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    Parte 2 3 realm

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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:02 pm

    - Duzentos e trinta degraus, e depois o quê?
    - O túnel à esquerda, mas escute-me,„
    - A que distância está do quarto? - Tyrion pôs um pé no degrau mais baixo da escada.
    - Não passa de vinte metros. Mantenha uma mão na parede enquanto avançar. De¬tectará as portas pelo tato. O quarto é na terceira. - Suspirou. - Isso é uma loucura, senhor. Seu irmão devolveu-lhe a vida. Quer jogá-la fora, juntamente com a minha?
    - Varys, a única coisa que prezo menos do que a minha vida neste momento é a sua. Espere-me aqui. - Deu as costas ao eunuco e começou a subir, contando em silêncio.
    Degrau a degrau, penetrou na escuridão. A princípio conseguia ver o tênue contorno de cada degrau quando o agarrava, bem como a áspera textura da pedra atrás dele, mas à medida que ia subindo a escuridão cerrava-se. Treze, catorze, quinze, dezesseis, Ao chegar ao trigésimo degrau, os braços tremiam com a tensão de puxar. Descansou um pouco para ganhar fôlego e olhou para baixo. Um círculo de luz tênue brilhava muito embaixo, meio obscurecido por seus pés. Tyrion retomou a subida. Trinte e nove, quarenta, quaren¬ta e um. Ao alcançar o quinquagésimo degrau, suas pernas ardiam. A escada era infinita, entorpecedora. Sessenta e oito, sessenta e nove, setenta. Ao chegar ao octagésimo degrau, tinha as costas numa agonia surda. Mas continuou a subir. Não poderia explicar por quê. Cento e treze, cento e catorze, cento e quinze.
    Depois de duzentos e trinta degraus, o poço estava negro como breu, mas ele conse¬guia sentir o ar quente que saía do túnel à sua esquerda, como se fosse o hálito de algu¬ma grande fera. Apalpou desajeitadamente com um pé e saiu com cuidado da escada. O túnel ainda era mais apertado do que o poço. Qualquer homem de estatura normal teria sido obrigado a engatinhar, mas Tyrion era suficientemente baixo para caminhar direito. Finalmente, um lugar feito para anões. Suas botas raspavam suavemente contra a pedra. Caminhou lentamente, contando os passos, apalpando as paredes em busca de descontinuidades. Depois de um tempo começou a ouvir vozes, abafadas e indistintas a princípio, mas depois mais claras. Escutou com mais atenção. Dois dos guardas do pai estavam trocando gracejos a respeito da puta do Duende, dizendo como seria bom fodê-la, e como ela devia ansiar por um pau como deve ser em vez da coisinha atrofiada do anão.
    -o mais provável é que seja torta - disse Lum. Isso levou-os a uma discussão sobre o modo como Tyrion morreria na manhã seguinte. - Ele vai chorar como uma mulher e suplicar misericórdia, vai ver - insistia Lum. Lester achava que enfrentaria o machado com a coragem de um leão, sendo um Lannister como era, e estava disposto a apostar nisso as botas novas. - Ah, estou cagando nas suas botas - disse Lum -, sabe que nunca vão servir aqui nestes meus pés. Olha, se eu ganhar, pode limpar a porcaria da minha cota de malha durante uma quinzena.
    Ao longo de um a dois metros, Tyrion conseguiu ouvir cada palavra do regateio entre os dois, mas, quando prosseguiu, as vozes desvaneceram-se rapidamente. Pouco admira que Varys não quisesse que eu subisse a maldita escada, pensou Tyrion, sorrindo no escuro. Passarinhos, oras.
    Chegou à terceira porta e tateou em volta durante bastante tempo até que seus dedos roçaram num pequeno gancho de ferro instalado entre duas pedras. Quando o puxou para baixo, ouviu-se um ruído surdo e fraco, que no silêncio pareceu o estrondo de uma avalanche, e um quadrado de tênue luz alaranjada abriu-se trinta centímetros à sua esquerda.
    A lareira! Quase riu. A lareira estava cheia de cinzas quentes e tinha uma tora negra com um quente coração alaranjado ardendo por dentro. Atravessou cautelosamente, dan¬do passos rápidos para não queimar as botas, esmagando suavemente as cinzas quentes debaixo dos calcanhares, Quando deu por si naquilo que antes havia sido o seu quarto, ficou imóvel por um longo momento, bebendo o silêncio. Teria o pai ouvido? Estenderia a mão para a espada e daria o alarme?
    - Senhor? - chamou uma voz de mulher.
    Isso poderia ter me machucado em outros tempos, quando ainda sentia dor. O primeiro passo foi o mais duro. Quando chegou à cama, Tyrion afastou as cortinas e ali estava ela, virando-se para ele com um sorriso sonolento nos lábios. Morreu quando viu Tyrion. A moça puxou os cobertores até o queixo, como se isso a protegesse.
    - Estava à espera de alguém mais alto, querida?
    Grandes lágrimas molhadas encheram os olhos dela.
    - Eu não queria dizer aquelas coisas, a rainha obrigou-me. Por favor. Seu pai assusta - -me tanto. - Sentou-se, deixando o cobertor deslizar até o colo. Por baixo encontrava-se nua, exceto pela corrente que trazia à garganta. Uma corrente de mãos de ouro ligadas, cada uma segurando na seguinte,
    - Minha senhora Shae - disse Tyrion em voz baixa. - Todo o tempo que fiquei na cela negra esperando morrer, não parava de me lembrar de sua beleza. Vestida de seda ou tecido grosseiro, ou de coisa nenhuma...
    - O senhor deve estar de volta daqui a pouco. Você devia ir, ou.., veio me levar?
    - Alguma vez gostou? - envolveu-lhe o rosto com as mãos, lembrando-se de to¬das as vezes que tinha feito isso. De todas as vezes que tinha deslizado as mãos em torno da cintura dela, apertado seus pequenos e firmes seios, afagado seus curtos ca¬belos escuros, tocado seus lábios, bochechas, orelhas. De todas as vezes que a abrira com um dedo para sondar a sua doçura secreta e fazê-la gemer. - Alguma vez gostou do meu toque?
    - Mais do que tudo - disse ela -, meu gigante de Lannister.
    Essa foi a pior coisa que poderia ter dito, querida.
    Tyrion enfiou uma mão por baixo da corrente do pai, e torceu. Os elos apertaram-se, enterrando-se no pescoço dela.
    - Porque mãos de ouro são sempre frias, mas há calor em mãos de mulher - disse.
    Deu às mãos frias outra torção enquanto as quentes batiam nele, limpando-lhe as
    lágrimas.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:02 pm

    Depois, encontrou o punhal de Lorde Tywin na mesa de cabeceira e enfiou-o no cin¬to. Uma maça com cabeça de leão, uma alabarda e uma besta tinham sido penduradas nas paredes. A alabarda seria uma arma incômoda de usar dentro de um castelo, e a maça pendurada em um lugar alto demais para que ele a alcançasse, mas um grande baú de madeira e ferro tinha sido encostado à parede logo abaixo da besta. Subiu no baú, pegou a besta e uma aljava de couro repleta de dardos, enfiou um pé no estribo e puxou-o para baixo até que a corda do arco engatilhou. Então enfiou um dardo na ranhura.
    Jaime tinha lhe dado mais do que um sermão acerca das desvantagens das bestas. Se Lum e Lester surgissem de onde quer que estivessem conversando, nunca teria tempo de recarregar, mas pelo menos levaria um para o inferno consigo. Lum, se pudesse escolher. Vai ter de limpar você mesmo a cota de malha, Lum. Perdeu.
    Bamboleando-se até a porta, escutou por um momento, após o que a abriu lentamen¬te. Uma lâmpada ardia num nicho de pedra, lançando uma pálida luz amarela sobre o corredor. Só a chama se movia. Tyrion deslizou para fora do quarto, mantendo a besta abaixada, encostada à perna.
    Foi encontrar o pai onde sabia que o encontraria, sentado nas sombras do poço das latrinas, com o roupão enrolado em volta dos quadris. Ao ouvir o som de passos, Lorde Tywin ergueu os olhos.
    Tyrion concedeu-lhe uma meia reverência trocista.
    - Senhor.
    - Tyrion. - Se estava assustado, Tywin Lannister não mostrou qualquer sinal. - Quem o libertou de sua cela?
    - Adoraria dizer, mas prestei um juramento sagrado.
    - O eunuco - decidiu o pai. - Isto vai custar a cabeça dele. Essa é a minha besta? Aponte-a para baixo,
    - Vai me punir se eu me recusar, pai?
    - Esta fuga é uma loucura. Não vai ser morto, se é isso que teme, Ainda é minha in¬tenção enviá-lo para a Muralha, mas não podia fazer isso sem o consentimento de Lorde Tyrell. Abaixe a besta, e vamos até os meus aposentos conversar.
    - Podemos perfeitamente conversar aqui. Talvez eu não queira ir para a Muralha, pai. Faz um frio dos diabos lá em cima, e creio que já agüentei frio suficiente vindo do senhor. Por isso, diga-me uma coisa, e eu vou embora. Uma simples pergunta, deve-me isso.
    - Não lhe devo nada.
    - Deu-me menos do que isso, toda a minha vida, mas isso vai me dar. O que fez com Tysha?
    - Tysha?
    Ele nem sequer se lembra do nome dela.
    - A garota com quem me casei,
    - Ah, sim. A sua primeira puta.
    Tyrion apontou para o peito do pai.
    - Da próxima vez que disser essa palavra, mato-o.
    - Não tem coragem suficiente.
    - Vamos descobrir? E uma palavra curta, e parece vir tão facilmente aos seus lábios. - Tyrion fez um gesto impaciente com a besta. - Tysha. O que fez com ela, depois de minha Iiçãozinha?
    - Não me lembro.
    - Tente com mais força. Mandou matá-la?
    O pai franziu os lábios.
    - Não havia motivo para isso, ela já tinha aprendido qual era o lugar dela... e foi bem paga pelo trabalho do dia, se bem me lembro. Suponho que o intendente a tenha manda¬do embora. Nunca pensei em perguntar.
    - Mandado embora para onde?
    - Para onde quer que as putas vão.
    O dedo de Tyrion apertou-se. A besta soltou um uang exatamente no momento em que Lorde Tywin começava a se levantar. O dardo atingiu-o acima da virilha e ele vol¬tou a se sentar com um gemido. O dardo penetrou profundamente, bem até as penas, Sangue jorrou ao redor da haste, pingando sobre os pelos púbicos e as coxas nuas de Lorde Tywin.
    - Atirou em mim - disse ele, incrédulo, com os olhos vidrados, em choque.
    - Sempre foi rápido em compreender as situações, senhor - disse Tyrion. - Deve ser por isso que é Mão do Rei.
    - Você... não é... não é meu filho.
    - E justamente aí que se engana, pai. Ora, eu creio que sou você em letra pequena. E agora faça-me a bondade de morrer depressa. Tenho um navio para alcançar.
    Por uma vez, o pai fez o que Tyrion lhe pediu. A prova foi o súbito fedor, quando suas tripas se soltaram no momento da morte. Bem, estava no lugar certo para isso, pensou Tyrion. Mas o fedor que encheu a latrina forneceu ampla evidência de que a freqüente¬mente repetida piada a respeito de seu pai era apenas mais uma mentira.
    No fim das contas, Lorde Tywin Lannister não cagava ouro.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:03 pm

    Samwell 912


    O
    rei estava zangado. Sam viu-o de imediato. Enquanto os irmãos negros entravam, um a um, e ajoelhavam na sua frente, Stannis afastou o café da manhã de pão duro, charque e ovos cozidos, e olhou-os friamente. A seu lado, a mulher vermelha, Melisan¬dre, parecia achar a cena divertida.
    Não tenho lugar aqui, pensou Sam com ansiedade, quando os olhos vermelhos dela caíram sobre si. Alguém tinha de ajudar Meistre Aemon a subir os degraus. Não olhe para mim, sou 5Ó o intendente do meistre. Os outros eram candidatos ao posto do Velho Urso, todos menos Bowen Marsh, que se retirara da eleição, mas continuava a ser castelão e Senhor Intendente. Sam não compreendia por que Melisandre havia de parecer tão inte¬ressada nele.
    O Rei Stannis manteve os irmãos negros de joelhos durante um tempo extraordina¬riamente longo.
    - Levantem-se - disse por fim. Sam ofereceu o ombro ao Meistre Aemon para ajudá- -lo a ficar em pé novamente,
    O som de Lorde Janos Slynt limpando a garganta quebrou o tenso silêncio.
    - Vossa Graça, permita-me que exprima o nosso agrado por sermos aqui convocados. Quando vislumbrei seus estandartes a partir da Muralha, soube que o reino estava salvo. "Aí vem um homem que nunca esquece o seu dever", disse eu ao bom Sor Alliser. "Um homem forte, e um verdadeiro rei." Posso felicitá-lo por sua vitória sobre os selvagens? Os cantores farão grandes coisas dela, eu sei...
    - Os cantores podem fazer o que bem entenderem - interrompeu Stannis. - Poupe- -me de sua bajulação, Janos, que não lhe servirá de nada. - Ficou em pé e mostrou a to¬dos o cenho carregado. - A Senhora Melisandre disse-me que ainda não escolheram um Senhor Comandante. Estou descontente. Quando tempo mais esta loucura vai durar?
    - Senhor - disse Bowen Marsh em tom defensivo -, ninguém conquistou ainda dois terços dos votos. Só se passaram dez dias.
    - Nove dias a mais. Tenho cativos cujo destino deve ser decidido, um reino que preci¬sa ser posto em ordem, uma guerra a travar. Escolhas têm de ser feitas, decisões que en¬volverão a Muralha e a Patrulha da Noite. Por direito, o seu Senhor Comandante deveria ter algo a dizer nessas decisões.
    - Deveria, sim - falou Janos Slynt. - Mas há que dizê-lo. Nós, os irmãos, somos simples soldados. Soldados, sim! E Vossa Graça saberá que os soldados se sentem mais
    confortáveis obedecendo a ordens. Eles se beneficiariam de sua real orientação, parece- -me. Para o bem do reino. Para ajudá-los a escolher sabiamente.
    A sugestão indignou alguns dos outros.
    - Também quer que o rei limpe nosso cu? - disse irritadamente Cotter Pyke,
    - A escolha de um Senhor Comandante cabe aos Irmãos Juramentados, e apenas a eles - insistiu Sor Denys Mallister.
    - Se escolherem sabiamente, não me escolherão - gemeu Edd Doloroso.
    Meistre Aemon, calmo como sempre, disse:
    - Sua Graça, a Patrulha da Noite escolhe seu próprio líder desde que Brandon, o Construtor, ergueu a Muralha. Até Jeor Mormont tivemos novecentos e noventa e sete Senhores Comandantes em sucessão ininterrupta, todos eles escolhidos pelos homens de quem seriam líderes, uma antiga tradição de muitos milhares de anos.
    Stannis rangeu os dentes.
    - Não é meu desejo imiscuir-me em seus direitos e tradições. E quanto à real orienta¬ção, Janos, se a sua idéia é que eu devia dizer aos seus irmãos que devem escolhê-lo, tenha a coragem de afirmá-lo.
    Aquilo surpreendeu Lorde Janos. Sorriu com incerteza e começou a transpirar, mas Bowen Marsh, ao seu lado, disse:
    - Quem será mais adequado para comandar os homens de manto negro do que um homem que um dia comandou os de manto dourado, senhor?
    - Qualquer um de vocês, creio eu. Até o cozinheiro. - O olhar que o rei lançou a Slynt era frio. - Janos dificilmente terá sido o primeiro homem de manto dourado a acei¬tar um suborno, admito, mas pode ter sido o primeiro comandante a engordar a bolsa através da venda de posições e promoções. Nos últimos tempos, deve ter tido metade dos oficiais na Patrulha da Cidade pagando-lhe parte de seus salários. Não é verdade, Janos?
    O pescoço de Slynt estava se tornando roxo.
    - Mentiras, tudo mentiras! Um homem forte faz inimigos, Vossa Graça sabe disso, eles murmuram mentiras atrás de suas costas. Nunca nada foi provado, nem um homem testemunhou.,.
    - Dois homens que estavam preparados para testemunhar morreram subitamente durante suas rondas, - Stannis estreitou os olhos. - Não brinque comigo, senhor. Eu vi as provas que Jon Arryn apresentou ao pequeno conselho. Se o rei tivesse sido eu, você teria perdido mais do que o seu cargo, garanto-lhe, mas Robert encolheu os ombros aos seus pequenos lapsos."Todos eles roubam", lembro-me de ouvi-lo dizer."E preferível um ladrão que conhecemos do que um que desconhecemos, o homem seguinte pode ser pior." Palavras de Lorde Petyr na boca de meu irmão, aposto. Mindinho tinha faro para o ouro, e estou certo de que arranjou as coisas de forma que a coroa lucrasse tanto com a sua corrupção quanto você.

