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    O Festim dos Corvos

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    O Festim dos Corvos - Página 15 Empty Re: O Festim dos Corvos

    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:12 pm

    cachorros que latiam e grunhiam, nem cavaleiros treinando no pátio. Até as
    pisadas dos guardas soavam estranhas, amortecidas, quando percorriam os
    salões de pedra branca. Ouvia-se o som do vento que gemia em torno das
    torres, mas nada mais. Quando chegou ao Ninho da Águia se ouvia também
    o barulho das Lágrimas de Alyssa, mas a cascata se havia congelado.
    Gretchel lhe disse que permaneceria em silencio até a primavera.
    Lorde Robert estava sozinho no Salão Matinal, por cima das
    cozinhas, passando com indiferença uma colher de madeira por uma tigela
    de sopa de aveia com mel.
    — Queria ovos. — Se queixou quando a viu. — Queria três ovos
    fritos e um pedaço de bacon.
    Não tinham ovos, assim como não tinham bacon. Os celeiros do
    Ninho da Águia continham aveia, milho e cevada suficientes para alimentálos
    durante um ano, mas era uma garota bastarda, uma tal Mya Stone, quem
    subia os alimentos frescos do Vale. Depois que os Senhores Rebeldes
    acamparam ao pé da montanha, Mya já não podia passar. Lord Belmore, que
    havia sido o primeiro dos seis a se apresentar nas Portas, enviou um corvo a
    Mindinho para lhe comunicar que o Ninho da Águia não receberia mais
    comida até que lhes enviassem Lorde Robert. Não era uma chantagem, mas
    se parecia muito com isso.
    — Quando Mya vier, poderá comer tantos ovos quanto quiser. —
    Prometeu Alayne ao pequeno senhor. — Trará ovos, manteiga, melões e
    outras coisas muito gostosas.
    Não conseguiu acalma-lo.
    — Eu queria ovos hoje.
    — Não há ovos, pequeno Robert, você já sabe disso. Por favor,
    coma a aveia, está muito gostosa. — Tomou uma colherada de sua tigela
    para dar exemplo.
    Robert voltou a passear a colher pela tigela, mas não a levou aos
    lábios.
    — Não tenho fome — disse finalmente. — Quero voltar para a
    cama. Não dormi nada esta noite. Dava para ouvir as músicas. O Meistre
    Colemon me deu vinho do sono, mas continuei ouvindo.
    Alayne deixou a colher.
    — Se houvesse alguém cantando, eu também haveria ouvido. Foi
    um pesadelo, nada mais.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:12 pm

    — Não, não foi um pesadelo. — Seus olhos se encheram de
    lágrimas. — Marillion estava cantando outra vez. Seu pai disse que está
    morto, mas é mentira.
    — É verdade. — Lhe dava medo ouvi-lo falar assim. Já tem
    problemas o bastante por ser pequeno e doente, e se estiver ficando louco?
    — É verdade, pequeno Robert. Marillion amava demais a sua mãe e não
    podia viver com o que lhe havia feito, assim caminhou até o céu. — Alayne
    não havia visto o cadáver, como tampouco o havia visto Robert, mas não
    duvidava que o cantor estivesse morto. — Ele se foi, com certeza.
    — Mas se eu o ouço todas as noites... Ainda que eu feche os olhos e
    enfie a cabeça embaixo da almofada. Seu pai deveria lhe ter cortado a língua.
    Eu lhe disse, mas ele não quis.
    Ele precisava da língua de Marillion para que ele pudesse
    confessar.
    — Seja bom e coma a aveia. — Lhe suplicou Alayne. — Anda, por
    favor. Faça por mim.
    — Não quero aveia. — Robert atirou a colher ao outro lado do
    aposento. Foi parar em uma cortina de uma parede, e deixou uma mancha
    em uma renda de seda branca. — O senhor quer ovos!
    — O senhor comerá a aveia e agradecerá. — A voz de Petyr soou
    atrás deles.
    Alayne se virou e o viu na porta de entrada, ao lado de meistre
    Colemon.
    — Deveria obedecer ao Lord Protetor, meu senhor — disse o
    meistre. — Os senhores seus vassalos estão subindo para prestar-lhe
    homenagem, e tem que estar forte.
    Robert esfregou o olho esquerdo com a mão.
    — Expulse-os. Não quero vê-los. Se vierem, os farei voar.
    — É tentador para mim também, meu senhor, mas temo que lhes
    prometi um salvo-conduto — disse Petyr. — Em todo caso, é muito tarde
    para que deem a volta. Já devem estar na altura da Pedra.
    — Por que não nos deixam em paz? — Soluçou Alayne. — Não
    fizemos nada a eles. Que eles querem de nós?
    — Lorde Robert, nada mais. E com ele, o Vale, claro. — Petyr
    sorriu. — Serão oito. Lorde Nestor os guia, e Lyn Corbray os acompanha.
    Sor Lyn não é dos que ficam para trás quando há a perspectiva de sangue.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:12 pm

    Não eram precisamente as palavras que podiam acalmar os seus
    temores. Lyn Corbray havia matado quase tantos homens em duelos como
    em batalha. Sabia que havia ganhado as esporas durante a Rebelião de
    Robert, lutando contra Lorde Jon Arryn nas portas de Vila Gaivota, e mais
    tarde, sob o seu estandarte no Tridente, onde matou o príncipe Lewyn de
    Dorne, um cavaleiro branco da Guarda Real. Petyr dizia que o príncipe
    Lewyn já estava gravemente ferido quando o desfecho da batalha o levou à
    dança final com a Dama Desesperada.
    — Mas não é um tema que interesse discutir na frente de Corbray —
    dizia. — Aqueles que se atrevem, logo têm a chance perguntar ao próprio
    Martell nas salas do inferno.
    Se devia acreditar na metade do que tinha ouvido comentarem os
    guardas de Lorde Robert, Lyn Corbray era mais perigoso que os outros seis
    Senhores Rebeldes juntos.
    — Porque vem? — Perguntou. — Pensei que os Corbray estavam do
    seu lado.
    — Lorde Lyonel Corbray tem boa disposição comigo — disse Petyr.
    — Mas o seu irmão segue outro caminho. No Tridente, quando seu pai caiu
    ferido, foi Lyn quem pegou a Dama Desesperada e matou o homem que o
    havia derrubado. Enquanto Lyonel levava o velho à retaguarda, com os
    meistres, Lyn encabeçou o ataque contra os dorneses que ameaçavam o
    flanco esquerdo de Robert, fez em pedaços suas linhas de defesa e matou
    Lewyn Martell. Assim que Lorde Corbray morreu, entregou a Dama ao seu
    filho menor. Lyonel ficou com as terras, o título, o castelo e todo o seu
    dinheiro, mas ainda assim tem a impressão de que lhe roubaram o que lhe
    corresponde por direito, enquanto que Sor Lyn... Bom, digamos que dedica a
    Lyonel tanto carinho como a mim. Ele também aspirava à mão de Lysa.
    — Não gosto de Sor Lyn — insistiu Robert. — Não o quero aqui.
    Que permaneça embaixo. Não lhe mandei que subisse. Que não entre. Minha
    mãe dizia que o Ninho da Águia é inexpugnável.
    — Sua mãe está morta, meu senhor. Até o décimo sexto dia do seu
    nome, o Ninho da Águia será governado por mim. — Petyr se voltou para a
    criada encurvada que aguardava perto das escadas que conduziam à cozinha.
    — Mela, traga outra colher para o seu senhor. Ele quer comer a aveia.
    — Não quero! Que voe a sopa de aveia!
    Naquele momento, Robert lançou a tigela de aveia com mel. Petyr
    Baelish se virou para o lado com facilidade, mas Meistre Colemon não foi
    tão rápido. A tigela de madeira o acertou em cheio no peito, e o conteúdo se
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:12 pm

