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    Parte 2 3 realm

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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:54 pm

    Jon 861





    O
    vento soprava forte do leste, tão forte que a pesada gaiola balançava sempre que uma rajada a apanhava em seus dentes. Uivava ao longo da Muralha, tremendo pelo gelo, fazendo o manto de Jon esvoaçar de encontro às barras. O céu era um cinza de ardósia, o sol, nada mais do que uma tênue mancha brilhante por trás das nuvens. Para além do campo de morte, via a cintilação de mil fogueiras ardendo, mas suas luzes pareciam pe¬quenas e impotentes contra tamanha escuridão e frio.
    Um dia carregado. Jon Snow envolveu as barras com mãos enluvadas e segurou-se bem, enquanto o vento martelava a gaiola mais uma vez. Quando olhou para baixo, por entre os pés, viu o chão perdido em sombras, como se estivesse sendo baixado para um poço sem fundo. Bem, a morte é uma espécie de poço sem fundo, refletiu, e quando a obra deste dia estiver concluída, meu nome ficará para sempre envolto em sombras.
    Os homens diziam que as crianças bastardas nasciam da luxúria e da mentira; a sua natureza era libertina e traiçoeira. Antes, Jon pretendia provar que isso era um erro, mos¬trar ao senhor seu pai que podia ser um filho tão bom e leal quanto Robb. Arruinei tudo isso. Robb tinha se transformado num rei herói; se Jon fosse por acaso recordado, seria como vira-casaca, perjuro e assassino. Estava feliz por Lorde Eddard não estar vivo para assistir à sua vergonha.
    Devia ter ficado naquela gruta com Ygritte. Se houvesse uma vida para além daquela, esperava dizer-lhe isso. Ela vai arranhar meu rosto como a águia e amaldiçoar-me de ser covarde, mas direi mesmo assim. Flexionou a mão da espada, como Meistre Aemon lhe en¬sinara a fazer. O hábito tinha se tornado parte de si e precisaria dos dedos flexíveis para ter nem que fosse meia chance de assassinar Mance Rayder.
    Tinham-no tirado para fora naquela manhã, depois de quatro dias passados no gelo, fechado numa cela de um metro e meio por um metro e meio por um metro e meio, bai¬xa demais para se pôr em pé, apertada demais para se deitar de costas» Os intendentes tinham há muito descoberto que a comida e a carne duravam mais tempo nos armazéns de gelo esculpidos na base da Muralha... mas os prisioneiros não,
    "Morrerá aqui, Lorde Snow", disse Sor Alliser imediatamente antes de fechar a pe¬sada porta de madeira, e Jon tinha acreditado nele. Mas naquela manhã tinham vindo tirá-lo de lá e tinham-no levado, cheio de cãibras e tremendo, à Torre do Rei, para com¬parecer uma vez mais perante o queixudo Janos Slynt.
    - Aquele velho meistre diz que não posso enforcá-lo - declarou Slynt, - Escreveu a Cotter Pyke, e até teve o maldito descaramento de me mostrar a carta. Diz que não é nenhum vira-casaca.
    - Aemon viveu tempo demais, senhor - garantiu-lhe Sor Alliser. - Seu discernimen¬to tornou-se tão escuro como os olhos.
    - Sim - disse Slynt, - Um cego com uma corrente em volta do pescoço, quem ele pensa que é?
    Aemon Targaryen, pensou Jon, filho de um rei e irmão de um rei, e um rei que poderia ter sido, Mas nada disse.
    - Mesmo assim - falou Slynt -, não quero que se diga que Janos Slynt enforcou um homem injustamente. Não quero. Decidi dar-lhe uma última chance de demons¬trar que é tão leal como diz ser, Lorde Snow. Uma última chance de cumprir o seu dever, sim! - Levantou-se. - Mance Rayder quer parlamentar conosco. Sabe que não tem chances, agora que Janos Slynt chegou, portanto quer conversar, este Rei-para- -lá-da-Muralha. Mas o homem é covarde, e não quer vir até nós. Sem dúvida que sabe que o penduraria na forca. Penduraria pelos pés do topo da Muralha, na ponta de uma corda com sessenta metros de comprimento! Mas ele não vem. Pede que lhe mandemos um enviado.
    - Vamos mandá-lo, Jon Snow. - Sor Alliser sorriu.
    - Eu. - A voz de Jon não tinha vida. - Por que eu?
    - Acompanhou estes selvagens - disse Thorne. - Mance Rayder conhece você. Estará mais inclinado a confiar em você.
    Aquilo era tão errado que Jon poderia ter rido.
    - Entendeu as coisas ao contrário. Mance suspeitou de mim desde o início. Se apa¬recer em seu acampamento de novo com um manto negro e falando pela Patrulha da Noite, saberá que o traí.
    - Ele pediu um enviado, e nós vamos enviar um - disse Slynt. - Se for covarde de¬mais para enfrentar este rei vira-casaca, podemos devolvê-lo à sua cela de gelo. Dessa vez sem as peles, parece-me. Sim.
    - Não há necessidade disso, senhor - disse Sor Alliser. - Lorde Snow fará o que pedimos. Ele quer nos mostrar que não é nenhum vira-casaca. Quer mostrar que é um membro leal da Patrulha da Noite.
    Jon tinha notado que Thorne era, de longe, o mais inteligente dos dois; aquilo fedia a obra dele por todo o lado. Estava preso numa armadilha,
    - Eu vou - disse, numa voz apertada e seca.
    - Senhor - lembrou Janos Slynt. - Vai me tratar por...
    - Eu vou, senhor. Mas está cometendo um erro, senhor. Está mandando o homem er¬rado, senhor. Ver-me será o suficiente para enfurecer Mance. O senhor teria uma melhor possibilidade de conseguir um acordo se enviasse...
    - Um acordo? - Sor Alliser soltou um risinho.
    -Janos Slynt não faz acordos com selvagens sem lei, Lorde Snow. Não, não faz.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:55 pm

    - Não o estamos enviando para falar com Mance Rayder - disse Sor Alliser. - Esta¬mos enviando-o para matar Mance Rayder.
    O vento assobiou por entre as barras, e Jon Snow estremeceu. Tinha a perna late- jando e a cabeça também. Não tinha condições de matar um gatinho, mas ali estava, A armadilha tinha dentes. Com Meistre Aemon a insistir na inocência de Jon, Lorde Janos não se atrevera a deixá-lo no gelo para morrer. Aquilo era melhor.
    "Nossa honra não significa mais do que nossas vidas, desde que o reino fique em se¬gurança", Qhorin Meia-Mão tinha dito nas Presas de Gelo. Precisava se lembrar daquilo. Quer matasse Mance, quer apenas tentasse e falhasse, o povo livre iria matá-lo. Até a de¬serção era impossível, se estivesse inclinado a tal coisa; para Mance, ele era um mentiroso e traidor comprovado.
    Quando a gaiola parou com um solavanco, Jon saltou para o chão e sacudiu o cabo de Garralonga para que a lâmina bastarda ficasse solta dentro da bainha. O portão estava a alguns metros para a sua esquerda, ainda bloqueado pelos restos estilhaçados da tartaruga, com a carcaça de um mamute apodrecendo lá dentro. Havia também outros cadáveres, espalhados entre barris quebrados, piche endurecido e manchas de mato queimado, tudo sob a sombra da Muralha. Jon não tinha qualquer desejo de se demorar ali. Pôs-se a caminhar na direção do acampamento dos selvagens, passando pelo corpo de um gigante cuja cabeça havia sido esmagada por uma pedra. Um corvo estava arrancando pedaços de cérebro do crânio estilhaçado do gigante. Olhou para cima quando ele passou. "Snow", gritou para ele. "Snow, snow" Então abriu as asas e partiu voando.
    Assim que começou a avançar, um cavaleiro solitário emergiu do acampamento dos selvagens e veio em sua direção. Perguntou a si mesmo se Mance viria parlamentar na terra de ninguém. Isso podia tornar as coisas mais fáceis, se bem que nada as tornará fáceis. Mas quando a distância entre ambos diminuiu, Jon viu que o homem era baixo e largo, com anéis de ouro cintilando em braços grossos e uma barba branca que se espalhava por seu peito maciço.
    - Ha! - trovejou Tormund quando se encontraram. - Jon Snow, o corvo. Tive receio de não o ver mais.
    - Não sabia que tinha receio de alguma coisa, Tormund.
    Aquilo fez o selvagem sorrir.
    - Bem dito, moço. Tô vendo que seu manto é negro. O Mance não vai gostar disso, Se veio mudar de lado outra vez, é melhor subir de volta a sua Muralha ali.
    - Enviaram-me para tratar com o Rei-para-lá-da-Muralha.
    - Tratar? - Tormund riu. - Mas que palavra. Ha! Mance quer conversar, isso lá é verdade, Mas não sei lá muito bem se quer conversar com você.
    - Foi a mim que enviaram.
    - Tô vendo isso. Então é melhor vir daí. Quer montar?
    - Posso ir a pé.
    - Deu-nos boa luta aqui. - Tormund virou o garrano para o acampamento dos selva¬gens. - Você e seus irmãos. Tenho de admitir. Duzentos mortos e uma dúzia de gigantes. O próprio Mag entrou naquele seu portão e não saiu mais.
    - Ele morreu pela espada de um homem valente chamado Donal Noye.
    - Ah sim? Era algum grande senhor, esse Donal Noye? Um de seus cavaleiros bri¬lhantes com roupas de baixo em aço?
    - Um ferreiro. Só tinha um braço.
    - Um ferreiro maneta matou Mag, o Poderoso? Ha! Essa deve ter sido uma luta dig¬na de ser vista. O Mance vai fazer dela uma canção, você vai ver. - Tormund desprendeu um odre da sela e tirou a rolha dele. - Isso vai nos aquecer um pouco. A Donal Noye e a Mag, o Poderoso. - Bebeu um trago e passou o odre para Jon.
    - A Donal Noye e a Mag, o Poderoso. - O odre estava cheio de hidromel, mas um hidromel tão potente que encheu os olhos de Jon de água e mandou gavinhas de fogo serpenteando por todo o seu peito. Depois da cela de gelo e da fria descida na gaiola, o calor era bem-vindo.
    Tormund recuperou o odre e emborcou mais um trago e depois limpou a boca.
    - O Magnar de Thenn jurou à gente que ia ter o portão escancarado, pra que tudo que tivéssemos de fazer fosse passear por ele cantando. Que ia botar a Muralha inteira abaixo.
    - Botou abaixo parte dela - disse Jon. - Em cima da própria cabeça.
    - Ha! - disse Tormund. - Bem, nunca vi grande utilidade no Styr. Quando um ho¬mem não tem nem barba, nem cabelo, nem orelhas, não se pode pegar bem nele quando se luta. - Mantinha o cavalo a passo lento, para que Jon pudesse ir coxeando a seu lado. - O que é que houve com essa perna?
    - Uma flecha. Uma das de Ygritte, acho eu.
    - Isso é que é mulher. Um dia tá beijando você, no outro o enche de flechas.
    - Está morta.
    - Ah, é? - Tormund sacudiu tristemente a cabeça, - Uma pena. Se eu fosse dez anos mais novo, tinha raptado-a pra mim, Aqueles cabelos que ela tinha... Bem, as fogueiras mais quentes são as que ardem mais depressa. - Ergueu o odre de hidromel. - A Ygritte, beijada pelo fogo! - bebeu um longo trago.
    - A Ygritte, beijada pelo fogo - repetiu Jon quando Tormund lhe entregou o odre. Bebeu um trago ainda mais longo.
    - Foi você que a matou?
    - Foi um irmão meu, - Jon nunca soube qual, e esperava nunca saber.
    - Malditos corvos. - O tom de Tormund era duro, mas estranhamente gentil. - Aquele Lança-Longa roubou-me a filha. Munda, a minha maçãzinha de outono. Raptou- -a bem da minha tenda, com os quatro irmãos dela por lá. Toregg passou o tempo todo dormindo, o grande palhaço,
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:55 pm

    e Torwynd... bem, Torwynd, o Manso, isso diz tudo que é preciso dizer, não diz? Mas os mais novos deram luta ao moço.
    - E Munda?
    - Ela é do meu sangue - disse Tormund com orgulho. - Rasgou o lábio dele e arrancou-lhe metade de uma orelha com uma dentada, e ouvi dizer que ele tem tantos arranhões nas costas que não consegue pôr um manto. Mas gosta bastante dele. E por que não haveria de gostar? Ele não luta com lança, sabe? E nunca lutou. De onde acha que veio aquele nome dele então? Ha!
    Jon teve de rir. Mesmo naquela hora, mesmo naquele local. Ygritte gostara do Lança- -Longa Ryk. Jon esperava que ele tivesse encontrado alguma alegria com a Munda de Tormund. Alguém tinha de encontrar alegria em algum lugar.
    "Você não sabe nada, Jon Snow", teria dito Ygritte. Sei que vou morrer, pensou. Pelo menos isso sei. "Todos os homens morrem" quase conseguia ouvi-la dizer "e as mulheres também, e todos os animais que voam, nadam ou correm. Não é quando se morre que importa, é como, Jon Snow". Ê fácil para você dizer isso, pensou em resposta. Morreu bra¬vamente em batalha, assaltando o castelo de um inimigo. Eu vou morrer como vira-casaca e assassino. E a morte dele também não seria rápida, a menos que viesse na ponta da espada de Mance,
    Logo estavam entre as tendas. Era o acampamento selvagem habitual; a vasta confu¬são de fogueiras e fossas, crianças e cabras vagueando livremente, ovelhas balindo entre as árvores, peles de cavalo penduradas para secar. Não tinha um plano, não tinha ordem, não tinha defesas. Mas havia homens, mulheres e animais por todo lado.
    Muitos ignoraram-no, mas a cada um que prosseguia com a sua vida havia dez que paravam para encará-lo; crianças agachadas junto às fogueiras, velhas em carros de cães, habitantes de cavernas com o rosto pintado, corsários com garras, serpentes e cabeças cortadas pintadas em seus escudos, todos se viraram para ver. Jon também viu esposas de lanças, com longos cabelos soprados pelo vento que cheirava a pinheiro e suspirava por entre as árvores.
    Ali não havia verdadeiras colinas, mas a tenda de peles brancas de Mance Rayder havia sido erguida num local de terreno elevado e pedregoso bem no limite das árvores. O Rei-para-lá-da-Muralha esperava à porta, com o esfarrapado manto vermelho e negro esvoaçando ao vento. Jon viu que Harma Cabeça de Cão se encontrava com ele, de vol¬ta dos ataques e simulações feitos ao longo da Muralha, e Varamyr Seis-Peles também, rodeado por seu gato-das-sombras e dois esguios lobos cinzentos.
    Quando viram quem a Patrulha tinha enviado, Harma virou a cabeça e cuspiu, e um dos lobos de Varamyr mostrou os dentes e rosnou.
    - Deve ser muito valente ou muito estúpido, Jon Snow - disse Mance Rayder - para voltar para junto de nós vestindo um manto negro.
    - O que mais vestiria um homem da Patrulha da Noite?
    - Mate-o - instou Harma. - Mande o corpo de volta naquela gaiola que eles têm e diga-lhes que nos mandem outro. Eu fico com a cabeça dele como estandarte. Um vira- -casaca é pior que um cão.
    - Eu preveni que ele era falso. - O tom de Varamyr era brando, mas seu gato-das- -sombras estava fitando Jon com uma expressão faminta nas fendas cinza que eram seus olhos. - Nunca gostei do cheiro dele.
    - Recolha as garras, animal. - Tormund Terror dos Gigantes saltou do cavalo. - O moço tá aqui pra ouvir. Se puser uma pata nele, pode ser que eu arranje esse manto de gato-das-sombras que tenho cobiçado.
    - Tormund Ama-Corvos - escarneceu Harma. - E um grande saco de vento, velho.
    O troca-peles tinha um rosto cinzento, ombros redondos e era calvo, um homem que
    mais parecia um rato com olhos de lobisomem.
    - Depois de um cavalo se habituar à sela, qualquer homem pode montá-lo - disse ele em voz baixa. - Depois de um animal se juntar a um homem, qualquer troca-peles pode entrar nele e montá-lo. Orell estava definhando dentro de suas penas, por isso fiquei com a águia. Mas a junção funciona nos dois sentidos, warg. Orell agora vive dentro de mim, mur¬murando como o odeia. E eu posso pairar por cima da Muralha e ver com olhos de águia.
    - E assim que sabemos - disse Mance. - Sabemos como vocês eram poucos quan¬do detiveram a tartaruga. Sabemos quantos vieram de Atalaialeste. Sabemos como seus suprimentos minguaram. Piche, óleo, flechas, lanças. Até a escada desapareceu, e aquela gaiola só pode içar uns poucos. Nós sabemos. E agora você sabe que sabemos. - Abriu a aba da tenda. - Entre. O resto de vocês, esperem aqui.
    - O que, até eu? - disse Tormund.
    - Especialmente você. Sempre.
    Lá dentro fazia calor. Uma pequena fogueira ardia sob os buracos para a fumaça, e um braseiro incandescia junto da pilha de peles onde Dalla jazia, pálida e suando. A irmã estava segurando sua mão. Vai, recordou Jon.
    - Tive pena quando Jarl caiu - disse-lhe.
    Vai olhou-o com olhos cinza-claros.
    - Ele sempre escalou depressa demais. - Era tão bonita quanto ele lembrava, esguia, com seios cheios, graciosa até em repouso, com malares altos e pronunciados e uma gros¬sa trança de cabelos cor de mel que lhe caía até a cintura.
    - A hora de Dalla está chegando - explicou Mance. - Ela e Vai ficarão. Elas sabem o que eu quero dizer.
    Jon manteve o rosto imóvel como gelo. Já é suficientemente ruim matar um homem em sua própria tenda sob uma trégua. Terei também de assassiná-lo diante de sua mulher enquanto nasce seu filho? Fechou os dedos da mão da espada. Mance não vestia armadura, mas tinha a espada
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:56 pm

