Clydas ainda ocupava os quartos por baixo da colónia dos corvos. Quando Jon baseu, veio arrastando os pés, de vela na mão, e abriu uma fenda na porta.
— Estou incomodando? — perguntou Jon.
— Nem por sombras. — Clydas abriu mais a porta. — Estava tem-perando vinho. O senhor aceita uma taça?
— Com prazer. — Tinha as mãos hirtas do frio. Descalçou as luvas e flexionou os dedos. Clydas regressou à lareira para mexer o vinho. Ele tem sessenta anos, no mínimo. Um velho. Só parecia novo comparado com Aemon. Baixo e redondo, tinha os vagos olhos rosados de qualquer criatura noturna. Alguns cabelos brancos aderiam ao seu couro cabeludo. Quando serviu o vinho, Jon pegou na taça com ambas as mãos, cheirou as especiarias, engoliu. O calor espalhou-se-lhe pelo peito. Voltou a beber, longa e profundamente, para lavar da boca o sabor do sangue.
— Os homens da rainha andam a dizer que o Rei-para-lá-da-Muralha morreu cobarde. Que gritou por misericórdia e negou que era um rei.
— É verdade. A Luminífera estava mais brilhante do que alguma vez a tinha visto. Tão brilhante como o Sol. — Jon ergueu a taça. — A Stannis Baratheon e à sua espada mágica. — O vinho era-lhe amargo na boca.
— Sua Graça não é um homem de trato fácil. Poucos que usam uma coroa são. Muitos bons homens foram maus reis, costumava dizer o Meistre Aemon, e alguns homens maus foram bons reis.
— Ele devia saber. — Aemon Targaryen vira nove reis no Trono de Ferro. Fora filho de um rei, irmão de um rei, tio de um rei. — Dei uma olhadela naquele livro que o Meistre Aemon me deixou. O Compêndio de Jade. As páginas que falavam de Azor Ahai. A Luminífera era a espada dele. Temperada com o sangue da mulher, se é que se pode acreditar em Votar. Daí em diante, a Luminífera nunca foi fria ao toque, mas quente como Nissa Nissa o fora. Em batalha, a lâmina queimava com um calor fogoso. Uma vez, Azor Ahai combaseu um monstro. Quando enfiou a espada na barriga da fera, o sangue dele começou a