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    Parte 2 3 realm

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    Mensagem  Admin Ter Abr 10, 2012 9:59 am

    Catelyn
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    Trouxeram os cadáveres nos ombros e pousaram-nos sob o estrado, O silêncio caiu sobre o salão iluminado por archotes, e nele Catelyn conseguiu ouvir Vento Cin­zento uivando a meio castelo de distância, Ele sente o cheiro do sangue, pensou. Através de paredes de pedra e portas de madeira, através da noite e da chuva, mesmo assim reconhece o odor da morte e da ruína.
    Estava à esquerda de Robb, junto ao cadeirão, e por um momento sentiu-se quase como se estivesse olhando seus próprios mortos, Bran e Rickon, Aqueles rapazes eram muito mais velhos, mas a morte encolhera-os. Nus e molhados, pareciam umas coisinhas tão pequenas e tão imóveis que era difícil lembrar deles com vida.
    O rapaz louro andava tentando deixar crescer uma barba. Uma penugem amarelo- -clara cobria suas bochechas e seu queixo por cima da ruína vermelha em que a faca transformou a sua garganta. Seus longos cabelos dourados ainda estavam molhados, como se tivesse sido arrancado de um banho. A expressão era a de quem havia morrido em paz, talvez dormindo, mas seu primo de cabelos castanhos tinha lutado pela vida. Seus braços exibiam cortes onde havia tentado parar as lâminas, e gotas vermelhas ainda pingavam das punhaladas que lhe cobriam o peito, a barriga e as costas como outras tan­tas bocas sem língua, embora a chuva o tivesse lavado quase por completo.
    Robb tinha posto a coroa antes de entrar na sala, e o bronze brilhava, escuro, à luz dos archotes, Sombras esconderam seus olhos quando observou os mortos. Será que ele também vê Bran e Rickon? Catelyn poderia ter chorado, mas já não lhe restavam lágrimas. Os rapazes mortos estavam pálidos devido ao longo encarceramento, e ambos eram de tez clara; contra a pele lisa e branca, o sangue era chocantemente rubro, insuportável de contemplar. Será que irão colocar Sansa nua sob o Trono de Ferro depois de a matarem? Irá sua pele parecer assim tão branca, seu sangue tão vermelho? Do exterior chegavam o ruído contínuo da chuva e os inquietos uivos de um lobo.
    O irmão, Edmure, estava a direita de Robb, com uma mão apoiada no espaldar da cadeira do pai, e o rosto ainda inchado de sono. Tinham-no acordado, tal como a ela, ba­tendo em sua porta, na noite cerrada, para arrancá-lo rudemente dos sonhos. Eram bons sonhos, irmão? Sonha com a luz do sol com risos e com os beijos de uma donzela? Rezo para que sim. Os sonhos dela eram escuros e fustigados por terrores.
    Os capitães e senhores vassalos de Robb espalhavam-se pelo salão, alguns armados e com as cotas de malha vestidas, outros em vários estados de desalinho e nudez. Sor
    Raynald e o tio, Sor Rolph, encontravam-se entre eles, mas Robb tinha achado por bem
    poupar sua rainha daquela monstruosidade. O Despenhadeiro não fica longe de Rochedo Casterly, recordou Catelyn. Jeyne pode perfeitamente ter brincado com esses garotos quando eram crianças.
    Voltou a baixar o olhar para os cadáveres dos escudeiros Tion Frey e Willem Lannis­ter, e esperou que o filho falasse.
    Pareceu passar-se muito tempo até que Robb erguesse o olhar dos mortos ensan­güentados.
    ~ Pequeno-Jon - disse -, diga ao seu pai que os traga. - Sem uma palavra, Pequeno- -Jon Umber virou-se para obedecer, com os passos ecoando no grande salão de pedra.
    Enquanto Grande-Jon introduzia os prisioneiros na sala, Catelyn notou o modo como alguns dos outros homens recuavam para lhes dar espaço, como se a traição pudesse de algum modo ser transmitida por um toque, um olhar, um pouco de tosse. Os captores e os cativos eram muito parecidos; homens grandes, todos eles, com barbas espessas e cabelos compridos. Dois dos homens de Grande-Jon estavam feridos, e três de seus prisioneiros também. Só o fato de alguns terem lanças e outros bainhas vazias os distinguia. Todos usa­vam camisões de cota de malha ou camisas de anéis cosidos, com botas pesadas e mantos grossos, alguns de lã, outros
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    Mensagem  Admin Ter Abr 10, 2012 10:00 am

    de peles. O Norte é duro efrio, e não tem misericórdia, Ned tinha lhe dito quando ela veio a Winterfell pela primeira vez, mil anos antes.
    - Cinco - disse Robb quando os prisioneiros foram postos à sua frente, molhados e silenciosos. - São todos?
    - Eram oito - trovejou Grande-Jon. - Matamos dois quando os capturamos e um terceiro está agora agonizando.
    Robb estudou o rosto dos presos.
    - Foram precisos oito de vocês para matar dois escudeiros desarmados.
    Edmure Tully interveio.
    - Eles também assassinaram dois de meus homens para chegar à torre. Delp e Elwood.
    - Não foi assassinato, sor - disse Lorde Rickard Karstark, que não se mostrava mais derrotado pela corda que prendia seus pulsos do que pelo sangue que corria por seu rosto. - Qualquer homem que se interponha entre um pai e a sua vingança está pedindo a morte.
    As palavras dele ressoaram nos ouvidos de Catelyn, duras e cruéis, como o bater de um tambor de guerra. Sua garganta estava completamente seca. Fui eu que fiz isso. Estes dois rapazes morreram para que minhas filhas pudessem sobreviver.
    - Eu vi seus filhos morrerem naquela noite no Bosque dos Murmúrios - disse Robb ao Lorde Karstark. - Tion Frey não matou Torrhen. Willem Lannister não tirou a vida de Eddard. Assim, como pode chamar isso de vingança? Isso foi uma loucura, e um as­sassinato sangrento. Seus filhos morreram honradamente no campo de batalha, de espa­da nas mãos.
    - Eles morreram - disse Rickard Karstark, sem ceder um milímetro. - O Regicida abateu-os. Estes dois eram da laia dele. Só sangue pode pagar sangue.
    - O sangue de crianças? - Robb apontou para os cadáveres. - Que idade eles ti­nham? Doze anos, treze? Escudeiros.
    - Morrem escudeiros em todas as batalhas.
    - Sim, morrem lutando. Tion Frey e Willem Lannister entregaram as espadas no Bosque dos Murmúrios. Eram prisioneiros, trancados numa cela, adormecidos, desar­mados... garotos. Olhe para eles!
    Lorde Kastark preferiu olhar para Catelyn.
    - Diga à sua mãe para olhar para eles - falou. - Ela matou-os tanto quanto eu.
    Catelyn apoiou uma mão no espaldar da cadeira de Robb. O salão pareceu girar à sua
    volta. Sentiu-se prestes a vomitar.
    - Minha mãe não teve nada a ver com isso - disse Robb, irritado. - Isso foi obra sua. O assassinato foi seu. A traição foi sua.
    - Como pode ser traição matar Lannisters quando não é traição libertá-los? - pergun­tou rudemente Karstark. - Vossa Graça esqueceu-se de que estamos em guerra com o Ro­chedo Casterly? Na guerra, matam-se os inimigos. Seu pai não lhe ensinou isso, rapaz?
    - Rapaz? - com o punho revestido de cota de malha, Grande-Jon deu uma bofetada que deixou Rickard Karstark de joelhos.
    - Deixe-ol - a voz de Robb ressoou com autoridade. Umber afastou-se do cativo.
    Lorde Karstark cuspiu um dente.
    - Sim, Lorde Umber, deixe-me para o rei. Ele pretende me dar uma descompostura antes de me perdoar. E assim que ele lida com a traição, o nosso Rei no Norte, - Sorriu um sorriso úmido e vermelho. - Ou será que devo chamá-lo de Rei que perdeu o Norte, Vossa Graça?
    Grande-Jon tirou uma lança das mãos do homem que estava ao seu lado e ergueu-a sobre o ombro.
    - Deixe-me atravessá-lo, senhor. Deixe-me abrir a barriga dele para vermos a cor de suas tripas.
    As portas do salão abriram-se com estrondo, e Peixe Negro entrou com água escor­rendo do manto e do elmo. Homens de armas Tully seguiram-no, enquanto lá fora re­lâmpagos
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    Mensagem  Admin Ter Abr 10, 2012 10:00 am

    cruzavam o céu e uma chuva forte e negra assolava as pedras de Correrrio. Sor Brynden tirou o elmo e caiu sobre um joelho.
    - Vossa Graça - foi tudo que disse, mas seu tom lúgubre falava por si.
    - Ouvirei em privado o que Sor Brynden tem a dizer, na sala de audiências. - Robb levantou-se. - Grande-Jon, mantenha Lorde Karstark aqui até a minha volta, e enforque os outros sete.
    Grande-Jon abaixou a lança.
    - Até os mortos?
    - Sim, Não quero essa gente conspurcando os rios do senhor meu tio. Que alimen­tem os corvos.
    Um dos prisioneiros ajoelhou-se.
    - Misericórdia, senhor. Eu não matei ninguém, fiquei só à porta, de vigia, por causa dos guardas.
    Robb refletiu naquilo por um momento.
    - Conhecia as intenções de Lorde Rickard? Viu as facas desembainhadas? Ouviu os gritos, as súplicas de misericórdia?
    - Sim, mas não participei. Era só o vigia, juro...
    - Lorde Umber - disse Robb este era só o vigia. Enforque-o por último, para que possa vigiar a morte dos outros. Mãe, tio, venham comigo, por favor. - Deu as costas enquanto os homens de Grande-Jon cerravam fileiras em volta dos prisioneiros e os le­vavam do salão sob a ameaça de lanças. Lá fora, os trovões ribombavam e estrondeavam, tão alto que parecia que o castelo estava ruindo em volta de seus ouvidos. Será este o som de um reino desmoronando?, perguntou Catelyn a si mesma.
    Estava escuro dentro da sala de audiências, mas pelo menos o som dos trovões era abafado por mais uma parede de pedra. Um criado entrou com uma candeia de azeite para acender a lareira, mas Robb mandou-o embora e ficou com a candeia. Havia mesas e cadeiras, mas só Edmure se sentou, e levantou-se quando percebeu que os outros per­maneceram em pé. Robb tirou a coroa e pousou-a na mesa, à sua frente.
    Peixe Negro fechou a porta.
    - Os Karstark desapareceram.
    - Todos? - seria ira ou desespero o que pesava daquela maneira na voz de Robb? Nem mesmo Catelyn tinha certeza.
    - Todos os guerreiros - respondeu Sor Brynden. - Algumas seguidoras de acam­pamento e criados foram deixados com os feridos. Interrogamos tantos quantos foram necessários para nos certificarmos da verdade. Começaram a partir ao cair da noite, escapando a princípio um a um ou dois a dois, e depois em grupos maiores, Foi orde­nado aos feridos e criados que mantivessem as fogueiras acesas para que ninguém sou­besse que tinham partido, mas depois que começou a chover, deixou de valer a pena.
    - Irão voltar a se agrupar longe de Correrrio? - perguntou Robb.
    - Não. Espalharam-se, à caça. Lorde Karstark jurou oferecer a mão de sua filha don­zela a qualquer homem, bem ou malnascido, que lhe traga a cabeça do Regicida.
    Que os deuses nos vaíham. Catelyn voltou a sentir náuseas.
    - Quase trezentos cavaleiros e duas vezes mais montar ias desaparecidos na noite, - Robb esfregou as têmporas, no local onde a coroa havia deixado sua marca, na pele macia acima das orelhas. - Todas as forças de cavalaria de Karhold, perdidas.
    Perdidas por mim. Por mim, que os deuses me perdoem. Catelyn não precisava ser um solda­do para compreender a armadilha em que Robb se encontrava. Por ora, controlava as terras fluviais, mas seu reino estava cercado de inimigos por todos os lados, exceto pelo leste, onde Lysa se empoleirava em seu cume de montanha, Até o Tridente estava pouco seguro desde que o Senhor da Travessia retirara sua fidelidade. E agora perdemos também os Karstark...
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    Mensagem  Admin Ter Abr 10, 2012 10:00 am