    embainhada junto à anca esquerda. E havia outras armas na tenda, punhais e adagas, um arco e uma aljava cheia de flechas, uma lança de ponta de bronze no chão, ao lado do grande e negro...
    ... berrante,
    Jon prendeu a respiração.
    Um berrante de guerra, um berrante de guerra grande como o diabo.
    - Sim - disse Mance. - O Berrante do Inverno, que Joramun soprou um dia para despertar os gigantes da terra,
    O berrante era enorme, com dois metros e quarenta ao longo da curvatura e tão largo na boca que podia ter enfiado o braço lá dentro até o cotovelo. Se isto veio de um auroque, era o maior que já existiu. A princípio, pensou que as tiras de metal em volta dele eram de bronze, mas quando se aproximou percebeu que eram de ouro. Ouro velho, mais castanho do que amarelo, e gravado com runas,
    - Ygritte disse que não chegou a encontrar o berrante.
    - Pensa que só os corvos sabem mentir? Eu gostei bastante de você, para um bastar¬do... mas nunca confiei em você. Um homem tem de ganhar a minha confiança.
    Jon encarou-o.
    - Se tinha o Berrante de Joramun desde o início, por que não o usou? Para que se incomodar com a construção de tartarugas e com o envio de Thenns para nos matar en¬quanto dormíamos? Se esse berrante for tudo que as canções dizem que é, por que não simplesmente soprá-lo e pronto?
    Foi Dalla quem lhe respondeu, a Dalla da enorme barriga, deitada em sua pilha de peles ao lado do braseiro.
    - Nós, o povo livre, sabemos coisas que vocês, os que ajoelham, já esqueceram. Âs ve¬zes, a estrada mais curta não é a mais segura, Jon Snow. O Senhor Chifrudo disse um dia que a feitiçaria é uma espada sem cabo, Não há maneira segura de pegar nela.
    Mance percorreu com uma mão a curvatura do grande berrante.
    - Ninguém vai à caça só com uma flecha na aljava - disse, - Tive a esperança de que Styr e Jarl pegassem seus irmãos desprevenidos e nos abrissem o portão. Afastei a sua guarnição com simulações, incursões e ataques secundários. Bowen Marsh engoliu essa isca, como eu sabia que engoliria, mas seu bando de órfãos e aleijados mostrou-se mais teimoso do que eu esperava. Mas não pense que nos deteve. A verdade é que vocês são poucos demais e nós, muitos. Podia continuar com o ataque aqui e ainda mandar dez mil homens atravessar a Baía das Focas em jangadas e tomar Atalaialeste pela retaguarda. Também podia assaltar a Torre Sombria, conheço tão bem os acessos como qualquer outro homem vivo. Podia mandar homens e mamutes escavar os portões dos castelos que abandonaram, todos ao mesmo tempo,
    - Então por que não faz isso? - Jon podia ter puxado Garralonga naquele momento, mas queria ouvir o que o selvagem tinha a dizer.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:56 pm

    - Sangue - disse Mance Rayder. - No fim venceria, sim, mas vocês iriam me sangrar, e o meu povo já sangrou o suficiente,
    - Suas perdas não foram assim tão pesadas,
    - Pelas suas mãos, não, - Mance estudou o rosto de Jon. - Viu o Punho dos Primei¬ros Homens. Sabe o que aconteceu ali. Sabe o que enfrentamos,
    - Os Outros...
    - Eles ficam mais fortes à medida que os dias se tornam mais curtos e as noites mais frias. Primeiro matam-no, depois mandam seus mortos contra você. Os gigantes não fo¬ram capazes de lhes resistir, nem os Thenns, os clãs do rio de gelo ou os Cornopés.
    - Nem você?
    - Nem eu. - Havia ira naquela admissão, e uma amargura profunda demais para ser expressa por palavras. - Raymun Barba-Vermelha, Bael, o Bardo, Gendel e Gorne, o Senhor Chifrudo, todos eles vieram para o sul para conquistar, mas eu vim com o rabo entre as pernas para me esconder atrás da sua Muralha. - Voltou a encostar no berrante. - Se fizer soar o Berrante do Inverno, a Muralha cairá. Pelo menos é o que as canções me querem fazer crer. Há alguns entre o meu povo que não desejam nada com mais força.,,
    - Mas depois que a Muralha cair - disse Dalla -, o que irá parar os Outros?
    Mance concedeu-lhe um sorriso afetuoso.
    - E uma mulher sensata, esta que encontrei. Uma verdadeira rainha. - Voltou-se de novo para Jon. - Volte e diga-lhes para abrirem o portão e deixarem-nos passar. Se o fizerem, darei o berrante, e a Muralha ficará em pé até o fim dos tempos.
    Abrir o portão e deixá-los passar. Fácil de dizer, mas o que se seguiria? Gigantes acam¬pados nas ruínas de Winterfell? Canibais na mata de lobos, bigas varrendo as terras aci¬dentadas, povo livre raptando as filhas de construtores navais e ourives em Porto Branco e peixeiras ao largo da Costa Pedregosa?
    - E um verdadeiro rei? - perguntou Jon subitamente.
    - Nunca tive uma coroa na cabeça nem sentei o traseiro na porcaria de um tro¬no, se é isso o que está perguntando - respondeu Mance. - Meu nascimento é tão baixo quanto poderia ser, nenhum septão me besuntou a cabeça com óleos, não sou dono de castelos, e a minha rainha usa peles e âmbar, e não seda e safiras. Sou o meu próprio campeão, o meu próprio bobo e o meu próprio harpista. Não se torna Rei-para-lá-da-Muralha por causa de quem foi o seu pai. O povo livre não seguirá um nome e não se importa com qual dos irmãos nasceu primeiro. Segue lutadores. Quando abandonei a Torre Sombria, havia cinco homens fazendo barulho a respeito de como eles mesmos podiam ser do material de que são feitos os reis. Tormund era um, o Magnar, outro. Matei os outros três, quando deixaram claro que preferiam lutar a me seguir.
    - Pode matar seus inimigos - disse Jon sem rodeios mas será capaz de governar seus amigos? Se deixarmos seu povo passar, é suficientemente forte para fazê-los manter a paz do rei e obedecer às leis?
    - As leis de quem? As leis de Winterfell e de Porto Real? - Mance soltou uma gar¬galhada. - Quando quisermos leis, faremos as nossas. Pode ficar também com a sua real justiça e os seus reais impostos. Estou oferecendo-lhe o berrante, não a nossa liberdade. Não nos ajoelharemos perante vocês.
    - E se recusarmos a proposta? - Jon não tinha dúvida de que recusariam. O Velho Urso poderia pelo menos ter escutado, embora recusasse diante da idéia de deixar trinta ou quarenta mil selvagens à solta nos Sete Reinos. Mas Alliser Thorne e Janos Slynt des¬cartariam a idéia logo de cara.
    - Se recusarem - disse Mance Rayder -, Tormund Terror dos Gigantes fará soar o Berrante do Inverno dentro de três dias, ao nascer do dia.
    Levaria a mensagem para Castelo Negro e contaria a eles sobre o berrante, mas se deixasse Mance vivo, Lorde Janos e Sor Alliser usariam isso como prova de que era um vira-casaca. Mil pensamentos passaram pela cabeça de Jon. Se puder destruir o berrante, esmagá-lo aqui e agora... mas antes de poder começar a pensar bem nisso, ouviu o gemido grave de outro berrante qualquer, atenuado pelas paredes de peles da tenda. Mance tam¬bém ouviu. Franzindo a testa, dirigiu-se para a porta, Jon seguiu-o.
    O berrante de guerra era mais sonoro lá fora. Seu chamado tinha agitado o acampa¬mento dos selvagens. Cavalos relinchavam e resfolegavam, gigantes rugiam no Idioma Antigo e até os mamutes estavam inquietos.
    - Berrante de batedor - disse Tormund a Mance,
    - Alguma coisa vem aí, - Varamyr estava sentado de pernas cruzadas no chão meio congelado, com os lobos descrevendo círculos agitadamente em volta dele. Uma sombra pairou por cima dele, e Jon ergueu o olhar para ver as asas azul-acinzentadas de uma águia. - Vem do leste.
    "Quando os mortos caminham, muralhas, estacas e espadas não significam nada, re¬cordou. Não pode lutar com os mortos, Jon Snow." Ninguém sabe disso tão bem quanto eu.
    Harma franziu as sobrancelhas.
    - Do leste? As criaturas deviam estar atrás de nós.
    - Do leste - repetiu o troca-peles. - Alguma coisa vem aí.
    - Os Outros? - perguntou Jon.
    Mance sacudiu a cabeça.
    - Os Outros nunca vêm quando o sol está no céu. - Bigas chocalhavam através do campo de morte, transbordando de guerreiros que brandiam lanças de osso afiado, O rei gemeu. - Onde eles pensam que vão, porra? Quenn, leve aqueles idiotas de volta às suas posições. Alguém me traga o cavalo. A égua, não o garanhão. Também vou querer a minha armadura. - Mance deu um relance
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:56 pm

    desconfiado à Muralha. No topo das ameias geladas, os soldados de palha mantinham-se em pé, colecionando flechas, mas não havia sinal de mais nenhuma atividade. - Harma, ponha em campo os seus batedores. Tormund, vá à procura de seus filhos e arranje uma linha tripla de lanças.
    - Sim - disse Tormund, afastando-se a passos largos.
    O pequeno troca-peles com ar de rato fechou os olhos e disse:
    - Estou vendo-os. Aproximam-se ao longo dos riachos e das trilhas de caça...
    - Quem?
    - Homens, Homens a cavalo. Homens vestidos de aço e homens vestidos de negro.
    - Corvos. - Mance transformou a palavra numa praga. Virou-se para Jon. - Será que os meus antigos irmãos pensaram que me apanhariam de calças arriadas se atacassem enquanto estivéssemos conversando?
    - Se planejaram um ataque, não me falaram dele. - Jon não acreditava. Lorde Janos não tinha homens suficientes para atacar o campo dos selvagens. Além disso, encontrava- -se do lado errado da Muralha, e o portão estava selado com entulho. Ele tinha um tipo diferente de traição em mente, isso não pode ser obra sua,
    - Se está outra vez mentindo para mim, não sai vivo daqui - preveniu Mance. Os guardas trouxeram-lhe o cavalo e a armadura. Em outros pontos do acampamen¬to, Jon viu gente correndo desordenadamente, com alguns homens se posicionando como se fossem assaltar a Muralha, enquanto outros se esgueiravam para a floresta, mulheres conduzindo carros de cães para leste, mamutes vagueando para oeste. Es¬tendeu a mão por sobre o ombro e puxou a Garralonga, exatamente no momento em que uma fina linha de patrulheiros emergia do limite da floresta a trezentos metros de distância. Usavam cota de malha negra, meios-elmos negros e mantos negros. Com a armadura meio posta, Mance puxou a espada. - Então você não sabia de nada disto? - disse friamente a Jon,
    Lentos como mel numa manhã fria, os patrulheiros caíram sobre o acampamento dos selvagens, abrindo caminho por entre maciços de giestas e pequenos bosques, por sobre raízes e pedras. Selvagens voaram ao seu encontro, berrando gritos de guerra e bran¬dindo tacapes, espadas de bronze e machados de pederneira, galopando temerariamente contra seus velhos inimigos. Um grito, um golpe e uma boa morte valente, era como Jon ouvira os irmãos referindo-se à maneira de lutar do povo livre.
    - Acredite no que quiser - disse jon ao Rei-para-lá-da-Muralha mas nada sabia de ataque algum.
    Harma passou por eles trovejando antes de Mance poder responder, à frente de trinta corsários. Seu estandarte seguia à sua frente; um cão morto empalado numa lança, fa¬zendo chover sangue a cada passo. Mance observou enquanto ela se esmagava contra os patrulheiros.
    - Pode ser que esteja dizendo a verdade - disse. - Estes parecem homens de Atalaia- leste. Marinheiros a cavalo. Cotter Pyke sempre teve mais coragem do que juízo. Captu¬rou o Senhor dos Ossos em Monte Longo, pode ter pensado em fazer o mesmo comigo. Se sim, é um idiota. Não tem homens suficientes, ele...
    - Mance! - soou o grito. Era um batedor, irrompendo de entre as árvores num cavalo coberto de espuma. - Mance, há mais, estão por toda a nossa volta, homens de ferro,/er¬ro, uma tropa de homens de ferro.
    Praguejando, Mance saltou para a sela.
    - Varamyr, fique e trate de que nenhum mal aconteça a Dalla. - O Rei-para-lá-da- -Muralha apontou a espada a Jon. - E mantenha olhos extras neste corvo. Se ele fugir, corte-lhe a goela.
    - Sim, eu trato disso. - O troca-peles era uma cabeça mais baixo do que Jon, baixo e mole, mas aquele gato-das-sombras era capaz de estripá-lo com uma pata. - Também estão vindo do norte - disse Varamyr a Mance. - E melhor ir.
    Mance colocou o elmo com as suas asas de gralha. Seus homens também tinham montado.
    - Ponta de lança - gritou Mance -, a mim, formar em cunha, - Mas quando deu com os calcanhares na égua e voou campo afora ao encontro dos patrulheiros, os homens que correram para acompanhá-lo perderam qualquer semelhança com uma formação,
    Jon deu um passo em direção à tenda, pensando no Berrante do Inverno, mas o gato-das-sombras bloqueou-o, com a cauda balançando. As narinas da fera dilataram-se e escorreu saliva de seus dentes curvos da frente. Ele cheira o meu medo. Sentiu então mais do que nunca a falta de Fantasma. Os dois lobos estavam atrás dele, rosnando.
    - Estandartes - ouviu Varamyr murmurar -, vejo estandartes dourados, oh... - Um mamute passou pesadamente por eles, bramindo, com meia dúzia de arqueiros na torre de madeira que levava sobre o dorso. - O rei... não,..
    Então o troca-peles jogou a cabeça para trás e berrou.
    O som era chocante, ensurdecedor, pesado de agonia. Varamyr caiu, contorcendo-se, e o gato também estava gritando... e alto, alto no céu oriental, contra a muralha de nu¬vens, Jon viu a águia queimando. Durante um segundo brilhou mais do que uma estrela, engrinaldada de vermelho, dourado e laranja, batendo violentamente as asas como se fos¬se capaz de fugir da dor. E subiu, e subiu, e subiu ainda mais alto.
    O grito fez Vai sair da tenda, pálida.
    - Que foi, o que aconteceu? - os lobos de Varamyr estavam lutando um contra o outro e o gato-das-sombras tinha fugido para o meio das árvores, mas o homem conti¬nuava se contorcendo no chão. - O que se passa com ele? - quis saber Vai, horrorizada. - Onde está o Mance?
    - Ali. - Jon apontou. - Foi lutar. - O rei levava a sua cunha esfarrapada na direção de um grupo de patrulheiros, fazendo a espada relampejar,
    - Foi? Não pode ter ido, agora não. Começou.
    - A batalha? - Jon viu os patrulheiros espalhando-se perante a sangrenta cabeça de cão de Harma. Os corsários gritaram, golpearam e perseguiram os homens de negro até as árvores. Mas
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:56 pm