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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:03 pm

    A papada de Lorde Slynt tremia, mas antes de ele ter tempo de preparar mais protes¬tos, Meistre Aemon disse:
    - Vossa Graça, segundo a lei, os crimes e as transgressões anteriores são limpos quando um homem profere suas palavras e se torna um Irmão Juramentado da Patru¬lha da Noite.
    - Estou consciente disso. Se por acaso Lorde Janos aqui for o melhor que a Patru¬lha da Noite tem a oferecer, rangerei os dentes e engolirei esse fato. Não me importa nada quem de seus homens será escolhido, desde que façam uma escolha. Temos uma guerra a travar.
    - Vossa Graça - disse Sor Denys Mallister, num tom de cuidadosa cortesia. - Se está falando dos selvagens...
    - Não estou. E você sabe disso, sor.
    - E o senhor deve saber que, embora nos sintamos gratos pela ajuda que nos deu contra Mance Rayder, não lhe podemos fornecer auxílio em sua disputa pelo trono. A Patrulha da Noite não participa nas guerras dos Sete Reinos. Ao longo de oito mil anos...
    - Eu conheço a sua história, Sor Denys - disse bruscamente o rei. - Dou-lhe a mi¬nha palavra, não lhes pedirei para erguer a espada contra nenhum dos rebeldes e usur¬padores que me atormentam, Mas espero que continuem defendendo a Muralha como sempre fizeram.
    - Defenderemos a Muralha até o último homem - disse Cotter Pyke.
    - Que provavelmente serei eu - disse Edd Doloroso em tom resignado.
    Stannis cruzou os braços.
    - Também precisarei de mais algumas coisas de vocês. Coisas que talvez não me deem com tanta prontidão. Quero seus castelos. E quero a Dádiva.
    Aquelas palavras sem rodeios estouraram entre os irmãos negros como um frasco de fogovivo atirado num braseiro. Marsh, Mallister e Pyke, todos tentaram falar ao mesmo tempo. O Rei Stannis deixou-os falar. Quando terminaram, disse:
    - Eu tenho três vezes mais homens do que vocês. Posso ocupar as terras, se quiser, mas preferiria fazer isso legalmente, com o seu consentimento.
    - A Dádiva foi perpetuamente oferecida à Patrulha da Noite, Vossa Graça - insistiu Bowen Marsh.
    - O que significa que não pode ser legalmente capturada, adquirida ou tomada de vocês. Mas o que foi oferecido uma vez pode voltar a ser oferecido.
    - O que fará com a Dádiva? - quis saber Cotter Pyke.
    - Darei melhor uso a ela do que vocês deram. Quanto aos castelos, Atalaialeste, Cas¬telo Negro e Torre Sombria continuarão sendo seus. Guarneçam-nos como sempre fize¬ram, mas tenho de ficar com os outros para as minhas guarnições, se quisermos defender a Muralha.
    - Você não tem homens suficientes - retrucou Bowen Marsh.
    - Alguns dos castelos abandonados são pouco mais do que ruínas - disse Othell Yar¬wyck, o Primeiro Construtor.
    - Ruínas podem ser reconstruídas.
    - Reconstruídas? - disse Yarwyck. - Mas quem fará o trabalho?
    - Isso é problema meu. Necessitarei que me forneçam uma lista, detalhando o estado atual de cada castelo e o que será necessário para restaurá-lo. Pretendo tê- -los todos guarnecidos de novo dentro de um ano, com fogueiras noturnas ardendo perante seus portões.
    - Fogueiras noturnas? - Bowen Marsh dirigiu a Melisandre um olhar hesitante. - Agora devemos acender fogueiras noturnas?
    - Sim. - A mulher levantou-se num turbilhão de seda escarlate, com os longos ca¬belos acobreados caindo em volta de seus ombros. - As espadas, sozinhas, não podem deter esta escuridão. Só a luz do Senhor consegue fazer isso. Não se iludam, bons sores e valentes irmãos, a guerra que viemos travar não é uma querela mesquinha a propósito de terras e honrarias. A nossa é uma guerra pela própria vida, e se falharmos o mundo morre conosco.
    Sam viu que os oficiais não sabiam como entender aquilo. Bowen Marsh e Othell Yarwyck trocaram um olhar de dúvida, Janos Slynt estava furioso e Hobb Três-Dedos ti¬nha a expressão de quem preferia estar cortando cenouras naquele momento. Mas todos pareceram surpreendidos ao ouvir Meistre Aemon murmurar:
    - A guerra de que fala é a guerra pela alvorada, senhora. Mas onde está o príncipe que foi profetizado?
    - Ele está na sua frente - declarou Melisandre -, embora não tenha olhos para ver. Stannis Baratheon é Azor Ahai regressado, o guerreiro do fogo. Nele, as profecias cumprem-se. O cometa vermelho ardeu no céu para anunciar a sua vinda, e ele traz a Luminífera, a espada vermelha dos heróis.
    Sam viu que as palavras dela pareceram deixar o rei desesperadamente desconfortá¬vel. Stannis rangeu os dentes e disse:
    - Chamaram, e eu vim, senhores. Agora têm de sobreviver comigo, ou morrer comi¬go. E melhor que se habituem a isso. - Fez um gesto brusco. - E tudo. Meistre, fique por um momento. E você também, Tarly. Os outros podem ir.
    Eu?, pensou Sam, aflito, enquanto os irmãos faziam reverências e se dirigiam para a porta. O que ele quer comigo?
    - E aquele que matou a criatura na neve - disse o Rei Stannis, depois de só restarem os quatro na sala,
    - Sam, o Matador. - Melisandre sorriu.
    Sam sentiu o rosto enrubescer.
    - Não, senhora. Vossa Graça. Quer dizer, sou, sim. Sou Samwell Tarly, sim.
    - Seu pai é um soldado capaz - disse o Rei Stannis. - Derrotou uma vez o meu irmão, em Vaufreixo. Mance Tyrell reclamou alegremente as honras dessa vitória, mas Lorde Randyll tinha resolvido o assunto antes de Tyrell sequer encontrar o campo de batalha. Ele matou Lorde
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:03 pm

    CafFeren com aquela sua grande espada valiriana e mandou a cabeça dele a Aerys, - O rei esfregou o queixo com um dedo. - Você não é o tipo de filho que eu esperaria que um homem assim tivesse.
    - Eu... eu não sou o tipo de filho que ele desejava, senhor.
    - Se não tivesse vestido o negro, daria um refém útil - devaneou Stannis.
    - Ele vestiu o negro, senhor - apontou Meistre Aemon.
    - Estou bem consciente desse fato - disse o rei. - Estou consciente de mais do que pensa, Aemon Targaryen,
    O velho inclinou a cabeça.
    - Sou apenas Aemon, senhor. Abandonamos o nome de nossas Casas quando forja¬mos as correntes de meistre.
    O rei respondeu àquilo com um aceno seco, como quem diz que sabia e não se importava.
    - Matou aquela criatura com um punhal de obsidiana, segundo me dizem - disse ele a Sam.
    - S-sim, Vossa Graça. Foi Jon Snow quem me deu.
    - Vidro de dragão. - O riso da mulher vermelha era música. - Fogo congelado, na lín¬gua da antiga Valíria. Pouco admira que seja anátema para aqueles frios filhos do Outro.
    - Em Pedra do Dragão, onde tinha a minha sede, vê-se muita desta obsidiana nos velhos túneis por baixo da montanha - disse o rei a Sam. - Grandes pedaços, pedregu- lhos, veios. A maior parte é negra, se bem me lembro, mas havia também alguma verde, alguma vermelha, até púrpura. Mandei dizer a Sor Rolland, o meu castelão, para come¬çar a miná-la. Não controlarei Pedra do Dragão durante muito mais tempo, receio, mas o Senhor da Luz talvez nos permita obter fogo congelado suficiente para nos armarmos contra essas criaturas, antes que o castelo caía.
    Sam pigarreou.
    - S-senhor. O punhal... o vidro de dragão apenas estilhaçou-se quando tentei apu¬nhalar uma criatura.
    Melisandre sorriu.
    - E a necromancia que anima essas criaturas, mas elas não deixam de ser apenas carne morta. O aço e o fogo servirão para elas. Aqueles que chamam de Outros são algo mais.
    - Demônios feitos de neve, gelo e frio - disse Stannis Baratheon. - O antigo inimigo. O único inimigo que importa. - Voltou a fitar Sam. - Disseram-me que você e aquela garota selvagem passaram por baixo da Muralha, através de um portão mágico qualquer.
    - O P-Portão Negro - gaguejou Sam. - Por baixo de Fortenoite,
    - Fortenoite é o maior e mais antigo dos castelos na Muralha - disse o rei. - E lá que pretendo me instalar, enquanto travo esta guerra. Você irá me mostrar esse portão.
    - Eu - disse Sam -, eu m-mostro, se... - Se ainda estiver lá. Se se abrir para um homem que não veste negro. Se...
    - Mostrará - exclamou Stannis. - Eu direi quando.
    Meistre Aemon sorriu.
    - Vossa Graça - disse antes de irmos, pergunto a mim mesmo se poderia nos fazer a grande honra de mostrar essa maravilhosa lâmina de que tanto ouvimos falar.
    - Você quer ver a Luminífera? Um cego?
    - Sam será os meus olhos.
    O rei franziu a testa.
    - Todo mundo já viu a coisa, por que não um cego? - seu cinto da espada e a bai¬nha estavam pendurados em um gancho perto da lareira. Pegou o cinto e desembainhou a espada. Aço roçou em madeira e couro, e uma radiância encheu o aposento privado; cintilando, ondulando, uma dança de luz dourada, alaranjada e vermelha, todas as cores brilhantes do fogo.
    - Conte-me, Samwell. - Meistre Aemon tocou-lhe o braço.
    - Ela brilha - disse Sam, em voz abafada. - Como se estivesse em fogo. Não há cha¬mas, mas o aço é amarelo, vermelho e laranja, lampejando e tremeluzindo como o sol na água, só que mais bonito, Gostaria que pudesse vê-la, meistre.
    - Agora estou vendo, Sam. Uma espada cheia da luz do sol. Uma beleza de se ad¬mirar. - O velho fez uma hirta reverência. - Vossa Graça. Minha senhora. Foi muita amabilidade sua,
    Quando o Rei Stannis embainhou a espada cintilante, a sala pareceu ficar muito escu¬ra, apesar da luz do sol que entrava pela janela.
    - Muito bem, já a viram. Podem voltar aos seus deveres, E lembrem-se do que eu disse. Seus irmãos escolherão um Senhor Comandante esta noite, caso contrário eu farei rI*»K<»íarí>m nue tivessem escolhido.
    Meistre Aemon manteve-se perdido em pensamentos enquanto Sam o ajudava a des¬cer a estreita escada em espiral. Mas quando atravessavam o pátio, disse:
    - Não senti nenhum calor. Você sentiu, Sam?
    - Calor? Vindo da espada? - tentou lembrar-se. - O ar em volta dela estremecia, como faz por cima de um braseiro quente.
    - Mas não sentiu nenhum calor, não é? E a bainha em que a espada estava guardada, é de madeira e couro, não é? Ouvi o som quando Sua Graça puxou a espada. O couro estava chamuscado, Sam? A madeira parecia queimada ou enegrecida?
    - Não - admitiu Sam. - Que eu visse, não.
    Meistre Aemon assentiu. De volta aos seus aposentos, pediu a Sam para acender a lareira e ajudá-lo a se sentar na cadeira junto a ela,
    - E difícil ser tão velho - suspirou enquanto se instalava na almofada. - E ainda mais difícil ser tão cego. Sinto falta do sol. E dos livros. Acima de tudo sinto falta dos livros. - Aemon fez um gesto com uma mão, - Não precisarei mais de você até a votação.
    - A votação... Meistre, não há algo que possa fazer? O que o rei disse sobre Lorde Janos...
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:03 pm

    - Eu lembro-me - disse Meistre Aemon -, mas, Sam, eu sou um meistre, acorrenta¬do e juramentado. Meu dever é aconselhar o Senhor Comandante, seja ele quem for. Não seria adequado que eu fosse visto favorecendo um candidato em detrimento de outro.
    - Eu não sou um meistre - disse Sam, - Poderia eu fazer alguma coisa?
    Aemon virou seus alvos olhos cegos para o rosto de Sam e sorriu suavemente.
    - Ora, não sei, Samwell. Poderia?
    Poderia, pensou Sam. Tenho de fazer. E tinha de fazer imediatamente, Se hesitasse, perderia a coragem com certeza. Sou um homem da Patrulha da Noite, lembrou a si mes¬mo enquanto cruzava o pátio, apressado. Sou sim. Posso fazer isso. Tinha havido uma época em que estremeceria e guincharia se Lorde Mormont apenas o olhasse, mas esse era o velho Sam, de antes do Punho dos Primeiros Homens e da Fortaleza de Craster, de antes das criaturas e do Mãos-Frias e do Outro montado em seu cavalo morto. Ele agora era mais corajoso. Goiva tornou-me mais corajoso, tinha dito a Jon. Era verdade. Tinha de ser verdade.
    Cotter Pyke era o mais assustador dos dois comandantes, por isso Sam foi primeiro falar com ele, enquanto a coragem ainda estava quente. Foi encontrá-lo no antigo Salão dos Escudos, jogando dados com três de seus homens de Atalaialeste e um sargento rui- vo que viera de Pedra do Dragão com Stannis.
    Mas quando Sam pediu licença para falar com ele, Pyke ladrou uma ordem, e os ou¬tros pegaram o dado e as moedas e deixaram-nos a sós.
    Ninguém chamaria algum dia Cotter Pyke de bem-apessoado, embora o corpo que se encontrava sob a sua brigantina tachonada e os calções de tecido grosseiro fosse esguio, duro e forte. Os olhos eram pequenos e juntos, tinha o nariz quebrado, e os cabelos re¬cuados nas têmporas formavam um bico tão pronunciado quanto a ponta de uma lança. As bexigas tinham devastado violentamente seu rosto, e a barba que deixou crescer para esconder as cicatrizes era fina e irregular.
    - Sam, o Matador! - disse ele, em jeito de saudação. - Tem certeza de que apunhalou um Outro, e não um cavaleiro de neve de alguma criança?
    Isso não está começando bem.
    - Foi o vidro de dragão que o matou, senhor - explicou debilmente Sam.
    - Sim, sem dúvida. Bem, desembucha, Matador. Foi o meistre que o mandou vir até mim?
    - O meistre? - Sam engoliu em seco. - Eu... eu estive agora com ele, senhor. - Aquilo não era realmente uma mentira, mas se Pyke quisesse ler a informação da ma¬neira errada, podia deixá-lo mais inclinado a escutar. Sam respirou fundo e lançou-se em seu apelo.
    Pyke interrompeu-o antes de dizer vinte palavras.
    - Quer que me ajoelhe e beije a bainha do lindo manto do Mallister, é isso? Devia ter imaginado. Vocês, os fidalgos, formam rebanhos como se fossem ovelhas. Bem, diga a Aemon que desperdiçou sua saliva e o meu tempo. Se alguém devesse se retirar, devia ser o Mallister. O homem é velho demais para o raio do cargo, e talvez devesse lhe dizer isso, Nós escolhemos o homem, e de repente estamos aqui de volta dentro de um ano, escolhendo outro qualquer.
    ~ Ele é velho - concordou Sam -, mas tem muita ex-experiência.
    - De se sentar em sua torre e remexer em mapas, talvez. O que ele planeja fazer? Escrever cartas às criaturas? Ele é um cavaleiro, muito bem, mas não é um lutador, e eu estou cagando e andando para quem ele derrubou do cavalo num torneio de idiotas qual¬quer há cinqüenta anos. O Meia-Mão travou todas as batalhas dele, até um velho cego devia ser capaz de ver isso. E, mais do que nunca, nós precisamos de um lutador, com este maldito rei em cima de nós. Hoje são ruínas e campos vazios, muito bem, mas o que irá S«a Graça querer amanhã? Acha que o Mallister tem estômago para enfrentar Stannis Baratheon e aquela cadela vermelha? - Soltou uma gargalhada. - Eu não.
    - Então não irá apoiá-lo? - disse Sam, desalentado.
    - E o Sam, o Matador, ou o Dick Surdo? Não, não irei apoiá-lo. - Pyke sacudiu um dedo em frente de seu rosto. - Veja se entende isto, rapaz. Eu não quero a porcaria do cargo, e nunca quis. Luto melhor com um convés debaixo de mim, não com um cavalo, e Castelo Negro fica longe demais do mar. Mas prefiro ser enrabado por uma espada em brasa a entregar a Patrulha da Noite àquela águia peralta da Torre Sombria. E você pode correr de volta para junto do velho e contar-lhe o que eu disse se ele perguntar, - Ficou em pé, - Desapareça da minha vista.
    Sam precisou de toda a coragem que lhe restava para dizer:
    - E... e se houvesse outra pessoa? Poderia a-apoiar outra pessoa?
    - Quem? Bowen Marsh? O homem conta colheres. Othell é um seguidor, faz o que lhe dizem, e faz bem, mas não passa disso. Slynt... bem, seus homens gostam dele, ad¬mito, e quase valeria a pena enfiá-lo no real papo e ver se Stannis se engasgava, mas não. Há demasiado de Porto Real nesse aí. Um sapo ganha asas e pensa que é a merda de um dragão, - Pyke soltou uma gargalhada, - Sobra quem? Hobb? Podíamos escolhê-lo, suponho, mas depois quem é que iria assar o seu carneiro, Matador? Você parece ser um homem que gosta do seu carneiro.
    Nada mais havia a dizer. Derrotado, Sam só pôde gaguejar seus agradecimentos e retirar-se. Terei mais sucesso com Sor Denys, tentou dizer a si mesmo enquanto atravessava o castelo. Sor Denys era um cavaleiro, bem-nascido e educado, e tinha tratado Sam com toda a cortesia quando o encontrou com Goiva na estrada. Sor Denys vai me escutar, tem de escutar.
    O comandante da Torre Sombria tinha nascido à sombra da Torre Ressonante de Guardamar, e cada centímetro de seu corpo se parecia com um Mallister. Zibelina forra¬va seu colarinho e realçava as mangas de seu gibão de veludo negro. Uma águia prateada prendia as garras nas dobras de seu manto. A barba era branca como neve, o cabelo quase desaparecera, e o rosto exibia profundas rugas, era certo. Mas ele ainda possuía graça nos movimentos e dentes na boca, e os anos não tinham enevoado nem seus olhos azul- -acinzentados nem sua cortesia.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:03 pm

