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    O Festim dos Corvos

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    O Festim dos Corvos - Página 11 Empty Re: O Festim dos Corvos

    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:31 pm

    tão mau. — Embora grandes, os rendimentos da coroa não são suficientes
    para acompanhar as dívidas de Robert. Por consequência, decidi adiar o
    pagamento das somas devidas à Fé Sagrada e ao Banco de Ferro de Bravos
    até ao fim da guerra. — Não havia dúvida de que o novo Alto Septão
    retorceria as suas santas mãos, e os bravosianos guinchariam e grasnariam,
    mas e daí? — Os fundos poupados serão usados para a construção da nossa
    nova frota.
    — Vossa Graça é prudente — disse Lorde Merryweather. — Esta é
    urna medida sensata. E necessária, até a guerra terminar. Concordo.
    — Eu também — disse Sor Harys.
    — Vossa Graça — disse Pyrcelle numa voz insegura — temo que
    isto cause mais problemas do que pensa. O Banco de Ferro...
    —... Continua em Bravos, longe, do outro lado do mar. Eles terão o
    seu ouro, meistre. Um Lannister paga as suas dividas.
    — Os bravosianos também têm um ditado. — A corrente provida de
    joias de Pycelle tilintou suavemente. — O Banco de Ferro obterá o que lhe
    devido, dizem eles.
    — O Banco de Ferro obterá o que lhe é devido quando eu disser. Até
    esse momento, o Banco de Ferro esperará respeitosamente. Lorde Waters, dê
    inicio à construção dos seus drornones.
    — Muito bem, Vossa Graça.
    Sor Harys remexeu nuns papéis.
    — O assunto seguinte... Recebemos uma carta de Lorde Frey
    avançando com algumas exigências...
    — Quantas terras e honrarias quer esse homem? — Exclamou a
    rainha. — A sua mãe deve ter tido três tetas.
    — Os senhores podem não saber — disse Qyburn — mas nas
    tabernas e casas de pasto da cidade, há quem sugira que a coroa pode ter sido
    de algum modo cúmplice com o crime do Lorde Walden.
    Os outros conselheiros fitaram-no com incerteza.
    — Está referindo ao Casamento Vermelho? — Perguntou Aurane
    Waters.
    — Crime? — Disse Sor Harys. Pycelle pigarreou ruidosamente.
    Lorde Gyles tossiu.
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    O Festim dos Corvos - Página 11 Empty Re: O Festim dos Corvos

    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:31 pm

    — Aqueles pardais são particularmente diretos — preveniu Qyburn.
    — O Casamento Vermelho foi uma afronta a todas as leis dos deuses e dos
    homens, dizem eles, e os que tiveram uma participação no caso estão
    condenados.
    Cersei não foi lenta a perceber o que ele queria dizer.
    —Lorde Walder terá de enfrentar em breve o julgamento do Pai.
    Muito velho. Que os pardais cuspam na sua memória. Nada tem a ver
    conosco.
    — Pois não — disse Sor Harys.
    — Pois não — disse Lorde Merryweather.
    — Ninguém poderia pensar o contrário — disse Pycelle. Lorde
    Gyles tossiu.
    — Um pouco de cuspe na tumba do Lorde Walder não é coisa que
    perturbe os vermes — concordou Qyburn — mas também seria útil se
    alguém fosse punido pelo Casamento Vermelho. Algumas cabeças Frey
    fariam muito pelo apaziguamento do norte.
    —Lorde Walder nunca sacrificará os seus — disse Pycelle.
    — Pois não — meditou Cersei — mas os seus herdeiros podem ser
    menos melindrosos. Podemos esperar que o Lorde Walder nos faça em breve
    a cortesia de morrer. Que melhor maneira para o novo Senhor da Travessia
    se livrar de meios irmãos, primos desagradáveis e irmãs intriguistas do que
    indicando-os como culpados?
    — Enquanto aguardamos a morte do Lorde Walder, há outro assunto
    — disse Aurane Waters. — A Companhia Dourada quebrou o contrato com
    Myr. Nas docas, tenho ouvido homens dizer que Lorde Stannis os contratou
    e os vai trazer do outro lado do mar.
    — Com o que lhes pagaria? — Perguntou Merryweather. —
    Neve? Eles chamam-se Companhia Dourada. Quanto ouro tem Stannis?
    — Bastante pouco — assegurou-lhe Cersei. — Lorde Qyburn falou
    com a tripulação daquela galé de Myr que se encontra na baia. Dizem que a
    Companhia Dourada se dirige a Volantis. Se pretendem vir para Westeros,
    estão marchando na direção errada.
    — Talvez se tenham cansado de lutar do lado perdedor – sugeriu
    Lorde Merryweather.
    — Também tem isso — concordou a rainha. — Só um cego pode
    não conseguir ver que a nossa guerra está praticamente ganha. Lorde Tyrell
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    O Festim dos Corvos - Página 11 Empty Re: O Festim dos Corvos

    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:32 pm

    tem Ponta Tempestade sob ataque. Correrrio está cercada pelos Frey e pelo
    meu primo Daven, o nosso novo Protetor do Oeste. Os navios do Lorde
    Redwyne cruzaram os Estreitos de Tarth e sobem rapidamente a costa. Só
    restam em Pedra do Dragão alguns barcos de pesca para se oporem ao
    desembarque de Redwyne. O castelo pode aguentar durante algum tempo,
    mas assim que controlemos o porto podemos separar a guarnição do mar.
    Então só restará o próprio Stannis a nos aborrecer.
    — Se é possível crer no Lorde Janos, ele tentando fazer causa
    comum com os selvagens — avisou o Grande Meistre Pycelle.
    — Selvagens vestidos de peles — declarou Lorde Merryweather. —
    Lorde Stannis deve estar realmente desesperado, para procurar tais aliados.
    — Desesperado e insensato — concordou a rainha. — Os nortenhos
    odeiam os selvagens. Roose Bolton não deverá ter problemas em ganhá-los
    para a nossa causa. Alguns já se reuniram ao seu filho bastardo para o ajudar
    a enxotar os malditos homens de ferro de Fosso Cailin e abrir caminho para
    o regresso do Lorde Bolton. Umber, Ryswell... Esqueço-me dos outros
    nomes. Até Porto Branco está a ponto de se juntar a nós. O seu lorde
    concordou em casar ambas as netas com os nossos amigos Frey e em abrir o
    porto aos nossos navios.
    — Julgava que não tínhamos navios — disse Sor Harys, confuso.
    — Wyman Manderly era um vassalo leal de Eddard Stark — disse o
    Grande Meistre Pycelle. Podemos confiar em tal homem?
    Não podemos confiar em ninguém.
    — É um velho gordo e assustado. No entanto, está a mostrar-se
    teimoso num ponto. Insiste que não dobrará o joelho até que lhe seja
    devolvido o herdeiro.
    — E esse herdeiro está nas nossas mãos? – perguntou Sor Harys.
    — Deve estar em Harrenhal, se ainda estiver vivo. Gregor Clegane
    tomou-o cativo. — A Montanha nem sempre fora branda para com os seus
    prisioneiros, mesmo aqueles que valiam um resgate considerável. — Se
    estiver morto, suponho que tenhamos de enviar ao Lorde Manderly as
    cabeças daqueles que o mataram, com os nossos mais sinceros pedidos de
    desculpa. — Se uma cabeça era suficiente para apaziguar um príncipe de
    Dome, um saco de cabeças deveria ser mais do que adequado para um
    nortenho gordo enrolado em peles de foca.
    — Mas Lorde Stannis não procurará conquistar também a aliança de
    Porto Branco? — perguntou o Grande Meistre Pycelle.
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    O Festim dos Corvos - Página 11 Empty Re: O Festim dos Corvos