    esparramou na sua cara e nos ombros. Gritou de maneira muito pouco
    apropriada para um meistre enquanto Alayne tentava acalmar o pequeno
    senhor, mas era tarde demais. Estava tendo um ataque. Uma jarra de leite
    saiu voando quando a derrubou com um espasmo. Tratou de se levantar, mas
    a cadeira caiu para trás, e com ela, o menino. Um de seus pés acertou Alayne
    no ventre com tanta força que lhe cortou a respiração.
    — Oh, pelos deuses — ouviu dizer Petyr, com nojo.
    Os restos de aveia salpicavam o rosto e o cabelo do Meistre
    Colemon quando se ajoelhou junto ao seu protegido para lhe sussurrar
    palavras tranquilizadoras. Um caroço deslizou pela bochecha direita, como
    uma lágrima marrom-acinzentada. Não é tão grave quanto o ataque
    anterior, pensou Alayne, tratando de recuperar a esperança. Quando deixou
    de tremer, dois guardas com capas azul-celeste e cotas de malha prateada
    acudiram à chamada de Petyr.
    — Levem-no para a cama e o sangrem — disse o Lorde Protetor, e o
    guarda mais alto pegou o menino nos braços.
    Até eu poderia levá-lo, pensou Alayne. Pesa menos que uma boneca.
    Colemon se deteve um instante antes de segui-lo.
    — Talvez fosse melhor deixar esta reunião para um outro dia, meu
    senhor. Os ataques dele tem piorado desde a morte da Senhora Lysa. São
    cada vez mais frequentes e violentos. O sangro tanto quanto me atrevo, e
    misturo vinho do sono com o leite da papoula para ajudá-lo a dormir, mas...
    — Dorme doze horas por dia — replicou Petyr. — Necessito dele
    desperto de tempos em tempos.
    O meistre passou a mão pelos cabelos, jogando no chão vários
    caroços de aveia.
    — Quando ele se sobressaltava em excesso, a Senhora Lysa lhe dava
    o peito. O Arquimeistre Ebrose assegura que o leite materno tem muitas
    propriedades saudáveis.
    — É isso o que me aconselha, meistre? Que lhe busquemos uma ama
    de leite para o senhor do Ninho da Águia e Defensor do Vale? Quando
    vamos desmamá-lo? No dia do seu casamento? Assim poderá passar
    diretamente do mamilo de sua ama para o de sua esposa. — A gargalhada de
    Lorde Petyr deixou bem clara a sua opinião. — Não, muito obrigado. Sugiro
    que busquemos outro sistema. O garoto gosta de doces, não?
    — Doces?
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:12 pm

    — Doces. Tortas, pastéis, marmeladas, gelatina, pedaços de pão com
    mel... Já tentou pôr um pouquinho de sonho doce no leite? Só um
    pouquinho, o suficiente para acalmá-lo e acabar com esses tremores
    infernais.
    — Um pouquinho? — O meistre tragou saliva, e o seu pomo se
    moveu para cima e para baixo na garganta. — Uma pequena pitada... É
    possível, é possível. Não muito, e nem sempre, mas eu poderia tentar...
    — Uma pitada — repetiu Lorde Petyr. — Antes que o leve para
    receber os senhores.
    — Como ordenar, meu senhor.
    O meistre saiu apressadamente, com o colar tilintando a cada passo.
    — Pai — disse Alayne quando ficaram a sós. — Quer uma tigela de
    aveia para o desjejum?
    — Não gosto de aveia. — Ele a olhou com os olhos de Mindinho. —
    Prefiro desjejuar com um beijo.
    Uma boa filha jamais negaria um beijo a seu pai, assim que Alayne
    se adiantou e lhe deu um beijo rápido na bochecha, e retrocedeu igualmente
    rápida.
    — Que... obediente. — Mindinho sorriu com a boca, não com os
    olhos. — Enfim, há outras instruções que terá de dar aos serviçais. Diga aos
    cozinheiros que façam uma infusão de vinho tinto com mel e passas. Nossos
    hóspedes estão realizando uma longa subida, terão frio e estarão com sede.
    Quando chegarem, terá que sair para recebê-los e oferecer-lhes as boasvindas.
    Vinho, queijo e pão. Que queijos ainda nos restam?
    — O branco forte e o azul que cheira mal.
    — O branco. E será melhor que troque de roupa.
    Alayne olhou seu vestido, azul-escuro e vermelho, as cores de
    Correrrio.
    — É muito...?
    — É muito Tully. Os Senhores Rebeldes não gostarão de ver a
    minha filha bastarda se pavoneando com a roupa de minha esposa falecida.
    Escolha outra roupa. Tenho de lhe lembrar que não deve escolher azulceleste
    ou creme?
    — Não — o azul-celeste e o creme eram as cores da casa Arryn. —
    O senhor disse que são oito pessoas? Yohn Bronze é um deles?
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:12 pm

    — É o único que importa.
    — Yohn Bronze me conhece — lhe recordou. — Foi nosso
    convidado em Winterfell quando seu filho foi para o norte vestir o negro. —
    Tinha uma vaga recordação de haver se enamorado loucamente de Sor
    Waymar, mas aquilo fazia muito tempo, toda uma vida, havia ocorrido
    quando ainda era uma garotinha estúpida. — E não foi a única vez. Lord
    Royce viu... Viu Sansa Stark outra vez em Porto Real, durante o torneio da
    Mão.
    Petyr pôs um dedo por baixo da barbicha.
    — Com certeza Royce viu este rosto tão bonito, mas para ele foi
    apenas um em um milhão. Quando alguém participa de um torneio, tem
    coisas mais importantes com que se preocupar do que uma garotinha na
    multidão. E em Winterfell, Sansa era uma garotinha de cabelo castanhoavermelhado.
    Minha filha é uma donzela alta e formosa, com o cabelo
    escuro. Os homens veem o que esperam ver, Alayne. — A beijou no nariz.
    — Diga a Maddy que acenda a lareira nos meus aposentos. Receberei ali os
    Senhores Rebeldes.
    — Não na Sala Alta?
    — Não. Não queiram os deuses que me vejam perto do trono dos
    Arryn; poderiam crer que penso em me sentar lá. Umas nádegas de tão baixa
    estirpe como as minhas não poderiam aspirar a almofadas tão fofas.
    — Nos seus aposentos. — Teria que se haver detido, mas as palavras
    lhe escaparam sem que pudesse se conter. — Se você entregar Robert a
    eles...
    — E o Vale?
    — Já têm o Vale.
    — Boa parte, sim, é verdade. Mas não todo. Vila Gaivota têm apreço
    por mim, e também conto com a lealdade e a amizade de alguns senhores.
    Grafton, Lynderly, Lyonel Corbray... Não são rivais para os Senhores
    Rebeldes, claro. Além disso, aonde queria que fôssemos, Alayne? À minha
    impressionante fortaleza nos Dedos?
    Já havia pensado nisso.
    — Joffrey outorgou a você Harrenhal. Ali você é o senhor em pleno
    direito.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:13 pm

