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    A dança dos dragões

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    A dança dos dragões - Página 7 Empty Re: A dança dos dragões

    Mensagem  Admin Sex Jul 13, 2012 4:07 pm

    vermelhos brilhavam como lagoas de fogo. O sabor do sangue quente encheu a boca de Jon, e compreendeu que o Fantasma matara naquela noite. Não, pensou. Eu sou um homem, não um lobo. Esfregou a boca com as costas de uma mão enluvada e cuspiu.
    Clydas ainda ocupava os quartos por baixo da colónia dos corvos. Quando Jon baseu, veio arrastando os pés, de vela na mão, e abriu uma fenda na porta.
    — Estou incomodando? — perguntou Jon.
    — Nem por sombras. — Clydas abriu mais a porta. — Estava tem-perando vinho. O senhor aceita uma taça?
    — Com prazer. — Tinha as mãos hirtas do frio. Descalçou as luvas e flexionou os dedos. Clydas regressou à lareira para mexer o vinho. Ele tem sessenta anos, no mínimo. Um velho. Só parecia novo comparado com Aemon. Baixo e redondo, tinha os vagos olhos rosados de qualquer criatura noturna. Alguns cabelos brancos aderiam ao seu couro cabeludo. Quando serviu o vinho, Jon pegou na taça com ambas as mãos, cheirou as especiarias, engoliu. O calor espalhou-se-lhe pelo peito. Voltou a beber, longa e profundamente, para lavar da boca o sabor do sangue.
    — Os homens da rainha andam a dizer que o Rei-para-lá-da-Muralha morreu cobarde. Que gritou por misericórdia e negou que era um rei.
    — É verdade. A Luminífera estava mais brilhante do que alguma vez a tinha visto. Tão brilhante como o Sol. — Jon ergueu a taça. — A Stannis Baratheon e à sua espada mágica. — O vinho era-lhe amargo na boca.
    — Sua Graça não é um homem de trato fácil. Poucos que usam uma coroa são. Muitos bons homens foram maus reis, costumava dizer o Meistre Aemon, e alguns homens maus foram bons reis.
    — Ele devia saber. — Aemon Targaryen vira nove reis no Trono de Ferro. Fora filho de um rei, irmão de um rei, tio de um rei. — Dei uma olhadela naquele livro que o Meistre Aemon me deixou. O Compêndio de Jade. As páginas que falavam de Azor Ahai. A Luminífera era a espada dele. Temperada com o sangue da mulher, se é que se pode acreditar em Votar. Daí em diante, a Luminífera nunca foi fria ao toque, mas quente como Nissa Nissa o fora. Em batalha, a lâmina queimava com um calor fogoso. Uma vez, Azor Ahai combaseu um monstro. Quando enfiou a espada na barriga da fera, o sangue dele começou a
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    Mensagem  Admin Sex Jul 13, 2012 4:07 pm

    ferver. Fumo e vapor jorraram da sua boca, os seus olhos derreteram-se e pingaram-lhe pela cara abaixo, e o corpo se arrebentou em chamas.
    Clydas pestanejou.
    — Uma espada que cria o seu próprio calor...
    —... Seria uma bela coisa na Muralha. — Jon pôs à parte a taça de vinho e calçou as luvas negras de pele de toupeira. — É uma pena que a espada que Stannis brande seja fria. Vou ter curiosidade de ver como é que a Luminífera dele se comporta em batalha. Obrigado pelo vinho. Fantasma, comigo. — Jon subiu o capuz do manto e puxou pela porta. O lobo branco seguiu-o de volta para a noite.
    O amieiro estava escuro e silencioso. Jon fez um aceno aos guardas antes de passar pelas filas silenciosas de lanças na direção dos seus aposentos. Pendurou o cinturão da espada numa cavilha junto da porta e o manto noutra. Quando descalçou as luvas, as mãos estavam rígidas e frias. Precisou de muito tempo para conseguir acender as velas. Fantasma enrolou-se no tapete e adormeceu, mas Jon não podia ainda descansar. A mesa de pinho desgastada estava coberta com mapas da Muralha e das terras que se estendiam atrás dela, uma lista de patrulheiros e uma carta vinda da Torre Sombria, escrita na letra fluida de Sor Denys Mallister.
    Voltou a ler a carta da Torre Sombria, afiou uma pena e destampou um frasco de espessa tinta preta. Escreveu duas cartas, a primeira a Sor Denys, a segunda a Cotter Pyke. Ambos tinham andado atormentando-o com pedidos de mais homens. Despachou Halder e Sapo para oeste, para a Torre Sombria, Grenn e Pyp para Atalaialeste-do-Mar. A tinta não queria fluir como devia ser, e todas as suas palavras pareciam secas, cruas e desajeitadas, mas persistiu.
    Quando finalmente pousou a pena, a sala estava sombria e gelada, e ele sentia as paredes a aproximarem-se. Empoleirado por cima da janela, o corvo do Velho Urso espreitou-o com olhos negros sagazes. O meu último amigo, pensou Jon com tristeza. E é melhor que te sobreviva, senão também come a minha cara. Fantasma não contava. Fantasma era mais próximo do que um amigo. Fantasma era parte de si.
    Jon se levantou e subiu a escada que levava à cama estreita que pertencera em tempos a Donal Noye. Isto é o que coube a mim em sorte, compreendeu enquanto se despia, de agora até ao fim dos meus dias.
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    Mensagem  Admin Qui Jul 19, 2012 3:03 pm

    Daenerys 179


    O que é? — gritou quando Irri a abanou suavemente pelo ombro. Lá fora, a noite era cerrada. Há algo de errado, compreendeu de imediato. — É Daario? O que aconteceu? — No seu sonho tinham sido marido e mulher, gente simples que vivia uma vida simples numa alta casa de pedra com uma porta vermelha. No seu sonho, ele estivera a beijá-la por todo o lado; na boca, no pescoço, nos seios. — Não, khaleesi — murmurou Irri — é o seu eunuco Verme Cinzento e os carecas. Quer recebê-los? — Sim. — Dany percebeu que tinha o cabelo desarrumado e a roupa de cama toda enrolada. — Me ajude a vestir. Quero também um copo de vinho. Para me limpar a cabeça. — Para me afogar o sonho. Conseguia ouvir os suaves sons de soluços. — De quem é aquele choro? — Da sua escrava Missandei. — Jhiqui tinha uma vela na mão. — Da minha criada. Não tenho escravos. — Dany não compreendia. — Porque está ela chorando? — Por aquele que foi seu irmão — disse-lhe Irri. — O resto ouviu das bocas de Skahaz, Reznak e Verme Cinzento quando foram trazidos à sua presença. Dany soube que as notícias eram más antes de uma palavra ser proferida. Um relance à feia cara do Tolarrapada bastou para lhe dizer isso. — Os Filhos da Harpia? Skahaz confirmou com a cabeça. Tinha uma expressão severa na boca. — Quantos mortos? Reznak torceu as mãos. — N-nove, Magnificência. Foi trabalho sujo e maligno. Uma noite terrível, terrível. Nove. A palavra era um punhal no seu coração. Todas as noites, a guerra de sombras era de novo travada sob as pirâmides de degraus de Meereen. Todas as manhãs, o Sol se erguia sobre novos cadáveres, com harpias desenhadas em sangue nos tijolos a seu lado. Qualquer liberto que se tornasse muito próspero ou muito expressivo estava marcado para morrer. Mas nove numa noite... Aquilo a assustou. — Conte-me. Verme Cinzento respondeu. — Os seus criados foram emboscados enquanto percorriam os tijolos de Meereen para manter a paz de Vossa Graça. Todos estavam bem armados, com lanças, escudos e espadas curtas. Caminhavam dois a dois, e dois a dois morreram. Os seus criados Punho Negro e Cetherys foram mortos por dardos de besta no Labirinto de Mazdhan. Os seus criados Mossador e Duran foram
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    Mensagem  Admin Qui Jul 19, 2012 3:03 pm