    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:32 pm

    — Oh, ele tentou. Lorde Manderly enviou-nos as suas cartas e
    respondeu com evasivas. Stannis exige as espadas e a prata de Porto Branco,
    pelas quais oferece... Bem, nada. — Um dia teria de acender uma vela ao
    Estranho por ter levado Renly, deixando Stannis. Se tivesse sido o contrário,
    a sua vida teria sido mais dura. — Hoje mesmo chegou outra ave. Stannis
    enviou o seu contrabandista de cebolas para negociar com Porto Branco em
    seu nome. Manderly enfiou o desgraçado numa cela. Pergunta o que deve
    fazer com ele.
    — Que o envie para cá, para podermos interrogá-lo — sugeriu o
    Lorde Merryweather. — O homem pode saber muitas coisas valiosas.
    — Ele que morra — disse Qyburn. — A sua morte será uma lição
    para o norte, mostrando-lhes o que acontece aos traidores.
    — Estou bastante de acordo — disse a rainha. — De instruções a
    Lorde Manderly para lhe cortar imediatamente a cabeça. Isso porá fim a
    qualquer hipótese de Porto Branco apoiar Stannis.
    — Stannis irá precisar de outro Mão — observou Aurane Waters
    com um risinho. — O cavaleiro dos nabos, talvez?
    — Um cavaleiro dos nabos? — Disse Sor Harys Swyft, confuso. —
    Quem é esse homem? Nunca ouvi falar dele.
    A única resposta de Waters foi rolar os olhos.
    — E se Lorde Manderly recusar? — perguntou Merryweather.
    — Não se atreverá. A cabeça do cavaleiro das cebolas é a moeda
    com que terá de comprar a vida do filho. — Cersei sorriu. Aquele velho
    palerma gordo pode ter sido leal aos Stark A sua maneira, mas com os lobos
    de Winterfell extintos...
    — Vossa Graça esqueceu a Senhora Sansa disse Pycelle.
    A rainha irritou-se.
    — Pode ter certeza de que não me esqueci dessa pequena loba. —
    Recusava-se a proferir o nome da menina. — Devia tê-la mostrado as celas
    negras como filha de um traidor, mas em vez disso acolhi-a entre os meus.
    Partilhou o meu salão e a minha lareira, brincou com os meus filhos. A
    alimentei, a vesti, tentei deixá-la um pouco menos ignorante acerca do
    mundo, e como foi que ela me pagou a bondade? Ajudou a assassinar o meu
    filho. Quando encontrarmos o Duende, encontraremos também a Senhora
    Sansa. Ela não está morta... Mas antes de eu acabar o que tenho planeado
    para ela, os garanto, desatará a cantar ao Estranho, suplicando o seu beijo.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:32 pm

    Seguiu-se um silêncio incomodo. Terão todos engolido as línguas?
    Pensou Cersei, irritada. Aquilo era o suficiente para se interrogar por que se
    incomodava com um conselho.
    — Em todo o caso — prosseguiu a rainha — A filha mais nova do
    Lorde Eddard está com o Lorde Bolton, e se casará com o seu filho Ramsay
    assim que Fosso Cailin cair. — Desde que a menina desempenhe o seu papel
    suficientemente bem para cimentar a pretensão a Winterfell, nenhum dos
    Bolton se importaria muito que ela fosse na realidade a cria de algum
    intendente ataviada pelo Mindinho. — Se o norte tem de ter um Stark,
    daremos um. — Permitiu que Lorde Merryweather voltasse a encher-lhe a
    taça. — Outro problema surgiu na Muralha, porém. Os irmãos da Patrulha da
    Noite perderam o juízo e escolheram o bastardo de Ned Stark para ser o seu
    Senhor Comandante.
    — O rapaz chama-se Snow – disse Pycelle inutilmente.
    — Vi-o de passagem urna vez em Winterfell — disse a rainha — se
    bem que os Stark tivessem feito os possíveis por escondê-lo. Parece-se muito
    com o pai. — Os bastardos do marido também tinham o seu aspecto, se bem
    que pelo menos Robert tivesse tido a elegância de mantê-los longe de sua
    vista. Uma vez, depois daquele lamentável assunto do gato, fizera uns ruídos
    acerca de trazer uma de suas filhas ilegítimas qualquer para a corte.
    — Faça o que quiser — dissera-lhe Cersei — mas talvez venha a
    descobrir que a cidade não é um lugar saudável para uma rapariga em
    crescimento. — A nódoa negra que aquelas palavras lhe tinham conquistado
    não fora fácil de esconder de Jaime, mas não voltara a ouvir falar daquela
    bastarda. Catelyn Tully era uma ratinha, caso contrário teria se visto livre
    daquele Jon Snow no berço. Em vez disso, deixou a tarefa suja para mim.
    — O Snow também partilha o gosto do Lorde Eddard pela traição —
    disse. — O pai queria entregar o reino a Stannis. O filho deu-lhe terras e
    castelos.
    — A Patrulha da Noite jurou não participar nas guerras dos Sete
    Reinos — recordou-lhes Pycelle. Ao longo de milhares de anos, os irmãos
    negros mantiver essa tradição.
    — Até agora — disse Cersei. O bastardo escreveu-nos para afirmar
    que a Patrulha da Noite não favorece nenhum dos lados, mas os seus atos
    desvendam a mentira das suas palavras. Deu a Stannis comida e abrigo, e
    mesmo assim tem a insolência de nos suplicar armas e homens.
    — Um ultraje — declarou o Lorde Merryvveather. — Não podemos
    permitir que a Patrulha da Noite junte as suas forças as do Lorde Stannis.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:32 pm

    — Temos de declarar este Snow um traidor e um rebelde —
    concordou Sor Harys Swyft. — Os irmãos negros têm de o destituir.
    O Grande Meistre Pycelle anuiu solenemente.
    — Proponho que informemos Castelo Negro de que não lhes serão
    enviados mais homens até que o Snow desapareça.
    — Os nossos novos dromones vão precisar de remadores — disse
    Aurane Waters. — Mandemos instruções aos lordes para que daqui em
    diante me enviem os seus caçadores furtivos e ladrões, e não à Muralha.
    Qyburn inclinou-se para a frente com um sorriso.
    — A Patrulha da Noite protege a todos nós dos snarks e dos
    gramequins. Senhores, o que eu digo é que temos de ajudar os bravos irmãos
    negros.
    Cersei deitou-lhe um olhar penetrante.
    — O que você está dizendo?
    — O seguinte — disse Qybum. — Há anos que a Patrulha da Noite
    suplica por homens. Lorde Stannis respondeu ao seu apelo. Poderá o Rei
    Tommen fazer menos do que isso? Sua Graça deve mandar cem homens
    para a Muralha. Ostensivamente para vestir o negro, mas na verdade...
    — Para destituir Jon Snow do comando — terminou Cersei,
    deliciada. Eu sabia que tinha razão em querê-lo no meu conselho. — É isso
    mesmo que vamos fazer. — Soltou uma gargalhada. Se este bastardo for
    mesmo filho de seu pai, não suspeitará de nada. Talvez até me agradeça,
    antes da lâmina lhe deslizar entre as costelas. — Terá de ser feito com
    cautela, com certeza. Deixe o resto comigo, senhores. — Era assim que
    havia que lidar com um inimigo: com um punhal, não com uma declaração.
    — Hoje fizemos bom trabalho, senhores. Agradeço-vos. Há mais algum
    assunto?
    — Uma última coisa, Vossa Graça — disse Aurane Waters, num
    tom de quem pede desculpas. — Hesito em ocupar o tempo do conselho com
    bagatelas, mas tem-se ouvido um estranho falatório nas docas nos últimos
    tempos. Marinheiros vindos de leste. Falam de dragões...
    — E sem dúvida de mantícoras e de snarks barbudos? — Cersei
    soltou uma gargalhadinha abafada. — Venha falar comigo quando falarem
    de anões, senhor. — Pôs-se em pé, a fim de assinalar o fim da reunião.
    Soprava um vento forte de outono quando Cersei saiu das salas do
    conselho, e os sinos do Abençoado Baelor cantavam a sua canção de luto do
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    O Festim dos Corvos - Página 11 Empty Re: O Festim dos Corvos