    havia mais homens saindo da floresta, uma coluna de cavalaria. Cava¬leiros em cavalaria pesada, viu Jon. Harma teve de reagrupar e dar a volta para ir a seu encontro, mas metade de seus homens tinha se adiantado em excesso.
    - O nascimento! - Vai estava gritando-lhe.
    Soavam trombetas por todo lado, sonoras e metálicas, Os selvagens não têm trombetas, têm apenas berrantes de guerra. E sabiam disso tão bem quanto ele; o som pôs o povo livre para correr numa confusão, alguns na direção da luta, outros para longe dela. Um mamu¬te estava pisoteando um rebanho de ovelhas que três homens tentavam levar para oeste. Os tambores batiam enquanto os selvagens corriam para formar quadrados e linhas, mas tarde demais e com muita desorganização e lentidão. O inimigo emergia da floresta, de leste, de nordeste, do norte; três grandes colunas de cavalaria pesada, toda revestida de aço escuro e cintilante e sobretudos claros de lá, Não eram os homens de Atalaialeste, esses não tinham passado de uma linha de batedores. Um exército. O rei? Jon sentia-se tão confuso quanto os selvagens. Poderia Robb ter retornado? Teria o rapaz no Trono de Ferro finalmente se posto em movimento?
    - É melhor que volte para a tenda - disse a Vai.
    Do outro lado do campo de batalha, uma coluna tinha afogado Harma Cabeça de Cão. Outra esmagara-se contra o flanco dos lanceiros de Tormund enquanto ele e os filhos tentavam desesperadamente virá-los. Mas os gigantes estavam subindo em seus mamutes, e os cavaleiros em seus cavalos albardados não gostaram nada disso; Jon viu como os corcéis e cavalos de batalha gritavam e debandavam ao ver aquelas pesadas mon¬tanhas. Mas também havia medo do lado dos selvagens, com centenas de mulheres e crianças fugindo da batalha, algumas indo se meter cegamente sob os cascos dos garra- nos. Viu o carro de cães de uma velha entrar no caminho de três bigas, fazendo-as chocar umas com as outras,
    - Deuses - sussurrou Vai deuses, por que é que estão fazendo isso?
    - Volte para a tenda e fique com Dalla. Aqui não está em segurança. - A segurança não seria muito maior lá dentro, mas ela não precisava ouvir isso.
    - Tenho de encontrar a parteira - disse Vai.
    - A parteira é você. Eu fico aqui até o Mance retornar. - Tinha perdido Mance de vis¬ta, mas agora encontrara-o, abrindo caminho com a espada pelo meio de um agrupamen¬to de homens a cavalo. Os mamutes tinham estilhaçado a coluna central, mas as outras duas aproximavam-se como tenazes. No limite oriental dos acampamentos, um grupo de arqueiros disparava flechas incendiárias contra as tendas. Viu um mamute arrancar um cavaleiro da sela e atirá-lo a doze metros de altura com um golpe de tromba. Selvagens fluíam por ali, mulheres e crianças que fugiam da batalha, algumas acompanhadas de homens que as apressavam. Uns poucos lançaram a Jon olhares sombrios, mas ele tinha Garralonga na mão, e ninguém o incomodou, Até Varamyr fugiu, engatinhando sobre as mãos e os joelhos.
    Mais e mais homens jorravam das árvores, já não apenas cavaleiros mas também ca¬valeiros livres, arqueiros a cavalo e homens de armas com jaquetas e capacetes redondos, dúzias de homens, centenas de homens. Um deslumbramento de estandartes voava por cima deles. O vento sacudia-os com violência demais para que Jon visse os símbolos, mas vislumbrou um cavalo-marinho, um campo de aves, um anel de flores. E amarelo, tanto amarelo, estandartes amarelos com um símbolo vermelho, de quem eram aquelas armas?
    A leste, norte e nordeste, viu bandos de selvagens tentando tomar posição e lutar, mas os atacantes passavam por cima deles. O povo livre ainda tinha a vantagem dos números, mas os atacantes possuíam armaduras de aço e cavalos pesados. Na parte mais densa do combate, Jon viu Mance levantar-se nos estribos. Seu manto vermelho e negro e o elmo alado tornavam-no fácil de localizar. Tinha a espada erguida, e os homens reuniam-se ao redor dele quando uma cunha de cavaleiros caiu sobre eles com lanças, espadas e macha¬dos longos. A égua de Mance empinou-se, escoiceando, e uma lança espetou-se no peito dele. Então a maré de aço submergiu-o.
    Acabou, pensou Jon, eles estão quebrando. Os selvagens fugiam, jogavam as armas fora, homens de Cornopé, cavernícolas e Thenns revestidos de escamas de bronze, todos fu¬giam. Mance tinha desaparecido, alguém brandia a cabeça de Harma na ponta de uma estaca, as linhas de Tormund tinham quebrado. Só os gigantes em seus mamutes ainda resistiam, ilhas peludas num rubro mar de aço. Os fogos saltavam de tenda em tenda e alguns dos grandes pinheiros também começavam a se incendiar. E outra cunha de cava¬leiros couraçados surgiu por entre a fumaça, montados em cavalos albardados. Flutuan¬do sobre eles vislumbravam-se os maiores estandartes vistos até então, estandartes reais grandes como lençóis; um amarelo com longas pontas, que exibia um coração flamejante, e outro que era como uma folha de ouro martelado, com um veado negro empinando-se e ondulando ao vento.
    Robert, pensou Jon durante um momento louco, recordando o pobre Owen, mas quando as trombetas voltaram a soar e os cavaleiros avançaram, o nome que gritaram foi: "Stannis! Stannis! STANNISÍ.
    Jon virou-se, e entrou na tenda.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:57 pm

    Arya 874





    À porta da estalagem, pendurados em uma forca desgastada pelas intempéries, os ossos de uma mulher torciam-se e chocalhavam a cada rajada de vento.
    Conheço esta estalagem. Mas não havia forca à porta quando tinha dormido ali com a irmã Sansa, sob o olhar vigilante da Septã Mordane.
    - Não queremos entrar - decidiu subitamente Arya pode haver fantasmas.
    - Sabe quanto tempo passou desde que eu bebi uma taça de vinho? - Sandor saltou da sela. - Além do mais, temos de ficar sabendo quem controla o vau rubi. Fique com os cavalos se quiser, por mim tô cagando.
    - E se o reconhecerem? - Sandor já não se incomodava em esconder o rosto. Já não parecia se importar com quem o reconhecesse. - Podem querer prendê-lo,
    - Que experimentem. - Soltou a espada na bainha e empurrou a porta.
    Arya nunca teria melhor oportunidade de fugir. Podia se afastar, montada na Covar¬de, e levar também o Estranho. Mordeu o lábio. Então levou os cavalos para os estábulos e entrou atrás dele.
    Eles conhecem-no. Foi o silêncio que lhe contou. Mas isso não era o pior. Ela também os conhecia. Não o estalajadeiro magricela, nem as mulheres, nem os trabalhadores ru¬rais que estavam junto da lareira. Mas os outros. Os soldados. Ela conhecia os soldados.
    - Procurando o seu irmão, Sandor? - a mão de Polliver estivera enfiada no corpete da moça que tinha no colo, mas agora a havia tirado para fora.
    - Procurando uma taça de vinho, Estalajadeiro, um jarro de tinto. - Clegane atirou um punhado de moedas de cobre para o chão.
    - Não quero problemas, sor - disse o estalajadeiro.
    - Então não me chame de sor, - Sua boca torceu-se, - Está surdo, idiota? Pedi vinho. - Quando o homem fugiu, Clegane gritou às suas costas. - Duas taças! A garota também tem sede!
    Eles são só três, pensou Arya. Polliver deu-lhe um breve relance e o rapaz que estava a seu lado nem chegou a olhá-la, mas o terceiro fitou-a longa e duramente» Era um homem de al¬tura e constituição medianas, com um rosto tão comum que era difícil saber que idade tinha. O Cócegas. Cócegas e Polliver juntos. O rapaz era um escudeiro, julgando pela idade e pelo vestuário. Tinha uma grande espinha branca junto ao nariz e algumas vermelhas na testa.
    - Este é o cachorro perdido de que Sor Gregor falou? - perguntou ao Cócegas, - Aquele que fez xixi nas esteiras e fugiu?
    Cócegas apoiou uma mão no braço do rapaz, num aviso, e sacudiu vivamente a cabe¬ça. Arya compreendeu aquilo com bastante clareza.
    Mas o escudeiro não, ou então não se importou.
    - Sor disse que o seu irmão cachorro enfiou o rabo entre as pernas quando a batalha esquentou demais em Porto Real. Disse que fugiu ganindo. - Dirigiu ao Cão de Caça um estúpido sorriso de zombaria.
    Clegane estudou o rapaz e não disse palavra. Polliver tirou rudemente a moça de cima de si e pôs-se em pé.
    - O moço tá bêbado - disse. O homem de armas era quase tão alto quanto o Cão de Caça, embora não fosse tão musculoso. Uma barba arredondada cobria-lhe o queixo e as maxilas, espessa, negra e bem cortada, mas a cabeça estava mais calva do que coberta. - Ele não agüenta o vinho, é só isso.
    - Então não devia beber.
    - O cachorro não assusta... - começou o rapaz, mas o Cócegas torceu casualmente sua orelha entre o indicador e o polegar. As palavras transformaram-se num guincho de dor.
    O estalajadeiro retornou apressadamente, trazendo duas taças de pedra e um jarro numa bandeja de peltre. Sandor levou o jarro à boca. Arya via os músculos do pescoço dele trabalhando enquanto engolia. Quando bateu com ele na mesa, metade do vinho tinha desaparecido.
    - Agora já pode servir. E é melhor que apanhe aqueles cobres, que são as únicas moe¬das que deve ver hoje.
    - Nós pagaremos quando acabarmos de beber - disse Polliver.
    - Quando acabar de beber, vai fazer cócegas no estalajadeiro para saber onde ele guarda o ouro. Como faz sempre.
    O estalajadeiro lembrou-se de repente de algo que tinha na cozinha. Os homens da terra também estavam saindo, e as garotas já tinham desaparecido. O único som que se ouvia na sala comum era o tênue crepitar do fogo na lareira. Também devíamos ir embora, compreendeu Arya.
    - Se anda à procura do Sor, vem tarde demais - disse Polliver. - Ele esteve em Harre- nhal, mas já não está. A rainha mandou buscá-lo. - Arya viu que o homem trazia três lâmi¬nas à cintura; uma espada longa na anca esquerda e na direita um punhal e uma lâmina mais esguia, longa demais para ser uma adaga e curta demais para ser uma espada. - O Rei Joffrey está morto, sabe? - acrescentou. - Envenenado durante o banquete do próprio casamento.
    Arya penetrou um pouco mais na sala. Joffrey está morto. Quase conseguia vê-lo, com os caracóis louros, o sorriso maldoso e os lábios grossos e moles .Joffrey está mortol Sabia que aquilo devia deixá-la feliz, mas de algum modo ainda se sentia vazia por dentro. Jof¬frey estava morto, mas se Robb também estava, que importava?
    - Lá se foram os meus bravos irmãos da Guarda Real. - Cão de Caça soltou uma fungada de desprezo. - Quem foi que o matou?
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:57 pm

    - O Duende, pensam. Ele e a mulherzinha.
    - Que mulher?
    - Esquecia-me de que tem estado escondido debaixo de uma pedra. A nortenha. A filha de Winterfell. Ouvimos dizer que ela matou o rei com um feitiço e que depois se transformou num lobo com grandes asas de couro, como as de um morcego, e voou por uma janela de torre. Mas deixou o anão para trás e Cersei quer cortar a cabeça dele.
    Isso é estúpido, pensou Arya. Sansa só sabe canções, e não feitiços, e nunca casaria com o Duende.
    Cão de Caça sentou-se no banco mais próximo da porta. Sua boca torceu-se, mas só do lado queimado.
    - Ela devia mergulhá-lo em fogovivo e cozê-lo. Ou fazer-lhe cócegas até a lua ficar negra. - Ergueu a taça de vinho e esvaziou-a de uma só vez.
    Ele é um deles, pensou Arya quando viu aquilo. Mordeu o lábio com tanta força que sentiu o gosto do sangue. É igualzinho a eles. Devia matá-lo quando dormisse.
    - Então Gregor tomou Harrenhal? - disse Sandor.
    - Não foi preciso tomar muito - disse Polliver. - Os mercenários fugiram assim que souberam que estávamos a caminho, todos menos uns poucos. Um dos cozinheiros abriu uma poterna para a gente entrar, para se vingar de Hoat por lhe ter cortado o pé. - Sol¬tou um risinho. - Ficamos com ele para cozinhar para nós, umas meninas para aquecer nossas camas e passamos todos os outros pela espada.
    - Todos os outros? - disse Arya antes de conseguir se segurar.
    - Bem, o Sor ficou com Hoat como passatempo.
    Sandor disse:
    - O Peixe Negro ainda está em Correrrio?
    - Não por muito tempo - disse Polliver. - Está cercado. O velho Frey vai enforcar Edmure Tully se ele não entregar o castelo. O único local onde se luta a sério é em volta de Corvarbor. Os Blackwood e os Bracken. Os Bracken agora são dos nossos.
    Cão de Caça serviu uma taça de vinho a Arya e outra a si mesmo, e bebeu-a enquanto fitava o fogo na lareira.
    - O passarinho voou, foi? Bem, ainda bem para ela. Cagou na cabeça do Duende e voou.
    - Vão encontrá-la - disse Polliver. - Nem que seja preciso metade do ouro de Roche¬do Casterly.
    - Uma garota bonita, segundo ouvi dizer - disse o Cócegas. - Doce como o mel. - Estalou os lábios e sorriu.
    - E cortês - concordou Cão de Caça. - Uma senhorinha como deve ser. Ao contrário da porcaria da irmã.
    - Também a encontraram - disse Polliver. - A irmã. Ouvi dizer que é para o bastardo de Bolton.
    Arya bebericou o vinho para que não vissem sua boca. Não compreendia o que Polli¬ver estava dizendo. Sansa não tem nenhuma outra irmã. Sandor Clegane riu alto,
    - O que é tão engraçado assim? - perguntou Polliver,
    Cão de Caça não deu nem um relance a Arya,
    - Se quisesse que você soubesse, teria dito. Há navios em Salinas?
    - Salinas? Como é que eu vou saber? Os mercadores voltaram para a Lagoa da Don¬zela, segundo ouvi dizer. Randyll Tarly tomou o castelo e trancou Mooton numa cela de torre. Não ouvi porra nenhuma a respeito de Salinas.
    Cócegas inclinou-se para a frente.
    - Iria se lançar ao mar sem se despedir de seu irmão? - Arya sentiu arrepios ao ouvi- -lo fazer uma pergunta, - Sor ia preferir que voltasse a Harrenhal com a gente, Sandor. Aposto que sim. Ou a Porto Real...
    - Que isso se foda. Que ele se foda. Que você se foda.
    Cócegas encolheu os ombros, endireitou-se e esticou uma mão para as costas, a fim de esfregar a parte de trás do pescoço. Então tudo pareceu acontecer ao mesmo tempo; Sandor pôs-se em pé, Polliver puxou a espada e a mão de Cócegas chicoteou num arco borrado para enviar qualquer coisa prateada relampejando pela sala comum. Se o Cão de Caça não estivesse em movimento, a faca podia ter arrancado o seu pomo de adão; em vez disso, apenas roçou suas costelas, e acabou espetada, tremendo, na parede perto da porta. Ele então riu, uma gargalhada tão fria e vazia como se tivesse saído do Rindo de um poço profundo.
    - Eu tinha esperança de que fizesse alguma coisa estúpida. - A espada deslizou para fora da bainha bem a tempo de desviar para o lado a primeira estocada de Polliver.
    Arya deu um passo para trás quando a longa canção de aço se iniciou. Cócegas saltou do banco com uma espada curta numa mão e um punhal na outra. Até o atarracado es¬cudeiro moreno se levantara, procurando o cabo da espada às apalpadelas. Arya pegou sua taça de vinho que estava sobre a mesa e atirou-a na cara dele, A pontaria foi melhor do que havia sido nas Gêmeas. A taça atingiu-o bem em cheio na grande espinha branca e ele estatelou-se sobre o traseiro.
    Polliver era um lutador sombrio e metódico e empurrou firmemente Sandor para trás, movendo a sua pesada espada longa com brutal precisão. Os golpes do Cão de Caça eram mais desleixados, as paradas apressadas, os pés lentos e desajeitados. Ele está bêba¬do, compreendeu Arya com consternação. Bebeu demais, e depressa demais, sem comida na barriga. E Cócegas estava deslizando ao longo da parede para ficar atrás dele. Arya pegou a segunda taça de vinho e atirou-a nele, mas o homem foi mais rápido do que o escudeiro e desviou a cabeça a tempo. O olhar que lhe dirigiu foi frio e cheio de promessas. Há ouro escondido na aldeia?, conseguia ouvi-lo perguntar. O estúpido do escudeiro estava se agar¬rando à borda de uma mesa, apoiando-se nela para se pôr de joelhos. Arya sentiu o sabor do início do pânico no fundo da garganta. 0 medo golpeia mais profundamente do que as espadas. O medo golpeia mais profundamente...
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:58 pm

