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    Parte 2 3 realm

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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:46 pm

    Jon sabia que Cetim, Cavalo e os outros estavam olhando para ele, à espera de ordens. Sentia-se tão cansado que já quase não conseguia pensar. A Muralha é minha, lembrou a si mesmo.
    - Owen, Cavalo, para as catapultas. Barricas, você e o Bota Extra para as balistas. Os outros ponham as cordas nos arcos. Flechas incendiárias. Vejamos se conseguimos botar fogo nela. - Jon sabia que provavelmente seria um gesto inútil, mas tinha de ser melhor do que ficar impotente.
    Pesada e lenta, a tartaruga era um alvo fácil, e os arqueiros e besteiros rapidamente a transformaram num enorme ouriço de madeira... mas as peles úmidas protegeram-na, tal como tinham protegido os manteletes, e as flechas incendiárias apagavam-se praticamen¬te no momento que atingiam o alvo, Jon xingou em surdina.
    - Balistas - ordenou. - Catapultas.
    Os dardos das balistas penetravam profundamente nas peles, mas não fizeram mais danos do que as flechas incendiárias. As pedras quicavam no topo da tartaruga, deixando amassados nas espessas camadas de peles. Uma pedra de um dos trabucos talvez a tivesse conseguido esmagar, mas uma das máquinas continuava avariada, e os selvagens tinham passado bem longe da área que a segunda atingia.
    -Jon, continua a avançar - disse Owen Idiota,
    Ele conseguia ver isso com os próprios olhos. Centímetro a centímetro, metro a me¬tro, a tartaruga aproximava-se, rolando, retumbando e balançando enquanto atravessava o campo de morte. Uma vez que os selvagens a instalassem contra a Muralha, ela daria todo o abrigo de que necessitavam enquanto seus machados abriam caminho através dos portões exteriores reparados às pressas. Lá dentro, debaixo do gelo, não levariam mais do que algumas horas retirando o entulho solto do túnel, e então nada haveria para detê-los além de dois portões de ferro, alguns cadáveres meio congelados e os irmãos que Jon qui¬sesse lançar no caminho deles, para lutar e morrer nas trevas.
    A sua esquerda, a catapulta soltou um tunc e encheu o ar de pedras girando. Estas metralharam a tartaruga como granizo e se dispersaram inofensivamente para o lado. Os arqueiros selvagens continuavam disparando flechas protegidos por seus manteletes. Uma delas atingiu com um ruído surdo o rosto de um homem de palha, e Pyp disse:
    - Quatro para o Watt de Lago Longo! Temos um empate! - mas a flecha seguinte assobiou junto à sua própria orelha. - Fora! - gritou ele para baixo. - Eu não estou no torneio!
    - As peles não queimam - disse Jon, tanto para si como para os outros. A única espe¬rança que lhes restava era tentar esmagar a tartaruga quando atingisse a Muralha. Para isso, precisavam de pedregulhos. Por mais robusta que fosse a construção da tartaruga, um enorme pedaço de pedra que a atingisse em cheio vindo de uma altura de duzentos metros tinha de fazer algum estrago. - Grenn, Owen, Barricas, está na hora.
    Junto da cabana de aquecimento havia uma fila de robustos barris de carvalho. Esta¬vam cheios de rocha esmagada; o cascalho que os irmãos negros costumavam espalhar nos caminhos para obterem melhor apoio para os pés no topo da Muralha. Na noite anterior, depois de ver que o povo livre cobria a tartaruga de peles de ovelha, Jon tinha dito a Grenn para despejar água nos barris, tanta quanta eles pudessem conter. A água se infiltraria por entre a pedra esmagada, e durante a noite tudo aquilo estaria congelado. Era a coisa mais parecida com um pedregulho que teriam.
    - Por que é que temos de congelar isto? - Grenn havia perguntado. - Por que é que não rolamos simplesmente os barris lá para baixo tal como estão?
    Jon respondeu:
    - Se eles baterem contra a Muralha durante a descida vão estourar, e cascalho solto iria se espalhar por todo lado. Não queremos fazer chover pedrinhas sobre os filhos da puta.
    Encostou o ombro em um dos barris com Grenn, enquanto Barricas e Owen lutavam com outro. Juntos, fizeram-no balançar de um lado para o outro, a fim de libertá-lo do gelo que se formara em volta da base.
    - O desgraçado pesa uma tonelada. - disse Grenn.
    - Deite-o e role-o - disse Jon. - Cuidado, que se rolar por cima do seu pé acaba como o Bota Extra.
    Depois de o barril estar deitado, Jon pegou um archote e agitou-o sobre a superfície da Muralha, de um lado para o outro, apenas o suficiente para derreter um pouco o gelo. A fina película de água ajudou o barril a rolar mais facilmente. Facilmente demais, na verdade; quase o perderam. Mas, por fim, com quatro homens somando esforços, rola¬ram o pedregulho até a borda e voltaram a pô-lo em pé.
    Tinham já quatro dos grandes barris de carvalho alinhados por cima do portão quan¬do Pyp gritou:
    - Temos uma tartaruga batendo à nossa porta! - Jon escorou bem a perna ferida e debruçou-se para dar uma olhada. Tapumes, Marsh devia ter construído tapumes.
    Havia tantas coisas que deviam ter feito. Os selvagens estavam arrastando os gigan¬tes mortos para longe do portão. Cavalo e Mully atiravam pedras neles, e Jon pensou ver um homem cair, mas as pedras eram pequenas demais para ter algum efeito sobre a tar¬taruga propriamente dita. Perguntou a si mesmo o que faria o povo livre com o mamute morto que se encontrava no caminho, mas então viu a resposta. A tartaruga era quase tão larga quanto um salão, então simplesmente içaram-na por cima da carcaça. Sua per¬na estremeceu, mas Cavalo agarrou no braço dele e puxou-o para um ponto seguro.
    - Não devia se debruçar assim ~ disse o rapaz.
    - Devíamos ter construído tapumes. - Jon pensou que conseguia ouvir o bater de machados na madeira, mas aquilo era provavelmente apenas o medo ressoando em seus ouvidos. Olhou para Grenn. - Agora.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:47 pm

    Grenn pôs-se atrás de um barril, encostou o ombro nele, grunhiu, e começou a em¬purrar. Owen e Mully foram ajudá-lo. Empurraram o barril trinta centímetros, e depois mais trinta. E, de repente, desapareceu.
    Ouviram o tump que o barril soltou ao atingir a Muralha na queda e então, muito mais alto, o estrondo da madeira sendo estilhaçada, seguido por berros e gritos. Cetim soltou um grito de vitória, e Owen Idiota começou a dançar aos círculos, enquanto Pyp se debruçava para fora e gritava:
    - A tartaruga estava recheada de coelhos! Vejam-nos fugindo aos saltos!
    - Outra vez! - ladrou Jon, e Grenn e Barricas encostaram os ombros no barril seguin¬te e atiraram-no, rodopiando, pelo ar.
    Quando terminaram, a parte da frente da tartaruga de Mance era uma ruína esmaga¬da e lascada, e havia selvagens fugindo pela outra extremidade e esforçando-se por voltar ao acampamento. Cetim pegou sua besta e disparou alguns dardos contra eles, para botá- -los para correr mais depressa. Grenn sorria abertamente através da barba, Pyp graceja¬va, e nenhum deles morreria naquele dia.
    Amanhã, porém.., Jon olhou de relance para a cabana. Restavam oito barris de cas¬calho onde havia doze alguns momentos antes. Percebeu então como estava cansado e quanto lhe doía o ferimento. Tenho de dormir. Pelo menos algumas horas. Podia pedir um pouco de vinho dos sonhos ao Meistre Aemon, isso ajudaria.
    - Vou descer até a Torre do Rei - disse-lhes. - Chamem-me se Mance preparar algu¬ma. Pyp, a Muralha é sua.
    - Minha? - disse Pyp.
    - Dele? - disse Grenn.
    Sorrindo, deixou-os naquilo e desceu na gaiola.
    Uma taça de vinho dos sonhos realmente ajudou. Assim que se estendeu na estreita cama de sua cela foi tomado pelo sono. Os sonhos foram esquisitos e sem forma, cheios de estranhas vozes, gritos e choros, e do som do berrante de guerra, soando grave e rui¬doso, uma única nota trovejante que pairava no ar.
    Quando acordou, o céu fora da fenda que lhe servia de janela mostrava-se negro, e qua¬tro homens que não conhecia encontravam-se em pé à sua volta. Um trazia uma lanterna.
    - Jon Snow - disse bruscamente o mais alto dos quatro enfie as botas e venha conosco.
    O primeiro pensamento atordoado que teve foi que de algum modo a Muralha caíra enquanto dormia, que Mance Rayder tinha enviado mais gigantes ou outra tartaruga e que tinha aberto caminho através do portão. Mas quando esfregou os olhos viu que os estranhos estavam todos vestidos de negro. São homens da Patrulha da Noite, compreen¬deu Jon.
    - Vou para onde? Quem são vocês?
    O homem alto fez um gesto, e dois dos outros arrancaram Jon da cama. Com a lan¬terna a iluminar o caminho levaram-no da cela e subiram meia volta de escada, até o apo¬sento privado do Velho Urso. Viu Meistre Aemon em pé junto da lareira, com as mãos fechadas em volta do punho de uma bengala de abrunheiro. Septão Cellador estava meio bêbado, como de costume, e Sor Wynton Stout dormia num banco de janela. Os outros irmãos eram-lhe estranhos. Todos menos um.
    Imaculado em seu manto forrado de peles e suas botas polidas, Sor Alliser Thorne virou-se para dizer:
    - Aí está o vira-casaca, senhor. O bastardo de Ned Stark, de Winterfell.
    - Não sou nenhum vira-casaca, Thorne - disse friamente Jon.
    - Veremos. - Na cadeira de couro por trás da mesa onde o Velho Urso escrevia as suas cartas estava sentado um homem grande, largo e queixudo que Jon não conhecia. - Sim, veremos - voltou a dizer. - Não irá negar que é Jon Snow, espero? O bastardo do Stark?
    - Ele gosta de se chamar de Lorde Snow. - Sor Alliser era um homem magro, esguio, compacto e vigoroso, e naquele momento seus olhos cruéis estavam escuros de diverti¬mento.
    - Foi você quem me apelidou de Lorde Snow - disse Jon. Sor Alliser gostava de dar alcunhas aos rapazes que treinava, durante os tempos passados como mestre de armas de Castelo Negro. O Velho Urso enviara Thorne para Atalaialeste-do-Mar. Os outros devem ser homens de Atalaialeste. A ave chegou a Cotter Pyke e ele enviou-nos ajuda. - Quantos homens trouxe? - perguntou ao homem sentado atrás da mesa.
    - Quem faz perguntas sou eu - respondeu o queixudo. - Foi acusado de quebrar seus votos, covardia e deserção, Jon Snow. Nega ter abandonado os seus irmãos à morte no Punho dos Primeiros Homens e nega ter se juntado ao selvagem Mance Rayder, o autoproclamado Rei-para-lá-da-Muralha?
    - Abandonado...? - Jon quase se engasgou com a palavra.
    Meistre Aemon interveio então.
    - Senhor, Donal Noye e eu discutimos estes assuntos quando Jon Snow voltou para junto de nós, e ficamos satisfeitos com as explicações dele.
    - Bem, eu não estou satisfeito, meistre - disse o queixudo. - Vou ouvir com os meus ouvidos essas explicações. Ah, se vou!
    Jon engoliu a ira.
    - Não abandonei ninguém. Deixei o Punho na companhia de Qhorin Meia-Mão para bater o Passo dos Guinchos. Juntei-me aos selvagens sob ordens. Meia-Mão temia que Mance pudesse ter encontrado o Berrante do Inverno...
    - O Berrante do Inverno? - Sor Alliser soltou um risinho. - Também lhe foi ordena¬do que contasse os snarks deles, Lorde Snow?
    - Não, mas contei os seus gigantes o melhor que pude.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:47 pm

    - Sor - exclamou o queixudo. - Irá se dirigir a Sor Alliser como sor, e a mim como senhor. Sou Janos Slynt, Senhor de Harrenhal e comandante aqui em Castelo Negro enquanto Bowen Marsh não voltar com a sua guarnição. Irá nos tratar com cortesia, ah, sim. Não admito ouvir um cavaleiro ungido como o bom Sor Alliser ser escarnecido pelo bastardo de um traidor. - Ergueu uma mão e espetou um dedo carnudo no rosto de Jon, - Nega ter levado uma mulher selvagem para a sua cama?
    - Não. - O luto de Jon por Ygritte estava fresco demais para negá-la agora. - Não, senhor.
    - Suponho que também tenha sido o Meia-Mão que ordenou que fodesse essa puta suja? - perguntou Sor Alliser com um sorriso afetado.
    - Sor. Ela não era puta nenhuma, 5or, Meia-Mão disse-me para não me recusar, não importa o que os selvagens me pedissem, mas,., não negarei que fui além do que tinha de fazer, que... gostava dela.
    - Então admite que quebrou os seus votos - disse Janos Slynt.
    Jon sabia que metade dos homens de Castelo Negro visitavam Vila Toupeira de tem¬pos em tempos para escavar em busca de tesouros enterrados no bordel, mas não deson¬raria Ygritte igualando-a às prostitutas de Vila Toupeira.
    - Quebrei os meus votos com uma mulher, Isso admito. Sim.
    - Sim, senhorl - quando Slynt franzia a testa, sua papada e seu queixo estremeciam. Era tão largo quanto o Velho Urso fora, e sem dúvida ia se tornar igualmente calvo se vi¬vesse até a idade de Mormont. Metade de seus cabelos já tinha desaparecido, embora não pudesse ter mais de quarenta anos.
    - Sim, senhor - disse Jon, - Cavalguei com os selvagens e comi com eles, como o Meia-Mão me ordenou que fizesse, e partilhei as peles com Ygritte. Mas juro-lhe que nunca virei a casaca. Fugi do Magnar assim que pude, e nunca levantei armas contra os meus irmãos ou o reino.
    Os pequenos olhos de Lorde Slynt estudaram-no.
    - Sor Glendon - ordenou. - Traga o outro prisioneiro.
    Sor Glendon era o homem alto que tinha arrancado Jon da cama. Mais quatro ho¬mens acompanharam-no quando saiu da sala, mas retornaram pouco depois com um cativo, um homem pequeno, pálido, maltratado e de mãos e pés agrilhoados. Tinha as sobrancelhas unidas, o cabelo muito recuado nas têmporas e um bigode que parecia uma mancha de sujeira no lábio superior, mas o rosto estava inchado e manchado de hemato¬mas, e tinha perdido a maior parte dos dentes da frente.
    Os homens de Atalaialeste atiraram rudemente o cativo ao chão. Lorde Slynt olhou- -o, de testa franzida.
    - E este aquele de quem falou?
    O cativo piscou olhos amarelos.
    - E. - Foi só nesse instante que Jon reconheceu o Camisa de Chocalho. Ê um homem diferente sem a armadura, pensou. - E - repetiu o selvagem -, é o covarde que matou o Meia-Mão. Lá em cima nas Presas de Gelo, foi, depois de a gente ter caçado os outros corvos e matado todos. Queríamos também tratar deste, mas ele implorou por sua vida inútil, ofereceu-se pra se juntar à gente se o aceitássemos. O Meia-Mão jurou que antes disso ia ver o covarde morto, mas o lobo quase desfez Qhorin aos pedaços, e este aqui abriu a goela dele. - Então concedeu a Jon um sorriso de dentes quebrados e cuspiu san¬gue sobre os pés dele.
    - E então? - perguntou Janos Slynt a Jon num tom duro. -Você nega? Ou irá dizer que Qhorin o ordenou que o matasse?
    - Ele disse-me... - As palavras custaram a vir. - Ele disse-me para fazer não importa o que me pedissem.
    Slynt olhou em volta do aposento privado, para os outros homens de Atalaialeste.
    - Será que este rapaz pensa que eu caí de cabeça em uma carroça de nabos?
    - Suas mentiras não vão salvá-lo agora, Lorde Snow - preveniu Sor Alliser Thorne. - Obteremos de você a verdade, bastardo.
    - Eu disse-lhe a verdade. Nossos garranos estavam fraquejando, e o Camisa de Cho¬calho estava próximo. Qhorin disse-me para fingir que estava me juntando aos selvagens. "Não pode se recusar, não importa o que lhe seja solicitado", disse ele. Qhorin sabia que iam me obrigar a matá-lo. Camisa de Chocalho ia matá-lo de qualquer forma, e ele tam¬bém sabia disso.
    - Então agora diz que o grande Qhorin Meia-Mão temia esta criatura? - Slynt olhou para Camisa de Chocalho e resfolegou,
    - Todos os homens temem o Senhor dos Ossos - resmungou o selvagem. Sor Glen- don chutou-o e ele calou-se.
    - Eu não disse isso - insistiu Jon.
    Slynt bateu o punho contra a mesa.
    - Eu ouvi-o! Sor Alliser avaliou-o bem, segundo parece. Mente com os dentes de bastardo que tem na boca. Bem, não tolerarei isso. Não tolerarei! Pode ter enganado este ferreiro aleijado, mas não engana Janos Slynt! Ah, não. Janos Slynt não engole mentiras assim tão facilmente. Acha que o meu crânio está recheado de couves?
    - Não sei do que é que está recheado o seu crânio. Senhor.
    - Lorde Snow é um grande arrogante - disse Sor Alliser. - Assassinou Qhorin, da mesma forma que os outros vira-casacas assassinaram Lorde Mormont. Não me surpreenderia se descobrisse que tudo faz parte do mesmo terrível plano. Benjen Stark pode bem ter também um dedo nisso. Tanto quanto sabemos, ele pode estar sentado na tenda de Mance Rayder nesse exato momento. Conhece esses Stark, senhor,
    - Conheço - disse Janos Slynt. - Conheço-os bem demais.
    Jon descalçou a luva e mostrou-lhes a mão queimada.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:47 pm