    - Nem uma palavra sobre isso deve sair de Correrrio - disse Edmure. - Lorde Tywin faria... os Lannister pagam as suas dívidas, sempre dizem isso. Que a Mãe nos guarde quando ele souber.
    Sansa. As unhas de Catelyn enterraram-se na carne macia das palmas de suas mãos, tal foi a força com que cerrou os punhos.
    Robb lançou a Edmure um frio olhar,
    - Quer me transformar num mentiroso além de um assassino, tio?
    - Não precisamos falar nenhuma falsidade. Basta não dizer nada. Enterramos os ra­pazes e permanecemos em silêncio até o fim da guerra. Willem era filho de Sor Kevan Lannister e sobrinho de Lorde Tywin. Tion era filho da Senhora Genna, e um Frey. Te­mos também de manter a notícia longe das Gêmeas, até...
    - ... até conseguirmos trazer os assassinados de volta à vida? - disse Brynden Peixe Negro em tom cortante. - A verdade fugiu com os Karstark, Edmure. E tarde demais para esses jogos.
    - Devo a seus pais a verdade - disse Robb. - E a justiça. Também lhes devo isso. - Fitou a coroa, o brilho escuro do bronze, o círculo de espadas de ferro. - Lorde Rickard desafiou-me. Traiu-me. Não tenho escolha a não ser condená-lo. Só os deuses sabem o que fará a infantaria Karstark que está com Roose Bolton quando lhes chegar a notícia de que executei seu suserano por traição. Bolton precisa ser prevenido.
    - O herdeiro de Lorde Karstark também estava em Harrenhal - recordou-lhe Sor Brynden. - O filho mais velho, aquele que os Lannister capturaram no Ramo Verde.
    - Harrion. Chama-se Harrion. - Robb soltou uma gargalhada amarga, - Um rei faz bem em conhecer o nome de seus inimigos, não acha?
    Peixe Negro lançou-lhe um olhar astuto,
    - Sabe disso com certeza? Que isso fará do jovem Karstark seu inimigo?
    - O que mais poderá acontecer? Estou prestes a matar o pai dele, não é provável que me agradeça.
    - Pode agradecer, Há filhos que odeiam os pais, e com um só golpe estará transformando-o no Senhor de Karhold.
    Robb balançou a cabeça.
    - Mesmo se Harrion fosse esse tipo de homem, nunca poderia perdoar abertamente o homem que matou seu pai. Seus próprios homens iriam se voltar contra ele. Estamos falando de nortenhos, tio. O Norte tem memória.
    - Então perdoe-o - sugeriu Edmure Tully.
    Robb fitou-o com franca incredulidade.
    Sob aquele olhar, o rosto de Edmure corou.
    - Poupe sua vida, quero dizer. Não gosto mais da idéia do que você, senhor. Ele tam­bém matou homens meus. O pobre Delp tinha acabado de se recuperar do ferimento que Sor Jaime lhe infligiu. Karstark deve ser punido, certamente. Mantenha-o acorrentado.
    - Um refém? - disse Catelyn. Poderia ser melhor...
    - Sim, um refém! - o irmão tomou a sua reflexão por concordância. - Diga ao filho que, desde que permaneça leal, o pai não será maltratado. Caso contrário... agora não temos esperança de reconquistar os Frey, nem que eu me oferecesse para casar com todas as filhas de Lorde Walder e transportasse sua liteira, Se também perdermos os Karstark, que esperança nos restará?
    - Que esperança,.. - Robb suspirou, afastou os cabelos dos olhos e disse: - Nada nos chegou de Sor Rodrik no norte, nenhuma resposta veio de Walder Frey à nossa nova oferta, recebemos apenas silêncio do Ninho da Águia. - Apelou à mãe. - Sua irmã não nos responderá nunca? Quantas vezes terei de lhe escrever? Não quero acreditar que ne­nhuma das aves chegou até ela.
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    Mensagem  Admin Ter Abr 10, 2012 10:00 am

    Catelyn percebeu que o filho queria ser confortado; queria que ela lhe dissesse que tudo ficaria bem. Mas seu rei precisava da verdade.
    - As aves chegaram ao Ninho da Águia. Embora ela possa lhe dizer que não, se algu­ma vez chegarem a falar do assunto. Não espere ajuda desse lado, Robb. Lysa nunca foi corajosa. Quando éramos meninas, ela fugia e escondia-se sempre que fazia algo errado. Talvez pensasse que o senhor nosso pai esqueceria de se zangar com ela caso não fosse capaz de encontrá-la. Agora é a mesma coisa. Ela fugiu de Porto Real por medo, para o lugar mais seguro que conhece, e recolhe-se em sua montanha com a esperança de que todos a esqueçam.
    - Os cavaleiros do Vale poderiam fazer toda a diferença nesta guerra - disse Robb mas se ela não quer lutar, que assim seja. Só lhe pedi que nos abrisse o Portão Sangrento e nos desse navios em Vila Gaivotas para nos levar ao norte. A estrada de altitude seria difícil, mas não tão difícil quanto abrir caminho pelo Gargalo lutando. Se conseguisse desembarcar em Porto Branco, poderia flanquear Fosso Cailin e expulsar os homens de ferro do norte em meio ano.
    - Isso não acontecerá, senhor - disse Peixe Negro. - Cat tem razão. A Senhora Lysa é temerosa demais para deixar entrar um exército no Vale. Qualquer exército, O Portão Sangrento permanecerá fechado.
    - Então que os Outros a levem - praguejou Robb, numa fúria causada pelo deses­pero. - E o maldito Rickard Karstark também. E Theon Greyjoy, Walder Frey, Tywin Lannister e todos os outros. Pela bondade dos deuses, por que alguém haveria de querer ser rei? Quando todos estavam gritando Rei no Norte, Rei no Norte, eu disse a mim mes­mo. .Jurei a mim mesmo.., que seria um bom rei, tão honrado quanto o pai, forte,justo, leal para com os meus amigos e bravo quando enfrentasse os inimigos... agora sequer sei distingui-los uns dos outros. Como foi que tudo isso ficou tão confuso? Lorde Rickard lutou ao meu lado em meia dúzia de batalhas. Os filhos dele morreram por mim no Bos­que dos Murmúrios. Tion Frey e Willem Lannister eram meus inimigos. Mas agora te­nho de matar o pai de meus amigos mortos por causa deles. - Olhou-os. - Os Lannister vão me agradecer pela cabeça de Lorde Rickard? E os Frey?
    - Não - disse Brynden Peixe Negro, direto como sempre.
    - Mais um motivo para poupar a vida de Lorde Rickard e mantê-lo como refém - insistiu Edmure.
    Robb estendeu ambas as mãos para baixo, ergueu a pesada coroa de bronze e ferro e voltou a colocá-la na cabeça, e de repente era um rei novamente.
    - Lorde Rickard morre.
    - Mas por quê? - perguntou Edmure. - Foi você mesmo que disse...
    - Eu sei o que disse, tio. Não muda o que tenho de fazer. - As espadas de sua coroa encostavam-se, rígidas e negras, contra a sua testa. - Em batalha poderia ter matado Tion e Willem em pessoa, mas isso não foi uma batalha. Eles estavam dormindo em suas camas, nus e desarmados, na cela em que os coloquei. Rickard Karstark matou mais do que um Lannister e um Frey. Matou a minha honra. Tratarei dele à alvorada,
    Quando o dia nasceu, cinzento e gelado, a tempestade se reduzira a uma chuva contí­nua, mesmo assim o bosque sagrado estava repleto de gente. Senhores do rio e nortenhos, de alto e baixo nascimento, cavaleiros, mercenários e cavalariços espalhavam-se entre as árvores para ver o fim da dança negra da noite. Edmure dera ordens, e um cepo de carras­co fora colocado em frente à árvore-coração. Chuva e folhas caíam em volta deles quando os homens de Grande-Jon atravessaram a multidão com Lorde Rickard Karstark, ainda de mãos atadas. Seus homens já pendiam das grandes muralhas de Correrrio, balançando na ponta de longas cordas enquanto a chuva lhes lavava o rosto que enegrecia.
    Lew Longo esperava ao lado do cepo, mas Robb tirou o machado de sua mão e ordenou-lhe que se afastasse.
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    Mensagem  Admin Ter Abr 10, 2012 10:01 am

    - Isso é tarefa minha - disse. - Ele morre por ordem minha. Deve morrer por mi­nhas mãos.
    Lorde Rickard Karstark inclinou rigidamente a cabeça.
    - Por isso lhe agradeço. Mas por mais nada. - Vestira-se para a morte com uma lon­ga túnica negra de lã, decorada com o resplendor branco de sua Casa. - O sangue dos Primeiros Homens corre tanto nas minhas veias quanto nas suas, rapaz. Faria bem em se lembrar disso. Fui batizado em honra de seu avô. Convoquei meus vassalos contra o Rei Aerys por seu pai, e contra o Rei Joffrey por você. Em Cruzaboi, no Bosque dos Murmú­rios e na Batalha dos Acampamentos cavalguei ao seu lado, e acompanhei Lorde Eddard no Tridente, Somos parentes, os Stark e os Karstark.
    - Esse parentesco não o impediu de me trair - disse Robb. - E não o salvará agora. Ajoelhe-se, senhor.
    Catelyn sabia que Lorde Karstark falara a verdade. Os Karstark traçavam sua genea- logia até Karlon Stark, um filho mais novo de Winterfell que derrubou um senhor rebel­de mil anos antes e a quem tinham sido concedidas terras por seu valor, O castelo que construíra fora chamado Karls Hold, mas logo transformou-se em Karhold, e, ao longo dos séculos, os Stark de Karhold foram se transformando em Karstark.
    - Segundo os deuses antigos ou modernos, não faz diferença - Lorde Rickard disse ao filho dela -, não há homem mais amaldiçoado do que aquele que mata parentes.
    - Ajoelhe-se, traidor - voltou a dizer Robb. - Ou terei de ordenar-lhes que empur­rem a sua cabeça contra o cepo?
    Lorde Karstark se ajoelhou.
    - Os deuses vão julgá-lo, tal como você me julgou, - Deitou a cabeça no cepo.
    - Rickard Karstark, Senhor de Karhold. - Robb ergueu o pesado machado com am­bas as mãos. - Aqui, à vista dos deuses e dos homens, considero-o culpado de assassina­to e alta traição. Em meu nome o condeno. Com as minhas mãos tiro a sua vida, Quer dizer uma última palavra?
    - Mate-me, e que seja amaldiçoado. Não é o meu rei.
    O machado caiu. Pesado e bem afiado, matou em um único golpe, mas foram precisos três para separar a cabeça do corpo, e quando tudo terminou, tanto os vivos como o mor­to estavam encharcados de sangue. Robb atirou o machado ao chão, enojado, e virou-se para a árvore-coração sem dizer uma palavra. E ali ficou, tremendo e com as mãos se- micerradas e a chuva correndo por seu rosto. Que os deuses o perdoem, rezou Catelyn em silêncio. Ele é só um rapaz, e não tinha alternativa.
    Não voltou a ver o filho naquele dia. A chuva prosseguiu ao longo de toda a manhã, açoitando a superfície dos rios e transformando a relva do bosque sagrado em lama e poças. Peixe Negro reuniu uma centena de homens e saiu em busca de Karstarks, mas ninguém esperava que trouxesse muitos de volta.
    -Só rezo para não ter de enforcá-los - disse ao partir, Quando foi embora, Catelyn retirou-se para o aposento privado do pai, para sentar-se novamente à cabeceira de Lorde Hoster,
    - Não durará muito mais - preveniu-a Meistre Vyman quando apareceu naquela tar­de. - Suas últimas forças estão se esgotando, embora ainda tente lutar.
    - Sempre foi um lutador - disse ela. - Um homem teimoso e querido.
    - Sim - disse o meistre -, mas esta é uma batalha que não pode ganhar. É hora de pousar a espada e o escudo. É hora de se render.
    De se render, pensou ela, de fazer a paz. O meistre estaria falando de seu pai ou de seu filho?
    Ao cair da noite, Jeyne Westerling veio visitá-la. A jovem rainha entrou timidamente no aposento privado.
    - Senhora Catelyn, não quero incomodá-la...
    - E muito bem-vinda aqui, Vossa Graça. - Catelyn estava bordando, mas pôs a agu­lha de lado.
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    Mensagem  Admin Ter Abr 10, 2012 10:01 am