    Sandor soltou um grunhido de dor. O lado queimado de seu rosto escorria, verme¬lho, da têmpora à bochecha, e o coto de orelha desaparecera. Aquilo pareceu zangá-lo. Empurrou Polliver para trás com um ataque furioso, pressionando-o com a velha espada amassada que arranjara nas colinas. O homem barbudo cedeu terreno, mas nenhum dos golpes chegou sequer a tocá-lo, E então o Cócegas saltou sobre um banco, rápido como uma cobra, e golpeou a parte de trás do pescoço do Cão de Caça com a aresta de sua espada curta.
    Estão matando-o. Arya não tinha mais taças, mas havia algo melhor para atirar. Puxou o punhal que tinham roubado do arqueiro moribundo e tentou arremessá-lo no Cócegas da mesma maneira que ele tinha feito. Não era o mesmo que atirar uma pedra ou uma maçã, porém. A faca balançou e atingiu-o no braço com o cabo. Ele nem sequer a sentiu. Estava concentrado demais em Clegane.
    Enquanto apunhalava, Clegane torceu-se violentamente para o lado, conquistando para si uma pausa de meio segundo. Escorria sangue por seu rosto e do golpe no pescoço. Ambos os homens da Montanha o atacavam duramente, com Polliver golpeando a ca¬beça e os ombros enquanto Cócegas se precipitava para apunhalar as costas e a barriga. O pesado jarro de pedra continuava sobre a mesa. Arya agarrou-o com ambas as mãos, mas no momento em que o erguia alguém a agarrou pelo braço. O jarro escorregou de seus dedos e caiu com estrondo no chão. Obrigada a girar com um empurrão, deu por si à distância de um nariz do escudeiro. Swa estúpida, esqueceu completamente dele. Viu que a grande espinha branca tinha estourado.
    - É o cachorro do cachorro? - ele tinha a espada na mão direita e o braço dela na esquerda, mas as mãos dela estavam livres, portanto puxou a faca do rapaz de sua bainha e voltou a embainhá-la na barriga, torcendo-a. Ele não usava cota de malha, nem mesmo couro fervido, por isso a faca penetrou facilmente, como a Agulha penetrara quando Arya matou o cavalariço em Porto Real. Os olhos do escudeiro abriram-se muito e ele largou o braço dela. Arya girou na direção da porta e arrancou a faca do Cócegas da parede.
    Polliver e Cócegas tinham encostado Cão de Caça em um canto, por trás de um ban¬co, e um deles acrescentara aos seus outros ferimentos um feio golpe vermelho na coxa superior. Sandor apoiava-se na parede, sangrando e respirando ruidosamente. Parecia quase não conseguir manter-se em pé, quanto mais lutar.
    - Jogue a espada fora e levamos você de volta a Harrenhal - disse-lhe Polliver.
    - Para que Gregor possa acabar comigo em pessoa?
    Cócegas disse:
    - Talvez o dê a mim.
    - Se me quer, venha me pegar. - Sandor desencostou-se da parede e ficou semiaga- chado atrás do banco, com a espada cruzada em frente do corpo.
    - Acha que não pegamos? - disse Polliver. - Está bêbado.
    - Pode ser que sim - disse Cão de Caça mas você está morto. - Seu pé projetou-se para a frente e apanhou o banco, atirando-o com força contra as canelas de Polliver. De algum modo, o barbudo conseguiu manter o equilíbrio, mas Cão de Caça abaixou-se sob a sua violenta estocada e lançou a própria espada para cima, num traiçoeiro golpe para trás. Sangue esguichou no teto e nas paredes. A lâmina ficou presa no meio da cara de Polliver, e quando Cão de Caça a soltou com uma sacudida, metade da cabeça do outro veio junto.
    Cócegas recuou. Arya conseguia sentir o medo dele. A espada curta que tinha na mão pareceu de repente quase um brinquedo, comparada com a longa lâmina que Cão de Caça empunhava, e além disso não tinha armadura. Moveu-se rapidamente, ligeiro de pés, sem nunca tirar os olhos de Sandor Clegane. Foi a coisa mais simples do mundo para Arya aproximar-se dele por trás e apunhalá-lo.
    - Há ouro escondido na aldeia? - gritou enquanto enfiava a lâmina em suas costas. - Há prata? Pedras preciosas? - apunhalou-o mais duas vezes. - Há comida? Onde está Lorde Beric? - então já estava em cima dele, ainda apunhalando-o, - Para onde foi ele? Quantos homens o acompanhavam? Quantos cavaleiros? Quantos arqueiros? Quantos, quantos, quantos, quantos, quantos, quantos? Há ouro na aldeia?
    Tinha as mãos vermelhas e pegajosas quando Sandor a arrastou de cima dele.
    - Basta - foi tudo que disse. Ele mesmo sangrava como um porco na matança e arras¬tava uma perna ao caminhar.
    - Há mais um - relembrou-lhe Arya.
    O escudeiro tinha puxado a faca da barriga e estava tentando parar o sangue com as mãos. Quando Cão de Caça o endireitou, o rapaz gritou e desatou a choramingar como um bebê.
    - Misericórdia - chorou -, por favor. Não me mate. Mãe, misericórdia.
    - Eu pareço-me com a merda da sua mãe? - Cão de Caça não tinha nada de humano. - Também matou este - disse a Arya. - Furou as tripas, e isso é o fim dele. Mas vai levar muito tempo para morrer.
    O rapaz não pareceu ouvi-lo.
    - Eu vim por causa das garotas - choramingou. - ... fazer de mim um homem, dis¬se o Polly... oh, deuses, por favor, levem-me a um castelo... um meistre, levem-me a um meistre, o meu pai tem ouro... foi só por causa das garotas... misericórdia, sor.
    Cão de Caça deu-lhe uma bofetada no rosto que o fez gritar outra vez.
    - Não me chame de sor. - Virou-se novamente para Arya. - Este é seu, loba. Trate dele.
    Arya sabia o que ele queria dizer. Dirigiu-se a Polliver e ajoelhou em seu sangue tem¬po suficiente para lhe desafivelar o cinto da espada. Pendurada junto ao punhal havia uma lâmina mais esguia, longa demais para ser uma adaga, curta demais para ser uma espada de homem... mas ajustava-se perfeitamente à sua mão.
    - Lembra-se de onde fica o coração? - perguntou Cão de Caça.
    Ela assentiu, O escudeiro rolou os olhos,
    - Misericórdia.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:58 pm

    A Agulha deslizou entre as suas costelas e deu-lhe misericórdia.
    - Ótimo. - A voz de Sandor estava pesada de dor. - Se estes três estavam aqui nas putas, Gregor deve controlar o vau, além de Harrenhal. Podem aparecer mais dos seus animais de estimação a qualquer momento, e já matamos o suficiente desses malditos por um dia.
    - Para onde vamos? - perguntou ela.
    - Salinas. - Apoiou uma grande mão em seu ombro para evitar cair. - Arranje algum vinho, loba. E leve também o dinheiro que eles tiverem, vamos precisar dele. Se houver navios em Salinas, podemos chegar ao Vale por mar. - A boca torceu-se para ela, en¬quanto mais sangue escorria de onde tivera a orelha. - Pode ser que a Senhora Lysa a case com o seu pequeno Robert. Essa era uma união que eu gostaria de ver. - Começou a rir, mas em vez disso gemeu.
    Quando chegou o momento de partir, precisou da ajuda de Arya para voltar a subir no Estranho. Atara uma tira de tecido em volta do pescoço e outra em torno da coxa, e tirara o manto do escudeiro do gancho junto à porta, O manto era verde, com uma flecha verde numa banda branca, mas quando Cão de Caça o enrolou e o comprimiu contra a orelha rapidamente se tornou vermelho, Arya teve receio de que ele caísse no momento em que se puseram em movimento, mas de algum modo ele permaneceu na sela.
    Não podiam se arriscar a um encontro com quem quer que controlasse o vau rubi, portanto, em vez de seguirem a estrada do rei, desviaram-se para sudeste, cruzando cam¬pos repletos de ervas daninhas, bosques e pântanos. Passaram-se horas até chegarem à margem do Tridente. Arya viu que o rio tinha voltado docilmente ao seu canal costu¬meiro, com toda a sua úmida raiva marrom desaparecida com as chuvas. Ele também está cansado, pensou.
    Perto, à beira da água, encontraram um grupo de salgueiros que cresciam numa con¬fusão de pedras desgastadas. Juntas, as pedras e as árvores formavam uma espécie de forte natural onde podiam se esconder tanto do rio como da trilha.
    - Isto aqui serve - disse Cão de Caça, - Dê água aos cavalos e arranje lenha para uma fogueira, - Quando desmontou, teve de se apoiar num galho para não cair.
    - A fumaça não será vista?
    - Se alguém quiser nos encontrar, só tem de seguir o meu sangue. Água e lenha. Mas traga-me primeiro esse odre de vinho.
    Depois de acender a fogueira, Sandor equilibrou o elmo sobre as chamas, despejou lá dentro metade do odre e caiu contra uma saliência de pedra coberta de musgo como se não pretendesse voltar a se levantar. Obrigou Arya a lavar o manto do escudeiro e a cortá-lo em faixas. Estas também foram enfiadas no elmo.
    - Se tivesse mais vinho, bebia-o até ficar morto para o mundo. Talvez devesse mandá- -la de volta àquela maldita estalagem para trazer mais dois ou três odres.
    - Não - disse Arya. Ele nãojaria isso, não é? Se fizer, eu simplesmente o abandono e vou embora.
    Sandor riu do medo no rosto dela.
    - Uma brincadeira, lobinha. Uma merda duma brincadeira. Ache um pedaço de ma¬deira, mais ou menos deste tamanho e não muito grosso. E lave a lama dele. Detesto o sabor de lama.
    Não gostou dos primeiros dois pedaços de madeira que ela lhe trouxe. Quando en¬controu um que lhe agradou, as chamas já tinham enegrecido a cabeça de cão até os olhos. Lá dentro, o vinho fervia furiosamente.
    - Tire a caneca do meu rolo de dormir e encha-a até metade - disse-lhe. - Tome cuidado. Se virar aquela porcaria, mando-a mesmo buscar mais. Pegue o vinho e despeje- -o sobre as minhas feridas. Acha que consegue fazer isso? - Arya assentiu. - Então está esperando o quê? - rosnou.
    Os nós dos dedos dela roçaram no aço da primeira vez que encheu a caneca, deixando-lhe uma queimadura tão grande que ficou com bolhas. Arya teve de mor¬der o lábio para evitar gritar. Cão de Caça usou o pedaço de madeira para o mesmo fim, prendendo-o entre os dentes enquanto ela despejava o vinho. Arya tratou pri¬meiro do golpe na coxa, e depois da ferida menos profunda na parte de trás do pes¬coço. Sandor cerrou a mão direita num punho e esmurrou o chão quando ela tratou de sua perna. Quando foi a vez do pescoço, mordeu o pedaço de madeira com tanta força que este se quebrou, e Arya teve de lhe arranjar outro. Conseguia ver o terror nos olhos de Cão de Caça.
    - Vire a cabeça. - Deixou pingar o vinho sobre a rubra carne viva que surgia onde ficava sua orelha, e fios de sangue castanho e vinho tinto escorreram sobre seu maxilar. Então ele gritou mesmo, apesar do pau. E depois desmaiou devido às dores.
    Arya descobriu o que mais devia fazer sozinha. Pescou do fundo do elmo as faixas que tinham feito com o manto do escudeiro e usou-as para atar os cortes. Quando che¬gou ao ouvido, teve que envolver metade da cabeça dele para estancar a hemorragia. A essa altura, o ocaso já caía sobre o Tridente. Deixou os cavalos pastar, e então os pren¬deu para a noite e instalou-se o mais confortavelmente que pôde num nicho entre duas pedras. A fogueira ardeu durante algum tempo e extinguiu-se. Arya observou a lua por entre os ramos, por cima de sua cabeça.
    - Sor Gregor, a Montanha - disse em voz baixa. - Dunsen, Raff, o Querido, Sor Ilyn, Sor Meryn, Rainha Cersei. - Deixar de fora Polliver e Cócegas deu-lhe uma sensa¬ção estranha. E Joffrey também. Sentia-se contente por ele estar morto, mas gostaria de ter estado lá para vê-lo morrer, ou mesmo para ser ela a matá-lo. Polliver disse que Sansa o matou, com o Duende. Poderia isso ser verdade? O Duende era urn Lannister, e Sansa... Gostaria de poder me transformar em lobo e ganhar asas e voar para longe.
    Se Sansa também tinha desaparecido, já não havia Starks além dela. Jon estava na Muralha a mil léguas de distância, mas era um Snow, e aqueles vários tios e tias a quem o Cão de Caça queria vendê-la, esses também não eram Starks. Não eram lobos.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:58 pm

    Sandor gemeu, e ela rolou sobre o flanco para olhá-lo. Percebeu que também tinha deixado de fora o nome dele. Por que teria feito isso? Tentou pensar em Mycah, mas era difícil lembrar-se de sua aparência. Não o conhecera por muito tempo. Tudo o que ele fez [oi brincar comigo de espada.
    - Cão de Caça - sussurrou, e: - Vaiar morghulis. - Ele talvez estivesse morto de ma¬nhã...
    Mas quando a pálida luz da aurora chegou, filtrada pelas árvores, foi ele que a acor¬dou com a ponta da bota. Arya sonhara de novo que era um lobo, perseguindo um cavalo sem cavaleiro por uma colina com uma alcateia atrás de si, mas o pé dele trouxe-a de volta exatamente no momento em que se aproximavam para a matança.
    Cão de Caça continuava fraco, com todos os movimentos lentos e desajeitados. Afundou-se na sela e desatou a suar, e a orelha começou a sangrar através da atadura. Precisou de todas as suas forças para evitar cair do Estranho. Se os homens da Monta¬nha tivessem vindo em seu encalço, Arya duvidava que ele fosse capaz sequer de erguer uma espada. Arya deu um olhar de relance por sobre o ombro, mas nada havia atrás deles além de um corvo que voava de árvore em árvore. O único som era o do rio.
    Muito antes do meio-dia, Sandor Clegane cambaleava. Ainda restavam horas de luz do dia quando ele decidiu fazer uma parada,
    - Preciso descansar - foi tudo o que disse. Daquela vez, quando desmontou, caiu mesmo. Em vez de tentar ficar de pé novamente, engatinhou debilmente para baixo de uma árvore e encostou-se no tronco. - Maldito inferno - praguejou. - Maldito inferno, - Quando viu Arya a fitá-lo, disse: - Era capaz de esfolá-la viva por uma taça de vinho, menina.
    Em vez disso, Arya trouxe-lhe água. Ele bebeu um pouco, queixou-se de que tinha gosto de lama e deixou-se cair num sono ruidoso e febril. Quando Arya tocou nele, a pele ardia. Arya cheirou as ataduras como o Meistre Luwin fazia às vezes quando lhe tratava os cortes ou arranhões. Foi o rosto de Cão de Caça que tinha sangrado mais, mas foi o ferimento na coxa que pareceu a Arya ter um cheiro esquisito.
    Perguntou a si mesma a que distância estaria aquele lugar, Salinas, e se seria capaz de encontrá-lo sozinha. Não teria de matá-lo. Se apenas josse embora e o abandonasse, ele morreria sozinho. Morreria de febre, e ficaria ali debaixo daquela árvore até o fim dos tempos. Mas talvez fosse melhor se o matasse. Matara o escudeiro na estalagem e ele nada tinha feito a não ser agarrar o braço dela. Cão de Caça tinha matado Mycah. Mycah e mais gen¬te. Aposto que ele matou cem Mycahs. E provavelmente teria matado Arya também, se não fosse o resgate.
    A Agulha cintilou quando a desembainhou. Polliver mantivera-a limpa e afiada, pelo menos. Posicionou o corpo de lado, numa pose de dançarina de água, sem sequer pensar nisso. Folhas mortas estalaram sob os seus pés. Rápida como uma cobra, pensou. Suave como seda de verão.
    Os olhos dele abriram-se.
    - Lembra-se de onde fica o coração? - perguntou num sussurro rouco.
    E ela ficou imóvel como pedra.
    - Eu... eu estava só...
    - Não minta - rosnou ele. - Odeio mentirosos. E odeio ainda mais embusteiros sem culhões. Vá, trate disso. - Quando Arya não se mexeu, ele disse: - Eu matei o seu filho de açougueiro. Cortei-o quase ao meio e depois ri dele. - Soltou um som estranho, e Arya precisou de um momento para perceber que o homem estava solu¬çando. - E o passarinho, a sua irmã bonita, fiquei lá com o meu manto branco e deixei que a espancassem. E arranquei a maldita canção dela, ela não me deu. Também queria possuí-la. Devia ter feito isso. Devia tê-la fodido até fazer sangue e devia ter arrancado seu coração antes de deixá-la para aquele anão. - Um espasmo de dor contorceu seu rosto. - Quer me obrigar a suplicar, cadela? Trate disso! A dádiva da misericórdia... vingue o seu pequeno Michael...
    - Mycah. - Arya afastou-se dele. - Você não merece a dádiva da misericórdia.
    Cão de Caça viu Arya selar a Covarde com olhos brilhantes de febre. Nem uma vez tentou erguer-se e impedi-la. Mas quando ela montou, disse:
    - Um verdadeiro lobo acabaria com um animal ferido.
    Talvez alguns lobos verdadeiros o encontrem, pensou Arya. Talvez o farejem quando o sol se puser. Então ficaria sabendo o que os lobos faziam aos cães,
    - Não devia ter batido em mim com aquele machado - disse. - Devia ter salvo a mi¬nha mãe. - Virou o cavalo e afastou-se dele, e não olhou para trás nem uma vez.
    Numa manhã luminosa seis dias depois, chegou a um lugar onde o Tridente come¬çava a se alargar e o ar cheirava mais a sal do que a árvores. Permaneceu perto da água, passando por campos de cultivo e fazendas, e um pouco depois do meio-dia uma vila apareceu na sua frente. Salinas, pensou, esperançosa. Um pequeno castelo dominava a vila; não passava de uma fortaleza, na verdade, uma única fortificação quadrada com um cercado e uma muralha exterior. A maior parte das lojas, estalagens e cervejarias em volta do porto tinha sido saqueada ou queimada, embora algumas casas parecessem ainda ha¬bitadas. Mas o porto estava lá, e para leste estendia-se a Baía dos Caranguejos, com águas que cintilavam azuis e verdes ao sol.
    E havia navios.
    Três, pensou Arya, há três. Dois eram apenas galés fluviais, barcos de pequeno calado e fundo raso concebidos para percorrer as águas do Tridente. O terceiro era maior, um navio mercante do mar salgado com duas fileiras de remos, uma proa dourada e três grandes mastros com velas roxas dobradas. O casco também estava pintado de roxo. Arya levou a Covarde até as docas para ver melhor. Estranhos não eram tão estranhos num porto como são nas pequenas aldeias, e ninguém pareceu se importar com quem ela era ou com o motivo por que se encontrava ali.
    Preciso de prata. A conclusão fez Arya morder o lábio. Tinham encontrado um veado e uma dúzia de cobres em Polliver, oito moedas de prata no escudeiro espinhento que ela tinha matado, e não mais do que um par de moedas na bolsa de Cócegas. Mas Cão de Caça tinha lhe dito para tirar as botas de Cócegas e cortar as roupas ensopadas em sangue, e ela descobriu um veado em cada
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:59 pm