    esmagados por pedras caídas por baixo da mura¬lha do rio. Os seus criados Eladon Cabelo-Dourado e Lança Leal foram envenenados numa taberna onde paravam habitualmente todas as noites quando faziam as rondas. Mossador. Dany cerrou a mão num punho. Missandei e os irmãos tinham sido levados da sua casa por atacantes das Ilhas Basilisco, e vendidos para a escravatura em Astapor. Jovem como era, Missandei mostrara tal dom para as línguas que os Bons Mestres tinham feito dela uma escriba. Mossador e Marselen não haviam tido tanta sorte. Tinham sido castrados e transformados em Imaculados. — Algum dos assassinos foi capturado? — Os seus criados prenderam o dono da taberna e as filhas dele. Afirmam ignorância e suplicam misericórdia. — Todos eles afirmam ignorância e suplicam misericórdia. — Dê-os ao Tolarrapada. — Skahaz, nos mantém separados uns dos outros e interroge-os. — Será feito, Vossa Reverência. Quer que os interrogue suavemente ou com dureza? — Suavemente, para começar. Ouve as histórias que eles contam e que nomes lhe fornecem. Pode ser que não tenham desempenhado nenhum papel nisto. — Hesitou. — O nobre Reznak disse nove. Quem mais? — Três libertos, assassinados em suas casas — disse o Tolarrapada. — Um prestamista, um sapateiro e a harpista Rylona Rhee. Cortaram-lhe os dedos antes de a matarem. A rainha estremeceu. Rylona Rhee tocara harpa tão docemente como a Donzela. Quando fora escrava em Yunkai, tocara para todas as famílias bem-nascidas da cidade. Em Meereen tornara-se uma líder entre os libertos de Yunkai, a voz deles nos conselhos de Dany. — Não temos cativos além desse vendedor de vinho? — Nenhum, dói a este confessar. Pedimos-vos perdão. Misericórdia, pensou Dany. Eles terão a misericórdia do dragão. — Skahaz, mudei de ideias. Interroga o homem com dureza. — Podia fazê-lo. Ou podia interrogar as filhas com dureza enquanto o pai vê. Isso iria arrancar-lhe alguns nomes. — Faz o que achar melhor, mas traga-me nomes. — A sua fúria era um fogo na barriga. — Não quero mais Imaculados massacrados. — Verme Cinzento, recolhe os seus homens nas casernas. De hoje em diante, eles que guardem as minhas muralhas, os meus portões e a minha pessoa. Deste dia em diante, caberá aos meereeneses manter a paz em Meereen. Skahaz, cria-me uma nova patrulha, composta em partes iguais de tolarrapadas e libertos. — Às suas ordens. Quantos homens? — Tantos quantos julgue necessário. Reznak mo Reznak soltou um arquejo.
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    Mensagem  Admin Qui Jul 19, 2012 3:03 pm

    — Magnificência, de onde virá o dinheiro para pagar salários a tantos homens? — Das pirâmides. Chame-lhes um imposto de sangue. Quero cem peças de ouro de cada pirâmide por cada liberto que os Filhos da Harpia mataram. — Aquilo trouxe um sorriso à cara do Tolarrapada. — Assim será feito — disse — mas Vossa Radiância deve saber que os Grandes Mestres de Zhak e Merreq estão fazendo preparativos para abandonar as suas pirâmides e sair da cidade. Daenerys estava mortalmente farta de Zhak e Merreq; estava farta de todos os meereeneses, tanto grandes como pequenos. — Deixe-os ir, mas assegura-te de que não levam mais do que a roupa que têm vestida. Assegure-se de que todo o seu ouro fique aqui conosco. E as suas reservas de comida também. — Magnificência — murmurou Reznak mo Reznak — não podemos ter certeza de que esses grandes nobres pretendem juntar-se aos seus inimigos. É mais provável que estejam simplesmente dirigindo-se para as suas propriedades nos montes. — Nesse caso não se importarão que mantenhamos o seu ouro a salvo. Nos montes não há nada para comprar. — Têm medo pelos seus filhos — disse Reznak. Sim, pensou Daenerys, e eu também. — Teremos também de mante-los a salvo. Quero duas crianças de cada um deles. E das outras pirâmides também. Um rapaz e uma moça. — Reféns — disse Skahaz, feliz. — Pajens e copeiras. Se os Grandes Mestres levantarem objeções, explique-lhes que em Westeros é uma grande honra que uma criança seja escolhida para servir na corte. — Deixou o resto por dizer. — Vá e faça o que eu ordenei. Tenho os meus mortos a chorar. Quando regressou aos seus aposentos no topo da pirâmide, encontrou Missandei chorando baixinho na sua enxerga, tentando abafar o melhor possível o som dos soluços. — Vem dormir comigo — disse ela à pequena escriba. — A alvorada não chegará ainda durante horas. — Vossa Graça é bondosa comigo. — Missandei enfiou-se entre os lençóis. — Ele era um bom irmão. Dany envolveu a menina nos braços. — Fala-me dele. — Ensinou-me a subir a uma árvore quando éramos pequenos. Conseguia apanhar peixe com as mãos. Uma vez fui encontrá-lo dormindo no nosso jardim com cem borboletas em cima dele. Parecia tão lindo naquela manhã, esta... Quer dizer, eu amava-o. — Tal como ele te amava. — Dany afagou o cabelo da menina.
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    Mensagem  Admin Qui Jul 19, 2012 3:04 pm

    — Basta dizer, querida, e eu mando-lhe embora deste lugar horrível. Arranjarei uma maneira de encontrar um navio, e mando-lhe para casa. Para Naath. — Preferia ficar com você. Em Naath teria medo. E se os caçadores de escravos voltassem? Sinto-me segura quando estou contigo. Segura. A palavra fez os olhos de Dany encherem-se de lágrimas. — Quero manter-lhe segura. — Missandei não passava de uma criança. Com ela, sentia-se como se também pudesse ser uma criança. — Nunca ninguém me manteve segura quando eu era pequena. Bem, Sor Willem o fez, mas depois morreu, e Viserys... Eu quero proteger-te, mas... É tão difícil. Ser forte. Nem sempre sei o que devo fazer. Mas tenho de saber. Sou tudo o que eles têm. Sou a rainha... a... a... —... mãe — sussurrou Missandei. — Mãe de dragões. — Dany estremeceu. — Não. Mãe de todos nós. — Missandei abraçou-a com mais força. — Vossa Graça devia dormir. A alvorada chegará em breve, e a corte também. — Vamos as duas dormir e sonhar com dias melhores. Feche os olhos. Quando ela o fez, Dany beijou-lhe as pálpebras e a fez soltar um risinho. Porém, os beijos chegavam mais facilmente do que o sono. Dany fechou os olhos e tentou pensar em casa, em Pedra do Dragão e em Porto Real e em todos os outros lugares de que Viserys lhe falara, numa terra mais gentil do que aquela... mas os seus pensamentos não paravam de regressar à Baía dos Escravos, como se fossem navios presos por um vento amargo. Quando Missandei adormeceu profundamente, Dany soltou-se dos seus braços e saiu para o ar que antecedia a alvorada, para ir se encostar ao frio parapeito de tijolos e observar a cidade. Mil telhados estendiam-se abaixo dela, pintados em tons de marfim e prata pela Lua. Em algum lugar, sob esses telhados, os Filhos da Harpia estavam reunidos congeminando maneiras de a matar e a todos os que a amavam e de voltarem a pôr os seus filhos a ferros. Em algum lugar, lá em baixo, uma criança faminta chorava por leite. Em algum lugar, uma velha jazia, morrendo. Em algum lugar, um homem e uma donzela abraçavam-se e remexiam as roupas um do outro com mãos ávidas. Mas, ali em cima, só havia os reflexos do luar em pirâmides e fossos, sem qualquer sugestão do que haveria por baixo. Ali em cima só havia ela, sozinha. Era do sangue do dragão. Podia matar os Filhos da Harpia, e os filhos dos filhos, e os filhos dos filhos dos filhos. Mas um dragão não podia alimentar uma criança com fome nem atenuar a dor de uma moribunda. E quem se atreveria algum dia a amar um dragão? Deu por pensar uma vez mais em Daario Naharis, Daario com o seu dente de ouro e a barba em tridente, as mãos fortes repousando nos cabos do arakh e punhal, cabos trabalhados em ouro na forma de mulheres nuas. No dia
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    Mensagem  Admin Qui Jul 19, 2012 3:04 pm

    em que se despedira dela, enquanto ela lhe dizia adeus, ele esfregara levemente os cabos com o polegar, de um lado para o outro. Estou com ciúmes do cabo de uma espada, compreendera, de mulheres feitas de ouro. Enviá-lo aos Homens Ovelha fora sensato. Ela era uma rainha, e Daario Naharis não era do material de que se faziam os reis. — Já foi há tanto tempo — dissera ainda no dia anterior a Sor Barristan. — E se Daario me traiu e se passou para os meus inimigos? — Conhecerás três traições. — E se conheceu outra mulher, uma princesa dos lhazarenos? Dany sabia que o velho cavaleiro nem gostava de Daario nem confiava nele. Mesmo assim, dera uma resposta galante. — Não há mulher mais adorável do que Vossa Graça. Só um cego poderia acreditar noutra coisa, e Daario Naharis não é cego. Pois não, pensara. Os seus olhos são de um azul profundo, quase púrpura, e o seu dente de ouro cintila quando me sorri. Mas Sor Barristan tinha a certeza de que ele regressaria. Dany só podia rezar para que tivesse razão. Um banho vai ajudar a acalmar-me. Caminhou descalça sobre a relva até à sua lagoa de terraço. A água pareceu-lhe fria, dando-lhe pele de galinha. Peixinhos mordiscaram-lhe os braços e as pernas. Fechou os olhos e flutuou. Uma suave restolhada a fez voltar a abri-los. Sentou-se com um pequeno esparrinhar de água. — Missandei? — chamou. — Irri? Jhiqui? — Elas dormem — foi a resposta. Estava uma mulher em pé sob o diospireiro, vestida com uma veste com capuz que roçava pela relva. Sob o capuz, a sua cara parecia dura e brilhante. Ela está usando uma máscara, soube Dany, uma máscara de madeira com acabamentos de laque vermelho-escuro. — Quaithe? Estou sonhando? — beliscou a orelha e encolheu-se com a dor. — Sonhei com você na Balerion quando viemos para Astapor. Não sonhou. Nessa altura ou agora. — O que está fazendo aqui? Como passou pelos meus guardas? — Vim por outro caminho. Os seus guardas não me viram. — Se gritar eles a matarão. — Jurarão que eu não estou aqui. — Está aqui? — Não. Escute-me, Daenerys Targaryen. As velas de vidro estão ardendo. Em breve, chegará à égua branca e depois dela virão os outros. Lula gigante e chama escura, leão e grifo, o filho do sol e o dragão do pantomineiro. Não confie em nenhum deles. Lembre-se dos Imortais. Tenha cautela com o senescal perfumado. — Reznak? Porque haveria de temê-lo? — Dany ergueu-se da lagoa. Água escorreu-lhe ao longo das pernas e pele de galinha cobriu-lhe os braços no
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    Mensagem  Admin Qui Jul 19, 2012 3:04 pm