    - Queimei a mão protegendo Lorde Mormont de uma criatura. E meu tio era um homem de honra, Nunca teria traído os votos dele,
    -Tal como você? - caçoou Sor Alliser.
    Septão Cellador pigarreou.
    - Lorde Slynt - disse -, este rapaz recusou-se a proferir os votos no septo, como deve ser, e em vez disso foi para lá da Muralha a fim de proferir os votos perante uma árvore- -coração. Os deuses do pai, disse ele, mas são também deuses dos selvagens.
    - São os deuses do Norte, septão. - Meistre Aemon foi cortês, mas firme, - Senho¬res, quando Donal Noye foi morto, foi este jovem Jon Snow quem subiu à Muralha e a defendeu, contra toda a fúria do norte. Demonstrou ser valente, leal e cheio de recursos. Se não fosse ele, teria encontrado Mance Rayder aqui sentado quando chegou, Lorde Slynt. Está fazendo uma grande injustiça com ele, Jon Snow era o intendente e escudeiro do próprio Lorde Mormont. Foi escolhido para esse dever porque o Lorde Comandante viu nele grande promessa. Assim como eu.
    - Promessa? - disse Slynt. - Bem, a promessa pode revelar-se falsa. Tem o sangue de Qhorin Meia-Mão nas mãos. Mormont confiava nele, você diz, mas e daí? Eu sei o que é ser traído por homens em quem se confia. Ah, sim. E conheço também os costumes dos lobos. - Apontou para o rosto de Jon. - Seu pai morreu como traidor.
    - Meu pai foi assassinado. - Jon já tinha passado do ponto de importar-se com o que lhe fariam, mas não admitiria mais mentiras sobre o pai.
    Slynt ficou roxo.
    - Assassinato? Seu cachorro insolente. O Rei Robert ainda nem tinha esfriado quan¬do Lorde Eddard começou a mover-se contra o filho. - Ficou de pé; mais baixo do que Mormont, mas largo de peito e braços, e com uma barriga correspondente. Uma pequena lança de ouro com esmalte vermelho na ponta prendia seu manto no ombro. - Seu pai morreu pela espada, mas era bem-nascido, uma Mão do Rei. Para você, uma corda basta¬rá. Sor Alliser, leve este vira-casaca para uma cela de gelo.
    - O senhor é sensato. - Sor Alliser agarrou Jon pelo braço.
    Jon libertou-se com um empurrão e agarrou a garganta do cavaleiro com tal ferocida¬de que o ergueu no ar. Teria esganado o homem, se os homens de Atalaialeste não o ti¬vessem afastado de Thorne. Este cambaleou para trás, esfregando as marcas que os dedos de Jon tinham deixado em seu pescoço.
    - Veem com seus próprios olhos, irmãos. Este rapaz é um selvagem.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:48 pm

    Tyrion 819





    Q
    uando a alvorada chegou, descobriu que não era capaz de enfrentar a idéia de comi¬da. Ao cair da noite, posso estar condenado. Tinha o estômago ácido de bílis e sentia comichão no nariz, Tyrion coçou-o com a ponta da faca. Agüentar uma última testemu- nha, e depois é a minha vez. Mas o que fazer? Negar tudo? Acusar Sansa e Sor Dontos? Confessar, na esperança de passar o resto de seus dias na Muralha? Jogar os dados e rezar para que a Víbora Vermelha consiga derrotar Sor Gregor Clegane?
    Tyrion apunhalou com indiferença uma salsicha gordurosa e cinzenta, desejando que fosse a irmã. Faz um frio dos demônios na Muralha, mas pelo menos ficaria isolado de Cer¬sei. Não lhe parecia que pudesse ser um patrulheiro adequado, mas a Patrulha da Noite precisava tanto de homens inteligentes como de homens fortes. O Senhor Comandan¬te Mormont tinha dito exatamente isso, quando Tyrion visitou Castelo Negro. Mas há aqueles votos inconvenientes. Significaria o fim de seu casamento e de qualquer pretensão que pudesse ter sobre Rochedo Casterly, mas, em todo caso, não parecia estar destinado a desfrutar de qualquer uma dessas coisas. E julgava recordar que havia um bordel numa aldeia próxima.
    Não era a vida com que sonhara, mas era vida» E tudo que tinha de fazer para conquistá-la era confiar no pai, erguer-se em suas pequenas pernas deformadas e dizer: "Sim, fui eu, confesso". Essa era a parte que lhe dava nós nas entranhas. Quase desejava realmente ter cometido o ato de que era acusado, uma vez que parecia que teria de sofrer por ele fosse como fosse.
    - Senhor? - disse Podrick Payne. - Eles estão aqui, senhor. Sor Addam. E os ho¬mens de manto dourado. Estão à espera lá fora.
    - Pod, diga-me a verdade... acha que fui eu?
    O rapaz hesitou. Quando tentou falar, não conseguiu emitir mais do que um fraco perdigoto.
    Estou perdido. Tyrion suspirou.
    - Não precisa responder. Foi um bom escudeiro para mim. Melhor do que eu mere¬cia. Aconteça o que acontecer, agradeço por seus leais serviços.
    Sor Addam Marbrand esperava à porta com seis homens de manto dourado. Nada tinha a dizer naquela manhã, aparentemente. Outro homem hom que julga que sou um assassino de familiares. Tyrion armou-se de toda a dignidade que conseguiu arranjar e bamboleou-se escadas abaixo. Sentia todos a observá-lo enquanto cruzava o pátio; os
    guardas nas muralhas, os palafreneiros junto aos estábulos, os ajudantes de cozinha, as lavadeiras e as criadas. Dentro da sala do trono, cavaleiros e fidalgos afastaram-se para deixá-los passar e murmuraram aos ouvidos de suas senhoras.
    Assim que Tyrion ocupou seu lugar perante os juizes, outro grupo de homens de manto dourado introduziu Shae na sala.
    Uma mão fria apertou-se em volta de seu coração. Varys traiu-a, pensou. Então lembrou-se. Não. Eu mesmo a trai Devia tê-la deixado com Lollys. Claro que iriam inter¬rogar as aias de Sansa, eu faria o mesmo. Tyrion esfregou a cicatriz lisa que tinha onde estivera o nariz, perguntando a si mesmo por que Cersei teria se dado ao trabalho. Shae não sabe nada que possa me prejudicar.
    - Eles planejaram o ato juntos - disse ela, aquela garota que ele amava. - O Duende e a Senhora Sansa planejaram isso depois de o Jovem Lobo ter morrido. Sansa queria vingança pelo irmão e Tyrion pretendia ficar com o trono. Ia matar a irmã em seguida, e depois o senhor seu pai, para poder se tornar Mão do Príncipe Tommen. Mas um ano ou dois mais tarde, antes de Tommen crescer demais, ia matá-lo também, para pôr a coroa na cabeça.
    - Como pode saber tudo isso? - perguntou o Príncipe Oberyn. - Por que o Duende iria contar esses planos à aia da esposa?
    - Ouvi uma parte, senhor - disse Shae e a senhora também deixou escapar algu¬mas coisas. Mas a maior parte ouvi dos lábios dele. Não era só aia da Senhora Sansa. Fui a prostituta dele, durante todo o tempo que passou em Porto Real. Na manhã do casa¬mento, ele arrastou-me pro lugar onde guardam os crânios de dragão e fodeu-me ali, com os monstros por toda a volta. E quando eu chorei, ele disse que devia ser mais grata, que não era qualquer moça que podia se tornar prostituta do rei. Foi aí que ele me contou como pretendia tornar-se rei. Disse que o pobre Joffrey nunca ia conhecer a noiva como ele tava me conhecendo. - Ela então começou a soluçar. - Nunca quis ser uma prostitu¬ta, senhores. Estava noiva. Ele era um escudeiro, um rapaz bom e corajoso, de bom nas¬cimento. Mas o Duende viu-me no Ramo Verde e pôs o rapaz com quem eu queria casar na primeira fila da vanguarda, e depois de ele ser morto ordenou aos selvagens que me levassem à sua tenda. Shagga, o grande, e Timett, com o olho queimado. Ele disse que se não lhe desse prazer, me entregava a eles, e portanto eu dei. Depois trouxe-me pra cidade, pra ficar por perto quando ele me quisesse. Obrigou-me a fazer coisas tão vergonhosas...
    O Príncipe Oberyn pareceu curioso.
    - Que tipo de coisas?
    - Coisas indescritíveis. - Enquanto as lágrimas rolavam lentamente por aquele rosto bonito, não havia dúvida de que todos os homens presentes no salão desejavam tomar Shae nos braços e confortá-la. - Com a boca e... outras partes do corpo, senhor. Todas as partes. Ele usou-me de todas as maneiras que há e... costumava me obrigar a dizer como ele era grande. O meu gigante, eu tinha de lhe chamar, o meu gigante de Lannister.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:48 pm

    Osmund Kettleblack foi o primeiro a rir. Boros e Meryn juntaram-se a ele, e depois Cersei, Sor Loras e mais senhores e senhoras do que conseguia contar. A súbita rajada de hilaridade ressoou nas vigas e sacudiu o Trono de Ferro.
    - E verdade - protestou Shae. - O meu gigante de Lannister. - As gargalhadas tornaram-se duas vezes mais ruidosas. A boca deles se torceu de diversão, as barrigas balançavam. Alguns riam tanto que expeliam ranho das narinas.
    Salvei-os a todos, pensou Tyrion. Salvei esta cidade vil e todas as suas vidas sem valor♦ Havia centenas de pessoas na sala do trono, todas elas rindo, menos o pai de Tyrion. Ou pelo menos era o que parecia. Até a Víbora Vermelha riu alto, e Mace Tyrell parecia a ponto de estourar, mas Lorde Tywin Lannister permanecia sentado no meio deles como se fosse feito de pedra, com os dedos juntos por baixo do queixo.
    Tyrion avançou.
    - SENHORES! - gritou. Tinha de gritar, para ter alguma esperança de ser ouvido.
    O pai levantou uma mão. Pouco a pouco, o salão voltou ao silêncio.
    - Levem esta puta mentirosa para longe de minha vista - disse Tyrion - e eu darei a vocês a sua confissão.
    Lorde Tywin assentiu, fez um gesto. Shae pareceu meio aterrorizada quando os ho¬mens de manto dourado a cercaram. Seus olhos encontraram-se com os de Tyrion quan¬do ela foi levada do salão, Teria sido vergonha o que viu neles, ou medo? Perguntou a si mesmo o que Cersei lhe teria prometido. Receberá o ouro ou as jóias, o que quer que tenha pedido, pensou enquanto via as costas dela se afastando, mas antes da volta da lua ela vai ter você entretendo os homens de manto dourado em suas casernas,
    Tyrion ergueu o olhar para os olhos duros e verdes do pai, com as suas manchas de ouro frio e brilhante.
    - Sou culpado - disse -, tão culpado. E isso o que querem ouvir?
    Lorde Tywin nada disse. Mace Tyrell assentiu. O Príncipe Oberyn pareceu modera¬damente desapontado.
    - Admite ter envenenado o rei?
    - Nada disso - disse Tyrion. - Da morte de Joffrey sou inocente. Sou culpado de um crime mais monstruoso. - Deu um passo na direção do pai. - Nasci. Sobrevivi. Sou cul¬pado de ser um anão, confesso. E independentemente de quantas vezes o meu bondoso pai tenha me perdoado, persisti na minha infâmia.
    - Isso é uma loucura, Tyrion - declarou Lorde Tywin, - Fale do assunto que aqui nos traz. Não está sendo julgado por ser um anão,
    - E aí que está errado, senhor. Estive sendo julgado por ser um anão minha vida toda.
    - Não tem nada a dizer em sua defesa?
    - Nada a não ser isto: não fui eu. Mas agora desejava ter sido. - Virou-se para enfren¬tar o salão, aquele mar de rostos pálidos. - Gostaria de ter veneno suficiente para todos vocês. Fazem-me lamentar não ser o monstro que gostariam que fosse, mas aí está. Sou inocente, mas aqui não obterei justiça. Não me deixam alternativa exceto apelar aos deu¬ses. Exijo julgamento pela batalha.
    - Perdeu o juízo? - disse o pai.
    - Não, encontrei-o. Exijo julgamento pela batalha!
    Sua querida irmã não podia estar mais satisfeita.
    - Ele tem esse direito, senhores - lembrou aos juizes, - Deixem que os deuses jul¬guem. Sor Gregor Clegane lutará por Joffrey. Ele retornou à cidade anteontem à noite, a fim de colocar a sua espada a meu serviço.
    O rosto de Lorde Tywin estava tão sombrio que por meio segundo Tyrion pergun¬tou a si mesmo se ele também teria bebido vinho envenenado. Atingiu a mesa com um punho, furioso demais para falar. Foi Mace Tyrell quem se virou para Tyrion e fez a pergunta.
    - Tem um campeão para defender a sua inocência?
    - Tem, senhor. - O Príncipe Oberyn de Dorne pôs-se em pé. - O anão conseguiu me convencer.
    A algazarra foi ensurdecedora. Tyrion sentiu especial prazer na súbita dúvida que vis¬lumbrou nos olhos de Cersei. Foi preciso que cem homens de manto dourado batessem com o cabo das lanças no chão para que a sala do trono voltasse a se aquietar. A essa altu¬ra, Lorde Tywin Lannister já estava recomposto.
    - Que o assunto seja decidido amanhã - declarou, num tom férreo. - Lavo as minhas mãos. - Lançou ao filho anão um olhar frio e zangado e depois saiu da sala a passos lar¬gos, pela porta do rei que se abria por trás do Trono de Ferro, com o irmão Kevan o seu lado.
    Mais tarde, de volta à cela da torre, Tyrion serviu-se de uma taça de vinho e mandou Podrick Payne ir atrás de queijo, pão e azeitonas. Duvidava ser capaz de manter no estô¬mago qualquer coisa mais pesada. Achava que eu iria docilmente, pai?, perguntou à sombra que as velas desenhavam na parede. Tenho em mim muito de si para isso. Sentia uma estra¬nha paz, agora que tinha tirado o poder de vida e morte das mãos do pai e o depositado nas mãos dos deuses. Assumindo que existem deuses, e que eles não estão pouco se lixando. Caso contrário, estou em mãos dornesas. Não importa o que acontecesse, Tyrion estava sa¬tisfeito por saber que tinha feito em pedaços os planos de Lorde Tywin. Se o Príncipe Oberyn ganhasse, isso iria inflamar ainda mais Jardim de Cima contra os dorneses; Mace Tyrell veria o homem que aleijara seu filho ajudar o anão que quase envenenara sua filha escapar da devida punição. E se a Montanha triunfasse, Doran Martell poderia perfeita¬mente querer saber por que motivo o irmão tinha sido brindado com a morte em vez da justiça que Tyrion lhe prometera. Dorne podia acabar mesmo por coroar Myrcella.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:48 pm

    Quase valia a pena morrer para saber de todos os problemas que causara. Virá ver o fim, Shae? Ficará lá com os outros, observando enquanto Sor Ilyn corta esta minha feia cabeça? Sentirá falta de seu gigante de Lannister quando ele estiver morto? Esvaziou a taça, jogou-a para o alto e cantou com vigor.

    Cavalgou pelas ruas da cidade,
    desde o alto de sua colina,
    Por becos e degraus e calçadas,
    para os braços de sua menina.
    Porque ela era o secreto tesouro,
    a sua vergonha e o seu prazer.
    E corrente e forte nada são,
    comparados com beijos de mulher.

    Sor Kevan não o visitou naquela noite. Provavelmente estava com Lorde Tywin, ten¬tando aplacar os Tyrell. Receio que não voltarei a ver meu tio. Serviu-se de outra taça de vinho. Uma pena que tivesse mandado matar Symon Língua de Prata antes de aprender a letra inteira daquela canção. Não era uma canção ruim, para falar a verdade. Especial¬mente se comparada com aquelas que seriam escritas sobre si futuramente.
    - Porque mãos de ouro são sempre frias, mas há calor em mãos de mulher... - cantou. Talvez devesse escrever ele mesmo os outros versos. Se vivesse tempo suficiente.
    Naquela noite, surpreendentemente, Tyrion Lannister dormiu longa e profundamen¬te. Acordou à primeira luz da aurora, bem repousado e com um robusto apetite, e que¬brou o jejum com pão frito, morcela, bolinhos de maçã e uma dose dupla de ovos cozidos com cebolas e pimenta ardida de Dorne. Depois pediu licença aos guardas para visitar o seu campeão. Sor Addam consentiu.
    Tyrion foi encontrar o Príncipe Oberyn bebendo uma taça de vinho tinto enquanto punha a armadura. Era servido por quatro de seus fidalgos dorneses mais novos.
    - Um bom dia para o senhor - disse o príncipe. - Aceita uma taça de vinho?
    - Você devia beber antes da batalha?
    - Eu sempre bebo antes das batalhas.
    - Isso poderá levar à sua morte. Pior, poderá levar à minha morte.
    O Príncipe Oberyn riu.
    - Os deuses protegem os inocentes. Você é inocente, espero?
    - Só de matar Joffrey - admitiu Tyrion. - Espero que saiba o que se prepara para enfrentar. Gregor Clegane é...
    - ... grande? Ouvi dizer que sim.
    - Ele tem quase dois metros e quarenta de altura e deve pesar cento e noventa quilos, e tudo de músculo. Luta com uma espada de duas mãos, mas só precisa de uma para manejá-la. E conhecido por ter cortado homens ao meio com um único golpe. Sua arma¬dura é tão pesada que nenhum homem menor do que ele seria capaz de suportar o peso, quanto mais mexer-se lá dentro.
    O Príncipe Oberyn não se mostrou impressionado.
    - Já matei homens grandes antes. O truque é desequilibrá-los. Assim que caírem, estarão mortos. - O dornês parecia tão jovialmente confiante que Tyrion se sentiu quase tranqüilizado, até o outro se virar e dizer: - Daemon, a minha lança! - Sor Daemon atirou-a para ele, e a Víbora Vermelha apanhou-a no ar.
    - Pretende enfrentar a Montanha com uma lançai - aquilo deixou Tyrion inquieto de novo. Em batalha, fileiras de lanças juntas faziam uma dianteira formidável, mas com¬bate singular contra um espadachim habilidoso era outro assunto.
    - Em Dorne gostamos de lanças. Além disso, é a única forma de me opor ao seu al¬cance. Olhe, Lorde Duende, mas assegure-se de não tocar. - A lança era freixo torneado com dois metros e meio de comprimento, com o cabo liso, grosso e pesado. Os últimos sessenta centímetros eram de aço: uma esguia ponta de lança em forma de folha que se estreitava para formar um perigoso espigão. As arestas pareciam suficientemente afiadas para fazer a barba. Quando Oberyn girou o cabo entre as palmas das mãos, cintilaram com um brilho negro. Óleo? Ou veneno? Tyrion decidiu que preferia não saber,
    - Espero que seja bom com isso - disse em tom de dúvida.
    - Não terá razões de queixa. Embora Sor Gregor talvez venha a ter. Por mais es¬pessa que seja a sua placa, haverá fendas nas articulações. Do lado de dentro do coto¬velo e do joelho, por baixo dos braços... Vou encontrar um lugar para lhe fazer cóce¬gas, prometo, - Pôs a lança de lado. - Dizem que um Lannister sempre paga as suas dívidas. Talvez queira voltar comigo a Lançassolar quando o derramamento de sangue do dia terminar. Meu irmão Doran ficaria muito satisfeito por conhecer o legítimo herdeiro de Rochedo Casterly,.. especialmente se ele trouxesse a sua adorável esposa, a Senhora de Winterfell.
    Será que a cobra julga que tenho Sansa enfiada em algum lugar, como uma noz que estives¬se guardando para o inverno? Se assim era, Tyrion não iria desenganá-lo.
    - Uma viagem até Dorne poderá ser muito agradável, agora que reflito sobre o assunto.
    - Faça planos para uma visita longa. - O Príncipe Oberyn bebericou o vinho. - Você e Doran têm muitos assuntos de interesse mútuo a discutir. Música, comércio, história, vinho, a moeda do anão... as leis de herança e sucessão. Sem dúvida que os conselhos de um tio beneficiariam a Rainha Myrcella nos árduos tempos que virão.
    Se Varys tivesse passarinhos à escuta, Oberyn estava dando-lhes uma farta colheita.
    - Creio que vou aceitar essa taça de vinho - disse Tyrion. Rainha Myrcella? Só teria sido mais tentador se tivesse Sansa escondida por baixo do manto. Se ela declarasse apoio a Myrcella no
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:48 pm