    — Só tenho o título. Precisava de um assentamento importante para
    me casar com Lysa, e os Lannister não estavam dispostos a me conceder
    Rochedo Casterly.
    — Sim, mas o castelo é seu.
    — Que castelo. Salões cavernosos, torres em ruínas, fantasmas e
    correntes de ar. Esquentá-lo é difícil; defendê-lo, impossível... E também
    está em questão o assunto da maldição.
    — As maldições só existem nas canções e nos contos.
    Aquilo lhe fez achar graça.
    — Quem compôs a canção sobre a morte de Gregor Clegane pela
    ferida de uma lança envenenada? Ou do mercenário que o precedeu, aquele
    que Sor Gregor foi despedaçando articulação por articulação? Esse recebeu o
    castelo de Sor Amory Lorch, que o recebeu de Lorde Tywin. O primeiro foi
    morto por um urso, e o segundo pelo seu filho anão. Antes deles, a Senhora
    Whent também morreu. Lothston, Strong, Harroway, Strong outra vez...
    Harrenhal tem decepado todas as mãos que tem lhe tocado.
    — Então lhe entregue a Lorde Frey.
    Petyr começou a rir.
    — Não seria má ideia, ou melhor ainda, à nossa querida Cersei. Se
    bem que não deveria falar mal dela; enviou-me uns tapetes esplêndidos. Que
    amável da sua parte, não é verdade?
    Ficou tensa somente por ouvir o nome da rainha.
    — Não é amável. Me dá medo. Se chegar a descobrir onde eu
    estou...
    — Me veria obrigado a tirá-la do jogo antes do previsto. Isso, se ela
    não sair antes por sua própria culpa. — Petyr lhe dedicou um sorriso
    zombeteiro. — No jogo dos tronos, até as peças mais humildes podem ter
    vontade própria. Às vezes se negam a executar os movimentos que se havia
    planejado para elas. Recorda bem, Alayne: é uma lição que Cersei Lannister
    não aprendeu ainda. Bom, não tem obrigações pendentes?
    Tinha. Primeiro se encarregou de que preparassem o vinho, escolheu
    um bom pedaço de queijo e ordenou na cozinha que fabricassem pães para
    vinte pessoas, no caso de os Senhores Rebeldes chegarem com mais homens
    que o previsto.
    Quando tiverem provado nosso pão e nosso sal, serão nossos
    hóspedes, e não poderão nos fazer mal. Os Frey haviam transgredido todas
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:13 pm

    as leis da hospitalidade quando assassinaram a sua mãe o seu irmão nas
    Gêmeas, mas não podia acreditar que um senhor tão nobre como Yohn
    Royce se rebaixasse a fazer algo semelhante.
    A seguir se encarregou de preparar o ambiente. O chão estava
    coberto com um tapete de Myr, assim não havia necessidade em se apressar.
    Alayne orientou dois criados a montarem a mesa com os cavaletes e a
    levarem ali oito das pesadas cadeiras de carvalho e couro. Se fosse um
    banquete, haveria situado uma na cabeceira da mesa e outra no extremo
    contrário, e outras três de cada lado, mas era uma reunião, de modo que
    ordenou que pusessem seis cadeiras em um lado da mesa e dois no outro. Os
    Senhores Rebeldes já haviam chegado à Neve. Em cima de mulas, a subida
    demorava quase um dia inteiro. A pé, a maioria demorava várias jornadas.
    Provavelmente, os senhores permaneceriam conversando até bem
    tarde da noite. Logo, iriam necessitar de velas novas. Quando Maddy
    acendeu o fogo, a enviou para buscar velas de cera aromatizada que Lorde
    Waxley havia presenteado a Senhora Lysa quando aspirava obter sua mão.
    Então voltou às cozinhas para se assegurar de que estivessem preparando o
    vinho e o pão. Tudo estava andando bem, e teria tempo de sobra para se
    banhar, lavar o cabelo e trocar de roupa.
    Sentiu-se tentada por um vestido de seda violeta e por outro de
    veludo azul-escuro com bordados de prata que ressaltaria a cor dos seus
    olhos, mas logo se recordou de que Alayne era bastarda e não devia se vestir
    de maneira mais ostentosa do que correspondia sua condição. Optou por uma
    túnica de lã cor marrom-escuro, de corte simples, com bordados de folhas e
    rendas de fios de ouro no busto, nas mangas e nas bainhas. Era modesto e
    pudico, e um pouco mais luxuoso que a vestimenta de uma criada. Petyr lhe
    havia dado também todas as joias da Senhora Lysa, assim experimentou
    vários colares, mas todos lhe pareceram aparatosos. Por fim, decidiu por
    uma simples fita de veludo dourado. Quando Gretchel lhe mostrou o espelho
    prateado de Lysa, lhe pareceu que a cor combinava maravilhosamente com o
    cabelo escuro de Alayne.
    Lord Royce não me reconhecerá, pensou. Até eu custo a me
    reconhecer.
    Alayne Stone se sentia quase tão ousada quanto Petyr Baelish.
    Esboçou o seu melhor sorriso e desceu para receber os convidados.
    O Ninho da Águia era o único castelo dos Sete Reinos que tinha a
    entrada principal por debaixo do nível das masmorras. Os acentuados
    degraus de pedra ascendiam pela ladeira e passavam junto aos castelos de
    Pedra e Neve, mas terminavam no Céu. Os últimos cento e oitenta metros
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:13 pm

    eram de subida vertical, logo os visitantes tinham que descer das mulas e
    tomar uma decisão: subir na cesta de madeira oscilante que era utilizada para
    levar suprimentos ao castelo, ou escalar uma pequena parede, apoiando-se
    em buracos na rocha.
    Lorde Redfort e a Senhora Waynwood, os mais idosos dos Senhores
    Rebeldes, optaram pela cesta, que logo teve que descer mais uma vez para
    recolher o obeso Lorde Belmore. Os demais preferiram escalar. Alayne os
    recebeu na Câmara da Lua Crescente, junto a um fogo acolhedor, de onde
    lhes deu as boas-vindas em nome de Lorde Robert, e lhes serviu pão, queijo
    e vinho apimentado em copos de prata.
    Petyr lhe havia dado um pergaminho em que apareciam seus escudos
    para que os estudasse, assim reconheceria os brasões, ainda que não os
    rostos. Olhou o castelo vermelho, que seria obviamente de Redfort, um
    homem baixo de barba acinzentada bem aparada e com olhos amáveis. A
    Senhora Anya, a única mulher entre os Senhores Rebeldes, vestia um manto
    verde com a roda de vime dos Waynwood em contas de jade. Os seis sinos
    de prata sobre um campo roxo correspondiam a Belmore, de barriga
    proeminente e ombros redondos. Sua barba era uma aberração cor de
    gengibre que lhe ocultava a papada. Pelo contrário, Symond Templeton era
    moreno e anguloso. O nariz em forma de gancho e os gélidos olhos azuis
    faziam com que o Cavaleiro das Nove Estrelas parecesse uma elegante
    espécie de ave de rapina. Seu gibão mostrava nove estrelas negras sobre uma
    lâmina dourada. A capa de arminho de Lord Hunter, o Jovem, a confundiu a
    princípio, até que mirou o broche que a prendia: cinco flechas de prata
    abertas ao vento. Alayne calculou que ele estava mais perto dos cinquenta
    que dos quarenta anos de idade. Seu pai havia governado em Arco Longo
    durante quase sessenta anos, para morrer de maneira tão repentina que houve
    rumores que o novo senhor havia acelerado o processo. Hunter tinha as
    bochechas e o nariz vermelhos como maçãs, o que denunciava sua possível
    fixação pelas uvas. Teve cuidado em encher seu copo cada vez que ele o
    esvaziava.
    O mais jovem do grupo levava três corvos no peito, cada um com
    um coração vermelho entre as garras. O cabelo castanho lhe chegava até os
    ombros, e uma mecha solta lhe caía pelo rosto.
    Sor Lyn Corbray, pensou Alayne, observando com apreensão a boca
    dura e os olhos inquietos.
    Os últimos a chegar foram os Royce, Lorde Nestor e Yohn Bronze.
    O senhor de Pedra das Runas era tão alto como o Cão de Caça. Tinha o
    cabelo grisalho e o rosto cheio de rugas, mas Lorde Yohn aparentava ser
    capaz de quebrar, com aquelas enormes mãos nodosas, homens mais jovens
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:13 pm

