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    O Festim dos Corvos

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    O Festim dos Corvos - Página 14 Empty Re: O Festim dos Corvos

    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:07 pm

    hostes tinham cruzado o Passo do Príncipe com estandartes a esvoaçar, só
    para secarem e assarem nas quentes e rubras areias de Dorne.
    — As armas da Casa Martell ostentam o sol e a lança, as armas
    preferidas dos dorneses — escrevera um dia o Jovem Dragão na sua
    fantasiosa Conquista de Dorne — mas, das duas, o sol é a mais mortífera.
    Felizmente não tinham de atravessar as areias profundas, mas apenas
    uma faixa das terras áridas. Quando Arianne vislumbrou um falcão a
    rodopiar bem alto acima deles, num céu sem nuvens, soube que o pior tinha
    ficado para trás. Rapidamente chegaram a uma árvore. Era uma coisa nodosa
    e retorcida com tantos espinhos como folhas, da espécie chamada penúria de
    areia, mas significava que não se encontravam longe de água.
    — Estamos quase lá, Vossa Graça — disse alegremente Garin a
    Myrcella quando viram mais penúrias de areia em frente, um bosque delas a
    crescer em volta do leito seco de um rio. O sol atingia a terra como um
    martelo de fogo, mas não importava, com a viagem perto do fim. Pararam de
    novo para dar água aos cavalos, beberam profundamente dos seus odres e
    umedeceram os véus, e voltaram a montar para a cavalgada final. Meia légua
    depois estavam a cavalgar sobre escalracho e a passar por olivais. Depois de
    uma linha de colinas pedregosas, a erva tornou-se mais verde e mais
    luxuriante, e apareceram limoais regados por uma teia de velhos canais.
    Garin foi o primeiro a vislumbrar o rio a cintilar em tons de verde. Soltou
    um grito e correu em frente.
    Arianne Martell atravessara uma vez o Vago, quando fora com três
    das Serpentes de Areia visitar a mãe de Tyene. Comparado com aquele
    poderoso curso de água, o Sangueverde quase não merecia o nome de rio,
    mas era na mesma a vida de Dorne. O nome provinha do verde opaco das
    suas águas lentas; mas quando se aproximaram, a luz do sol pareceu
    transformar essas águas em ouro. Poucas vezes vira uma paisagem mais
    agradável. A parte seguinte deverá ser lenta e simples, pensou, pelo
    Sangueverde acima, e depois pelo Vaith, até tão longe quanto um barco de
    varejo pode chegar. Isso lhe daria bastante tempo para preparar Myrcella
    para tudo o que se seguiria. Depois do Vaith esperavam as areias profundas.
    Precisariam da ajuda de Arenito e da Toca do Inferno para fazer a travessia,
    mas não duvidava de que ela surgiria. Víbora Vermelha fora criado em
    Arenito, e a concubina do Príncipe Oberyn, Ellaria Sand, era ilegítima do
    Lorde Uller; quatro das Serpentes de Areia eram suas netas. Coroarei
    Myrcella na Toca do Inferno, e erguerei ai os meus estandartes.
    Encontraram o barco a meia légua para jusante, escondido sob os
    ramos pendentes de um grande salgueiro verde. Baixos e de través largo, os
    barcos de varejo quase não tinham calado de que se pudesse falar; o Jovem
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    O Festim dos Corvos - Página 14 Empty Re: O Festim dos Corvos