    lugar de Tommen, iria o Norte segui-la? O que a Víbora Vermelha estava sugerindo era traição. Seria Tyrion realmente capaz de pegar em armas contra Tommen, contra o próprio pai? Cersei cuspiria sangue. Bastava isso para fazer com que talvez valesse a pena.
    - Lembra-se da história que lhe contei quando nos encontramos pela primeira vez, Duende? - perguntou o Príncipe Oberyn, enquanto o Bastardo de Graçadivina ajoe¬lhava à sua frente para prender suas grevas. - Não foi apenas devido à sua cauda que eu e minha irmã fomos a Rochedo Casterly. Andávamos numa espécie de demanda. Uma demanda que nos levou a Tombastela, à Arvore, a Vilavelha, às Ilhas Escudo, a Crakehall e, por fim, a Rochedo Casterly... mas nosso verdadeiro destino era o casamento. Doran estava prometido à Senhora Mellario de Norvos, portanto foi deixado para trás, como castelão de Lançassolar, Minha irmã e eu ainda não estávamos comprometidos,
    "Elia achou tudo aquilo empolgante. Estava nessa idade, e sua saúde delicada nunca lhe permitira muitas viagens. Eu preferia me divertir caçoando dos pretendentes de mi¬nha irmã. Houve o Pequeno Senhor Vesgo, o Escudeiro Boca-de-Esguicho, um que cha¬mei de Baleia que Caminha, esse tipo de coisa. O único minimamente apresentável foi o jovem Baelor Hightower. Era um rapaz bonito, e minha irmã andou meio apaixonada por ele até que o rapaz teve o infortúnio de peidar uma vez na nossa presença. Imedia¬tamente o apelidei de Baelor Peidorreiro, e depois disso Elia não conseguia olhá-lo sem rir. Eu era um jovenzinho monstruoso, alguém devia ter cortado minha língua perversa."
    Sim, concordou Tyrion em silêncio. Baelor Hightower já não era jovem, mas continua¬va sendo o herdeiro de Lorde Leyton; rico, bonito e um cavaleiro de magnífica reputação. Agora chamavam-lhe Baelor Sorriso Resplandecente. Se Elia tivesse se casado com ele em vez de Rhaegar Targaryen, poderia estar em Vilavelha com os filhos crescendo à sua vol¬ta, Perguntou a si mesmo quantas vidas teriam sido apagadas por aquele pum,
    - Lanisporto era o fim de nossa viagem - prosseguiu o Príncipe Oberyn, enquanto Sor Arron Qorgyle o auxiliava a vestir uma túnica almofadada de couro e começava a atá-la nas costas. - Sabia que as nossas mães se conheciam desde muito antes?
    - Creio recordar que tinham estado juntas na corte quando meninas. Companheiras da Princesa Rhaella?
    - Exatamente. Eu estava convencido de que as mães tinham cozinhado aquela tra¬ma entre si. O Escudeiro Boca-de-Esguicho e os de sua laia, e as várias jovens donzelas cheias de espinhas que me tinham sido exibidas eram as amêndoas antes do banquete, destinando-se apenas a abrir nossos apetites. O prato principal deveria ser servido em Rochedo Casterly.
    - Cersei e Jaime.
    - Que anão mais esperto. Elia e eu éramos mais velhos, certamente. Seus irmãos não podiam ter mais de oito ou nove anos. Em todo o caso, uma diferença de cinco ou seis anos é bastante pequena. E havia uma cabine vazia no nosso navio, uma cabine muito boa, o tipo de cabine que poderia se destinar a uma pessoa de nascimento elevado. Como se a intenção fosse levarmos alguém para Lançassolar. Um jovem pajem, talvez. Ou uma companheira para Elia. A senhora sua mãe pretendia prometer Jaime à minha irmã, ou Cersei a mim. Talvez ambos.
    - Talvez - disse Tyrion mas o meu pai...
    - ... governava os Sete Reinos, mas em casa era governado pela senhora sua esposa, ou pelo menos era o que a minha mãe sempre dizia, - O Príncipe Oberyn ergueu os braços para que Lorde Dagos Manwoody e o Bastardo de Graçadivina pudessem enfiar uma longa camisa de cota de malha por sua cabeça, - Em Vilaveiha ficamos sabendo da morte de sua mãe e do filho monstruoso que ela dera à luz. Podíamos ter voltado naquele momento, mas minha mãe decidiu prosseguir. Já lhe contei sobre o acolhimento que en¬contramos em Rochedo Casterly.
    "O que não lhe contei é que a minha mãe esperou o tempo que era decente, e então abordou o seu pai com aquilo que nos levara ali. Anos mais tarde, em seu leito de morte, ela contou-me que Lorde Tywin nos recusou bruscamente. Informou-a de que a filha estava destinada ao Príncipe Rhaegar, E quando ela perguntou por Jaime, para desposar Eüa, ele ofereceu a sua pessoa,
    - Oferta essa que ela recebeu como um ultraje.
    - E em, Até você pode ver isso, certamente.
    - Oh, certamente. - Tudo vem de trás e mais de trás, pensou Tyrion, de nossas mães e pais e dos que vieram antes deles. Somos marionetes a dançar, presos aos cordéis daqueles que chegaram antes de nós, e um dia nossos filhos ficarão com nossos cordéis e dançarão em nosso lugar. - Bem, o Príncipe Rhaegar casou-se com Elia de Dorne, não com Cersei Lannister de Rochedo Casterly, Portanto, parece que a sua mãe ganhou essa justa.
    - Ela achou que sim - concordou o Príncipe Oberyn mas o seu pai não é homem para esquecer tais desfeitas. Ensinou um dia essa lição ao Senhor e à Senhora Tarbeck, e aos Reyne de Castamere. E, em Porto Real, ensinou-a à minha irmã. O elmo, Dagos, - Mandwoody entregou-o a ele; um elmo elevado e dourado com um disco de cobre montado na testa, o sol de Dorne. Tyrion viu que a viseira havia sido removida. - Elia e os filhos esperam justiça há muito tempo. - O Príncipe Oberyn calçou luvas flexíveis de couro vermelho e voltou a pegar na lança. - Mas hoje vão obtê-la.
    Para o combate fora escolhido o pátio exterior, Tyrion teve de saltar e correr para acompanhar as longas passadas do Príncipe Oberyn. A serpente está impaciente, pensou, Esperemos que ele também esteja venenoso, O dia estava cinzento e ventoso, O sol luta¬va para abrir caminho por entre as nuvens, mas Tyrion não seria mais capaz de indicar quem iria vencer essa luta do que aquela da qual a sua vida dependia.
    Pareciam um milhar, as pessoas que tinham vindo ver se ele iria sobreviver ou mor¬rer, Aglomeravam-se ao longo dos adarves do castelo e acotovelavam-se nos degraus de torres e fortalezas. Observavam a partir de portas de estábulos, de janelas e pontes, de varandas e telhados. E o pátio estava repleto, tanta gente que os homens de manto dou¬rado e os cavaleiros da Guarda Real tinham de empurrar todos para trás, a fim de abrir espaço suficiente para o combate.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:48 pm

    Alguns tinham trazido cadeiras para assistir com mais conforto, enquanto outros se empoleiravam em barris. Devíamos ter feito isso na Arena dos Dragões, pensou amargamente Tyrion. Podíamos ter cobrado uma moeda por cabeça e arranjaríamos o suficiente para pagar tanto a boda como o funeral de Joffrey. Alguns dos es¬pectadores até tinham crianças pequenas montadas sobre os ombros para verem melhor. Gritavam e apontavam ao ver Tyrion.
    A própria Cersei parecia quase uma criança ao lado de Sor Gregor. Em sua armadura, a Montanha parecia maior do que qualquer homem tinha direito a ser. Sob um longo so¬bretudo amarelo ostentando os três cães negros de Clegane, usava armadura pesada por cima de cota de malha, com o baço aço cinza amassado e riscado em batalha. Por baixo daquilo haveria couro fervido e uma camada almofadada. Um elmo de topo chato estava afivelado ao seu gorjal, com buracos para respirar em volta da boca e do nariz e uma es¬treita ranhura para ver. A figura no topo do elmo era um punho de pedra.
    Se Sor Gregor sofria com seus ferimentos, Tyrion não via sinal disso desde o outro lado do pátio, Ele, ali em pé, parece ter sido esculpido em pedra. A espada estava espetada no chão à sua frente, um metro e oitenta de metal marcado. As enormes mãos de Sor Gregor, revestidas por manoplas articuladas de aço, seguravam no guarda-mão de ambos os lados do cabo. Até a amante do Príncipe Oberyn empalideceu ao vê-lo.
    - Vai lutar com aquilo? - disse Ellaria Sand num tom segredado.
    - Vou matar aquilo - respondeu descuidadamente o seu amante,
    Tyrion tinha suas próprias dúvidas, agora que se encontravam à beira do combate. Quando olhou para o Príncipe Oberyn viu-se desejando ter Bronn para defendê-lo... ou melhor ainda, Jaime. A Víbora Vermelha tinha uma armadura leve; grevas, braçais, gorjal, espaldar e braguilha de aço. Fora isso, Oberyn vestia couro flexível e sedas esvoa- çantes. Sobre a cota de malha usava as suas escamas brilhantes de cobre, mas cota de malha e escamas, em conjunto, não lhe dariam um quarto da proteção da placa pesada de Gregor. Com a viseira removida, o elmo do príncipe não passava efetivamente de um meio-eímo, faltando-lhe até uma proteção para o nariz. Seu escudo redondo de aço era brilhantemente polido, e ostentava o sol e a lança em ouro vermelho, ouro amarelo, ouro branco e cobre.
    Dançar em volta dele até ficar tão cansado que mal consiga erguer o braço, e depois derrubá-lo de costas. A Víbora Vermelha parecia ter a mesma idéia de Bronn. Mas o mer¬cenário não tivera rodeios quanto ao risco dessa tática. Espero, com os sete infernos, que saiba o que está fazendo, serpente.
    Tinham erigido uma plataforma ao lado da Torre da Mão, a meio caminho entre os dois campeões. Era aí que se sentava Lorde Tywin com o irmão, Sor Kevan. O Rei Tom¬men não estava visível; pelo menos por isso Tyrion sentia-se grato.
    Lorde Tywin deu um breve relance ao seu filho anão, e então levantou a mão. Uma dúzia de trombeteiros soprou uma fanfarra para aquietar a multidão. O Alto Septão avançou com passinhos curtos e sua grande coroa de cristal e rezou para que o Pai no Céu os ajudasse naquele julgamento e para que o Guerreiro emprestasse a sua força ao braço do homem cuja causa era justa. Esse sou eu, quase gritou Tyrion, mas eles iriam apenas rir, e estava mortalmente farto de risos.
    Sor Osmund Kettleblack trouxe a Clegane o seu escudo, uma coisa enorme de pesa¬do carvalho reforçado com ferro negro. Enquanto a Montanha enfiava o braço esquerdo nas correias, Tyrion viu que outro símbolo havia sido pintado por cima dos cães de Cle¬gane. Naquela manhã, Sor Gregor usava a estrela de sete pontas que os ândalos tinham trazido para Westeros quando cruzaram o mar estreito e esmagaram os Primeiros Ho¬mens e os seus deuses. Muito pio da sua parte, Cersei, mas duvido que os deuses se deixem impressionar.
    Havia cinqüenta metros entre os dois. O Príncipe Oberyn avançou rapidamente, Sor Gregor de um modo mais agourento. 0 chão não treme quando ele caminha, disse Tyrion a si mesmo. Ííso é só o meu coração batendo. Quando os dois homens chegaram a uma distância de dez metros, a Víbora Vermelha parou e gritou:
    - Disseram-lhe quem eu sou?
    Sor Gregor soltou um grunhido através dos buracos para respirar.
    - Um morto qualquer. - E avançou, inexorável.
    O dornês deslizou para o lado.
    - Sou Oberyn Martell, um príncipe de Dorne - disse, enquanto a Montanha se vira¬va para mantê-lo no seu campo de visão. - A Princesa Elia era minha irmã.
    - Quem? - perguntou Gregor Clegane.
    A longa lança de Oberyn saltou numa estocada, mas Sor Gregor parou a ponta dela com o escudo, empurrou-a para o lado, e investiu contra o príncipe, com a grande es¬pada a relampejar. O dornês rodopiou para longe, intocado. A lança saltou em fren¬te. Clegane golpeou-a com a espada, Martell puxou-a, após o que voltou a atirá-la em frente. Metal guinchou contra metal quando a ponta da espada deslizou no peito da Montanha, cortando o sobretudo e deixando um longo arranhão brilhante no aço que se encontrava por baixo.
    - Elia Martell, Princesa de Dorne - sibilou a Víbora Vermelha. - Violou-a. Assassinou-a. Matou os filhos dela.
    Sor Gregor grunhiu. Avançou pesadamente para acertar a cabeça do dornês. O Prín¬cipe Oberyn evitou-o facilmente.
    - Violou-a. Assassinou-a. Matou os filhos dela.
    - Veio conversar ou lutar?
    - Vim ouvir a sua confissão, - A Víbora Vermelha lançou um rápido golpe contra a barriga da Montanha, sem qualquer efeito.
    Gregor tentou golpeá-lo e falhou, A longa lança dardejou por cima de sua espada. Qual língua de serpente, volteava para a frente e para trás, fintando embaixo e batendo em cima, em estocadas
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:49 pm