    como se fossem galhos secos. Seu rosto marcado e solene lhe fez recordar
    sua visita a Winterfell. Veio à lembrança aquele homem sentado à mesa,
    falando com sua mãe. Voltou a ouvir sua voz retumbante quando voltara da
    caça com um corvo encarrapitado na sela do cavalo. O viu no pátio com a
    espada de treinamento na mão, derrubando seu pai e voltando-se para
    derrotar também Sor Rodrik.
    Ele me reconhecerá. É impossível que ele não me reconheça. Por um
    momento, pensou em se jogar aos seus pés e lhe suplicar proteção. Se não
    lutou por Robb, porque iria lutar por mim? A guerra já terminou, e
    Winterfell caiu.
    — Lord Royce. — Lhe perguntou com timidez. — Deseja um copo
    de vinho para aplacar o frio?
    Yohn Bronze tinha olhos cinza-ardósia meio ocultos pelas
    sobrancelhas mais espessas que já tinha visto. Os entrecerrou quando a
    analisou desde acima.
    — Te conheço, menina?
    Alayne sentiu como se tivesse engolido a língua, mas Lorde Nestor
    veio em seu auxílio.
    — Alayne é filha natural do Lorde Protetor — disse a seu primo com
    rispidez.
    — Mindinho tem estado muito ocupado — disse Lyn Corbray com
    um sorriso perverso.
    Belmore começou a rir, e Alayne notou que estava ficando
    vermelha.
    — Quantos anos tem, menina? — perguntou a Senhora Waynwood.
    — C-Catorze, minha senhora. — Durante um momento havia
    esquecido a idade de Alayne. — E não sou uma menina, sou uma donzela
    florescida.
    — Mas não desflorada, espero. — O espesso bigode de Lord Hunter,
    lhe escondia a boca quase por completo.
    — Por enquanto — disse Lyn Corbray como se ela não estivesse ali.
    — Em pouco tempo já será uma fruta madura.
    — Isso é o que vocês entendem de cortesia em Hogar? — Anya
    Waynwood tinha o cabelo branco, pés de galinha em torno dos olhos e a pele
    solta debaixo do queixo, mas o seu ar de nobreza era inconfundível. — A
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:13 pm

    menina é jovem, tem recebido uma boa educação e já padeceu horrores
    suficientes. Cuidado com o que diz, sor.
    — O que eu digo é assunto meu — replicou Corbray. — Sua
    senhora deveria ocupar-se dos seus. Nunca gostei de reprimendas, como lhe
    poderia dizer um bom número de homens mortos.
    A Senhora Waynwood lhe deu as costas.
    — Será melhor que nos leve até o seu pai, Alayne. Quanto antes
    acabarmos com isto, melhor.
    — O Lorde Protetor os espera nos seus aposentos. Se meus senhores
    tiverem a amabilidade de me seguir...
    Saíram da Câmara da Lua Crescente, subiram por um corredor de
    degraus de mármore que ficava ao redor de criptas e masmorras e passaram
    por baixo de três balestreiros que os Senhores Rebeldes fingiram não ver.
    Belmore não demorou para suspirar como uma gaita de foles, e Redfort
    estava com o rosto tão branco como o cabelo. Os guardas postados nas
    portas acompanhavam seus passos.
    — Por aqui, meus senhores.
    Alayne os guiou quando passaram por baixo da galeria, junto a uma
    dúzia de esplêndidos tapetes. Sor Lothor Brune estava em frente à porta.
    Abriu-a para que eles passassem e entrou em seguida.
    Petyr estava sentado junto à mesa de cavaletes, com um copo de
    vinho em uma mão, examinando um pergaminho branco. Ergueu os olhos
    quando os Senhores Rebeldes entraram.
    — Sejam bem-vindos, meus senhores. E a vós também, minha
    senhora. Já sei que a subida é muito cansativa. Por favor, sentem-se. Alayne,
    minha querida, traga mais vinho para os nossos nobres convidados.
    — Agora mesmo, meu pai.
    Ficou satisfeita ao ver que haviam acendido as velas, o aposento
    despendia um aroma de noz-moscada e outras especiarias caras. Foi buscar a
    garrafa enquanto os convidados se sentavam lado a lado... Todos, exceto
    Nestor Royce, que titubeou um instante antes de rodear a mesa e ocupar a
    cadeira vazia, junto a Lorde Petyr, e Lyn Corbray, que preferiu ficar em pé
    junto à lareira. O rubi em forma de coração do punho de sua espada
    despendia um brilho vermelho enquanto esquentava as mãos. Alayne o viu
    sorrir a Sor Lothor Brune.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:14 pm

    Sor Lyn é muito atraente para a sua idade, pensou. Mas não gosto
    do seu sorriso.
    — Eu estava lendo esta declaração notável — começou Petyr. —
    Esplêndida. Não sei qual meistre a redigiu, mas esse homem tem um
    verdadeiro dom para as palavras. Eu teria gostado que me convidassem a
    assiná-la também.
    Aquilo os pegou desprevenidos.
    — Você? — Disse Belmore. — Assinaria?
    — Sei manejar a pluma igual a qualquer um, e ninguém gosta de
    Lorde Robert mais do que eu. E quanto a esses falsos amigos e conselheiros
    astutos, deve-se acabar com eles imediatamente. Estou com vocês de corpo e
    alma, meus senhores. Por favor, me diga onde devo assinar.
    Alayne, que estava servindo o vinho, ouviu o risinho de Lord
    Corbray. Os outros pareciam inseguros, até que Yohn Bronze fechou as
    mãos.
    — Não viemos pela sua assinatura. Tampouco pensamos em
    estabelecer um concurso de retórica com você, Mindinho.
    — Que pena. Adoro esses concursos. — Petyr deixou o pergaminho
    de lado. — Como quiserem. Sejamos diretos. Meus senhores, minha
    senhora, que querem de mim?
    — De você não queremos nada. — Symond Templeton fixou seu
    olhar azul gélido no Lord Protetor. — Somente que vá embora.
    — Que eu vá embora? — Petyr pareceu surpreso. — Para onde?
    — A Coroa o nomeou Senhor de Harrenhal — lembrou Lord
    Hunter, o Jovem. — Qualquer um se conformaria com isso.
    — Faz falta um senhor na terra dos rios — interviu o ancião Horton
    Redfort. — Correrrio resiste ao cerco, Bracken e Blackwood estão em
    guerra, os bandidos estão acampados nas margens do Tridente, roubando e
    matando à vontade. Por todas as partes há cadáveres sem enterrar.
    — Tal como você o descreve, parece ser um lugar muito atrativo,
    Lord Redfort — respondeu Petyr. — Mas acontece que eu tenho obrigações
    importantes aqui. Também há que pensar em Lorde Robert. Quer que eu
    arraste um menino doente ao centro de semelhante carnificina?
    — Sua senhoria ficará no Vale — declarou Yohn Royce. — Vou
    levá-lo à Pedra das Runas, onde crescerá para se converter em um cavaleiro
    do qual Jon Arryn se sentiria muito orgulhoso.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:14 pm