    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:07 pm

    Dragão depreciara-os como “cabanas construídas em jangadas”, mas nisso
    pouca justiça havia. Todos os barcos dos órfãos, exceto os dos mais pobres,
    eram maravilhosamente esculpidos e pintados. Aquele fora trabalhado em
    tons de verde, com uma cana do leme curva, de madeira, com a forma de
    uma sereia, e cabeças de peixe a espreitar das amuradas. Varas, cordas e
    jarros de azeite atravancavam o seu convés, e lanternas de ferro balançavam
    à proa e à popa. Arianne não viu órfãos. Onde está a tripulação? Perguntou
    a si própria.
    Garin puxou as rédeas do cavalo por baixo do Salgueiro.
    Acordem, seus dorminhocos de olhos de peixe — gritou ao saltar da
    sela. — A sua rainha está aqui, e quer as suas régias boas-vindas. Subam,
    saiam, queremos canções e vinho doce. A minha boca está pronta a...
    A porta do barco de varejo abriu-se com estrondo. À luz do sol
    surgiu Areo Hotah, com um longo machado na mão.
    Garin parou com um sobressalto. Arianne sentiu-se como se um
    machado tivesse sido enterrado em sua barriga. Não era para terminar
    assim. Isto não podia acontecer. Quando ouviu Drey dizer:
    — Aí está a última cara que eu esperava ver — soube que tinha de
    agir.
    — Para trás! - gritou, saltando de novo para a sela. — Arys, proteja a
    princesa...
    Hotah bateu com o cabo do machado no convés. De trás das
    ornamentadas amuradas do barco de varejo, ergueu-se uma dúzia de guardas,
    armados com lanças de arremesso ou bestas. Mais surgiram no topo da
    cabina.
    — Renda-se, minha princesa — gritou o capitão — caso contrário
    teremos de matar todos menos a criança e você, por ordens do seu pai.
    A Princesa Myrcella estava sentada, imóvel, na montaria. Garin
    afastou-se lentamente do barco de varejo, com as mãos no ar. Drey
    desafivelou o cinto da espada.
    — Render-se parece o mais sensato — gritou para Arianne, no
    momento em que a espada caía no chão com um ruído surdo.
    — Não! — Sor Arys Oakheart colocou o cavalo entre Arianne e as
    bestas, com a espada a brilhar, prateada, na mão. Desprendera o escudo e
    enfiara o braço esquerdo nas correias. — Não a capturarão enquanto eu
    ainda respirar.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:07 pm

    Seu estouvado idiota, foi tudo o que Arianne teve tempo de pensar, o
    que pensa que está fazendo?
    A gargalhada do Estrela Negra ressoou.
    — É cego ou estúpido, Oakheart? Eles são muitos. Largue a espada.
    — Faça o que ele diz, Sor Arys — insistiu Drey.
    Fomos capturados, sor, podia ter gritado Arianne. A sua morte não
    nos libertará. Se ama a sua princesa, renda-se. Mas quando tentou falar, as
    palavras ficaram-lhe presas na garganta.
    Sor Arys Oakheart deu-lhe um último olhar cheio de perguntas, e
    depois espetou as esporas no cavalo, e atacou.
    Avançou impetuosamente contra o barco de varejo, com o manto
    branco a esvoaçar atrás de si. Arianne Martell nunca vira nada com metade
    da galanteria ou com metade da estupidez daquele homem.
    — Não! — Guinchou, mas encontrara a voz tarde demais. Numa
    corneta soou um trum, e logo noutra. Hotah berrou uma ordem. A tão curta
    distância, a armadura do cavaleiro branco bem podia ter sido feita de
    pergaminho. O primeiro dardo penetrou através do pesado escudo de
    carvalho, atingindo ao ombro. O segundo raspou-lhe na têmpora. Uma lança
    de arremesso atingiu a montaria de Sor Arys no flanco, mas mesmo assim o
    cavalo continuou a avançar, vacilando ao atingir a prancha de embarque. —
    Não — estava a gritar uma garota qualquer, uma qualquer garotinha tola —
    não, por favor, não era para isto acontecer. — Também conseguia ouvir
    Myrcella a guinchar, com a voz estridente de medo.
    A espada de Sor Arys golpeou para a direita e para a esquerda, e dois
    lanceiros caíram. O cavalo empinou-se e deu um coice em um besteiro na
    cara no momento em que o homem tentava recarregar, mas as outras bestas
    estavam a disparar, enchendo o grande corcel com os seus dardos. Os
    projéteis atingiam-no com tanta força que empurravam o cavalo para o lado.
    Perdeu o apoio das patas, e caiu sobre o convés. De algum modo, Arys
    Oakheart saltou, livre. Até conseguiu continuar com a espada na mão. Pôs-se
    de joelhos com dificuldade, ao lado do seu cavalo moribundo...
    ... e deu com Areo Hotah em pé em cima de si.
    O cavaleiro branco ergueu a lâmina, com demasiada lentidão. O
    machado de Hotah cortou-lhe o braço direito no ombro, afastou-se a girar,
    jorrando sangue, e voltou a cair; num relâmpago, num terrível golpe a duas
    mãos que cortou a cabeça de Arys Oakheart e a atirou pelo ar, a rodopiar. A
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:07 pm