    pé, e três dragões de ouro cosidos no forro de seu gibão. Mas Sandor tinha ficado com tudo. Não foi justo. Era tanto meu como dele. Se lhe tivesse oferecido a dádiva da misericórdia... mas não tinha. E não podia voltar, assim como não podia suplicar ajuda. Nunca se consegue ajuda suplicando-a. Teria de vender a Covarde e esperar conseguir dinheiro suficiente.
    Ficou sabendo por um rapaz junto às docas que o estábulo tinha sido queimado, mas a ex-proprietária do lugar continuava fazendo negócio atrás do septo. Arya encontrou-a sem dificuldade; uma mulher alta e robusta com um bom cheiro de cavalo. Gostou da Covarde à primeira vista, perguntou a Arya como a arranjara, e sorriu com a resposta dela.
    - E um cavalo de boa linhagem, isso é bem evidente, e não duvido que pertenceu a um cavaleiro, querida - disse. - Mas o cavaleiro não era nenhum irmão seu que mor¬reu. Já faço negócio ali com o castelo há muitos anos, e sei como se parecem os fidalgos. Esta égua é bem-nascida, mas você não é. - Espetou um dedo no peito de Arya. - Ou a encontrou, ou a roubou, não importa, foi o que foi. E a única maneira de uma coisinha malvestida como você acabar montada num palafrém.
    Arya mordeu o lábio.
    - Isso quer dizer que não vai comprá-la?
    A mulher soltou um risinho.
    - Quer dizer que aceitará o que eu lhe der, querida. Senão vamos ao castelo, e talvez fique sem nada. Ou até acabe enforcada, por roubar um bom cavalo de cavaleiro.
    Meia dúzia de outras pessoas de Salinas andavam por ali, cuidando de seus assuntos, portanto Arya sabia que não podia matar a mulher. Em vez disso teve de morder o lábio e se deixar ser tapeada. A bolsa que recebeu era deploravelmente achatada, e quando pe¬diu mais pela sela, freios e manta, a mulher apenas riu na sua cara.
    Ela nunca teria tapeado o Cão de Caça, pensou durante a longa caminhada de volta às docas. A distância parecia ter aumentado quilômetros desde que a percorrera a cavalo.
    A galé roxa ainda se encontrava no mesmo lugar. Se o navio tivesse zarpado enquan¬to estava sendo assaltada, isso teria sido demais para suportar. Um barril de hidromel estava sendo rolado pela prancha acima quando chegou. Quando tentou segui-lo, um marinheiro no convés gritou-lhe numa língua que não conhecia.
    - Quero falar com o capitão - disse-lhe Arya. Ele limitou-se a gritar mais alto. Mas a agitação atraiu a atenção de um homem robusto e grisalho vestido com um casaco de lã roxa, e ele falava o Idioma Comum.
    - Eu sou o capitão aqui - disse ele. - O que deseja? Rápido, pequena, temos de apa¬nhar a maré.
    - Quero ir para o norte, para a Muralha. Olhe, posso pagar. - Deu-lhe a bolsa. - A Patrulha da Noite tem um castelo junto ao mar.
    - Atalaialeste. - O capitão despejou a prata na palma da mão e franziu a testa. - Isto é tudo que tem?
    Não é suficiente, compreendeu Arya sem que lhe dissessem. Conseguia ver no rosto do homem.
    - Não ia precisar de uma cabine, nem nada disso - disse. - Eu poderia dormir no porão, ou...
    - Aceite-a como moça de cabine - disse um remador que passava por ali, com um fardo de lã ao ombro. - Ela pode dormir comigo.
    - Tento na língua - exclamou o capitão.
    - Eu poderia trabalhar - disse Arya. - Poderia esfregar os conveses. Eu já esfreguei os degraus de um castelo. Ou poderia remar...
    - Não - disse ele não poderia. - Devolveu-lhe as moedas. - E não faria diferença se pudesse, pequena. O norte não tem nada para nós. Gelo, guerra e piratas. Vimos uma dúzia de navios piratas rumando para o norte quando viramos a Ponta da Garra Racha¬da, e não tenho nenhuma vontade de voltar a encontrá-los. Daqui, apontamos os remos para casa, e eu sugiro que você faça a mesma coisa.
    Não tenho casa, pensou Arya. Não tenho alcateia. E agora nem sequer tenho um cavalo.
    O capitão estava se virando quando ela disse:
    - Que navio é este, senhor?
    Ele parou tempo suficiente para lhe conceder um sorriso cansado.
    - Esta é a galeota Filha do Titã, da Cidade Livre de Bravos.
    - Espere - disse subitamente Arya. - Tenho mais uma coisa. - Enfiara-a na roupa de baixo para mantê-la em segurança, por isso teve de procurar bem fundo para achá-la, enquanto os remadores riam e o capitão esperava com óbvia impaciência.
    - Mais uma moeda de prata não fará diferença, pequena - disse por fim.
    - Não é prata. - Seus dedos fecharam-se sobre ela. - E ferro. Tome. - Enfiou-a na mão dele, a pequena moeda negra de ferro que Jaqen Hghar lhe dera, tão gasta que o ho¬mem cuja cabeça mostrava não tinha feições. Provavelmente não tem nenhum valor, mas...
    O capitão virou-a, pestanejou, e então voltou a olhá-la.
    - Isto... como...?
    Jaqen disse para pronunciar as palavras também. Arya cruzou os braços contra o peito.
    - Vaiar morghulis - disse, tão alto como se soubesse o que aquilo queria dizer.
    - Vaiar dohaeris - respondeu o homem, tocando a testa com dois dedos. - E claro que terá uma cabine.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:59 pm

    Samwell 886



    - Ele suga com mais força do que o meu. - Goiva afagou a cabeça do bebê enquanto segurava junto do mamilo.
    - Tem fome - disse a loura chamada Vai, aquela que os irmãos negros chamavam de princesa selvagem. - Viveu até agora de leite de cabra e das poções daquele meistre cego.
    O rapaz ainda não tinha nome, tal como o de Goiva. Era esse o costume dos sel¬vagens, Nem mesmo o filho de Mance Rayder teria um nome até o seu terceiro ano, aparentemente, embora Sam tivesse ouvido os irmãos chamarem-no de "principezinho" e "nascido-em-batalha".
    Observou a criança se alimentar do seio de Goiva e então observou Jon observando. Jon está sorrindo. Um sorriso triste, ainda, mas decididamente uma espécie de sorriso. Sam sentiu-se contente por ver isso. E a primeira vez que o vejo sorrir desde que voltei.
    Tinham caminhado de Fortenoite até Lago Profundo, e de Lago Profundo até Por¬tão da Rainha, seguindo uma estreita trilha de um castelo até o seguinte, sem nunca perder de vista a Muralha. A um dia e meio de Castelo Negro, enquanto caminhavam penosamente com pés cobertos de calos, Goiva ouviu cavalos atrás deles e virou-se para ver uma coluna de cavaleiros negros que vinha de oeste»
    - Irmãos meus - Sam tinha assegurado. - Ninguém usa esta estrada a não ser a Patrulha da Noite. - No fim era Sor Denys Mallister da Torre Sombria, com o ferido Bowen Marsh e os sobreviventes da batalha na Ponte das Caveiras. Quando Sam viu Dywen, Gigante e Edd Doloroso Tollett, descontrolou-se e chorou.
    Foi através deles que ficou sabendo da batalha à sombra da Muralha.
    - Stannis desembarcou os seus cavaleiros em Atalaialeste, e Cotter Pyke levou-os pelos caminhos dos patrulheiros, para apanhar os selvagens desprevenidos - contou-lhe o Gi¬gante. - Esmagou-os. Mance Rayder foi capturado, mil de seus melhores guerreiros foram mortos, incluindo Harma Cabeça de Cão. O resto dispersou-se como folhas antes de uma tempestade, segundo ouvimos dizer. - Os deuses são bons, pensou Sam. Se não tivesse se perdido enquanto se dirigia para o sul vindo da Fortaleza de Craster, ele e Goiva podiam ter esbarrado com a batalha... ou com o acampamento de Mance Rayder, pelo menos. Isso poderia ter sido bom para Goiva e o menino, mas não para ele. Sam tinha ouvido todas as histórias sobre aquilo que os selvagens faziam com corvos capturados. Estremeceu.
    Mas nada do que os irmãos lhe tinham dito o preparara para o que foi encontrar em Castelo Negro. A sala comum tinha queimado até o chão e a grande escada de madeira
    era um monte de gelo partido e vigas carbonizadas. Donal Noye estava morto, bem como Rast, Dick Surdo, Alyn Vermelho e tantos outros, e no entanto o castelo tinha mais gente do que Sam alguma vez vira; não eram irmãos negros, mas soldados do rei, mais de mil homens. Havia um rei na Torre do Rei pela primeira vez desde que havia memória, e flutuavam estandartes na Lança, na Torre de Hardin, na Fortaleza Cinzenta, no Salão dos Escudos e em outros edifícios que tinham se mantido vazios e abandonados durante longos anos.
    - O grande, o dourado com o veado preto, é o estandarte real da Casa Baratheon - disse Sam para Goiva, que nunca antes tinha visto bandeiras. - A raposa com as flores são da Casa Florent. A tartaruga é de Estermont, o peixe-espada é de Bar Emmon e as trombetas cruzadas pertencem aos Wensington.
    - São todos brilhantes como flores. - Goiva apontou. - Gosto daqueles amarelos, com o fogo. Olhe, e alguns dos guerreiros têm a mesma coisa nas blusas.
    - Um coração flamejante. Não sei de quem é esse símbolo.
    Descobriu bastante depressa.
    - Homens da rainha - disse-lhe Pyp (depois de soltar um grito e berrar "Fujam e barrem as portas, rapazes, é Sam, o Matador, que voltou da sepultura", enquan¬to Grenn abraçava Sam com tanta força que este achou que suas costelas iam que¬brar) -, mas é melhor que não ande por aí perguntando onde está a rainha, Stannis deixou-a em Atalaialeste, com a filha e a frota, Não trouxe mulher nenhuma além da vermelha.
    - A vermelha? - perguntou Sam, com incerteza,
    - Melisandre de Asshai - disse Grenn. - A feiticeira do rei. Dizem que queimou um homem vivo em Pedra do Dragão para que Stannis tivesse ventos favoráveis para a sua viagem ao norte. E também cavalgou a seu lado na batalha e deu-lhe a espada mágica. Chamam de Luminífera. Espere até vê-la. Brilha como se tivesse um pedaço do sol lá dentro. - Voltou a olhar para Sam e deu um grande, desamparado e estúpido sorriso. - Ainda não consigo acreditar que está aqui.
    Jon Snow também tinha sorrido ao vê-lo, mas foi um sorriso cansado, como aquele que mostrava agora.
    - Afinal conseguiu voltar - disse. - E também trouxe Goiva. Bom trabalho, Sam.
    O próprio Jon havia feito mais do que um bom trabalho, pelo que Grenn contara. Mas nem mesmo a captura do Berrante do Inverno e de um príncipe selvagem eram o bastante para Sor Alliser Thorne e os amigos, que continuavam a chamá-lo de vira- -casaca. Embora Meistre Aemon dissesse que o seu ferimento estava sarando bem, Jon tinha outras cicatrizes, mais profundas do que aquelas que lhe rodeavam o olho. Ele cho¬ra por sua garota selvagem e pelos irmãos.
    - E estranho - disse ele a Sam. - Craster não tinha nenhuma amizade por Mance, nem Mance por Craster, mas agora a filha de Craster está alimentando o filho de Mance.
    - Eu tenho leite - disse Goiva, com uma voz suave e acanhada. - O meu só tira um pouco. Não é tão insaciável como este.

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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:59 pm

    A selvagem chamada Vai virou-se para eles.
    - Ouvi os homens da rainha dizer que a mulher vermelha quer oferecer Mance ao fogo, assim que ele estiver suficientemente forte.
    Jon lançou-lhe um olhar fatigado.
    - Mance é um desertor da Patrulha da Noite. A pena por esse crime é a morte. Se tivesse sido a Patrulha a capturá-lo, já teria sido enforcado, mas é prisioneiro do rei, e ninguém além da mulher vermelha sabe o que o rei tem na cabeça.
    - Quero vê-lo - disse Vai. - Quero mostrar-lhe o filho. Ele merece isso antes que o matem.
    Sam tentou explicar.
    - Ninguém está autorizado a vê-lo exceto o Meistre Aemon, senhora.
    - Se estivesse nas minhas mãos, Mance poderia pegar o filho no colo. - O sorriso de Jon desapareceu. - Lamento, Vai. - Virou-lhe as costas. - Sam e eu temos que regressar aos deveres. Bem, Sam tem, pelo menos. Perguntaremos se pode visitar Mance. E tudo que posso prometer.
    Sam ficou tempo suficiente para dar um apertão na mão de Goiva e prometer voltar depois do jantar. Depois correu atrás de Jon. Havia guardas à porta, homens da rainha com lanças. Jon já estava no meio da escada, mas esperou quando ouviu Sam bufando atrás de si.
    - E mais do que amigo de Goiva, não é?
    Sam enrubesceu.
    - Goiva é boa. E boa e gentil. - Estava feliz por seu longo pesadelo ter terminado, feliz por estar de volta aos seus irmãos em Castelo Negro... mas certas noites, sozinho na cela, pensava no calor de Goiva quando se enrolavam sob as peles com o bebê entre ambos. - Ela... ela tornou-me mais corajoso, Jon. Não corajoso, mas... mais corajoso.
    - Sabe que não pode ficar com ela - disse Jon com gentileza -, assim como eu não podia ficar com Ygritte. Proferiu as palavras, Sam, assim como eu. Assim como todos nós.
    - Eu sei. Goiva disse que seria uma esposa para mim, mas... eu contei-lhe a respeito das palavras e do que elas significavam. Não sei se isso a deixou triste ou feliz, mas con¬tei. - Engoliu nervosamente e disse: - Jon, pode haver honra numa mentira, se for dita com... boa intenção?
    - Suponho que isso dependa da mentira e da intenção. - Jon olhou para Sam, - Eu não o aconselharia. Não foi feito para mentir, Sam. Você cora, guincha e gagueja.
    - E verdade - disse Sam -, mas podia mentir numa carta. Sou melhor com uma pena na mão. Tive uma... uma idéia. Quando as coisas estiverem mais estabelecidas por aqui, pensei que talvez a melhor coisa para Goiva... pensei que podia enviá-la para Monte Chifre. Para junto de minha mãe e irmãs e... e p-p-pai. Se a Goiva dissesse que o bebê era m-meu„. - Estava de novo corando. - A minha mãe quereria ficar com ele, eu sei. Arranjaria algum lugar para Goiva, alguma espécie de serviço, não seria tão duro como servir Craster. E Lor¬de R-Randyll, ele... ele nunca diria isso, mas poderia ficar satisfeito se acreditasse que eu tinha feito um bastardo numa garota selvagem qualquer. Pelo menos provaria que sou ho- mem suficiente para dormir com uma mulher e gerar um filho. Ele disse-me uma vez que eu iria morrer virgem, que nenhuma mulher jamais... você sabe... Jon, se eu fizesse isso, se escrevesse essa mentira... isso seria uma coisa boa? A vida que o garoto teria...
    - Crescendo como bastardo no castelo do avô? - Jon encolheu os ombros. - Isso depende em grande medida de seu pai, e do tipo de garoto que este é. Se for como você...
    - Não será. Seu verdadeiro pai é Craster. Você o viu, ele era duro como um velho toco de árvore, e Goiva é mais forte do que parece.
    - Se o rapaz mostrar alguma habilidade com a espada ou a lança, deve ter pelo me¬nos um lugar na guarda doméstica de seu pai - disse Jon. - Não é inédito que bastardos sejam treinados como escudeiros e elevados à condição de cavaleiros. Mas é melhor que tenha certeza de que Goiva consegue jogar esse jogo de forma convincente. Por aquilo que me disse de Lorde Randyll, duvido que aceite bem ser enganado.
    Mais guardas estavam colocados nos degraus fora da torre. Aqueles eram homens do rei, porém; Sam rapidamente tinha aprendido a diferença. Os homens do rei eram tão terrenos e ímpios como quaisquer outros soldados, mas os da rainha eram fervorosos na sua devoção a Melisandre de Asshai e ao seu Senhor da Luz.
    - Vai para o pátio de treinos outra vez? - perguntou Sam quando atravessaram o pátio. - Será sensato treinar tanto antes que a perna acabe de sarar?
    Jon encolheu os ombros.
    - O que mais posso fazer? Marsh afastou-me de meus deveres, com receio de que eu ainda seja um vira-casaca.
    - São poucos os que acreditam nisso - garantiu-lhe Sam. - Sor Alliser e os amigos. A maior parte dos irmãos sabe que não é verdade, O Rei Stannis também sabe, aposto. Trouxe-lhe o Berrante do Inverno e capturou o filho de Mance Rayder.
    - Tudo que fiz foi proteger Vai e o bebê contra saqueadores quando os selvagens fugiram, e mantê-los lá até que os patrulheiros nos encontrassem. Não capturei nin¬guém. O Rei Stannis mantém bem os seus homens na mão, isso é evidente. Deixa-os saquear um pouco, mas só ouvi falar de três selvagens estupradas, e os homens que o fizeram foram todos castrados. Suponho que devia ter matado o povo livre enquanto fugia. Sor Allister tem andado dizendo por aí que a única vez que desembainhei a es¬pada foi para defender os nossos inimigos. Diz que não matei Mance Rayder porque estava aliado a ele.
    - Isso é só o Sor Alliser - disse Sam. - Todo mundo sabe que tipo de homem ele é. - Com seu nobre nascimento, seu grau de cavaleiro e os muitos anos passados na Patrulha, Sor Alliser Thorne podia ter sido um forte pretendente ao título de Senhor Comandan¬te, mas quase todos os homens que treinara durante seus anos como mestre de armas o desprezavam. Seu nome havia sido sugerido, claro, mas depois de ter acabado num fraco sexto lugar após o primeiro dia e de ter perdido votos no segundo, Thorne retirou-se em apoio ao Lorde Janos Slynt.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:00 pm