    - Senhor de Tarly - disse, quando seu intendente levou Sam até ele, na Lança, onde os homens da Torre Sombria estavam alojados. - Agrada-me ver que se recuperou de sua provação. Posso oferecer-lhe uma taça de vinho? A senhora sua mãe é uma Florent, se bem me lembro. Um dia tenho de lhe contar como derrubei ambos os seus avôs no mesmo torneio. Mas não hoje, sei que temos assuntos mais prementes a tratar. Vem da parte de Meistre Aemon, com certeza. Ele tem conselhos a me dar?
    Sam bebeu um gole de vinho e escolheu as palavras com cuidado.
    - Um meistre acorrentado e juramentado... não seria adequado que fosse visto in¬fluenciando a escolha do Senhor Comandante...
    O velho cavaleiro sorriu.
    - Motivo pelo qual não veio pessoalmente falar comigo. Sim, compreendo bastante bem, Samwell. Aemon e eu somos ambos velhos, e sábios em tais assuntos. Diga o que veio dizer.
    O vinho era doce, e Sor Denys escutou o apelo de Sam com grave cortesia, ao contrá¬rio de Cotter Pyke. Mas quando terminou, o velho cavaleiro sacudiu a cabeça.
    - Concordo que seria um dia negro na nossa história se um rei nomeasse o nosso Senhor Comandante. Este rei, especialmente. Não é provável que mantenha a coroa por muito tempo. Mas realmente, Samwell, devia ser Pyke a retirar-se. Tenho mais apoio do que ele, e sou mais adequado ao cargo.
    - E verdade - concordou Sam -, mas Cotter Pyke poderia servir. Dizem que provou freqüentemente o seu valor em batalha. - Não pretendia ofender Sor Denys elogiando o seu rival, mas de que outra forma poderia convencê-lo a se retirar?
    - Muitos de nossos irmãos demonstraram o seu valor em batalha. Não basta. Há as¬suntos que não podem ser decididos com um machado de guerra. Meistre Aemon com¬preenderá esse fato, embora Cotter Pyke não compreenda. O Senhor Comandante da Patrulha da Noite é um senhor, acima de tudo. Tem de ser capaz de lidar com outros senhores... e também com reis. Tem de ser um homem merecedor de respeito. - Sor Denys inclinou-se para a frente. - Nós dois somos filhos de grandes senhores. Conhe¬cemos a importância do nascimento, do sangue e desse treino inicial que nunca pode ser substituído. Eu fui escudeiro aos doze anos, cavaleiro aos dezoito, campeão aos vinte e dois. Sou comandante na Torre Sombria há trinta e três anos. O sangue, o nascimento e o treino tornaram-me apto a lidar com reis. O Pyke... bem, ouviu-o esta manhã, pergun¬tando se Sua Graça lhe limparia o traseiro? Samwell, não é meu hábito falar mal de meus irmãos, mas sejamos francos... os homens de ferro são uma raça de piratas e ladrões, e Cotter Pyke já andava violando e assassinando quando mal tinha deixado de ser um ra¬paz. Meistre Harmune lê e escreve as cartas dele, e tem feito isso há anos. Não, por mais relutância que sinta em desapontar o Meistre Aemon, não poderia de forma honrosa afastar-me pelo Pyke de Atalaialeste.
    Daquela vez, Sam estava preparado.
    - E poderia fazê-lo por outra pessoa? Se houvesse alguém mais adequado?
    Sor Denys refletiu por um momento.
    - Nunca desejei a honra em si mesma. Na última eleição, afastei-me, grato, quando o nome de Lorde Mormont foi sugerido, tal como tinha feito por Lorde Qorgyle na eleição anterior. Desde que a Patrulha da Noite permaneça em boas mãos, estou satisfeito. Mas Bowen Marsh não está à altura da tarefa e Othell Yarwyck também não. E este dito Se¬nhor de Harrenhal é uma cria de carniceiro promovida pelos Lannister. Não me admira que seja venal e corrupto.
    - Há outro homem - Sam deixou escapar. - O Senhor Comandante Mormont con¬fiou nele. E Donal Noye e Qhorin Meia-Mão também. Embora o nascimento dele não seja tão nobre quanto o seu, provém de sangue antigo, Nasceu e foi educado num castelo, e aprendeu a manejar espada e lança com um cavaleiro e as letras com um meistre da Ci¬dadela. O pai era um senhor, e o irmão, um rei.
    Sor Denys afagou sua longa barba branca.
    - Talvez - disse, após um longo momento, - E muito jovem, mas... talvez. Poderá servir, admito, embora eu fosse mais adequado. Não tenho qualquer dúvida. Eu seria a escolha mais sensata.
    Jon disse que podia haver honra numa mentira, se fosse dita pelos motivos certos. Sam disse:
    - Se não escolhermos um Senhor Comandante esta noite, o Rei Stannis pretende nomear Cotter Pyke, Ele disse isso ao Meistre Aemon esta manhã, depois de todos vocês terem saído,
    - Entendo. - Sor Denys ergueu-se. - Tenho de pensar sobre isso, Obrigado, Sam- well. E dê os meus agradecimentos também ao Meistre Aemon,
    Sam estava tremendo quando saiu da Lança. 0 que foi que eu fiz?, pensou. O que foi que eu disse? Se o pegassem mentindo.,, fariam o quê? iriam me enviar para a Muralha? Tirar minhas entranhas? Transformar-me numa criatura? De repente, tudo aquilo lhe pa¬receu absurdo. Como podia se sentir tão assustado com Cotter Pyke e Sor Denys Mallis¬ter, depois de ter visto um corvo comer o rosto de Paul Pequeno?
    Pyke não se mostrou satisfeito com o seu retorno.
    - Você outra vez? Seja rápido, você começa a me aborrecer.
    - Só preciso de mais um momento - prometeu Sam. - Disse que não se retiraria por Sor Denys, mas poderia se retirar por outro homem.
    - Quem é dessa vez, Matador? Você?
    - Não. Um lutador. Donal Noye entregou-lhe a Muralha quando os selvagens chega¬ram e era escudeiro do Velho Urso. O único problema é que é bastardo.
    Cotter Pyke soltou uma gargalhada.
    - Oh, inferno. Isso ia enfiar uma lança no cu do Mallister, não ia? Pode valer a pena só por isso. O rapaz talvez não seja tão ruim, não é? - fungou. - Mas eu seria melhor. Eu sou o líder de quem precisamos, qualquer idiota consegue ver isso.
    - Qualquer idiota - concordou Sam até eu. Mas... bem, eu não devia lhe contar, mas,,, o Rei Stannis pretende nos obrigar a aceitar Sor Denys, se não escolhermos um homem esta noite. Ouvi-o dizendo isso ao Meistre Aemon, depois do resto de vocês ter sido mandado embora.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:04 pm

    Jon 923





    Emmett de Ferro era um jovem patrulheiro alto e magricela cuja resistência, força e Viabilidade com a espada eram o orgulho de Atalaialeste. Jon saía sempre de suas sessões hirto e dolorido, e no dia seguinte acordava coberto de hematomas, o que era exa¬tamente o que queria. Nunca conseguiria se aperfeiçoar defrontando gente como Cetim, Cavalo ou mesmo Grenn.
    Jon gostava de pensar que na maior parte dos dias batia tanto quanto apanhava, mas náo naquele. Quase não tinha dormido na noite anterior, e após passar uma hora virando-se na cama, num desassossego, desistiu até de tentar, vestiu-se e percorreu o topo da Muralha até o sol nascer, lutando com a oferta de Stannis Baratheon. A falta de sono estava agora se fazendo sentir, e Emmett malhava nele sem misericórdia pátio afora, mantendo-o sobre os calcanhares com um longo golpe em arco após outro, e batendo nele de tempos em tempos com o escudo, para variar. O braço de Jon ficou dormente com os impactos, e a espada de treino sem gume parecia tornar-se mais pe¬sada a cada momento.
    Estava prestes a baixar a lâmina e pedir para pararem quando Emmett fez uma finta baixa e arremeteu por cima de seu escudo com um violento golpe direto que atingiu Jon num lado da cabeça. Cambaleou, com o elmo e a cabeça ressoando com a força do ataque. Durante meio segundo o mundo para lá de sua viseira foi uma mancha indistinta.
    E então os anos desapareceram, e ele estava uma vez mais de volta a Winterfell, usan¬do um casaco de couro almofadado em vez de cota de malha e placa de aço. Sua espada era feita de madeira, e era Robb quem o defrontava, e não Emmett de Ferro.
    Tinham treinado juntos todas as manhãs, desde que tiveram idade suficiente para andar; Snow e Stark, rodopiando e golpeando-se pelos pátios de Winterfell, gritando e rindo, e às vezes chorando quando ninguém estava vendo. Quando lutavam não eram ga- rotinhos, e sim cavaleiros e poderosos heróis. "Eu sou o Príncipe Aemon, o Cavaleiro do Dragão" gritava Jon, e Robb gritava em resposta: "Bem, eu sou Florian, o Bobo". Ou en¬tão Robb dizia:"Eu sou o Jovem Dragão", ejon respondia: "Eu sou Sor Ryam Redwyne".
    Naquela manhã tinha sido ele quem gritou primeiro.
    - Eu sou o Senhor de Winterfell - gritou, como gritara cem vezes antes. Mas daquela vez, daquela vez, Robb respondeu:
    - Você não pode ser Senhor de Winterfell, é um bastardo. A senhora minha mãe diz que nunca poderá ser Senhor de Winterfell.
    Achava que tinha esquecido isso. Jon sentia sangue na boca, do golpe que sofrerá.
    No fim, Halder e Cavalo tiveram de afastá-lo de Emmett de Ferro, cada um dos ho¬mens segurando um de seus braços. O patrulheiro estava sentado no chão, atordoado, com o escudo meio feito em lascas, a viseira do elmo torta, e a espada a seis metros de distância.
    -Jon, basta - Halder estava gritando ele caiu, você desarmou-o. Bastai
    Não. Não basta. Nunca basta. Jon largou a espada.
    - Desculpe - murmurou. - Emmett, está ferido?
    Emmett de Ferro tirou seu elmo amassado.
    - Houve alguma parte de rendo-me que não conseguiu entender, Lorde Snow? - Mas aquilo foi dito de forma amigável. Emmett era um homem amigável e adorava a canção das espadas. - Que o Guerreiro me proteja - gemeu -, agora sei o que Qhorin Meia- -Mão deve ter sentido.
    Aquilo foi demais. Jon libertou-se dos amigos e se retirou para o arsenal, sozinho. Ainda tinha os ouvidos ressoando do golpe que Emmett lhe dera. Sentou-se no banco e afundou a cabeça nas mãos. Por que estou tão zangado?, perguntou a si mesmo, mas era uma pergunta estúpida. Senhor de Winterfell. Poderia ser Senhor de Winterfell. Herdeiro de meu pai.
    Mas não foi o rosto de Lorde Eddard que viu flutuando na sua frente; foi o da Se¬nhora Catelyn. Com os seus profundos olhos azuis e a boca dura e fria, parecia-se um pouco com Stannis, Ferro, pensou, mas quebradiço. Ela o olhava daquela maneira como costumava olhá-lo em Winterfell, sempre que ele se sobrepunha a Robb nas espadas, nas somas, ou em qualquer outra coisa. Quem é você?, sempre lhe parecia que aquele olhar dizia. Este não é o seu lugar. Por que está aqui?
    Os amigos ainda estavam no pátio de treinos, mas Jon não se encontrava em estado de encará-los. Saiu do arsenal pelos fundos, descendo uma íngreme escada de pedra até os caminhos de minhoca, os túneis subterrâneos que ligavam as fortalezas e as tor¬res do castelo. Foi uma caminhada curta até a casa de banhos, onde deu um mergulho frio para lavar o suor do corpo e depois se enfiou numa quente banheira de pedra. O calor levou um pouco da dor dos músculos e fez Jon pensar nas lagoas lamacentas de Winterfell, que fumegavam e borbulhavam no bosque sagrado. Winterfell, pensou. Theon deixou-o queimado e quebrado, mas eu poderia restaurá-lo. Certamente o pai teria desejado isso, e Robb também. Nunca teriam desejado que o castelo fosse abandonado à ruína.
    "Você não pode ser Senhor de Winterfell, é um bastardo", ouviu de novo Robb dizer. E os reis de pedra rosnavam para ele com línguas de granito."Não pertence a Winterfell. Este não é o seu lugar," Quando Jon fechou os olhos, viu a árvore-coração, com seus ra¬mos claros, folhas vermelhas e rosto solene. Lorde Eddard sempre dizia que o represeiro era o coração de Winterfell,,, mas para salvar o castelo, Jon teria de arrancar esse coração até suas antigas raízes e entregá-lo ao faminto deus de fogo da mulher vermelha, Não tenho o direito, pensou, Winterfell pertence aos deuses antigos.
    O som de vozes ecoando no teto abobadado trouxe-o de volta a Castelo Negro,
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:04 pm

    - Não sei - um homem estava dizendo, numa voz pesada de dúvidas. - Talvez se conhecesse melhor o homem,,. Lorde Stannis não tinha nada de muito bom a dizer dele, digo-lhe isso.
    - Quando Stannis Baratheon teve muitas coisas boas a dizer de alguém? - voz pétrea de Sor Alliser era inconfundível. - Se permitirmos que Stannis escolha nosso Senhor Comandante, transformamo-nos em seus vassalos em tudo menos no nome. Não é pro¬vável que Tywin Lannister se esqueça disso, e você sabe que será Lorde Tywin quem vai ganhar no fim. Já derrotou Stannis uma vez, na Água Negra.
    - Lorde Tywin é favorável a Slynt - disse Bowen Marsh, numa voz inquieta e ansiosa. - Posso lhe mostrar a carta dele, Othell. Chamou Slynt de "o nosso fiel amigo e servidor".
    Jon Snow ergueu-se de repente, e os três homens imobilizaram-se ao ouvir o som da água escorrendo.
    - Senhores - disse, com fria cortesia.
    - O que está fazendo aqui, bastardo? - perguntou Thorne.
    - Tomando banho, Mas não deixem que eu estrague as suas maquinações, - Jon saiu de dentro da banheira, secou-se, vestiu-se e deixou-os conspirando. Lá fora, descobriu que não fazia nenhuma idéia de onde ir. Passou pelo esqueleto da Torre do Senhor Co¬mandante, onde um dia tinha salvado o Velho Urso de um morto; passou pelo local onde Ygritte morreu com aquele sorriso triste no rosto; passou pela Torre do Rei, onde ele, Cetim e Dick Surdo Follard tinham esperado pelo Magnar e os seus Thenns; passou pelos restos empilhados e carbonizados da grande escada de madeira. O portão interior estava aberto, então Jon penetrou no túnel e começou a atravessar a Muralha. Sentia o frio à sua volta, o peso de todo o gelo por cima de sua cabeça. Passou pelo local onde Do¬nal Noye e Mag, o Poderoso, tinham lutado e morrido juntos, atravessou o novo portão exterior, e saiu para a luz pálida e fria do sol.
    Só então se permitiu parar, respirar, pensar. Othell Yarwyck não era um homem de fortes convicções, exceto naquilo que dizia respeito a madeira, pedra e argamassa. O Ve¬lho Urso sabia disso. Thorne e Marsh irão fazê-lo mudar de opinião, Yarwyck irá apoiar Lorde Janos, e Lorde Janos será escolhido Senhor Comandante, E isso deixa-me o quê, além de Winterfell?
    Um vento rodopiava contra a Muralha, puxando seu manto. Sentia o frio que vinha do gelo tal como o calor vem de uma fogueira, Jon puxou o capuz para cima e recomeçou a andar. A tarde encaminhava-se para o fim, e o sol estava baixo a oeste. Cem metros à frente ficava o acampamento onde o Rei Stannis confinou seus cativos selvagens dentro de um anel de valas, estacas afiadas, e altas cercas de madeira. Para a esquerda havia três grandes fossos para fogueiras, onde os vencedores tinham queimado os corpos de todos os membros do povo livre que tinham morrido à sombra da Muralha, fossem enormes gigantes cobertos de pelo, fossem pequenos homens de Cornopé. O terreno de matança ainda era uma desolação de mato chamuscado e piche endurecido, mas o povo de Man¬ce deixou sinais de sua passagem por todo lado: uma pele rasgada que podia ter feito parte de uma tenda, um malho de gigante, a roda de uma biga, uma lança quebrada, uma pilha de estrume de mamute, No limite da floresta assombrada, onde as tendas tinham se erguido, Jon encontrou um toco de carvalho e sentou-se.
    Ygritte queria que eu fosse um selvagem, Stannis quer que eu seja o Senhor de Winterfell. Mas o que eu quero? O sol engatinhou pelo céu e foi mergulhar atrás da Muralha, no lo¬cal onde esta descrevia uma curva através dos montes a ocidente. Jon ficou observando, enquanto essa altíssima extensão de gelo adotava os tons vermelhos e rosados do poente. Preferiria ser enforcado como vira-casaca por Lorde Janos ou ahjurar os meus votos, casar com Vai e tornar-me Senhor de Winterfell? Parecia uma escolha fácil quando pensava nela nesses termos... se bem que, se Ygritte ainda fosse viva, pudesse ter sido ainda mais fácil. Vai era uma estranha para ele. Não era de doer os olhos, com certeza, e tinha sido irmã da rainha de Mance Rayder, mesmo assim...
    Teria de raptá-la se quisesse o seu amor, mas ela poderia me dar filhos. Eu poderia um dia segurar nos braços um filho de meu próprio sangue. Um filho era algo com que Jon Snow nunca se atrevera a sonhar, desde que decidira viver a sua vida na Muralha. Podia chamá- -lo de Robb. Vai gostaria de ficar com o filho da irmã, mas poderíamos criá-lo em Winterfell, e o filho da Goiva também. Sam nunca teria de contar a sua mentira. E também encontraría¬mos lugar para Goiva, e Sam poderia ir visitá-la uma vez por ano, ou algo assim. O filho de Mance e o de Craster cresceriam como irmãos, como aconteceu comigo e Robb.
    Jon compreendeu então que desejava aquilo. Desejava-o tanto como jamais tinha de¬sejado alguma coisa. Sempre o desejei, pensou, sentindo-se culpado. Que os deuses me per¬doem. Era uma fome que trazia dentro de si, afiada como uma lâmina de vidro de dragão. Uma fome... conseguia senti-la. Era de comida que necessitava, de presas, de um veado vermelho que fedesse a medo ou de um grande alce, orgulhoso e desafiador. Desejava matar e encher a barriga de carne fresca e sangue quente e escuro. Sua boca começou ase encher de saliva ao pensar nisso.
    Passou-se um longo momento até compreender o que estava acontecendo. Quando isso aconteceu, pôs-se em pé de um salto.
    - Fantasma? - virou-se para a floresta, e ali estava ele, saltando em silêncio do interior do ocaso verde, com a respiração saindo quente e branca de suas mandíbulas abertas. - Fantasma! - gritou, e o lobo gigante desatou a correr. Estava mais esguio do que antes, mas também estava maior, e o único som que fazia era o suave estalar de folhas mortas sob as patas. Quando se aproximou de Jon, saltou, e ambos lutaram entre a grama amar- ronzada e as longas sombras, enquanto as estrelas surgiam por cima deles. - Deuses, lobo, onde esteve? - disse Jon quando o Fantasma parou de lhe mordiscar o braço. - Achava que tinha morrido, como Robb e Ygritte e todos os outros. Não consegui senti- -lo desde que escalei a Muralha, nem mesmo em sonhos. - O lobo gigante não tinha resposta a dar, mas lambeu o rosto de Jon com uma língua que era como lixa úmida, e seus olhos capturaram a última luz e brilharam como dois grandes sóis vermelhos.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:04 pm