    dirigidas às virilhas, ao escudo, aos olhos. A Montanha dá um alvo grande, pelo menos, pensou Tyrion. O Príncipe Oberyn dificilmente erraria, embora nenhum de seus golpes tivesse conseguido penetrar a placa pesada de Sor Gregor. O dor¬nês não parava de rodear o adversário, de lançar estocadas e de voltar a saltar para trás, forçando o homem maior a virar-se e virar-se de novo. Clegane está perdendo-o de vista, O elmo da Montanha tinha uma viseira estreita, o que lhe limitava severamente a visão, Oberyn estava fazendo bom uso desse fato e do comprimento da lança e de sua rapidez.
    A luta prosseguiu naqueles moldes durante o que pareceu um longo período. Deslocaram-se de um lado para o outro pátio afora e rodaram e voltaram a rodar, des¬crevendo espirais, com Sor Gregor golpeando o ar enquanto a lança de Oberyn atingia os braços e as pernas e duas vezes as têmporas. O grande escudo de madeira de Gregor também recebeu a sua cota de golpes, até uma cabeça de cão espreitar de debaixo da es¬trela e em outros pontos ser o carvalho nu a surgir. Clegane soltava um grunhido de vez em quando, e uma vez Tyrion ouviu-o resmungar um xingamento, mas fora isso lutava num silêncio carrancudo.
    Mas Oberyn Martell não.
    - Violou-a - gritava, fintando. - Assassinou-a - dizia, esquivando-se de um golpe em arco da espada de Gregor. - Matou os filhos dela - berrava, atingindo a garganta do gigante com a ponta da lança, apenas para vê-la deslizar pelo espesso gorjal de aço com um guincho.
    - Oberyn está brincando com ele - disse Ellaria Sand.
    Isso é brincadeira de tolos, pensou Tyrion.
    - A Montanha é grande demais para ser brinquedo de quem quer que seja.
    Em torno do pátio, a multidão de espectadores aproximava-se lentamente dos dois combatentes, avançando centímetro a centímetro para ver melhor. A Guarda Real ten¬tava contê-los, empurrando com força os basbaques com seus grandes escudos brancos, mas havia centenas de basbaques e só seis dos homens da armadura branca.
    - Violou-a. - O Príncipe Oberyn parou um violento golpe com a ponta da lança. - Assassinou-a. - Atirou a ponta da lança contra os olhos de Clegane, tão depressa que o enorme homem vacilou para trás. - Matou os filhos dela. - A lança cintilou para o lado e para baixo, raspando na placa de peito da Montanha. - Violou-a. Assassinou-a. Matou os filhos dela. - A lança era sessenta centímetros mais longa do que a espada de Sor Gregor, mais do que o suficiente para mantê-lo a uma distância incômoda. A Montanha golpeava a haste sempre que Oberyn saltava sobre ele, tentando cortar a ponta da lança, mas era como se estivesse tentando cortar de um golpe as asas de uma mosca. - Violou- -a. Assassinou-a. Matou os filhos dela. - Gregor tentou investir, mas Oberyn esquivou- -se para o lado e rodeou-o pelas costas. - Violou-a. Assassinou-a. Matou os filhos dela.
    - Fique quieto. - Sor Gregor parecia estar se movendo um pouco mais lentamente, e a sua espada já não se erguia tanto como quando a luta tinha começado. - Fecha a merda da boca.
    - Violou-a - disse o príncipe, deslocando-se para a direita.
    - Basta! - Sor Gregor deu dois longos passos e fez cair a espada sobre a cabeça de Oberyn, mas o dornês recuou uma vez mais.
    - Assassinou-a - disse.
    - CALE-SE! - Gregor arremeteu com ímpeto, direto contra a ponta da lança, que atingiu com violência a parte direita de seu peito e depois deslizou para o lado com um hediondo guincho de aço.
    De repente a Montanha encontrava-se suficientemente perto para atacar, com a sua enorme espada relampejando numa confusão de aço. A multidão também gritava. Oberyn esquivou-se do primeiro golpe e largou a lança, inútil agora que Sor Gregor ti¬nha penetrado em seu raio de ação. O segundo golpe foi aparado pelo escudo do dornês. Metal colidiu com metal num estrondo ensurdecedor, pondo a Víbora Vermelha a cam¬balear para trás. Sor Gregor seguiu-o, berrando. Ele não usa palavras, limita-se a rugir como um animal, pensou Tyrion. A retirada de Oberyn transformou-se numa impetuosa fuga para trás, a meros centímetros da espada que lhe atacava o peito, os braços, a cabeça.
    O estábulo encontrava-se atrás dele. Espectadores gritaram e empurraram-se para sair do caminho. Um deles tropeçou e caiu contra as costas de Oberyn. Sor Gregor ata¬cou com toda a sua fúria selvagem. A Víbora Vermelha atirou-se para o lado, rolando. O infeliz cavalariço que estava atrás dele não foi assim tão rápido. No momento em que seu braço se erguia para proteger o rosto, a espada de Gregor cortou-o entre o cotovelo e o ombro.
    - Cale-SE! - berrou a Montanha em resposta ao grito do cavalariço, e dessa vez bran¬diu a lâmina de lado, fazendo voar a metade superior da cabeça do rapaz por sobre o pátio, numa chuva de sangue e miolos. Centenas de espectadores pareceram perder subi¬tamente todo o interesse na culpa ou inocência de Tyrion Lannister, julgando pelo modo como se atropelaram e empurraram uns aos outros para fugir do pátio.
    Mas a Víbora Vermelha de Dorne estava de novo em pé, com a sua longa lança na mão.
    - Elia - gritou para Sor Gregor. - Violou-a. Assassinou-a. Matou os filhos dela. E agora, diga o nome dela.
    A Montanha rodopiou. Elmo, escudo, espada, sobretudo, estava salpicado de sangue e entranhas da cabeça aos pés.
    - Você fala demais - resmungou. - Faz minha cabeça doer.
    - Vou ouvi-lo dizer isso. Ela era Elia de Dorne.
    A Montanha fungou de desprezo e atacou... e nesse momento o sol rompeu por entre as nuvens baixas que escondiam o céu desde a alvorada.
    O sol de Dorne, disse Tyrion a si mesmo, mas quem primeiro reagiu para colocar o sol nas costas foi Gregor Clegane. Este homem é obtuso e brutal, mas tem os instintos de um guerreiro.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:49 pm

    A Víbora Vermelha agachou-se, semicerrando os olhos, e voltou a fazer a lança saltar em frente. Sor Gregor tentou golpeá-la, mas a estocada havia sido apenas uma finta. De¬sequilibrado, deu um passo trôpego para a frente.
    O Príncipe Oberyn inclinou seu escudo amassado de metal. Um raio de luz do sol refletiu-se, cegante, em ouro e cobre polido, e penetrou na estreita fenda do elmo do adver¬sário. Clegane ergueu seu escudo para se proteger do brilho, A lança do Príncipe Oberyn dardejou como um relâmpago e descobriu a brecha na pesada placa de aço, a articulação por baixo do braço. A ponta mergulhou através de cota de malha e couro fervido, Gregor soltou um grunhido estrangulado quando o dornês torceu a lança e a libertou,
    - Elia, Diga o nome! Elia de Dorne! - descrevia um círculo, com a lança preparada para outra estocada. - Diga o nome!
    Tyrion tinha a sua prece privada. Caia e morra, eram as palavras que a compunham. Maldito seja, caia e morra! O sangue que pingava da axila da Montanha era agora o seu, e devia estar sangrando ainda mais dentro da armadura. Quando tentou dar um passo, um joelho cedeu, Tyrion pensou que ele ia cair.
    O Príncipe Oberyn tinha dado a volta por trás dele.
    - ELIA DE DORNE! - gritou.
    Sor Gregor começou a se virar, mas com demasiada lentidão e tarde demais. A ponta da lança penetrou daquela vez na parte de trás do joelho, através de camadas de cota de malha e couro entre as placas, penetrando na coxa e na barriga da perna, A Montanha cambaleou, oscilou e depois caiu de cara no chão. A enorme espada saltou de sua mão. Lenta e pesadamente, rolou sobre as costas.
    O dornês jogou fora o seu escudo arruinado, pegou na lança com ambas as mãos e afastou-se lentamente. Atrás dele, a Montanha soltou um gemido e ergueu-se sobre um cotovelo. Oberyn rodopiou com a rapidez de um gato e correu em direção ao adver¬sário caído.
    - EEEEELLLLLIIIIIAAAAA! - gritou, ao empurrar a lança com todo o peso de seu corpo. O crac da haste de freixo quebrando foi um som quase tão delicioso quanto o lamento de fúria de Cersei, e por um instante o Príncipe Oberyn teve asas. A serpente saltou com vara sobre a Montanha, Um metro e vinte de lança partida projetavam-se da barriga de Clegane quando o Príncipe Oberyn rolou, se levantou e sacudiu a poeira. Jo¬gou fora a lança estilhaçada e pegou a espada do adversário. - Se morrer antes de dizer o nome dela, sor, vou persegui-lo por todos os sete infernos - prometeu.
    Sor Gregor tentou se levantar. A lança quebrada atravessara-o por completo e o esta¬va prendendo ao chão. Fechou ambas as mãos em volta da haste, grunhindo, mas não foi capaz de puxá-la. Por baixo dele espalhava-se uma poça vermelha.
    - Estou me sentindo mais inocente a cada instante - disse Tyrion a Ellaria Sand, a seu lado.
    O Príncipe Oberyn aproximou-se do adversário.
    - Diga o nome! - pôs um pé no peito da Montanha e ergueu a espada com ambas as mãos. Tyrion nunca saberia se ele pretendia cortar a cabeça de Gregor ou enfiar a ponta através de sua viseira.
    A mão de Clegane saltou e agarrou o dornês atrás do joelho. A Víbora Vermelha fez a espada cair num golpe selvagem, mas estava desequilibrado, e o gume não fez mais do que deixar mais um amassado no braçal da Montanha. Então a espada foi esquecida quando a mão de Gregor se apertou e torceu, fazendo o dornês cair por cima dele. Luta¬ram no meio da poeira e do sangue, com a lança quebrada se mexendo de um lado para o outro. Tyrion viu com horror que a Montanha tinha envolvido o príncipe num enorme braço, apertando-o com força contra o peito, como se fosse um amante.
    - Elia de Dorne - todos ouviram Sor Gregor dizer, quando os dois ficaram suficien¬temente próximos para se beijar. Sua voz profunda retumbava dentro do elmo. - Matei a criazinha chorona dela. - Lançou a mão livre contra o rosto sem proteção de Oberyn, enfiando dedos de aço em seus olhos. - E então estuprei-a. - Clegane esmagou o punho na boca do dornês, transformando seus dentes em lascas. - E depois esmaguei a porra da cabeça dela. Assim. - Quando puxou para trás o enorme punho, o sangue em sua mano¬pla pareceu fumegar no ar frio da alvorada. Ouviu-se um crunch nauseante. Ellaria Sand uivou de terror e o café da manhã de Tyrion subiu borbulhando até sua boca. Deu por si de joelhos, vomitando bacon, salsicha e bolinhos de maçã, e aquela dose dupla de ovos estrelados feitos com cebolas e pimenta ardida de Dorne.
    Não chegou a ouvir o pai proferir as palavras que o condenavam. Talvez não houvesse necessidade de palavras. Pus a minha vida nas mãos da Víbora Vermelha, e ele deixou-a cair, Quando se lembrou, tarde demais, de que as serpentes não tinham mãos, Tyrion desatou a rir histericamente.
    Já tinha descido metade da escada em espiral quando percebeu que os homens de manto dourado não o estavam levando de volta à sua sala de torre,
    - Fui mandado para as celas negras - disse. Não obteve resposta. Para que gastar sali¬va com os mortos?
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:50 pm

    Daenerys 833




    D
    any quebrou o jejum à sombra do caquizeiro que crescia no jardim do terraço, ob¬servando os dragões se perseguirem uns aos outros em volta do cume da Grande Pi¬râmide onde outrora se erguera a enorme harpia de bronze. Meereen tinha uma vintena de pirâmides menores, mas nenhuma chegava sequer à metade da altura daquela. Dali conseguia ver toda a cidade: as estreitas vielas sinuosas e as largas ruas de tijolo, templos e celeiros, choupanas e palácios, bordéis e casas de banhos, jardins e fontes, os grandes círculos vermelhos das arenas de luta. E para lá das muralhas estendia-se o mar de peltre, o sinuoso Skahazadhan, as secas colinas marrons, pomares queimados e campos enegre¬cidos. Ali em cima, em seu jardim, Dany sentia-se às vezes como um deus, vivendo no topo da montanha mais alta do mundo.
    Será que todos os deuses se sentem assim tão sozinhos? Alguns deviam se sentir, certa¬mente, Missandei tinha lhe contado a história do Senhor da Harmonia, adorado pelo Pacífico Povo de Naath; era o único deus verdadeiro, segundo a sua pequena escriba, o deus que sempre existiu e sempre existiria, que fez a lua, as estrelas e a terra, e todas as criaturas que viviam sobre elas. Pobre Senhor da Harmonia. Dany apiedava-se dele. De¬via ser terrível estar só para todo o sempre, servido por hordas de mulheres-borboletas que se podia criar ou destruir com uma palavra, Westeros ao menos tinha sete deuses, embora Viserys lhe tivesse dito que alguns septões afirmavam que os sete eram apenas aspectos de um deus único, sete facetas de um único cristal. Isso era uma confusão. Os sacerdotes vermelhos acreditavam em dois deuses, segundo tinha ouvido dizer, mas os dois estavam eternamente em guerra. Dany gostava ainda menos daquilo. Não gostaria de estar eternamente em guerra.
    Missandei serviu-lhe ovos de pato e salsicha de cão e meia taça de vinho adoçado mis¬turado com o sumo de um limão, O mel atraía moscas, mas uma vela odorífera afastava- -as. Descobrira que as moscas não eram tão incômodas ali em cima como no resto da cidade, mais uma coisa que lhe agradava na pirâmide,
    - Tenho de me lembrar de fazer qualquer coisa a respeito das moscas - disse Dany. - Há muitas moscas em Naath, Missandei?
    - Em Naath há borboletas - respondeu a escriba no Idioma Comum. - Mais vinho?
    - Não, Tenho uma audiência em breve. - Dany tinha passado a gostar muito de Mis¬sandei. A pequena escriba com os grandes olhos dourados era possuidora de uma sabe¬doria bem para lá da idade. E também é corajosa. Teve de ser, para sobreviver à vida que
    teve. Um dia esperava ver essa lendária ilha de Naath. Missandei dizia que o Pacífico Povo fazia música em vez de guerra. Não matavam, nem sequer animais; comiam apenas frutas e nunca tocavam em carne. Os espíritos borboletas sagrados para o seu Senhor da Harmonia protegiam a ilha deles contra os que desejavam fazer-lhes mal. Muitos con¬quistadores tinham velejado para Naath a fim de molharem as espadas em sangue, mas só conseguiram adoecer e morrer. As borboletas não os ajudam quando os navios dos escra¬vos jazem incursões, porém. - Um dia levo-a para casa, Missandei - prometeu Dany. Se tivesse feito a mesma promessa a Jorah, teria me vendido mesmo assim? - Juro.
    - Esta está contente por ficar com a senhora, Vossa Graça. Naath estará lá sempre. A senhora é boa para est... para mim.
    - Tal como você para mim. - Dany deu a mão à garota. - Venha me ajudar a me vestir.
    Jhiqui ajudou Missandei a dar-lhe banho, enquanto Irri preparava suas roupas. Hoje usaria uma veste de samito púrpura e uma faixa prateada, com a coroa do dragão de três cabeças que a Irmandade Turmalina lhe dera em Qarth. Os chinelos também eram prateados, com saltos tão altos que ela tinha sempre algum receio de cair para a frente. Quando acabou de se vestir, Missandei trouxe um espelho de prata polida para Dany po¬der se ver. Dany fitou-se em silêncio. Será este o rosto de um conquistador? Pelo que podia ver, ainda parecia uma garotinha.
    Ninguém a chamava de Daenerys, a Conquistadora, mas talvez viessem a fazê-lo. Ae¬gon, o Conquistador, tinha vencido Westeros com três dragões, mas ela tomara Meereen com ratazanas de esgoto e um pinto de madeira, em menos de um dia. Pobre Groleo. Dany sabia que o homem ainda andava desgostoso por causa do navio. Se uma galé de guerra podia abalroar outro navio, por que não um portão? Tinha sido essa a sua idéia quando ordenou aos capitães para encalhar os navios na costa. Os mastros tinham se transformado em seus aríetes, e uma multidão de libertos desfizera os cascos para cons¬truir manteletes, tartarugas, catapultas e escadas. Os mercenários tinham batizado os aríetes com nomes obscenos, e foi o mastro principal do Meraxes - anteriormente cha¬mado Partida de Joso - que quebrou o portão oriental. Chamavam-no de Pica de Joso. A luta encarniçara-se, amarga e sangrenta, durante a maior parte de um dia e entrara noite adentro antes de a madeira começar a lascar e a figura de proa do Meraxes, uma cara de bobo risonha, conseguir trespassá-la.
    Dany quis ser ela mesma a liderar o ataque, mas todos os seus capitães, sem exceção, disseram que isso seria loucura, e seus capitães nunca concordavam em coisa alguma. Em vez de liderar, tinha permanecido na retaguarda, montada em sua prata, envergando com uma longa camisa de cota de malha. Mas ouviu a cidade cair de uma distância de meia légua, quando os gritos de desafio dos defensores se transformaram em gritos de medo. Nesse momento, os dragões tinham rugido como se fossem um só, enchendo a noite de chamas. Os escravos estão se rebelando, compreendeu de imediato. As minhas ratazanas de esgoto roeram seus grilhões.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:50 pm