    - Por favor. Chame-me de Jeyne. Não me sinto como uma Graça.
    - E, no entanto, é o que é. Por favor, venha sentar-se, Vossa Graça.
    -Jeyne, - Ela sentou-se junto à lareira e alisou ansiosamente a saia.
    - Como quiser. Como posso servi-la, Jeyne?
    - E Robb - disse a garota, - Ele está tão infeliz, tão... tão zangado e desconsolado. Não sei o que fazer.
    - Tirar a vida de um homem é uma coisa dura.
    - Eu sei. Disse-lhe que devia usar um carrasco, Quando Lorde Tywin envia um ho­mem para a morte, tudo que faz é dar a ordem. Assim é mais fácil, não acha?
    - Sim - disse Catelyn -, mas o senhor meu esposo ensinou aos filhos que matar nunca deve ser fácil.
    - Oh. - A Rainha Jeyne umedeceu os lábios. - Robb não comeu o dia inteiro. Man­dei que Rollam lhe levasse um bom jantar, costelas de javali com cebolas cozidas e cer­veja, mas nem tocou no prato. Passou a manhã inteira escrevendo uma carta e disse-me para não incomodá-lo, mas quando a carta ficou pronta, queimou-a. Agora está sentado, olhando uns mapas. Perguntei-lhe o que procurava, mas não me respondeu. Acho que nem sequer me ouviu. Nem quis mudar de roupa. Passou o dia inteiro molhado e ensan­güentado. Eu quero ser uma boa esposa para ele, quero mesmo, mas não sei como ajudar. Não sei como animá-lo ou reconfortá-lo. Não sei de que precisa. Por favor, senhora, é a mãe dele, diga-me o que devo fazer.
    Diga-me o que devo fazer. Catelyn poderia fazer a mesma pergunta, se seu pai estivesse em condições de responder. Mas Lorde Hoster tinha partido, ou estava perto disso. O seu Ned também. E também Bran e Rickon, e a mãe, e Brandon, bá tanto tempo. Só lhe restava Robb, Robb e a esperança que se desvanecia de recuperar as filhas.
    - As vezes - disse Catelyn lentamente -, a melhor coisa que podemos fazer é nada. Quando cheguei a Winterfell, sentia-me magoada sempre que Ned ia ao bosque sagrado e lá se sentava sob a árvore-coração. Sabia que parte de sua alma estava naquela árvore, uma parte que eu nunca partilharia. Mas rapidamente percebi que sem essa parte ele não teria sido Ned. Jeyne, filha, você casou com o Norte, tal como eu fiz... e no Norte os invernos chegam. - Tentou sorrir. - Seja paciente. Seja compreensiva. Ele a ama e precisa de você, e voltará para você bem depressa. Talvez nesta mesma noite. Procure estar lá quando ele fizer isso. E tudo que posso lhe dizer.
    A jovem rainha escutou, arrebatada.
    ~ Estarei - disse, quando Catelyn terminou, - Estarei lá. - Pôs-se em pé. - Devia voltar. Ele pode ter sentido a minha falta. Verei. Mas se ainda estiver com os seus mapas, serei paciente,
    - Faça isso - disse Catelyn, mas quando a garota chegou à porta, lembrou-se de mais uma coisa, - Jeyne - chamou-a há algo mais que Robb precisa de você, embora ele próprio talvez não saiba ainda. Um rei precisa de um herdeiro.
    A garota sorriu ao ouvir aquilo.
    - Minha mãe diz o mesmo. Ela faz uma poção para mim, com ervas, leite e cerveja, para ajudar a me tornar fértil Bebo todas as manhãs. Disse a Robb que tenho certeza de que vou lhe dar gêmeos. Um Eddard e um Brandon. Ele gostou da idéia, acho eu. Nós... nós tentamos quase todos os dias, senhora. Certos dias duas vezes ou mais. - A garota corou de uma forma encantadora. - Vou esperar um bebê em breve, prometo. Rezo à nossa Mãe no Céu todas as noites.
    - Muito bem. Juntarei também as minhas preces. Aos velhos deuses e aos novos.
    Depois que a garota saiu, Catelyn voltou para junto do pai e alisou os finos cabelos
    brancos por cima da testa.
    - Um Eddard e um Brandon - suspirou em voz baixa. - E talvez, a seu tempo, um Hoster. Gostaria disso? - ele não respondeu, mas ela nunca tinha esperado que respon­desse. Enquanto o som da chuva no telhado se misturava com a respiração do pai, pensou em Jeyne.
    A garota realmente parecia ter bom coração, como Robb dissera. E boas ancas, o que pode vir a ser mais importante.
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    Mensagem  Admin Ter Abr 10, 2012 10:02 am

    Jaime
    253
    Há dois dias de viagem, para ambos os lados da estrada do rei, entraram numa larga JLr faixa de destruição, quilômetros de campos e pomares enegrecidos, onde os troncos de árvores mortas se projetavam para o ar como postes de arqueiro. As pontes também estavam queimadas, e os riachos seguiam cheios pelas chuvas do outono, de modo que tinham de patrulhar as margens em busca de vaus. As noites estremeciam com os uivos dos lobos, mas não viam ninguém.
    Em Lagoa da Donzela, o salmão vermelho de Lorde Mooton ainda flutuava sobre o castelo em sua colina, mas as muralhas da vila encontravam-se desertas, os portões, derrubados, metade das casas e lojas, incendiada ou saqueada. Não viram nenhum ser vivo exceto um punhado de cães selvagens, que escapuliram ao ouvir sua aproxi­mação. A lagoa que deu à vila seu nome, onde a lenda dizia que Florian, o Bobo, pela primeira vez vislumbrara Jonquil banhando-se com as irmãs, estava de tal maneira repleta de cadáveres em decomposição que a água se tranformara numa sopa escura, de cor cinza-esverdeada.
    Jaime deu uma olhada e começou a cantar,
    - Cinco donzelas havia numa lagoa de nascente...
    - O que estí fazendo? - quis saber Brienne.
    - Estou cantando "Seis donzelas na lagoa", certamente já ouviu a canção. E que donzelinhas tímidas elas eram. Muito parecidas com você. Embora um tanto mais belas, aposto.
    - Silêncio - disse a moça, com um olhar que sugeria que adoraria deixá-lo flutuando na lagoa entre os cadáveres.
    - Por favor, Jaime - suplicou o primo Cleos. - Lorde Mooton está juramentado a Correrrio, não queremos atrai-lo para fora de seu castelo. E pode haver outros inimigos escondidos nas ruínas...
    - Inimigos dela ou nossos? Não são os mesmos, primo. Tenho um forte desejo de ver se a garota sabe usar aquela espada que transporta.
    - Se não ficar em silêncio, não me deixa escolha a não ser amordaçá-lo, Regicida.
    - Desacorrente minhas mãos, e eu brincarei de mudo até chegarmos a Porto Real. O que poderia ser mais justo do que isso, garota?
    - Brienne! Meu nome é Brienne! - três corvos levantaram voo, assustados pelo ruído.
    - Não quer tomar um banho, Brienne? - soltou uma gargalhada. - E uma donzela,
    e ali esta a lagoa. Eu lavo suas costas. — Costumava esfregar as costas de Cersei, quando éramos crianças no Rochedo Casterly,
    A garota virou a cabeça do cavalo e afastou-se a trote. Jaime e Sor Cleos seguiram- -na para fora das cinzas de Lagoa da Donzela. Um quilômetro e meio adiante, o verde começou a voltar ao mundo. Jaime sentiu-se satisfeito. As terras queimadas faziam-lhe lembrar Aerys em excesso.
    - Ela está seguindo a estrada de Valdocaso - murmurou Sor Cleos. - Seria mais seguro seguir pela costa.
    - Mais seguro, mas mais lento. Eu sou favorável a Valdocaso, primo. Para falar a ver­dade, sua companhia aborrece-me. - Pode ser meio Lannister, mas não tem nada a ver com a minha irmã,
    Nunca tinha conseguido suportar estar muito tempo separado de sua gêmea. Até quando crianças, costumavam enfiar-se nas camas um do outro e dormir de braços entrelaçados. Até no ventre, Muito antes de a irmã florescer ou do advento de sua própria masculinidade, tinham
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    Mensagem  Admin Ter Abr 10, 2012 10:02 am