    ar frio da noite. — Se tem algum aviso para mim, fale com clareza. O que quer de mim, Quaithe? O luar brilhou nos olhos da mulher. — Quero mostrar-lhe o caminho. — Eu lembro-me do caminho. Vou para norte para ir para sul, para leste para ir para oeste, para trás para ir em frente. E para tocar a luz tenho de passar sob a sombra. — Escorreu a água do seu cabelo prateado. — Estou meio farta de adivinhas. Em Qarth era uma pedinte, mas aqui sou uma rainha. Ordeno-vos... — Daenerys. Lembre-se dos Imortais. Lembre-se de quem és. — O sangue do dragão. — Mas os meus dragões estão rugindo nas trevas. — Eu lembro-me dos Imortais. Chamaram-me filha de três. Prometeram-me três montarias, três fogos e três traições. Uma por sangue e uma por ouro e uma por... — Vossa Graça? — Missandei estava em pé à porta do quarto da rainha, com uma lanterna na mão. — Com quem está falando? Dany olhou de relance para trás, para o diospireiro. Não estava alí mulher alguma. Nenhuma veste de capuz, nenhuma máscara de laque, nenhuma Quaithe. Uma sombra. Uma memória. Ninguém. Ela era do sangue do dragão, mas Sor Barristan avisara-a de que nesse sangue havia uma mácula. Será possível que esteja enlouquecendo? Em tempos tinham chamado louco ao seu pai. — Estava rezando — disse à mulher naatina. — Em breve haverá luz. É melhor que eu coma qualquer coisa, antes da corte. De novo só, Dany deu uma volta completa à pirâmide na esperança de encontrar Quaithe, passando pelas árvores queimadas e terra calcinada onde os seus homens tinham tentado capturar Drogon. Mas o único som era o vento nas árvores de fruto, e as únicas criaturas nos jardins eram algumas pálidas mariposas. Missandei regressou com um melão e uma tigela de ovos cozidos, mas Dany descobriu que não tinha apetite. Enquanto o céu clareava e as estrelas se desvaneciam uma por uma, Irri e Jhiqui ajudaram-na a envergar um tokar de seda violeta fimbriado a ouro. Quando Reznak e Skahaz apareceram, deu-se por olhá-los de esguelha, com as três traições em mente. Cautela com o senescal perfumado. Farejou desconfiada Reznak mo Reznak. Podia ordenar ao Tolarrapada que o prendesse e o sujeitasse a interrogatório. Poderia isso antecipar-se à profecia? Ou iria outro traidor qualquer tomar o seu lugar? As profecias são traiçoeiras, lembrou-se, e Reznak pode não ser mais do que aquilo que aparenta ser. No salão púrpura, Dany foi encontrar o banco de ébano sob uma grande pilha de almofadas de cetim. A cena trouxe-lhe um sorriso tristonho aos lábios. Obra de Sor Barristan, compreendeu. O velho cavaleiro era um bom homem,
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    Mensagem  Admin Qui Jul 19, 2012 3:04 pm

    mas por vezes muito literal. Foi só um gracejo, sor, pensou, mas sentou-se em uma das almofadas. A sua noite sem dormir depressa se fez sentir. Não muito depois se viu combatendo um bocejo enquanto Reznak pairava sobre as guildas de artesãos. Parecia que os pedreiros estavam irados com ela. Os assentadores de tijolos também. Certos antigos escravos andavam cortando pedra e assentando tijolo, roubando trabalho tanto aos empregados da guilda como aos mestres. — Os libertos trabalham a um preço muitoo baixo, Magnificência — disse Reznak. — Alguns chamam-se trabalhadores, ou mesmo mestres, títulos que por direito pertencem apenas aos artesãos das guildas. Os pedreiros e os assentadores de tijolo peticionam respeitosamente a Vossa Reverência para que proteja os seus antigos direitos e costumes. — Os libertos trabalham a preço baixo porque têm fome — fez Dany notar. — Se os proibir de cortar pedra ou assentar tijolo, os fabricantes de velas, os tecelões e os ourives depressa me virão bater à porta pedindo que os exclua também desses ofícios. — Refletiu por um momento. — Que seja escrito que de hoje em diante só membros das guildas sejam autorizados de se chamar trabalhadores ou mestres... Desde que as guildas abram a entrada a quaisquer libertos que consiga demonstrar possuir as aptidões necessárias. — Assim será proclamado — disse Reznak. — Aprazeria a Vossa Reverência escutar o nobre Hizdahr zo Loraq? Será que ele nunca vai admitir a derrota? — Ele que avance. Naquele dia, Hizdahr não vinha vestido com um tokar. Em vez disso usava uma simples veste cinzenta e azul. Também estava rapado. Fez a barba e cortou o cabelo, percebeu-se Dany. O homem não se tornara tolarrapada, não propriamente, mas pelo menos aquelas suas absurdas asas tinham desaparecido. — O seu barbeiro prestou-lhe bom serviço, Hizdahr. Espero que tenha vindo mostrar-me o trabalho dele e não me atormentar mais sobre as arenas de luta. Ele fez uma profunda mesura. — Vossa Graça, temo que tenha de fazê-lo. Dany fez uma careta. Nem a sua própria gente lhe dava descanso com aquele assunto. Reznak mo Reznak sublinhava o dinheiro que se poderia obter através dos impostos. A Graça Verde dizia que reabrir as arenas agradaria aos deuses. O Tolarrapada sentia que isso lhe conquistaria apoio contra os Filhos da Harpia. Deixe-os lutar — grunhia Belwas, o Forte, que foi em tempos um campeão nas arenas. Sor Barristan sugeria em alternativa um torneio; os seus órfãos podiam cavalgar contra anéis e combater um corpo-a-corpo com armas embotadas, dizia, uma sugestão que Dany sabia ser tão impraticável como bem intencionada. Era sangue que os meereeneses ansiavam por ver, não perícia. Se
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    Mensagem  Admin Qui Jul 19, 2012 3:04 pm

    assim não fosse, os escravos combatentes teriam usado armaduras. Só a pequena escriba Missandei parecia partilhar das incertezas da rainha. — Recusei-lhe por seis vezes — fez Dany lembrar a Hizdahr. — Vossa Radiância tem sete deuses, portanto, talvez olhe a minha sétima súplica com favor. Hoje não venho sozinho. Aceite escutar os meus amigos? São também sete. — Apresentou-os um por um. — Este é Khrazz. Esta é Barsena Cabelopreto, sempre valente. Estes são Camarron da Contagem e Goghor, o Gigante. Este é o Gato Malhado, e este o Destemido Ithoke. Por fim Belaquo Quebra-Ossos. Vieram somar as suas vozes à minha, e pedir a Vossa Graça para permitir que as arenas de luta reabram. Dany conhecia os sete dele, de nome mesmo que não de vista. Todos tinham estado entre os mais afamados dos escravos de combate de Meereen... e tinham sido os escravos de combate, libertados das grilhetas pelas suas ratazanas de esgoto, que tinham liderado a revolta que a levara à conquista da cidade. Devia-lhes uma dívida de sangue. — Escutar-lhes-ei — concedeu. Um por um, todos lhe pediram para deixar que as arenas de combate reabrissem. — Porquê? — perguntou depois de Ithoke terminar. — Vocês já não são escravos, condenados a morrer segundo o capricho de um amo. Eu libertei-os. Porque haveriam de desejar terminar as suas vidas nas areias vermelhas? — Eu treinei desde os três anos — disse Goghor, o Gigante. — Mato desde os seis. Mãe dos Dragões diz: eu sou livre. Porque não livre para lutar? — Se é lutar que queres, lute por mim. Ajuramentem as suas espadas aos Homens da Mãe, aos Irmãos Livres ou aos Escudos Vigorosos. Ensine a outros libertos como combater. Goghor abanou a cabeça. — Antes, eu luto para um mestre. Você diz: lutae para você. Eu digo: lute para mim. — O enorme homem baseu no peito com um punho grande como um presunto. — Por ouro. Por glória. — Goghor fala por todos nós. — O Gato Malhado usava uma pele de leopardo sobre um ombro. — Da última vez que fui vendido, o preço foi trezentas mil honras. Quando era escravo dormia em peles e comia carne de primeira. Agora que sou livre, durmo em palha e como peixe salgado, quando consigo arranjá-lo. Hizdahr jura que os vencedores partilharão metade de todo o dinheiro recolhido à porta — disse Khrazz. — Metade, jura ele, e Hizdahr é um homem de honra. Não, é um homem de astúcia. Daenerys sentiu-se encurralada. — E os perdedores? O que receberão eles? — Os seus nomes serão gravados nos Portões do Destino entre os outros valentes caídos — declarou Barsena. Dizia-se que durante oito anos ela
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    Mensagem  Admin Qui Jul 19, 2012 3:05 pm