    — Por que para a Pedra das Runas? — Ponderou Petyr. — Porque
    não a Carvalho de Ferro, ou a Redfort? Porque não a Arco Longo?
    — Qualquer um desses lugares seria adequado — declarou Lord
    Belmore. — E sua senhoria os visitará por turnos quando chegue o
    momento.
    — De verdade? — O tom de Petyr deixava transparecer suas
    dúvidas.
    A Senhora Waynwood suspirou.
    — Se você tem a intenção de que nos desentendemos entre nós,
    poupe-se deste esforço, Lorde Petyr. Falamos com uma só voz. Pedra das
    Runas parece muito bom para todos nós. Lorde Yohn criou três filhos, não
    há homem mais capacitado para educar o jovem senhor. O meistre Helliweg
    é muito mais antigo e tem mais experiência que o seu Meistre Colemon,
    poderá tratar melhor as doenças de Lorde Robert. Em Pedra das Runas, Sam
    Stone, o Forte, lhe ensinará as artes da guerra. Não há melhor mestre de
    armas. Septão Lucos o instruirá nos assuntos do espírito. Além disso, em
    Pedra das Runas estará com outros meninos da sua idade, uma companhia
    muito mais adequada do que as das velhas e dos mercenários que o rodeiam
    agora.
    Petyr Baelish acariciou a sua barba.
    — Estou de acordo: sua senhoria necessita de companhia. Mas não
    se pode dizer que Alayne seja uma velha. Lord Robert gosta muito da minha
    filha, como ele mesmo os poderá dizer. Além disso, por coincidência pedi a
    Lord Grafton e a Lord Linderly que nos enviem um filho cada um para servir
    como pupilos. Os dois têm meninos da idade de Robert.
    Lyn Corbray começou a rir.
    — Dois cachorrinhos de dois cães de colo.
    — Também seria conveniente a Robert ter por perto um garoto
    maior. Um escudeiro jovem e promissor, por exemplo. Alguém a quem
    possa admirar e a com quem possa treinar combate. — Petyr se voltou para a
    Senhora Waynwood. — Em Carvalho de Ferro tem um garoto assim, minha
    senhora. Aceitaria me enviar Harrold Hardyng?
    Anya Waynwood parecia se divertir.
    — Jamais havia conhecido um ladrão tão ousado como você, Lorde
    Petyr.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:14 pm

    — Não quero roubar o garoto — disse Petyr. — Mas Lorde Robert e
    ele deveriam se tornar amigos.
    Yohn Bronze tomou a dianteira da situação.
    — Me parece apropriado que Lorde Robert inicie uma amizade com
    o jovem Harry, e assim será... Em Pedra das Runas, sob a minha tutela,
    quando for meu pupilo e escudeiro.
    — Nos entregue o garoto e poderá partir para Harrenhal, seu
    legítimo lugar, sem que ninguém o faça mal — disse Lord Belmore.
    Petyr lhe dirigiu um olhar carregado de deboche.
    — Me está dando a entender que, do contrário, poderia me acontecer
    algo, meu senhor? Não consigo pensar por que. Minha finada esposa
    pensava que este era o meu legítimo lugar.
    — Lord Baelish — interviu a Senhora Waynwood. — Lysa Tully
    era a viúva de Jon Arryn e a mãe de seu filho, e governava como regente.
    Mas... sejamos francos, você não é um Arryn, e Lorde Robert não é do seu
    sangue. Com que direito você se atreve a nos governar?
    — Creio recordar que Lysa me nomeou Lord Protetor.
    — Lysa Tully nunca foi parte do Vale verdadeiramente — replicou
    Lorde Hunter, o Jovem. — Não tinha o direito de dispor de nós.
    — E Lorde Robert? — Perguntou Petyr. — Sua senhoria insinua que
    a Senhora Lysa não tinha o direito de dispor de seu próprio filho?
    — Eu abrigava a esperança de me casar com a Senhora Lysa —
    disse Nestor Royce, que havia guardado silencio até então. — Assim como o
    pai de Lorde Hunter e o filho da Senhora Anya. Corbray não saiu do seu
    lado durante meio ano. Se houvesse escolhido qualquer um de nós, ninguém
    disputaria o direito de ser Lorde Protetor. Mas escolheu o Lorde Mindinho, e
    lhe confiou o seu filho.
    — Também é filho de Jon Arryn, primo — replicou Yohn Bronze
    mirando o Guardião com cenho franzido. — Seu lugar é no Vale.
    Petyr fez uma cara de assombro.
    — O Ninho da Águia faz parte do Vale tanto como Pedra das Runas.
    Ou alguém o moveu sem que eu soubesse?
    — Faça quantas piadas quiser, Mindinho — falou Lord Belmore. —
    O menino virá conosco.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:15 pm

    — Lamento decepcioná-los, Lorde Belmore, mas meu enteado ficará
    comigo. Como bem sabem vocês todos, não é um menino robusto. A viagem
    se tornaria muito cansativa. Como seu padrasto e Lorde Protetor, não posso
    permitir isso.
    Symond Templeton limpou a garganta.
    — Cada um de nós tem mais de mil homens ao pé desta montanha,
    Mindinho.
    — É um lugar muito bonito.
    — Se for necessário, podemos convocar mais.
    — Está me ameaçando com uma guerra, sor? — Petyr não parecia
    assustado em absoluto.
    — Nós vamos levar Lord Robert — replicou Yohn Bronze.
    Durante um momento, pareceu que haviam chegado a um beco sem
    saída, até que Lyn Corbray se afastou da lareira.
    — Já estou farto. Se continuarem a escutar o Mindinho, ele vai
    convencê-los a baixar os calções. Só há uma maneira de resolver isso, e é
    com aço. — Desembainhou a espada larga.
    Petyr estendeu as mãos.
    — Vou desarmado, sor.
    — Isso tem remédio. — A luz da vela ondulava ao longo do aço
    acinzentado da espada de Corbray, era tão escura que Sansa se recordou de
    Gelo, a espada de seu pai. — O Devora-maçãs está armado. Que dê a ele a
    espada, ou saque esse punhal.
    Viu como Lothor Brune punha a mão na espada, mas antes que ele a
    desembainhasse, Yohn Bronze se levantou, irado.
    — Guarda esse aço, sor! Quem é você? Um Corbray ou um Frey?
    Estamos aqui como convidados.
    — Isso é improcedente — disse a Senhora Waynwood franzindo o
    cenho.
    — Embainhe esse aço, Corbray — mandou Lord Hunter, o Jovem.
    — Está nos envergonhando a todos.
    — Venha, Lyn — repreendeu Redfort em tom mais suave. — Isto
    não serve de nada. Meta a Dama Desesperada na cama.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:15 pm

    — Minha senhora tem sede — insistiu Sor Lyn. — Sempre que sai
    para dançar toma um copo de vinho, bem vermelho.
    Yohn Bronze se interpôs no caminho de Corbray.
    — Pois desta vez ela continuará com sede.
    — Senhores Rebeldes — bufou Lyn Corbray. — Teríamos que
    chamá-los de as Sete Velhas.
    Voltou a embainhar a espada escura, empurrou Brune para o lado e
    saiu do aposento. Alayne ouviu como se distanciavam os sons dos seus
    passos.
    Anya Waynwood e Horton Redfort trocaram um olhar. Hunter bebeu
    o copo de vinho e o estendeu para o enchessem novamente.
    — Terá que nos perdoar esta ridícula exibição, Lorde Baelish —
    disse Sor Symond.
    — Verdade? — A voz de Mindinho havia tornado-se gélida. —
    Foram vocês quem o trouxeram, meus senhores.
    — Não era nossa intenção... — começou Yohn Bronze.
    — Foram vocês quem o trouxeram. Eu tenho todo o direito de
    chamar os meus guardas e manda-los deter todos.
    Hunter se pôs em pé tão bruscamente que quase bateu na garrafa que
    Alayne tinha nas mãos.
    — Nos prometeu salvo-conduto!
    — Sim. Então dê graças aos deuses por eu ter mais honra que outros.
    — Nunca havia ouvido Petyr tão furioso. — Já li sua declaração e já ouvi
    suas exigências. Ouçam agora as minhas: retirem seus exércitos dessa
    montanha, marchem para as suas terras e deixem em paz o meu filho. Aqui
    tem havido um mau governo, não duvido, mas foi obra de Lysa, não minha.
    Deem-me um ano, e com a ajuda de Lorde Nestor, os prometo que nenhum
    de vocês terá motivo de queixa.
    — Isto é você quem diz — replicou Belmore. — Porque teremos que
    confiar?
    — Como ousa desconfiar de mim? Não fui eu quem desembainhou
    aço no meio de uma trégua. Falam de defender Lorde Robert e ao mesmo
    tempo lhe negam comida. Isto tem que acabar. Não sou guerreiro, mas se
    não levantarem o sítio, lutarei com vocês. Não são os únicos senhores do
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:15 pm