    Olhos vermelhos, percebeu Jon, mas não como os de Melisandre. O lobo tinha olhos de re- preseíro. Olhos vermelhos, boca vermelha, pelo branco. Sangue e osso, como uma árvore-coração. Este pertence aos deuses antigos. E só ele, entre todos os lobos gigantes, era branco. Tinham encontrado seis filhotes nas neves do fim do verão, ele e Robb; cinco que eram cinzentos, negros e castanhos, para os cinco Stark, e um branco, tão branco como a neve. Snow.
    Então obteve a sua resposta.
    Sob a Muralha, os homens da rainha estavam acendendo a sua fogueira noturna. Viu Melisandre emergir do túnel com o rei a seu lado, para liderar as preces que acreditava que manteriam a escuridão afastada.
    - Vem, Fantasma - disse Jon ao lobo. - Comigo. Você tem fome, eu sei. Consegui sentir. - Correram juntos para o portão, dando uma volta larga em torno da fogueira noturna, na qual altas chamas enfiavam as garras na barriga negra da noite.
    Os homens do rei encontravam-se em grande evidência nos pátios de Castelo Negro. Paravam quando Jon passava por eles, e ficavam olhando de boca aberta. Compreendeu que nenhum deles jamais tinha visto um lobo gigante, e Fantasma era duas vezes maior do que os lobos comuns que patrulhavam as suas florestas do sul. Enquanto se dirigia ao arsenal, Jon olhou casualmente para cima e viu Vai em pé, na sua janela de torre. Lamen¬to, pensou, não sou o homem que a raptará daí.
    No pátio de treinos deparou com uma dúzia de homens do rei com archotes e longas lanças nas mãos. O sargento olhou para Fantasma e franziu a testa, e dois dos seus ho¬mens baixaram as lanças até que o cavaleiro que os liderava disse:
    - Afastem-se e deixem-nos passar. - E, dirigindo-se a Jon, disse: - Está atrasado para o jantar.
    - Então saia do meu caminho, sor - respondeu Jon, e foi o que o outro fez.
    Ouviu o ruído antes mesmo de chegar ao pé das escadas; vozes alteradas, xingamen- tos, alguém esmurrando uma mesa. Jon entrou na adega praticamente sem ser notado. Os irmãos enchiam os bancos e as mesas, mas os que estavam em pé e aos gritos eram mais numerosos do que aqueles que se encontravam sentados, e ninguém comia. Não havia comida. 0 que está acontecendo aqui? Lorde Janos Slynt berrava qualquer coisa so¬bre vira-casacas e traições, Emmett de Ferro encontrava-se em pé sobre uma mesa com a espada desembainhada na mão, Hobb Três-Dedos amaldiçoava um patrulheiro da Torre Sombria... um homem qualquer de Atalaialeste bateu com o punho algumas vezes na mesa, exigindo silêncio, mas tudo que conseguiu foi somar esse ruído ao burburinho que ecoava sob o teto abobadado.
    Pyp foi o primeiro a notar a presença de Jon. Sorriu ao ver Fantasma, levou dois dedos à boca e assobiou como só um filho de saltimbanco sabia assobiar. O som estridente cor¬tou o clamor como uma espada. Enquanto Jon caminhava na direção das mesas, mais irmãos reparavam nele e ficavam quietos. Um silêncio espalhou-se pela adega, até que os únicos sons que se ouviram foram os calcanhares de Jon soltando estalidos do chão de pedra, e o suave crepitar da lenha na lareira.
    Sor Alliser Thorne estilhaçou o silêncio.
    - O vira-casacas finalmente agracia-nos com sua presença.
    Lorde Janos estava ruborizado e tremendo.
    - A fera - arquejou. - Olhem! A fera que arrancou a vida do Meia-Mão. Um warg caminha entre nós, irmãos. Um WARG! Esta... esta criatura não é digna de nos liderar! Este lobisomem não é digno de viver!
    Fantasma mostrou as presas, mas Jon apoiou uma mão na cabeça dele.
    - Senhor - disse quer me dizer o que está acontecendo aqui?
    Meistre Aemon respondeu do outro lado da sala.
    - Seu nome foi sugerido para Senhor Comandante, Jon.
    Aquilo era tão absurdo que Jon teve de sorrir.
    - Por quem? - disse, em busca dos amigos. Aquilo tinha de ser uma das brincadeiras de Pyp, com certeza. Mas Pyp encolheu os ombros, e Grenn balançou a cabeça. Foi Edd Doloroso Tollett quem se levantou.
    - Por mim. Sim, fazer isso a um amigo é terrivelmente cruel, mas antes você do que eu.
    Lorde Janos recomeçou a falar furiosamente.
    - Isso, isso é um ultraje. Nós devíamos enforcar esse rapaz. Sim! Enforquem-no, enforquem-no por ser um vira-casacas e warg, juntamente com o amigo Mance Rayder. Senhor Comandante? Não aceitarei isso, não admitirei isso!
    Cotter Pyke pôs-se em pé,
    - Você não admite isso? Pode ser que tenha treinado aqueles homens de manto dou¬rado para lamber a merda do seu cu, mas agora está usando um manto preto.
    - Qualquer irmão pode pôr qualquer nome à nossa consideração, desde que o ho¬mem tenha proferido seus votos - disse Sor Dennis Mallister. - Tollett está inteiramen¬te no seu direito, senhor.
    Uma dúzia de homens começou a falar ao mesmo tempo, cada um tentando sobrepor sua voz à dos outros, e não tardou muito até que metade da sala estivesse de novo aos gritos. Daquela vez foi Sor Alliser Thorne quem saltou para cima da mesa e ergueu as mãos exigindo silêncio.
    - Irmãos! - gritou - Não lucramos nada com isso. Sugiro que votemos, Este rei que ocupou a Torre do Rei colocou homens em todas as portas para se assegurar de que não comamos nem saiamos até que a escolha seja feita. Que seja! Votaremos, e votaremos de novo, a noite inteira se necessário, até termos o nosso comandante... mas antes de deposi¬tarmos os penhores, creio que nosso Primeiro Construtor tem algo a nos dizer.
    Othell Yarwyck levantou-se lentamente, de cenho franzido, O grande construtor es¬fregou seu queixo protuberante e disse:
    - Bem, vou retirar o meu nome. Já houve dez oportunidades de me escolherem, e não o fizeram. Não o suficiente de vocês, pelo menos. Eu ia dizer que aqueles que estavam depositando um penhor por mim deviam escolher Lorde Janos...
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:04 pm

    Sor Alliser fez um aceno.
    - Lorde Slynt é a melhor escolha...
    - Não tinha acabado, Alliser - protestou Yarwyck. - Lorde Slynt comandou a Patru¬lha da Cidade em Porto Real, todos sabemos, e era Senhor de Harrenhal,,,
    - Ele nem sequer viu Harrenhal - gritou Cotter Pyke,
    - Bem, isso é verdade - disse Yarwyck, - Seja como for, agora que estou aqui em pé, não me lembro por que foi que pensei que Slynt seria uma escolha assim tão boa. Isso seria como dar um chute na boca do Rei Stannis, e não vejo como é que isso nos é útil. Pode ser que o Snow seja melhor. Está há mais tempo na Muralha, é sobrinho de Ben Stark e serviu o Velho Urso como escudeiro. - Yarwyck encolheu os ombros, - Esco¬lham quem quiserem, desde que não seja eu. - E sentou-se.
    Jon viu que Janos Slynt, que já estava vermelho, ficara roxo, mas Sor Alliser Thorne tinha empalidecido. O homem de Atalaialeste estava de novo batendo na mesa com o punho, mas agora gritava pelo caldeirão. Alguns de seus amigos adotaram o grito.
    - Caldeirão! - rugiram eles, como um só. - Caldeirão, caldeirão, CALDEIRÃO!
    O caldeirão estava no canto junto à lareira, uma enorme coisa negra de fundo redon¬do, com duas enormes alças e uma tampa pesada. Meistre Aemon disse algo a Sam e Clydas, e eles agarraram as alças e arrastaram o caldeirão para a mesa. Alguns dos irmãos já estavam fazendo fila junto aos barris de penhores quando Clydas tirou a tampa e qua¬se a deixou cair em cima do pé. Com um grito roufenho e um bater de asas, um enorme corvo saltou de dentro do caldeirão. Voou para cima, talvez em busca das vigas, ou de uma janela por onde escapar, mas não havia vigas no porão e também não havia janelas. O corvo estava encurralado. Crocitando ruidosamente, voou aos círculos pela sala, uma, duas, três vezes. E Jon ouviu Samwell Tarly gritar:
    - Eu conheço aquela ave! E o corvo de Lorde Mormont!
    O corvo pousou na mesa mais próxima de Jon. "Snow", crocitou. Era uma ave velha, suja e enlameada. "Snow", voltou a dizer, "Snow, snow, snow". Caminhou até a borda da mesa, abriu de novo as asas e voou para o ombro de Jon.
    Lorde Janos Slynt sentou-se tão pesadamente que fez tum, mas Sor Alliser encheu a adega com uma gargalhada zombeteira.
    - Sor Porquinho pensa que somos todos tolos, irmãos - disse. - Ele ensinou à ave este truquezinho, Todos eles dizem snow, é só ir à colônia e escutar com seus ouvidos. A ave de Mormont sabia mais palavras além dessa.
    O corvo inclinou a cabeça e olhou para Jon. "Grão?", disse com ar esperançoso, Quan¬do não obteve nem grão nem uma resposta, soltou um cuorc e resmungou: "Caldeirão? Caldeirão? Caldeirão?"
    E o resto foram pontas de flecha, uma torrente de pontas de flecha, um dilúvio de pontas de flecha, pontas de flecha suficientes para afogar as últimas pedras e conchas, e também todas as moedas de cobre.
    Quando a contagem terminou, Jon deu por si rodeado. Alguns deram-lhe tapinhas nas costas, enquanto outros se dobravam para ajoelhar perante si como se fosse um se¬nhor de verdade. Cetim, Owen Idiota, Halder, Sapo, Bota Extra, Gigante, Mully, Ulmer da Mata de Rei, Donnel Doce Hill e meia centena de outros comprimiram-se ao seu redor. Dywen bateu seus dentes de madeira e disse:
    - Pela bondade dos deuses, nosso Senhor Comandante ainda usa cueiros.
    Emmett de Ferro disse:
    - Espero que isso não queira dizer que já não posso dar-lhe uma surra daquelas da próxima vez que treinarmos, senhor. - Hobb Três-Dedos quis saber se ele continuaria comendo com os homens ou se iria querer as refeições enviadas para o aposento privado. Até Bowen Marsh se aproximou para dizer que ficaria feliz por continuar sendo Senhor Intendente se fosse essa a vontade de Lorde Snow.
    - Lorde Snow - disse Cotter Pyke se estragar isto, eu arranco seu fígado e como-o cru com cebolas.
    Sor Denys Mallister foi mais cortês,
    - Foi coisa difícil, aquela que o jovem Samwell me pediu - confessou o velho cavalei¬ro, - Quando Lorde Qorgyle foi eleito, eu disse a mim mesmo: "Não importa, ele está na Muralha há mais tempo do que você, a sua hora chegará". Quando foi Lorde Mormont, pensei: "Ele é forte e feroz, mas é velho, a sua hora ainda pode chegar". Mas você pouco mais é do que um rapaz, Lorde Snow, e agora tenho de retornar à Torre Sombria saben¬do que a minha hora nunca virá. - Deu um sorriso cansado, - Não me faça morrer arre¬pendido. Seu tio era um grande homem. O senhor seu pai e o pai dele também. Esperarei do senhor precisamente o mesmo.
    - Sim - disse Cotter Pyke. - E pode começar por dizer àqueles homens do rei que está feito, e que queremos a porcaria do jantar.
    "Jantar", gritou o corvo.'Jantar, jantar."
    Os homens do rei saíram da porta quando lhes falaram da eleição, e Hobb Três- -Dedos e meia dúzia de ajudantes dirigiram-se a trote para as cozinhas a fim de ir buscar a comida. Jon não esperou para comer. Atravessou o castelo, perguntando a si mesmo se estaria sonhando, com o corvo ao ombro e Fantasma logo atrás. Pyp, Grenn e Sam seguiram-no, tagarelando, mas quase não ouviu uma palavra até aue Grenn sussurrou:
    - Sam conseguiu isso.
    E Pyp disse:
    - Sam conseguiu isso! - Pyp tinha trazido consigo um odre de vinho, e bebeu um longo trago e entoou: - Sam, Sam, Sam, o feiticeiro, Sam, o prodígio, Sam, Sam, o ho¬mem maravilha, ele
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:05 pm

    conseguiu. Mas quando foi que escondeu o corvo no caldeirão, Sam, e como, com os sete infernos, podia ter certeza de que ele voaria para o Jon? Se o pássaro tivesse decidido empoleirar-se na cabeça gorda de Janos Slynt, teria estragado tudo.
    - Não tive nada a ver com o corvo - insistiu Sam. - Quando voou de dentro do cal¬deirão, quase me molhei todo.
    Jon soltou uma gargalhada, meio espantado por ainda se lembrar de como se fazia.
    - São todos um bando de idiotas loucos, sabem disso?
    - Nós? - disse Pyp. - Chama a nós de idiotas? Não fomos nós que fomos escolhidos como o nonocentésimo nonagésimo oitavo Senhor Comandante da Patrulha da Noite, E melhor que tome algum vinho, Lorde Snow, Acho que vai precisar de muito vinho.
    Então Jon Snow tirou o odre da mão de Pyp e bebeu um gole. Mas só um. A Muralha era sua, a noite era escura, e tinha um rei a enfrentar.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:05 pm

    Sansa 932




    Acordou de repente, com todos os nervos a tremer. Por um momento não se lembrou de onde estava. Tinha sonhado que era pequena, dividindo ainda um quarto com a irmã Arya. Mas foi a aia que ouviu se mexendo no sono, não a irmã, e aquilo não era Winterfell, mas o Ninho da Águia. £ eu sou Alayne Stone, uma bastarda. O quarto estava frio e negro, embora ela se sentisse quente sob os cobertores. A alvorada ainda não havia chegado. Às vezes sonhava com Sor Ilyn Payne e acordava com o coração aos saltos, mas aquele sonho não tinha sido assim. O lar. Estava sonhando com o meu lar.
    O Ninho da Águia não era lar nenhum. Não era maior do que a Fortaleza de Maegor, e fora de suas abruptas muralhas brancas ficavam apenas a montanha e a longa e trai¬çoeira descida que passava por Céu, Neve e Pedra e levava aos Portões da Lua, no fundo do vale. Não havia para onde ir e pouco havia para fazer. Os criados mais velhos diziam que aqueles salões ressoavam de risos na época em que seu pai e Robert Baratheon eram protegidos de Jon Arryn, mas esses dias tinham passado havia muitos anos. A tia man¬tinha pouco pessoal, e raramente permitia que as visitas subissem para lá dos Portões da Lua. Além de sua idosa aia, o único companheiro de Sansa era Lorde Robert, com oito anos e quase três meses.
    E Marillion. Há sempre Marillion. Quando tocava para eles no jantar, com freqüên¬cia o jovem cantor parecia estar cantando diretamente para Sansa. A tia não ficava nada satisfeita. A Senhora Lysa tinha um fraco por Marillion e banira duas criadas e até um pajem por dizerem mentiras a respeito dele.
    Lysa estava tão solitária quanto Sansa. Seu novo esposo parecia passar mais tempo no sopé da montanha do que em seu cume. Agora andava longe, já partira havia quatro dias, para um encontro com os Corbray. Juntando aqui e ali as conversas que tinha ouvido, Sansa sabia que os vassalos de Jon Arryn se ressentiam do casamento de Lysa e só de má vontade concediam a Petyr a sua autoridade como Senhor Protetor do Vale. O ramo principal da Casa Royce estava perto da revolta aberta devido à recusa da tia de Sansa em ajudar Robb na guerra, e os Waynwood, Redfort, Belmore e Templeton davam-lhes todo o apoio. Os clãs da montanha também andavam causando problemas, e o velho Lorde Hunter morrera de forma tão súbita que os dois filhos mais novos andavam acu¬sando o irmão mais velho de o ter assassinado. O Vale de Arryn podia ter sido poupado do pior da guerra, mas estava longe de ser o local idílico pelo qual a Senhora Lysa o que-ria fazer passar.
    Não vou voltar a dormir, percebeu Sansa, Tenho a cabeça num tumulto. Afastou re¬lutantemente a almofada, atirou os cobertores para trás, dirigiu-se à janela e abriu as venezianas,
    Nevava no Ninho da Águia.
    Lá fora, os flocos pairavam com a suavidade e o silêncio da memória. Teria sido isso que me acordou? A neve já jazia numa camada espessa sobre o jardim, lá embaixo, cobrindo a grama, salpicando de branco os arbustos e as estátuas e pesando nos galhos das árvores. A cena levou Sansa de volta a noites frias de muito tempo atrás, no longo verão de sua infância.
    A última vez que vira neve havia sido no dia em que tinha partido de Winterfell. Aquela foi uma nevada mais leve do que esta, recordou, Robb tinha focos derretendo nos cabelos quando me abraçou, e a bola de neve que Arya tentou fazer não parava de se desfazer em suas mãos. Doía-lhe lembrar-se de como tinha se sentido feliz naquela manhã. Hullen ajudara-a a montar, e ela partira a cavalo com os flocos de neve girando à sua volta, para ver o grande e vasto mundo. Pensei que a minha canção estava começando naquele dia, mas tinha quase terminado.
    Sansa deixou as janelas abertas enquanto se vestia. Sabia que estaria frio, embora as torres do Ninho da Águia rodeassem o jardim e o protegessem do pior dos ventos de montanha. Vestiu roupa de baixo de seda e uma combinação de linho e, por cima, um vestido quente de lã azul de carneiro. Dois pares de meias longas para as pernas, botas que eram atadas até os joelhos, pesadas luvas de couro, e por fim um manto com capuz de suave pele de raposa branca.
    A aia enrolou-se melhor em seu cobertor quando a neve começou a entrar pela jane¬la. Sansa entreabriu a porta e desceu pela escada em caracol Quando abriu a porta do jardim, ele estava tão lindo que prendeu a respiração, sem desejar perturbar uma beleza tão perfeita, A neve caía e caía, tudo num silêncio fantasmagórico, e acumulava-se numa camada grossa e contínua no chão. Todas as cores tinham fugido do mundo exterior. Era um lugar de brancos, negros e cinza. Torres brancas, neve branca e estátuas brancas, sombras negras e árvores negras, tudo coberto pelo céu cinza-escuro. Um mundo puro, pensou Sansa. Este não é o meu lugar.
    Mas saiu mesmo assim. As botas rasgaram buracos até os tornozelos na superfície alva e lisa da neve, mas não fizeram nenhum som. Sansa vagueou por entre arbustos congelados e esguias árvores escuras e perguntou a si mesma se estaria ainda sonhando. Flocos de neve que caíam roçavam seu rosto com a leveza dos beijos de um amante e derretiam-se em suas bochechas. No centro do jardim, ao lado da estátua da mulher chorosa que jazia no chão, quebrada e meio enterrada, virou o rosto para o céu e fechou os olhos. Sentiu a neve nas pálpebras, saboreou-a nos lábios, Era o sabor de Winterfell. O sabor da inocência. O sabor dos sonhos,
    Quando Sansa voltou a abrir os olhos, estava de joelhos. Não se lembrava de ter caí¬do. Parecia-lhe que o céu tinha tomado um tom mais claro de cinza. A alvorada, pensou. Outro dia. Outro novo dia. Era dos dias antigos que tinha fome. Era por eles que rezava. Mas a quem podia rezar? Sabia que um dia o jardim se destinara a um bosque sagrado, mas o solo era raso e
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:05 pm