    matara todas as outras mulheres enviadas contra si. — Todos os homens têm de morrer, e as mulheres também... mas nem todos serão recordados. Dany não tinha resposta a dar àquilo. Se for realmente isto que o meu povo deseja terei eu o direito de lhes negar? Esta cidade era deles antes de ser minha, e são as suas próprias vidas que querem malbaratar. — Levarei em conta tudo o que disseram. Obrigada pelos seus conselhos. — Levantou-se. — Reataremos amanhã. — Ajoelhem todos para Daenerys Filha da Tormenta, a Não-Queimada, Rainha de Meereen, Rainha dos Ândalos, dos Roinares e dos Primeiros Homens, Khaleesi do Grande Mar de Erva, Quebradora de Correntes e Mãe de Dragões — gritou Missandei. Sor Barristan escoltou-a de volta aos seus aposentos. — Conte-me uma história, sor — disse Dany enquanto subiam. — Uma história de valor com final feliz. — Sentia-se necessitada de finais felizes. — Conte-me como escapaste ao Usurpador. — Vossa Graça. Não há valor em fugir para conservar a vida. Dany sentou-se numa almofada, cruzou as pernas, e ergueu os olhos para ele. — Por favor. Foi o Jovem Usurpador que o demitiu da Guarda Real... — Joffrey, sim. Apresentaram a minha idade como motivo, embora a verdade fosse outra. O rapaz queria um manto branco para o seu cão, Sandor Clegane, e a mãe queria que o Regicida fosse o seu Senhor Comandante. Quando me disseram, eu... eu despi o manto como me ordenaram, atirei a espada aos pés de Joffrey e falei insensatamente. — O que disseste? — A verdade... mas a verdade nunca foi bem-vinda naquela corte. Saí da sala do trono de cabeça erguida, embora não soubesse para onde iria. Não tinha um lar que não fosse a Torre da Espada Branca. Sabia que os meus primos arranjariam lugar para mim em Solar de Colheitas, mas não tinha qualquer desejo de fazer cair sobre eles o desprazer de Joffrey. Estava juntando as minhas coisas quando me ocorreu que foi eu a causar que aquilo me acontecesse, por aceitar o perdão de Robert. Ele foi um bom cavaleiro, mas um mal rei, porque não tinha direito ao trono em que se sentava. Foi nesse momento que compreendi que, para me redimir, teria de encontrar o verdadeiro rei e de servi-lo lealmente com todas as forças que ainda me restavam. — O meu irmão Viserys. — Era essa a minha intenção. Quando cheguei aos estábulos, os de manto dourado tentaram capturar-me. Joffrey oferecera-me uma torre onde morrer, mas eu desdenhara essa oferta, por isso agora pretendia oferecer-me uma masmorra. Foi o próprio comandante da Patrulha da Cidade que me enfrentou, encorajado pela minha bainha vazia, mas ele só tinha três homens consigo e eu ainda possuía a minha faca. Abri a cara de um homem quando ele me pôs as mãos em cima, e atropelei os outros à cavalo. Enquanto o esporeava na direção
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    Mensagem  Admin Qui Jul 19, 2012 3:05 pm

    dos portões, ouvi Janos Slynt gritar-lhes para irem atrás de mim. Depois de sair da Fortaleza Vermelha, as ruas estavam congestionadas; se assim não fosse poderia ter escapado sem problemas. Em vez disso, apanharam-me junto do Portão do Rio. Os homens de mantos dourados que me tinham perseguido desde o castelo gritaram àqueles que estavam no portão para me pararem, de modo que cruzaram as lanças para me obstruir o caminho. — E você sem espada? Como foi que passaou por eles? — Um verdadeiro cavaleiro vale dez guardas. Os homens ao portão foram apanhados de surpresa. Atropelei um deles, arranquei-lhe a lança das mãos, e espetei-a na garganta do perseguidor mais próximo. O outro desistiu depois de eu atravessar o portão, portanto, esporeei o cavalo pondo-o a galope e cavalguei implacavelmente ao longo do rio até a cidade ficar perdida de vista atrás de mim. Nessa noite troquei o cavalo por um punhado de moedas e uns trapos, e na manhã seguinte juntei-me à corrente de plebeus que se dirigia a Porto Real. Tinha saído pelo Portão da Lama, e regressei através do Portão dos Deuses, com sujeira na cara, a barba por fazer e nenhuma arma além de um bastão de madeira. Com roupa de tecido grosseiro e botas cobertas de lama, era apenas mais um velho qualquer fugindo da guerra. Os homens de mantos dourados receberam um veado de mim e deixaram-me entrar. Porto Real estava repleta de plebeus que tinham vindo em busca de refúgio contra os combates. Perdi-me entre eles. Tinha alguma prata, mas precisava dela para pagar a passagem para o outro lado do mar estreito, por isso, dormi em septos e vielas e tomei as refeições em casas de pasto. Deixei a barba crescer e ocultei-me na idade. No dia em que o Lorde Stark perdeu a cabeça eu estava lá, observando. Depois entrei no Grande Septo e agradeci aos sete deuses por Joffrey ter me tirado o manto. — O Lorde Stark era um traidor que teve um fim de traidor. — Vossa Graça — disse Selmy — Eddard Stark desempenhou um papel na queda do seu pai, mas não lhe tinha má vontade. Quando o eunuco Varys nos disse que estáva grávida, Robert quis que fôsse morta, mas o Lorde Stark interveio contra a ideia. Em vez de sancionar o assassato de crianças, disse a Robert para arranjar outra Mão. — Esqueceu-se da Princesa Rhaenys e do Príncipe Aegon? — Nunca. Isso foi obra dos Lannister, Vossa Graça. — Lannister ou Stark, qual é a diferença? Viserys costumava chamar-lhes os cães do Usurpador. Se uma criança for atacada por uma matilha de cães, será que importa qual deles lhe rasga a goela? Todos os cães são igualmente culpados. A culpa... — A palavra ficou-lhe presa na garganta. Hazzea, pensou, e de súbito ouviu-se a dizer: — Tenho de ver o fosso — numa voz tão sumida como um sussurro de criança. — Leve-me lá abaixo, sor, por favor. Um bruxuleio de desaprovação cruzou a cara do velho, mas não era seu costume questionar a sua rainha. — Às suas ordens.
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    Mensagem  Admin Qui Jul 19, 2012 3:05 pm

    As escadas dos criados eram a maneira mais rápida de descer; não eram grandiosas, mas íngremes, diretas e estreitas, ocultas nas paredes. Sor Barristan levou uma lanterna, para que ela não caísse. Tijolos de vinte cores diferentes comprimiam-se, bem perto, à volta deles, desvanecendo-se para cinzento e negro para lá da luz da lanterna. Por três vezes passaram por guardas Imaculados, em pé como se tivessem sido esculpidos em pedra. O único som era o suave raspar dos pés nos degraus. Ao nível do chão, a Grande Pirâmide de Meereen era um local silencioso, cheio de poeira e sombras. As suas paredes exteriores tinham nove metros de espessura. Lá dentro, os sons ecoavam em arcos de tijolos multicoloridos, e entre os estábulos, cocheiras e armazéns. Passaram sob três enormes arcos, desceram uma rampa iluminada por archotes até às caves por baixo da pirâmide, passando por cisternas, masmorras e câmaras de tortura onde escravos tinham sido açoitados, esfolados e queimados com rubros ferros em brasa. Por fim, chegaram a um par de enormes portas de ferro com dobradiças enferrujadas, guardadas por Imaculados. Às suas ordens, um apresentou uma chave de ferro. A porta abriu-se, com as dobradiças guinchando. Daenerys Targaryen entrou no quente coração das trevas e parou à beira de um profundo fosso. Doze metros mais abaixo, os seus dragões ergueram as cabeças. Quatro olhos arderam através das sombras; dois de ouro derretido e dois de bronze. Sor Barristan pegou-lhe pelo braço. — Mais perto, não. — Julga que eles fariam mal a mim? — Não sei, Vossa Graça, mas preferia não arriscar a sua pessoa para saber a resposta. Quando Rhaegal rugiu, um jorro de chamas amarelas transformou a escuridão em dia durante meio segundo. O fogo lambeu as paredes e Dany sentiu o calor na cara, como o sopro vindo de um forno. Do outro lado do fosso, as asas de Viserion desdobraram-se, agitando o ar parado. Tentou voar até ela, mas as correntes retesaram-se quando se ergueu e fizeram-no cair sobre a barriga. Elos tão grandes como o punho de um homem prendiam-lhe as patas ao chão. A coleira de ferro que lhe envolvia o pescoço estava presa à parede atrás de si. Rhaegal usava correntes iguais. À luz da lanterna de Selmy, as suas escamas reluziam como jade. Fumo ergueu-se de entre os seus dentes. Havia ossos espalhados pelo chão a seus pés, fendidos, carbonizados e lascados. O ar era desconfortavelmente quente e cheirava a enxofre e a carne esturricada. — Estão maiores. — A voz de Dany ecoou nas chamuscadas paredes de pedra. Uma gota de suor escorreu-lhe pela testa e caiu-lhe no seio. — É verdade que os dragões nunca param de crescer? — Se tiverem comida suficiente e espaço para crescer. Mas aqui acorrentados...
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    Mensagem  Admin Qui Jul 19, 2012 3:05 pm