    visto éguas e garanhões nos campos e cães e cadelas nos canis e brincado de fazer o mesmo. Uma vez, a aia da mãe pegou-os no ato... não se lembrava bem do que estavam fazendo, mas, fosse o que fosse, havia horrorizado a Senhora Joanna. Ela mandou a aia embora, mudou o quarto de Jaime para o outro lado de Rochedo Casterly, colocou um guarda à porta do de Cersei e disse-lhes que não podiam voltar a fazer aquilo nunca mais, caso contrário não teria alternativa e seria obrigada a contar ao senhor pai deles. Mas não precisariam ter medo. Aquilo fora um pouco antes de ela morrer ao dar à luz Tyrion. Jaime quase nem se lembrava do rosto da mãe.
    Stannis Baratheon e os Stark talvez lhe tivessem feito um favor. Tinham espalhado a sua história de incesto por todos os Sete Reinos, portanto nada mais havia a esconder. Por que não devo me casar abertamente com Cersei e dividir a cama com ela todas as noites? Os dragões sempre se casavam com as irmãs, Septões, senhores e povo tinham fechado os olhos aos Targaryen durante centenas de anos, que fizessem o mesmo com a Casa Lannister. Cer­tamente devastaria a pretensão de Joffrey ao trono, mas no fim das contas tinham sido as espadas que conquistaram o Trono de Ferro para Robert, e espadas também podiam manter Joffrey lá, independente de que semente havia lhe dado origem. Poderíamos casá-lo com Myrcella, depois de enviarmos Sansa Stark de volta à mãe. Isso mostraria ao reino que os Lannister estão acima das leis deles, tal como os deuses e os Targaryen.
    Jaime tinha decidido que iria devolver Sansa e a garota mais nova também, se fosse possível encontrá-la. Não era coisa que lhe reconquistasse a honra perdida, mas a idéia de cumprir com a palavra dada quando todos esperavam uma traição divertia-o mais do que seria capaz de exprimir.
    Passavam por um campo de trigo espezinhado e um muro baixo de pedra quando Jaime ouviu um suave jrum vindo de trás, como se uma dúzia de aves tivessem levantado voo ao mesmo tempo.
    - Para baixo! - gritou, atirando-se sobre o pescoço do cavalo. O castrado relinchou e empinou-se quando uma flecha o atingiu na garupa. Outras flechas passaram assobian­do por eles. Jaime viu Sor Cleos cair da sela, torcendo-se quando seu pé ficou preso no estribo. Seu palafrém fugiu, e o Frey passou por eles arrastado, aos gritos, com a cabeça batendo contra o chão.
    O castrado de Jaime arrastou-se pesadamente, bufando e resfolegando de dor. Esti­cou a cabeça para procurar Brienne. Ainda estava montada, com uma flecha alojada nas costas e outra na perna, mas parecia não senti-las. Viu-a puxar a espada e descrever um círculo, em busca dos arqueiros.
    - Atrás do muro - gritou Jaime, lutando para virar a sua montaria meio cega de volta à luta. As rédeas emaranhavam-se em suas malditas correntes, e o ar estava de novo repleto de flechas. - Avançar! - gritou, esporeando para mostrar à mulher como se fazia. Em al­gum canto, o velho e coitado cavalo encontrou um sopro de velocidade. De repente, dispa­raram pelo campo de trigo, fazendo voar nuvens de palha. Jaime só teve tempo suficiente para pensar: E melhor que a garota me siga antes que eles percebam que quem avança sobre eles é um homem desarmado e acorrentado. Então ouviu-a vindo de trás em grande velocidade.
    - Entardecer! - gritou ela, quando seu cavalo de tração passou por Jaime trovejando. Brandia a espada. - Tarth! Tarth!
    Algumas últimas flechas passaram inofensivamente por eles; então os arqueiros se separaram e fugiram, como os arqueiros sem reforço sempre faziam diante do ataque de cavaleiros. Brienne refreou o cavalo junto ao muro. Quando Jaime chegou ao seu lado, todos os arqueiros tinham desaparecido na floresta, vinte metros adiante,
    - Perdeu o gosto pela batalha?
    - Eles estavam fugindo.
    - Essa é a melhor hora para matá-los.
    Ela embainhou a espada.
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    Mensagem  Admin Ter Abr 10, 2012 10:02 am

    - Por que você atacou?
    - Os arqueiros são destemidos desde que possam se esconder atrás de muros e disparar de longe, mas, se são atacados, fogem. Sabem o que lhes acontece quando são apanhados, Você tem uma flecha nas costas, sabia? E outra na perna. Devia me deixar tratar delas.
    - Você?
    - Se não for eu, quem será? Da última vez que vi primo Cleos, o palafrém estava usando a cabeça dele para arar um sulco, Apesar disso, suponho que deveríamos ir à sua procura. Ele é uma espécie de Lannister.
    Encontraram Cleos ainda preso ao estribo. Tinha uma flecha espetada no braço direi­to e uma segunda no peito, mas fora o chão que dera cabo dele. O topo da cabeça estava empastado de sangue e mole ao toque, e pedaços de osso partido moviam-se por baixo da pele, sob a pressão da mão de Jaime.
    Brienne ajoelhou-se e pegou na mão dele.
    - Ainda está quente.
    - Esfriará em breve. Quero o cavalo e as roupas dele. Estou farto de farrapos e moscas.
    - Ele era seu primo. - A moça estava chocada.
    - Era - concordou Jaime. - Não se preocupe, possuo ampla provisão de primos. Também quero a espada dele. Precisará de alguém com quem dividir as vigias.
    - Pode ficar de vigia sem armas. - A garota levantou.
    - Acorrentado a uma árvore? Talvez possa. Ou talvez possa negociar à minha manei­ra com o próximo bando de fora da lei e os deixe cortar esse seu grosso pescoço, garota.
    - Não vou armá-lo. E meu nome é...
    - Brienne, já sei. Eu prestaria o juramento de não lhe fazer mal, se isso atenuasse os seus medos de menina.
    - Seus juramentos não têm qualquer valor. Prestou um juramento a Aerys.
    - Que eu saiba, você não cozinhou ninguém dentro de sua armadura. E ambos que­remos que eu chegue a Porto Real em segurança e inteiro, não queremos? - Acocorou-se ao lado de Cleos e começou a desafivelar o cinto dele.
    - Afaste-se. Já. Pare com isso,
    Jaime estava cansado. Cansado das suspeitas dela, cansado de seus insultos, cansado de seus dentes tortos, de seu rosto largo e manchado e daqueles seus cabelos finos e sem vida. Ignorando os protestos da garota, pegou com ambas as mãos no cabo da espada do primo, prendeu o cadáver ao chão com o pé e puxou. No momento em que a lâmina deslizou para fora da bainha, já estava rodopiando, trazendo a espada à sua volta e para cima num rápido e mortífero arco. Aço encontrou aço com um ressonante clang de fazer tremer os ossos. Sem que ele soubesse como, Brienne puxou a própria lâmina bem a tempo. Jaime riu.
    - Muito bem, garota.
    - Dê-me a espada, Regicida,
    - Ah, darei. - Pôs-se em pé como uma mola, e arremeteu contra ela, com a espada viva nas mãos. Brienne saltou para trás, parando o ataque, mas ele seguiu-a, mantendo a pressão. Assim que a garota parava um golpe, o seguinte caía sobre ela. As espadas beijavam-se, saltavam para longe e voltavam a se beijar. O sangue de Jaime cantava, Era àquilo que estava destinado; nunca se sentia tão vivo como quando estava lutando, com a morte equilibrada em cada golpe. E com os pulsos acorrentados, a moça pode até me desafiar durante algum tempo. As correntes forçavam-no a usar uma empunhadura a duas mãos, embora fosse claro que o peso e o alcance eram menores do que seriam se a lâmina fosse uma verdadeira espada longa de duas mãos, mas que importava? A espada do primo era suficientemente longa para pôr um ponto final naquela Brienne de Tarth.
    Pelo alto, por baixo, com o braço lançado acima do ombro, fez chover aço sobre ela. Pela esquerda, pela direita, para trás, brandindo a espada com tanta força que chispas voavam quando as lâminas se encontravam, para cima, estocada lateral, lançada sobre o ombro,
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    Mensagem  Admin Ter Abr 10, 2012 10:03 am

    sempre atacando, caindo contra ela, passo e esquiva, ataque e passo, passo e ata­que, golpeando, cortando, mais depressa, mais depressa, mais depressa...
    ... até que, sem fôlego, deu um passo para trás e deixou a ponta da espada cair ao chão, dando-lhe um momento de descanso.
    - Nada mal - reconheceu. - Para uma garota.
    Ela inspirou lenta e profundamente, mantendo os olhos cuidadosos a vigiá-lo.
    - Não quero machucá-lo, Regicida.
    - Como se fosse capaz. - Rodopiou a lâmina por sobre a cabeça e voltou a cair sobre ela, num chacoalhar de correntes.
    Jaime não saberia dizer durante quanto tempo prosseguiu o ataque. Podiam ter sido mi­nutos ou podiam ter sido horas; o tempo dormia quando as espadas acordavam. Empurrou- -a para longe do cadáver do primo, empurrou-a para o outro lado da estrada, empurrou-a para o meio das árvores. Brienne tropeçou uma vez numa raiz que não chegou a ver, e por um momento Jaime pensou que ela estivesse acabada, mas a mulher apoiou-se num joelho em vez de cair, e não perdeu o controle. A espada dela ergueu-se de um salto para bloquear um golpe alto que lhe teria aberto o tronco do ombro à virilha, e então golpeou-o, uma vez e mais outra, ganhando golpe a golpe o espaço para voltar a se levantar.
    A dança prosseguiu. Jaime encurralou-a contra um carvalho, praguejou quando ela se esquivou dele, seguiu-a através de um riacho raso quase coberto de folhas caídas. O aço ressoou, o aço cantou, o aço gritou, raspou e soltou chispas, e a mulher passou a grunhir como uma porca a cada golpe, mas Jaime não encontrou maneira de atingi-la. Era como se, em volta dela, houvesse uma gaiola de ferro que parasse todos os golpes.
    - Nada mal mesmo - disse ele quando fez um segundo de pausa para recuperar o fôlego, rodeando-a pela direita.
    - Para uma garota?
    - Para um escudeiro, digamos. Um verde. - Soltou uma gargalhada irregular e sem fôlego. - Vem, vem, minha querida, a música ainda está tocando. Posso ter a honra desta dança, minha senhora?
    Grunhindo, ela atacou-o, com a espada a rodopiar, e de repente era Jaime quem lutava para manter o aço afastado da pele. Um dos golpes de Brienne varreu sua testa, e sangue correu para seu olho direito. Que os Outros a levem, e também a Correrrio! Sua perícia tinha enferrujado e apodrecido naquela maldita masmorra, e as correntes também não ajudavam em nada. Seu olho fechou-se, os ombros começavam a ficar entorpecidos por causa de toda a trepidação que tinham suportado, e seus pulsos doíam com o peso de correntes, algemas e espada. A espada ficava mais pesada a cada golpe, e Jaime sabia que não a brandia tão depressa como antes, nem a erguia tão alto.
    Ela é mais forte do que eu.
    Perceber aquilo gelou-o. Robert tinha sido mais forte do que ele, certamente. Touro Branco e Gerold Hightower, em seu apogeu, também, bem como Sor Arthur Dayne. En­tre os vivos, Grande-Jon Umber era mais forte, Javali Forte de Crakehall muito provavel­mente também, ambos os Clegane com toda a certeza. A força da Montanha não tinha nada de humano. Não importava. Com velocidade e perícia, Jaime era capaz de derrotar todos eles. Mas aquilo era uma mulher. Uma mulher que mais parecia uma enorme vaca, com certeza, mesmo assim... por tudo aquilo que era certo, quem devia estar se cansando era ela.
    Em vez disso, forçou-o a voltar ao riacho, gritando:
    - Renda-se! Jogue fora a espada!
    Uma pedra escorregadia virou-se sob o pé de Jaime. Ao sentir-se caindo, transformou o azar numa estocada em mergulho. A ponta da espada ultrapassou a defesa dela e mor­deu sua coxa superior. Uma flor vermelha desabrochou, e Jaime teve um instante para saborear a visão do sangue de Brienne antes de seu joelho colidir com uma pedra. A dor cegou-o. Brienne andou até ele, espalhando água, e afastou a espada de suas mãos com um chute,
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    Mensagem  Admin Ter Abr 10, 2012 10:03 am