    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:32 pm

    outro lado da cidade. No pátio, duas vintenas de cavaleiros golpeavam-se
    uns aos outros com espadas e escudos, somando ruído ao ruído. Sor Boros
    Blount escoltou a rainha de volta aos seus aposentos, onde foi encontrar a
    Senhora Merryweather aos risinhos com Jocelyn e Dorcas.
    — O que vocês acham tão divertido?
    — Os gêmeos Redwyne — disse Taena. — Ambos se apaixonaram
    pela Senhora Margaery. Costumavam lutar um com o outro relativamente a
    qual seria o próximo Senhor da Árvore. Agora ambos querem juntar-se a
    Guarda Real, só para ficar perto da pequena rainha.
    — Os Redwyne sempre tiveram mais sardas do que miolos. — Mas
    era útil saber aquilo. Se o Horror ou o Babeiro for encontrado na cama com
    Margaery... Cersei se perguntou se a pequena rainha gostaria de sardas. —
    Dorcas, vá buscar Sor Osney Keitleblack.
    Dorcas corou.
    — Ás suas ordens.
    Depois da menina sair, Taena Merryweather deu a rainha um olhar
    zombeteiro.
    — Por que ela ficou tão vermelha?
    — Amor. — Foi a vez de Cersei rir. Ela gosta do nosso Sor
    Osnev. — Era o mais novo dos Kettleblack, o escanhoado. Embora tivesse o
    mesmo cabelo negro, nariz adunco e sorriso fácil do irmão Osmund, urna
    bochecha ostentava três longos arranhões, cortesia de uma das rameiras de
    Tyrion, — Gosta das cicatrizes dele, parece-me.
    Os olhos escuros da Senhora Merryweather brilharam de travessura.
    — É isso mesmo, As cicatrizes fazem um homem parecer perigoso,
    e o perigo é excitante.
    — Choca-me, senhora — disse a rainha, provocando. — Se o perigo
    a excita assim tanto, por que casar com o Lorde Orton? Nós todos o
    apreciamos é verdade, mas mesmo assim... — Petyr comentara uma vez que
    a cornucópia que adornava as armas da Casa Merryweather se adequava
    admiravelmente ao Lorde Orton, visto que tinha cabelo cor de cenoura, um
    nariz tão bulboso corno urna raiz de beterraba e papas de ervilhas em vez de
    miolos.
    Taena riu.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:32 pm

    — O meu senhor é mais magnânimo do que perigoso, é verdade.
    Mas... Espero que Vossa Graça não pense o pior de mim, mas não cheguei
    inteiramente donzela à cama de Orton.
    Vocês das Cidades Livres são todas rameiras, não são? Era bom
    saber; um dia, poderia ser capaz de arranjar um uso para aquilo.
    — Diga-me, quem foi esse amante tão... Cheio de perigo? A pele cor
    de azeitona de Taena tornou-se ainda mais escura quando ela corou.
    — Oh, não devia ter dito nada. Vossa Graça guardará o meu
    segredo, sim?
    — Os homens têm cicatrizes, as mulheres mistérios. – Cersei beijoulhe
    o rosto. Arrancarei o nome dele bem depressa.
    Quando Dorcas regressou com Sor Osney Kettleblack, a rainha
    mandou as suas senhoras embora.
    — Venha se sentar comigo junto à janela, Sor Osney. Quer urna taça
    de vinho? — Foi ela própria quem os serviu. — Tem o manto no fio. Tenho
    em mente pôr-vos num novo.
    — O quê, um branco? Quem morreu?
    — Ninguém, por enquanto — disse a rainha. — É esse o seu desejo,
    juntar-se ao seu irmão Osmund na nossa Guarda Real?
    — Preferia ser guarda da rainha, se aprouver a Vossa Graça. —
    Quando Osney sorriu, as cicatrizes no seu rosto tomaram um tom vermelho
    vivo.
    Os dedos de Cersei percorreram o caminho que elas seguiam na cara
    do homem.
    — Tem uma língua ousada, sor. Ainda fareis com que volte a
    descontrolar-me.
    — Ótimo. — Sor Osney pegou-lhe na mão e beijou-lhe bruscamente
    os dedos. Minha querida rainha.
    — É um homem perverso — sussurrou a rainha — e não um
    verdadeiro cavaleiro, penso eu. — Permitiu que lhe tocasse os seios através
    da seda do vestido. — Basta.
    — Não basta. Desejo-a.
    — Já me teve.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:33 pm

    — Só uma vez. — Voltou a agarrar-lhe no seio esquerdo e deu-lhe
    um apertão desajeitado que lhe fez lembrar Robert.
    — Uma boa noite para um bom cavaleiro. Prestaste-me um serviço
    com valentia, e obteve a recompensa. Cersei passeou os dedos pelas ataduras
    dele. Conseguia senti-lo a enrijecer através das calças. — Aquilo foi um
    cavalo novo que montou no pátio ontem de manhã?
    — O garanhão negro? Sim. Um presente do meu irmão Osfryd. O
    chamei Meia-Noite.
    Que maravilhosa originalidade.
    — Uma bela montaria para uma batalha. Para o prazer, porém, nada
    se compara a um galope numa jovem potra fogosa. — Concedeu-lhe um
    sorriso e um apalpão. — Diga-me a verdade. Acha que a nossa pequena
    rainha é bonita?
    Sor Osney retraiu-se, cauteloso.
    — Suponho que sim. Para urna rapariga. Eu preferia ter uma mulher.
    — E porque não ambas? — sussurrou Cersei. — Faça-me o favor de
    colher a rosinha, e não me achará ingrata.
    — A rosinha... fala de Margaery? — O ardor de Sor Osney estava
    murchando nas calças. — Ela é a esposa do rei. Não houve um membro
    qualquer da Guarda Real que perdeu a cabeça por se deitar com a esposa de
    um rei?
    — Há séculos. — Ela era a amante do rei, não esposa, e a cabeça
    foi a única coisa que não perdeu. Aegon desmembrou-o bocado a bocado, e
    obrigou a mulher a ver. Contudo, Cersei não queria que Osney remoesse
    esse antigo e desagradável caso. — Tommen não é Aegon, o indigno. Não
    tenha medo, ele fará o que eu lhe pedir. Pretendo que seja Margaery a perder
    a cabeça, não você.
    Aquilo o fez hesitar.
    — Refere-se ao cabaço?
    — Isso também. Assumindo que ainda o tem. — Voltou a percorrer
    lhe as cicatrizes. — A menos que pense que Margaery mostre-se indiferente
    aos vossos... Encantos?
    Osney deitou-lhe um olhar magoado.
    — Ela gosta bastante de mim. Aquelas primas dela andam sempre a
    me atormentar por causa do nariz. Que é muito grande, e tal. Da última vez
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:33 pm