    pedregoso demais para que um represeiro ganhasse raízes. Um bos¬que sagrado sem deuses, tão vazio quanto eu.
    Pegou um punhado de neve e apertou-a entre os dedos. Pesada e úmida, a neve comprimia-se com facilidade. Sansa ficou fazendo bolas de neve, dando-lhes forma e alisando-as até ficarem redondas, brancas e perfeitas. Recordou uma nevada de veráo em Winterfell, durante a qual Arya e Bran a emboscaram ao sair da fortaleza, uma bela ma¬nhã. Cada um deles tinha uma dúzia de bolas de neve à mão, e ela nenhuma. Bran estava empoleirado no telhado da ponte coberta, fora de alcance, mas Sansa perseguiu Arya pelos estábulos e em volta das cozinhas até ambas ficarem sem fôlego. Até podia tê-la apanhado, mas tinha escorregado em um pouco de gelo. A irmã voltou para ver se teria se machucado. Quando disse que não, Arya atingiu-a no rosto com outra bola de neve, mas Sansa agarrou-lhe a perna e puxou-a para baixo e estava esfregando neve no cabelo dela quando Jory apareceu e as separou, rindo.
    0 que faço com as bolas de neve? Olhou para o seu pequeno e triste arsenal. Não bá ninguém em quem atirá-las. Deixou que a que estava fazendo lhe caísse das mãos. Em vez disso, podia fazer um cavaleiro de neve, pensou. Ou até...
    Juntou duas das bolas de neve, acrescentou uma terceira, comprimiu mais neve em volta delas e deu a tudo a forma de um cilindro. Quando ficou pronto, colocou- -o em pé e usou a ponta do mindinho para fazer os buracos das janelas. As ameias em volta do topo precisaram de um pouco mais de cuidado, mas quando ficaram prontas, tinha uma torre. Agora preciso de muralhas, pensou Sansa, e, depois, de uma fortaleza. Pôs mãos à obra.
    A neve caía e o castelo erguia-se. Duas muralhas que se erguiam até a altura do tornozelo, a interior mais alta do que a exterior. Torres e torreões, fortalezas e esca¬darias, uma cozinha redonda, um arsenal quadrado, os estábulos ao longo do interior da muralha ocidental. Quando começou era apenas um castelo, mas não muito depois Sansa soube que era Winterfell, Encontrou gravetos e galhos caídos por baixo da neve e quebrou suas extremidades para fazer as árvores do bosque sagrado. Para as lápides do cemitério usou pedaços de casca de árvore. Pouco tempo depois tinha as luvas e as botas cobertas por uma crosta branca, as mãos formigando e os pés ensopados e frios, mas não fazia mal. O castelo era tudo o que importava. Algumas coisas eram difíceis de recordar, mas a maior parte vinha com facilidade, como se tivesse estado lá apenas no dia anterior. A Torre da Biblioteca, com a íngreme escada de pedra enrolada à sua volta, pelo exterior. A guarita, dois enormes baluartes, o portão arqueado entre eles, ameias ao longo do topo...
    E durante todo o tempo a neve não parou de cair, empilhando-se em montículos em volta de seus edifícios tão depressa quanto ela os erguia. Estava compactando o telhado do Grande Salão quando ouviu uma voz, e ergueu os olhos para se deparar com a aia chamando-a da janela e perguntando se estava bem, se desejava quebrar o jejum. Sansa balançou a cabeça e voltou à escultura de neve, acrescentando uma chaminé a uma das pontas do Grande Salão, no local onde a lareira estaria lá dentro.
    A alvorada esgueirou-se para o jardim como uma ladra. O cinza do céu ficou ainda mais claro, e as árvores e os arbustos tomaram um tom de verde-escuro sob suas estolas de neve. Alguns criados saíram e observaram-na durante algum tempo, mas não pres¬tou atenção neles, e eles rapidamente voltaram para dentro, para onde fazia mais calor. Sansa viu a Senhora Lysa olhá-la de sua varanda, enrolada num roupão de veludo azul debruado de pele de raposa, mas quando voltou a olhar a tia tinha desaparecido. Meistre Colemon esticou a cabeça da colônia de corvos e espreitou para baixo durante algum tempo, magricelo e tremendo, mas curioso.
    As pontes não paravam de ruir. Havia uma ponte coberta entre o arsenal e a forta¬leza principal, e outra que ligava o quarto andar da torre sineira ao segundo andar da colônia de corvos, mas por mais cuidadosa que fosse ao esculpi-las, elas não resistiam. Na terceira vez que uma delas ruiu, soltou uma praga em voz alta e sentou-se, numa frustração impotente.
    — Comprima a neve em volta de uma vareta, Sansa.
    Não sabia havia quanto tempo ele estava a observá-la, ou quando tinha voltado do Vale.
    — Uma vareta? - perguntou.
    — Isso vai lhe dar suficiente resistência para se manter, creio eu - disse Petyr. - Posso entrar em seu castelo, senhora?
    Sansa estava desconfiada.
    — Não o quebre. Seja...
    — ... gentil? - ele sorriu. - Winterfell resistiu a inimigos mais ferozes do que eu. Isto é Winterfell, não é?
    — Sim - admitiu Sansa.
    Ele caminhou ao longo do exterior das muralhas,
    — Costumava sonhar com ele, naqueles anos que se seguiram a Cat ter ido para o Norte com Eddard Stark. Em meus sonhos era sempre um lugar escuro e frio.
    — Não. Sempre foi quente, mesmo quando nevava. Água das nascentes termais é ca¬nalizada através das paredes para aquecê-las, e dentro dos jardins de vidro era sempre como o mais quente dia de verão. - Levantou-se, erguendo-se acima do grande castelo branco, - Não consigo imaginar como fazer o telhado de vidro por cima dos jardins,
    Mindinho afagou o queixo, onde tinha a barba antes de Lysa lhe pedir para raspá-la,
    — O vidro estava preso em molduras, não estava? Sua resposta são gravetos. Tire a casca deles e cruze-os, e use casca de árvore para atá-los uns aos outros e formar mol¬duras. Eu mostro. - Deslocou-se pelo jardim, recolhendo paus e gravetos e sacudindo a neve deles. Quando obteve o suficiente, passou por cima de ambas as muralhas com um longo passo e agachou-se no meio do pátio. Sansa aproximou-se para ver o que ele estava fazendo. As mãos de Petyr eram hábeis e seguras, e não muito depois tinha uma treliça de gravetos, muito parecida com aquela que servia
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:05 pm

    de telhado aos jardins de vidro de Winterfell. - Vamos ter de imaginar o vidro, certamente - disse quando lhe entregou.
    — Isto é perfeito - disse Sansa.
    Ele tocou o rosto dela.
    — E isto também.
    Sansa não compreendeu.
    — Isto o quê?
    — O seu sorriso, senhora. Faço-lhe outro?
    — Se quiser.
    — Nada me agradaria mais.
    Ela ergueu as paredes dos jardins de vidro enquanto Mindinho os cobria, e quando terminaram essa tarefa, ele ajudou-a a prolongar as muralhas e a construir o edifício dos guardas. Quando usou varetas para as pontes cobertas, elas resistiram, tal como ele havia dito que resistiriam. A Primeira Fortaleza era bastante simples, uma antiga torre redon¬da e atarracada, mas Sansa voltou a ficar sem saber o que fazer quando chegou a hora de pôr as gárgulas ao longo do topo. De novo, ele tinha a solução.
    — Tem estado nevando em seu castelo, senhora - destacou. - Com que se parecem as gárgulas quando estão cobertas de neve?
    Sansa fechou os olhos para vê-las em sua memória.
    — São só protuberâncias brancas.
    — Muito bem. Gárgulas são difíceis, mas protuberâncias brancas devem ser fáceis. - E eram.
    A Torre Quebrada foi ainda mais simples. Fizeram juntos uma torre alta, ajoelhando- -se lado a lado para rolá-la até ficar lisa, e quando a ergueram, Sansa enfiou os dedos no topo, agarrou um punhado de neve e atirou em cheio no rosto dele. Petyr soltou um ganido quando a neve se enfiou em seu colarinho.
    — Isso não foi nada cavalheiresco, senhora.
    — Tal como não o foi trazer-me para cá, quando jurou que me levaria para casa.
    Perguntou a si mesma de onde teria vindo a coragem, para lhe falar com tanta fran¬queza. De Winterfell, pensou. Som mais forte dentro das muralhas de Winterfell.
    O rosto dele ficou sério.
    — Sim, enganei-a sobre isso... e sobre outra coisa também.
    Sansa sentiu o estômago se agitando.
    — Que outra coisa?
    — Disse-lhe que nada me agradaria mais do que ajudá-la com o seu castelo. Temo que também tenha sido uma mentira. Há outra coisa que me agradaria mais. - Aproximou- -se. - Isto.
    Sansa tentou se afastar, mas ele puxou-a para si e de repente a estava beijando, De- bilmente, tentou contorcer-se, mas só conseguiu apertar-se mais contra ele. A boca dele estava sobre a sua, engolindo suas palavras. Mindinho tinha gosto de menta. Durante meio segundo, Sansa cedeu ao seu beijo... antes de virar o rosto para o lado e se arrancar de seu abraço.
    — O que está fazendo?
    Petyr endireitou o manto.
    — Estou beijando uma donzela de neve.
    — E suposto que beije a ela. - Sansa olhou de relance para a varanda de Lysa, mas estava agora vazia. - A senhora sua esposa.
    — E beijo. Lysa não tem razões de queixa. - Sorriu. - Gostaria que pudesse se ver, se¬nhora. E tão bela. Está coberta de neve como uma pequena cria de urso, mas o rosto está corado e quase não consegue respirar. Há quanto tempo está aqui? Deve estar com muito frio. Deixe-me aquecê-la, Sansa. Tire as luvas, dê-me as suas mãos,
    — Não dou. - Ele soava quase como Marillion, na noite em que o cantor se embebe- dara durante o casamento. Porém, dessa vez Lothor Brune não surgiria para salvá-la; Sor Lothor era um homem de Petyr. - Não devia ter me beijado. Eu poderia ser sua filha...
    — Poderia - admitiu ele, com um sorriso triste. - Mas não é, certo? E filha de Eddard Stark e de Cat. Mas acho que talvez seja ainda mais bela do que a sua mãe, quando tinha a sua idade.
    — Petyr, por favor. - A voz soava tão fraca. - Por favor...
    — Um castelo í
    A voz era sonora, estridente e infantil. Mindinho virou-se.
    — Lorde Robert. - Esboçou uma reverência. - Devia estar na neve sem as suas luvas?
    — Foi você que fez o castelo de neve, Lorde Mindinho?
    — A Alayne fez a maior parte, senhor.
    Sansa disse.
    — Era para ser Winterfell.
    — Winterfell? - Robert era pequeno para oito anos, um espeto de menino com pele manchada e olhos que estavam sempre lacrimejando. Debaixo de um braço trazia o puí- do boneco de pano que levava para todo lado.
    — Winterfell é a sede da Casa Stark - disse Sansa ao seu futuro marido. - O grande castelo do Norte.
    — Não é assim tão grande. - O menino ajoelhou perante a guarita. - Olhe, aqui vem um gigante para botá-lo abaixo. - Pôs o boneco em pé na neve e moveu-o aos trancos. - Tumba-tumba, sou um gigante, sou um gigante - cantarolou. - Ho-ho-bo, abra os portões, senão trituro-os e esmago-os. - Balançando o boneco pelas pernas, derrubou o topo de uma das torres da guarita e depois a outra.
    Aquilo foi mais do que Sansa podia suportar,
    — Robert, pare com isso.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:06 pm

    Mas em vez de parar, ele voltou a balançar o boneco e trinta centímetros de muralha explodiram, Ela tentou agarrar a mão dele, mas só conseguiu pegar o boneco. Ouviu-se um sonoro ruído de rasgar quando o íino pano se abriu. De repente, ela tinha a cabeça do boneco, Robert tinha as pernas e o corpo, e o enchimento de trapos e serragem estava se derramando na neve.
    A boca de Lorde Robert estremeceu.
    — Você o matoooooooooou - berrou. Então desatou a tremer. Começou com um pe¬queno arrepio apenas, mas poucos segundos depois tinha caído sobre o castelo, agitando violentamente os membros. Torres brancas e pontes de neve estilhaçaram-se e caíram por todos os lados. Sansa ficou horrorizada, mas Petyr Baelish pegou nos pulsos do ga¬roto e gritou pelo meistre.
    Guardas e criadas chegaram instantes depois para ajudar a segurar Robert, e Meistre Colemon surgiu um pouco mais tarde. A doença dos tremores de Robert Arryn não era nada de novo para as pessoas do Ninho da Águia, e a Senhora Lysa treinara-os todos para virem correndo ao primeiro grito do rapaz. O meistre segurou a cabeça do pequeno lorde e deu-lhe meia taça de vinho dos sonhos, murmurando palavras tranquilizadoras. Lentamente, a violência do ataque pareceu reduzir-se, até nada restar além de um peque¬no tremor nas mãos.
    — Ajudem-no a subir aos meus aposentos - disse Colemon aos guardas, - Uma san¬gria ajudará a acalmá-lo.
    — Foi culpa minha. - Sansa mostrou-lhes a cabeça do boneco, - Eu rasguei o boneco dele em dois. Não queria fazer isso, mas...
    — Sua senhoria estava destruindo o castelo - disse Petyr.
    — Um gigante - sussurrou o garoto, chorando. - Não fui eu, foi um gigante que fez mal ao castelo. Ela matou-o! Odeio-a! É uma bastarda e eu odeio-a! Não quero ser sangrado!
    — Senhor, seu sangue precisa ser refinado - disse Meistre Colemon. - E o sangue ruim que o deixa zangado, e a raiva que traz os tremores, Agora venha.
    E levaram o garoto. O senhor meu esposo, pensou Sansa, enquanto contemplava as ruínas de Winterfell. A neve tinha parado de cair, e fazia mais frio do que antes. Pergun¬tou a si mesma se Lorde Robert passaria a boda toda tremendo. Pelo menos Joffrey era saudável de corpo. Uma raiva enlouquecida tomou conta dela. Pegou um galho partido e eníiou-o na cabeça rasgada do boneco, após o que a espetou no topo da destruída guarita de seu castelo de neve. Os criados pareceram ficar horrorizados, mas quando Mindinho viu o que ela tinha feito, riu,
    — Se as histórias forem verdadeiras, esse não é o primeiro gigante cuja cabeça acabou nas muralhas de Winterfell.
    — São só histórias - disse ela, e abandonou-o ali.
    De volta ao seu quarto, Sansa despiu o manto e as botas úmidas e sentou-se junto da lareira. Não duvidava de que seria obrigada a responder pelo ataque de Lorde Robert. Talvez a Senhora Lysa me mande embora. A tia era rápida para banir quem quer que lhe desagradasse, e nada lhe desagradava mais do que aqueles que suspeitava de maltratarem seu filho.
    Sansa teria acolhido de bom grado o banimento. Os Portões da Lua eram muito maiores do que o Ninho da Águia, e também mais animados. Lorde Nestor Royce pa¬recia rude e severo, mas a filha Myranda governava o castelo em seu nome, e todos eram unânimes em dizer que era brincalhona. Até a suposta bastardia de Sansa poderia não contar muito contra si lá embaixo. Uma das filhas ilegítimas do Rei Robert estava a ser- viço de Lorde Nestor, e dizia-se que ela e a Senhora Myranda eram grandes amigas, tão próximas quanto irmãs.
    Direi à mtnha tia que não quero me casar com Robert. Nem o próprio Alto Septão podia declarar uma mulher casada se ela se recusasse a proferir os votos. Não era uma pedinte, não importa o que a tia dissesse. Tinha treze anos, era uma mulher florescida e casada, a herdeira de Winterfell. Sansa às vezes sentia pena de seu pequeno primo, mas não era capaz de imaginar que algum dia desejasse ser sua esposa. Preferiria voltar a estar casada com Tyrion. Se a Senhora Lysa soubesse disso, certamente a mandaria para lon¬ge... para longe dos beicinhos, tremores e olhos lacrimejantes de Robert, para longe dos olhares demorados de Marillion, para longe dos beijos de Petyr. Vou contar para ela. Vou mesmo!
    Foi ao fim da tarde que a Senhora Lysa mandou chamá-la. Sansa tinha passado o dia todo reunindo coragem, mas assim que Marillion surgiu à sua porta, todas as suas dúvi¬das regressaram.
    — A Senhora Lysa requer a sua presença no Alto Salão. - Os olhos do cantor despiam- -na enquanto falava, mas Sansa já tinha se habituado a isso.
    Marillion era bonito, não havia como negar; jovial e esguio, com pele lisa, cabelos cor de areia, um sorriso encantador. Mas tornara-se bastante odiado no Vale, por todos exceto a tia e o pequeno Lorde Robert. Pelo que diziam as conversas dos criados, Sansa não era a primeira donzela a sofrer o seu assédio, e as outras não tinham tido Lothor Brune para defendê-las. Mas a Senhora Lysa não queria ouvir queixas contra ele. Desde que tinha chegado ao Ninho da Águia, o cantor tornou-se seu favorito. Cantava até que Lorde Robert adormecesse todas as noites, e torcia o nariz aos pretendentes da Senhora Lysa com versos que caçoavam de seus pontos fracos. A tia fez chover sobre ele ouro e presentes; roupas caras, um bracelete de ouro, um cinto incrustado de pedras de lua, um bom cavalo. Até lhe dera o falcão preferido do falecido marido. Tudo aquilo servia para tornar Marillion impecavelmente cortês na presença da Senhora Lysa, e impecavelmente arrogante longe dela.
    — Obrigada - disse-lhe rigidamente Sansa. - Eu conheço o caminho.
    Ele não quis ir embora.
    — A senhora disse-me para levá-la.
    Levar-me? Não gostou de como aquilo soava.
    — Agora é um guarda? - Mindinho tinha demitido o capitão da guarda do Ninho da Águia e colocado Sor Lothor Brune em seu lugar.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:06 pm