    -RENDA-SE!
    Jaime atirou o ombro contra as pernas dela, fazendo-a cair por cima de si. Rolaram, esperneando e esmurrando-se, até que por fim ela conseguiu sentar-se montada nele. Jaime conseguiu tirar o punhal da bainha dela, mas antes de ter tempo de mergulhá-lo em sua barriga, ela apanhou seu pulso e bateu-o com tanta força numa pedra que foi como se lhe tivesse arrancado o braço do ombro, Com a outra mão, a garota segurou seu rosto.
    - Renda-se! - empurrou sua cabeça para baixo, manteve-a dentro da água, puxou-a para cima. - Renda-se! - Jaime cuspiu água no rosto dela. Um empurrão, um espirrar de água, e estava de novo submerso, esperneando inutilmente, lutando para respirar. De novo para cima. - Renda-se, senão vou afogá-lo!
    - E quebrará seu juramento? - rosnou ele. - Como eu?
    Ela largou-o, e ele mergulhou com um esparramar de água.
    E a floresta ressoou com gargalhadas roucas.
    Brienne pôs-se em pé com dificuldade. Abaixo da cintura, ela era toda lama e sangue, tinha a roupa em desalinho e o rosto vermelho. Pelo aspecto dela é como se nos tivessem apanhado fodendo, e não lutando. Jaime engatinhou pelas pedras até a água rasa, limpando o sangue do olho com as mãos acorrentadas. Homens armados margeavam ambos os lados do riacho. Pouco admira, estávamos fazendo uma barulbeira tão grande que acordaría­mos um dragão.
    - Sejam bem-vindos, amigos - gritou-lhes amigavelmente. - Minhas desculpas se os incomodei. Pegaram-me dando um corretivo na esposa.
    - A mim pareceu que quem tava dando o corretivo era ela. - O homem que falou era forte e poderoso, e barra nasal de seu meio-elmo de ferro não escondia por completo a ausência de seu nariz.
    Jaime percebeu subitamente que aqueles não eram os fora da lei que tinham matado Sor Cleos. Estavam cercados pela escumalha da terra: dorneses trigueiros e lisenos lou­ros, dothraki com sinetas nas tranças, ibbeneses cabeludos, ilhéus do verão, negros como carvão, com manto de penas. Conhecia-os. Os Bravos Companheiros.
    Brienne encontrou a voz.
    - Tenho cem veados...
    Um homem de aspecto cadavérico, com um manto esfarrapado de couro, disse:
    - A gente aceita-os pra começar, senhora.
    - E depois aceita a sua boceta - disse o homem sem nariz. - Não pode ser tão feia quanto o resto de você.
    - Vire-a e meta no cu dela, Rorge - sugeriu um lanceiro de Dorne com um lenço de seda vermelho enrolado em volta do elmo. - Assim não precisa olhar para ela.
    - E roubar dela o prazer de olhar pra mim? - disse o sem-nariz, e os outros riram.
    Por mais feia e teimosa que fosse, a garota merecia coisa melhor do que um estupro
    coletivo por uma escória como aquela.
    - Quem comanda aqui? - exigiu saber Jaime em voz alta.
    - Sou eu quem tem essa honra, Sor Jaime. - Os olhos do cadáver estavam debruados de vermelho, e seus cabelos eram finos e secos. Conseguiam ver-se veias azul-escuras através da pálida pele de suas mãos e de seu rosto. - Sou Urswyck. Chamam-me de Urs­wyck, o Fiel.
    - Sabe quem eu sou?
    O mercenário inclinou a cabeça.
    - E preciso mais do que uma barba e uma cabeça rapada para enganar os Bravos Companheiros.
    Os Saltimbancos Sangrentos, você quer dizer. Jaime não via mais utilidade naqueles do que em Gregor Clegane ou Amory Lorch, Cães, chamava o pai a todos, e usava-os como cães, para espantar as presas e plantar o medo em seu coração.
    - Se me conhece, Urswyck, sabe que terá a sua recompensa. Um Lannister sempre paga as suas dívidas. Quanto à garota, é bem-nascida, e vale um bom resgate.
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    Mensagem  Admin Ter Abr 10, 2012 10:03 am

    O outro inclinou a cabeça para o lado.
    - Ah, é? Que sorte.
    Havia uma certa astúcia no sorriso de Urswyck que não agradou a Jaime.
    - Ouviu o que eu disse. Onde está o bode?
    - A algumas horas de distância. Ele ficará satisfeito por vê-lo, não tenho dúvida, mas, se fosse você, não o chamaria de bode em sua presença. Lorde Vargo tem ficado suscetível quanto à sua dignidade.
    Desde quando aquele selvagem baboso tem dignidade?
    - Farei o possível para me lembrar disso quando nos encontrarmos. Senhor do quê, diga-me?
    - Harrenhal. Foi-lhe prometido.
    Harrenbal? Será que meu pai perdeu o juízo? Jaime ergueu as mãos.
    - Quero estas correntes tiradas.
    O risinho de Urswyck foi seco como papel.
    Algo aqui está muito errado. Jaime não mostrou sinais de sua confusão e limitou-se a sorrir.
    - Disse alguma coisa divertida?
    O sem-nariz deu um sorriso.
    - E a coisa mais engraçada que eu vi desde que o Dentadas arrancou as tetas daquela septã com mordidas.
    - Você e seu pai perderam batalhas demais - esclareceu o dornês. - Tivemos de tro­car as nossas peles de leão por peles de lobo.
    Urswyck abriu as mãos.
    - O que o Timeon quer dizer é que os Bravos Companheiros já não estão a soldo da Casa Lannister. Agora servimos Lorde Bolton, e o Rei no Norte.
    Jaime dirigiu-lhe um frio sorriso de desprezo.
    - E os homens ainda dizem que eu tenho merda no lugar de honra!
    Urswyck não ficou satisfeito com aquele comentário. Ao seu sinal, dois dos Sal­timbancos agarraram Jaime pelos braços e Rorge enfiou-lhe no estômago um punho revestido de cota de malha. Quando se dobrou, grunhindo, ouviu a garota protestar:
    - Parem, ele não deve ser ferido! Foi a Senhora Catelyn que nos enviou, uma troca de cativos, ele está sob a minha proteção... - Rorge bateu outra vez nele, arrancando-lhe o ar dos pulmões. Brienne mergulhou em busca da espada que estava sob as águas do riacho, mas os Saltimbancos caíram sobre ela antes que conseguisse alcançar a arma. Forte como era, foram precisos quatro para espancá-la até deixá-la submissa.
    No fim, o rosto da moça ficou tão inchado e ensangüentado quanto o de Jaime devia estar, e tinham quebrado dois de seus dentes. Isso em nada contribuiu para melhorar sua aparência. Tropeçando e sangrando, os dois prisioneiros foram arrastados pela floresta até os cavalos, com Brienne mancando do ferimento na coxa que Jaime lhe causara no riacho. Ele sentiu pena da garota. Não tinha dúvidas de que Brienne perderia a virginda­de naquela noite. Aquele canalha sem nariz iria possuí-la com certeza, e era provável que alguns dos outros também esperassem a sua vez.
    O dornês amarrou-os costas com costas em cima do cavalo de tração de Brienne, enquanto os outros Saltimbancos despiam Cleos Frey até a pele e dividiam entre si as suas posses. Rorge ganhou o sobretudo manchado de sangue, com seus orgu­lhosos quartos Lannister e Frey. As flechas tinham aberto buracos tanto nos leões como nas torres.
    - Espero que esteja satisfeita, garota - murmurou Jaime a Brienne. Tossiu e cuspiu um punhado de sangue. - Se tivesse me armado, nunca teríamos sido capturados. - Ela não respondeu. É uma cadela teimosa que nem uma mula, pensou. Mas valente, sim. Não podia negar isso. - Quando acamparmos para a noite, você será estuprada, e mais de uma vez - preveniu-a. - Seria sensato não resistir. Se resistir, perderá mais do que alguns dentes.
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    Mensagem  Admin Ter Abr 10, 2012 10:03 am

    Sentiu as costas de Brienne retesarem contra as suas.
    - Seria isso que você faria, se fosse uma mulher?
    Se eu fosse uma mulher, seria Cersei.
    - Se eu fosse uma mulher, iria obrigá-los a me matar. Mas não sou. - Jaime induziu o cavalo deles a trote. - Urswyck! Uma palavrinha!
    O mercenário cadavérico com o manto de couro esfarrapado puxou as rédeas por um momento, e depois pôs-se a seu lado.
    - O que quer de mim, sor? E tenha cuidado com a língua, senão voltarei a dar um corretivo em você.
    - Ouro - disse Jaime. - Gosta de ouro?
    Urswyck estudou-o através de olhos avermelhados.
    - Tem os seus usos, confesso.
    Jaime dirigiu a Urswyck um sorriso astuto.
    - Todo o ouro em Rochedo Casterly. Por que deixar que seja o bode quem se bene­ficiará dele? Por que não nos leva a Porto Real e recolhe você mesmo o meu resgate? O dela também, se quiser. Uma donzela disse-me que chamam Tarth de Ilha Safira. - A mulher contorceu-se ao ouvir aquilo, mas nada disse.
    - Toma-me por um vira-casaca?
    - E claro. Que outra coisa seria?
    Urswyck pesou a proposta durante meio segundo.
    - Porto Real fica muito longe, e seu pai está lá. Lorde Tywin pode nutrir ressentimen­tos por nós, por termos vendido Harrenhal ao Lorde Bolton.
    Ele é mais esperto do que parece. Jaime tinha acalentado a esperança de enforcar o des­graçado assim que seus bolsos estivessem repletos de ouro.
    - Deixe o meu pai comigo. Arranjo um perdão régio por quaisquer crimes que tenha cometido. Arranjo um grau de cavaleiro para você.
    - Sor Urswyck - disse o homem, saboreando o som. - Como a minha querida esposa ficaria orgulhosa de ouvir isso. Se ao menos eu não a tivesse matado. - Suspirou. - En­tão, e o bravo Lorde Vargo?
    - Deverei cantar um verso de "As chuvas de Castamere" para você? O bode não será assim tão bravo quando meu pai puser as mãos nele.
    - E como ele fará tal coisa? Serão os braços de seu pai tão compridos que conseguem passar por cima das muralhas de Harrenhal e arrancar-nos de lá?
    - Se for necessário. - A monstruosa loucura do Rei Harren já tinha caído antes, e poderia voltar a cair. - É tão estúpido que acredita que o bode pode vencer o leão?
    Urswyck debruçou-se e deu-lhe um tabefe indolente no rosto. A pura insolência casual do gesto foi pior do que o golpe em si. Ele não tem medo de mim, compreendeu Jaime, com um arrepio.
    -Já ouvi o bastante, Regicida. Teria de ser realmente um grande idiota para acreditar nas promessas de um petjuro como você. - Esporeou o cavalo e galopou vivamente em frente.
    Aerys, pensou Jaime com ressentimento. Acaba sempre chegando em Aerys. Balançava com os movimentos do cavalo, desejando uma espada. Duas espadas seria ainda melhor. Uma para a garota e uma para mim. Morreríamos, mas levaríamos metade deles para o in­ferno conosco.
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    Mensagem  Admin Ter Abr 10, 2012 10:03 am