    que Megga fez isso, Margaery disse-lhes para parar, e disse que eu tinha uma
    cara adorável.
    — Então ai tem.
    — Aí tenho — concordou o homem, em tom de dúvida — mas o que
    terei se ela... se eu... depois de nos...
    — Fizerem o ato? — Cersei concedeu-lhe um sorriso cheio de
    farpas. — Dormir com uma rainha é traição. Tommen não terá alternativa a
    não ser envia-lo para a Muralha.
    — A Muralha? – disse ele, consternado.
    Foi com dificuldade que Cersei evitou rir. Não, é melhor não. Os
    homens odeiam que alguém ria deles.
    — Um manto negro combinaria bem com seus olhos, e com esse seu
    cabelo negro.
    — Ninguém regressa da Muralha.
    — Você regressará. Tudo o que tem de fazer é matar um rapaz.
    — Que rapaz?
    — Um rapaz bastardo conivente com Stannis. É jovem e verde, e
    você terá cem homens.
    Kettleblack tinha medo, Cersei conseguia cheirá-lo, mas era
    demasiado orgulhoso para admitir esse medo. Os homens são todos iguais.
    — Já perdi a conta aos rapazes que matei — insistiu. —
    Depois desse rapaz estar morto, obterei o perdão do rei?
    — Isso, e uma senhoria. — A menos que os irmãos do Snow te
    enforquem primeiro. — Uma rainha tem de ter um consorte. Um consorte
    que não conheça o medo.
    — Lorde Kettleblack? — Um sorriso lento espalhou-se pelo seu
    rosto, e as cicatrizes flamejaram rubras. — Sim, gosto do som disso. Um
    majestoso lorde...
    —... e digno de dormir com uma rainha.
    O homem franziu as sobrancelhas.
    — A Muralha é fria.
    — E eu sou quente. — Cersei pôs seus braços em volta do pescoço.
    — Durma com uma menina e mate um rapaz, e eu sou sua. Tem coragem
    para tal?
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:33 pm

    Osney pensou um momento antes de concordar.
    — Sou o seu homem.
    — É sim, sor. — Beijou-o, e permitiu-lhe saborear um pouco de
    língua antes de se afastar. — Basta por agora. O resto terá de esperar.
    Sonhará comigo esta noite?
    — Sim. — A voz dele soou rouca.
    — E quando estiver na cama com a nossa Donzela Margaery? —
    Perguntou -lhe, provocando-o. Quando estiver dentro dela, sonhará comigo
    nesse momento?
    — Sonharei — jurou Osney Kettleblack.
    — Ótimo.
    Depois de ele sair, Cersei chamou Jocelyn para lhe escovar o cabelo
    enquanto ficava descalça e se espreguiçava como uma gata. Fui feita para
    isto, disse a si própria. O que mais lhe agradava era a pura elegância do
    plano. Nem mesmo Mace Tyrell se atreveria a defender a sua filha querida
    se fosse apanhada em flagrante com um homem como Osney Kettleblack, e
    nem Stannis Baratheon nem Jon Snow teriam motivos para se interrogarem
    sobre o motivo de Osney ser enviado para a Muralha. Se asseguraria de ser
    Sor Osmund quem descobriria o irmão com a pequena rainha; desse modo, a
    lealdade dos outros dois Kettleblack não teria de ser posta em causa. Se o pai
    pudesse me ver agora, não se apressaria tanto a falar em voltar a me casar.
    Uma pena que esteja tão morto. Ele e Robert, Jon Anyn, Ned Stark, Renly
    Baratheon, todos mortos. Só resta Tyrion, e não por muito tempo.
    Naquela noite, a rainha chamou a Senhora Merryweather ao seu
    quarto.
    — Toma uma taça de vinho? Perguntou-lhe.
    — Uma pequena. — A mulher de Myr soltou uma gargalhada. —
    Uma grande.
    — Amanhã quero que faça urna visita a minha nora — disse Cersei
    enquanto Dorcas a vestia para se deitar.
    — A Senhora Margaery fica sempre feliz por me ver.
    — Eu sei. — A rainha não deixou de reparar no título que Taena
    usou ao referir-se à pequena esposa de Tommen. — Diga-lhe que mandei
    sete velas de cera de abelha ao Septo de Baelor em memória do nosso
    querido Alto Septão.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:33 pm

    Taena riu-se.
    — Se assim é, ela mandará setenta e sete velas a fim de não ser
    ultrapassada em luto.
    — Ficarei muito zangada se não o fizer — disse a rainha, sorrindo.
    — Diga-lhe também que tem um admirador secreto, um cavaleiro tão
    enfeitiçado pela sua beleza que não consegue dormir à noite.
    — Posso perguntar a Vossa Graça que cavaleiro é esse? — A
    travessura cintilou nos grandes olhos escuros de Taena. — Poderá ser Sor
    Osney?
    — Podia ser — disse a rainha — mas não mencione esse nome de
    imediato. Obrigue-a esforçar-se para obtê-lo. Fará o que te peço?
    — Se a agradar. É tudo o que eu desejo Vossa Graça.
    Lá fora se levantava um vento frio. Ficaram acordadas até tarde,
    madrugada adentro, bebendo vinho dourado da Árvore e contando histórias
    uma a outra. Taena embebedou-se bastante e Cersei arrancou-lhe o nome do
    seu amante secreto. Era um capitão naval de Myr, meio pirata, com cabelo
    negro até aos ombros e uma cicatriz que lhe marcava a cara do queixo a
    orelha.
    — Disse-lhe cem vezes que não, e ele dizia que sim — disse-lhe a
    outra mulher — até que por fim também eu estava a dizer que sim. Ele não
    era o tipo de homem que podia ser recusado.
    — Conheço o gênero — disse a rainha com um sorriso perverso.
    — Vossa Graça alguma vez conheceu um homem assim?
    — Robert – mentiu Cersei, pensando em Jaime.
    Mas quando fechou os olhos, foi com o outro irmão que sonhou, e
    com os três malditos idiotas com quem começara o dia. No sonho, a cabeça
    que traziam no saco era a de Tyrion. Mandara revesti-la a bronze e
    guardava-a no penico.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:34 pm

    O Capitão de Ferro 310



    O vento soprava do norte enquanto o Vitória de Ferro virou na baía
    sagrada do Berço de Nagga.
    Victarion juntou-se a Nute, o Barbeiro, na proa. À frente,
    assomava a costa sagrada de Velha Wyk e acima dela o monte relvado, onde
    as costelas de Nagga ascendiam da terra como grandes troncos de árvores
    brancas, tão grandes ao redor como um mastro de um dromon e duas vezes
    mais altas.
    Os ossos do Salão do Rei Cinza. Victarion podia sentir a mágica do
    lugar.
    — Balon esteve perto desses ossos quando se proclamou rei pela
    primeira vez — relembrou. — Ele jurou conquistar de volta nossa liberdade,
    e Tarle, o Três Vezes Afogado, colocou uma coroa feita de madeira sobre
    sua cabeça. BALON! eles clamaram. BALON! BALON REI!
    — Eles gritarão seu nome tão alto quanto — disse Nute.
    Victarion concordou com a cabeça, embora ele não quisesse
    compartilhar da certeza do Barbeiro. Balon teve três filhos, e uma filha que
    ele amava também.
    Ele dissera tanto para os seus capitães em Fosso Cailin, quando eles
    encorajaram-no a reclamar a Cadeira de Pedra do Mar.
    — Os filhos de Balon estão mortos — afirmou Ralf Stonehouse, o
    Vermelho — e Asha é uma mulher. Você era o braço direito de seu irmão,
    você deve pegar a espada que ele deixou cair. — Quando Victarion lembroulhes
    que Balon o ordenara a segurar o Fosso contra os homens do norte, Ralf
    Kenning disse:
    — Os lobos estão quebrados, senhor. Do que adianta ganhar o
    pântano e perder as ilhas? — E Ralf, o Coxo, acrescentou:
    — Olho de Corvo ficou muito tempo longe. Ele não nos conhece.
    Euron Greyjoy, Rei das Ilhas e do Norte. O pensamento despertou
    uma raiva antiga em seu coração, mas, mesmo assim...
    — Palavras são como o vento — Victarion lhes falou, — e o único
    vento bom é o que empurra nossas velas. Você deseja que eu lute contra
    Olho de Corvo? Irmão contra irmão, filho do ferro contra filho do ferro? —
    Euron ainda era seu irmão mais velho, não importava quanto sangue maldito
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:34 pm