    — Precisa de guarda? - disse Marillion com ligeireza. - Devia saber que ando com¬pondo uma nova canção. Uma canção tão doce e triste que derreterá até o seu coração gelado. Pretendo chamá-la de "A rosa da beira da estrada". E sobre uma garota ilegítima tão bela que enfeitiçava todos os homens que pusessem os olhos nela.
    Eu sou uma Stark de Winterfell, desejou dizer-lhe. Mas em vez disso assentiu e per¬mitiu que a levasse ao longo da escada da torre e por uma ponte. O Alto Salão tinha estado fechado durante todo o tempo que passara no Ninho da Águia. Sansa perguntou a si mesma por que motivo a tia o teria aberto. Normalmente preferia o conforto de seu aposento privado, ou o calor aconchegante da sala de audiências de Lorde Arryn, com a sua vista sobre a queda dagua.
    Dois guardas com manto azul-celeste flanqueavam as portas de madeira esculpida do Alto Salão, de lanças na mão.
    — Ninguém deve entrar enquanto Alayne estiver com a Senhora Lysa - disse-lhes Marillion.
    — Entendido.
    Os homens deixaram-nos passar e em seguida cruzaram as lanças. Marillion fechou as portas e trancou-as com uma terceira lança, mais longa e mais grossa do que as que os guardas usavam.
    Sansa sentiu uma pontada de desconforto.
    — Por que fez isso?
    — A senhora a espera.
    Ela olhou em volta hesitantemente. A Senhora Lysa estava no estrado, sentada num cadeirão de espaldar alto feito de represeiro esculpido, sozinha. À sua direita encontrava- -se um segundo cadeirão, mais alto do que o seu, com uma pilha de almofadas azuis so¬bre o assento, mas Lorde Robert não estava lá sentado. Sansa esperava que ele tivesse se recuperado. Mas não era provável que Marillion lhe dissesse.
    Sansa percorreu o carpete de seda azul entre fileiras de pilares canelados esguios como lanças. O assoalho e as paredes do Alto Salão eram feitos de mármore de um bran¬co leitoso, com veios azuis. Raios de pálida luz do sol caíam na diagonal, provenientes de estreitas janelas arqueadas abertas na parede oriental. Entre as janelas havia archotes, montados em altas arandelas de ferro, mas nenhum deles estava aceso. Seus passos caíam suavemente sobre o carpete. Lá fora, o vento soprava, frio e solitário.
    No meio de tanto mármore branco, até a luz do sol parecia de certo modo gelada... embora nem de perto tão gelada quanto a tia. A Senhora Lysa usava um vestido de veludo de cor creme e pusera um colar de safiras e pedras de lua. Seus cabelos ruivos tinham sido penteados numa grossa trança e caíam sobre um ombro. Estava sentada no cadeirão observando a aproximação da sobrinha, com o rosto rubro e inchado por baixo da tinta e do pó. Da parede atrás dela, pendia um enorme estandarte, a lua e o falcão da Casa Arryn em creme e azul.
    Sansa parou diante do estrado e fez uma reverência.
    — Senhora. Mandou me chamar. - Ainda ouvia o ruído do vento, e os suaves acordes que Marillion estava tocando ao fundo do salão.
    — Eu vi o que você fez - disse a Senhora Lysa.
    Sansa alisou as dobras da saia.
    — Espero que Lorde Robert esteja melhor. Não pretendia rasgar o seu boneco. Ele estava esmagando meu castelo de neve, eu só...
    — Vai se fazer de recatada comigo? - disse a tia. - Não estava falando do boneco de Robert. Eu vi quando o beijou.
    O Alto Salão pareceu ficar um pouco mais frio. As paredes, o chão e as colunas po¬diam perfeitamente ter se transformado em gelo.
    — Foi ele que me beijou.
    As narinas de Lysa dilataram.
    — E por que ele faria isso? Tem uma esposa que o ama. Uma mulher-feita, não uma garotinha. Não tem necessidade de gente como você. Confesse, menina. Atirou-se nele. Foi assim que as coisas se passaram.
    Sansa deu um passo para trás.
    — Não é verdade.
    — Aonde vai? Está com medo? Um comportamento impudico como esse tem de ser punido, mas não serei dura com você. Temos um carrasco para Robert, como é costume das Cidades Livres. Sua saúde é delicada demais para ser ele a brandir o açoite. Arran¬jarei uma garota comum qualquer para levar as suas chicotadas, mas primeiro tem de assumir o que fez. Não posso tolerar uma mentirosa, Alayne.
    — Eu estava construindo um castelo de neve - disse Sansa. - Lorde Petyr estava me ajudando, e depois beijou-me. Foi isso o que viu.
    — Não tem honra alguma? - disse a tia em tom penetrante. - Ou será que me toma por uma idiota? Toma, não toma? Toma-me por uma idiota. Sim, agora vejo. Não sou uma idiota. Pensa que pode ter qualquer homem que queira porque é jovem e bela. Não pense que não vi os olhares que dirige a Marillion. Sei de tudo o que se passa no Ninho da Águia, senhorinha. E também já conheci gente da sua laia antes. Mas engana-se se acha que grandes olhos e sorrisos de prostituta lhe servirão para conquistar Petyr. Ele é meu. - A tia levantou-se. - Todos tentaram afastá-lo de mim, O senhor meu pai, o meu esposo, a sua mãe... principalmente a Catelyn. Ela também gostava de beijar o meu Petyr, ah, se gostava.
    Sansa recuou mais um passo,
    — A minha mãe?
    — Sim, a sua mãe, a sua preciosa mãe, a minha querida irmã Catelyn. Que nem pense em se fazer de inocente comigo, sua mentirosazinha nojenta. Levou todos aqueles anos em Correrrio
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:06 pm

    brincando com Petyr como se ele fosse seu brinquedinho. Provocou-o com sorrisos, palavras suaves e olhares lascivos, e fez das noites dele um tormento.
    — Não. - Minha mãe está morta, quis gritar. Ela era sua própria irmã, e está morta. - Ela não fez isso. Não o faria.
    — Como pode saber? Estava lá? - Lysa desceu do cadeirão, fazendo rodopiar as saias. - Veio com Lorde Bracken e Lorde Blackwood, daquela vez que nos visitaram para le¬var a disputa deles à consideração de meu pai? O cantor de Lorde Bracken cantou para nós, e Catelyn dançou seis danças com Petyr naquela noite, seis, eu contei. Quando os lordes começaram a discutir, meu pai levou-os para a sua sala de audiências, de modo que deixou de haver quem nos impedisse de beber. Edmure embebedou-se, apesar de ser tão novo... e Petyr tentou beijar a sua mãe, mas ela o afastou. Riu dele. Ele pareceu tão magoado que eu achei que o meu coração fosse estourar, e depois bebeu até perder os sentidos em cima da mesa. Tio Brynden levou-o para a cama antes que meu pai o en¬contrasse naquele estado. Mas não se lembra de nada disso, não é? - Olhou para baixo, zangada, - Não é?
    Ela está bêbada, ou louca?
    — Eu não era nascida, senhora,
    — Você não era nascida, Mas eu era, portanto não ouse me dizer o que é verdade. Eu sei o que é verdade. Beijou-o!
    — Foi ele que me beijou - voltou a insistir Sansa. - Eu nunca quis...
    — Silêncio, não lhe dei licença para falar. Seduziu-o, tal como a sua mãe fez naquela noite em Correrrio, com seus sorrisos e sua dança. Acha que eu me esqueceria? Foi essa a noite em que me esgueirei para a cama dele para confortá-lo. Sangrei, mas foi a mais doce das dores. Ele disse-me então que me amava, mas chamou-me de Cat, logo antes de vol¬tar a adormecer. Mesmo assim, fiquei com ele até o céu começar a se iluminar. Sua mãe não o merecia. Ela nem sequer quis lhe dar um favor para usar quando ele lutou contra Brandon Stark. Eu teria dado o meu favor ao Petyr. Dei-lhe tudo. Ele agora é meu. Não de Catelyn, e não seu.
    A resolução de Sansa havia murchado perante o ataque da tia. Lysa Arryn a estava assustando mais que a Rainha Cersei jamais a assustara.
    — Ele é seu, senhora - disse, tentando soar submissa e arrependida. - Tenho a sua licença para ir embora?
    — Não, não tem. - O hálito da tia cheirava a vinho. - Se fosse outra pessoa, você seria banida. Mandaria você para baixo, para os Portões da Lua de Lorde Nestor, ou de volta para os Dedos. Gostaria de passar a vida naquela costa desolada, rodeada de mulheres porcas e cocozinhos de ovelha? Era isso que meu pai queria para Petyr. Todo mundo pensou que foi por causa daquele estúpido duelo com Brandon Stark, mas não é verdade, O pai disse que eu devia agradecer aos deuses por um senhor tão grande como Jon Arryn estar disposto a me aceitar manchada, mas eu sabia que era só por causa das espadas. Tinha de me casar com Jon, senão meu pai iria me expulsar como fez com o irmão, mas era a Petyr que eu estava destinada. Estou lhe contando isso tudo para que compreenda como nos amamos um ao outro, quanto tempo sofremos e sonhamos um com o outro. Fizemos juntos um bebê, um precioso bebezinho. - Lysa encostou as mãos na barriga, como se a criança ainda estivesse ali. - Quando o roubaram de mim, prometi a mim mes¬ma que nunca deixaria que voltasse a acontecer. Jon queria mandar meu querido Robert para Pedra do Dragão, e aquele rei beberrão queria entregá-lo a Cersei Lannister, mas eu não permiti... assim como não vou permitir que me roube o meu Petyr Mindinho. Está me ouvindo, Alayne, ou Sansa, ou como quer que chame a si mesma? Está ouvindo o que estou lhe dizendo?
    — Sim. Juro, nunca mais o beijarei ou... ou o seduzirei. - Sansa achou que era aquilo que a tia quisesse ouvir.
    — Então agora já admite? Foi você, como eu pensava. É tão libertina quanto a sua mãe. - Lysa agarrou-a pelo pulso. - Venha comigo. Há uma coisa que quero lhe mostrar.
    — Está me machucando. - Sansa contorceu-se, - Por favor, tia Lysa, eu não fiz nada. Juro.
    A tia ignorou seus protestos.
    — Marillionl - gritou. - Preciso de você, Marillion! Preciso de você!
    O cantor tinha ficado discretamente ao fundo da sala, mas acorreu de imediato ao grito da Senhora Arryn.
    — Senhora?
    — Toque-nos uma canção. Toque "A falsa e a bela".
    Os dedos de Marillion roçaram as cordas.
    — O senhor chegou a cavalo num dia de chuva, tralolé, tralolé, tralolélolá...
    A Senhora Lysa puxou o braço de Sansa. Era andar ou ser arrastada, portanto deci¬diu andar, percorrendo meio salão e passando entre um par de pilares, até uma porta de represeiro instalada na parede de mármore. A porta encontrava-se firmemente fechada, com três pesadas trancas de bronze para mantê-la no lugar, mas Sansa ouvia o vento lá fora mordendo suas arestas. Quando viu o crescente de lua esculpido na madeira, plan¬tou os pés no chão.
    — A Porta da Lua. - Tentou se libertar, aos puxões. - Por que está me mostrando a Porta da Lua?
    — Agora está guinchando como um rato, mas no jardim foi bastante ousada, não foi? Foi bastante ousada na neve.
    — A senhora fazia costura num dia de chuva - cantava Marillion -, tralolé, tralolé, tra¬lolélolá...
    — Abra a porta - ordenou Lysa. - Estou dizendo para abri-la. Vai abri-la, senão man¬do chamar os meus guardas. - Empurrou Sansa em frente. - Sua mãe pelo menos era corajosa. Levante as trancas.
    Se eu fizer o que ela diz, vai me largar. Sansa agarrou uma das barras de bronze, soltou- -a com um puxão e atirou-a ao chão. A segunda barra retiniu no mármore, seguida pela terceira. Mal tinha tocado no trinco quando a pesada porta de madeira voou para dentro e bateu com estrondo na
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:06 pm

    parede. Um monte de neve estava empilhado na soleira, e todo ele foi soprado contra elas, trazido numa explosão de ar frio que deixou Sansa tremendo. Tentou dar um passo para trás, mas aí encontrava-se a tia. Lysa pegou-a pelo pulso e pôs a outra mão entre as suas omoplatas, empurrando-a à força para a porta aberta.
    Atrás da porta havia céu branco, neve caindo e nada mais.
    — Olhe para baixo - disse a Senhora Lysa. - Olhe para baixo.
    Tentou se libertar, mas os dedos da tia enterravam-se em seu braço como garras. Lysa deu-lhe outro empurrão, e Sansa soltou um guincho. O pé esquerdo atravessou uma crosta de neve e soltou-a. Nada havia à sua frente além de ar vazio, e um castelo interme¬diário cento e oitenta metros abaixo, agarrando-se ao flanco da montanha.
    — Não! - gritou Sansa. - Está me assustando! - Atrás dela, Marillion continuava a tocar a harpa e a cantar "tralolé, tralolé, tralolélolá".
    — Ainda quer licença para ir embora? Quer?
    — Não. - Sansa fez pressão com os pés no chão e tentou contorcer-se para trás, mas a tia não se moveu. - Dessa maneira não. Por favor... - Ergueu uma mão, procurando com os dedos o batente da porta, mas não conseguiu encontrar um apoio, e os pés estavam es¬corregando no chão úmido de mármore. A Senhora Lysa empurrava-a inexoravelmente para a frente. A tia tinha mais de vinte quilos a mais do que ela.
    — A senhora trocava beijos num monte de feno - estava cantando Marillion. Sansa torceu-se para o lado, histérica de medo, e um pé escorregou por sobre a borda. Gritou. - Tralolé, tralolé, tralolélolá. - O vento levantou suas saias e mordeu suas pernas nuas com dentes frios. Sentia flocos de neve derretendo nas bochechas. Sansa esbracejou, encon¬trou a grossa trança ruiva de Lysa e agarrou-se bem nela.
    — Meu cabelo! - guinchou a tia. - Largue meu cabelo! - Estava tremendo, soluçando. As duas vacilaram na borda do precipício. Muito longe, ouviu os guardas baterem na porta com as lanças, exigindo que os deixassem entrar. Marillion interrompeu a canção.
    — Lysa! O que significa isso? - o grito cortou através dos soluços e da respiração pe¬sada, Passos ecoaram ao longo do Alto Salão. - Saia daí. Lysa, o que você está fazendo? - os guardas continuavam a bater à porta; Mindinho tinha entrado pelo fundo, pela en¬trada do senhor que se abria atrás do estrado.
    Quando Lysa se virou, suas mãos fraquejaram o suficiente para que Sansa se libertas¬se. Caiu sobre os joelhos, e Petyr Baelish viu-a. Parou subitamente.
    — Alayne. Qual é o problema aqui?
    — E ela. - A Senhora Lysa agarrou uma madeixa dos cabelos de Sansa, - O problema é ela. Ela beijou-o,
    — Diga-lhe - suplicou Sansa. - Diga-lhe que estávamos só construindo um castelo...
    — Cale-se! - gritou a tia. - Não lhe dei licença para falar. Seu castelo não interessa a ninguém.
    — Ela é uma criança, Lysa. A filha de Cat. O que você acha que estávamos fazendo?
    — Eu ia casá-la com Robert! Não tem gratidão. Não tem... não tem decência. Você não é dela para que o beije. Não é dela! Estava lhe dando uma lição, só isso,
    — Estou vendo. - Mindinho afagou o queixo. - Acho que ela compreende agora. Não é verdade, Alayne?
    — Sim - soluçou Sansa. - Compreendo.
    — Não a quero aqui. - Os olhos da tia estavam brilhantes de lágrimas. - Por que foi que a trouxe para o Vale, Petyr? Este não é o seu lugar. Não pertence a este lugar.
    — Sendo assim, mandamo-la embora. De volta a Porto Real, se quiser. - Deu um pas¬so na direção delas. - Agora largue-a. Deixe-a afastar-se da porta,
    — NÃO! - Lysa deu outro puxão na cabeça de Sansa. Neve rodopiou em volta delas, fazendo com que as saias esvoaçassem ruidosamente. - Não pode desejá-la. Não pode. Ela é uma garotinha estúpida de cabeça oca. Não o ama como eu o tenho amado. Eu sempre o amei. Já demonstrei isso, não foi? - lágrimas escorreram por seu rosto inchado e vermelho. - Eu dei a você o presente de minha virgindade. Teria dado também um fi¬lho, mas eles assassinaram-no com chá de lua, com tanásia, menta e losna, uma colher de mel e uma gota de poejo. Não fui eu, eu nunca soube, só bebi o que o pai me deu...
    — Isso passou e está feito, Lysa. Lorde Hoster está morto, e o seu velho meistre tam¬bém. - Mindinho aproximou-se. - Caiu outra vez no vinho? Não devia falar tanto. Não queremos que Alayne saiba mais do que devia, não é? Ou Marillion.
    A Senhora Lysa ignorou aquilo.
    — A Cat nunca lhe deu nada. Fui eu quem arranjou seu primeiro posto, quem fez com que Jon o trouxesse para a corte para podermos ficar perto um do outro. Prometeu-me que nunca se esqueceria disso.
    — E não me esqueci. Estamos juntos, tal como você sempre desejou, tal como sempre planejamos. Mas largue o cabelo de Sansa...
    — Não largo! Vi-os aos beijos na neve. Ela é exatamente como a mãe. Catelyn beijou- -o no bosque sagrado, mas nunca foi a sério, ela nunca quis você. Por que foi que a amou mais? Era eu, sempre fiii eeeeeul
    — Eu sei, amor, - Ele deu mais um passo, - E estou aqui. Tudo o que tem de fazer é pegar na minha mão, vamos. - Estendeu-a para ela. - Não há motivo para todas essas lágrimas.
    — Lágrimas, lágrimas, lágrimas - soluçou ela histericamente. - Não há necessidade de lágrimas,,, mas não foi isso o que disse em Porto Real. Disse-me para pôr as lágrimas no vinho de Jon, e foi o que eu fiz. Por Robert, e por nós! E escrevi a Catelyn e contei-lhe que os Lannister tinham matado o senhor meu esposo, tal como você disse para fazer. Isso foi tão inteligente... sempre foi inteligente, eu disse isso ao pai, disse: o Petyr é tão inteli¬gente, subirá bem alto, subirá, subirá, e é doce e gentil e tenho o seu bebê na barriga... Por que foi que a beijou? Por quê? Agora
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 3:06 pm