    - Por que lhe disse que Tarth era a Ilha Safira? - murmurou Brienne quando Urswyck não podia mais ouvi-la. - E provável que pense que meu pai é rico em pedras preciosas...
    - E melhor que reze para que ele pense assim.
    - Todas as palavras que você diz são mentiras, Regicida? Tarth é chamada de Ilha Safira devido ao azul de suas águas.
    - Grite um pouco mais alto, garota, acho que Urswyck não ouviu. Quanto mais de­pressa souberem o pouco que vale de resgate, mais depressa o estupro começa. Todos os homens que aqui estão irão montar em você, mas que importa? Basta fechar os olhos, abrir as pernas e fingir que todos eles são Lorde Renly.
    Misericordiosamente, aquilo fechou a boca dela durante algum tempo,
    O dia tinha quase chegado ao fim quando encontraram Vargo Hoat, que saqueava um pequeno septo com mais uma dúzia de seus Bravos Companheiros. As janelas de vitral tinham sido quebradas e os deuses de madeira esculpida arrastados para a luz do sol. O mais gordo dothraki que Jaime vira na vida estava sentado sobre o peito da Mãe quando se aproximaram, arrancando seus olhos de calcedônia com a ponta da faca. Ali perto, um septão magricela e perdendo o cabelo pendia, de pernas para o ar, de um galho de um grande castanheiro. Três dos Bravos Companheiros estavam usando seu cadáver como alvo de tiro com arco. Um deles devia ser bom; o morto tinha flechas espetadas em ambos os olhos.
    Quando os mercenários viram Urswyck e os prisioneiros, soou um grito em meia dú­zia de línguas. O bode estava sentado junto a uma fogueira, comendo uma ave meio as­sada que tinha num espeto, com gordura e sangue escorrendo por seus dedos e sua longa barba filamentosa. Limpou as mãos na túnica e levantou-se.
    - Regifida - babou. - Vofê é meu catifo.
    - Senhor, sou Brienne de Tarth - gritou a garota. - A Senhora Catelyn Stark ordenou-me que entregasse Sor Jaime ao irmão dele em Porto Real.
    O bode lançou-lhe um olhar desinteressado.
    - Filenfiem-na,
    - Escute-me - rogou Brienne enquanto Rorge cortava as cordas que a ligavam a Jai­me -, em nome do Rei no Norte, o rei que você serve, por favor, escute...
    Rorge arrastou-a de cima do cavalo e começou a chutá-la.
    - Veja se não quebra nenhum osso - gritou-lhe Urswyck. - A cadela com cara de cavalo vale o próprio peso em safiras.
    O dornês Timeon e um ibbenês malcheiroso puxaram Jaime de cima da sela e empurraram-no rudemente na direção da fogueira. Não lhe teria sido difícil agarrar num dos punhos de suas espadas enquanto o maltratavam, mas os mercenários eram muitos e Jaime continuava acorrentado. Poderia abater um ou dois, mas no fim mor­reria por isso. Jaime ainda não estava pronto para morrer, especialmente por alguém como Brienne de Tarth,
    - Efte é um dia effelente - disse Vargo Hoat. Em seu pescoço havia uma corrente de moedas interligadas, moedas de todas as formas e tamanhos, cunhadas e esculpidas, ostentando retratos de reis, feiticeiros, deuses e demônios, e de todos os tipos de animais fantasiosos.
    Moedas de todas as terras onde lutou, recordou Jaime. A cobiça era a chave para aquele homem. Se ele mudou de lado uma vez, pode mudar de novo.
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    Mensagem  Admin Ter Abr 10, 2012 10:04 am

    - Lorde Vargo, foi uma tolice ter abandonado o serviço do meu pai, mas não é tarde demais para corrigi-la. Ele pagará bem por mim, sabe disso,
    - Ah, fim - disse Vargo Hoat. - Metade do ouro em Rofedo Caíterly ferá meu. Maf primeiro tenho de lhe enviar uma menfagem. - Disse qualquer coisa em sua língua es­corregadia de bode,
    Urswyck empurrou Jaime para trás, e um bobo vestido de losangos verdes e rosa chutou suas pernas, fazendo-o cair, Quando atingiu o chão, um dos arqueiros agarrou a corrente entre os pulsos de Jaime e usou-a para puxar seus braços para a frente. O do- thraki gordo pôs a faca de lado para desembainhar um enorme arakb, a diabolicamente afiada espada-gadanha que os senhores dos cavalos adoravam.
    Querem me assustar, O bobo subiu nas costas de Jaime, aos risinhos, enquanto o do- thraki gingava em sua direção, O bode quer que eu me mije nas calças e suplique por mise­ricórdia, mas nunca terá esse prazer. Ele era um Lannister de Rochedo Casterly, Senhor Comandante da Guarda Real; nenhum mercenário o faria gritar,
    A luz do sol correu, prateada, pelo gume do arakb quando ele desceu tremendo, quase depressa demais para ser visto. E Jaime gritou.
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    Mensagem  Admin Ter Abr 10, 2012 10:04 am

    ARYA
    264
    A pequena fortaleza quadrada estava meio arruinada, e o mesmo acontecia ao grande cavaleiro grisalho que lá vivia, Era tão velho que não compreendia as perguntas que lhe faziam, Não importava o que lhe dissessem, limitava-se a sorrir e a murmurar:
    - Eu defendi a ponte contra Sor Maynard. Ele tinha cabelos vermelhos e um humor negro, mas não conseguiu me afastar. Fui ferido seis vezes antes de matá-lo. Seis!
    O meistre que cuidava dele era um jovem, felizmente. Depois de o velho cavaleiro ter adormecido em sua cadeira, ele chamou-os para um canto e disse:
    - Temo que procure um fantasma. Chegou-nos uma ave, há séculos, pelo menos meio ano. Os Lannister capturaram Lorde Beric perto do Olho de Deus. Foi enforcado.
    - Sim, enforcado foi, mas Thoros cortou sua corda antes de morrer. - O nariz que¬brado de Limo já não estava tão vermelho e inchado como algum tempo antes, mas es¬tava sarando torto, dando ao seu rosto um aspecto assimétrico. - Sua senhoria é um homem difícil de matar, ah, se é.
    - E um homem difícil de achar, ao que parece - disse o meistre. - Já perguntou à Senhora das Folhas?
    - Perguntaremos - disse o Barba-Verde.
    Na manhã seguinte, ao atravessarem a pequena ponte de pedra que havia por trás da fortaleza, Gendry perguntou se aquela seria a ponte pela qual o velho tinha lutado. Ninguém sabia.
    - E o mais provável - disse Jack Sortudo. - Não vejo nenhuma outra ponte.
    - Se houvesse uma canção, saberíamos com certeza - disse Tom Sete-Cordas. - Com uma boa canção saberíamos quem era Sor Maynard e por que ele queria tanto atravessar esta ponte. O pobre velho Lychester podia ser tão afamado quanto o Cavaleiro do Dra¬gão, se ao menos tivesse tido o bom senso de manter um cantor.
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    Mensagem  Admin Ter Abr 10, 2012 10:04 am

    - Os filhos de Lorde Lychester morreram na rebelião de Robert - resmungou Limo. - Alguns de um lado, outros do outro. Desde então, não anda bom da cabeça. Nenhum diabo de canção ia mudar isso.
    - O que o meistre quis dizer quanto a perguntar à Senhora das Folhas? - perguntou Arya a Anguy enquanto avançavam.
    O arqueiro sorriu.
    - Espere e verá.
    Três dias mais tarde, ao atravessarem um bosque amarelo, Jack Sortudo desprendeu o berrante e soprou um aviso, diferente daqueles que fizera soar antes. Os sons mal haviam se extinguido quando escadas de corda caíram, desenrolando-se, dos galhos das árvores.
    - Amarrem os cavalos e lá vamos nós - disse Tom, semientoando as palavras. Su¬biram até uma aldeia escondida nos ramos mais elevados, um labirinto de passadiços de corda e pequenas casas cobertas de musgo, escondidas atrás de paredes vermelhas e douradas, e foram levados à Senhora das Folhas, uma mulher magra como um espeto, de cabelos brancos, vestida de tecido grosseiro.
    - Não podemos ficar aqui muito mais tempo, pois o outono está chegando - disse¬-lhes ela. - Há nove dias, uma dúzia de lobos andou caçando pela estrada de Vaufeno. Se tivessem por acaso olhado para cima, poderiam ter nos visto.
    - Não viu Lorde Beric? - perguntou Tom Sete-Cordas.
    - Está morto. - A mulher parecia desgostosa. - A Montanha pegou-o, e enfiou um punhal num olho dele. Foi um irmão mendicante que nos contou. Ele ouviu isso dos lá¬bios de um homem que viu tudo.
    - Essa história é velha, rançosa e falsa - disse Limo. - O senhor do relâmpago não é assim tão fácil de matar. Sor Gregor pode ter tirado um de seus olhos, mas um homem não morre disso. Jack poderia contar.
    - Bem, eu não morri - disse o zarolho Jack Sortudo. - Meu pai arranjou uma manei¬ra de ser bem enforcadinho pelo meirinho de Lorde Piper, meu irmão Wat foi mandado pra Muralha, e os Lannister mataram meus outros irmãos. Um olho não é nada.
    - Jura que ele não está morto? - a mulher agarrou o braço de Limo. - Abençoado seja, Limo, essa é a melhor novidade que ouvi em meio ano. Que o Guerreiro o proteja, e o sacerdote vermelho também.
    Na noite seguinte encontraram abrigo dentro do esqueleto carbonizado de um septo, numa aldeia queimada chamada Brotadança. Só restavam estilhaços de suas janelas de vitral, e o idoso septão que os acolheu disse que os saqueadores tinham até levado as ca¬ras vestes da Mãe, a lanterna dourada da Velha e a coroa de prata que o Pai usava.
    - Também cortaram os seios da Donzela, embora fossem só de madeira - disse-lhes. - E os olhos, os olhos eram de jade, lápis-lazúli e madrepérola, arrancaram-nos com as facas. Que a Mãe tenha piedade de todos eles.
    - Isso foi obra de quem? - perguntou Limo Manto Limão, - Saltimbancos?
    - Não - respondeu o velho. - Eram nortenhos. Selvagens que adoram árvores. Dis¬seram que procuravam o Regicida.
    Arya ouviu-o e mordeu o lábio. Sentiu Gendry observá-la. Isso a deixou zangada e envergonhada.
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    Mensagem  Admin Ter Abr 10, 2012 10:04 am