    estivesse entre eles. Nenhum homem é tão amaldiçoado como aquele que
    mata um dos seus.
    Mas quando o chamado de Cabelo Molhado chegou, o chamado para
    a assembleia do rei, então tudo tinha mudado. Aeron fala com a voz do Deus
    Afogado, Victarion lembrou-se, e se é o desejo do Deus Afogado que eu
    sente na Cadeira da Pedra do Mar... No dia seguinte, ele deu o comando do
    Fosso Cailin para Ralf Kenning e partiu por terra para o Rio Febre, onde a
    Frota de Ferro descansou entre os bambus e salgueiros. Mares agitados e
    ventos inconstantes o atrasaram, mas apenas um navio foi perdido, e ele
    estava em casa.
    O Aflição e o Vingança de Ferro estavam logo atrás, e o Vitória de
    Ferro atravessava o cabo. Mais atrás, vinham o Mão Rígida, Vento de Ferro,
    Fantasma Cinza, Lorde Quellon, Lorde Vickon, Lorde Dagon, e o resto,
    nove décimos da Frota de Ferro, navegando na maré da noite numa linha
    irregular que se estendia por léguas. A visão de suas velas enchiam Victarion
    Greyjoy de satisfação. Homem nenhum amara suas esposas como o Senhor
    Capitão amou seus navios.
    Ao longo da costa sagrada de Velha Wyk, drácares cobriam a praia
    até onde os olhos podiam ver, seus mastros como lanças. Nas águas mais
    profundas passeavam prêmios: cocas, naus, e dromons conquistados com
    saques ou guerra, muito grandes para sair da costa. Da proa e popa e mastro,
    estandartes familiares se agitavam ao vento.
    Nute, o Barbeiro, estreitou os olhos na direção da costa.
    — Aquele é o Canção do Mar de Lorde Harlow? — O Barbeiro era
    um homem atarracado de pernas arqueadas e braços longos, mas seus olhos
    não eram tão perspicazes como fora quando era jovem. Naqueles dias, ele
    podia jogar um machado tão bem que diziam que podia se barbear com ele.
    — Canção do Mar, sim. — Rodrik, o Leitor, deixara para trás seus
    livros, ao que parecia. — E lá está o velho Trovejador da Drumm, com o
    Voador Noturno de Blacktyde ao seu lado. Os olhos de Victarion
    continuavam aguçados como sempre foram. — Mesmo com suas velas
    recolhidas e seus estandartes pendendo debilmente, ele os conhecia, como
    convém ao Senhor Capitão da Frota de Ferro. — O Barbatana de Prata
    também. Algum parente de Sawane Botley. — Olho de Corvo afogara Lorde
    Botley, Victarion ouvira, e seu herdeiro morrera em Fosso Cailin, mas
    houvera irmãos, como também outros filhos. Quantos? Quatro? Não, cinco,
    e nenhum deles por causa do amor a Olho de Corvo.
    E, então, ele a viu: uma galera de apenas um mastro, inclinada e
    baixa, com o casco vermelho escuro. Suas velas, agora recolhidas, eram
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:34 pm

    negras como um céu sem estrelas. Mesmo ancorado, o Silêncio parecia veloz
    e cruel. Na sua proa estava uma donzela feita de ferro negro com o braço
    estendido. Sua cintura era esbelta, seus seios, altos e orgulhosos, suas pernas,
    longas e simétricas. Um cabelo de ferro negro esvoaçado pelo vento
    ondeante em sua cabeça, e seus olhos eram madrepérola, mas ela não tinha
    boca.
    Victarion cerrou os punhos. Ele matou quatro homens com aquelas
    mãos, assim como uma esposa. Embora seus cabelos estivessem salpicados
    com geada, ele continuava forte como sempre, com o peito largo de um
    touro e a barriga lisa de um garoto. Quem mata um dos seus é amaldiçoado
    aos olhos dos deuses e dos homens, Balon o lembrara no dia que enviou
    Olho de Corvo para o mar.
    — Aqui está ele — Victarion disse ao Barbeiro. — Abaixar velas.
    Continuaremos apenas com remos. Ordene o Aflição e o Vingança de Ferro
    a ficar entre o Silêncio e o mar. O resto da frota para bloquear a baía. A
    ninguém é permitido partir, a não ser por ordem minha, nem homem nem
    corvo.
    Os homens na costa tinham espionado suas velas. Gritos ecoaram
    através da baía enquanto amigos e parentes gritavam saudações. Mas, nada
    do Silêncio. No seu convés, uma tripulação variegada de mudos e animais
    não falavam uma palavra enquanto o Vitória de Ferro passava perto.
    Homens negros como alcatrão e os outros, que estavam agachados e eram
    tão peludos como os macacos de Sothoros, fitavam-no. Monstros, Victarion
    pensou.
    Eles ancoraram a vinte jardas do Silêncio.
    — Desçam um barco. Eu irei em direção à praia. Ele afivelou seu
    talim enquanto os remadores tomavam seus lugares; sua espada repousada
    numa anca, um punhal na outra. Nute, o Barbeiro, atou a capa do Senhor
    Capitão nos seus ombros. A capa era feita de nove camadas de pano de ouro,
    costurada na forma da lula gigante da Casa Greyjoy, braços bamboleando a
    suas botas. Embaixo, ele usava pesadas cotas de malha cinza sobre couro
    preto cozido. Em Fosso Cailin ele tivera que usar cota de malha dia e noite.
    Ombros feridos e uma dor nas costas eram mais fáceis de suportar do que
    intestinos ensanguentados. As setas envenenadas dos demônios do pântano
    só precisavam arranhar um homem, e algumas horas depois ele estaria
    esguichando e gritando enquanto sua vida estaria se esvaindo pelas pernas
    em gota de vermelho e marrom. Quem quer que ganhe a Cadeira de Pedra
    do Mar, eu devo lidar com os demônios do pântano.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:34 pm

    Victarion vestiu um elmo alto e preto, na forma de uma lula de ferro,
    seus braços serpenteando nas suas bochechas para se encontrarem abaixo de
    seu queixo. Até lá, seu barco estava pronto.
    — Eu coloquei as arcas a seu comando, ele falou a Nute enquanto
    subia ao lado. —Verifique se estão fortemente guardados. — Muita coisa
    dependia das arcas.
    — Como ordena, Vossa Graça.
    Victarion franziu a testa novamente. Eu não sou rei ainda. Ele
    desceu ao barco.
    Aeron Cabelo Molhado estava esperando por ele na rebentação com
    seu cantil amarrado embaixo do braço. O sacerdote era mais baixo que
    Victarion, embora ainda fosse alto, e magro. Seu nariz erguia-se como a
    barbatana de um tubarão de rosto esquelético, e seus olhos eram como ferro.
    Sua barba alcançava a cintura, e cabelos enrolados batiam nas costas de suas
    pernas quando o vento soprava.
    — Irmão — ele disse enquanto as ondas batiam brancas e frias ao
    redor de seus tornozelos, — o que está morto jamais pode morrer.
    — Mas levanta-se novamente, mais forte e rígido. — Victarion tirou
    seu elmo e se ajoelhou. A baía preenchia suas botas e encharcava suas
    nádegas enquanto Aeron derramava água salgada na sua testa. Então eles
    oraram.
    — Onde está nosso irmão Olho de Corvo? — O Senhor Capitão
    exigiu de Aeron Cabelo Molhado quando as orações tinham terminado.
    — Sua é a grande tenda de pano de ouro, lá é onde o estrondo é o
    mais alto. Ele se cerca de ímpios e monstros, pior do que antes. Nele o
    sangue de nosso pai desandou.
    — Assim como o sangue de nossa mãe. — Victarion não falaria
    sobre matar um dos seus neste lugar religioso, debaixo dos ossos de Nagga e
    do Salão do Rei Cinza, mas muitas vezes na noite ele sonhou em atingir o
    rosto sorridente de Euron, até que sua carne se rachasse e seu sangue maldito
    corresse vermelho e livre. Eu não devo. Eu dei minha palavra a Balon.
    — Todos vieram? — Ele perguntou a seu irmão sacerdote.
    — Todos os que interessam. Os capitães e os reis. Nas Ilhas de Ferro
    eles eram os mesmos, cada capitão era um rei em seu convés, e cada rei
    deveria ser um capitão. Você quer dizer reivindicar a coroa de nosso pai?
    Victarion imaginou-se sentado na Cadeira de Pedra do Mar.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:38 pm