    Depois de os últimos restos de resistência terem sido esmagados pelos Imaculados ede o saque terminar, Dany entrou em sua cidade. A pilha de mortos diante do portão principal era tão alta que seus libertos precisaram de quase uma hora para abrir caminho para a sua prata. A Pica de Joso e a grande tartaruga de madeira que a protegera, cober¬ta de peles de cavalo, estavam abandonadas lá dentro. Passou por edifícios incendiados e janelas quebradas, através de ruas de tijolo cujas sarjetas estavam entupidas com os mortos, rígidos e inchados. Escravos gritando vivas erguiam para si mãos manchadas de sangue e chamavam-na de "Mãe" enquanto passava.
    Na praça em frente à Grande Pirâmide, os meereeneses tinham se amontoado sem esperança. Os Grandes Mestres pareciam tudo menos grandes à luz da manhã. Despo¬jados das jóias e de seus tokars debruados, eram desprezíveis; uma manada de velhos com bolas murchas e pele manchada e de jovens com penteados ridículos. Suas mulheres eram ou moles e carnudas ou secas como paus velhos, com a maquiagem facial riscada por lágrimas,
    - Quero os seus líderes - disse-lhes Dany, - Entreguem-nos, e os demais serão pou¬pados.
    - Quantos? - perguntou uma velha, entre soluços. - Quantos quer para nos poupar?
    - Cento e sessenta e três - respondeu.
    Tinha ordenado que fossem pregados a postes de madeira em volta da praça, cada um apontando para o seguinte. A ira ardia feroz e quente dentro dela quando dera a or¬dem; fez com que se sentisse um dragão vingador. Mas, mais tarde, quando passou pelos moribundos nos postes, quando ouviu seus gemidos e sentiu o cheirou de entranhas e sangue...
    Dany pôs o espelho de lado, franzindo a testa. Foi justo. Foi mesmo. Fiz isso pelas crianças.
    A câmara de audiências ficava no piso imediatamente abaixo, uma sala cheia de ecos, de teto elevado e com paredes de mármore roxo. Era um lugar gelado, apesar de toda a sua grandiosidade. Havia ali um trono, uma coisa fantástica de madeira esculpida e dou¬rada, com a forma de uma harpia selvagem. Tinha lançado-lhe um longo olhar e ordena¬do que fosse transformado em lenha.
    - Não me sentarei no colo da harpia - disse-lhes. Em vez disso, sentava-se num sim¬ples banco de ébano. Servia, embora tivesse ouvido os meereeneses resmungarem que não era adequado para uma rainha.
    Os companheiros de sangue estavam à sua espera. Sinetas de prata tilintavam em suas tranças oleadas, e usavam o ouro e as jóias de homens mortos. Meereen era rica além do que era possível imaginar. Até os mercenários pareciam saciados, pelo menos por ora. Do outro lado da sala, Verme Cinzento usava o uniforme simples dos Imaculados, com o ca¬pacete de bronze provido de espigão debaixo de um braço. Naqueles, pelo menos, podia confiar, ou assim esperava... e no Ben Mulato Plumm também, no sólido Ben com seus cabelos cinza-esbranquiçados e rosto desgastado, tão querido por seus dragões. E Daa- rio, a seu lado, cintilando de ouro. Daario e Ben Plumm, Verme Cinzento, Irri, Jhiqui, Missandei... enquanto os olhava, Dany deu por si imaginando qual deles seria o próximo a traí-la.
    O dragão tem três cabeças. Há no mundo dois homens em que posso confiar, se conseguir encontrá-los. Então já não estarei só. Seremos três contra o mundo, como Aegon e as irmãs.
    - A noite foi tão calma como pareceu? - perguntou Dany.
    - Parece que sim, Vossa Graça - disse Ben Mulato Plumm.
    Ficou contente. Meereen havia sido saqueada de forma bárbara, como sempre acon¬tecia às cidades recém-caídas, mas Dany estava determinada a que isso terminasse, agora que a cidade lhe pertencia. Decretara que os assassinos seriam enforcados, que os sa¬queadores perderiam uma mão e os violadores, os seus membros viris. Oito homicidas pendiam das muralhas, e os Imaculados tinham enchido um cesto de trinta e cinco litros com mãos ensangüentadas e vermes moles e vermelhos, mas Meereen estava de novo calma. Por quanto tempo?
    Uma mosca zumbiu ao redor de sua cabeça. Dany enxotou-a, irritada, mas o inseto retornou quase imediatamente.
    - Há moscas demais nesta cidade.
    Ben Plumm soltou uma gargalhada.
    - Havia moscas em minha cerveja hoje de manhã. Engoli uma.
    - As moscas são a vingança dos mortos. - Daario sorriu e afagou o dente central de sua barba. - Os cadáveres geram vermes, e os vermes geram moscas.
    - Então vamos nos livrar dos cadáveres. Começando por aqueles que estão lá embai¬xo na praça. Verme Cinzento, tratará disso?
    - A rainha ordena, estes obedecem.
    - E melhor levar tanto sacas como pás, Verme - aconselhou Ben Mulato. - Aqueles já estão bem para lá de maduros. Andam caindo daqueles postes aos pedaços e estão cheios de...
    - Ele sabe. E eu também. - Dany recordou o horror que sentira quando vislumbrou a Praça da Punição em Astapor. Criei um horror igualmente grande, mas é certo que o merece¬ram. Justiça dura ainda assim é justiça.
    - Vossa Graça - disse Missandei os ghiscari enterram os seus mortos de honra em criptas por baixo de suas mansões. Se fervesse os ossos e os devolvesse às famílias, seria uma bondade.
    As viúvas vão me amaldiçoar mesmo assim,
    - Que assim se faça. - Dany fez um sinal para Daario. - Quantos pretendem hoje uma audiência?
    - Apresentaram-se dois para se aquecer sob o seu esplendor,
    Daario tomou para si um guarda-roupa inteiramente novo durante o saque de Me¬ereen, e para condizer com ele voltara a pintar a barba cortada em tridente e os cabelos encaracolados com um profundo e rico tom de púrpura. Aquela coloração fazia com que os olhos parecessem também quase púrpura, como se ele fosse algum valiriano perdido.
    - Chegaram durante a noite no Estrela índigo, uma galé mercante de Qarth.
    Um navio traficante de escravos, quer dizer. Dany franziu a testa.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:50 pm

    - Quem são?
    - O mestre do Estrela e um homem que diz falar por Astapor.
    - Receberei primeiro o enviado.
    Este revelou-se um homem pálido com cara de furão e pesados cordões de pérolas e fio de ouro pendurados do pescoço.
    - Vossa Reverência! - gritou. - Meu nome é Ghael. Trago saudações do Rei Cleon de Astapor, Cleon, o Grande, para a Mãe de Dragões.
    Dany ficou rígida.
    - Deixei um conselho governando Astapor. Um curandeiro, um erudito e um sacerdote.
    - Vossa Reverência, esses patifes manhosos traíram a sua confiança. Revelou-se que estavam maquinando a devolução do poder aos Grandes Mestres e das correntes ao povo. O Grande Cleon expôs os seus planos e cortou suas cabeças com um cutelo, e o grato povo de Astapor coroou-o por seu valor,
    - Nobre Ghael - disse Missandei, no dialeto de Astapor será este o mesmo Cleon que era propriedade de Grazdan mo Ullhor?
    A voz dela era franca, mas ficou claro que a pergunta deixou o enviado ansioso.
    - Ele mesmo - admitiu. - Um grande homem,
    Missandei inclinou-se para Dany.
    - Era carniceiro na cozinha de Grazdan - a garota segredou-lhe ao ouvido. - Dizia- -se que conseguia matar um porco mais depressa do que qualquer outro homem em Astapor.
    Dei a Astapor um rei carniceiro. Dany sentiu-se enojada, mas sabia que não podia dei¬xar que o enviado percebesse isso.
    - Rezarei para que o Rei Cleon governe bem e sabiamente, O que ele quer de mim?
    Ghael esfregou a boca.
    - Talvez devêssemos conversar com maior privacidade, Vossa Graça?
    - Não tenho segredos para os meus capitães e comandantes.
    - Como desejar. O Grande Cleon pede-me para declarar a sua devoção pela Mãe de Dragões. Seus inimigos são os inimigos dele, diz o Grande Cleon, e acima de todos encontram-se os Sábios Mestres de Yunkai. Propõe um pacto entre Astapor e Meereen, contra os yunkaitas.
    -Jurei que nenhum mal aconteceria a Yunkai se libertassem os escravos - disse Dany.
    - Esses cães yunkaitas não são dignos de confiança, Vossa Reverência. Neste exato momento conspiram contra a senhora. Foram feitos novos recrutas e podem ser vistas escavações fora das muralhas da cidade, estão sendo construídos navios de guerra, foram enviados emissários a Nova Ghis e Volantis, no ocidente, para forjar alianças e contratar mercenários. Até enviaram cavaleiros para Vaes Dothrak, a fim de fazer cair um khalasar sobre a senhora. Cleon, o Grande, pediu-me que lhe diga para não ter medo, Astapor tem memória. Astapor não a abandonará. A fim de demonstrar a sua lealdade, o Grande Cleon oferece-se para selar a aliança com um casamento.
    - Um casamento? Comigo?
    Ghael sorriu. Seus dentes eram marrons e podres.
    - O Grande Cleon dará muitos filhos fortes à senhora.
    Dany viu-se privada de palavras, mas a pequena Missandei veio em seu auxílio.
    - A primeira esposa dele deu-lhe filhos?
    O enviado olhou-a com descontentamento.
    - O Grande Cleon teve três filhas de sua primeira esposa. Duas de suas esposas mais recentes esperam bebê. Mas ele pretende pô-las de lado se a Mãe de Dragões consentir em desposá-lo.
    - Que nobre da parte dele - disse Dany. - Refletirei sobre tudo o que disse, senhor. - Ordenou que fossem arranjados aposentos para Ghael passar a noite, em algum lugar num dos andares inferiores da pirâmide.
    Todas as minhas vitórias se transformam em escórias em minhas mãos, pensou. Não im¬porta o que faça, tudo que produzo é morte e horror. Quando a notícia do que tinha acon¬tecido a Astapor chegasse às ruas, como certamente chegaria, dezenas de milhares de escravos meereeneses recém-libertados iriam sem dúvida decidir segui-la quando par¬tisse para oeste, temendo o que os esperaria se ficassem... mas podia bem acontecer que o que os esperaria na marcha fosse pior. Mesmo se esvaziasse todos os celeiros da cida¬de e entregasse Meereen à fome, como conseguiria alimentar tanta gente? O caminho à sua frente está repleto de dificuldades, derramamento de sangue e perigos. Sor Jorah prevenira-a disso. Prevenira-a de tantas coisas... ele... Não, não pensarei em Jorah Mor¬mont. Que espere um pouco mais.
    - Receberei agora esse capitão mercador - anunciou. O homem talvez tivesse melho¬res novas.
    Essa esperança revelou-se vã. O mestre do Estrela índigo era qarteno, de modo que chorou copiosamente quando foi interrogado a respeito de Astapor.
    - A cidade sangra. Mortos apodrecem nas ruas, por enterrar, cada pirâmide é um acampamento armado, e os mercados não têm nem comida nem escravos para vender, E as pobres crianças! Os matadores do Rei Cutelo capturaram todos os rapazes de nas¬cimento elevado de Astapor para fazer novos Imaculados, a fim de vendê-los, embora ainda faltem anos até estarem treinados.
    O que mais surpreendeu Dany foi até que ponto não se surpreendeu. Deu por si a recordar Eroeh, a garota lhazarena que um dia tentara proteger, e aquilo que tinha acon¬tecido a ela. Será igual em Meereen quando me puser em marcha, pensou. Os escravos das arenas de luta, criados e treinados para o massacre, já estavam se revelando indisciplina¬dos e conflituosos. Pareciam julgar que a cidade agora lhes pertencia, bem como todos os homens e as mulheres que nela viviam. Dois deles estavam entre os oito que tinha enforcado. Nada mais posso fazer, disse a si mesma.
    - O que quer de mim, capitão?
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:50 pm

    - Escravos - disse ele. - Meus porões estão estourando de marfim, âmbar cinza, pe¬les de zebralo e outros produtos de boa qualidade. Quero trocá-los aqui por escravos, para vender em Lys e em Volantis.
    - Não temos escravos para vender - disse Dany.
    - Minha rainha? - Daario deu um passo adiante. - A margem do rio está cheia de meereeneses, implorando licença para se venderem a este qarteno. São mais do que as moscas.
    Dany estava chocada.
    - Eles querem ser escravos?
    - Aqueles que vieram são bem-educados e de bom nascimento, querida rainha. Es¬cravos assim são estimados. Nas Cidades Livres serão tutores, escribas, escravos de cama, e até curandeiros e sacerdotes. Dormirão em camas macias, comerão alimentos ricos e viverão em mansões. Aqui perderam tudo e vivem no medo e na miséria.
    - Estou vendo. - Talvez não fosse assim tão chocante, se as histórias de Astapor fos¬sem verdadeiras. Dany refletiu por um momento. - Qualquer homem que deseje vender- -se a si próprio para a escravatura pode fazê-lo. Ou qualquer mulher. - Ergueu uma mão. - Mas não podem vender os filhos, e um homem não pode vender a esposa.
    - Em Astapor a cidade ficava com um décimo do preço, toda vez que um escravo tro¬cava de mãos - disse-lhe Missandei.
    - Nós faremos o mesmo - decidiu Dany. As guerras eram ganhas com espadas, mas também com ouro. - Um décimo. Em moedas de ouro ou prata, ou em marfim. Meereen não tem necessidade de açafrão, cravo ou peles de zebralo.
    - Será conforme ordena, gloriosa rainha - disse Daario. - Meus Corvos de Pedra coletarão o seu dízimo.
    Dany sabia que se os Corvos de Pedra supervisionassem a coleta, metade do ouro iria de algum modo se extraviar. Mas os Segundos Filhos eram igualmente maus, e os Imacu¬lados eram tão incorruptíveis como iletrados.
    - Terão de ser mantidos registros - disse, - Procurem entre os libertos homens que saibam ler, escrever e fazer somas.
    Com os seus assuntos tratados, o capitão do Estrela índigo fez uma reverência e retirou-se. Dany mexeu-se desconfortavelmente no banco de ébano. Receava aquilo que viria a seguir, mas sabia que já o adiara por tempo demais. Yunkai e Astapor, amea¬ças de guerra, propostas de casamento, a marcha para oeste pairando sobre tudo... Pre¬ciso dos meus cavaleiros. Preciso de suas espadas, e preciso de seus conselhos. Mas a idéia de voltar a ver Jorah Mormont deixou-a como se tivesse engolido uma colherada de moscas; zangada, agitada, agoniada, Quase as sentia zumbindo em sua barriga. Som do sangue do dragão. Tenho de ser forte. Tenho de ter fogo nos olhos quando os enfrentar, não lágrimas.
    - Diga a Belwas para trazer os meus cavaleiros - ordenou Dany, antes de ter tempo de mudar de idéia, - Os meus bons cavaleiros,
    Belwas, o Forte, bufava por causa da subida quando os conduziu pelas portas, com uma mão carnuda segurando um braço de cada homem, Sor Barristan caminhava com a cabeça bem erguida, mas Sor Jorah fitava o chão de mármore ao se aproximar. Um traz orgulho, o outro, culpa. O velho escanhoara a barba branca. Parecia dez anos mais novo sem ela. Mas seu urso meio calvo parecia mais velho do que antes. Pararam diante do banco. Belwas, o Forte, deu um passo para trás e cruzou os braços sobre o peito coberto de cicatrizes. Sor Jorah pigarreou.
    - Khaleesi...
    Sentira tanta saudade da voz dele, mas tinha de ser severa.
    - Cale-se. Eu lhe direi quando falar. - Ficou em pé. - Quando os enviei para os es¬gotos, parte de mim esperava não voltar a vê-los. Morrer afogado na merda de feitores parecia um fim adequado para mentirosos. Pensei que os deuses fossem cuidar de vocês, mas em vez disso regressaram para mim. Meus galantes cavaleiros de Westeros, um in¬formante e um vira-casaca. Meu irmão teria enforcado a ambos. - Pelo menos teria sido essa a atitude de Viserys. Não sabia o que Rhaegar faria. - Admito que me ajudaram a conquistar esta cidade...
    A boca de Sor Jorah comprimiu-se.
    - Fomos nós que conquistamos esta cidade, Nós, as ratazanas do esgoto.
    - Cale-se - repetiu ela,,, embora houvesse verdade no que ele tinha dito.
    Enquanto a Pica de Joso e os outros aríetes arremetiam contra os portões da cidade
    e os arqueiros disparavam nuvens de flechas incendiárias por sobre as muralhas, Dany enviara duzentos homens pelo rio na calada da escuridão, a fim de incendiar os cascos que havia no porto, Mas isso tinha servido apenas para esconder seu verdadeiro propó¬sito. Enquanto os navios em chamas atraíam o olhar dos defensores nas muralhas, um punhado de nadadores semiloucos dirigiu-se à desembocadura dos esgotos e soltou uma enferrujada grade de ferro. Sor Jorah, Sor Barristan, Belwas, o Forte, e vinte bravos tolos esgueiraram-se na água marrom e pelo túnel de tijolo acima, uma força mista de mer¬cenários, Imaculados e libertos. Dany tinha dito para escolherem apenas homens sem família... e de preferência sem olfato.
    Tinham tido tanta sorte quanto coragem. Passara-se uma volta de lua desde a última chuva forte, e a água nos esgotos só chegava às coxas. O oleado em que tinham enrolado os archotes manteve-os secos, e por isso tinham luz. Alguns dos libertos assustaram-se com as enormes ratazanas até que Belwas, o Forte, apanhou uma e a cortou em duas com uma dentada. Um homem foi morto por um grande lagarto pálido que se ergueu da água escura e o arrastou pela perna, mas da vez seguinte em que foram vistas ondulações, Sor Jorah matou a fera com sua lâmina. Seguiram algumas vezes caminhos errados, mas assim que encontraram a superfície, Belwas, o Forte, levou-os para a arena de luta mais próxima, onde surpreenderam alguns guardas
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:50 pm

