrastei-o para a margem, para que não se afogasse, e fiquei sobre ele de espada na mão, Mas não precisei lutar. Lorde Beric tinha uma lança quebrada espetada nele, por isso ninguém nos incomodou. Quando reagrupamos, o Ger- gen Verde ajudou a colocar sua senhoria de volta no cavalo.
    Arya estava se lembrando do cavalariço em Porto Real. Depois dele houve aquele guarda cuja garganta tinha cortado em Harrenhal, e os homens de Sor Amory, naquela fortaleza junto ao lago. Não sabia se Weese e Chiswyck contavam, ou aqueles que ti¬nham morrido por conta da sopa de doninha... de repente, sentiu-se muito triste.
    - Também chamavam meu pai de Ned - disse.
    - Eu sei. Vi-o no torneio da Mão. Queria me aproximar e falar com ele, mas não consegui pensar no que dizer. - Ned estremeceu sob o manto, uma faixa encharcada roxo-clara. - Você estava no torneio? Vi sua irmã lá, Sor Loras Tyrell deu-lhe uma rosa,
    - Ela me contou, - Tudo parecia ter acontecido há tanto tempo. - Jeyne Poole, a ami¬ga dela, apaixonou-se por seu Lorde Beric,
    - Ele está prometido à minha tia. - Ned fez uma expressão de desconforto. - Mas isso foi antes. Antes de ele...
    ... morrer? pensou Arya, enquanto a voz de Ned se reduzia a um silêncio incômodo. Os cascos dos cavalos faziam sons de sucção ao se soltarem da lama.
    - Senhora? - disse Ned por fim. - Você tem um irmão ilegítimo... Jon Snow?
    - Ele está com a Patrulha da Noite, na Muralha. - Talvez devesse ir para a Muralha em vez de Correrrio. Jon não se importaria com quem matei ou se me penteei ou não... - Jon é parecido comigo, apesar de ter nascido bastardo. Costumava despentear-me os cabelos e me chamar de "irmãzinha". - De todos, era de Jon que Arya sentia mais falta. Bastava dizer seu nome para ser tomada de tristeza, - Como sabe do Jon?
    - Ele é meu irmão de leite.
    - Irmão? - Arya não compreendia. - Mas você é de Dorne. Como pode ser do san¬gue deJon?
    - Irmãos de leite. Não de sangue. A senhora minha mãe não tinha leite quando eu era pequeno, e Wylla teve de me amamentar.
    Arya não entendeu.
    - Quem é Wylla?
    - A mãe de Jon Snow. Ele nunca lhe disse? Ela esteve a nosso serviço durante anos e mais anos. Desde antes de eu nascer.
    - Jon nunca conheceu a mãe. Nem sequer sabe o nome dela. - Arya deu a Ned um olhar desconfiado. - Conhece-a? Mesmo? - Será que ele está caçoando de mim? - Se men¬tir, dou um murro na sua cara.
    - Wylla foi a minha ama de leite - repetiu o rapaz com solenidade. - Juro pela honra da minha Casa.
    - Você tem uma Casa? - a pergunta foi estúpida; ele era um escudeiro, é claro que tinha uma Casa. - Quem é você?
    - Senhora? - Ned fez uma expressão embaraçada. - Sou Edric Dayne, o... o Senhor de Tombastela.
    Atrás deles, Gendry gemeu.
    - Senhores e senhoras - proclamou, num tom de repugnância. Arya arrancou uma maçã apodrecida de um galho de passagem e atirou-a em Gendry, fazendo-a quicar em sua dura cabeça de touro. - Aí - disse ele. - Isso doeu. - Tateou a pele por cima do olho. - Que tipo de senhora atira maçãs nas pessoas?
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:31 am

    - O tipo mau - disse Arya, de repente arrependida. Virou-se de novo para Ned. - Lamento não saber quem você era. Senhor.
    - A culpa é minha, senhora. - Ele era muito educado.
    Jon tem uma mãe. Wylla, o nome dela é Wylla. Teria de se lembrar para poder lhe dizer da próxima vez que o visse. Perguntou a si mesma se ele ainda a chamaria de"irmãzinha".jÁ não sou assim tão "inba". Ele vai ter que me chamar de outra coisa qualquer. Quando chegasse a Correrrio, talvez pudesse escrever uma carta a Jon e contar-lhe o que Ned havia dito.
    - Havia um Arthur Dayne - lembrou-se. - Aquele que chamavam de Espada da Manhã.
    - Meu pai era o irmão mais velho de Sor Arthur. A Senhora Ashara era minha tia. Mas nunca a conheci. Ela jogou-se ao mar do alto da Espada Branca antes de eu nascer.