    estamos juntos, estamos juntos após tanto tempo, tanto, tanto tempo, por que é que havia de querer beijááááá-la?
    — Lysa - Petyr suspirou -, depois de todas as tempestades que agüentamos, devia confiar mais em mim. Juro, nunca mais sairei de seu lado, enquanto ambos formos vivos.
    — Sério? - perguntou ela, chorando, - Oh, sério?
    — Sério. Agora solte a garota e venha aqui me dar um beijo.
    Lysa atirou-se nos braços do Mindinho, soluçando. Enquanto eles se abraçavam, San¬sa afastou-se engatinhando da Porta da Lua e envolveu os braços no pilar mais próximo. Sentia o coração aos saltos. Havia neve em seus cabelos, e o sapato direito tinha desapa¬recido. Deve ter caído. Estremeceu e abraçou com mais força o pilar,
    Mindinho deixou Lysa soluçar contra o seu peito por um momento e depois pôs as mãos em seus braços e deu-lhe um pequeno beijo.
    — Minha esposa querida, pateta, ciumenta - disse ele com um risinho. - Eu só amei uma mulher, garanto.
    Lysa Arryn deu um sorriso trêmulo,
    — Só uma? Oh, Petyr, jura? Só uma?
    — Só a Cat, - E deu-lhe um curto e forte empurrão.
    Lysa tropeçou para trás, com os pés escorregando no mármore úmido, E então de¬sapareceu, Não chegou a gritar. Durante o mais longo dos momentos não se ouviu som algum exceto o vento.
    Marillion arquejou.
    — Você... você...
    Os guardas estavam gritando do lado de fora da porta, batendo nela com as hastes de suas pesadas lanças. Lorde Petyr pôs Sansa em pé.
    — Não se machucou? - quando ela balançou a cabeça, ele disse: - Então corra, deixe os guardas entrar. Depressa, não há tempo a perder. Este cantor matou a senhora minha esposa.
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    Mensagem  Admin Ter Jun 19, 2012 1:53 pm

    Epilogo


    A estrada que levava a Pedravelhas rodeava duas vezes o monte antes de chegar ao cume,
    Cheia de vegetação e pedregosa, teria causado um avanço lento mesmo no melhor dos tempos,
    mas a nevasca da noite anterior deixara-a também lamacenta. Neve no outono nas terras fluviais,
    não é natural, pensou sombriamente Merrett. Não tinha sido uma grande nevasca, era certo, só o
    suficiente para atapetar o solo durante uma noite, A maior parte começou a derreter assim que o
    sol surgiu. Mesmo assim, Merrett havia considerado isso um mau presságio. Entre chuvas,
    inundações, fogo e guerra, tinham perdido duas colheitas e boa parte de uma terceira. Um inverno
    prematuro significaria a fome por todas as terras fluviais. Muitas pessoas passariam fome e
    algumas morreriam. Merrett só esperava não ser uma dessas pessoas. Mas posso vir a serv Com
    a minha sorte, posso mesmo. Nunca tive sorte nenhuma.
    À sombra das ruínas do castelo, as vertentes inferiores do monte estavam cobertas por uma
    floresta tão densa que meia centena de fora da lei podia perfeitamente estar ali escondida. Podem
    estar me observando agora mesmo. Merrett olhou em volta, e nada viu além de tojo, fetos, cardos,
    junco e amoreiras-silvestres entre os pinheiros e as sen- tinelas cinza-esverdeadas. Em outros
    pontos, olmos e freixos despidos de folhas e carvalhos pequenos sufocavam o terreno como ervas
    daninhas. Não viu nenhum fora da lei, mas isso pouco queria dizer. Os fora da lei eram melhores
    em se esconder do que os homens honestos.
    A bem da verdade, Merrett odiava a floresta, e odiava ainda mais os fora da lei. "Os fora da lei
    roubaram-me a vida", fora ouvido protestando quando estava de pileque. Estava de pileque com
    demasiada freqüência, dizia o pai, freqüente e ruidosamente. E bem verdade, pensou, pesaroso.
    Nas Gêmeas era preciso arranjar uma distinção qualquer, caso contrário eram capazes de se
    esquecer de sua existência, mas descobrira que uma reputação como o maior bebedor do castelo
    pouco havia feito para melhorar as suas chances. Um dia esperei me tornar o maior cavaleiro que
    algum dia baixou uma lança para o ataque. Os deuses roubaram-me isso. Por que não haveria de
    beber uma taça de vinho de vez em quando? Ajuda minhas dores de cabeça. Além disso, minha
    mulher é uma megera, meu pai despreza-me, meus filhos são inúteis. O que tenho eu que me leve
    a ficar sóbrio?
    Mas agora estava sóbrio. Bem, tinha bebido dois cornos de cerveja quando quebrou o jejum e
    uma pequena taça de tinto quando se pôs a caminho, mas isso havia sido apenas para evitar que
    a cabeça latejasse. Merrett sentia a dor de cabeça preparando-se atrás dos
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    Parte 2 3 realm - Página 17 Empty Re: Parte 2 3 realm