    — Se o Deus Afogado deseja isso.
    — As ondas falarão — disse Aeron Cabelo Molhado enquanto se
    virava. — Ouça as ondas, irmão.
    — Sim. — Ele se perguntou como seu nome soaria sussurrado pelas
    ondas e gritado pelos capitães e reis. Se a taça deve ser passada para mim,
    eu não irei recusá-la.
    Uma multidão se amontoou em volta para desejar-lhe bem e buscar
    seu favor. Victarion viu homens de todas as ilhas: Blacktyde, Tawney,
    Orkwood, Stonetree, Wynche, e muito mais. Os Bons Irmãos de Velha Wyk,
    os Bons Irmãos de Grande Wyk, e os Bons Irmãos de Montrasgo: todos
    tinham vindo. Os Codd estava lá, embora homens decentes os desprezassem.
    Pastores Humildes, tecelões, e os Netley esfregavam seus ombros com
    homens de casas antigas e orgulhosas.
    Até mesmo humildes Humble, o sangue de escravos e esposas
    pungentes. Um Volmark golpeou Victarion nas costas; dois Sparrs
    empurraram odres de vinho em suas mãos. Ele bebeu profundamente,
    limpou a boca, e os deixou lhe levar para suas fogueiras, para ouvir suas
    conversas de guerra, de coroas e pilhagem, e a glória e a liberdade de seu
    reino.
    Naquela noite, os homens da Frota de Ferro ergueram uma enorme
    tenda de lona sobre a terra coberta pela preamar, então Victarion poderia
    festejar com meia centena de capitães famosos com carneiro assado,
    bacalhau salgado e lagosta. Aeron também veio. Ele comeu peixe e bebeu
    água, enquanto os capitães bebiam cerveja o suficiente para fazer com que a
    Frota de Ferro flutuasse. Muitos prometeram a ele suas vozes: Fralegg, o
    Forte, destro Alvyn Sharp, Hotho Harlaw corcunda. Hotho o ofereceu uma
    filha de sua rainha.
    — Eu não tenho sorte com esposas — Victarion lhe contou. Sua
    primeira esposa morreu no parto, dando-o uma filha natimorta. Sua segunda
    tivera varíola. E a sua terceira...
    — Um rei deve ter um herdeiro — Hotho insistiu. — Olho de Corvo
    traz três filhos para mostrar antes da assembleia do rei.
    — Bastardos e animais. Qual a idade dessa filha?
    — Doze, disse Hotho. Bela e fértil, recentemente florida, com
    cabelo da cor de mel. Seus peitos são pequenos ainda, mas ela tem boas
    ancas. Saiu mais a sua mãe do que a mim.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:39 pm

    Victarion sabia que aquilo queria dizer que a menina não tinha uma
    corcunda. Entretanto, quando ele tentou imaginá-la, só viu a esposa que
    tinha matado. Ele soluçava a cada vez que a atingia, e depois a levou para as
    rochas embaixo, para dá-la aos caranguejos.
    — Uma vez que eu esteja coroado, eu irei com prazer olhar essa
    menina — ele disse. Aquilo era mais do que Hotho ousava esperar, e ele saiu
    bamboleando, contente.
    Baelor Blacktyde era mais difícil de agradar. Ele se sentou ao
    cotovelo de Victarion, na sua túnica de lã de carneiro que variava de verde a
    preto, sereno e agradável. Sua capa era negra, com uma estrela de sete
    pontas prateada. Ele fora refém por oito anos em Vilavelha, e retornara como
    um adorador dos deuses das sete ilhas verdes.
    — Balon estava furioso, Aeron está mais furioso, e Euron é o mais
    furioso de todos, Lorde Baelor disse. E você, Senhor Capitão? Se eu gritar o
    seu nome, você dará um fim nessa guerra furiosa?
    Victarion franziu as sobrancelhas.
    — Você se dobraria aos meus joelhos?
    — Se preciso for. Nós não podemos ficar sozinhos contra todos os
    homens de Westeros. O Rei Robert provou isso, para nossa tristeza. Balon
    pagaria o preço de ferro pela liberdade, ele disse, mas nossas mulheres
    compraram as coroas de Balon com camas vazias. O Costume Antigo
    acabou.
    — O que está morto jamais pode morrer, mas levanta-se novamente
    mais forte e rígido. Em cem anos, homens cantarão sobre Balon, o Valente.
    — Balon, o Viuveiro, chamam ele. Eu irei alegremente negociar sua
    liberdade por um pai. Você tem um para me dar? — Como Victarion não
    respondeu, Blacktyde bufou e se afastou.
    A tenda crescia quente e fumacenta. Dois dos filhos do Bom Irmão
    Gorold derrubavam uma mesa lutando; Will Humble perdeu uma aposta e
    teve que comer sua bota; Lenwood Tawney, o Pequeno, tocava rabeca
    enquanto Rommy, o Tecelão cantava: ‘A Taça Sangrenta’ e ‘Chuva de Aço’
    e outras velhas canções arrebatadoras. Qarl, o Donzela, e Eldred Codd
    dançaram a dança do dedo. Um gargalhada estrondosa veio quando um dos
    dedos de Eldred pousou na taça de vinho de Ralf, o Coxo.
    Uma mulher estava no meio das risadas. Victarion se ergueu e a viu
    perto da tenda, sussurrando alguma coisa no ouvido de Qarl, o Donzela, que
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:39 pm

    o fazia rir. Ele esperara que ela não fosse boba o suficiente para vir aqui, no
    entanto a visão dela fê-lo sorrir de qualquer forma.
    — Asha, ele chamou numa voz comandante. Sobrinha.
    Ela andou até seu lado, magra e leve, em botas altas de couro
    manchadas do sal, calções verdes de lã, uma túnica marrom acolchoada, e
    um gibão de couro sem mangas meio amarrado.
    — Tio. — Asha Greyjoy era alta para uma mulher, mas ela tinha que
    ficar na ponta dos pés para beijá-lo na bochecha. Estou feliz de te ver na
    minha assembleia da rainha.
    — Assembleia da rainha? Victarion riu. Você está bêbada, sobrinha?
    Sente-se. Eu não vi o seu Vento Negro na praia.
    — Eu o puxei para perto do castelo do Bom Irmão Norne e ancorei
    na ilha. — Ela se sentou em um banquinho e se serviu do vinho de Nute, o
    Barbeiro. Nute não objetou; ele desmaiara de bêbado pouco tempo antes.
    — Quem defende o Fosso?
    — Ralf Kenning. Com o Jovem Lobo morto, apenas os demônios do
    pântano sobram para nos atormentar.
    — Os Stark não eram os únicos homens do norte. O Trono de Ferro
    nomeou o Senhor do Forte do Pavor como Protetor do Norte.
    — Você me ensinaria a guerra? Eu estava lutando em batalhas
    quando você chupava o leite de sua mãe.
    — E perdendo em batalhas também. — Asha tomou um pouco de
    vinho.
    Victarion não gostou de ser lembrado da Ilha do Justo.
    — Todo homem deveria perder uma batalha em sua juventude,
    assim ele não perde uma guerra quando já é velho. Você não veio para fazer
    uma reivindicação, espero.
    Ela o provocou com um sorriso.
    — E se eu vim?
    — Há homens que se lembram de quando você era uma menina,
    nadando nua no mar e brincando com sua boneca.
    — Eu brincava com machados também.
    — Sim — ele tinha que admitir — mas uma mulher quer um
    marido, não uma coroa. Quando eu for rei, lhe darei uma.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:40 pm