    Havia uma dúzia de homens vivendo nas galerias por baixo do septo, por entre teias de aranha, raízes e barris de vinho quebrados, mas também não tinham notícia de Beric Dondarrion. Nem mesmo o chefe, que usava uma armadura enegrecida pela fuligem e um tosco relâmpago no manto. Quando Barba-Verde viu Arya a fitá-lo, riu e disse:
    - O senhor do relâmpago está em todo lado e em lado algum, esquilo magricela.
    - Não sou um esquilo - disse ela. - Vou ser quase uma mulher em breve. Vou fazer onze anos.
    - Então é melhor ter cuidado para que eu não me case com você! - tentou fazer cóce¬gas nela sob o queixo, mas Arya afastou sua estúpida mão com uma pancada.
    Naquela noite, Limo e Gendry jogaram dominó com seus anfitriões, enquanto Tom Sete-Cordas cantava uma canção boba sobre Ben Barrigudo e o ganso do Alto Septão. Anguy deixou Arya experimentar o arco, mas por mais que ela mordesse o lábio, não conseguia puxá-lo.
    - Precisa de um arco mais leve, senhora - disse o arqueiro sardento. - Se houver ma¬deira seca em Correrrio, talvez faça um para você.
    Tom ouviu-o e interrompeu a canção.
    - É um imbecil, Arqueiro. Se formos a Correrrio, será só para recolher o resgate dela, não vai haver tempo para andar por lá fazendo arcos. Fique contente se sair com o couro inteiro. Lorde Hoster já enforcava homens fora da lei quando você ainda nem se barbeava. E aquele filho dele... eu sempre digo que um homem que odeia música não é de confiança.
    - Não é música que ele odeia - disse Limo. - E você, palerma.
    - Bem, não tem motivo para isso. A garota estava disposta a fazer dele um homem, será culpa minha que tenha bebido demais para tratar do assunto?
    Limo fungou através de seu nariz quebrado.
    - Foi você quem fez uma canção sobre isso, ou terá sido outro burro qualquer apaixo¬nado pela própria voz?
    - Só a cantei daquela vez - protestou Tom. - E quem disse que a canção era sobre ele? Era sobre um peixe.
    - Um peixe murcho - disse Anguy, rindo.
    Arya não queria saber sobre o que eram as estúpidas canções de Tom. Virou-se para Harwin.
    - O que ele quis dizer com aquilo do resgate?
    - Temos uma grande falta de cavalos, senhora. E também de armaduras. Espadas, es¬cudos, lanças. Tudo aquilo que as moedas podem comprar. Sim, e sementes para plantar. O inverno está chegando, lembra? - tocou-lhe sob o queixo. - Não será a primeira cativa de elevado nascimento que resgatamos. Nem a última, espero eu.
    Arya sabia que aquilo era verdade. Os cavaleiros andavam sempre sendo capturados e resgatados, e às vezes as mulheres também. Mas e se Robb não quiser pagar o preço deles? Ela não era nenhum cavaleiro famoso, e era de esperar que os reis colocassem o reino à frente das irmãs. E a senhora sua mãe, o que diria? Ainda a quereria de volta, depois de todas as coisas que havia feito? Arya mordeu o lábio e desejou saber.
    No dia seguinte chegaram a um local chamado Coração Alto, um monte tão elevado que de seu cume parecia a Arya que era possível ver metade do mundo. Em volta desse cume havia um anel de enormes tocos brancos, tudo que restava de um círculo de majes¬tosos represeiros. Arya e Gendry caminharam em volta do monte para contá-los. Havia trinta e um, e alguns eram tão largos que poderiam tê-los usado como cama.
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    Mensagem  Admin Ter Abr 10, 2012 10:04 am

    O Coração Alto fora sagrado para os filhos da floresta, contou-lhe Tom Sete-Cordas, e parte de sua magia permanecia no local.
    - Nenhum mal pode acontecer àqueles que aqui dormem - disse o cantor.
    Arya pensou que devia ser verdade; o monte era tão alto e as terras que o cercavam eram tão planas que nenhum inimigo poderia se aproximar sem ser visto.
    Tom disse-lhe que o povo das redondezas evitava o lugar; dizia-se que estava assom¬brado pelos fantasmas dos filhos da floresta que tinham morrido ali quando o rei ânda-
    Io chamado Errog, o Fratricida, derrubou o seu bosque, Arya sabia algo sobre os filhos da floresta e também sobre os ândalos, mas fantasmas não a assustavam. Quando era pequena, costumava esconder-se nas criptas de Winterfell e brincava de entra-no-meu- -castelo e de monstros entre os reis de pedra sentados em seus tronos.
    Mesmo assim, seus cabelos da nuca se arrepiaram naquela noite. Estava dormin¬do, mas a tempestade acordou-a. O vento arrancou a manta de cima dela e soprou-a, rodopiando, para os arbustos, Quando foi atrás dela, ouviu vozes.
    Junto às brasas da fogueira, viu Tom, Limo e Barba-Verde conversando com uma mu- lherzinha minúscula, uns trinta centímetros mais baixa do que Arya e mais velha do que a Velha Ama, toda corcunda e enrugada, apoiada em uma bengala nodosa e negra. Seus cabelos brancos quase chegavam ao chão de tão longos e esvoaçavam em volta de sua ca¬beça como uma nuvem quando o vento soprava. A pele era ainda mais branca, da cor do leite, e pareceu a Arya que seus olhos eram vermelhos, embora fosse difícil ter certeza do meio dos arbustos.
    - Os velhos deuses movimentam-se e não querem me deixar dormir - ouviu a mulher dizer. - Sonhei ver uma sombra com um coração em chamas matando um veado dourado, sim. Sonhei com um homem sem rosto, à espera numa ponte que oscilava e balançava. Em seu ombro estava empoleirado um corvo afogado, com algas penduradas nas asas. Sonhei com um rio rugindo e uma mulher que era um peixe. Estava à deriva, morta, com lágrimas vermelhas nas faces, mas quando seus olhos se abriram, oh, acordei aterrorizada. Tudo isso sonhei, e mais ainda. Têm presentes para mim, para me pagar pelos sonhos?
    - Sonhos - resmungou Limo Manto Limão -, de que servem os sonhos? Mulheres- -peixe e corvos afogados. Eu também tive um sonho na noite passada. Estava beijando uma moça de taberna que conheci. Vai me pagar por isso, velha?
    - A moça está morta - sibilou a mulher. - Só os vermes podem beijá-la agora. - E depois disse a Tom Sete-Cordas: - Quero a minha canção, caso contrário quero vocês fora daqui.
    E assim o cantor tocou para ela, uma canção muito suave e triste, mas Arya só ou¬viu fragmentos das palavras, embora a melodia lhe fosse vagamente familiar. Sansa iria reconhecê-la, aposto, A irmã conhecia todas as canções, e até sabia tocar um pouco, e can¬tava com toda a doçura, Tudo que eu consegui alguma vez fazer foi gritar as palavras.
    Na manhã seguinte, não se via a pequena mulher branca em lugar algum. Enquanto selavam os cavalos, Arya perguntou a Tom Sete-Cordas se os filhos da floresta ainda ha¬bitavam o Coração Alto. O cantor soltou um risinho.
    - Você a viu, foi?
    - Era um fantasma?
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    Mensagem  Admin Ter Abr 10, 2012 10:05 am

    - Os fantasmas reclamam de como as suas articulações rangem? Não, ela é só uma velha anã. Mas é estranha, e tem olhos diabólicos. E sabe coisas que não devia saber, e às vezes nos diz se gosta de nosso aspecto.
    - Ela gostou do seu aspecto? - perguntou Arya de modo duvidoso.
    O cantor riu.
    - Pelo menos gostou do meu som. Mas obriga-me a cantar sempre a mesma maldita canção. Não é ruim, veja bem, mas conheço outras que são igualmente boas. - Balançou a cabeça. - O que importa é que agora temos o cheiro. Aposto que em breve irá ver Tho¬ros e o senhor do relâmpago.
    - Se são homens deles, por que se escondem de vocês?
    Tom Sete-Cordas rolou os olhos ao ouvir aquilo, mas Harwin deu-lhe uma resposta.
    - Eu não chamaria isso de esconder, senhora, mas é verdade, Lorde Beric desloca-se muito e raramente revela seus planos. Assim, ninguém pode traí-lo. A essa altura, nós, os homens que lhe prestamos juramento, devemos ser centenas, talvez milhares, mas não seria bom se andássemos todos atrás dele. Deixaríamos os campos nus para nos alimen¬tarmos, ou seríamos massacrados numa batalha por alguma tropa maior. Da maneira como estamos espalhados em pequenos bandos, podemos atacar uma dúzia de locais ao mesmo tempo, e partir para qualquer outro antes que eles saibam o que aconteceu. E quando um de nós é pego e levado a interrogatório, bem, não lhes pode dizer onde encontrar Lorde Beric, façam eles o que fizerem. - Hesitou. - Sabe o que significa ser levado a interrogatório?
    Arya assentiu com a cabeça.
    - Chamavam isso de fazer cócegas. O Polliver, o Raff e os outros. - Contou-lhes tudo sobre a aldeia nas margens do Olho de Deus onde ela e Gendry tinham sido capturados e sobre as perguntas que Cócegas fazia. "Há ouro escondido na aldeia?", era sempre como começava."Prata, pedras preciosas? Há comida? Onde está Lorde Beric? Quais dos habi¬tantes da aldeia o ajudaram? Para onde foi? Quantos homens estavam com ele? Quantos cavaleiros? Quantos arqueiros? Quantos estavam montados? Como estavam armados? Quantos feridos? Para onde disse que foram?" Só de pensar naquilo conseguia ouvir de novo os gritos, e sentir o fedor de sangue, merda e carne queimada. - Ele fazia sempre as mesmas perguntas - disse solenemente aos fora da lei -, mas todos os dias mudava a forma de fazer cócegas.
    - Nenhuma criança devia ser obrigada a agüentar isso - disse Harwin quando ela terminou. - Ouvimos dizer que a Montanha perdeu metade de seus homens no Moinho de Pedra. Pode ser que esse Cócegas agora esteja flutuando Ramo Vermelho abaixo, com peixes mordiscando sua cara. Se não, bem, é mais um crime pelo qual hão de responder. Ouvi sua senhoria dizer que esta guerra começou quando a Mão lhe ordenou que levasse a justiça do rei a Gregor Clegane, e é assim que pretende que termine. - Deu-lhe uma palmadinha de encorajamento no ombro. - E melhor que monte, senhora. E um longo dia de viagem até o Solar de Bolotas, mas quando terminarmos teremos um teto sobre nossa cabeça e sopa quente na barriga.
    E foi um longo dia de viagem, mas ao anoitecer vadearam um riacho e chegaram ao Solar de Bolotas, com suas muralhas exteriores de pedra e a grande fortaleza de carvalho. Seu senhor andava longe, lutando na companhia do senhor dele, Lorde Vance, e deixara os portões do castelo fechados e trancados em sua ausência. Mas a senhora sua esposa era uma velha
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    Mensagem  Admin Ter Abr 10, 2012 10:05 am

    amiga de Tom Sete-Cordas, e Anguy dizia que um dia tinham sido amantes. Anguy viajava com freqüência ao lado de Arya; de todos, era quem mais se aproximava de sua idade, salvo Gendry, e contava-lhe histórias engraçadas sobre a Marca de Dorne. Mas nunca a enganou. Ele não é meu amigo. Só fica por perto para me vigiar e certificar- -se de que não voltarei a fugir. Bem, Arya também sabia vigiar. Syrio Forel ensinara-lhe a fazer isso.
    A Senhora Smallwood deu as boas-vindas aos fora da lei com bastante gentileza, em¬bora lhes tenha dado um sermão por arrastarem uma garotinha pela guerra. Ficou mais irada ainda quando Limo deixou escapar que Arya era bem-nascida.
    - Quem vestiu a pobre criança com esses farrapos dos Bolton? - exigiu saber. - Esse símbolo... há muitos homens que a enforcariam em meio segundo por usar um homem esfolado no peito. - Arya foi prontamente levada para cima, forçada a entrar numa ba¬nheira, e mergulhada em água escaldante. As aias da Senhora Smallwood esfregaram-na com tanta força que Arya se sentiu como se elas a estivessem esfolando. Até derramaram uma coisa qualquer com um fedor adocicado de flores.
    E depois, insistiram para que se vestisse com coisas de menina, meias marrons de lã, uma combinação leve de linho e, por cima disso, um vestido verde-claro com bolotas bordadas em fio castanho por todo o corpete, e mais bolotas ao longo da bainha da saia.
    - Minha tia-avó é septã num convento em Vilavelha - disse a Senhora Smallwood enquanto as mulheres atavam o vestido ao longo das costas de Arya. - Mandei minha fi¬lha para lá quando a guerra começou. Quando voltar, certamente já estará grande demais para usar essas coisas. Gosta de dançar, filha? A minha Carellen é uma ótima dançarina. Também canta lindamente. O que é que você gosta de fazer?
    Arya arrastou os pés nas esteiras.
    - Trabalhos de agulha.
    - São muito relaxantes, não são?
    - Bem - disse Arya da maneira como eu os faço, não,
    - Não? Sempre os achei relaxantes. Os deuses oferecem a cada uma de nós pequenos dons e talentos, e é sua intenção que os usemos, diz sempre a minha tia. Qualquer ato pode ser uma prece, se for desempenhado tão bem quanto formos capazes. Não é um pensamento adorável? Lembre-se dele da próxima vez que trabalhar com a agulha. Tra¬balha todos os dias?
    - Trabalhava até perder a Agulha. A nova não é tão boa,
    - Em tempos como estes, todos temos de nos arranjar o melhor possível, - A Senho¬ra Smallwood ajeitou o corpete do vestido, - Agora já parece uma jovem senhora como deve ser.
    Não sou uma senhora, Arya quis lhe dizer, sou uma loba.
    - Não sei quem você é, filha - disse a mulher -, e talvez ainda bem que não saiba. Alguém importante, temo. - Alisou o colarinho de Arya. - Em tempos como estes, é melhor ser insignificante. Bem que gostaria de poder ficar com você aqui. Mas não seria seguro, Tenho muralhas, mas homens insuficientes para defendê-las. - Suspirou.
    O jantar estava sendo servido no salão quando Arya entrou, toda lavada, penteada e vestida. Gendry deu uma olhada e riu tanto que o vinho saiu por seu nariz, até que Har¬win lhe deu uma forte palmada na orelha. A refeição foi simples, mas nutritiva; carneiro e cogumelos, pão escuro, purê de ervilhas e maçãs cozidas com queijo amarelo. Depois da refeição e de os
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    Mensagem  Admin Ter Abr 10, 2012 10:05 am