    - Por que ela faria uma coisa dessas? - perguntou Arya, surpreendida,
    Ned fez uma expressão de desconfiança. Talvez tivesse receio de que ela atirasse qual¬quer coisa nele.
    - O senhor seu pai nunca falou dela? - disse. - Da Senhora Ashara Dayne, de Tom¬bastela?
    - Não. Ele a conhecia?
    - Antes de Robert ser rei. Ela conheceu o seu pai e os irmãos em Harrenhal, durante o ano da falsa primavera.
    - Oh. - Arya não sabia o que mais dizer. - Mas por que foi que ela se jogou no mar?
    - Teve o coração partido.
    Sansa teria suspirado e derramado uma lágrima pelo amor verdadeiro, mas Arya achava que era simplesmente uma estupidez. Mas não podia dizer isso a Ned, não podia dizer tal coisa sobre a tia do rapaz.
    - Alguém o partiu?
    Ele hesitou.
    - Talvez não me caiba...
    - Conte-me.
    O rapaz olhou-a de maneira desconfortável.
    - Minha tia Allyria diz que a Senhora Ashara e o seu pai se apaixonaram em Har¬renhal...
    - Não é verdade. Ele amava a senhora minha mãe.
    - Estou certo de que sim, senhora, mas...
    - Era a única mulher que ele amava.
    - Então deve ter encontrado aquele bastardo debaixo de uma folha de repolho - dis¬se Gendry atrás deles.
    Arya quis ter outra maçã para fazer quicar no rosto dele,
    - Meu pai tinha honra - disse Arya, zangada. - E, seja como for, não estávamos fa¬lando com você. Por que é que não volta para o Septo de Pedra e toca as estúpidas sinetas daquela garota?
    Gendry ignorou-a.
    - Pelo menos o seu pai criou o bastardo dele; o meu não. Nem sequer sei o nome de meu pai. Algum bêbado fedorento, aposto, como os outros que a minha mãe arrastava da cervejaria para casa. Sempre que se zangava comigo, dizia: "Se o seu pai estivesse aqui, batia em você até tirar sangue". Isso é tudo que sei dele. - Cuspiu no chão. - Bem, se esti¬vesse aqui agora, pode ser que eu batesse nele até tirar sangue. Mas está morto, imagino, e o seu pai também está morto, portanto que importa com quem ele se deitou?
    A Arya importava, embora não soubesse dizer por quê. Ned estava tentando se des¬culpar por tê-la perturbado, mas ela não quis ouvir. Encostou os calcanhares no cavalo e deixou os dois para trás. Anguy, o Arqueiro, seguia alguns metros mais à frente. Quando o alcançou, disse:
    - Os dorneses mentem, não mentem?
    - São famosos por isso. - O arqueiro sorriu. - Mas claro que eles dizem o mesmo de nós, os da Marca, portanto, eis aí. O que foi agora? O Ned é um bom rapaz...
    - Ele é só um estúpido mentiroso.
    Arya abandonou a trilha, saltou um tronco apodrecido e cruzou um riacho, fazendo espirrar água para todos os lados, ignorando os gritos dos fora da lei atrás de si. Só que¬rem me contar mais mentiras. Pensou em tentar fugir deles, mas eram muitos e conheciam aquelas terras bem demais. De que servia fugir se a apanhassem?
    Por fim, foi Harwin que se aproximou.
    - Onde acha que vai, senhora? Não devia fugir. Há lobos nesta floresta, e coisas piores.
    - Não tenho medo - disse ela. - Aquele rapaz, o Ned, disse...
    - Sim, ele me contou. A Senhora Ashara Dayne. E uma história antiga, essa. Ouvi-a uma vez em Winterfell, quando ainda não era mais velho do que a senhora é agora. - Agarrou firmemente no freio dela e virou seu cavalo. - Duvido que haja nela alguma verdade. Mas se houver, qual é o problema? Quando Ned conheceu essa senhora dornesa, o irmão Brandon ainda estava vivo, e era ele o noivo da Senhora Catelyn, portanto não há nenhuma mancha na honra de seu pai. Não há nada como um torneio para aquecer o sangue, e talvez algumas palavras tenham sido murmu-radas numa tenda em alguma noite, quem sabe? Palavras ou beijos, talvez mais, mas onde está o mal? A primavera tinha chegado, ou pelo menos era o que pensavam, e nenhum dos dois estava comprometido.
    - Mas ela se matou - disse Arya com incerteza. - O Ned diz que ela saltou de uma torre para o mar.
    - É verdade - admitiu Harwin enquanto a conduzia de volta mas foi por desgosto, aposto. Ela tinha perdido um irmão, a Espada da Manhã. - Balançou a cabeça. - Deixe isso, senhora. Estão mortos, todos eles. Deixe quieto... e, por favor, quando chegarmos a Correrrio, não diga nada sobre ele à sua mãe.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:32 am

    A aldeia ficava mesmo onde Notch havia prometido. Abrigaram-se num estábulo de pedra cinza. Só restava meio telhado, mas isso era meio telhado a mais do que havia em qualquer outro edifício da aldeia. Isso não é uma aldeia, são só pedras pretas e ossos velhos.