    — Meu tio é tão bom pra mim. Devo encontrar uma esposa para
    você, quando eu for rainha?
    — Não tenho sorte com esposas. Há quanto tempo está aqui?
    — Tempo o suficiente para ver que Tio Cabelo Molhado despertou
    mais do que pretendia. Drumm pretende fazer uma reivindicação, e Tarle, o
    Três Vezes Afogado, foi ouvido para dizer que Maron Volmark é o
    verdadeiro herdeiro da linha negra.
    — O rei deve ser uma lula gigante.
    — Olho de Corvo é uma lula gigante. O irmão mais velho vem antes
    do mais novo. — Asha chegou mais perto. — Mas eu sou a criança do corpo
    do Rei Balon, assim, eu venho primeiro que vocês dois. Ouça-me, tio...
    Mas então um silêncio repentino surgiu. A cantoria morreu,
    Lenwood Tawney, o Pequeno, abaixou sua rabeca, homens viraram suas
    cabeças. Até mesmo o ruído dos pratos e facas silenciaram.
    Uma dúzia de recém-chegados entrara no banquete da tenda.
    Victarion viu Jon Myre Cara Apertada, Torwold Dente Marrom, Lucas
    Codd, o Mão Esquerda. Germund Botley cruzou os braços contra a couraça
    dourada que tirara de um capitão Lannister durante a rebelião de Balon.
    Orkwood de Orkmont estava ao seu lado. Atrás deles estavam Mão de Pedra,
    Quellon, o Humilde, Remador Vermelho com seus cabelos de fogo trançado.
    Ralf, o Pastor, também, e Ralf de Fildaporto, e Qarl, o Escravo.
    E Olho de Corvo, Euron Greyjoy.
    Ele continua o mesmo, Victarion pensou. Ele parecia o mesmo de
    antes, o dia em que ele riu de mim e partiu. Euron era o mais encantador dos
    filhos de Lorde Quellon, e três anos de exílio não tinham mudado isso. Seu
    cabelo ainda era negro como o mar da meia-noite, com nenhuma crista a ser
    vista, e seu rosto ainda era brando e pálido debaixo de sua barba negra e
    limpa. Um pedaço de couro preto cobria o olho esquerdo de Euron, mas o
    seu direito era azul como o céu de verão.
    Seu olho sorridente, pensou Victarion.
    — Olho de Corvo — ele disse.
    — Rei Olho de Corvo — irmão. Euron sorriu. Seus lábios pareciam
    tão negros na luz das lanternas, machucado e azul.
    — Não teremos mais rei, a não ser na assembleia do rei. — Cabelo
    Molhado ficou em pé. Nenhum homem ímpio...
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:40 pm

    —... pode sentar na Cadeira de Pedra do Mar, sim. — Euron olhou
    para a tenda. — A casualidade das muitas vezes que tenho me sentado na
    Cadeira de Pedra do Mar ultimamente. Isto não levanta nenhuma objeção. —
    Seu olho sorridente estava brilhando. — Quem sabe mais de deuses do que
    eu? Deuses de cavalos e deuses de fogo, deuses feitos de ouro com olhos de
    gema, deuses entalhados em madeira de cedro, deuses cinzelados em
    montanhas, deuses do ar vazio... Eu conheço todos eles. Eu vi seus povos os
    afestoando com flores, e derramando o sangue de bodes, de touros e de
    crianças em seus nomes. E eu ouvi orações, de centenas de línguas. Cure
    minha perna mirrada, faça as virgens me amarem, conceda-me um filho
    saudável. Salve-me, socorra-me, faça-me próspero... proteja-me! Proteja-me
    de meus inimigos, proteja-me da escuridão, proteja-me dos caranguejos em
    minha barriga, dos senhores de cavalos, dos traficantes de escravos, dos
    mercenários na minha porta. Proteja-me do Silêncio. — Ele riu.
    — Ímpio? Por que, Aeron, eu sou o homem mais ímpio de todos
    nascido pra velejar! Você serve a um deus, Cabelo Molhado, mas eu servi a
    dez mil. De Ib à Asshai, quando os homens vêem minhas velas, eles oram.
    O sacerdote ergueu um dedo esquelético.
    — Eles oram para árvores e ídolos de ouro e abominações com
    cabeça de bode. Falsos deuses...
    — Certamente — disse Euron — e por esse pecado mato todos eles.
    Eu derramo seu sangue no mar e semeio suas mulheres com minha semente.
    Seus deusinhos não podem me impedir, claramente eles são falsos deuses.
    Eu sou mais devoto até mesmo que você, Aeron. Talvez seja você quem
    devesse se ajoelhar e me pedir bênçãos.
    Remador Vermelho riu alto, e os outros assumiram o comando dele.
    — Tolos, disse o sacerdote, tolos, escravos e cegos, isto é o que
    vocês são. Vocês não vêem o que está diante de vocês?
    — Um rei — disse Quellon Humble.
    Cabelo Molhado cuspiu, e andou a passos largos na noite.
    Quando ele se foi, Olho de Corvo virou-se sorrindo à Victarion.
    — Senhor Capitão, você não dará boas vindas a um irmão que
    estava longe? Nem você, Asha? Como passa sua mãe?
    — Miseravelmente, Asha disse. Algum homem fez dela viúva.
    Euron encolheu os ombros.
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    O Festim dos Corvos - Página 11 Empty Re: O Festim dos Corvos

    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:40 pm

    — Eu ouvi que o Deus da Tempestade varreu Balon à morte. Quem
    é esse homem que o matou? Diga-me seu nome, sobrinha, e eu porei minha
    vingança sobre ele.
    Asha levantou-se.
    — Você sabe seu nome tanto quanto eu. Por três anos você esteve
    longe de nós, e, no entanto, o Silêncio retorna um dia após a morte de meu
    pai.
    — Está me acusando? — Euron perguntou suavemente.
    — Devo? — A severidade na voz de Asha fez Victarion franzir as
    sobrancelhas. Era perigoso falar com Olho de Corvo daquele jeito, mesmo
    quando seu olho sorridente brilhava com deleite.
    — Eu comando os ventos? — Olho de Corvo perguntou aos seus
    favoritos.
    — Não, Vossa Graça — disse Orkwood de Orkmont.
    — Homem nenhum comanda os ventos — disse Germund Botley.
    — Comandaria se fosse você — disse o Remador Vermelho. —
    Você velejaria quando quisesse e nunca seria acalmado.
    — Aí está, da boca de três homens corajosos — Euron disse. — O
    Silêncio estava ao mar quando Balon morreu. Se duvida de uma palavra de
    um tio, lhe dou permissão para perguntar à tripulação.
    — Uma tripulação de mudos? Sim, isto serviria bem.
    — Um marido ia servir-lhe bem. — Euron voltou-se a seus
    seguidores de novo. —Torwold, eu tenho uma memória fraca, você tem uma
    esposa?
    — Só uma. — Torwold Dente Marrom arreganhou os dentes, e
    mostrou como tinha ganhado seu nome.
    — Eu sou solteiro — anunciou Lucas Codd, o Mão Esquerda.
    — E por uma boa razão — Asha disse. — Todas as mulheres
    desprezam os Codds. Não olhe para mim tão miseravelmente, Lucas. Você
    ainda tem sua famosa mão. — Ela fez um movimento com seu punho.
    Codd xingou, até que Olho de Corvo colocou a mão sobre seu peito.
    — Isso não foi delicado, Asha. Você feriu Lucas em carne viva.
    — Mais fácil do quer feri-lo no pau. Eu jogo um machado tão bem
    quanto um homem, mas quando o alvo é tão pequeno...
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:40 pm