    Os Grandes Mestres tinham usado o fosso como prisão. Era suficientemente grande para conter quinhentos homens... e mais do que amplo para dois dragões. Mas durante quanto tempo? O que acontecerá quando se tornarem grandes demais para o fosso? Irão virar-se um contra o outro com chamas e garras? Tornarão-se enfermiços e fracos com flancos enrugados e asas atrofiadas? Os seus fogos se apagarão antes do fim? Que tipo de mãe deixa os filhos apodrecer nas trevas? Se olhar para trás estou perdida, pensou Dany... mas como podia não olhar para trás? Devia ter visto que isto se aproximava. Terei sido assim tão cega ou será que fechei voluntariamente os olhos, para não ter de ver o preço do poder? Viserys contara-lhe todas as histórias quando era pequena. Ele adorava falar de dragões. Dany sabia como Harrenhal caíra. Conhecia o Campo de Fogo e a Dança dos Dragões. Um dos seus antepassados, o terceiro Aegon, vira a sua própria mãe devorada pelo dragão do tio. E havia incontáveis canções sobre aldeias e reinos que viviam aterrorizados por dragões até que algum corajoso matador de dragões os salvava. Em Astapor, os olhos do escravagista tinham derretido. Na estrada para Yunkai, quando Daario despejara as cabeças de Sallor, o Calvo, e de Prendahl na Ghezn a seus pés, os seus filhos tinham-nas transformado num banquete. Os dragões não tinham medo dos homens. E um dragão suficientemente grande para se empanturrar de ovelhas podia capturar uma criança com igual facilidade. O nome dela fora Hazzea. Tinha quatro anos. A menos que o pai tivesse mentido. Ele podia ter mentido. Ninguém viu o dragão além dele. A sua prova era ossos queimados, mas ossos queimados nada provavam. Ele próprio podia ter matado a menininha, queimando-a depois. O Tolarrapada afirmava que não teria sido o primeiro pai a livrar-se de uma filha indesejada. Os Filhos da Harpia podiam tê-lo feito e ter feito com que parecesse obra do dragão para levar a cidade a odiar-me. Dany desejava acreditar nisso... mas, se assim fosse, porque teria o pai de Hazzea esperado até que o salão de audiências estivesse quase vazio para avançar? Se o seu objetivo tivesse sido inflamar os meereeneses contra ela, teria contado a sua história quando o salão estivesse cheio de ouvidos para ouvir. O Tolarrapada incentivara-a a mandar matar o homem. Pelo menos lhe arranque a língua. A mentira deste homem podia destruir-nos a todos, Magnificência. — Mas Dany decidira pagar o preço de sangue. Ninguém podia- lhe dizer quanto valia uma filha, portanto definira-o como cem vezes o valor de um carneiro. Eu lhe devolveria Hazzea se pudesse — dissera ao pai — mas há coisas que estão para lá até do poder de uma rainha. Os ossos dela jazerão no Templo das Graças, e cem velas arderão dia e noite em sua memória. Volta à minha presença todos os anos no dia do nome dela, e aos seus outros nada faltará... mas esta história não pode nunca mais voltar a cruzar-te os lábios.
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    Mensagem  Admin Qui Jul 19, 2012 3:05 pm

    — Os homens vão fazer perguntas — dissera o pai enlutado. — Vão-me perguntar onde está a Hazzea e como foi que ela morreu. — Ela morreu da mordida de uma cobra — insistira Reznak mo Reznak. — Um lobo voraz levou-a. Foi acometida de uma doença súbita. Diz-lhes o que quiser, mas nunca fales de dragões. As garras de Viserion esgravataram nas pedras, e as enormes correntes chacoalharam quando voltou a tentar chegar até ela. Quando não conseguiu, soltou um rugido, torceu a cabeça para trás o máximo que lhe foi possível e cuspiu chamas douradas sobre a parede atrás dele. Quanto tempo faltará até que o fogo que sopra seja suficientemente quente para rachar pedra e derreter ferro? Tempos atrás, não muito distantes, o dragão seguira empoleirado no seu ombro com a cauda enrolada no seu braço. Tempos atrás, ela alimentara-o à mão com porções de carne esturricada. Fora o primeiro a ser acorrentado. Fora à própria Daenerys a levá-lo para o fosso e a fechá-lo lá dentro com vários bois. Depois de se empanturrar ficara sonolento. Tinham-no acorrentado enquanto dormia. Rhaegal fora mais difícil. Talvez conseguisse ouvir o irmão enfurecendo-se no fosso, apesar das paredes de tijolo e pedra que se interpunham entre ambos. No fim tinham tido de cobri-lo com uma rede de pesada malha de ferro enquanto ele apanhava sol no terraço, e o dragão lutara com tal ferocidade que tinham demorado três dias a levá-lo pelas escadas dos criados, contorcendo-se e tentando morder. Seis homens tinham ficado queimados na luta. E Drogon... A sombra alada, chamara-lhe o pai enlutado. Era o maior dos três de Dany, o mais feroz, o mais violento, com escamas negras como a noite e olhos que eram como poços de fogo. Drogon caçava até bem longe, mas quando estava saciado gostava de se aquecer ao sol no topo da Grande Pirâmide, onde, em tempos, se erguera a harpia de Meereen. Por três vezes o tinham tentado apanhar aí, e por três vezes tinham falhado. Duas dezenas dos seus homens mais corajosos tinham-se posto em risco tentando capturá-lo. Quase todos tinham sofrido queimaduras, e quatro tinham morrido. A última vez que vira Drogon fora ao pôr-do-sol do dia da terceira tentativa. O dragão negro estivera voando para norte por cima do Shahazadhan, na direção das altas ervas do mar dothraki. Não regressara. Mãe de dragões, pensou Daenerys. Mãe de monstros. O que foi que deixei à solta no mundo? Sou uma rainha, mas o meu trono é feito de ossos queimados e está assentado em areias movediças. Sem dragões, como podia ter esperança de manter o controle de Meereen, já para não falar de reconquistar Westeros? Sou do sangue do dragão, pensou. Se eles são monstros, eu também sou.
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:41 pm

    Fedor 193



    A ratazana guinchou quando a mordeu, esperneando violentamente em suas mãos, num frenesi para fugir. A barriga era a parte mais mole. Rasgou a carne doce, com o sangue quente escorrendo pelos lábios. Era tão bom que lhe trouxe lágrimas aos olhos. A sua barriga trovejou e ele engoliu. À terceira dentada a ratazana parou de lutar, e ele estava sentindo-se quase satisfeito. Então ouviu o som de vozes do outro lado da porta da masmorra. Aquietou-se de imediato, temendo até mastigar. A sua boca estava cheia de sangue, carne e pelos, mas não se atrevia a cuspir ou a engolir. Escutou aterrorizado, duro como pedra, o raspar de botas e o tilintar de chaves de ferro. Não, pensou, não, por favor, deuses, agora não, agora não. Levara tanto tempo até apanhar a ratazana. Se me apanharem agora com ela vão leva-la e depois vão contar, e o Lorde Ramsay vai me magoar. Sabia que devia esconder a ratazana, mas tinha tanta fome. Tinham-se passado dois dias desde que comera, ou talvez três. Ali em baixo, no escuro, era difícil saber. Apesar dos seus braços e pernas estarem magros como juncos, tinha a barriga inchada e oca e doía-lhe tanto que descobrira que não conseguia dormir. Sempre que fechava os olhos dava se lembrar-se da Senhora Hornwood. Depois do casamento de ambos, o Lorde Ramsay a trancara numa torre e a matara de fome. No fim, ela comera os próprios dedos. Agachou-se a um canto da cela, agarrando a presa sob o queixo. Sangue escorreu pelos cantos da boca enquanto mordiscava a ratazana com o que restava dos seus dentes, tentando devorar o máximo da carne morna que pudesse antes de a cela ser aberta. A carne era fibrosa, mas tão rica que pensou que talvez fosse ficar mal disposto. Mastigou e engoliu, tirando pequenos ossos dos buracos nas gengivas de onde dentes tinham sido arrancados. Doía mastigar, mas ele tinha tanta fome que não conseguia parar. Os sons estavam ficando mais fortes. Por favor, deuses, ele não vem me buscar, rezou, arrancando uma das patas da ratazana. Passara-se muito tempo desde que alguém viera buscá-lo. Havia outras celas, outros prisioneiros. Às vezes ouvia-os gritando, mesmo através das espessas paredes de pedra. São sempre as mulheres que gritam mais alto. Chupou a carne crua e tentou cuspir o osso da pata, mas este se limitou a escorregar sobre o lábio inferior e a emaranhar-se na barba. Vai embora, rezou, vai embora, passa por mim, por favor, por favor. Mas os passos pararam precisamente quando eram mais ruidosos, e as chaves tilintaram mesmo junto da porta. A ratazana caiu dos seus dedos. Limpou os dedos ensanguentados nas calças.
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:41 pm