    Vale, e Porto Real também me enviará homens. Se é guerra o que vocês
    querem, digam, e o Vale sangrará.
    Alayne viu que a dúvida começava a florescer nos olhos dos
    Senhores Rebeldes.
    — Um ano não é tanto tempo — comentou Lorde Redfort, inseguro.
    — Talvez... se nos assegurar...
    — Nenhum de nós quer a guerra — disse a Senhora Waynwood. —
    O outono chega ao seu fim; teremos que nos preparar para o inverno.
    Belmore interrompeu.
    — Ao final deste ano...
    — Se não puser ordem no Vale, me demitirei voluntariamente do
    cargo de Lorde Protetor – lhes prometeu Petyr.
    — Me parece mais que justo — disse Lorde Nestor Royce.
    —Não deve haver represálias — insistiu Templeton. — Não se
    falará de traição nem de rebelião. Isso também deve jurar.
    — Encantado — respondeu Petyr. — O que quero são amigos, não
    inimigos. Outorgo perdão a todos, por escrito se quiserem. Inclusive a Lyn
    Corbray. Seu irmão é um bom homem, não há necessidade de que uma Casa
    tão nobre caia na vergonha.
    A Senhora Waynwood se voltou para os Senhores Rebeldes.
    — Podemos negociar, meus senhores?
    — Não é necessário. É evidente que ele já ganhou. — Yohn Bronze
    cravou os olhos cinzentos em Petyr Baelish. — Não gosto disso, mas parece
    que vai ter o ano que quis. Use-o bem, meu senhor. Que não tenha nos
    enganado.
    Abriu a porta com tanta força que esteve a ponto de arrancá-la das
    dobradiças.
    Mais tarde, houve uma espécie de banquete, ainda que Petyr tivesse
    que pedir desculpas pela humildade da comida. Levaram-lhes a Robert
    vestido com um gibão azul e creme, que representou com bastante elegância
    o seu papel de senhor. Yohn Bronze não o presenciou: já havia partido do
    Ninho da Águia para começar a longa descida, com o fez Sor Lyn Corbray
    antes dele. Os outros senhores ficaram até a manhã seguinte.
    Ele os seduziu, pensou Alayne aquela noite, na cama, enquanto
    ouvia o rugido do vento pela janela. Não havia sabido dizer como surgiu a
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:15 pm

    suspeita, mas quando passou pela sua cabeça, não houve maneira de
    conciliar o sono. Mexeu-se e rolou na cama durante um longo tempo. Por
    último, se levantou e se vestiu, deixando Gretchel dormindo.
    Petyr seguia acordado, escrevendo uma carta.
    — Alayne? Olá querida, que faz aqui tão tarde?
    — Preciso saber? O que acontecerá dentro de um ano?
    — Redfort e Waynwood são velhos. — Petyr deixou a pluma sobre a
    mesa. — Pode ser que morra um deles, ou os dois. Os irmãos de Gilwood
    Hunter o assassinarão. Provavelmente se encarregará o jovem Harlan, o
    mesmo que tratou da morte de Lorde Eon. E já que comecei, vamos até o
    final. Belmore é corrupto, posso comprá-lo. Templeton e eu nos tornaremos
    amigos. Temo que Yohn Bronze continue sendo hostil, mas enquanto seja
    somente ele não representará nenhuma ameaça.
    — E Sor Lyn Corbray?
    A luz da vela dançava nos olhos de Petyr.
    — Sor Lyn continuará sendo meu inimigo implacável. Falará de
    mim com desprezo e ódio a todo aquele que queira escutá-lo prestará sua
    espada a cada plano secreto para acabar comigo.
    Foi então quando as suspeitas se converteram em certezas.
    — E como lhe pagará os seus serviços?
    Mindinho começou a rir.
    — Com ouro, meninos e promessas, claro. Sor Lyn é um homem de
    gostos simples, querida. As únicas coisas que quer são ouro, meninos e
    alguém a quem matar.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:16 pm

    Cersei 416



    O rei estava amuado.
    — Quero sentar no Trono de Ferro — disse ele. — Você
    sempre deixava Joff sentar lá.
    — Joffrey tinha doze anos.
    — Mas eu sou rei. O trono pertence a mim.
    — Quem lhe disse isso? — Cersei respirou profundamente para que
    Dorcas pudesse amarrar mais firmemente. Ela era uma garota grande, muito
    mais forte que Senelle, apesar de mais atrapalhada também.
    O rosto de Tommen ficou vermelho.
    — Ninguém.
    — Ninguém? É assim que chama a Senhora sua esposa? — A rainha
    podia sentir o cheiro de Margaery Tyrell naquela rebelião. — Se mentir para
    mim não terei escolha a não ser chamar Pate e espancá-lo até que sangre. —
    Pate era o bode expiatório de Tommen, assim como havia sido o de Joffrey.
    — É o que quer?
    — Não — o rei murmurou emburrado.
    — Quem lhe disse isso?
    Ele embaralhou os próprios pés.
    — A Senhora Margaery. — Ele não era bobo de chamá-la de rainha
    na frente da mãe.
    — Assim esta melhor. Tommen, eu tenho assuntos sérios para
    decidir, assuntos que você é jovem demais para entender. Eu não preciso de
    um garotinho bobo se remexendo no trono atrás de mim e me distraindo com
    questões infantis. Eu suponho que Margaery ache que você deveria estar nas
    minhas reuniões do conselho também?
    — Sim— ele admitiu. — Ela sempre diz que tenho que aprender a
    ser um rei.
    — Quando for mais velho, poderá ir a quantos Conselhos quiser —
    Cersei disse a ele. — Eu lhe garanto logo você ficará enjoado deles. Robert
    costumava cochilar durante as sessões. — Quando ele ao menos se
    incomodava de comparecer. — Ele preferia caçadas e águias e deixava o
    tédio para o velho Lorde Arryn, lembra se dele?
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:17 pm