    — Essa menina perdeu a cabeça — rosnou Jon Myre, o Cara
    Apertada. — Balon a deixou acreditar que ela era um homem.
    — Seu pai cometeu o mesmo erro com você — disse Asha.
    — A de para mim, Euron — sugeriu o Remador Vermelho. — Eu
    darei palmadas nela até seu traseiro ficar vermelho como meu cabelo.
    — Tente — disse Asha — e depois nós podemos te chamar de
    Eunuco Vermelho. —Um machado estava em sua mão. Ela o jogou no ar e o
    pegou com destreza. — Aqui está meu marido, tio. Homem que me queira
    deve ter isto com ele.
    Victarion bateu o punho na mesa.
    — Eu não quero sangue derramado aqui. Euron vá embora com os
    seus... Favoritos.
    — Eu esperava boas-vindas mais calorosas de você, irmão. Eu sou o
    seu irmão mais velho... Em breve, seu legítimo rei.
    O rosto de Victarion escureceu.
    — Quanto à assembleia do rei, nós veremos quem usará a coroa de
    madeira.
    — Nisso nós concordamos. — Euron ergueu dois dedos em direção
    ao couro que cobria seu olho esquerdo, e foi embora. Os outros o seguiram
    grudados ao seu calcanhar, como cachorros. O Silêncio demorava-se atrás
    deles, até Lenwood Tawney, o Pequeno pegar sua rabeca. O vinho e a
    cerveja começaram a fluir novamente, mas vários convidados tinham
    perdido a vontade. Eldred Codd saiu rapidamente, embalando sua mão
    ensanguentada. Então, Will Humble, Hotho Harlaw, e boa parte dos Bons
    Irmãos.
    — Tio. — Asha colocou sua mão sobre seu ombro. — Caminhe
    comigo, se você quiser.
    Do lado de fora da tenda o vento soprava cada vez mais forte.
    Nuvens corriam sobre o rosto pálido da lua. Elas pareciam um pouco com
    galeras, remadas fortemente. As estrelas eram poucas e lânguidas. Por toda a
    praia os dracares descansavam, mastros altos se erguiam como uma floresta
    crescendo da espuma das ondas. Victarion podia ouvir seus cascos rangendo
    enquanto eles se assentaram na areia. Ele ouviu o lamentar de seus forros, o
    soar dos estandartes agitando-se ao vento. Além, nas águas profundas da
    baía, grandes barcos ancoravam sombras horríveis envolvidas na névoa.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:40 pm

    Eles andaram pela praia juntos, acima da espuma do mar, longe dos
    acampamentos e fogueiras.
    — Diga-me a verdade, tio. — Disse Asha. — Por que Euron se foi
    tão repentinamente?
    — Olho de Corvo muitas vezes foi um saqueador.
    — Nunca por tanto tempo.
    — Ele levou o Silêncio para o leste. Uma longa viagem.
    — Eu perguntei por quê ele foi, não onde. — Como ele não respoe,
    Asha disse. — Eu estava longe quando o Silêncio velejou. Eu levei o Vento
    Negro da Árvore para os Degraus, para roubar algumas jóias sem valor dos
    piratas de Lyseni. Quando eu voltei, Euron tinha-se-ido e sua nova esposa
    estava morta.
    — Ela era só uma esposa indecente. Ele não tocara em outra mulher
    desde que ele a deu aos caranguejos. Eu precisarei de uma esposa quando for
    rei. Uma esposa de verdade, para ser minha rainha e dar-me filhos. Um rei
    deve ter um herdeiro.
    — Meu pai se recusa a falar com ela — disse Asha.
    — Não traz bem algum falar de coisas que nenhum homem pode
    mudar. — Ele estava se cansando do assunto. Eu vi o drácar do Leitor.
    — Levou todo meu charme piscar pra ele sair da Torre do Livro.
    Ela tinha os Harlaws, então. Victarion franziu a testa ainda mais.
    — Você não pode aspirar governar. Você é uma mulher.
    — É por causa disso que eu sempre perco as competições de mijo?
    — Asha riu. — Tio, isto me aflige, mas você pode estar certo. Por quatro
    dias e quatro noites, eu tenho estado a beber com os capitães e os reis,
    ouvindo ao que eles dizem... e ao que eles não irão dizer. Estou comigo
    mesma, e muitos Harlaw. E Tris Botley também, e alguns outros. Não é o
    suficiente. — Ela chutou uma pedra que foi chapinhando na água entre dois
    dracares. — Tenho em mente gritar o nome do meu tio.
    — Qual? — Ele exigiu. — Você tem três.
    — Quatro. Tio, ouça-me. Eu mesma colocarei a coroa de madeira na
    sua testa... Se você concordar em dividir o trono.
    — Dividir o trono? Como? — A mulher falava coisas sem sentido.
    Queria ela ser uma rainha? Victarion achou-se olhando para Asha de um
    jeito que nunca fizera. Ele podia sentir sua virilidade começar a endurecer.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:41 pm

    Ela é a filha de Balon, ele lembrou a si mesmo. Ele recordou de quando ela
    era uma menina, jogando machados na porta. Cruzou os braços contra o
    peito. Na Cadeira da Rocha do Mar só um se senta.
    — Então, meu tio senta — Asha disse. — Eu estarei atrás de você,
    protegendo-o e sussurrando em seu ouvido. Nenhum rei pode governar
    sozinho. Mesmo quando os dragões sentaram no Trono de Ferro, tinham
    homens para ajudá-los. As Mãos do Rei. Deixe-me ser sua mão, Tio.
    Nenhum Rei das Ilhas precisou de uma Mão, muito menos a de uma
    mulher. Os capitães e os reis zombariam de mim.
    — Por que você desejaria ser minha Mão?
    — Para acabar com essa guerra antes que ela acabe conosco. Nós
    ganhamos tudo o que queríamos ganhar... E ficamos para perder tudo tão
    rápido, a não ser que nós façamos a paz. Eu mostrei a Senhora Glover toda
    cortesia, e ela jurou que o seu senhor entraria em entendimento comigo. Se
    nós devolvermos Bosque Profundo, Praça de Torrhen e Fosso Cailin, ela diz,
    os homens do norte nos cederão a Ponta do Dragão Marinho e toda a Costa
    Pedregosa. Essas regiões são poucos povoadas, mas dez vezes maiores do
    que as ilhas todas juntas. Uma troca de reféns selará o pacto, e cada lado
    concordará com o outro na junção do Trono de Ferro.
    Victarion riu.
    — Esta Senhora Glover a faz de tola, sobrinha. O Ponta do Dragão
    Marinho e a Costa Pedregosa são nossos. Por que devolver alguma coisa?
    Winterfell está queimada e destruída, e o Jovem Lobo apodrece
    imprudentemente na terra. Nós teremos todo o norte, como o senhor seu pai
    sonhou.
    — Quando os dracares aprenderem a remar através de árvores,
    talvez. Um pescador pode pegar um leviatã cinza, mas ele iria levá-lo ao
    fundo do oceano e morreria, a não ser que o pescador cortasse a linha. O
    norte é muito grande para nós mantermos, e muito cheio de homens do norte.
    — Volte para suas bonecas, sobrinha. Deixe a vitória das guerras
    para os guerreiros. — Victarion mostrou a ela seus punhos. — Eu tenho duas
    mãos. Nenhum homem precisa de três.
    — Embora eu conheça um homem que precise da Casa Harlaw.
    — Hotho, o Corcunda ofereceu-me sua filha para ser minha rainha.
    Se eu ficar com ela, eu terei os Harlaw.
    Aquilo fez a garota pestanejar.

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