    - O que todo mundo sabe é que Sor Alliser é um cavaleiro de nobre linhagem, e legítimo, enquanto eu sou o bastardo que matou Qhorin Meia-Mão e dormiu com uma esposa de lanças. Ouvi-os chamarem-me de warg. Como posso ser warg sem um lobo, pergunto? - sua boca torceu-se. - Já nem sequer sonho com o Fantasma. Todos os meus sonhos são sobre as criptas, sobre os reis de pedra em seus tronos. As vezes ouço a voz de Robb e a do meu pai como se estivessem num banquete. Mas há uma parede entre nós, e sei que não foi posto nenhum lugar para mim.
    Os vivos não têm lugar nos banquetes dos mortos. Despedaçou o coração de Sam manter então o silêncio. Bran não está morto, Jon, quis dizer. Está com amigos, e vão para o norte num alce gigante à procura de um corvo de três olhos nas profundezas da floresta assombrada. Aquilo parecia uma loucura tão grande que às vezes Sam Tarly pensava que devia ter so¬nhado, que teria imaginado toda a história por causa da febre, do medo e da fome.., mas teria contado mesmo assim, se não tivesse dado sua palavra.
    Três vezes jurara manter o segredo; uma ao próprio Bran, outra àquele estranho ra¬paz, Jojen Reed, e por fim a Mãos-Frias.
    "O mundo acredita que o garoto está morto", tinha dito o seu salvador quando partiu. "Que os seus ossos não sejam perturbados. Não queremos ninguém no nosso encalço. Jure, Samwell da Patrulha da Noite, Jure pela vida que me deve."
    Infeliz, Sam mudou o peso de uma perna para a outra e disse:
    - Lorde Janos nunca será escolhido Senhor Comandante. - Era o melhor conforto que podia dar a Jon, o único conforto. - Isso não acontecerá.
    - Sam, você é um tolo de bom coração. Abra os olhos. Está acontecendo há dias, - Jon tirou os cabelos dos olhos e disse: - Eu posso não saber nada, mas sei isso. Agora peço que me dê licença, tenho de bater minha espada em qualquer coisa com muita força.
    Nada havia que Sam pudesse fazer, exceto ver jon caminhar a passos largos na di¬reção do arsenal e do pátio de treinos. Era ali que Jon Snow passava a maior parte das horas em que não dormia. Com Sor Endrew morto e Sor Alliser desinteressado, Castelo Negro não tinha mestre de armas, por isso Jon encarregara-se de trabalhar com os recru¬tas mais verdes; Cetim, Cavalo, Robin Saltitão com sua perna de pau, Arron e Emrick, E quando eles tinham deveres a cumprir, treinava sozinho durante horas com espada, escudo e lança, ou defrontava qualquer um que quisesse lutar com ele.
    Sam, você é um tolo de bom coração, conseguiu ouvir Jon dizendo ao longo de todo o caminho de volta à torre do meistre. Abra os olhos. Está acontecendo há dias. Poderia ele ter razão? Um homem precisava dos votos de dois terços dos Irmãos Juramentados para se tornar Senhor Comandante da Patrulha da Noite, e após nove dias e nove votações ninguém estava sequer perto disso. Lorde Janos andava ganhando votos, era verdade, ul¬trapassando Bowen Marsh e depois Othell Yarwyck, mas ainda estava bem atrás de Sor Denys Mallister da Torre Sombria e de Cotter Pyke de Atalaialeste-do-Mar, Um deles será o novo Senhor Comandante, com certeza, disse Sam a si mesmo.
    Stannis também tinha colocado guardas à porta do meistre. Lá dentro, os aposentos estavam quentes e cheios com os feridos da batalha; irmãos negros, homens do rei e ho¬mens da rainha. Clydas andava de um lado para o outro entre eles, com jarros de leite de cabra e de vinho dos sonhos, mas o Meistre Aemon ainda não havia retornado de sua visita matinal a Mance Rayder. Sam pendurou o manto num gancho e foi ajudar. Mas mesmo enquanto ia buscar coisas, servir leite ou vinho e trocar ataduras, as palavras de Jon continuaram a importuná-lo. Sam, você é um tolo de bom coração. Abra os olhos. Está acontecendo há dias.
    Passou-se uma boa hora até que conseguisse retirar-se para ir alimentar os corvos. Na subida até a colônia, parou para verificar o registro que fizera da contagem da noi¬te anterior. No início da votação, mais de trinta nomes tinham sido sugeridos, mas a maior parte foi retirada assim que se tornou claro que não tinham chance de ganhar. Depois da noite passada, restavam sete. Sor Denys Mallister reunira duzentos e treze penhores, Cotter Pyke, cento e oitenta e sete, Lorde Slynt, setenta e quatro, Othell Yarwyck, sessenta, Bowen Marsh, quarenta e nove, Hobb Três-Dedos, cinco, e Edd Doloroso Tollett, um. Pyp e suas estúpidas brincadeiras. Sam verificou as contagens an¬teriores. Sor Denys, Cotter Pyke e Bowen Marsh vinham todos perdendo votos desde o terceiro dia e Othell Yarwyck, desde o sexto. Só Lorde Janos Slynt subia, dia após dia após dia.
    Ouvia as aves crocitando na colônia, por isso guardou os papéis e subiu os degraus para ir alimentá-las. Viu com prazer que mais três corvos tinham chegado. "Snow" gritaram-lhe. "Snow, snow, snow." Foi ele que lhes ensinou aquilo. Mesmo com os recém-chegados, a colô¬nia parecia tristemente vazia. Poucas das aves que Aemon enviara tinham voltado até agora. Mas uma chegou a Stannis. Uma encontrou Pedra do Dragão, e um rei que ainda se importava. Sam sabia que, mil léguas para o sul, o pai tinha juntado a Casa Tarly à causa do rapaz no Trono de Ferro, mas nem o Rei Joffrey nem o pequeno Rei Tommen tinham feito alguma coisa quando a Patrulha gritou por ajuda. De que serve um rei que não quer defender o seu reino?, pensou, irritado, recordando a noite no Punho dos Primeiros Homens e a terrível viagem até a Fortaleza de Craster através da escuridão, do medo e das nevascas. Os homens da rainha deixavam-no inquieto, era verdade, mas pelo menos tinham vindo.
    Nessa noite, durante o jantar, Sam procurou por Jon Snow, mas não o viu em lugar nenhum, na cavernosa adega de pedra onde agora os irmãos faziam as refeições. Por fim, ocupou um lugar no banco, junto de seus outros amigos. Pyp estava falando ao Edd Do¬loroso do concurso que tinham feito para ver qual dos soldados de palha juntaria mais flechas dos selvagens.
    - Você esteve à frente a maior parte do tempo, mas Watt de Lago Longo levou três no último dia e ultrapassou você.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:00 pm

    - Nunca ganho nada - lamentou-se Edd Doloroso. - Mas os deuses sempre sorri¬ram ao Watt. Quando os selvagens o derrubaram da Ponte das Caveiras, de algum modo conseguiu aterrissar numa boa e funda lagoa cheia de água. Quanta sorte, não acertar em nenhuma daquelas pedras.
    - A queda foi longa? - Grenn quis saber. - Cair na lagoa salvou a vida dele?
    - Não - disse Edd Doloroso. - Já estava morto, da machadada que levou na cabeça. Mesmo assim, foi bastante sorte não ter batido nas pedras.
    Hobb Três-Dedos tinha prometido aos irmãos quadril de mamute assado para aque¬la noite, talvez na esperança de mendigar mais alguns votos. Se era essa a sua idéia, devia ter arranjado um mamute mais novo, pensou Sam, enquanto tirava um fio de cartilagem de entre os dentes. Suspirando, afastou a comida.
    Haveria outra votação em breve, e a tensão no ar era mais densa do que a fumaça. Cotter Pyke estava sentado junto ao fogo, rodeado de patrulheiros de Atalaialeste. Sor Denys Mallister encontrava-se perto da porta com um grupo menor de homens da Torre Sombria. Janos Slynt tem o melhor lugar, percebeu Sam, a meio caminho entre as chamas e as correntes de ar. Sentiu-se alarmado por ver Bowen Marsh a seu lado, pálido e acabado, com a cabeça ainda envolta em iinho, mas escutando tudo o que Lorde Janos tinha a di¬zer. Quando mostrou isso aos amigos, Pyp disse:
    - E olhe ali, é Sor Allister aos segredos com Othell Yarwyck.
    Após a refeição, Meistre Aemon levantou-se para perguntar se algum dos irmãos de¬sejava falar antes de depositarem os seus penhores. Edd Doloroso levantou-se, com o rosto de pedra e sombrio de sempre.
    - Só quero dizer a quem quer que esteja votando em mim que com certeza daria um horrível Senhor Comandante. Mas estes outros também. - Foi seguido por Bowen Mar¬sh, que se ergueu com uma mão no ombro de Lorde Slynt.
    - Irmãos e amigos, peço que meu nome seja retirado desta escolha. O ferimento ain¬da me causa problemas e temo que a tarefa seja grande demais para mim... mas não para
    Lorde Janos aqui, que comandou os homens de manto dourado em Porto Real durante muitos anos. Vamos todos lhe dar o nosso apoio.
    Sam ouviu resmungos irritados vindos do canto da sala onde estava Cotter Pyke, e Sor Denys olhou para um de seus companheiros e sacudiu a cabeça. É tarde demais, o estrago está feito. Perguntou a si mesmo onde Jon estaria, e por que motivo havia se man¬tido afastado.
    A maior parte dos irmãos era iletrada, portanto segundo a tradição a escolha era fei¬ta depositando penhores em um grande caldeirão de ferro de fundo redondo que Hobb Três-Dedos e Owen Idiota tinham arrastado das cozinhas. Os barris de penhores estavam em um canto, atrás de uma pesada cortina, de modo que os votantes pudessem fazer sua escolha sem serem vistos. Era permitido pedir a um amigo para votar em seu nome, caso houvesse deveres a cumprir, então alguns homens tiravam dois, três ou quatro penhores, e Sor Denys e Cotter Pyke votavam pelas guarnições que tinham deixado para trás.
    Quando finalmente o salão ficou vazio além deles, Sam e Clydas viraram o caldei¬rão de pernas para o ar na frente de Meistre Aemon. Uma cascata de conchas, pedras e moedas de cobre cobriu a mesa. As mãos enrugadas de Aemon ordenaram-nas com sur¬preendente rapidez, movendo as conchas para cá, as pedras para lá, as moedas para um lado, e a ocasional ponta de lança, prego e bolota para os montinhos respectivos. Sam e Clydas contaram as pilhas, mantendo cada um o seu registro.
    Naquela noite era a vez de Sam dizer primeiro os resultados.
    - Duzentos e três para Sor Denys Mallister - disse. - Cento e sessenta e nove para Cotter Pyke. Cento e trinta e sete para Lorde Janos Slynt, setenta e dois para Othell Ya¬rwyck, cinco para Hobb Três-Dedos, e dois para Edd Doloroso.
    - Eu tinha cento e sessenta e oito para Pyke - disse Clydas. - Temos dois votos a menos, pela minha contagem, e um pela de Sam.
    - A contagem de Sam está correta - disse Meistre Aemon. - Jon Snow não votou. Não importa. Ninguém está perto.
    Sam estava mais aliviado do que desapontado. Até com o apoio de Bowen Marsh, Lorde Janos ainda era apenas terceiro.
    - Quem são estes cinco que continuam votando no Hobb Três-Dedos? - perguntou a ninguém em especial,
    - Irmãos que o querem fora das cozinhas? - disse Clydas.
    - Sor Denys caiu dez votos desde ontem - apontou Sam. - E Cotter Pyke caiu quase vinte. Isso não é bom.
    - Não é bom para suas esperanças de se tornarem Senhor Comandante, com certe¬za - disse Meistre Aemon. - Mas no fim das contas pode ser bom para a Patrulha da Noite. Não cabe a nós decidir. Dez dias não é um tempo excessivo. Certa vez, houve uma escolha que durou quase dois anos, umas setecentas votações. Os irmãos chegarão a uma decisão a seu tempo.
    Sim, pensou Sam, mas que decisão?
    Mais tarde, sobre taças de vinho aguado na privacidade da cela de Pyp, a língua de Sam soltou-se e deu por si pensando em voz alta.
    - Cotter Pyke e Sor Denys Mallister vêm perdendo terreno, mas entre eles ainda têm quase dois terços - disse a Pyp e a Grenn. - Qualquer um dos dois poderia ser um bom Senhor Comandante. Alguém tem de convencer um deles a se retirar e a apoiar o outro.
    - Alguém? - disse Grenn em tom de dúvida. - Que alguém?
    - Grenn é tão burro que acha que alguém podia ser ele - disse Pyp. - Talvez quando alguém acabar de tratar de Pyke e Mallister, devesse convencer também o Rei Stannis a se casar com a Rainha Cersei.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:00 pm

    - O Rei Stannis já é casado - objetou Grenn.
    - O que vou fazer com ele, Sam? - suspirou Pyp.
    - Cotter Pyke e Sor Denys não gostam muito um do outro - argumentou obstinada¬mente Grenn. - Discutem sobre tudo.
    - Sim, mas só porque têm idéias diferentes sobre o que é melhor para a Patrulha - disse Sam. - Se nós explicássemos...
    - Nós? - disse Pyp. - Como foi que alguém se transformou em nós? Eu sou o macaco do saltimbanco, lembra? E Grenn é, bem, Grenn. - Sorriu a Sam e abanou as orelhas. - Agora, você... você é filho de um lorde e intendente do meistre...
    - E Sam, o Matador - disse Grenn, - Matou um Outro.
    - Foi o vidro de dragão que o matou - disse-lhe Sam pela centésima vez.
    - Filho de um lorde, intendente do meistre e Sam, o Matador - meditou Pyp. - Você poderia falar com eles, talvez...
    - Poderia - disse Sam, soando tão pessimista quanto Edd Doloroso -, se não fosse covarde demais para encará-los.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:00 pm