    — Ele morreu de dores de barriga.
    — Sim morreu o pobre homem. Como está tão ávido, talvez devesse
    aprender os nomes de todos os reis de Westeros e das Mãos que os serviram.
    Pode recitá-los para mim no dia seguinte.
    — Sim, mãe. — Ele disse docilmente.
    — Este é o meu bom garoto. — O poder era dela, ela não pretendia
    desistir dele até Tommen atingir a idade certa. Eu esperei então ele também
    pode esperar. Eu esperei metade de minha vida. Ela havia sido a filha
    obediente, a noiva ruborizada, a esposa flexível. Ela havia sofrido com as
    apalpadelas de bêbado de Robert, o ciúme de Jaime, a zombaria de Renly,
    Varys e suas risadinhas, Stannis rangendo seus dentes interminavelmente.
    Ela havia disputado com Jon Arryn, Ned Stark, e o odioso, traiçoeiro e
    homicida irmão anão dela, todo esse tempo se prometendo que um dia seria
    a vez dela. Se Margaery Tyrell pensa em roubar minha hora ao sol, é
    melhor ela pensar muito bem antes.
    De qualquer modo, este era um jeito ruim de quebrar o seu jejum, e
    o dia de Cersei não melhorou tão cedo. Ficou o resto de sua manhã com
    Lorde Gyles e seus livros de contabilidade, ouvindo-o tossir sobre estrelas,
    cervos e dragões. Posteriormente, chegou Lorde Waters, para contar que os
    três primeiros dromons estavam quase sendo finalizados e implorou por mais
    ouro para terminá-los com o esplendor que mereciam. A rainha estava
    satisfeita em lhe conceder seu pedido. Rapaz Lua pulava quando ela teve sua
    refeição do meio dia com os mercadores das guildas e ouviu suas
    reclamações sobre pássaros vagando pelas ruas e dormindo nas praças.
    Talvez eu precise usar as capas de ouro para tirar esses pássaros da cidade,
    ela estava pensando, quando Pycelle intrometeu-se.
    O Grande Meistre estava especialmente impertinente ultimamente
    nos conselhos. Na ultima sessão ele havia se queixado amargamente do
    homem que Aurane Waters tinha escolhido para comandar os seus novos
    dromons. Waters planejava dar os navios para homens jovens, enquanto
    Pycelle argumentou pela experiência, insistindo que o comando deveria ir
    para aqueles capitães que haviam sobrevivido ao incêndio de Água Negra.
    — Homens experientes, comprovadamente leais — ele os havia
    chamado. Cersei os chamou de velhos e ficou ao lado de Lorde Waters.
    — A única coisa que provaram é que sabem nadar — disse. — Nenhuma
    mãe deve durar mais que seus filhos e nenhum capitão deve durar mais que
    seu navio. — Pycelle recebeu a repreensão com alguma má vontade.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:17 pm

    Ele parecia menos colérico hoje, e até exibia um tipo de sorriso
    tremulo.
    — Vossa Graça, boas noticias — anunciou. — Wyman Manderly
    cumpriu suas ordens e decapitou o cavaleiro das cebolas de Lorde Stannis.
    — Podemos ter certeza disso?
    — A cabeça e as mãos do homem foram espetadas em cima das
    muralhas de Porto Branco. Lorde Wyman declarou isso e os Frey
    confirmam. Eles viram a cabeça lá, com uma cebola na boca. E uma das
    mãos tinha seus dedos encurtados.
    — Muito bem — disse Cersei. — Mande um pássaro para Manderly
    e lhe informe que seu filho vai ser devolvido imediatamente, agora que
    provou sua lealdade.
    Porto Branco logo retornaria para a paz do rei, e Roose Bolton e seu
    filho bastardo estavam se aproximando de Fosso Cailin pelo sul e norte.
    Uma vez que o Fosso fosse deles, eles deveriam juntar forças e tirar os
    homens de ferro da Praça de Torrhen e de Bosque Profundo também. Assim
    deveriam ganhar a lealdade dos homens que restavam sob o estandarte de
    Ned Stark quando chegasse à hora de marchar contra Stannis.
    Para o sul, entretanto, Mace Tyrell tinha levantado acampamento
    fora de Ponta Tempestade e tinha duas catapultas arremessando pedras
    contra as paredes maciças do castelo, até agora sem grandes efeitos. Lorde
    Tyrell, o guerreiro, a rainha meditou. Seu selo deveria ser um homem gordo
    sentando sua bunda.
    Naquela tarde, o sisudo enviado bravosiano apareceu para sua
    audiência. Cersei havia o colocado para fora durante duas semanas e teria
    prazer em colocá-lo mais um ano, mas Lorde Gyles alegou que não poderia
    mais lidar com o homem... e a rainha começava a pensar se Lorde Gyles
    conseguia fazer algo além de tossir.
    Noho Dimittis, o bravosiano intitulou-se. Um nome irritante, para
    um homem irritante. Sua voz era irritante também. Cersei se mexeu em seu
    assento quando ele entrou, imaginando quanto tempo teria que aguentar sua
    prepotência. Atrás dela agigantava-se o Trono de Ferro, suas farpas e
    laminas jogando sombras sobre o chão. Apenas o rei ou sua Mão podiam
    sentar-se nele. Cersei sentava em seu trono, em um assento dourado com
    almofadas vermelhas empilhadas. Quando o bravosiano parou para respirar
    ela viu sua chance.
    — Isto é um assunto mais apropriado para nosso Lorde Tesoureiro.
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    O Festim dos Corvos - Página 15 Empty Re: O Festim dos Corvos

    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:17 pm

    Esta resposta não agradou ao nobre Noho, ao que pareceu.
    — Eu falei com Lorde Gyles seis vezes. Ele tosse em mim e conta
    desculpas, Vossa Graça, mas o ouro não parece estar vindo.
    — Fale com ele uma sétima vez — Cersei sugeriu agradavelmente.
    O numero sete é sagrado para nossos deuses.
    — Parece-me que fazer gracejos agrade Vossa Graça.
    — Quando eu faço um gracejo eu sorrio. Está vendo-me sorrir? Está
    ouvindo gargalhadas? Eu lhe garanto, quando eu faço um gracejo, os homens
    riem.
    — O rei Robert...
    — Está morto — ela disse bruscamente. O Banco de Ferro terá seu
    ouro quando a rebelião for controlada.
    Ele teve a insolência de interrompê-la.
    — Vossa Graça...
    — Esta audiência está terminada. — Cersei havia sofrido o bastante
    por um dia. — Sor Meryn, leve o nobre Noho Dimittis até porta. Sor
    Osmund, você deve me escoltar de volta aos meus aposentos. — Seus
    convidados logo chegariam e ela teria que tomar um banho e se trocar. O
    jantar prometia ser tão tedioso como a audiência. Era um trabalho duro
    governar um reino, ainda mais sete reinos.
    Sor Osmund Kettleblack ficou ao lado dela nas escadas, alto e magro
    em suas vestes brancas da Guarda Real. Quando Cersei teve certeza de que
    estavam sozinhos, ela passou um braço ao redor do dele.
    — Como seu irmão menor esta se saindo, diga?
    Sor Osmund pareceu desconfortável.
    — Ah... bem o suficiente, apenas...
    — Apenas? — A rainha deixou um traço de raiva subir sua voz. —
    Eu tenho que confessar, estou ficando sem paciência com o caro Osney. É
    passado o tempo em que quebrou aquele pequeno potro. Eu o nomeei
    escudeiro jurado de Tommen então ele pode passar quase todos os dias na
    companhia de Margaery. Ele já deveria ter arrancado a rosa agora. A
    pequena rainha é cega aos seus encantos?
    — O charme dele está bem. Ele é um Ketteblack, não? Desculpe-me.
    — Sor Osmond correu seus dedos pelo cabelo oleoso. — É o dela que é o
    problema.
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    O Festim dos Corvos - Página 15 Empty Re: O Festim dos Corvos