    e arrebentaram as correntes dos escravos. Uma hora mais tarde, metade dos escravos lutadores de Meereen tinha se revoltado.
    - Você ajudou a conquistar esta cidade - repetiu com obstinação. - E serviu-me bem no passado. Sor Barristan salvou-me do Bastardo do Titã, e do Homem Pesaroso em Qarth, Sor Jorah salvou-me do envenenador em Vaes Dothrak e voltou a salvar-me dos companheiros de sangue de Drogo depois da morte do meu sol-e-estrelas. - Tantas pes¬soas queriam vê-la morta que às vezes perdia a conta. - E no entanto mentiu, enganou- -me, traiu-me. - Virou-se para Sor Barristan. - O senhor protegeu o meu pai por muitos anos, lutou ao lado de meu irmão no Tridente, mas abandonou Viserys no exílio e do¬brou o joelho ao Usurpador. Por quê? E fale a verdade.
    - Há verdades que são difíceis de ouvir. Robert era... um bom cavaleiro... cavalheires¬co, corajoso... poupou-me a vida, e a vida de muitos outros... o Príncipe Viserys era ape¬nas um garoto, iam se passar muitos anos até estar preparado para governar, e... perdoe- -me, minha rainha, mas pediu a verdade... até quando criança, Viserys parecia ser filho de seu pai de maneiras que Rhaegar nunca parecera.
    - Filho de meu pai? - Dany franziu a testa. - O que isso quer dizer?
    O velho cavaleiro não hesitou.
    - Seu pai é conhecido em Westeros como "o Rei Louco". Ninguém nunca lhe disse isso?
    - Viserys disse. - O Rei Louco. - O Usurpador chamava-lhe assim, o Usurpador e seus cães. - 0 Rei Louco, - Era mentira.
    - Para que pedir a verdade - disse Sor Barristan em voz baixa - se fecha os ouvidos a ela? - hesitou, mas depois prosseguiu. - Já tinha lhe dito que usei um nome falso para que os Lannister não soubessem que tinha me juntado à senhora. Isso foi menos de me¬tade do motivo, Vossa Graça. A verdade é que queria observá-la durante algum tempo antes de lhe jurar a minha espada, Para me certificar de que não era...
    - ... filha do meu pai? - se não era filha do pai, quem seria?
    - ... louca - concluiu ele. - Mas não vejo na senhora a mácula.
    - A mácula? - irritou-se Dany.
    - Não sou um meistre para lhe citar história, Vossa Graça, Minha vida foram as es¬padas, não os livros. Mas qualquer criança sabe que os Targaryen sempre dançaram de¬masiado perto da loucura. Seu pai não foi o primeiro. O Rei Jaehaerys disse-me um dia que a loucura e a grandeza eram dois lados da mesma moeda, "Sempre que um novo Tar¬garyen nasce" disse ele, "os deuses atiram uma moeda ao ar e o mundo segura a respiração para ver de que lado cairá".
    Jaehaerys. Este velho conheceu o meu avô. A idéia obrigou-a a refletir. A maior parte da¬quilo que sabia de Westeros tinha vindo do irmão, e o resto de Sor Jorah. Sor Barristan devia ter esquecido mais do que os outros dois algum dia souberam. Este homem pode falar-me daquilo que levou até mim.
    - Então sou uma moeda nas mãos de um deus qualquer, é isso o que está dizendo, sor?
    - Não - respondeu Sor Barristan. - E a legítima herdeira de Westeros. Até o fim dos meus dias, permanecerei seu leal cavaleiro, se me achar digno de voltar a pegar numa espada. Se não, contento-me em servir Belwas, o Forte, como seu escudeiro.
    - E se eu decidir que é digno apenas de ser o meu bobo? - perguntou Dany num tom de escárnio. - Ou talvez o meu cozinheiro?
    - Ficaria honrado, Vossa Graça - disse Selmy com calma dignidade. - Sou capaz de assar maçãs e cozinhar carne tão bem quanto qualquer homem, e já assei muitos patos em fogueiras de acampamentos. Espero que goste deles gordurosos, com a pele tostada e os ossos cheios de sangue.
    Aquilo fez Dany sorrir.
    - Teria de estar louca para comer comida como essa. Ben Plumm, venha entregar a Sor Barristan a sua espada.
    Mas o Barba-Branca recusou-se a aceitá-la.
    - Atirei a minha espada aos pés de Joffrey e desde então não toquei em nenhuma ou¬tra, Só das mãos de minha rainha voltarei a aceitar uma espada.
    - Como quiser. - Dany tirou a espada do Ben Mulato e ofereceu-a com o cabo para a frente. O velho pegou-a com reverência. - Agora ajoelhe-se - disse-lhe ela - ejuramente- -a ao meu serviço.
    Ele ajoelhou-se e pousou a lâmina diante de Dany enquanto proferia as palavras. Ela quase não as ouviu. Este foi o mais fácil, pensou. O outro será pior. Quando Sor Barristan terminou, virou-se para Jorah Mormont.
    - E agora você, sor. Diga-me a verdade.
    O pescoço do grande homem estava vermelho; se de ira ou de vergonha, Dany não
    sabia.
    - Tentei dizer-lhe a verdade meia centena de vezes. Disse-lhe que Arstan era mais do que parecia ser. Preveni a senhora de que Xaro e Pyat Pree não eram de confiança. Preveni-a...
    - Preveniu-me contra todos, menos contra você. - A insolência dele enfureceu-a. De¬via ser mais humilde. Devia suplicar o meu perdão, - "Não confie em ninguém, a não ser em Jorah Mormont" disse.., e durante todo esse tempo era uma criatura da Aranha!
    - Não sou criatura de ninguém. Sim, recebi o ouro do eunuco. Soube de algumas coi¬sas sem importância e escrevi algumas cartas, mas foi tudo.,,
    - Tudo? Espiou-me e vendeu-me aos meus inimigos!
    - Durante algum tempo. - Ele disse de má vontade, - Parei,
    - Quando? Quando foi que parou?
    - Enviei um relatório de Qarth, mas,,.
    - De Qarth? - Dany esperara que tivesse parado muito antes. - O que foi que escre¬veu de Qarth? Que era agora um de meus homens, que não queria mais fazer parte das tramóias deles?
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:51 pm

    - Sor Jorah não enfrentava o olhar dela, - Quando Khal Drogo morreu, pediu-me para ir consigo para Yi Ti e para o Mar de Jade, Esse desejo era seu ou de Robert?
    - Isso era para protegê-la - insistiu ele. - Para mantê-la longe deles. Eu sabia que cobras eles eram...
    - Cobras? E o que é você, sor? - ocorreu-lhe algo indizível. - Contou-lhes que eu esperava o filho de Drogo...
    - Kbaleesi...
    - Que nem pense em negá-lo, sor - disse em tom penetrante Sor Barristan. - Eu estava presente quando o eunuco contou isso ao conselho, e Robert decretou que Sua Graça e o seu filho tinham de morrer. Você foi a fonte, sor. Até se falou que poderia rea¬lizar o ato em troca de perdão.
    - Mentira, - O rosto de Sor Jorah tornou-se sombrio, - Eu nunca... Daenerys, fui eu quem impediu que bebesse o vinho.
    - Sim. E como foi que soube que o vinho estava envenenado?
    - Eu... eu apenas suspeitava... a caravana tinha trazido uma carta de Varys, prevenindo- -me de que haveria atentados. Ele a queria vigiada, é certo, mas não machucada. - Ajoelhou-se. - Se não lhes tivesse dito nada, alguém o teria feito. Saèe disso.
    - O que eu sei é que me traiu. - Tocou a barriga, onde o filho Rhaego perecera, - O que sei é que um envenenador tentou matar o meu filho graças a você. E isso o que eu sei.
    - Não.., não, - Ele sacudiu a cabeça. - Eu nunca quis... perdoe-me. Tem de me per¬doar.
    - Tenho? - era tarde demais. Ele devia ter começado por suplicar perdão. Não podia perdoá-lo como tinha pretendido. Ela tinha arrastado o vendedor de vinhos preso ao ca¬valo até nada restar dele, Não mereceria o mesmo o homem que o trouxera? Este é Jorah, o meu urso feroz, o braço direito que nunca me falhou. Estaria morta sem ele, mas... - Não posso perdoá-lo - disse. - Não posso,
    - Perdoou o velho...
    - Ele mentiu para mim a respeito do nome. Você vendeu os meus segredos aos ho¬mens que mataram meu pai e roubaram o trono de meu irmão.
    - Protegi-a. Lutei por você. Matei por você.
    Beijou-me, pensou ela, traiu-me.
    - Entrei nos esgotos como se fosse uma ratazana. Por você.
    Poderia ter sido uma bondade se lá tivesse morrido. Dany nada disse. Nada havia a dizer.
    - Daenerys - disse ele eu amei-a.
    E aí estava. Três traições conhecerá. Uma vez por sangue, uma vez por ouro e uma vez por amor.
    - Os deuses não fazem nada sem um objetivo, segundo dizem. Não morreu em bata¬lha , portanto isso deve querer dizer que ainda tem uma utilidade qualquer para eles. Mas para mim, não. Não o quero perto de mim. Está banido, sor. Volte para junto dos seus chefes em Porto Real e receba o seu perdão, se puder. Ou vá para Astapor. O rei carnicei¬ro irá sem dúvida precisar de cavaleiros,
    - Não. - Ele estendeu a mão para ela. - Daenerys, por favor, escute-me..,
    Ela afastou a mão dele com um tapa.
    - Nunca tenha a ousadia de voltar a tocar em mim ou proferir o meu nome. Tem até a alvorada para juntar as suas coisas e abandonar esta cidade. Se for encontrado em Meereen após o raiar do dia, ordenarei a Belwas, o Forte, que arranque sua cabeça. E farei isso. Acredite no que lhe digo. - Virou as costas para ele, fazendo rodopiar as saias.
    Não suporto ver o seu rosto. - Tirem este mentiroso da minha vista - ordenou. Não posso chorar, Não posso. Se chorar, vou perdoá-lo. Belwas, o Forte, pegou no braço de Sor Jorah e arrastou-o para fora da sala. Quando Dany deu um relance para trás, o cavaleiro cami¬nhava como se estivesse bêbado, aos tropeções e lentamente. Afastou o olhar até ouvir o abrir e fechar das portas, Então afundou-se novamente no banco de ébano, Então ele partiu. O meu pai e a minha mãe, os meus irmãos, Sor WiUem Darry, Drogo, que era o meu sol-e-estrelas, o filho dele que morreu dentro de mim e agora Sor Jorah...
    - A rainha tem bom coração - ronronou Daario através de sua barba de um roxo pro¬fundo -, mas aquele homem é mais perigoso do que todos os Oznaks e Meros combina¬dos num só. - As fortes mãos do mercenário acariciaram o cabo de suas armas idênticas, aquelas sensuais mulheres douradas. - Nem precisa dizer uma palavra, meu esplendor. Faça apenas o menor dos acenos, e o seu Daario trará à senhora a feia cabeça de Jorah.
    - Deixe-o em paz. Os pratos da balança agora estão equilibrados. Deixe-o ir para casa. - Dany imaginou Jorah deslocando-se por entre velhos carvalhos nodosos e gran¬des pinheiros, passando por espinheiros em flor, pedras cinzentas barbadas de musgo e pequenos arroios correndo, gelados, por vertentes íngremes. Viu-o entrando num salão feito de enormes troncos de árvores, onde cães dormiam junto à lareira e o cheiro da carne e do hidromel pairava, pesado, no ar cheio de fumaça. - Por enquanto terminamos
    - disse aos seus capitães.
    Foi com dificuldade que não subiu correndo as amplas escadas de mármore. Irri ajudou-a a despir o traje para audiências e a colocar vestes mais confortáveis; calções lar¬gos de lã, uma túnica solta de feltro, um colete pintado dothraki.
    - Está tremendo, khaleesi - disse a garota ao ajoelhar-se para amarrar as sandálias de Dany.
    - Tenho frio - mentiu Dany. - Traga-me o livro que eu estava lendo ontem à noite.
    - Desejava perder-se nas palavras, em outros tempos e outros lugares. O grosso volume encadernado em couro estava cheio de canções e histórias dos Sete Reinos. Histórias infantis, a bem da verdade; simples e fantasiosas demais para serem história verdadeira. Todos os heróis eram altos e bonitos, e podia-se identificar os traidores por seus olhos matreiros. Mas adorava-as
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:51 pm

    mesmo assim. Na noite passada estivera lendo a história das três princesas na torre vermelha, trancadas pelo rei pelo crime de serem belas.
    Quando a aia trouxe o livro, Dany não teve dificuldade em encontrar a página em que tinha parado, mas não valia a pena. Deu por si lendo a mesma passagem meia dúzia de vezes. Sor Jorah deu-me este livro como presente de casamento, no dia em que desposei Khal Drogo. Mas Daario tem razão, não o devia ter banido. Devia tê-lo conservado ao meu lado, ou matado. Representava o papel de rainha, mas às vezes sentia-se ainda como uma ga- rotinha assustada. Viserys andava sempre dizendo como eu era tola. Seria realmente louco? Fechou o livro. Ainda podia chamar Sor Jorah, se quisesse. Ou mandar Daario matá-lo.
    Dany fugiu da decisão para o terraço. Foi dar com Rhaegal adormecido junto à pisci¬na, um novelo verde e brônzeo tostando ao sol. Drogon estava empoleirado no topo da pirâmide, no local onde a enorme harpia de bronze tinha estado antes de ela ordenar que fosse derrubada. Abriu as asas e rugiu quando a viu. Não se via sinal de Viserion, mas quando se dirigiu ao parapeito e perscrutou o horizonte, viu asas pálidas a distância, pai¬rando sobre o rio. Está caçando. Tornam-se mais ousados a cada dia que passa. Mas ainda ficava ansiosa quando voavam até muito longe. Um dia, um deles pode não voltar, pensou.
    - Vossa Graça?
    Virou-se para deparar com Sor Barristan atrás de si.
    - O que mais quer de mim, sor? Poupei-o, aceitei-o ao meu serviço, dê-me agora alguma paz.
    - Perdoe-me, Vossa Graça. E que... agora que sabe quem eu sou... - O velho hesitou. - Um cavaleiro da Guarda Real está na presença do rei dia e noite. Por esse motivo, nos¬sos votos exigem que protejamos seus segredos tal como protegeríamos sua vida. Mas os segredos de seu pai são agora por direito seus, bem como seu trono, e... pensei que talvez tivesse questões a me fazer.
    Questões? Tinha uma centena de questões, um milhar, dez milhares. Por que não con¬seguia se lembrar de nenhuma?
    - Meu pai era realmente louco? - perguntou antes de conseguir evitar. Por que é que eu perguntei isso? - Viserys dizia que essa conversa de loucura era uma manobra do Usurpador...
    - Viserys era uma criança, e a rainha protegeu-o o máximo que pôde. Agora creio que o seu pai sempre teve em si um pouco de loucura. Mas era também encantador e gene¬roso, de modo que suas pequenas falhas eram esquecidas. Seu reinado começou tão pro¬missor... mas à medida que os anos iam passando, as falhas tornaram-se mais freqüentes, até que...
    Dany fê-lo parar.
    - Será que eu quero ouvir isso agora?
    Sor Barristan refletiu por um momento.
    - Talvez não. Agora não.
    - Agora não - concordou. - Um dia. Um dia deve me contar tudo. As coisas boas e ruins. Há algo de bom a ser contado a respeito de meu pai, certamente?
    - Há, Vossa Graça. A respeito dele, e a respeito dos que vieram antes dele. Seu avô Ja- ehaerys e o irmão, o pai deles, Aegon, a sua mãe... e Rhaegar. Acima de tudo a respeito dele.
    - Gostaria de ter podido conhecê-lo. - Sua voz estava melancólica.
    - Gostaria que ele pudesse tê-la conhecido - disse o velho cavaleiro. - Quando esti¬ver pronta, contarei tudo.
    Dany deu um beijo no rosto de Sor Barristan e mandou-o embora.
    Naquela noite, as aias trouxeram-lhe carneiro, com uma salada de passas e cenouras embebidas em vinho e um pão quente e farelento que pingava de mel. Não conseguiu comer nem uma migalha. Terá Rhaegar alguma vez se sentido tão exausto?, perguntou a si mesma. Ou Aegon, após a sua conquista?
    Mais tarde, quando chegou o momento de dormir, Dany levou Irri consigo para a cama, pela primeira vez desde o navio. Mas mesmo enquanto estremecia de prazer e en¬redava os dedos nos espessos cabelos negros da aia, fazia de conta que era Drogo que tinha nos braços... porém, de algum modo, seu rosto não parava de se transformar no de Daario. Se desejar Daario, só tenho de dizer. Ficou deitada com as pernas de Irri entrelaça¬das nas suas. Os olhos dele pareciam quase púrpura, hoje...
    Os sonhos de Dany foram sombrios naquela noite, e ela acordou três vezes, por conta de pesadelos ainda meio frescos na memória. Na terceira vez estava muito inquieta para voltar a dormir. O luar se infiltrava pelas janelas oblíquas, cobrindo o piso de mármore de prateado. Uma brisa fresca soprava pelas portas abertas do terraço. Irri dormia sonoramen¬te a seu lado, com os lábios levemente entreabertos, um mamilo surgindo por sobre as sedas de dormir. Por um momento, Dany sentiu-se tentada, mas era Drogo que queria, ou talvez Daario. Não Irri. A aia era doce e habilidosa, mas seus beijos tinham gosto de dever.
    Levantou-se, deixando Irri adormecida ao luar. Jhiqui e Missandei estavam dormindo em suas camas. Dany enfiou-se numa túnica e atravessou descalça o chão de mármore, dirigindo-se ao terraço. O ar estava gelado, mas gostou da sensação da relva entre os dedos dos pés e do som das folhas sussurrando umas para as outras. Ondulações provo¬cadas pelo vento perseguiam-se pela superfície da pequena piscina para banhos e faziam o reflexo da lua dançar e tremeluzir.
    Encostou-se a um parapeito baixo de tijolo a fim de olhar para baixo, para a cidade. Meereen também dormia. Perdida em sonhos sobre dias melhores, talvez, A noite cobria as ruas como uma manta negra, escondendo os cadáveres e as ratazanas cinzentas que saíam dos esgotos para se banquetearem com eles, os enxames de moscas que picavam. Tochas distantes cintilavam, vermelhas e amarelas, no local onde as sentinelas faziam suas rondas, e aqui e ali viu o tênue clarão de lanternas oscilando ao longo de uma víela. Talvez uma delas fosse Sor Jorah, levando lentamente o cavalo pela arreata na direção do portão. Adeus, velho urso. Adeus, traidor.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:51 pm

    Ela era Daenerys Filha da Tormenta, a Não Queimada, khaleesi e rainha, Mãe de Dragões, matadora de feiticeiros, quebradora de correntes, e não havia ninguém neste mundo em quem pudesse confiar.
    - Vossa Graça? - Missandei estava a seu lado, enrolada num roupão, com sandálias de lã nos pés. - Acordei e vi que tinha saído. Dormiu bem? Para onde está olhando?
    - Para a minha cidade - disse Dany. - Estava à procura de uma casa com uma porta vermelha, mas à noite todas as portas são negras.
    - Uma porta vermelha? - Missandei estava confusa. - Que casa é essa?
    - Não é casa nenhuma. Não importa. - Dany pegou na mão da garota mais nova. - Nunca minta para mim, Missandei. Nunca me traia.
    - Nunca o farei - prometeu Missandei. - Veja, a alvorada chega.
    O céu tinha se tornado azul-cobalto do horizonte ao zênite, e por trás da linha de colinas baixas, a leste, via-se um clarão, de ouro pálido e cor de ostra. Dany ficou ven¬do o sol subir ao céu, de mãos dadas com Missandei. Todos os tijolos cinza se torna¬ram vermelhos, amarelos, azuis, verdes e laranja. As areias escarlate das arenas de luta transformaram-se em chagas sangrando perante seus olhos. Em outro local, a cúpula dourada do Templo das Graças refulgia brilhantemente, e estrelas de bronze tremelu- ziam ao longo das muralhas nos locais onde a luz do sol nascente tocava os espigões dos capacetes dos Imaculados. No terraço, um punhado de moscas agitou-se indolentemen- te. Uma ave pôs-se a gorjear no caquizeiro, logo seguida por mais duas. Dany inclinou a cabeça para escutar sua canção, mas não demorou muito até que os ruídos da cidade que acordava a submergissem.
    Os ruídos da minha cidade.
    Naquela manhã convocou seus capitães e comandantes para o jardim, em vez de descer à sala de audiências.
    - Aegon, o Conquistador, trouxe fogo e sangue a Westeros, mas depois deu-lhe paz, prosperidade e justiça. Mas tudo que eu trouxe à Baía dos Escravos foi morte e ruína. Fui mais khal do que rainha, esmagando e saqueando, e depois seguindo viagem.
    - Não há nada por que valha a pena ficar - disse Ben Mulato Plumm.
    - Vossa Graça, os senhores de escravos fizeram a perdição cair sobre si mesmos - dis¬se Daario Naharis.
    - Trouxe também a liberdade - fez notar Missandei,
    - Liberdade para passar fome? - perguntou Dany em tom cortante. - Liberdade para morrer? Serei eu um dragão ou uma harpia? - Serei louca? Terei a mácula?
    - Um dragão - disse Sor Barristan num tom que não admitia dúvida. - Meereen não é Westeros, Vossa Graça.
    - Mas como serei eu capaz de governar sete reinos, se não conseguir governar uma única cidade? - ele não tinha resposta para aquela pergunta. Dany deu as costas a eles para voltar a olhar a cidade. - Meus filhos precisam de tempo para curar as feridas e aprender. Meus dragões precisam de tempo para crescer e testar as suas asas. E eu pre¬ciso das mesmas coisas. Não permitirei que esta cidade siga o caminho de Astapor. Não permitirei que a harpia de Yunkai volte a acorrentar aqueles que eu libertei. - Virou-se novamente para olhar o rosto deles. - Não me porei em marcha.
    - Então o que fará, khaleesi? - perguntou Rakharo.
    - Ficarei - disse ela. - Governarei, E serei uma rainha.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:52 pm