    Jon 895



    Jon rodeou Cerim lentamente, de espada na mão, obrigando-o a se virar.
    - Levante o escudo - disse.
    - E pesado demais - reclamou o rapaz de Vilavelha.
    - Tem o peso que precisa ter para parar uma espada - disse Jon. - E agora levante - -o, - Deu um passo para a frente, golpeando. Cetim ergueu o escudo a tempo de apanhar a espada na borda e brandiu a sua lâmina contra as costelas de Jon. - Boa - disse Jon, quando sentiu o impacto em seu escudo. - Isso foi bom. Mas tem de colocar o corpo no movimento. Ponha o seu peso no aço e conseguirá fazer mais estragos do que apenas com a força do braço. Vá, tente outra vez, ataque-me, mas mantenha o escudo levantado, senão faço sua cabeça ressoar como se fosse um sino...
    Em vez disso, Cetim deu um passo para trás e levantou a viseira.
    - Jon - disse, numa voz ansiosa.
    Quando se virou, ela estava em pé atrás dele, rodeada de meia dúzia de homens da rainha. Pouco admira que o pátio tenha ficado tão silencioso. Tinha visto Melisan¬dre nas fogueiras noturnas, e nas idas e vindas pelo castelo, mas nunca tão de perto. É bela, pensou... mas havia algo mais do que um pouco perturbador em seus olhos vermelhos.
    - Senhora.
    - O rei deseja falar com você, Jon Snow.
    Jon espetou a espada de treino no solo.
    - Talvez me possa ser permitido que troque de roupa? Não estou em estado digno de comparecer perante um rei.
    - Esperaremos no topo da Muralha - disse Melisandre. Nós, ouviu Jon, e não ele. E como dizem. Esta é que é a sua verdadeira rainha, e não aquela que deixou em Atalaialeste.
    Pendurou a cota de malha e a armadura no arsenal, regressou à sua cela, livrou-se das roupas manchadas de suor e vestiu um conjunto limpo de vestes negras. Sabia que faria frio e ventaria na gaiola, e seria ainda mais frio e ventaria mais no topo do gelo, por isso escolheu um pesado manto com capuz. Por último recolheu a Garralonga e atou a espada bastarda às costas.
    Melisandre esperava-o na base da Muralha. Mandara embora os homens da rainha.
    - O que Sua Graça quer de mim? - perguntou-lhe quando entraram na gaiola.
    - Tudo o que tiver para dar, Jon Snow. Ele é um rei.
    Jon fechou a porta e puxou a corda do sino. O guincho começou a girar. Subiram. O dia estava luminoso e a Muralha chorava, com longos dedos de água escorrendo por sua superfície e cintilando ao sol. No apertado confinamento da gaiola de ferro, sentia-se vivamente consciente da presença da mulher vermelha. Até cheira a vermelho. O odor lembrou-lhe a forja de Mikken, o modo como o ferro cheirava quando incandescente; o odor era fumaça e sangue. Beijada pelo fogo, pensou, recordando Ygritte. O vento pe¬netrou no interior das longas vestes vermelhas de Melisandre e fez com que batessem contra as pernas de Jon, a seu lado.
    - Não sente frio, senhora? - perguntou-lhe.
    Ela riu.
    - Nunca. - O rubi na garganta parecia pulsar, em uníssono com o bater de seu cora¬ção. - O fogo do Senhor vive dentro de mim, Jon Snow. Sinta-o. - Pôs a mão no rosto dele, e manteve-a ali enquanto ele sentia como ela estava quente. - E esta a sensação que a vida deve ter - disse-lhe ela. - Só a morte é fria.
    Foram encontrar Stannis Baratheon em pé, sozinho, na borda da Muralha, pensa- tivo, virado para o campo onde tinha vencido a sua batalha e a grande floresta verde que se estendia à frente. Estava vestido com os mesmos calções, túnica e botas negras que um homem da Patrulha da Noite usaria. Só o seu manto o distinguia: um pesado manto dourado forrado de peles negras, e preso com um broche com a forma de um coração flamejante.
    - Trouxe-lhe o Bastardo de Winterfell, Vossa Graça - disse Melisandre.
    Stannis virou-se para estudá-lo. Sob a sua pesada testa havia olhos que eram como lagoas azuis sem fundo. Seu rosto encovado e o forte maxilar estavam cobertos com uma barba negro-azulada cortada curta e que pouco fazia para esconder a magreza de seu ros¬to, e o maxilar estava tenso. O pescoço e os ombros também estavam tensos, assim como a mão direita. Jon deu por si lembrando-se de uma coisa que Donal Noye havia dito um dia sobre os irmãos Baratheon. Robert era o verdadeiro aço. Stannis é puro ferro, negro, duro ejorte, mas quebradiço, como o ferro se torna. Quebrará antes de se dobrar. Inquieto, ajoelhou, perguntando a si mesmo por que teria aquele rei quebradiço necessidade de si.
    - Levante-se. Ouvi muitas coisas e mais ainda acerca de você, Lorde Snow.
    - Não sou um lorde, senhor. - Jon levantou-se, - Sei o que ouviu dizer. Que sou um vira-casaca e um covarde, Que matei o meu irmão Qhorin Meia-Mão para que os selvagens me poupassem a vida. Que acompanhei Mance Rayder e tomei uma selva¬gem como esposa.
    - Sim. Tudo isso e mais. Também é um warg, dizem eles, um troca-peles que de noite caminha como lobo. - O Rei Stannis tinha um sorriso duro, - Quanto disso é verdade?
    - Eu tinha um lobo gigante, o Fantasma, Abandonei-o quando escalei a Muralha per¬to de Guardagris, e não voltei a vê-lo desde então. Qhorin Meia-Mão ordenou-me que me juntasse aos selvagens. Ele sabia que me obrigariam a matá-lo para provar a minha deserção, e disse-me para
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:01 pm

    fazer tudo o que me pedissem. A mulher chamava-se Ygritte, Quebrei os votos com ela, mas juro em nome de meu pai que nunca virei a casaca.
    - Acredito em você - disse o rei.
    Aquilo surpreendeu-o.
    - Por quê?
    Stannis fungou.
    - Conheço Janos Slynt, E também conheci Ned Stark. Seu pai não era meu amigo, mas só um idiota duvidaria de sua honradez ou de sua honestidade. E parecido com ele. - Um homem grande, Stannis Baratheon erguia-se bem mais alto do que Jon, mas tão magro que parecia dez anos mais velho do que era. - Sei mais do que pode pensar, Jon Snow. Sei que foi você quem encontrou o punhal de vidro de dragão que o filho de Ran- dyll Tarly usou para matar o Outro.
    - Foi o Fantasma que o encontrou, A lâmina estava enrolada no manto de um pa- trulheiro e enterrada no sopé do Punho dos Primeiros Homens. Havia também outras lâminas... pontas de lança, pontas de flecha, tudo de vidro de dragão.
    - Sei que defendeu o portão aqui - disse o Rei Stannis. - Se não tivesse feito isso, eu teria chegado tarde demais.
    - Foi Donal Noye quem defendeu o portão. Morreu lá embaixo no túnel, lutando contra o rei dos gigantes.
    Stannis fez uma careta.
    - Noye fez a minha primeira espada e também o martelo de guerra de Robert. Se deus tivesse achado por bem poupá-lo, ele daria um Senhor Comandante melhor para a sua ordem do que qualquer um daqueles idiotas que andam disputando o cargo.
    - Cotter Pyke e Sor Denys Mallister não são idiotas, senhor - disse Jon. - São ho¬mens bons e capazes. Othell Yarwyck também, à sua maneira. Lorde Mormont confiava em todos eles.
    - Seu Lorde Mormont confiava com demasiada facilidade. Se não fosse assim, não teria morrido da forma como morreu. Mas estávamos falando de você. Não esqueci que foi você quem nos trouxe este berrante mágico e quem capturou a esposa e o filho de Mance Rayder.
    - Dalla morreu. - Aquilo ainda entristecia Jon. - Vai é a irmã dela. Ela e o bebê não exigiram grande captura, Vossa Graça. Havia posto os selvagens em debandada, e o troca-peles que Mance deixara guardando a sua rainha enlouqueceu quando a águia queimou. - Jon olhou para Melisandre, - Há quem diga que foi obra sua.
    Ela sorriu, com os longos cabelos de cobre caindo sobre o rosto.
    - O Senhor da Luz tem garras flamejantes, Jon Snow.
    Jon acenou com a cabeça e voltou-se de novo para o rei.
    - Vossa Graça, falou de Vai, Ela pediu para ver Mance Rayder, para lhe levar o filho. Seria uma... uma gentileza.
    - O homem é um desertor de sua ordem. Seus irmãos estão todos insistindo na mor¬te dele. Por que eu lhe faria uma gentileza?
    Jon não tinha resposta para aquilo,
    - Se não por ele, então por Vai. Em nome da irmã, a mãe da criança.
    - Gosta dessa Vai?
    - Mal a conheço.
    - Dizem-me que é atraente,
    - Muito - admitiu Jon.
    - A beleza pode ser traiçoeira, Meu irmão aprendeu essa lição com Cersei Lannister. Ela assassinou-o, não duvide. E também ao seu pai e a Jon Arryn. - Franziu a testa. - Você acompanhou estes selvagens. Acha que há alguma honra neles?
    - Sim - disse Jon -, mas o seu próprio tipo de honra.
    - H em Mance Rayder?
    - Sim. Penso que sim.
    - No Senhor dos Ossos?
    Jon hesitou.
    - Nós o chamávamos de Camisa de Chocalho. Traiçoeiro e sedento de sangue. Se há honra nele, esconde-a por baixo de sua armadura de ossos,
    - E naquele outro homem, aquele Tormund de muitos nomes que escapou de nós após a batalha? Responda-me com a verdade.
    - Tormund Terror de Gigantes pareceu-me ser o tipo de homem que daria um bom amigo e um mau inimigo, Vossa Graça.
    Stannis balançou secamente a cabeça.
    - Seu pai era um homem de honra. Não era amigo meu, mas eu conhecia o seu valor. Seu irmão era um rebelde e um traidor que pretendia roubar metade do meu reino, mas não há homem que possa questionar a sua coragem. E você?
    Será que ele quer que diga que o adoro? A voz de Jon soou dura e formal quando disse:
    - Eu sou um homem da Patrulha da Noite.
    - Palavras. Palavras são vento. Por que pensa que abandonei Pedra do Dragão e nave¬guei para a Muralha, Lorde Snow?
    - Não sou um lorde, senhor. Veio porque o chamamos, espero, Embora não possa dizer por que motivo levou tanto tempo para vir.
    Surpreendentemente, Stannis sorriu ao ouvir aquilo.
    - E suficientemente ousado para ser um Stark, Sim, devia ter vindo mais cedo. Se não fosse o meu Mão, poderia nem sequer ter vindo. Lorde Seaworth é um homem de nascimento humilde, mas recordou-me de meu dever, quando tudo aquilo em que eu conseguia pensar era nos meus direitos. Tinha posto a carroça antes dos bois, disse Da¬vos. Estava tentando conquistar o trono
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:01 pm

    para salvar o reino, quando devia estar tentando salvar o reino para conquistar o trono, - Stannis apontou para o norte, - E ali que en¬contrarei o inimigo que nasci para enfrentar.
    - O nome dele não pode ser proferido - acrescentou Melisandre em voz baixa. - Ele é o Deus da Noite e do Terror, Jon Snow, e essas silhuetas na neve são as suas criaturas.
    - Dizem-me que matou um desses cadáveres caminhantes para salvar a vida de Lorde Mormont - disse Stannis. - Pode ser que esta guerra também seja sua, Lorde Snow. Se me quiser ceder a sua ajuda.
    - Minha espada está a serviço da Patrulha da Noite, Vossa Graça - respondeu caute¬losamente Jon Snow.
    Aquilo não agradou ao rei. Stannis rangeu os dentes e disse:
    - De você preciso mais do que uma espada.
    Jon não estava entendendo,
    - Senhor?
    - Preciso do Norte.
    O Norte.
    - Eu... o meu irmão Robb era Rei no Norte...
    - Seu irmão era o legítimo Senhor de Winterfell. Se tivesse ficado em casa e cumpri¬do o seu dever, em vez de se coroar e partir para a conquista das terras fluviais, poderia estar vivo hoje. Mas, seja como for. Você não é Robb, assim como eu não sou Robert.
    As palavras ríspidas afastaram qualquer emparia que Jon pudesse ter sentido por Stannis.
    - Eu amava meu irmão - disse.
    - E eu o meu. Mas eram como eram, e nós também. Sou o único rei legítimo em Westeros, no norte ou no sul. E você é o bastardo de Ned Stark. - Stannis estudou-o com aqueles olhos azul-escuros. - Tywin Lannister nomeou Roose Bolton Protetor do Norte, como recompensa por trair o seu irmão. Os homens de ferro estão lutando entre si desde a morte de Balon Greyjoy, mas ainda controlam Fosso Cailin, Bosque Profundo, Praça de Torrhen e a maior parte da Costa Pedregosa. As terras do seu pai sangram, e eu não tenho forças nem tempo para estancar as feridas. O que é necessário é um Senhor de Winterfell. Um Senhor de Winterfell leal.
    Está olhando para mim, pensou Jon, atordoado.
    - Winterfell já não existe. Theon Greyjoy passou o archote nele.
    - O granito não arde facilmente - disse Stannis. - O castelo pode ser reconstruído, a seu tempo. Não são as muralhas que fazem um senhor, é o homem. Seus nortenhos não me conhecem, não têm motivos para nutrir amizade por mim, mas vou precisar de suas forças para as batalhas que temos pela frente. Preciso de um filho de Eddard Stark para conquistá-los para o meu estandarte.
    Ele quer fazer de mim Senhor de Winterfell O vento soprava em rajadas, e Jon sentiu a cabeça tão leve que quase teve receio de ser soprado Muralha abaixo.
    - Vossa Graça - disse -, esquece-se, Eu sou um Snow, não um Stark.
    - Quem está se esquecendo é você - respondeu o Rei Stannis.
    Melisandre pousou uma mão morna em seu braço.
    - Um rei pode remover de um golpe a mácula da bastardia, Lorde Snow.
    Lorde Swow. Sor Alliser Thorne tinha lhe dado essa alcunha, para zombar de seu nas¬cimento bastardo. Muitos dos irmãos tinham se habituado a usá-la também, alguns com afeto, outros para magoar. Mas, de repente, ela tinha um som diferente aos ouvidos de Jon. Soava.., real.
    - Sim - disse, hesitante -, já houve casos de reis que legitimaram bastardos, mas... eu continuo sendo um irmão da Patrulha da Noite. Ajoelhei perante uma árvore-coração e jurei não possuir terras nem gerar filhos.
    - Jon, - Melisandre estava tão próxima que conseguia sentir o calor de seu hálito. - Rhllor é o único deus verdadeiro. Um juramento prestado a uma árvore não tem mais poder do que um juramento prestado aos seus sapatos. Abra o coração e deixe que a luz do Senhor entre nele. Queime esses represeíros e aceite Winterfell como presente do Senhor da Luz.
    Quando Jon era bem novo, novo demais para compreender o que significava ser bas¬tardo, costumava sonhar que um dia Winterfell poderia ser seu. Mais tarde, mais cres¬cido, sentiu-se envergonhado por esses sonhos. Winterfell passaria para Robb e depois para os filhos dele, ou então para Bran e Rickon, caso Robb morresse sem filhos, E de¬pois deles vinham Sansa e Arya. Até sonhar que não fosse assim parecia desleal, como se estivesse traindo os irmãos no coração, desejando sua morte. Nunca desejei isso, pensou, em pé diante do rei de olhos azuis e da mulher vermelha. Amei Robh, amei a todos eles... nunca desejei que nenhum mal acontecesse a nenhum deles, mas aconteceu. E agora só resta eu. Tudo o que tinha de fazer era dizer uma palavra, e seria Jon Stark, nunca mais um
    Snow. Tudo o que tinha de fazer era jurar lealdade a este rei, e Winterfell seria seu. Tudo o que tinha de fazer...
    ... era abjurar de novo os seus votos.
    E dessa vez não seria um estratagema. Para reivindicar o castelo do pai, teria de se virar contra os deuses do pai.
    O Rei Stannis voltou a olhar para o norte, com o manto dourado esvoaçando de seus ombros.
    - Pode ser que me engane com você, Jon Snow. Ambos sabemos o que se diz dos bas¬tardos. Poderá faltar a você a honra de seu pai, ou a perícia de seu irmão com as armas. Mas é a arma que o Senhor me deu. Encontrei-o aqui, tal como você encontrou o escon¬derijo de vidro de dragão aos pés do Punho, e pretendo usá-lo. Nem Azor Ahai venceu sozinho a sua guerra. Matei mil selvagens, capturei outros mil e dispersei o restante, mas ambos sabemos que eles voltarão. Melisandre viu isso em seus fogos. Esse Tormund Pu¬nho de Trovão provavelmente está reunindo os remanescentes neste exato momento, e planejando algum novo assalto. E quanto mais nos sangrarmos uns aos outros, mais fra¬cos estaremos todos quando o verdadeiro inimigo cair sobre nós.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:01 pm

    Jon tinha chegado à mesma conclusão.
    - E como diz, Vossa Graça. - Perguntou a si mesmo onde aquele rei queria chegar.
    - Enquanto seus irmãos tentam decidir quem deve liderá-los, eu tenho falado com este Mance Rayder. - Rangeu os dentes. - Um homem teimoso, esse, e orgulhoso. Não vai me deixar outra escolha a não ser entregá-lo às chamas. Mas capturamos outros também, outros líderes. Aquele que chama a si mesmo de Senhor dos Ossos, alguns dos chefes de clã deles, o novo Magnar de Thenn. Seus irmãos não gostarão disso, não mais do que os senhores de seu pai, mas eu pretendo permitir que os selvagens atravessem a Muralha... aqueles que me jurarem lealdade, que garantam manter a paz do rei e cumprir as leis do rei, e acolher o Se¬nhor da Luz como seu deus. Até os gigantes, se aqueles grandes joelhos que eles têm pude¬rem se dobrar, Vou instalá-los na Dádiva, depois de arrancá-la de seu novo Senhor Coman¬dante. Quando os ventos frios se erguerem, sobreviveremos ou morreremos juntos. E hora de fazermos uma aliança contra o nosso inimigo comum. - Olhou para Jon. - Concordaria?
    - Meu pai sonhava em repovoar a Dádiva - admitiu Jon. - Ele e o meu tio Benjen costumavam conversar sobre isso. - Nunca pensou em povoá-la com selvagens, porém... mas também nunca viveu com selvagens. Não se iludia, o povo livre daria súditos insub¬missos e vizinhos perigosos. Mas quando punha num prato da balança os cabelos ruivos de Ygritte e no outro os frios olhos azuis das criaturas, a escolha era fácil, - Concordo.
    - Ótimo - disse o Rei Stannis -, pois a maneira mais segura de selar uma nova alian¬ça e através de um casamento. Pretendo casar o meu Senhor de Winterfell com esta prin¬cesa selvagem.
    Jon talvez tivesse vivido tempo demais com o povo livre; não conseguiu impedir-se de rir.
    - Vossa Graça - disse -, cativa ou não, se pensa que pode simplesmente me dar Vai, temo que tenha bastante a aprender sobre as mulheres selvagens. Quem quer que se case com ela é bom que esteja preparado para escalar até a sua janela de torre e levá-la na pon¬ta da espada...
    - Quem quer que case? - Stannis lançou-lhe um olhar avaliador. - Isso significa que não quer casar com a moça? Previno-o de que ela faz parte do preço que tem de pagar, se quiser o nome e o castelo de seu pai. Essa união é necessária, para ajudar a garantir a lealdade de meus novos súditos. Está me recusando, Jon Snow?
    - Não - disse Jon, rápido demais. Era de Winterfell que o rei estava falando, e Win¬terfell não era algo que se pudesse recusar com ligeireza. - Isto é... tudo isso surgiu muito de repente, Vossa Graça. Posso suplicar-lhe algum tempo para pensar?
    - Como quiser. Mas pense depressa. Não sou um homem paciente, como os seus irmãos negros estão prestes a descobrir. - Stannis apoiou uma mão magra e descarnada no ombro de Jon. - Não diga nada sobre o que falamos aqui hoje. A ninguém. Mas quan¬do regressar, necessitará apenas dobrar o joelho, depositar a sua espada aos meus pés e colocar-se ao meu serviço, e voltará a se erguer como Jon Stark, o Senhor de Winterfell.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:01 pm