    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:17 pm

    — E porque isso? — A rainha começava a levantar duvidas sobre
    Sor Osney. Talvez outro homem fosse mais ao agrado de Margaery. Aurane
    Waters, com seu cabelo prateado, ou um sujeito maior, como Sor Tallad. —
    A moça prefere a outro? O rosto do seu irmão a desagrada?
    — Ela gosta do rosto dele. Ela tocou suas cicatrizes dois dias atrás,
    ele me disse. Que mulher lhe fez isso? Ela perguntou. Ele nunca lhe disse
    que havia sido uma mulher, mas ela sabia. Talvez alguém tenha lhe contado.
    Ela está sempre o tocando quando eles conversam, ele diz. Endireitando o
    fecho de sua capa, passando seu cabelo para trás, coisas assim. Uma vez, no
    arco e flecha ela lhe pediu para mostrar como segurar um arco, então ele pôs
    um braço ao redor dela. Osney conta a ela gracejos picantes e ela ri e replica
    com alguns ainda mais picantes. Não, ela o quer, isto é certo, mas....
    — Mas? — Cersei perguntou.
    — Mas eles jamais estão sozinhos. O rei está com eles a maior parte
    do tempo, e quando não está, há outra pessoa. Duas das damas dela dormem
    com ela, uma em cada noite. Duas outras trazem seu desjejum e a ajudam a
    se vestir. Ela reza com sua septã, lê com sua prima Elinor, canta com sua
    prima Alla e costura com sua prima Megga. Quando não esta caçando com
    Janna Fossoway e Merry Crane esta brincando de venha-para-meu-castelo
    com aquela garotinha de Bulwer. Ela nunca vai montar, mas ela tem em seu
    rabo, quatro ou cinco companheiras e ao menos doze guardas. E há sempre
    homens ao redor dela, mesmo na Arcada das Donzelas.
    — Homens. — Aquilo era algo. Havia uma possibilidade. — Que
    homens são estes, ora me diga?
    Sor Osmond encolheu os ombros.
    — Cantores. Ela tem uma queda por cantores, malabaristas e coisas
    assim. Cavaleiros vêm para ficar ao redor de suas primas. Sor Tallad é o
    pior, segundo Osney. Aquele grande idiota não parece saber se é Elinor ou
    Alla que ele quer, mas ele a quer terrivelmente. Os gêmeos Redwyne
    aparecem também. Sloober traz-lhes flores e frutas e Horror toma o alaúde.
    Pelo que Osney diz, poder-se-ia fazer um som mais doce ao estrangular um
    gato. O homem da ilha do verão está sempre aos seus pés também.
    — Jalabhar Xho? — Cersei deu um muxoxo irônico. — Implorando
    a ela por ouro e espadas para reconquistar sua terra natal, me parece mais. —
    Sob suas joias e penas, Xho não era nada mais que um mendigo bem
    nascido. Robert poderia ter dado um fim nas importunações dele com um
    firme não, mas a ideia de reconquistar as Ilhas do Verão tinha apelo o
    bastante com seu rústico marido bêbado. Sem duvida ele sonhava com as
    prostitutas de pele escura, cobertas com mantos de penas, com mamilos
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    O Festim dos Corvos - Página 15 Empty Re: O Festim dos Corvos

    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:17 pm

    negros como carvão. Então ao invés de não, Robert sempre dizia a ele, no
    próximo ano, embora de algum modo o próximo ano nunca chegou.
    — Eu não poderia dizer se ele está implorando, Vossa Graça — Sor
    Osmond respondeu. — Osney diz que ele esta as ensinando a língua do
    Verão. Não Osney, a rai... A égua e suas primas.
    — Uma égua que fala a língua do Verão seria uma grande sensação
    — disse a rainha secamente. — Diga a seu irmão para manter suas esporas
    bem afiadas. Eu acharei algum modo dele montar sua potranca muito em
    breve, pode ter certeza disso.
    — Eu direi a ele, Vossa Graça. Ele está ansioso por esta cavalgada,
    não pense que ele não está. Ela é uma bela coisinha, aquela potranca.
    É por mim que ele está ansioso, bobo, a rainha pensou. Tudo que ele
    quer de Margaery é o senhorio entre as suas pernas. Gostava quando estava
    com Osmond, mas às vezes ele era tão lento quanto Robert. Esperava que
    sua espada fosse mais rápida que sua inteligência. Chegaria o dia em que
    Tommen iria precisar dela.
    Eles estavam cruzando a sombra da destruída Torre da Mão quando
    o som de vivas os atravessou. Do outro lado do pátio, algum escudeiro tinha
    feito um passe na Justa e jogado uma cruzeta girando.
    Os vivas estavam vindo de Margaery Tirell e suas galinhas. Muito
    tumulto por pouco. Alguém poderia pensar que o rapaz tinha ganhado um
    torneio. Então ela surpreendeu-se, vendo que o rapaz era Tommen no
    cavalo, vestindo placas douradas.
    A rainha não teve alternativa a não ser colocar um sorriso e ir ver
    seu filho. Ela chegou a ele quando o Cavaleiro das Flores estava o ajudando
    a descer de seu cavalo. O garoto estava sem fôlego de excitação.
    — Vocês viram? — Ele perguntava a todos. — Eu fiz exatamente
    como Sor Loras disse. Você viu Sor Osney?
    — Eu vi. — Disse Osney Kettleblack. — Uma bela visão.
    — Você tem um assento melhor que o meu senhor — interviu Sor
    Dermot.
    — Eu quebrei a lança também, você ouviu Sor Loras?
    — Tão alto como um trovão. — Uma rosa de jaspe e ouro
    entrelaçados estava no ombro de Sor Loras e o vento remexia artisticamente
    os seus cabelos. Você montou um campo excelente, mas apenas uma vez não
    é suficiente. Você deve fazer novamente amanhã. Deve montar todos os dias
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    O Festim dos Corvos - Página 15 Empty Re: O Festim dos Corvos

    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:17 pm

    até que a terra exploda verdadeira e diretamente, e sua lança se torne tão
    parte de seu corpo quanto seu braço.
    — Eu quero.
    — Você foi glorioso. — Margaery dobrou um joelho e deu um beijo
    na bochecha de Tommen e colocou seus braços ao seu redor. — Cuidado
    irmão — ela alertou Sor Loras. — Meu marido galante vai ultrapassa-lo em
    mais alguns anos, eu penso.
    As três primas delas concordaram, e a desgraçada garotinha de
    Bulwer dava pulos, cantando.
    — Tommen será o campeão, o campeão, o campeão.
    — Quando for crescido. — Disse Cersei.
    Os sorrisos secaram como rosas beijadas pelo gelo. E a cara de
    varíola da septã foi a primeira a dobrar seus joelhos. Os restantes a seguiram,
    exceto a pequena rainha e seu irmão.
    Tommen não pareceu notar o súbito arrepio no ar.
    — Mãe, você me viu? — Ele balbuciou feliz. — Eu quebrei minha
    lança no escudo e a bolsa não me acertou!
    — Eu estava assistindo do outro lado da praça. Você foi muito bem,
    Tommen. Eu não esperaria nada menos de você. A Justa está em seu sangue.
    Um dia você irá liderar as listas, exatamente como seu pai fazia.
    — Nenhum homem se comparara a ele. Margaery Tirell lançou um
    sorriso tímido à rainha. Mas eu nunca soube que o Rei Robert fosse tão bom
    na Justa. Por favor, Vossa Graça, nos conte, quais torneios ele venceu?
    Quais grandes cavaleiros ele fez cair da sela? Tenho certeza que o rei iria
    adorar ouvir sobre as vitórias de seu pai.
    Um rubor subiu pelo pescoço de Cersei. A garota a havia pego.
    Robert Baratheon havia sido inexpressivo na Justa, na verdade. Durante os
    torneios ele havia preferido o corpo a corpo, onde ele poderia fazer homens
    sangrarem com seu machado embotado ou seu martelo. Era em Jaime em
    quem ela pensava, quando havia falado. Não era próprio dela se esquecer
    assim.
    — Robert venceu o torneio do Tridente. — Ela teve de dizer. — Ele
    derrubou o Príncipe Rhaegar e me nomeou Rainha do amor e da beleza.
    Estou surpresa de você não saber a história, minha filha. — Ela não deu
    tempo a Margaery para moldar uma resposta. — Sor Osmond, ajude meu

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