    - Foram os Lannister que mataram as pessoas que viviam aqui? - perguntou Arya enquanto ajudava Anguy a secar os cavalos.
    - Não. - Ele apontou. - Olhe como o musgo cresce alto nas pedras. Ninguém anda por aqui há muito tempo. E há uma árvore crescendo ali da parede, está vendo? Este lu¬gar foi passado pelo archote há muito tempo.
    - Então quem foi que fez isso? - perguntou Gendry.
    - Hoster Tully. - Notch era um homem curvado, magro e de barba grisalha, nascido naquela região. - Esta era a aldeia de Lorde Goodbrook. Quando Correrrio declarou apoio a Robert, Goodbrook manteve-se fiel ao rei, por isso Lorde Tully caiu sobre ele com fogo e espada. Depois do Tridente, o filho de Goodbrook fez a paz com Robert e Lorde Hoster, mas isso não ajudou em nada os mortos.
    Caiu um silêncio. Gendry lançou a Arya um olhar estranho, após o que lhe deu as costas para escovar o cavalo. Lá fora, a chuva caía sem parar.
    - Acho que precisamos de uma fogueira - declarou Thoros. - A noite é escura e cheia de terrores. E também molhada, hã? Molhada demais.
    Jack Sortudo arrancou um pouco de madeira seca de uma cocheira, enquanto Notch e Merris juntavam palha para fazer o fogo pegar, O próprio Thoros tirou a faísca, e Limo atiçou as chamas com seu grande manto amarelo até deixá-las rugindo e rodopiando. Em pouco tempo, o estábulo ficou quase aquecido. Thoros sentou-se em frente à fogueira de pernas cruzadas, devorando as chamas com os olhos, tal como tinha feito no topo de Co¬ração Alto. Arya observava-o de perto, e uma vez os lábios dele moveram-se e ela julgou ouvi-lo murmurar "Correrrio". Limo começou a andar de um lado para o outro, tossindo, com uma longa sombra a acompanhá-lo a cada passo, enquanto Tom das Sete tirava as botas e esfregava os pés.
    - Devo estar louco para voltar a Correrrio - protestou o cantor. - Os Tully nunca de¬ram sorte ao velho Tom. Foi aquela Lysa que me mandou pela estrada de altitude, quan¬do os homens da lua me roubaram o ouro e o cavalo e também toda a roupa. Há cavalei¬ros no Vale que ainda contam a história de como eu cheguei a pé ao Portão Sangrento só com a harpa pra manter a modéstia. Eles obrigaram-me a cantar "O rapaz do dia de seu nome" e"0 rei sem coragem" antes de abrirem aquele portão. Meu único consolo foi que três deles morreram rindo. Nunca mais voltei ao Ninho da Águia e também não canto "O rei sem coragem', nem por todo o ouro do Rochedo...
    - Lannisters - disse Thoros. - Rugindo em vermelho e dourado. - Pôs-se em pé e foi até Lorde Beric. Limo e Tom não perderam tempo para juntar-se a eles.
    Arya não conseguiu distinguir o que estavam conversando, mas o cantor não parava de olhar de relance para ela, e às tantas Limo irritou-se tanto que esmurrou a parede. Foi então que Lorde Beric lhe fez um gesto para que ela se aproximasse. Era a última coisa que queria fazer, mas Harwyn pôs uma mão na parte de baixo de suas costas e empurrou-a para a frente. Arya deu dois passos e hesitou, cheia de terror,
    - Senhor. - Esperou para ouvir o que Lorde Beric diria.
    - Diga-lhe - ordenou o senhor do relâmpago a Thoros.
    O sacerdote vermelho acocorou-se ao lado dela.
    - Senhora - disse -, o Senhor concedeu-me uma visão de Correrrio. Parecia uma ilha num mar de fogo, As chamas eram leões aos saltos, com longas garras carmesim. E como rugiam! Um mar de Lannisters, senhora. Correrrio será atacado em breve.
    Arya sentiu-se como se ele a tivesse esmurrado na barriga.
    - Não!
    - Querida - disse Thoros -, as chamas não mentem. As vezes leio-as incorretamente, por ser o idiota cego que sou. Mas não dessa vez, penso. Em breve, os Lannister terão Correrrio sob cerco.
    - Robb vai vencê-los. - Arya fez uma expressão obstinada. - Ele vai ganhar deles como ganhou antes.