    Mensagem  Admin Ter Jun 19, 2012 1:54 pm

    olhos e sabia que se lhe desse meia oportunidade, em breve se sentiria como se tivesse uma
    trovoada entre as orelhas. As vezes, as dores de cabeça eram tão fortes que até chorar doía
    demais. Então tudo o que conseguia fazer era ficar deitado na cama, num quarto escuro, com um
    pano úmido por cima dos olhos, e amaldiçoar a sorte e o fora da lei anônimo que lhe fizera aquilo.
    Só de pensar nisso, ficava ansioso. Agora não podia se dar ao luxo de ter uma dor de cabeça,
    Se trouxer o Petyr de volta em segurança, a minha sorte mudará. Levava o ouro, tudo que tinha de
    fazer era subir ao topo de Pedravelhas, encontrar-se no castelo arruinado com os malditos fora da
    lei, e fazer a troca. Um simples resgate. Nem ele poderia estragar aquilo... a menos que tivesse
    uma dor de cabeça, uma tão forte que o deixasse incapaz de montar a cavalo. Devia estar nas
    ruínas até o pôr do sol, não choramingando enrolado sobre si mesmo à beira da estrada. Merrett
    esfregou as têmporas com dois dedos. Mais uma volta ao monte e estarei lá. Quando a mensagem
    tinha chegado e ele se ofereceu para levar o resgate, o pai olhou-o de viés e disse:
    — Você, Merrett? - e desatou a rir pelo nariz, aquele hediondo heh, heh, heh que fazia quando
    ria, Merrett tinha sido praticamente obrigado a suplicar antes de lhe darem o maldito saco de ouro.
    Algo se moveu na vegetação rasteira ao longo da beira da estrada. Merrett puxou as rédeas com
    força e levou a mão à espada, mas era apenas um esquilo.
    — Estúpido - disse a si mesmo, voltando a enfiar a espada na bainha sem ter chegado a
    desembainhá-la por completo. - Os fora da lei não têm cauda. Maldito inferno, Merrett, controle-se.
    - Seu coração estava aos saltos no peito, como se fosse um rapazinho verde em sua primeira
    campanha. Como se esta fosse a mata do rei e eu me preparasse para enfrentar a antiga
    Irmandade, em vez do patético bando de saltea- dores do Senhor do Relâmpago. Por um momento
    sentiu-se tentado a dar meia-volta e trotar monte abaixo, em busca da cervejaria mais próxima.
    Aquele saco de ouro compraria um monte de cerveja, suficiente para que se esquecesse por
    completo de Petyr Espinha. Que o enforquem, foi ele que fez com que isso lhe acontecesse. Não é
    mais do que merece, depois de ir atrás de uma seguidora de acampamentos qualquer como se
    fosse um veado no cio.
    Sua cabeça tinha começado a doer; por enquanto pouco, mas sabia que pioraria, Merrett
    esfregou a ponte do nariz. Na realidade não tinha nenhum direito de pensar tão mal de Petyr. Eu
    próprio fiz o mesmo quando era da idade dele. No seu caso, tudo que o ato tinha lhe custado foi
    uma gonorreia, mesmo assim não devia condenar o outro. As prostitutas tinham encantos,
    especialmente quando se tinha um rosto como o de Petyr. O pobre moço tinha uma esposa, com
    certeza, mas ela era metade do problema. Não só tinha o dobro de sua idade, como andava
    dormindo também com o irmão Walder, se o que se contava fosse verdade. Havia sempre muito
    falatório nas Gêmeas, e só uma pequena parte era verdade, mas naquele caso Merrett acreditava.
    Walder Negro era um homem que tomava aquilo que desejava, mesmo se fosse a mulher do
    irmão. Também possuíra a mulher de Edwyn, isso era de conhecimento geral. Sabia-se que a Bela
    Walda se enfiava em sua cama de tempos em tempos, e havia até quem dissesse que ele havia
    conhecido a sétima Senhora Frey bastante melhor do que deveria. Pouco admirava que se
    recusasse a se casar. Para que comprar uma vaca quando havia úberes por todo lado suplicando
    que os ordenhasse?
    Praguejando em surdina, Merrett enfiou os calcanhares nos flancos do cavalo e retomou a
    subida. Por mais tentador que fosse detonar o ouro em bebida, sabia que se não voltasse com
    Petyr Espinha melhor seria não voltar nunca mais.
    Lorde Walder faria noventa e dois anos em breve. Seus ouvidos tinham começado a fraquejar,
    os olhos já quase não funcionavam, e a gota estava tão ruim que tinha de ser carregado para todo
    lado. Todos os filhos concordavam que não era possível que durasse muito mais tempo. E quando
    ele se for, tudo mudará, e não para melhor. O pai era queixoso e teimoso, com uma vontade de
    ferro e uma língua viperina, mas acreditava em cuidar dos seus. De todos os seus, mesmo
    daqueles que lhe desagradaram e o desapontaram. Até daqueles de cujo nome não se lembra.
    Mas quando ele se fosse...
    Quando Sor Stevron era o herdeiro, tudo era diferente. O velho passara sessenta anos
    treinando Stevron, e enfiou na cabeça dele que sangue era sangue. Mas Stevron tinha morrido em
    campanha com o Jovem Lobo no oeste - "da espera, sem dúvida", gracejou Lothar Coxo quando o
    corvo lhes trouxe a notícia e seus filhos e netos eram uma espécie diferente de Frey. Agora o
    herdeiro era o filho de Stevron, Sor Ryman; um homem obtuso, teimoso e ganancioso, E depois de
    Ryman vinham os filhos, Edwyn e Walder Negro, que eram ainda piores.
    - Felizmente - disse uma vez Lothar Coxo - odeiam-se ainda mais um ao outro do que nos
    odeiam.
    Merrett não tinha certeza de que isso fosse auspicioso, e, já agora, o próprio Lothar podia ser
    mais perigoso do que qualquer dos outros dois. Lorde Walder tinha ordenado o massacre dos
    Stark no casamento de Roslin, mas foi Lothar Coxo quem o planejou com Roose Bolton, até o
    ponto de escolher que canções seriam tocadas. Lothar era um tipo muito divertido para uma
    bebedeira em conjunto, mas Merrett nunca seria tolo o suficiente para lhe virar as costas. Nas
    Gêmeas aprendia-se bem cedo que só se podia confiar nos irmãos de pai e mãe, e mesmo nesses
    não até muito longe,
    Era provável que quando o velho morresse fosse cada filho por si, e cada filha também, O novo
    Senhor da Travessia manteria nas Gêmeas, sem dúvida, alguns de seus tios, sobrinhos e primos,
    aqueles de que gostasse ou em quem confiasse, ou, o que era mais provável, aqueles que
    achasse que lhe seriam úteis. O resto de nós será posto para fora, para nos virarmos sozinhos.
    A perspectiva preocupava Merrett mais do que as palavras podiam exprimir. Faria quarenta
    anos dentro de menos de três, era velho demais para adotar a vida de cavaleiro andante,.. mesmo
    se fosse um cavaleiro, o que no caso não era. Não possuía terras nem riquezas que fossem suas.
    Possuía as roupas que trazia no corpo mas não muito mais, nem mesmo o cavalo que montava.
    Não era suficientemente inteligente para ser um meistre, não era suficientemente piedoso para
    septão ou selvagem o bastante para mercenário. Os deuses não me deram nenhum dom além do
    nascimento, e mesmo aí limitaram-me. De que servia ser filho de uma Casa rica e poderosa,
    quando se era o nono filho? Quando se levava em conta os netos e bisnetos, Merrett tinha mais
    chances de ser escolhido Alto Septão do que de herdar as Gêmeas,
    Não tenho sorte nenhuma, pensou amargamente. Nunca tive nenhuma maldita sorte. Era um
    homem grande, largo de peito e ombros, apesar da altura mediana. Ao longo dos últimos dez anos
    tornara-se mole e carnudo, bem sabia, mas quando era mais novo, Merrett tinha sido auase tão
    robusto quanto Sor Hosteen, seu irmão de pai e mãe mais velho, que era habitualmente
    considerado o mais forte dos filhos de Lorde Walder Frey. Quando garoto, tinha sido enviado para
    Crakehall, a fim de servir a família da mãe como pajem. Quando o velho Lorde Sumner fez dele
    escudeiro, todos assumiram que se tornaria Sor Merrett em não mais do que alguns anos, mas os
    fora da lei da Irmandade da Mata de Rei tinham cagado nesses planos. Enquanto seu colega
    escudeiro Jaime Lannister se cobria de glória, Merrett começou por pegar uma gonorreia de uma
    seguidora de acampamentos e depois conseguiu ser capturado por uma mulher, aquela que
    chamavam de Cerva Branca. Lorde Sumner resgatou-o dos fora da lei, mas na batalha seguinte foi
    derrubado com um golpe de maça que lhe quebrou o elmo e o deixou sem sentidos durante uma
    quinzena. Disseram-lhe mais tarde que todos julgaram que morreria.
    Merrett não tinha morrido, mas seus dias de luta tinham terminado. Até a mais leve pancada na
    cabeça lhe causava uma dor que o cegava e o reduzia às lágrimas. Sob tais circunstâncias, a
    cavalaria estava fora de questão, disse-lhe Lorde Sumner, não sem gentileza. Foi enviado de volta
    às Gêmeas para enfrentar o venenoso desdém de Lorde Walder.
    Depois disso a sorte de Merrett só piorou. O pai tinha conseguido de algum modo arranjar-lhe
    um bom casamento; casou-se com uma das filhas de Lorde Darry, na época em que os Darry ainda
    se mantinham numa posição elevada nos favores do Rei Aerys. Mas pareceu que assim que
    defíorou a sua noiva, Aerys perdeu o trono. Ao contrário dos Frey, os Darry tinham sido
    proeminentes lealistas Targaryen, o que lhes custou metade das terras, a maior parte da fortuna e
    quase todo o poder. E quanto à senhora sua esposa, achara-o uma grande desilusão desde o
    primeiro momento e insistiu em levar anos pondo no mundo nada mais do que meninas: três vivas,
    uma natimorta e outra que morreu na infância, antes de finalmente gerar um filho. A filha mais velha
    revelou-se uma devassa; a segunda, uma glutona. Quando Ami foi pega nos estábulos com nada
    menos do que três palafreneiros, foi forçado a casá-la com um maldito cavaleiro andante. Essa
    situação não podia se tornar pior, tinha pensado... até Sor Pate decidir que poderia ganhar renome
    derrotando Sor Gregor Clegane. Ami voltou correndo, transformada em viúva, para consternação
    de Merrett e indubitável deleite de todos os cavalariços das Gêmeas.
    Merrett atreveu-se a esperar que a sua sorte estivesse finalmente mudando quando Roose
    Bolton escolheu casar-se com a sua Walda, em vez de alguma de suas primas mais magras e mais
    agradáveis à vista. A aliança Bolton era importante para a Casa Frey e a filha ajudara a garanti-la;
    tinha achado que aquilo certamente contaria para alguma coisa. O velho rapidamente o
    desenganou.
    — Ele escolheu-a porque é gorda - disse Lorde Walder. - Pensa que o Bolton não esteve se
    cagando para o fato de ser cria sua? Acha que ele se sentou para pensar: "Heh, Merrett Cabeça de
    Carneiro, é esse mesmo o homem de que preciso para meu sogro? Sua Walda é uma porca
    vestida de seda, foi por isso que ele a escolheu, e eu não vou lhe agradecer por isso. Teríamos
    obtido a mesma aliança por metade do preço, se a sua por- quinha largasse a colher de vez em
    quando."
    A humilhação final foi entregue com um sorriso, quando Lothar Coxo o chamou para discutir o
    seu papel no casamento de Roslin.
    — Todos temos de desempenhar o nosso papel, de acordo com os nossos dons - tinha dito o
    meio-irmão, - Você terá uma tarefa e só uma, Merrett, mas creio que está habilitado para ela.
    Quero que se assegure de que o Grande-Jon Umber fique tão bêbado que nuas** nãn rnnsíora
    manrpr-sí» í»m né. rmanto mais lutar.
    E mesmo nisso falhei. Levou o enorme nortenho a beber vinho suficiente para matar três
    homens normais, mas depois de Roslin ter sido levada para a cama, o Grande-Jon ainda
    conseguiu tirar a espada do primeiro homem que o abordou, quebrando o braço dele ao fazê-lo.
    Tinham sido precisos oito homens para acorrentá-lo, e o esforço deixou dois homens feridos, um
    morto e o pobre e velho Sor Leslyn Haigh com uma orelha a menos. Quando deixou de conseguir
    lutar com as mãos, Umber lutou com os dentes.
    Merrett fez um momento de pausa e fechou os olhos. Sua cabeça latejava como aquele maldito
    tambor que havia sido tocado no casamento, e durante um momento foi com dificuldade que
    conseguiu se manter na sela. Tenho de continuar, disse a si mesmo. Se pudesse trazer de volta o
    Petyr Espinha, isso certamente o poria nas boas graças de Sor Ryman. Petyr podia ser um ramo do
    lado sem sol, mas não era tão frio quanto Edwyn nem tão quente quanto o Walder Negro. O rapaz
    ficará grato por meu papel e o seu pai verá que sou leal, um homem que vale a pena ter por perto.
    Mas só se estivesse lá com o ouro até o pôr do sol. Merrett olhou o céu de relance. Bem a tempo.
    Precisava de algo para firmar suas mãos. Puxou o odre que pendia da sela, tirou a rolha dele e
    bebeu um longo trago. O vinho era espesso e doce, tão escuro que quase chegava a ser negro,
    mas, deuses, era bom.
    A muralha exterior de Pedravelhas rodeara em outros tempos o cume do monte como uma
    coroa adorna a cabeça de um rei. Só restavam as fundações e algumas pilhas de pedras partidas e
    manchadas de líquenes que lhe davam na altura da cintura. Merrett avançou ao longo da linha da
    muralha até chegar ao local onde a guarita deveria existir. As ruínas eram mais abundantes ali, e
    ele teve de desmontar para atravessá-las com o pa- lafrém. A oeste, o sol havia desaparecido atrás
    de um banco de nuvens baixas, Tojo e fetos cobriam as vertentes, e dentro das muralhas
    desaparecidas as ervas daninhas batiam em sua cintura. Merrett desprendeu a espada dentro da
    bainha e olhou em volta com cautela, mas não viu nenhum fora da lei. Será que vim no dia errado?
    Parou e esfregou as têmporas com os polegares, mas isso em nada contribuiu para aliviar a
    pressão por trás de seus olhos. Sete malditos infernos...
    De algum lugar, bem dentro do castelo, uma música tênue chegou-lhe por entre as árvores,
    Merrett viu-se tremendo, apesar do manto. Abriu o odre e bebeu outro gole de vinho. Podia
    simplesmente voltar, cavalgar para Vilavelha e detonar o ouro em bebida. Nunca se conseguia
    nada de bom tratando com um bando de fora da lei. Aquela vil cadela da Wenda tinha marcado sua
    nádega com uma cerva quando o teve cativo. Não admirava que a esposa o desprezasse. Tenho
    de levar isto até o fim. Petyr Espinha poderá ser um dia Senhor da Travessia, Edwyn não tem filhos
    eWalder Negro só tem bastardos. Petyr vai se lembrar de quem veio buscá-lo. Bebeu outro gole,
    devolveu a rolha ao odre e levou o palafrém através de pedras quebradas, tojo e árvores esguias
    chicoteadas pelo vento, seguindo os sons até o que tinha sido o pátio do castelo.
    Folhas caídas jaziam em grande número no chão, como soldados após alguma grande
    matança. Um homem vestido de traje verde remendado e desbotado estava sentado de pernas
    cruzadas num desgastado sepulcro de pedra, dedilhando as cordas de uma harpa. A música era
    suave e triste. Merrett conhecia a canção. No alto dos salões dos reis que partiram, Jenny dançava
    com os seus fantasmas...
    - Saia daí - disse Merrett. - Está sentado em cima de um rei.
    — O velho Tristifer não vai se importar com o meu traseiro ossudo. Chamavam-lhe o Martelo da
    Justiça. Há muito tempo que não ouve canções novas. - O fora da lei saltou para o chão. Saudável
    e magro, tinha um rosto estreito e feições de raposa, mas a boca era tão larga que o sorriso parecia
    tocar suas orelhas. Algumas madeixas de cabelo castanho eram sopradas sobre a sua testa.
    Empurrou-as para trás com a mão livre e disse:
    — Lembra-se de mim, senhor?
    — Não. - Merrett franziu a testa, - Por que haveria de me lembrar?
    — Cantei no casamento de sua filha. E creio que bastante bem. Aquele Pate com quem ela se
    casou era meu primo. Somos todos primos em Seterrios. Isso não o impediu de se tornar sovina
    quando chegou a hora de me pagar. - Encolheu os ombros. - Por que é que o senhor seu pai nunca
    me chamou para tocar nas Gêmeas? Será que não faço barulho suficiente para sua senhoria?
    Segundo o que tenho ouvido, ele gosta da coisa barulhenta.
    — Traz o ouro? - perguntou uma voz mais ríspida, atrás de si.
    A garganta de Merrett estava seca. Malditos fora da lei, sempre escondidos nos arbustos. Tinha
    sido a mesma coisa na mata do rei; apanhava-se cinco deles, e outros dez saltavam de lugar
    nenhum.
    Quando se virou, rodeavam-no por todos os lados; um infeliz bando de velhos com rosto
    enrugado e rapazes de face lisa, mais novos do que o Petyr Espinha, todos eles vestidos de
    farrapos de tecido grosseiro, couro fervido e partes de armaduras pertencentes a homens mortos.
    Havia uma mulher com eles, enrolada num manto com capuz que era três vezes maior do que
    devia ser para lhe servir. Merrett estava perturbado demais para contá-los, mas pareciam ser pelo
    menos uma dúzia, talvez uma vintena.
    — Eu fiz uma pergunta, - Quem falou foi um homem grande e barbudo com dentes tortos e verdes
    e um nariz quebrado; mais alto do que Merrett, embora não tão pesado na barriga. Um meio-elmo
    cobria sua cabeça e um remendado manto amarelo, os ombros largos. - Onde está seu ouro?
    — No alforje. Cem dragões de ouro. - Merrett pigarreou. - Vão recebê-los quando eu vir que
    Petyr...
    Um fora da lei atarracado e zarolho avançou antes de ele conseguir terminar, estendeu a mão
    para o alforje com uma ousadia que só vendo e encontrou o saco. Merrett fez um movimento para
    agarrá-lo, mas depois pensou duas vezes. O fora da lei abriu o cordel, tirou uma moeda e
    mordeu-a.
    — Tem o sabor certo. - Sopesou o saco. - E também tem o peso certo.
    Eles vão roubar o ouro e ficar com Petyr, pensou Merrett num súbito pânico.
    — Isso é o resgate completo. Tudo que pediram. - As palmas de suas mãos suavam. Limpou-as
    nos calções. - Qual de vocês é Beric Dondarrion? - Dondarrion era um senhor antes de se tornar
    fora da lei, podia ainda ser um homem de honra.
    — Ora, sou eu - disse o zarolho.
    — E um diabo de um mentiroso, jack - disse o barbudo grande com o manto amarelo.
    — E a minha vez de ser Lorde Beric.
    — Isso quer dizer que eu tenho de ser Thoros? - o cantor riu. - Senhor, lamento dizer, mas Lorde
    Beric foi exigido em outro local. Os tempos que correm são difíceis, e há muitas batalhas a travar.
    Mas nós lidaremos com você tal como ele lidaria, nada tema.
    Merrett temia muitas coisas. E a cabeça latejava. Muito mais daquilo, e estaria soluçando.
    — Vocês têm o seu ouro - disse, - Deem-me o meu sobrinho, e eu vou embora. - Petyr era na
    realidade um meio-sobrinho-neto, mas não havia necessidade de entrar nesses detalhes.
    — Ele está no bosque sagrado - disse o homem com o manto amarelo. - Vamos levá- -lo até
    ele. Notch, segure o cavalo dele.
    Merrett entregou relutantemente o arreio. Não via outra alternativa.
    — Meu odre - ouviu-se dizendo. - Um gole de vinho, para sossegar a minha...
    — Nós não bebemos com gente como você - disse bruscamente o do manto amarelo. - E por
    aqui. Siga-me.
    Folhas esmagaram-se sob os calcanhares do grupo, e cada passo enfiou um espeto de dor nas
    têmporas de Merrett. Caminharam em silêncio, com o vento soprando em rajadas em volta deles.
    Tinha nos olhos a última luz do sol poente enquanto ia tropeçando nos montículos cobertos de
    musgo que eram tudo o que restava da fortaleza. Atrás dela ficava o bosque sagrado.
    Petyr Espinha pendia do galho de um carvalho, com um nó corredio bem apertado em volta de
    seu pescoço longo e esguio. Os olhos saltavam de um rosto negro, olhando acusadoramente para
    Merrett. Chegou tarde demais, pareciam dizer. Mas não tinha chegado. Não tinha! Veio quando lhe
    tinham dito para vir.
    — Mataram-no - coaxou.
    — Inteligência aguçada como uma agulha, a deste - disse o zarolho.
    Um auroque trovejava na cabeça de Merrett. Mãe, misericórdia, pensou.
    — Eu trouxe o ouro.
    — Isso foi bom de sua parte - disse amigavelmente o cantor. - Vamos nos certificar de que lhe
    seja dado bom uso.
    Merrett afastou os olhos de Petyr. Sentia o sabor da bílis na garganta.
    — Vocês... vocês não tinham direito de fazer isso.
    — Tínhamos uma corda - disse o do manto amarelo. - Isso é direito suficiente.
    Dois dos fora da lei agarraram os braços de Merrett e ataram-nos firmemente por trás
    das costas. Estava num choque profundo demais para oferecer resistência.
    — Não - foi tudo que conseguiu dizer. - Eu só vim resgatar o Petyr. Disseram que se tivessem o
    ouro até o pôr do sol não lhe fariam mal...
    — Bem - disse o cantor -, com essa nos pegou, senhor. Acontece que isso foi uma espécie de
    mentira.
    O fora da lei zarolho avançou com um longo rolo de corda de cânhamo. Enrolou uma ponta em
    volta do pescoço de Merrett, apertou-a bem, e atou um nó forte por baixo de sua orelha. A outra
    ponta foi atirada por cima do galho do carvalho, O grandalhão do manto amarelo pegou-a.
    — O que está fazendo? - Merrett sabia como aquilo parecia estúpido, mas não conseguia
    acreditar no que estava acontecendo, mesmo então. - Nunca se atreveriam a enforcar um Frey.
    O do manto amarelo soltou uma gargalhada.
    — Aquele outro, o rapaz das espinhas, disse a mesma coisa.
    Ele não fala a sério. Não pode falar a sério.
    — Meu pai vai pagá-los. Eu valho um grande resgate, mais do que Petyr, duas vezes mais.
    O cantor suspirou.
    — Lorde Walder pode estar meio cego e artrítico, mas não é tão burro para morder a mesma isca
    duas vezes. Temo que da próxima vez envie uma centena de espadas em vez de uma centena de
    dragões.
    — E enviará mesmo! - Merrett tentou soar severo, mas a voz traiu-o. - Enviará mil espadas e
    matará todos vocês.
    — Tem de nos pegar primeiro. - O cantor olhou de relance o pobre Petyr. - E não pode nos
    enforcar duas vezes, não é? - arrancou um acorde melancólico das cordas de sua harpa. - Vamos,
    não se borre todo. Tudo que tem de fazer é responder-me uma pergunta, e eu direi para o
    deixarem partir.
    Merrett diria qualquer coisa se isso quisesse dizer que salvaria a vida.
    — O que você quer saber? Direi a verdade, juro.
    O fora da lei dirigiu-lhe um sorriso encorajador.
    — Bem, acontece que andamos à procura de um cão que fugiu.
    — Um cão? - Merrett não estava entendendo. - Que tipo de cão?
    — Ele responde pelo nome de Sandor Clegane. Thoros diz que se dirigia às Gêmeas.
    Encontramos os barqueiros que fizeram a travessia do Tridente com ele, e o pobre diabo que
    assaltou na estrada do rei. Por acaso o viu no casamento?
    — No Casamento Vermelho? - Merrett sentia-se como se o crânio estivesse prestes a explodir,
    mas fez o melhor que pôde para se lembrar. Houve tanta confusão, mas certamente alguém teria
    falado do cão de Joffrey se o tivessem visto farejando em volta das Gêmeas. - Ele não estava no
    castelo. Pelo menos não no banquete principal... pode ter estado no banquete bastardo, ou nos
    acampamentos, mas... não, alguém teria dito...
    — Ele estaria acompanhado por uma criança - disse o cantor. - Uma menina magri- cela, com
    cerca de dez anos. Ou talvez um garoto da mesma idade.
    — Acho que não - disse Merrett. - Que eu saiba, não.
    — Não? Ah, que pena. Bem, então vai subir.
    — Não - guinchou Merrett sonoramente. - Não, não faça isso, eu dei a sua resposta, disse que
    me deixaria partir.
    — Parece-me que o que eu disse foi que lhes diria para deixarem-no partir. - O cantor olhou
    para o do manto amarelo. - Limo, deixe-o partir.
    — Vá se foder - replicou bruscamente o fora da lei grandalhão.
    O cantor ofereceu a Merrett um encolher de ombros impotente e começou a tocar "O dia em que
    enforcaram o Robin Negro".
    — Por favor, - O resto da coragem de Merrett escorria-lhe perna abaixo. - Eu não lhes fiz mal.
    Trouxe o ouro, como ordenaram. Respondi à pergunta. Tenho jjJfoos.
    — Que o Jovem Lobo nunca terá - disse o fora da lei zarolho.
    Merrett quase não conseguia pensar devido ao latejar na sua cabeça.
    — Ele envergonhou-nos, o reino inteiro estava rindo, tínhamos de limpar a mancha em nossa
    honra. - O pai tinha dito tudo aquilo e mais ainda.
    — Talvez. O que sabe uma porcaria de um bando de camponeses sobre a honra de um lorde?
    - o do manto amarelo deu três voltas ao redor da mão com a ponta da corda. - Mas sabemos umas
    coisas a respeito de assassinato.
    — Não foi assassinato. - Tinha a voz esganiçada. - Foi vingança, nós tínhamos direito à nossa
    vingança. Foi a guerra. Aegon, nós o chamávamos de Guizo, um pobre débil mental que nunca fez
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    Mensagem  Admin Ter Jun 19, 2012 1:55 pm

    mal a ninguém, a Senhora Stark cortou a goela dele. Perdemos meia centena de homens nos
    acampamentos. Sor Garse Goodbrook, marido de Kyra, e Sor Tytos, filho de Jared... alguém
    esmagou a cabeça dele com um machado,., o lobo gigante do Stark matou quatro de nossos
    lobeiros e arrancou o braço do mestre dos canis de seu ombro, mesmo depois de o enchermos de
    dardos...
    — E por isso costurou a cabeça dele ao pescoço de Robb Stark depois que os dois estavam
    mortos - disse o do manto amarelo.
    — Foi o meu pai que fez isso. Tudo o que eu fiz foi beber. Não mataria um homem por beber. -
    Merrett lembrou-se então de uma coisa, uma coisa que podia ser a sua salvação. - Dizem que
    Lorde Beric sempre concede um julgamento, que não mata nenhum homem a menos que algo seja
    provado contra ele. O Casamento Vermelho foi obra de meu pai, e de Ryman e de Lorde Bolton.
    Lothar armou as tendas de maneira a caírem e pôs os besteiros na galeria com os músicos, Walder
    Bastardo liderou o ataque aos acampamentos... são eles que querem, não eu, eu só bebi um
    pouco de vinho... vocês não têm testemunhas.
    — Pois acontece que aí se engana. - O cantor virou-se para a mulher encapuzada. - Senhora?
    Os fora da lei afastaram-se quando ela avançou, sem dizer palavra. Quando abaixou o capuz,
    algo se apertou no peito de Merrett, e por um momento não conseguiu respirar. Não. Não, eu a vi
    morrer. Ela esteve morta durante um dia e uma noite antes de despirem-na e atirarem seu corpo no
    rio. Raymund abriu a garganta dela de orelha a orelha. Ela estava morta.
    O manto e o colarinho escondiam o golpe que a lâmina do irmão tinha feito, mas seu rosto
    estava em estado pior ainda do que ele se lembrava. A carne tornara-se esponjosa na água e
    tomara a cor do leite coalhado. Metade dos cabelos tinha desaparecido, e o resto ficou tão branco
    e quebradiço como o de uma velha. Sob o couro cabeludo destroçado, o rosto era feito de pele
    rasgada e sangue negro, nos locais em que a cortara com as próprias unhas. Mas os olhos eram
    aquilo que tinha de mais terrível. Os olhos viam-no, e o odiavam.
    — Ela não fala - disse o homem grande do manto amarelo. - Vocês, malditos bastardos, cortaram
    a garganta dela fundo demais para isso. Mas ela lembra-se. - Virou-se para a morta e disse: - O que
    diz, senhora? Ele participou?
    Os olhos da Senhora Catelyn não o deixaram por um instante. Assentiu com a cabeça.
    Merrett Frey abriu a boca para suplicar, mas o nó corredio afogou suas palavras. Seus pés
    deixaram o chão, enquanto a corda cortava profundamente a carne mole por baixo de seu queixo.
    Subiu, esperneando e torcendo-se, subiu, subiu, e subiu.

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