— É o som do desespero, e para isso não há poções. Deixa que as lágrimas
sigam seu curso, Sam. Não se pode conter a maré com um muro.
Sam não compreendeu nada.
— Está indo para um lugar seguro. Para um lugar quente. Porque
estaria desesperada?
— Sam — sussurrou o ancião. — Tens dois olhos que te servem,
mas não vê nada. É uma mãe que chora por seu filho.
— Ele não está doente; está enjoado, igual a todos nós. Logo
chegaremos ao porto de Bravos...
—... E o bebê continuará sendo o filho de Dalla, não fruto de seu
ventre.
Sam demorou um momento para entender o que Aemon estava
insinuando.
— Não é possível... Ela jamais... Claro que é seu. Goiva jamais
haveria saído da Muralha sem o seu filho. Ela o ama.
— Amamentou os dois e amava os dois. — Replicou Aemon. —
Mas não da mesma maneira. Não há mãe que ame seus filhos todos por
igual, nem sequer a Mãe Divina. E Goiva jamais haveria deixado o menino
por sua própria vontade, estou certo. Não sei com o que a ameaçou o Lorde
Comandante, nem o que lhe prometeu; só posso imaginar... Mas não tenho
dúvidas de que houve ameaças e promessas.
— Não. Não é possível. Jon jamais...
— Jon jamais faria algo assim. Lorde Snow o fez. Às vezes não há
uma boa opção, Sam, somente uma menos dolorosa que as outras.
Não há boa opção. Sam pensou em tudo o que ele e Goiva sofreram;
na casa de Craster, na morte do Velho Urso, no gelo, na neve e nos ventos
gélidos, nos dias e mais dias de caminhada, nos espectros da Árvore Branca,
em Mãos-frias e a árvore dos corvos, na Muralha, na Muralha, na Muralha...
A Porta Negra, embaixo da terra. E tudo para quê? Não há boa opção, não
há final feliz.
Queria gritar. Queria uivar, soluçar, tremer e sentar-se para lamentar.
Trocou os bebês. Trocou os bebês para proteger o príncipe, para
distanciá-lo das fogueiras da Senhora Melisandre e de seu deus vermelho.
Se fizer arder o bebê de Goiva, a quem importa? A ninguém mais do que a
ela. Na verdade, não era mais que um cachorro de Craster, uma