    - Seu irmão pode ter partido - disse Thoros. - E sua mãe também. Não os vi nas chamas. Esse casamento de que a velha falou, um casamento nas Gêmeas... aquela lá tem suas maneiras de saber das coisas. Os represeiros murmuram ao ouvido dela quando dorme. Se ela diz que a sua mãe partiu para as Gêmeas...
    Arya virou-se para Tom e Limo.
    - Se não me tivessem apanhado, eu poderia estar lá. Poderia estar em casa.
    Lorde Beric não prestou atenção àquela explosão.
    - Senhora - disse, com uma cortesia fatigada -, reconheceria o irmão do seu avô se o visse? Sor Brynden Tully, chamado Peixe Negro? Poderia ele, porventura, reconhecê-la?
    Arya balançou a cabeça, infeliz. Tinha ouvido a mãe falar de Sor Brynden Peixe Ne¬gro, mas, se alguma vez o conhecera pessoalmente, havia sido quando era pequena de¬mais para se lembrar,
    - Não há grandes chances de o Peixe Negro pagar bom dinheiro por uma garota que não conhece - disse Tom. - Aqueles Tully são uma gente amarga e desconfiada, o mais certo é que ele pense que estamos lhe vendendo um artigo falso.
    - Vamos convencê-lo - insistiu Limo Manto Limão. - Ela vai, ou então o Harwin. Correrrio fica mais perto. Sugiro que a levemos para lá, recebamos o ouro e nos livremos de vez da garota.
    - E se os leões nos pegarem dentro do castelo? - perguntou Tom. - Não há nada de que fossem gostar mais do que pendurar sua senhoria do topo de Rochedo Casterly numa gaiola.
    - Não pretendo ser capturado - disse Lorde Beric. Uma última palavra pairou, por proferir, no ar. Vivo. Todos a ouviram, até mesmo Arya, embora ela não tivesse chegado a sair de seus lábios. - Mesmo assim, não nos atrevemos a ir cegamente até lá. Quero sa¬ber onde se encontram os exércitos, tanto os lobos como os leões. Sharna saberá alguma coisa, e o meistre de Lorde Vance
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 10:32 am

    saberá mais. O Solar de Bolotas não é longe daqui. A Senhora Smallwood vai nos dar abrigo durante algum tempo enquanto enviamos bate¬dores para investigar...
    As palavras dele esbarravam em seus ouvidos como o bater de um tambor, e, de re¬pente, Arya não conseguiu suportar mais. Desejava Correrrio, não o Solar de Bolotas; desejava a mãe e o irmão Robb, não a Senhora Smallwood ou um tio qualquer que nunca chegara a conhecer. Girando sobre si mesma, disparou para a porta, e quando Harwin tentou agarrá-la pelo braço, esquivou-se dele, rápida como uma cobra.
    Fora do estábulo continuava a chover, e um relâmpago distante caiu a oeste. Arya cor¬reu tâo depressa quanto foi capaz. Não sabia para onde ia, sabia apenas que queria ficar sozinha, longe de todas as vozes, longe das palavras vazias deles e de suas promessas que¬bradas. Tudo que eu queria era ir para Correrrio. A culpa era sua, por ter trazido Gendry e Torta Quente quando abandonou Harrenhal. Teria ficado melhor sozinha. Se estivesse sozinha, os fora da lei nunca a teriam apanhado, e àquela altura já estaria com Robb e a mãe. Eles nunca foram a minha alcateia. Se tivessem sido, não teriam me abandonado. Atra¬vessou uma poça lamacenta espirrando água. Alguém estava gritando seu nome. Prova¬velmente Harwin, ou Gendry, mas o trovão submergiu-os ao rolar por sobre os montes, meio segundo depois do relâmpago. O senhor do relâmpago, pensou, zangada. Talvez não pudesse morrer, mas podia mentir.
    Em algum lugar à sua esquerda, um cavalo relinchou. Arya não podia estar a mais de cinqüenta metros do estábulo, mas já se encontrava ensopada até os ossos. Abaixou-se junto ao canto de uma das casas em ruínas, esperando que as paredes cobertas de musgo a protegessem da chuva, e quase colidiu com uma das sentinelas. Uma mão revestida de cota de malha fechou-se com força em volta de seu braço.
    - Está me machucando - disse, torcendo-se sob aquela mão. - So/fe, eu ia voltar, eu...
    - Voltar? - a gargalhada de Sandor Clegane era ferro raspando em pedra. - Que se dane isso, garota lobo. Você é minha. - Só precisou de uma mão para levantá-la do chão e levá-la, esperneando, para o cavalo que o esperava. A chuva fria açoitava a ambos e arras¬tava seus gritos, e Arya só conseguia pensar naquilo que ele tinha lhe perguntado. Sabe o que os cães jazem aos lobos?

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