    cabeça aterrou entre os juncos, e o Sangueverde engoliu o vermelho com um
    suave chapinhar.
    Arianne não teve consciência de subir para o cavalo. Talvez tenha
    caído. Também não teve consciência disso. Mas deu por si com as mãos e
    pés na areia, a tremer, a soluçar e a vomitar o almoço. Não, era tudo o que
    conseguia pensar, não, ninguém devia sair machucado, estava tudo
    planejado, eu fui tão cautelosa. Ouviu Areo Hotah rugir:
    — Atrás dele. Não pode escapar. Atrás dele! — Myrcella estava no
    chão, a chorar, a tremer, com o rosto pálido nas mãos, e sangue a escorrer
    por entre os dedos. Arianne não compreendia. Homens subiam
    precipitadamente para cavalos enquanto outros caíam sobre ela e os seus
    companheiros, mas nada daquilo fazia sentido. Caíra num sonho, um terrível
    pesadelo rubro. Isto não pode ser real. Acordarei em breve, e rirei dos
    terrores da noite.
    Quando tentaram atar-lhe as mãos atrás das costas, não resistiu. Um
    dos guardas colocou-a em pé com um puxão. Usava as cores do pai dela.
    Outro dobrou-se e tirou a faca de arremesso que ela trazia dentro da bota, um
    presente da prima, a Senhora Nym.
    Areo Hotah recebeu-a das mãos do homem e olhou-a de cenho
    franzido.
    — O príncipe disse que devo levar você de volta para Lançassolar
    — anunciou. Tinha as bochechas e a testa salpicadas com o sangue de Arys
    Oakheart. — Lamento, pequena princesa.
    Arianne ergueu uma face riscada por lágrimas.
    — Como pôde ele saber? — Perguntou ao capitão. — Eu fui tão
    cautelosa. Como pôde ele saber?
    — Alguém falou. — Hotah encolheu os ombros. — Há sempre
    alguém que fala.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:08 pm

    Arya 377


    Cada noite antes de dormir, ela murmurava sua oração dentro de seu
    travesseiro.
    — Sor Gregor — e ia — Dunsen, Raff, o Querido, Sor Ilyn,
    Sor Meryn, Rainha Cersei. — Ela teria sussurrado o nome dos Freys da
    encruzilhada também, se ela os soubesse. Um dia eu vou saber, ela disse a
    si mesma. E então eu matarei todos eles. Nenhum sussurro era muito fraco
    para ser ouvido na Casa do Preto e Branco.
    — Criança — disse o homem bondoso um dia. — Que nomes são
    aqueles que você sussurra a noite?
    — Eu não sussurro nome algum — ela disse.
    — Você mente — ele disse. — Todos os homens mentem quando
    estão com medo. Alguns contam muitas mentiras, outros contam algumas.
    Alguns têm apenas uma mentira, mas a contam tão frequentemente que
    quase chegam a acreditar... Embora uma pequena parte dele sempre irá saber
    que aquilo ainda é uma mentira e que ira mostrar sobre seus rostos. Fale-me
    sobre esses nomes.
    Ela mordeu o lábio.
    — Os nomes não tem importância.
    — Eles têm — o homem bondoso insistiu. — Conte-me criança.
    Conte-me ou irei mandá-la embora, foi o que ela ouviu.
    — Eles são pessoas que eu odeio. Eu quero que eles morram.
    — Nós ouvimos muito dessas orações nessa Casa.
    — Eu sei — disse Arya. Jaqen H’ghar tinha garantido três dessas
    orações uma vez, tudo o que eu tive que fazer foi sussurrar...
    — É por isso que você teve que vir até nós? — O homem bondoso
    continuou. — Pra aprender nossas artes, e então matar esses homens que
    você odeia?
    Arya não sabia como responder a isso.
    — Talvez.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:08 pm