    Jaime 848





    O
    rei estava sentado à cabeceira da mesa, com uma pilha de alrnofadas debaixo do tra¬seiro, assinando cada documento que lhe era apresentado.
    - Só mais alguns, Vossa Graça - garantiu-lhe Sor Kevan Lannister, - Este é um de¬creto de confisco contra Lorde Edmure Tully, despojando-o de Correrrio e de todas as suas terras e rendimentos, por rebelião contra o seu legítimo rei. Este é um decreto seme¬lhante, contra o tio, Sor Brynden Tully, o Peixe Negro. - Tommen assinou-os um após o outro, mergulhando cuidadosamente a pena na tinta e escrevendo o seu nome numa letra grande e infantil.
    Jaime observava do fundo da mesa, pensando em todos aqueles senhores que aspira¬vam a um lugar no pequeno conselho do rei. Podem ficar com a porcaria do meu. Se aquilo era o poder, por que teria sabor de tédio? Não se sentia particularmente poderoso vendo Tommen mergulhar de novo a pena no tinteiro. Sentia-se entediado.
    E dolorido. Cada músculo de seu corpo doía, e as costelas e os ombros estavam cheios de hematomas, das pancadas que tinham levado, cortesia de Sor Addam Marbrand. Es¬tremecia só de pensar nisso. Só podia ter esperança de que o homem mantivesse a boca fechada. Jaime conhecia Marbrand desde que este era rapaz, quando serviu como pajem em Rochedo Casterly; confiava mais nele do que em qualquer outro. O suficiente para lhe pedir para pegar em escudos e espadas de torneio. Queria saber se seria capaz de lu¬tar com a mão esquerda,
    E agora sei. O conhecimento era mais doloroso do que a surra que Sor Addam lhe dera, e a surra fora tão bem dada que quase não tinha conseguido se vestir naquela manhã, Se tivessem lutado a sério, Jaime teria morrido duas dúzias de mortes. Tro¬car de mão parecia tão simples. Não era. Todos os seus instintos estavam errados. Tinha de pensar sobre tudo, quando antes bastava se mover. E enquanto estava pen¬sando, Marbrand batia nele. A mão esquerda nem sequer parecia capaz de segurar uma espada longa da maneira certa; Sor Addam desarmara-o três vezes, fazendo sua arma rodopiar pelo ar,
    - Este concede as ditas terras, rendimentos e castelo a Sor Emmon Frey e à senhora sua esposa, a Senhora Genna. - Sor Kevan apresentou ao rei outro maço de pergami- nhos, Tommen mergulhou a pena no tinteiro e assinou. - Isto é um decreto de legiti¬mação para um filho ilegítimo de Lorde Roose Bolton, do Forte do Pavor. E este nomeia Lorde Bolton como o seu Protetor do Norte. - Tommen punha tinta na pena e assinava,
    punha tinta na pena e assinava. - Este atribui a Sor Rolph Spicer direitos sobre o castelo de Castamere e eleva-o à categoria de lorde. - Tommen rabiscou seu nome.
    Devia ter procurado Sor Ilyn Payne, refletiu Jaime. O Magistrado do Rei não era um amigo como Marbrand, e teria sido bem capaz de espancá-lo até tirar sangue... mas sem língua, não era provável que se vangloriasse disso depois. Não seria preciso mais do que um comentário casual de Sor Addam enquanto bebia, e o mundo inteiro logo saberia como ele se tornara inútil. Senhor Comandante da Guarda Real. Isso era uma piada cruel... embora não tanto quanto o presente que o pai tinha lhe enviado.
    - Este é o seu real perdão para Lorde Gawen Westerling, a senhora sua esposa e a filha Jeyne, aceitando-os de volta à paz do rei - disse Sor Kevan. - Isto é um perdão para Lorde Jonos Bracken de Barreira de Pedra. Este é para Lorde Vance. Este é para Lorde Goodbrook, Este para Lorde Mooton, de Lagoa da Donzela,
    Jaime pôs-se em pé.
    - Parece ter esses assuntos bem controlados, tio. Deixarei Sua Graça com o senhor.
    - Como quiser. - Sor Kevan também se levantou. - Jaime, devia ir encontrar o seu pai. Essa discórdia entre vocês..,
    - ... é obra dele, E não irá remediá-la enviando-me presentes debochados. Diga-lhe isso, se conseguir descolá-lo dos Tyrell durante tempo suficiente.
    O tio fez uma expressão angustiada.
    - O presente foi sincero. Achamos que poderia encorajá-lo...
    - ... a fazer crescer uma mão nova? - Jaime virou-se para Tommen. Embora tivesse os caracóis dourados e os olhos verdes de Joffrey, o novo rei pouco mais tinha em comum com o seu falecido irmão. Tinha tendência a engordar, seu rosto era rosado e redondo, e até gostava de ler. Ainda não tem nove anos, este meu filho. O garoto não é o homem. Passa¬riam sete anos até que Tommen governasse de seu pleno direito. Até lá, o reino perma¬neceria firmemente nas mãos do senhor seu avô. - Senhor - perguntou -, tenho a sua autorização para sair?
    - Como quiser, sor tio. - Tommen voltou a olhar para Sor Kevan. - Posso selá-los agora, tio-avô? - pressionar o selo real contra a cera quente era a parte de ser rei que pre¬feria até agora.
    Jaime saiu a passos largos da sala do conselho. Do lado de fora, à porta, foi encontrar Sor Meryn Trant, rígido e de guarda, em sua armadura de escamas brancas e manto alvo como a neve. Se este aí ficar sabendo como eu sou fraco, ou o Kettleblack ou o Blount ouvirem alguma coisa sobre isso...
    - Fique aqui até Sua Graça acabar - disse - e depois escolte-o de volta a Maegor.
    Trant inclinou a cabeça.
    - As ordens, senhor.
    Naquela manhã, o pátio exterior estava cheio de gente e ruídos. Jaime dirigiu-se aos estábulos, onde um grande grupo de homens selava os cavalos.
    - Pernas-de-Aço! - chamou. - Vai embora?
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:52 pm

    - Assim que a senhora estiver montada - disse o Pernas-de-Aço Walton. - O senhor de Bolton espera-nos. Aí está ela.
    Um palafreneiro conduzia uma bela égua cinza através da porta do estábulo. No dorso do animal vinha montada uma garota magricela de olhos encovados, envolta num manto pesado. Era cinza, tal como o vestido que usava por baixo, e debruado de cetim branco. O broche que o prendia ao peito era trabalhado na forma de uma cabeça de lobo com olhos fendidos de opala. Os longos cabelos castanhos da garota eram violentamente soprados pelo vento, Achou que ela tinha um rosto bonito, mas os olhos eram tristes e cautelosos.
    Quando o viu, inclinou a cabeça.
    - Sor Jaime - disse, numa voz fina e ansiosa. - Foi gentil em vir se despedir de mim,
    Jaime estudou-a de perto.
    - Ah, então me conhece?
    Ela mordeu o lábio,
    - Talvez não se recorde, senhor, pois eu era pequena naquela altura... mas tive a honra de conhecê-lo em Winterfell quando o Rei Robert veio visitar meu pai, Lorde Eddard. - Baixou seus grandes olhos castanhos e murmurou: - Sou Arya Stark,
    Jaime nunca tinha prestado muita atenção em Arya Stark, mas parecia-lhe que aquela garota era mais velha,
    - Segundo ouvi dizer, você irá se casar.
    - Deverei me casar com o filho de Lorde Bolton, Ramsay, Ele era um Snow, mas Sua Graça fez dele um Bolton. Dizem que é muito corajoso. Estou muito feliz.
    Então por que é que parece tão assustada?
    - Desejo-lhe felicidades, senhora. - Jaime virou-se de volta para Pernas-de-Aço. - Tem o dinheiro que lhe foi prometido?
    - Sim, e distribuímo-lo. Tem os meus agradecimentos. - O nortenho sorriu, - Um Lannister sempre paga as suas dívidas.
    - Sempre - disse Jaime, lançando um último relance à menina. Perguntou a si mes¬mo se haveria muitas semelhanças, Não que isso importasse, A verdadeira Arya Stark estava, com toda a probabilidade, enterrada em alguma sepultura anônima na Baixada das Pulgas, Com os irmãos mortos, bem como ambos os pais, quem se atreveria a cha¬mar aquela garota de fraude? - Boa viagem - disse a Pernas-de-Aço, Nage ergueu a sua bandeira de paz, e os nortenhos formaram uma coluna tão cheia de buracos quanto seus mantos de peles e trotaram através do portão do castelo, A menina magra montada na égua cinza parecia pequena e desamparada no meio deles.
    Alguns dos cavalos ainda recuavam perante a mancha escura no chão de terra batida, no local onde a terra tinha bebido o sangue vital do cavalariço que Gregor Clegane mata¬ra tão desajeitadamente. Aquela visão deixou Jaime furioso de novo, Tinha dito à Guar¬da Real para manter a multidão afastada, mas aquele palerma do Sor Boros se distraiu com o duelo. O idiota do rapaz partilhava parte da culpa, com certeza; e o dornês morto também, E acima de todos Clegane. O golpe que cortou o braço do rapaz tinha sido um infortúnio, mas aquele segundo golpe,,.
    Bem, Gregor está pagando por ele agora. O Grande Meistre Pycelle andava tratando os ferimentos do homem, mas os uivos que ressoavam nos aposentos do meistre sugeriam que a cura não estava correndo tão bem como poderia.
    - A carne gangrena e as feridas soltam pus - disse Pycelle ao conselho. - Nem mes¬mo as larvas querem tocar naquela imundície. Suas convulsões são tão violentas que tive de amordaçá-lo para evitar que cortasse a língua com os dentes. Removi o máximo de tecido que me atrevi a cortar e tratei a putrefação com vinho fervente e bolor de pão, mas sem resultado. As veias de seu braço estão se tornando negras. Quando o sangrei, todas as sanguessugas morreram. Senhores, tenho de saber qual foi a maligna substância que o Príncipe Oberyn usou na lança. Detenhamos os outros dorneses até se tornarem mais cooperativos.
    Lorde Tywin havia recusado.
    - Já haverá problemas suficientes com Lançassolar por causa da morte do Príncipe Oberyn. Nâo pretendo tornar as coisas piores prendendo seus companheiros.
    - Então temo que Sor Gregor possa morrer.
    - Sem dúvida que sim. Jurei que morreria na carta que enviei ao Príncipe Doran com o corpo do irmão. Mas tem de ser visto que foi a espada do Magistrado do Rei que o ma¬tou, e não uma lança envenenada. Cure-o,
    O Grande Meistre Pycelle pestanejou, desalentado.
    - Senhor...
    - Cure-o - voltou a dizer Lorde Tywin, enfadado. - Vocês estão cientes de que Lorde Varys mandou pescadores para as águas que rodeiam Pedra do Dragão. Eles relatam que só resta uma força simbólica para defender a ilha. Os lisenos desapareceram da baía, e a maior parte das forças de Lorde Stannis desapareceu junto.
    - Boas e melhores novas - anunciou Pycelle. - Que Stannis apodreça em Lys, digo eu. Estamos livres do homem e de suas ambições.
    - Transformou-se num completo idiota quando Tyrion cortou sua barba? Estamos falando de Stannis Baratheon, O homem lutará até o fim, e mesmo depois. Se desapa¬receu, isso só pode querer dizer que pretende retomar a guerra. O mais provável é que desembarque em Ponta Tempestade e tente inflamar os senhores da tempestade. Se as¬sim for, está acabado. Mas um homem mais ousado poderia jogar os dados com Dorne. Se ele conquistasse Lançassolar para a sua causa, poderia prolongar esta guerra durante anos. Portanto, não iremos ofender os Martell mais ainda, seja por que motivo for. Os dor¬neses são livres para partir, e você irá curar Sor Gregor.
    E assim a Montanha gritava, noite e dia. Lorde Tywin Lannister conseguia intimidar até o Estranho, aparentemente.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:52 pm

    Enquanto Jaime subia os degraus em espiral da Torre da Espada Branca, ouvia Sor Boros roncando em sua cela. A porta de Sor Balon também estava fechada; tinha ficado com o rei naquela noite e dormiria o dia inteiro, A parte os roncos de Blount, a torre estava muito silenciosa. Isso convinha bastante a Jaime. Eu devia descansar. Na noite an¬terior, depois de sua dança com Sor Addam, sentira-se dolorido demais para dormir.
    Mas quando entrou no quarto, encontrou a irmã à sua espera.
    Ela estava junto da janela aberta, olhando para lá das muralhas exteriores, para o mar. O vento da baía rodopiava à sua volta, encostando o vestido ao corpo dela de um modo que acelerou o pulso de Jaime. Era branco, aquele vestido, como os reposteiros que pen¬diam da parede e os cortinados da cama. Voltas de minúsculas esmeraldas alegravam as pontas de suas largas mangas e espiralavam pelo corpete abaixo. Esmeraldas maiores estavam embutidas na teia dourada que prendia seus cabelos dourados. O vestido tinha um corte baixo, desnudando-lhe os ombros e a parte de cima dos seios. Ela é tão bela. Nada mais desejava exceto tomá-la nos braços.
    - Cersei. - Fechou a porta sem fazer barulho. - Por que está aqui?
    - Para onde mais poderia ir? - quando se virou para ele, havia lágrimas em seus olhos. - O pai deixou claro que já não sou desejada no conselho. Jaime, não pode falar com ele?
    Jaime tirou o manto e pendurou-o num gancho na parede.
    - Falo todos os dias com Lorde Tywin.
    - Você tem de ser assim tão teimoso? Tudo que ele quer...
    - ... é forçar-me a sair da Guarda Real e mandar-me de volta para Rochedo Casterly.
    - Isso não pode ser assim tão terrível. Ele também vai me mandar de volta para Ro¬chedo Casterly. Quer que eu esteja longe, para que possa ter a mão livre com Tommen. Tommen é meu filho, não dele!
    - Tommen é o rei.
    - Ele é um garoto! Um garotinho assustado que viu o irmão ser assassinado no pró¬prio casamento. E agora dizem-lhe que precisa se casar. A garota tem o dobro da idade dele e é duas vezes viúva!
    Jaime deixou-se cair numa cadeira, tentando ignorar a dor dos músculos machucados.
    - Os Tyrell são insistentes. Não vejo mal nisso. Tommen tem se sentido sozinho des¬de que Myrcella foi para Dorne. Ele gosta de ter Margaery e suas senhoras por perto. Que se casem.
    - Ele é seu filho...
    - Ele é da minha semente. Nunca me chamou de pai. Assim como Joffrey. Você avisou-me mil vezes para nunca mostrar interesse indevido por eles,
    - Para mantê-los a salvo! E você também. O que pareceria se o meu irmão se fizesse de pai com os filhos do rei? Até Robert poderia ter começado a desconfiar.
    - Bem, ele agora já está para lá da desconfiança, - A morte de Robert ainda deixava um sabor amargo na boca de Jaime. Devia ter sido eu a matá-lo, e não Cersei. - Só deseja¬ria que ele tivesse morrido pelas minhas mãos. - Quando eu ainda tinha duas. - Se tivesse deixado o regicídio tornar-se um hábito, como ele gostava de dizer, poderia tê-la tomado como esposa para o mundo inteiro ver. Não me envergonho de amá-la, apenas das coisas que fiz para esconder isso. Aquele garoto em Winterfell...
    - Eu mandei você atirá-lo da janela? Se tivesse ido caçar como supliquei, nada teria acontecido. Mas não, tinha de me possuir, não podia esperar até voltarmos à cidade.
    -Já tinha esperado tempo suficiente. Odiava ver Robert entrando aos tropeções em sua cama todas as noites, sempre sem saber se naquela noite decidiria reivindicar os seus direitos de marido, - Jaime lembrou-se de repente de outra coisa que o perturba¬va com relação a Winterfell, - Em Correrrio, Catelyn Stark parecia convencida de que eu tinha mandado um saíteador qualquer cortar a garganta do filho. Que eu lhe tinha dado um punhal.
    - Isso - disse ela em tom de escárnio. - Tyrion perguntou-me sobre isso.
    - Houve um punhal. As cicatrizes nas mãos da Senhora Catelyn eram bem reais, ela mostrou-me. Você..,?
    - Ah, não diga besteiras. - Cersei fechou a janela. - Sim, tive esperança de que o garoto morresse. E você também. Até Robert pensou que teria sido melhor assim. "Ma¬tamos os cavalos quando quebram uma perna, e os cães quando ficam cegos, mas somos fracos demais para mostrar a mesma misericórdia por crianças aleijadas" disse-me ele, Ele mesmo estava cego nesse momento, da bebida,
    Robert? Jaime protegera o rei durante tempo suficiente para saber que Robert Bara- theon dizia coisas quando estava de porre que negaria furiosamente no dia seguinte.
    - Alguém estava presente quando Robert disse isso?
    - Espero que náo ache que ele disse isso a Ned Stark. Claro que estávamos a sós. Nós e as crianças. - Cersei tirou a rede para cabelos e enrolou-a numa das colunas da cama, após o que sacudiu seus caracóis dourados. - Talvez tenha sido Myrcella quem enviou esse homem com o punhal, parece-lhe que é possível?
    Aquilo tinha a intenção de ser uma zombaria, mas Jaime compreendeu de imediato que ela acertara em cheio no cerne da questão.
    - Myrcella, não. Joffrey.
    Cersei franziu a testa.
    -Joffrey não simpatizava com Robb Stark, mas o rapaz mais novo não lhe dizia nada. Ele próprio não passava de uma criança.
    - Uma criança ansiosa por uma palmadinha na cabeça dada por esse bêbado que permitiu que ele acreditasse ser seu pai. - Teve uma idéia desconfortável. - Tyrion quase morreu por causa
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:53 pm