    Tyrion 902




    Q
    uando ouviu ruídos através da espessa porta de madeira de sua cela, Tyrion Lannis- per preparou-se para morrer.
    Já é mais que tempo, pensou. Vá lá, vá lá, deem um fim a isto. Pôs-se em pé com di¬ficuldade. Suas pernas estavam adormecidas de estarem dobradas por baixo do corpo. Curvou-se e esfregou-as, aliviando a sensação de facas o pinicando, Não irei para o cepo aos tropeções e bamboletos.
    Perguntou a si mesmo se o matariam ali no escuro ou se o arrastariam pela cidade para que Sor Ilyn Payne pudesse cortar-lhe a cabeça. Após a farsa que tinha sido o seu julgamento, sua querida irmã e seu dedicado pai podiam preferir ver-se livres dele dis¬cretamente, em vez de se arriscarem a uma execução pública. Eu podia dizer ao populacho umas coisinhas bem escolhidas se me deixarem falar. Mas seriam eles tão tolos assim?
    Quando as chaves tilintaram e a porta da cela se abriu, rangendo, Tyrion encostou-se à umidade da parede, desejando ter uma arma. Ainda posso morder e chutar. Morrerei com o sabor do sangue na boca, isso é sempre alguma coisa. Desejou ter sido capaz de arranjar umas últimas palavras que fossem vibrantes. "Vão todos se foder" não era coisa que ser¬visse para conquistar lugar de relevo nas histórias.
    Luz de archote caiu sobre seu rosto. Protegeu os olhos com uma mão.
    - Ora, tem medo de um anão? Trate disso, seu filho de uma puta bexiguenta. - Sua voz tinha se tornado roufenha com a falta de uso.
    - Isso é maneira de falar da senhora nossa mãe? - o homem avançou, com uma tocha na mão esquerda. - Isto ainda é mais pavoroso do que a minha cela em Correrrio, embo¬ra não tão úmido.
    Por um momento, Tyrion não conseguiu respirar.
    - Você?
    - Bem, a maior parte de mim. - Jaime estava magro e tinha os cabelos cortados curtos. - Deixei uma mão em Harrenhal. Trazer os Bravos Companheiros do outro lado do mar estreito não foi uma das melhores idéias do pai. - Ergueu o braço e Tyrion viu o coto.
    Uma gargalhada histérica saltou de seus lábios.
    - Oh, deuses - disse. - Jaime, desculpe, mas... pela bondade dos deuses, olhe para nós dois. Maneta e Narigueta, os rapazes Lannister.
    - Houve dias em que a minha mão cheirava tão mal que desejei não ter nariz. - Jaime baixou a tocha, para que a luz banhasse o rosto do irmão. - Uma cicatriz impressionante.
    Tyrion afastou-se do clarão.
    - Obrigaram-me a travar uma batalha sem o meu irmão mais velho para me proteger.
    - Ouvi dizer que quase queimou a cidade.
    - Uma mentira imunda. Só queimei o rio. - Abruptamente, Tyrion lembrou-se de onde estava e por quê. - Está aqui para me matar?
    - Isso já é ingratidão. Talvez devesse deixá-lo aqui apodrecendo, se vai ser assim tão descortês.
    - Apodrecer não é o destino que Cersei tem em mente para mim.
    - Bem, não, para falar a verdade. Deverá ser decapitado amanhã de manhã, no antigo terreiro de torneios.
    Tyrion voltou a gargalhar.
    - Haverá comida? Vai ter de me ajudar com as últimas palavras, meus miolos têm andado aos círculos, como uma ratazana numa despensa.
    - Não vai precisar de últimas palavras, Estou salvando você. - A voz de Jaime estava estranhamente solene.
    - Quem disse que eu precisava ser salvo?
    - Sabe, quase tinha me esquecido do homenzinho irritante que você é. Agora que me lembrou disso, acho que vou deixar que Cersei corte sua cabeça afinal,
    - Ah, não vai, não. - Bamboleou-se para fora da cela. - E dia ou noite lá em cima? Perdi toda a noção do tempo,
    - Passam três horas da meia-noite. A cidade dorme. - Jaime voltou a enfiar o archote na arandela, na parede entre as celas.
    O corredor estava tão mal iluminado que Tyrion quase tropeçou no carcereiro, estate¬lado no frio chão de pedra. Empurrou-o com a ponta do pé.
    - Está morto?
    - Dormindo. Os outros três também. O eunuco misturou sonodoce no vinho deles, mas não o suficiente para matá-los. Pelo menos foi o que me jurou. Está espe¬rando na escada, vestido com uma túnica de septão. Vai descer aos esgotos, e dali vai para o rio, Uma galé está esperando na baía. Varys tem agentes nas Cidades Livres que se assegurarão de que não lhe faltem fundos.,, mas tente não se fazer notar. Cer¬sei mandará homens em seu encalço, não duvido. Pode ser boa idéia adotar outro nome.
    - Outro nome? Oh, certamente, E quando os Homens Sem Rosto vierem me ma¬tar, direi: "Não, enganou-se de homem, eu sou outro anão com uma hedionda cicatriz na cara." - Ambos os Lannister riram do absurdo de tudo aquilo. Então Jaime ajoelhou-se e deu-lhe um rápido par de beijos nas bochechas, roçando os lábios na fita pregueada de tecido cicatricial.
    - Obrigado, irmão - disse Tyrion. - Pela minha vida.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:02 pm

    - Era.., uma dívida que tinha para com você. - A voz de Jaime soava estranha.
    - Uma dívida? - inclinou a cabeça. - Não compreendo.
    - Ainda bem. Há portas que é melhor que fiquem fechadas.
    - Ora, ora - disse Tyrion. - Haverá algo de sinistro e feio atrás disso? Será possível que alguém um dia tenha dito algo cruel a meu respeito? Tentarei não chorar. Conte-me,
    - Tyrion...
    Jaime está com medo.
    - Conte-me - repetiu Tyrion.
    O irmão afastou o olhar.
    - Tysha - disse em voz baixa.
    - Tysha? - seu estômago apertou-se. - O que tem ela?
    - Não era uma prostituta. Não fui eu que a trouxe para você. Aquilo foi uma mentira que o pai me ordenou que dissesse. Tysha era... era o que parecia ser. Filha de um caseiro, encontrada por acaso na estrada.
    Tyrion conseguia ouvir o tênue som da própria respiração assobiando através da cica- triz do nariz, Jaime não era capaz de encará-lo. Tysha. Tentou lembrar-se do aspecto dela. Uma garota, era apenas uma garota, não era mais velha do que Sansa.
    - A minha esposa - crocitou. - Ela casou comigo.
    - Pelo seu ouro, disse o pai. Era malnascida, e você, um Lannister de Rochedo Casterly. Tudo que ela queria era o ouro, o que fazia com que não fosse diferente de uma prostituta, portanto... portanto não seria uma mentira, não por completo, e... ele disse que você precisava de uma dura lição. Que aprenderia com ela e me agrade¬ceria mais tarde,.,
    - Agradece-lo? - a voz de Tyrion estava estrangulada. - Ele deu-a aos guardas. Uma caserna cheia de guardas. E obrigou-me... a ver. - Sim, e a mais do que ver. Também a pos¬suí... minha esposa...
    - Eu não sabia que ele ia fazer isso. Tem de acreditar em mim.
    - Ah, tenho, é? - rosnou Tyrion. - Por que devo acreditar em você sobre seja o que for, seja quando for? Ela era minha esposai
    - Tyrion...
    Tyrion bateu nele. Foi um tabefe, dado com as costas da mão, mas colocou nele todas as suas forças, todo o seu medo, toda a sua raiva, toda a sua dor. Jaime estava acocorado, desequilibrado. O golpe fez com que tropeçasse e caísse de costas.
    - Eu... suponho que mereci isso.
    - Oh, você mereceu mais do que isso, Jaime. Você e a minha querida irmã e o nosso dedicado pai, sim. Nem consigo começar a dizer o que mereceram. Mas terão o que me¬recem, isso posso jurar para você, Um Lannister sempre paga as suas dívidas. - Tyrion afastou-se, bamboleando, quase voltando a tropeçar no carcereiro com a pressa. Antes de percorrer uma dúzia de metros deu um encontrão num portão de ferro que fechava a passagem. Oh, deuses. Por pouco não gritou.
    Jaime surgiu atrás dele.
    - Eu tenho as chaves do carcereiro.
    - Então use-as. - Tyrion abriu-lhe passagem.
    Jaime destrancou o portão, abriu-o e atravessou-o. Olhou para trás por sobre o ombro.
    - Você vem?
    - Não com você. - Tyrion atravessou o portão. - Dê-me as chaves e vá embora. Eu encontro Varys sozinho. - Inclinou a cabeça e fitou o irmão com seus olhos desiguais, - Jaime, consegue lutar com a mão esquerda?
    - Bastante pior do que você - disse amargamente Jaime.
    - Ótimo. Nesse caso estaremos bem equilibrados se alguma vez voltarmos a nos en¬contrar. O aleijado e o anão.
    Jaime entregou-lhe a argola cheia de chaves.
    - Ofereci a verdade a você. Deve-me o mesmo. Foi você? Matou-o?
    A pergunta era outra faca, torcendo-se em suas tripas.
    - Tem certeza de que quer saber? - perguntou Tyrion. - Joffrey teria sido um rei pior do que Aerys alguma vez foi. Ele roubou o punhal do pai e deu-o a um salteador para que cortasse a goela de Brandon Stark, sabia disso?
    - Eu... achei que pudesse ter feito isso.
    - Bem, um filho sai ao pai. Joff teria me matado também, uma vez que estivesse na posse de todos os seus poderes. Pelo crime de ser baixo e feio, do qual sou tão obviamen¬te culpado,
    - Não respondeu à minha pergunta.
    - Meu pobre, estúpido, cego, mutilado idiota. Terei de soletrar tudo para que enten¬da? Muito bem. Cersei é uma puta mentirosa, e tem andado fodendo Lancei e Osmund Kettleblack e provavelmente até o Rapaz Lua, pelo que sei. E eu sou o monstro que todos dizem que sou. Sim, matei o seu abjeto filho. - Obrigou-se a sorrir. Devia ter sido uma visão hedionda, ali na escuridão iluminada pelo archote.
    Jaime virou-se sem uma palavra e afastou-se,
    Tyrion ficou vendo-o partir, com passos largos de suas pernas fortes, e parte de si desejou chamá-lo, dizer-lhe que não era verdade, implorar-lhe perdão. Mas então pensou em Tysha, e manteve o silêncio, Ficou à escuta dos passos que se afastavam até já não conseguir ouvi-los, e depois foi à procura de Varys, bamboleando-se.
    O eunuco estava escondido na escuridão de uma escada em espiral, vestido com uma túnica marrom e comida pelas traças, com um capuz que escondia a palidez de seu rosto,
    - Demorou tanto que temi que algo tivesse dado errado - disse ele quando viu Tyrion,
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:02 pm

    - Oh, não - sossegou-o Tyrion com veneno na voz, - O que poderia ter dado erra¬do? - torceu a cabeça para trás, a fim de olhar para cima, - Mandei buscá-lo durante o julgamento.
    - Não pude vir. A rainha tinha-me sob vigilância, noite e dia. Não me atrevi a ajudá-lo.
    - Mas agora está me ajudando.
    - Ah, estou? Ah. - Varys soltou um risinho. O som parecia estranhamente deslocado naquele lugar de pedra fria e escuridão cheia de ecos. - Seu irmão consegue ser muito persuasivo.
    - Varys, você é tão frio e viscoso como uma lesma, alguém já lhe disse? Fez o melhor que pôde para me matar. Talvez eu devesse devolver o favor.
    O eunuco suspirou.
    - O cão fiel é chutado, e não importa o modo como a aranha tece a teia, nunca nin¬guém gosta dela. Mas se me matar aqui, temo por você, senhor. Pode nunca encontrar o caminho de volta à luz do dia. - Os olhos cintilaram à oscilante luz da tocha, escuros e úmidos. - Estes túneis estão cheios de armadilhas para os confiantes.
    Tyrion fungou.
    - Confiante? Sou o homem mais desconfiado dos Sete Reinos, você ajudou a garantir que assim fosse. - Esfregou o nariz, - Portanto diga-me, feiticeiro, onde está a minha inocente e donzela esposa?
    - Não encontrei sinal da Senhora Sansa em Porto Real, lamento dizê-lo. Nem de Sor Dontos Hollard, o qual normalmente já teria aparecido bêbado em algum lugar, a essa altura. Foram vistos juntos na escada em espiral na noite em que ela desapareceu. Depois disso, nada. Houve muita confusão naquela noite. Meus passarinhos estão em silêncio. - Varys deu um leve puxão na manga do anão e puxou-o para a escada. - Senhor, temos de ir andando. Seu caminho é para baixo.
    Ao menos isso não é mentira nenhuma. Tyrion bamboleou-se na pegada do eunuco, ras¬pando com os calcanhares na pedra áspera à medida que iam descendo. Fazia muito frio na escadaria, um frio úmido de gelar os ossos que fez Tyrion começar a tremer imediatamente.
    - Que parte das masmorras é esta? - perguntou.
    - Maegor, o Cruel, decretou a construção de quatro pisos de masmorras para o seu castelo - respondeu Varys. - No piso superior, há celas grandes onde os criminosos co¬muns podem ser confinados juntos, Têm janelas estreitas, abertas no topo das paredes. O segundo piso tem as celas menores onde os cativos de nascimento elevado são mantidos. Não têm janelas, mas archotes nos corredores enviam luz suficiente através das barras, No terceiro piso as celas são menores e as portas são de madeira. São chamadas de celas negras. Foi em uma delas que foi mantido, bem como Eddard Stark antes de você. Mas há um piso ainda mais profundo, Uma vez que um homem seja levado para o quarto piso, não volta a ver o sol nem a ouvir vozes humanas nem a respirar sem estar sujeito a uma dor agonizante. Maegor mandou construir as celas do quarto piso para a tortura. - Tinham chegado ao fundo dos degraus. Uma porta não iluminada abria-se na sua frente. - Este é o quarto piso. Dê-me a mão, senhor. Aqui é mais seguro caminhar na escuridão. Há coisas que não desejaria ver.
    Tyrion hesitou por um momento. Varys já o traíra uma vez. Quem saberia que tipo de jogo o eunuco estava jogando? E que local melhor para assassinar um homem do que no meio das trevas, num lugar que ninguém sabia que existia? Seu corpo podia nunca ser encontrado.
    Por outro lado, que alternativa tinha? Subir as escadas e sair pelo portão principal? Não, isso não serviria.
    Jaime não teria medo, pensou, antes de se lembrar do que o irmão lhe fizera. Deu a mão ao eunuco e deixou-se conduzir através do negrume, seguindo o suave raspar do couro na pedra. Varys caminhava depressa, sussurrando de vez em quando, "Cuidado, aqui há três degraus", ou, "O túnel inclina-se para baixo aqui, senhor". Cheguei aqui como Mão do Rei, atravessando os portões a cavalo, à frente dos meus próprios homens, refletiu Tyrion, e saio como uma ratazana, correndo na escuridão, de mãos dadas a uma aranha.
    Uma luz surgiu diante deles, tênue demais para ser a luz do dia, e cresceu à medida que se apressavam em sua direção. Passado algum tempo, Tyrion viu que se tratava de uma porta em arco, fechada por outro portão de ferro. Varys apresentou uma chave. Atravessaram a porta e entraram num pequeno aposento redondo. Havia mais cinco portas na sala, todas fechadas com barras de ferro. Havia também uma abertura no teto, e uma série de degraus de mão na parede por baixo da abertura, levando para cima, Um ornamentado braseiro encontrava-se de um lado, esculpido com a forma de uma cabeça de dragão. O carvão dentro da boca escancarada da fera já tinha se redu¬zido a brasas, mas ainda brilhava com uma lúgubre luz alaranjada. Embora bastante fraca, a luz era bem-vinda depois do negrume do túnel.
    Além do braseiro, a sala encontrava-se vazia, mas o chão exibia o mosaico de um dra¬gão de três cabeças, feito com ladrilhos vermelhos e negros. Algo perturbou Tyrion por um momento. Então ocorreu-lhe o que era. Este é o lugar de que Shae me falou, quando Varys a levou pela primeira vez à minha cama.
    - Estamos por baixo da Torre da Mão.
    - Sim. - Dobradiças geladas gritaram em protesto quando Varys abriu uma porta havia muito fechada. Partículas de ferrugem caíram lentamente no chão. - Isso vai nos levar ao rio.
    Tyrion dirigiu-se lentamente para a escada, percorreu com a mão o degrau inferior.
    - Isso vai me levar ao meu quarto de dormir.
    - Agora é o quarto do senhor seu pai.
    Ergueu os olhos para o alçapão.
    - Quanto terei de subir?
    - Senhor, está fraco demais para uma loucura dessas, e além disso não há tempo. Temos de ir.
    - Tenho assuntos a tratar lá em cima. Quão longa é a subida?
    - Duzentos e trinta degraus, mas seja o que for que pretenda...

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