    — Não — resmungou — nããããão. — Os seus calcanhares procuraram na palha quando tentou se empurrar para o canto, para dentro das paredes frias e úmidas de pedra. O som da tranca girando foi o mais terrível de todos. Quando a luz atingiu-o em cheio na cara, soltou um guincho. Teve de cobrir os olhos com as mãos. Podia tê-los arrancado com as unhas se se atrevesse, de tanto que a cabeça doía. — Leve-a daqui, faça no escuro, por favor, oh por favor. — Aquilo não é ele — disse uma voz de rapaz. — Olha para ele. Temos a cela errada. — Última cela da esquerda — respondeu outro rapaz. — Esta é a última cela da esquerda, não é? — Sim. — Uma pausa. — O que ele está dizendo? Acho que não gosta da luz. — E você gostaria, se tivesse aquele aspecto? — o rapaz puxou um escarro e cuspiu-o. — E o fedor que tem. Ainda sufoco. — Tem andado comendo ratazanas — disse o segundo rapaz. — Olha. O primeiro rapaz riu. — Pois é. É engraçado. Tinha que comê-las. As ratazanas o mordiam quando dormia, roendo seus dedos das mãos e dos pés, roendo mesmo a cara, por isso quando conseguira apanhar uma não hesitara. Comer ou ser comido, eram essas as únicas alternativas. — É verdade — resmungou — é verdade, é mesmo, comi, elas me fazem o mesmo, por favor... Os rapazes aproximaram-se mais, esmagando suavemente a palha sob os seus pés. — Fala comigo — disse um deles. Era o menor dos dois, um rapaz magro, mas esperto. — Se lembra de quem é? O medo se ergueu a borbulhar dentro dele, e gemeu. — Fala comigo. Diga-me o seu nome. O meu nome. Um grito se prendeu na garganta. Eles tinham-lhe ensinado o seu nome, tinham mesmo, tinham mesmo, mas foi a tanto tempo que se esquecera. Se o disser errado, ele vai tirar outro dedo, ou pior, vai... vai... Não queria pensar nisso, não podia pensar nisso. Havia agulhas no seu queixo, nos olhos. Tinha a cabeça latejando. — Por favor —-guinchou, com a voz fina e fraca. Soava como se tivesse cem anos. Talvez tivesse. Há quanto tempo estou eu aqui? — Vai — resmungou por entre dentes quebrados e dedos quebrados, com os olhos bem fechados contra a terrível luz brilhante — por favor, pode ficar com a ratazana, não me faça mal...
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:41 pm

    — Fedor — disse o maior dos rapazes. — O seu nome é Fedor. Lembra? — Era o que tinha o archote. O rapaz menor tinha o aro de chaves de ferro. — Fedor? Lágrimas escorreram pela cara. — Lembro-me. Lembro mesmo. — A sua boca abriu-se e fechou-se. — O meu nome é Fedor. Rima com vapor. — Na escuridão não precisava de nome, e era fácil esquecer. Fedor, Fedor, o meu nome é Fedor. Não nasceu com aquele nome. Em outra vida fora outra pessoa, mas ali e naquele momento o seu nome era Fedor. Lembrava-se. Também se lembrava dos rapazes. Traziam vestidos gibões de lã condizentes, cinza prateados, ornamentados de azul-escuro. Ambos eram escudeiros, ambos tinham oito anos, e ambos eram Walder Frey. O Grande Walder e o Pequeno Walder... Só que o grande era Pequeno e o pequeno era Grande, o que divertia os rapazes e confundia o resto do mundo. — Eu os conheço — sussurrou por entre lábios estalados. — Conheço os seus nomes. — Vai ter de vir conosco — disse o Pequeno Walder. — Sua senhoria tem necessidade de ti — disse o Grande Walder. O medo atravessou-o como uma faca. Eles são só crianças, pensou. Dois rapazes de oito anos. Certamente poderia dominar dois rapazes de oito anos. Mesmo fraco como estava, podia tirar-lhes o archote, tirar-lhes as chaves, tirar o punhal embainhado à cintura do Pequeno Walder, fugir. Não. Não, é fácil demais. É uma armadilha. Se eu fugir, ele vai me tirar outro dedo, vai tirar mais dos meus dentes. Já fugira antes. Há anos, segundo parecia, quando ainda lhe restava alguma força, quando ainda era desafiador. Dessa vez foi Kyra com as chaves. Disse-lhe que as roubou, que conhecia uma porta que nunca estava guardada. — Me leve de volta pra Winterfell, senhor — suplicara, pálida e tremendo. — Eu não conheço o caminho. Não posso fugir sozinha. Venha comigo, por favor. — E ele foi. O carcereiro estava completamente bêbado numa poça de vinho, com as calças caídas até aos tornozelos. A porta das masmorras estava aberta e a porta não estava guardada, tal como ela dissera. Esperaram até que a Lua se esconder detrás de uma nuvem, e depois fugiram do castelo e atravessaram a chapinhar o Águas Chorosas, tropeçando em pedras, semicongeladas pelo gelado curso de água. Na outra margem, ele a beijou. — Você nos salvou — disse. Palerma. Palerma. Foi tudo uma armadilha, um jogo, uma brincadeira. O Lorde Ramsay adorava a caça, e preferia caçar presas de duas pernas. Correram toda a noite pela floresta sombria, mas quando o Sol surgiu, o som de um corno distante chegara tenue através das árvores, e ouviram o ladrar de uma matilha de cães. Devíamos nos dividir — disse Kyra quando os cães se aproximaram. — Eles não podem seguir nós dois — Mas a mulher estava enlouquecida de medo e
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:41 pm

    se recusava a sair de perto dele, mesmo quando ele jurara pôr um exército de homens de ferro em pé de guerra e voltar para vir busca-la, se fosse a ela que os cães seguissem. Antes de a hora chegar ao fim, tinham sido apanhados. Um cão atirara-o ao chão, e um segundo mordeu Kyra na perna enquanto ela tentava subir a vertente de uma colina. O resto rodeara-os, ladrando e rosnando, tentando mordê-los todas as vezes que se mexiam, mantendo-os ali até que Ramsay Snow chegasse a cavalo com os seus caçadores. Nessa altura ainda era um bastardo, ainda não era um Bolton. Aí está você — disse, sorrindo-lhes de cima da sela. — Me feriu, fugindo desta maneira. Cansou assim tão depressa da minha hospitalidade? — foi nessa altura que Kyra pegou numa pedra e lhe atirara à cabeça. Falhou por uns bons trinta centímetros, e Ramsay sorrira. — Tem que ser castigada. Fedor lembrava-se da expressão desesperada, aterrorizada, nos olhos de Kyra. Nunca parecera tão nova como naquele momento, ainda meio menina, mas nada havia que ele pudesse fazer. Foi ela que os atraiu até nós, pensou. Se tivéssemos nos separado como eu queria, um de nós podia ter escapado. A recordação tornava difícil respirar. Fedor afastou a cara do archote, com lágrimas tremeluzindo nos olhos. O que quer ele de mim desta vez? pensou, desesperando. Porque é que não me deixa simplesmente em paz? Não fiz nada de mal desta vez, porque é que eles não me deixam simplesmente no escuro? Comeu uma ratazana, uma gorda, quente e a espernear... — Devíamos lavá-lo? — perguntou o Pequeno Walder. — Sua senhoria gosta dele fedorento — disse o Grande Walder. — Foi por isso que lhe chamou Fedor. Fedor. O meu nome é Fedor, rima com calor. Tinha de se lembrar daquilo. Serve e obedeça e lembre- se de quem é e não te acontecerá mais nada de mal. Ele promeseu, sua senhoria promeseu. Mesmo se tivesse querido resistir, não tinha força para isso. A força lhe foi arrancada à chicotada, à fome, à esfolada. Quando o Pequeno Walder o puxou pondo-o em pé e o Grande Walder brandiu o archote na sua direção para encaminhá-lo para fora da cela, foi com eles, dócil como um cão. Se tivesse uma cauda, teria a enfiado entre as pernas. Se eu tivesse uma cauda, o Bastardo já a teria cortado. O pensamento chegou sem ser pedido, um pensamento vil, perigoso. Sua senhoria já não era bastardo. Bolton, não Snow. O rei rapaz no Trono de Ferro tornara o Lorde Ramsay legítimo, dando-lhe o direito de usar o nome do senhor seu pai. Chamar-lhe Snow fazia-lhe lembrar da sua bastardia e o colocava numa raiva negra. Tinha de se lembrar disso. E do seu nome, tinha de se lembrar do seu nome. Durante meio segundo fugiu-lhe, e isso o assustou tanto que tropeçou nos íngremes degraus da masmorra e rasgou as calças na pedra, começando a sangrar. O Pequeno Walder teve de machucar-lhe com o archote para o pôr outra vez em pé e a se mexer.
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:42 pm