    daquele maldito punhal. Se soubesse que tudo havia sido obra de Jof¬frey, podia ser esse o motivo...
    - Não me interessa o motivo - disse Cersei. - Ele pode levar seus motivos consigo para o inferno. Se tivesse visto como Joff morreu... ele lutou, Jaime, ele lutou por cada golfada de ar, mas era como se algum espírito maligno tivesse as mãos em volta de sua garganta. Tinha um terror tão grande nos olhos... Quando era pequeno, corria para mim quando estava assustado ou magoado, e eu protegia-o. Mas naquela noite não houve nada que eu pudesse fazer, Tyrion assassinou-o na minha frente, e não houve nada que eu pudesse fazer. - Cersei ajoelhou-se diante da cadeira de Jaime e tomou a sua mão boa entre as dela. - Joff está morto e Myrcella em Dorne, Tommen é tudo que me resta. Não pode deixar que o pai o afaste de mim, Jaime, por favor.
    - Lorde Tywin não pediu a minha aprovação. Posso falar com ele, mas não me escu¬tará...
    - Escutará, se concordar em abandonar a Guarda Real.
    - Não vou abandonar a Guarda Real.
    A irmã tentou reprimir as lágrimas.
    -Jaime, você é o meu reluzente cavaleiro. Não pode me abandonar quando mais pre¬ciso de você! Ele está roubando meu filho, mandando-me embora... e a menos que o impeça, o pai vai me forçar a casar de novo!
    Jaime não devia ter ficado surpreso, mas ficou. As palavras foram um golpe no estô¬mago mais forte do que qualquer um dos que Sor Addam Marbrand lhe dera.
    - Com quem?
    - E isso importa? Um lorde ou outro qualquer. Alguém de que o pai pense que pre¬cisa. Não me interessa. Não aceitarei outro marido. E o único homem que eu quero na minha cama, para sempre.
    - Então diga-lhe isso!
    Ela afastou as mãos.
    - Está outra vez dizendo loucuras. Quer nos ver afastados, como a mãe fez daquela vez que nos pegou brincando? Tommen perderia o trono e Myrcella, o seu casamento... eu quero ser sua esposa, pertencemos um ao outro, mas isso nunca poderá acontecer, Jai¬me, Somos irmão e irmã.
    - Os Targaryen...
    - Nós não somos os Targaryen!
    - Calminha - disse ele em tom zombeteiro. - Assim tão alto vai acordar os meus Irmãos Juramentados. Não pode ser, certo? As pessoas poderiam ficar sabendo que veio
    me visitar.
    -Jaime - soluçou ela -, acha que eu não desejo isso tanto quanto você? Não importa o homem com quem me casarem, quero você ao meu lado, quero você em minha cama, quero você dentro de mim. Nada mudou entre nós. Deixe-me provar. - Ela puxou a tú¬nica dele para cima e começou a remexer nos cordões de seus calções.
    Jaime deu por si a responder,
    - Não - disse -, aqui, não. - Nunca tinham feito aquilo na Torre da Espada Branca, e muito menos nos aposentos do Senhor Comandante. - Cersei, este não é o local adequado,
    - Tomou-me no septo. Aqui não é diferente. - Tirou seu pau para fora e inclinou a cabeça por cima dele.
    Jaime empurrou-a com o coto da mão direita.
    - Não. Aqui não, já disse. - Forçou-se a levantar-se.
    Por um instante viu confusão nos brilhantes olhos verdes de Cersei, e também medo. Então a raiva substituiu-os, Ela recompôs-se, pôs-se em pé, alisou as saias.
    - Foi a mão que lhe cortaram em Harrenhal, ou a virilidade? - quando sacudiu a cabeça, seus cabelos caíram em volta dos alvos ombros nus. - Fui uma tola por vir, Você não teve coragem para vingar Joffrey, por que devia pensar que protegeria Tommen? Diga-me, se o Duende tivesse matado todos os seus três filhos, teria isso o irritado?
    - Tyrion não vai fazer mal a Tommen ou Myrcella. Ainda não tenho certeza de que matou Joffrey.
    A boca dela torceu-se de fúria.
    - Como pode dizer isso? Depois de todas as ameaças dele...
    - Ameaças não querem dizer nada. Ele jura que não o fez.
    - Oh, ele jura, então é isso? E os anões não mentem, é isso o que pensa?
    - A mim, não. Assim como você.
    - Seu grande idiota dourado. Ele mentiu para você mil vezes, e eu também. - Voltou a prender os cabelos e tirou a rede para cabelos da coluna da cama onde a pendurara, - Pense o que quiser. O monstrinho está numa cela negra, e em breve Sor Ilyn cortará sua cabeça. Talvez queira ficar com ela como recordação. - Lançou um relance à almofada. - Ele pode vigiá-lo enquanto você dorme sozinho naquela cama branca e fria. Até que os olhos apodreçam, pelo menos.
    - E melhor ir embora, Cersei, Está me deixando bravo.
    - Oh, um aleijado bravo. Que coisa assustadora. - Soltou uma gargalhada. - Pena que Lorde Tywin Lannister nunca tenha tido um filho. Eu poderia ter sido o herdeiro que ele queria, mas faltava-me o pau. E, a propósito, é melhor enfiar o seu para dentro, irmão. Tem um ar bastante tristonho e pequenino, assim pendurado nos calções.
    Depois de ela ir embora, Jaime aceitou o seu conselho, lutando contra os cordões com uma só mão. Sentia uma dor fantasma nos dedos que lhe chegava aos ossos. Perdi uma mão, um pai, um filho, uma irmã e uma amante, e em breve perderei um irmão. E no entanto não param de me dizer que a Casa Lannister ganhou esta guerra.
    Jaime envergou o manto e desceu, indo encontrar Sor Boros Blount bebendo uma taça de vinho na sala comum.
    - Quando terminar a bebida, diga a Sor Loras que estou pronto para recebê-la.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:54 pm

    Sor Boros era covarde demais para fazer muito mais do que uma carranca.
    - Está pronto para receber quem?
    - Limite-se a dizer isso a Loras.
    - Sim, - Sor Boros esvaziou a taça. - Sim, Senhor Comandante.
    Levou o seu tempo cuidando do assunto, porém, ou então foi o Cavaleiro das Flores que se mostrou difícil de achar. Tinham-se passado várias horas quando chegaram, o ma¬gro e belo jovem e a grande donzela feia. Jaime estava sentado sozinho na sala redonda, folheando ociosamente o Livro Branco.
    - Senhor Comandante - disse Sor Loras -, desejava receber a Donzela de Tarth?
    - Sim. - Jaime fez-lhes um gesto com a mão esquerda para que se aproximassem. - Falou com ela, suponho?
    - Conforme ordenou, senhor. -E?
    O rapaz ficou tenso.
    - Eu... as coisas podem ter acontecido como ela diz, sor. Talvez tenha sido Stannis. Não posso ter certeza.
    - Varys diz que o castelão de Ponta Tempestade também faleceu de forma estranha
    - disse Jaime.
    - Sor Cortnay Penrose - disse Brienne num tom triste. - Um bom homem.
    - Um homem teimoso. Um dia pôs-se firmemente no caminho do Rei de Pedra do Dragão. No seguinte, saltou de uma torre, - Jaime levantou-se. - Sor Loras, conversare¬mos mais sobre isso mais tarde. Pode deixar Brienne comigo.
    A garota parecia tão feia e desajeitada como sempre, Jaime concluiu quando o Tyrell os deixou. Alguém tinha voltado a vesti-la com roupa de mulher, mas esse ves¬tido servia-lhe muito melhor do que aquele hediondo trapo cor-de-rosa que o bode a obrigara a usar.
    - Azul é uma cor que lhe cai bem, senhora - observou Jaime. - Combina bem com os seus olhos. - Ela realmente tem uns olhos espantosos.
    Brienne olhou-se de relance e perturbou-se.
    - A Septã Donyse almofadou o corpete, para deixá-lo com esta forma. Disse que o mandou para mim. - A garota permanecia junto à porta, como se pretendesse fugir a qualquer segundo. - Está...
    - Diferente? - conseguiu fazer um meio sorriso. - Mais carne sobre as costelas e me¬nos piolhos no cabelo, é tudo. O coto é o mesmo. Feche a porta e venha cá.
    Ela fez o que ele pediu.
    - O manto branco...
    - ... é novo, mas tenho certeza de que o sujarei bem depressa.
    - Não era isso... eu ia dizer que lhe caía bem. - Brienne aproximou-se, hesitante.
    - Jaime, falava a sério quando disse aquilo a Sor Loras? Sobre... sobre o Rei Renly e a sombra?
    Jaime encolheu os ombros.
    -Eu teria matado Renly pessoalmente se tivéssemos nos encontrado em batalha, que me importa quem lhe cortou a garganta?
    - Disse que eu tinha honra...
    - Eu sou o maldito Regicida, esqueceu-se? Quando digo que tem honra, isso é como ter uma prostituta assegurando a sua virgindade. - Encostou-se para trás e ergueu os olhos para ela. - Pernas-de-Aço vai a caminho do Norte, para entregar Arya Stark a Roose Bolton.
    - Entregou-a a e/e? - gritou ela, consternada. - Prestou um juramento à Senhora Catelyn...
    - Com uma espada encostada na garganta, mas deixemos isso de lado. A Senhora Catelyn está morta. Não poderia devolver as filhas a ela mesmo se as tivesse em meu po¬der. E a garota que o meu pai mandou com Pernas-de-Aço não é Arya Stark.
    - Não é Arya Stark?
    - Você ouviu. O senhor meu pai encontrou uma nortenha magricela mais ou menos da mesma idade com mais ou menos as mesmas cores. Vestiu-a de branco e cinza, deu- -Ihe um lobo de prata para prender o manto e botou-a a caminho para se casar com o bastardo de Bolton, - Ergueu o coto para apontar para ela. - Quis dizer-lhe isso antes que partisse a galope para salvá-la e se fizesse matar inutilmente, Não é nada má com uma espada, mas não é suficientemente boa para derrotar sozinha duzentos homens.
    Brienne sacudiu a cabeça.
    - Quando Lorde Bolton souber que o seu pai lhe pagou com moeda falsa...
    - Oh, ele sabe. Os Lannister mentem, lembra? Não importa, a garota serve ao seu pro¬pósito igualmente bem. Quem irá dizer que ela não é Arya Stark? Todo mundo de que a garota era próxima está morto, exceto a irmã, que desapareceu.
    - Por que me contaria tudo isso se fosse verdade? Está traindo os segredos de seu pai.
    Os segredos da Mão, pensou ele. Já não tenho pai.
    - Eu pago as minhas dívidas, como todos os outros leõezinhos bons. Prometi as filhas à Senhora Stark... e uma delas continua viva. Meu irmão pode saber onde se encontra, mas se sabe, não o diz. Cersei está convencida de que Sansa o ajudou a assassinar Joffrey.
    A boca da moça fez uma expressão obstinada.
    - Não acreditarei que aquela garota gentil é uma envenenadora. A Senhora Catelyn disse que ela tinha um coração afetuoso. Foi o seu irmão. Houve um julgamento, disse Sor Loras.
    - Na verdade, houve dois. Tanto as palavras como as espadas lhe falharam, Uma ba¬gunça sangrenta. Assistiu da janela?
    - Minha cela dá para o mar. Mas ouvi os gritos,
    - O Príncipe Oberyn de Dorne está morto, Sor Gregor Clegane, moribundo, e Tyrion condenado perante os olhos dos deuses e dos homens. Ele será mantido numa cela negra até o matarem.
    Brienne olhou-o.
    - Não acredita que tenha sido ele.
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    Mensagem  Admin Seg Jun 18, 2012 2:54 pm

    Jaime concedeu-lhe um sorriso duro,
    - Vê, garota? Conhecemo-nos bem demais. Tyrion deseja ser eu desde que deu o primeiro passo, mas nunca me seguiria no regicídio. Foi Sansa Stark quem matou Jof¬frey. Meu irmão manteve silêncio para protegê-la, Ele tem esses ataques de galanteria de vez em quando. O último custou-lhe um nariz. Dessa vez custará a cabeça.
    - Não - disse Brienne. - Não foi a filha da minha senhora. Não pode ter sido ela.
    - Aí está a garota teimosa e burra de que me lembro.
    Ela enrubesceu.
    - Meu nome é...
    - Brienne de Tarth. - Jaime suspirou. - Tenho um presente para você. - Estendeu a mão por baixo da cadeira do Senhor Comandante e tirou-a para fora, envolta em dobras de veludo carmesim.
    Brienne aproximou-se como se a trouxa pudesse mordê-la, estendeu uma enorme mão sardenta e afastou uma dobra de tecido. Rubis cintilaram à luz. Pegou cuidadosa¬mente no tesouro, enrolou os dedos em volta do cabo de couro e libertou lentamente a espada de sua bainha. As ondulações brilharam de sangue e negrume. Um dedo de luz refletida correu, vermelho, ao longo do gume.
    - Isto é aço valiriano? Nunca vi cores assim.
    - Nem eu, Houve um tempo em que teria dado a mão direita para brandir uma espa¬da como essa. Agora parece que o fiz, portanto a lâmina é desperdiçada em mim. Aceite - -a. - Antes que ela pudesse pensar em recusar, prosseguiu. - Uma espada tão boa precisa de um nome. Ficaria feliz se chamasse esta de Cumpridora de Promessas. Mais uma coi¬sa. A lâmina tem um preço.
    O rosto dela tornou-se sombrio.
    - Eu disse-lhe, nunca servirei...
    - ... criaturas tão malvadas. Sim, eu me lembro. Ouça-me até o fim, Brienne. Ambos prestamos juramentos a propósito de Sansa Stark. Cersei pretende assegurar-se de que a garota seja encontrada e morta, não importa onde ela tenha se enfiado...
    O rosto simples de Brienne torceu-se de fúria.
    - Se acredita que eu faria mal à filha de minha senhora em troca de uma espada, você...
    - Cale-se e ouça - exclamou ele, irritado pelas suposições dela. - Quero que encontre Sansa primeiro e que a leve para qualquer lugar seguro. De outro modo, como nós ire¬mos cumprir os estúpidos juramentos que prestamos à sua preciosa e falecida Senhora Catelyn?
    A moça pestanejou.
    - Eu... eu pensei...
    - Eu sei o que pensou. - De repente, Jaime ficou farto de olhar para ela. Bale como uma porcaria de uma ovelha. - Quando Ned Stark morreu, a espada dele foi oferecida ao Magistrado do Rei - disse-lhe. - Mas meu pai achou que uma lâmina tão boa era des¬perdiçada num mero carrasco. Deu uma nova espada a Sor Ilyn, e mandou fundir a Gelo e forjá-la novamente. Havia metal suficiente para duas lâminas novas. Tem uma delas na mão. Portanto, irá proteger a filha de Ned Stark com o aço do próprio Ned Stark, se é que isso faz alguma diferença para você.
    - Sor, eu... eu devo-lhe um pedido de desc...
    Jaime interrompeu-a.
    - Pegue a porcaria da espada e vá embora, antes que eu mude de idéia. Há uma égua baia nos estábulos, tão feia quanto você, mas um pouco mais bem treinada. Vá em per¬seguição do Pernas-de-Aço, vá em busca de Sansa, ou vá para casa, para a sua ilha de safiras, não me interessa. Não quero olhar mais para você.
    - Jaime...
    - Regicida - relembrou-lhe. - É melhor que use essa espada para limpar a cera dos ouvidos, garota. Nossa conversa acabou.
    Teimosamente, ela insistiu.
    -Joffrey era seu...
    - Meu rei. Deixe as coisas assim.
    - Diz que Sansa o matou. Por que protegê-la?
    Porque Joff não me era mais do que um esguicho de sêmen na boceta de Cersei. E porque merecia morrer.
    - Fiz reis e desfi-los, Sansa Stark é minha última oportunidade de honra. - Jaime deu um ligeiro sorriso, - Além disso, os regicidas deviam se juntar. Nunca mais vai embora?
    A grande mão de Brienne fechou-se com força em volta da Cumpridora de Promessas.
    - Vou. E encontrarei a garota e a manterei a salvo. Pela senhora mãe dela. E por você. - Fez uma reverência rígida, virou-se e saiu,
    Jaime ficou sentado à mesa, sozinho, enquanto as sombras iam enchendo a sala, Quando o ocaso começou a se instalar, acendeu uma vela e abriu o Livro Branco em sua página. Encontrou pena e tinta numa gaveta. Por baixo da última linha escrita por Sor Barristan, escreveu numa letra desajeitada que poderia ter sido elogiada numa criança de seis anos que estivesse aprendendo as primeiras letras com o meistre:
    Derrotado no Bosque dos Murmúrios pelo Jovem Lobo Robb Stark durante a Guerra dos Cinco Reis. Mantido cativo em Correrrio e resgatado em troca de uma promessa não cumpri¬da. Capturado de novo pelos Bravos Companheiros e mutilado por ordem de Vargo Hoat, o capitão deles, perdendo a mão da espada pela lâmina de Zollo, o Gordo. Devolvido em segu¬rança a Porto Real por Brienne, a Donzela de Tarth.
    Quando terminou, ainda restava encher mais de três quartos de sua página, entre o leão de ouro no escudo carmesim ao topo e o escudo branco e vazio no fundo, Sor Gerold Hightower tinha começado a sua história e Sor Barristan Selmy continuara-a, mas o resto teria de ser escrito pelo próprio Jaime Lannister. Dali em diante, poderia escrever o que quer que decidisse escrever.
    O que quer que decidisse,,.

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