    criados terem sido mandados embora, Barba-Verde baixou a voz para perguntar se sua senhoria teria notícias do senhor do relâmpago.
    - Notícias? - ela sorriu. - Estiveram aqui não faz nem quinze dias. Eles e mais uma dúzia, pastoreando ovelhas. Quase não acreditei nos meus olhos. Thoros deu-me três em agradecimento. Comemos uma esta noite.
    - Thoros pastoreando ovelhas? - Anguy soltou uma gargalhada.
    - Admito que foi uma estranha visão, mas Thoros afirmou que, sendo sacerdote, sa¬bia como cuidar de um rebanho.
    - Sim, e como tosquiá-lo também - gracejou Limo Manto Limão.
    - Alguém podia fazer disso uma canção, e das boas. - Tom fez vibrar uma corda em sua harpa.
    A Senhora Smallwood lançou-lhe um olhar fulminante.
    - Talvez alguém que não rime bombom com Dondarrion. Ou que não toque "Oh, deite minha doce menina na relva" para todas as amas de leite do condado, deixando duas de¬las com grandes barrigas.
    - Foi "Deixe-me beber a sua beleza" - disse defensivamente Tom - e as amas de leite sempre ficam felizes por ouvi-la. Tal como uma certa senhora de elevado nascimento de que eu bem me lembro. Toco para agradar.
    As narinas dela dilataram-se.
    - As terras fluviais estão cheias de donzelas a quem agradou, todas elas bebendo chá de tanásia. Seria de se imaginar que um homem com a sua idade já soubesse como não derramar a semente em suas barrigas. Daqui a pouco, os homens vão chamá-lo de Tom Sete-Filhos.
    - Acontece - disse Tom - que já passei de sete há muitos anos. E que belos rapazes são, com vozes belas como a do rouxinol. - Era claro que o assunto não lhe interessava.
    - Sua senhoria disse para onde se dirigia, senhora? - perguntou Harwin.
    - Lorde Beric nunca divulga seus planos, mas reina a fome perto do Septo de Pedra e do Bosque de Três Dinheiros. Eu iria procurá-lo aí. - Bebeu um gole de vinho. - E melhor que saiba que também tive visitantes menos agradáveis. Uma matilha de lobos veio uivar em volta de meus portões, achando que eu poderia ter aqui o Jaime Lannister.
    Tom parou de dedilhar a harpa.
    - Então é verdade? O Regicida anda de novo à solta?
    A Senhora Smallwood deu-lhe um olhar de escárnio.
    - Não me parece que andariam à caça dele se estivesse acorrentado por baixo de Cor¬rerrio.
    - O que foi que a senhora lhes disse? - perguntou Jack Sortudo.
    - Ora, que Sor Jaime estava nu na minha cama, mas que o tinha deixado exausto demais para descer. Um deles teve o desplante de me chamar de mentirosa, portanto pusemo-los para andar com uma meia dúzia de dardos. Acho que seguiram para Volta de Fundonegro.
    Arya agitou-se impacientemente no banco.
    - Que nortenhos eram esses que vieram à procura do Regicida?
    A Senhora Smallwood pareceu surpreendida por ela intervir.
    - Não me disseram os nomes, filha, mas vinham vestidos de preto, com um sol bran¬co no peito.
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    Mensagem  Admin Ter Abr 10, 2012 10:05 am

    Um sol branco sobre negro era o símbolo de Lorde Karstark, pensou Arya. Aqueles eram homens de Robb. Perguntou a si mesma se ainda andariam por perto. Se conseguisse escapulir dos fora da lei e encontrá-los, talvez a levassem à mãe em Correrrio...
    - Disseram como foi que o Lannister conseguiu escapar? - perguntou Limo.
    - Disseram - disse a Senhora Smallwood. - Não que eu acredite numa palavra sequer. Afirmaram que a Senhora Catelyn o libertou.
    Aquilo surpreendeu tanto Tom que ele estourou uma corda.
    - Até parece - disse ele. - Isso é uma loucura.
    Não é verdade, pensou Arya. Não pode ser verdade.
    - Pensei o mesmo - disse a Senhora Smallwood.
    Foi então que Harwyn se lembrou de Arya.
    - Esta conversa não é para os seus ouvidos, senhora,
    - Não, eu quero ouvir.
    Os fora da lei mostraram-se inflexíveis,
    - Vá embora, esquilinho magricela - disse Barba-Verde. - Seja uma boa senhorinha e vá brincar no pátio enquanto nós conversamos.
    Arya saiu a passos largos, zangada, e teria batido a porta se não fosse tão pesada. A escuridão havia caído sobre o Solar de Bolotas. Algumas tochas ardiam ao longo das muralhas, mas era tudo. Os portões do pequeno castelo encontravam-se fechados e tran¬cados. Sabia que prometera a Harwin que não tentaria fugir novamente, mas isso tinha sido antes de começarem a contar mentiras sobre sua mãe.
    - Arya? - Gendry tinha seguido a menina para fora. - A Senhora Smallwood disse que havia uma forja. Quer ir dar uma olhada?
    - Se quiser, - Não tinha mais nada para fazer.
    - Esse Thoros - disse Gendry enquanto passavam pelos canis - é o mesmo Thoros que vivia no castelo em Porto Real? Um sacerdote vermelho, gordo, com a cabeça raspada?
    - Acho que sim. - Que se lembrasse, Arya nunca tinha falado com Thoros em Porto Real, mas sabia quem ele era. Ele e Jalabhar Xho tinham sido as personagens mais colori¬das na corte de Robert, e Thoros era também um grande amigo do rei.
    - Ele não vai se lembrar de mim, mas costumava vir à nossa forja. - A dos Smallwood já não era usada havia algum tempo, embora o ferreiro tivesse pendurado as ferramentas ordenadamente na parede. Gendry acendeu uma vela e apoiou-a na bigorna enquanto pegava um par de tenazes. - Meu mestre o repreendia sempre por causa das espadas em chamas. Não eram modos de tratar bom aço, dizia ele, mas esse Thoros nunca usava bom aço. Limitava-se a mergulhar uma espada barata qualquer em fogovivo e incendiava-a. Era só um truque de alquimista, dizia meu mestre, mas assustava os cavalos e alguns dos cavaleiros mais verdes.
    Arya contraiu a testa, tentando recordar se o pai alguma vez falara em Thoros,
    - Ele não é muito sacerdotal, não é?
    - Não - admitiu Gendry. - Meistre Mott dizia que Thoros até conseguia beber mais do que o Rei Robert. Eram farinha do mesmo saco, disse-me ele, ambos glutões e bêbados.
    - Não devia chamar o rei de bêbado. - O Rei Robert talvez costumasse beber muito, mas fora amigo do pai de Arya.
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    Mensagem  Admin Ter Abr 10, 2012 10:05 am

    - Estava falando de Thoros. - Gendry estendeu as tenazes como que para agarrar o rosto dela, mas Arya afastou-as com uma pancada. - Ele gostava de banquetes e torneios, por isso é que o Rei Robert era tão amigo dele. E era um homem de coragem. Quando as muralhas de Pyke ruíram, foi o primeiro a atravessar a brecha. Lutou com uma de suas espadas flamejantes, incendiando homens de ferro a cada golpe.
    - Gostaria de ter uma espada flamejante. - Arya conseguia se lembrar de montes de gente em que gostaria de atear fogo.
    - É só um truque, já lhe disse, O fogovivo estraga o aço. Meu mestre vendia a Thoros uma espada nova depois de cada torneio. E tinham sempre uma discussão sobre o preço. - Gendry voltou a pendurar as tenazes e pegou o martelo pesado. - Mestre Mott dizia que era hora de eu fazer a minha primeira espada longa. Deu-me um belo pedaço de aço, e eu sabia exatamente que forma queria dar à lâmina. Mas o Yoren veio e levou-me para a Patrulha da Noite.
    - Ainda pode fazer espadas, se quiser - disse Arya. - Pode fazê-las para o meu irmão Robb, quando chegarmos a Correrrio,
    - Correrrio. - Gendry apoiou o martelo e olhou-a. - Você agora parece diferente. Como uma menina de verdade.
    - Pareço um carvalho, com todas estas bolotas estúpidas.
    - Mas bonito. Um carvalho bonito. - Aproximou-se um passo e farejou-a. - Até chei¬ra bem, para variar.
    - Você, não. Você fede. - Arya empurrou-o contra a bigorna e tentou fugir, mas Gen¬dry segurou-a pelo braço. Ela enfiou um pé entre as suas pernas e passou-lhe uma rastei¬ra, mas ele puxou-a ao cair, e rolaram pelo chão da forja. Ele era muito forte, mas ela era mais rápida. Todas as vezes que ele tentava dominá-la, ela libertava-se com uma contor- ção e dava um murro nele. Gendry limitava-se a rir dos golpes, e isso deixava-a furiosa. Por fim, ele pegou ambos os pulsos dela com uma mão e começou a fazer-lhe cócegas com a outra, e Arya enfiou o joelho entre as pernas dele e libertou-se. Ambos estavam cobertos de sujeira, e o estúpido vestido de bolotas tinha uma manga rasgada.
    - Aposto que agora já não estou tão bonita - gritou ela.
    Tom estava cantando quando voltaram ao salão.
    Meu colchão de penas é grande e suave,
    e é lá que a vou deitar
    Vou vestir-la toda de seda amarela,
    e na testa uma coroa pousar.
    Pois será o meu amor, senhora,
    e eu seu senhor serei.
    Sempre a manterei quente e segura,
    e com espada a defenderei.
    Harwin deu um olhar de relance para eles e estourou em gargalhadas, e Anguy deu um de seus estúpidos sorrisos sardentos e disse:
    - Temos certeza de que esta é uma senhora bem-nascida?
    Limo Manto Limão deu um cascudo na cabeça de Gendry.
    - Se quer lutar, lute comigo! Ela é uma menina, e tem metade de sua idade! Mante¬nha essas mãos longe dela, ouviu?

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