    Lá fora, no pátio, a noite estava caindo sobre o Forte do Pavor e uma Lua cheia erguia-se sobre as muralhas orientais do castelo. A sua luz pálida fazia cair às sombras dos altos merlões triangulares sobre o chão gelado, uma linha de aguçados dentes negros. O ar estava frio, úmido e cheio de cheiros meio esquecidos. O mundo, disse Fedor a si próprio, é assim que cheira o mundo. Não sabia quanto tempo passou lá em baixo nas masmorras, mas tinha de ter sido pelo menos meio ano. Esse tempo todo, ou mais ainda. E se foram cinco anos, ou dez, ou vinte? Eu saberia? E se enlouqueci lá em baixo e se passou metade da minha vida? Mas não, isso era uma loucura. Não podia ter passado tanto tempo. Os rapazes ainda eram rapazes. Se tivessem passado dez anos, teriam crescido até se tornarem homens. Tinha de se lembrar disso. Não posso deixar que ele me enlouqueça. Pode me tirar os dedos das mãos e dos pés, pode me arrancar os olhos e me cortar as orelhas, mas não pode me tirar o juízo a menos que eu deixe. O Pequeno Walder indicou o caminho de archote na mão. Fedor seguiu-o docilmente com Grande Walder logo atrás de si. Os cães nos canis ladraram quando eles passaram. Vento rodopiou pelo pátio, cortando através do pano fino dos farrapos imundos que usava e enchendo-o de pele de galinha. O ar noturno estava frio e úmido, mas não viu sinal de neve, embora o inverno certamente estivesse próximo. Fedor perguntou a si próprio se estaria vivo para ver a neve chegar. Quantos dedos terei nas mãos? E nos pés? Quando ergueu uma mão, ficou chocado por ver como se tornara branca, como se tornara descamada. Pele e ossos, pensou. Tenho as mãos de um velho. Poderia ter se enganado sobre os rapazes? E se afinal não fossem o Pequeno Walder e o Grande Walder, mas os filhos dos rapazes que conhecera? O grande salão estava sombrio e fumarento. Fileiras de archotes ardiam à esquerda e à direita, seguros por esqueléticas mãos humanas que se projetavam das paredes. Bem alto havia traves de madeira negras de fumo, e um teto abobadado perdido nas sombras. O ar estava pesado com os cheiros do vinho, da cerveja e da carne assada. O estômago de Fedor ribombou ruidosamente ao sentir os cheiros, e a sua boca começou a salivar. O Pequeno Walder empurrou-o aos tropeções, fazendo-o passar pelas longas mesas onde os homens da guarnição estavam comendo. Conseguia sentir os olhos deles postos em si. Os melhores lugares, perto do estrado, eram ocupados pelos favoritos de Ramsay, os Rapazes do Bastardo. Ben Ossos, o velho que tratava dos amados cães de caça de sua senhoria. Damon, chamado Damon-Dança-Para-Mim, de cabelo claro e arrapazado. O Grunhido, que perdera a língua por falar descuidadamente ao alcance dos ouvidos do Lorde Roose. O Alyn Azedo. O Esfolador. O Pica Amarela. Mais longe, abaixo do sal, estavam outros que Fedor conhecia de vista, quando não pelo nome; espadas juramentadas e sargentos, soldados, carcereiros e torturadores. Mas também havia estranhos, caras que não conhecia. Alguns franziram os narizes quando passou, enquanto outros riram ao vê-lo. Hóspedes, pensou o Fedor, amigos de sua senhoria, e eu
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:42 pm

    fui trazido até aqui acima para diverti-los. Um estremecimento de medo percorreu-o. Na mesa elevada, o Bastardo de Bolton estava sentado na cadeira do senhor seu pai, bebendo da taça do pai. Dois velhos partilhavam com ele a mesa elevada, e Fedor percebeu com um relance que ambos eram senhores. Um era descarnado, com olhos insensíveis, uma longa barba branca e uma cara tão dura como geada de inverno. O seu colete era uma pele irregular de urso, gasta e oleosa. Por baixo usava um Camisa de cota de malha, mesmo ali à mesa. O segundo senhor também era magro, mas era torcido onde o primeiro era direito. Um dos seus ombros era muito mais alto do que o outro, e debruçava-se sobre o prato como um abutre sobre carne podre. Os seus olhos eram cinzentos e avarentos, os dentes amarelos, a barba bifurcada num emaranhado de neve e prata. Só alguns farrapos de cabelo branco ainda aderiam ao seu crânio malhado, mas o manto que usava era suave e de boa qualidade, lã cinzenta guarnecida com zibelina negra e presa ao ombro com um esplendor feito de prata martelada. Ramsay estava vestido de negro e rosa; botas negras, cinturão e bainha negros, colete negro de couro sobre um gibão de veludo rosa cortado de cetim vermelho-escuro. Na orelha direita cintilava uma granada cortada na forma de uma gota de sangue. Mas, apesar de todo o esplendor do vestuário, continuava a ser um homem feio, de ossos grandes e ombros inclinados, com uma qualidade carnuda que sugeria que mais tarde na vida se tornaria gordo. A sua pele era rósea e manchada, o nariz largo, a boca pequena, o cabelo longo, escuro e seco. Os lábios eram largos e carnudos, mas quando os homens o olhavam era nos olhos que primeiro reparavam. Tinha os olhos do senhor seu pai; pequenos, juntos, estranhamente claros. Alguns homens chamavam à cor cinzenta de fantasma, mas na verdade os olhos dele eram praticamente desprovidos de cor, como duas lascas de gelo sujo. Ao ver Fedor, esboçou um sorriso de lábios úmidos. — Aí está ele. O nosso velho e ácido amigo. — Aos homens a seu lado disse: — Fedor está comigo desde que eu era rapaz. O senhor meu pai me deu, em sinal do seu amor. Os dois senhores trocaram um olhar. — Tinha ouvido dizer que o seu criado estava morto — disse o de ombro inclinado. — Que tinha sido morto pelos Stark. O Lorde Ramsey soltou um risinho. — Os homens de ferro dizem que o que está morto não pode morrer, mas volta a erguer-se, mais duro e mais forte. Como Fedor. Mas cheira a sepultura, isso admito. — Cheira a dejetos e a vomito velho. — O velho lorde de ombros inclinados cuspiu o osso que estivava roendo e limpou os dedos na toalha da mesa. — Há algum motivo para ter de vê-lo enquanto estamos comendo? O segundo lorde, o velho de costas direitas com o Camisa de cota de malha, estudou Fedor com olhos de pedra.
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:42 pm

    — Volte a olhar — pediu ao outro senhor. — O cabelo dele ficou branco e está vinte quilos mais magro, sim, mas este não é criado nenhum. Esqueceu? O lorde corcunda voltou a olhar e soltou uma súbita fungadela. — Ele? Será possível? O protegido do Stark. A sorrir, sempre a sorrir. — Ele agora sorri com menos frequência — confessou o Lorde Ramsay. — Posso ter partido alguns dos seus lindos dentes brancos. — Teria feito melhor em cortar-lhe a goela — disse o lorde da cota de malha. — Um cão que se volta contra o dono não presta para nada a não ser o esfolamento. — Oh, ele foi esfolado, aqui e ali — disse Ramsay. — Sim, senhor. Eu fui mau, senhor. Insolente e... — Lambeu o lábio, tentando pensar no que mais teria feito. Serve e obedece, disse a si próprio, e ele te deixa viver e ficar com os órgãos que ainda tens. Serve e obedece e lembra-se do seu nome. Fedor, Fedor, rima com pavor. —... mal e... — Tem sangue na boca — observou Ramsay. — Tem andado outra vez roendo os dedos, Fedor? — Não. Não, senhor, juro. — Fedor tentava uma vez arrancar à dentada o dedo anelar, para fazer com que parasse de doer depois de lhe terem arrancado a pele. O Lorde Ramsay nunca se limitava a cortar o dedo de homem. Preferia esfolá-lo, e deixar a carne exposta secar, estalar e infetar-se. Fedor foi chicoteado, supliciado e cortado, mas não havia dor nem de perto tão atroz como a que se seguia ao esfolamento. Era o tipo de dor que levava os homens à loucura, e não podia ser suportada por muito tempo. Mais tarde ou mais cedo, a vítima gritaria "Por favor, basta, basta, pare com a dor, corte-o" e o Lorde Ramsay fazia esse favor. Era um jogo que eles jogavam. Fedor aprendeu as regras, como as suas mãos e pés podiam comprovar, mas dessa vez esqueceu-se e tentou ele mesmo pôr fim à dor, com os dentes. Ramsay não ficou contente, e a ofensa custou ao Fedor outro dedo de um pé. — Comi uma ratazana — resmungou. — Uma ratazana? — os olhos claros de Ramsay cintilaram à luz dos archotes. — Todas as ratazanas do Forte do Pavor pertencem ao senhor meu pai. Como se atreve a transformar uma em refeição sem a minha autorização? Fedor não sabia o que dizer, portanto nada disse. Uma palavra errada podia custar-lhe outro dedo de um pé, ou mesmo de uma mão. Até àquele momento, perdera dois dedos da mão esquerda e o mindinho da direita, mas só o mindinho do pé direito contra três dedos do esquerdo. Às vezes Ramsay fazia gracejos sobre equilibrá-lo. O meu senhor está só brincando, tentou dizer a si próprio. Não quer me magoar, ele me disse, só o faz quando lhe dou motivos. O seu senhor era misericordioso e bom. Podia ter-lhe esfolado a cara por algumas das coisas que Fedor dissera, antes de aprender o seu verdadeiro nome e o lugar que lhe cabia.
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:42 pm

    — Isto se torna um aborrecimento — disse o lorde com o Camisa de cota de malha. — Mate-o e acabe com isto. Lorde Ramsay encheu a taça com cerveja. Isso estragaria a nossa festa, senhor. Fedor, tenho notícias alegres para te dar. Vou me casar. O senhor meu pai está me trazendo uma menina Stark. Filha do Lorde Eddard, a Arya. Lembra-se da pequena Arya, não lembra? Arya Debaixo-dos-Pés, quase disse ele. Arya Cara-de-Cavalo. A irmã mais nova de Robb, de cabelo castanho, cara comprida, magricela como um pau, sempre suja. A bonita era a Sansa. Lembrou-se de uma vez em que pensou que Lorde Eddard talvez o casasse com Sansa e o reclamasse como filho, mas isso foi apenas uma fantasia de criança. Mas a Arya... — Eu me lembro dela. Arya. — Vai ser a Senhora de Winterfell, e eu o seu senhor. Ela não passa de uma menina. — Sim, senhor. Parabéns. — Servirá-me no meu casamento, Fedor? Hesitou. — Se o desejar, senhor. — Oh, desejo. Voltou a hesitar, perguntando se aquilo seria alguma armadilha cruel. — Sim, senhor. Se te agradar. Ficaria honrado. Então temos de te tirar daquela horrível masmorra. Voltar a te esfregar até ficar cor de rosa, te arranjar umas roupas limpas, alguma comida para comer. Umas papas de aveia, saborosas e moles, gostaria? Talvez uma torta de ervilhas enfeitada com bacon. Tenho uma tarefazinha para você, e vai precisar ter as forças de volta para me servir. Você quer me servir que eu sei. — Sim, senhor. Mais do que qualquer coisa. — Foi percorrido por um arrepio. — Sou o seu Fedor. Por favor, me deixa te servir. Por favor.
    — Já que pede com tanto jeitinho, como posso dizer que não? — Ramsay Bolton sorriu. — Parto para a guerra, Fedor. E você vai vir comigo, para me ajudar a trazer para casa a minha noiva virgem.
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:43 pm

    Bran 201


    Qualquer coisa no modo como o corvo gritou pôs um arrepio a percorrer a espinha de Bran. Sou quase um homem feito, teve de lembrar a si próprio. Agora tenho de ser corajoso. Mas o ar estava penetrante e frio e cheio de medo. Mesmo Verão estava com medo. O pelo no seu pescoço estava eriçado. Sombras estendiam-se contra a vertente da colina, negras e esfomeadas. Todas as árvores estavam dobradas e torcidas pelo peso do gelo que suportavam. Algumas quase nem pareciam árvores. Enterradas das raízes às copas em neve congelada, aninhavam-se na colina como gigantes, criaturas monstruosas e deformadas, enroladas sobre si próprias contra o vento gélido. — Eles estão aqui. — O patrulheiro puxou pela espada. — Onde? — a voz de Meera soou murmurada. — Perto. Não sei. Em algum lugar. O corvo voltou a guinchar. — Hodor — murmurou Hodor. Tinha as mãos enfiadas nos sovacos. Pingentes pendiam-lhe das raízes castanhas da barba e o seu bigode era um torrão de ranho congelado, reluzindo, vermelho, à luz do pôr-do-sol. — Os lobos também estão próximos — avisou Bran. — Aqueles que têm nos seguido. Verão consegue cheirá-los sempre que o vento sopra na nossa direção. — Lobos são o menor dos nossos problemas — disse Mãos-Frias. — Temos de subir. Ficará escuro em breve. Faremos bem em estar lá dentro antes de a noite chegar. O calor de vocês irá atraí-los. — Deu um relance para oeste, onde a luz do sol poente podia ser vista de uma forma pouco nítida através das árvores, como se fosse o brilho de uma fogueira distante. — Esta é a única entrada? — perguntou Meera. — A entrada de trás fica três léguas para norte, num poço natural. Era tudo o que precisava dizer. Nem mesmo Hodor podia descer a um poço com Bran pesando em suas costas, e Jojen não seria mais capaz de caminhar três léguas do que de correr mil. Meera examinou a colina por cima de si. — O caminho parece livre. — Parece — resmungou sombriamente o patrulheiro. — Sente o frio? Há qualquer coisa aqui. Onde estão eles? — Dentro da gruta?-— sugeriu Meera. — A gruta está protegida. Eles não podem passar. — O patrulheiro usou a espada para apontar. — Pode ver a entrada ali. A meio caminho do cume, entre os represeiros, aquela fenda na rocha.
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:43 pm

    — Estou vendo — disse Bran. Corvos estavam voando para dentro e para fora. Hodor mudou o peso de uma perna para a outra. — Hodor. — Uma dobra na rocha, é tudo o que eu vejo — disse Meera. — Há ali uma passagem. íngreme e retorcida a princípio, um canal estreito na rocha. Se conseguirem alcançá-la ficarão a salvo. — E você? — A gruta está protegida. Meera estudou a fenda na vertente da colina. — Não podem ser mais de novecentos metros daqui até lá. Não, pensou Bran, mas todos esses metros são de subida. A colina era íngreme e densamente arborizada. A neve parara de cair três dias antes, mas nenhuma derretera. Sob as árvores, o chão estava atapetado de branco, ainda intocado e sem rastros. — Não tem ninguém aqui — disse Bran com valentia. — Olhe para a neve. Não há pegadas. — Os caminhantes brancos pisam levemente na neve — disse o patrulheiro. — Não encontrará pegadas mostrando a sua passagem. — Um corvo caiu desde o alto para ir se instalar no seu ombro. Só uma dúzia das grandes aves negras permanecia com eles. O resto desapareceu ao longo do caminho; a cada alvorada, quando acordavam, havia menos. — Vem — crocitou a ave. — Vem, vem. O corvo de três olhos, pensou Bran. O vidente verde. — Não é assim tão longe — disse. — Uma subidazinha e ficaremos em segurança. Talvez possamos fazer uma fogueira. — Todos tinham frio, estavam molhados e com fome, exceto o patrulheiro, e Jojen Reed estava fraco demais para caminhar sem ajuda. — Vai você. — Meera Reed abaixou-se ao lado do irmão. Este estava instalado no buraco de um carvalho, de olhos fechados, tremendo com violência. O pouco da sua cara que se conseguia ver sob o capuz e o cachecol estava tão incolor como a neve que os rodeava, mas a respiração ainda criava tênues baforadas de vapor sempre que ele exalava pelas narinas. Meera o carregou o dia inteiro. Comida e um fogo o deixarão outra vez bom, tentou Bran dizer a si, embora não tivesse a certeza de isso ser verdade. — Não posso lutar ao mesmo tempo que carrego Jojen, a subida é muito íngreme —Meera disse. — Hodor, leve Bran para aquela gruta. — Hodor. — Hodor baseu palmas. — Jojen só precisa comer — disse Bran em tom infeliz. Tinham se passado doze dias desde que o alce caíra pela terceira e última vez, desde que Mãos-Frias ajoelhou a seu lado no banco de neve e murmurou uma bênção numa língua estranha qualquer enquanto lhe cortava a garganta. Bran chorou como uma menininha quando o sangue brilhante saiu em jorro. Nunca se sentiu mais

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