    — Então você veio ao lugar errado. Não cabe a você dizer quem
    deve viver e quem deve morrer. Este dom pertence ao deus de Muitas Faces.
    Somos nada além de seus servos, jurados a sua vontade.
    — Oh — Arya olhou para as estatuas ao longo das paredes, velas
    redondas brilhavam em seus pés — Qual deus é ele?
    — Todos eles — disse o sacerdote em preto e branco.
    Ele nunca disse a ela seu nome. Nem a esposa, a pequena garota com
    grandes olhos e um rosto oco que a lembrava de outra pequena garota,
    chamada Weasel. Como Arya, a esposa vivia debaixo do templo, juntamente
    com três acólitos, dois servos e um cozinheiro chamado Umma. Umma
    gostava de conversar enquanto trabalhava, mas Arya não conseguia entender
    uma palavra do que ela dizia. Os outros não tinham nome, ou escolheram
    não compartilhá-los. Um dos serventes era muito velho, suas costas eram
    dobradas como um arco. O segundo tinha um rosto vermelho, e cabelos
    cresciam de suas orelhas. Ela pensava que os dois eram mudos até que os
    ouviu orando. Os acólitos eram mais jovens. O mais velho era da idade do
    seu pai; Os outros dois não podiam ser muito mais velhos que Sansa, que
    tinha sido sua irmã. Os acólitos usavam preto e branco também, mas suas
    vestes não tinham capuz e eram negras do lado esquerdo e brancas do lado
    direito. Com o homem bondoso e a esposa, era o oposto. A Arya foi dada
    trajes de servo: uma túnica de lã não tingida, calças largas, pequenas roupas
    e chinelos de pano para seus pés.
    Apenas o homem bondoso conhecia a Língua Comum.
    — Quem é você? — ele a perguntava todo dia.
    — Ninguém — ela respondia. Ela que tinha sido Arya da Casa
    Stark. Arya pés-leves, Arya cara de cavalo. Ela tinha sido Arry e Weasel
    também, e Gorducho e Salgada, Nan, o copeiro, um rato cinza, a ovelha, o
    fantasma de Harrenhal... Mas não de verdade. Não no fundo do seu coração.
    Lá ela era Arya de Winterfell, a filha de Lorde Eddard Stark e a Senhora
    Catelyn, que uma vez teve irmãos chamados Robb, Bran e Rickon, e uma
    irmã chamada Sansa, um lobo gigante chamado Nymeria, um meio irmão
    chamado Jon Snow. Lá ela era alguém... Mas essa não era a resposta que ele
    queria.
    Sem a língua comum, Arya não tinha como falar com os outros. Ela
    os ouvia, porém, e repetia as palavras para si mesma como se fosse seu
    trabalho. Embora o acólito mais jovem fosse cego, ele tinha o encargo das
    velas. Ele caminhava pelo templo de chinelos macios, rodeado pelas
    murmurações das velhas que vinham todos os dias para orar. Mesmo sem
    olhos, ele sempre sabia quais velas tinham se apagado.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:08 pm

    — Ele tem o cheiro para guiá-lo — explicou o homem bondoso — e
    o ar é mais quente onde uma vela queima.
    — Ele disse a Arya para fechar os olhos e experimentar por si
    mesma. Eles oraram até o amanhecer antes de quebrar o jejum, de joelhos ao
    redor da piscina ainda preta. Alguns dias o homem bondoso conduzia a
    oração, outros dias era a esposa. Arya conhecia apenas algumas palavras dos
    Braavosi. Aquelas que eram as mesmas no Alto Valiriano. Então ela orou
    sua própria oração para o deus de Muitas Faces, aquela que ia, Sor Gregor,
    Dunsen, Raff, o Querido, Sor Ilyn, Sor Meryn, Rainha Cersei. Ela orava em
    silencio. Se o deus de Muitas Faces fosse mesmo um deus, ele a ouviria.
    Adoradores vinham para a Casa do Preto e Branco todos os dias. A
    maioria vinha sozinha e sentava sozinha; ascendiam suas velas em um altar
    ou em outro, oravam ao lado da piscina, e algumas vezes choravam. Alguns
    bebiam do copo preto e adormeciam; a maioria não bebia. Não havia
    serviços, nenhum som, nem coros de louvores para agradar os deuses. O
    templo nunca estava cheio. De tempo em tempo, um adorador pedia para ver
    um sacerdote, e o homem bondoso ou a esposa o levava para baixo no
    sacrário, mas isso não acontecia frequentemente.
    Treze diferentes deuses permaneciam ao longo das paredes,
    rodeados por suas pequenas luzes. A Mulher que Chora era a favorita de
    velhas mulheres, Arya percebeu; homens ricos preferiam o Leão da Noite,
    homens pobres o Viajante Encapuzado, Soldados acendiam velas para
    Bakkalon, a Criança Pálida, vendedores para a Donzela da Lua Pálida e o
    Rei Merling. O Estranho tinha seu santuário também, embora raramente
    alguém viesse ter com ele. . Na maioria das vezes apenas uma pequena vela
    permanecia flamejando em seus pés. O homem bondoso dizia que não
    importava.
    — Ele tem muitas faces, e muitos ouvidos para ouvir.
    A colina sobre qual o templo estava parecia uma colmeia, com
    passagens escavas nas rochas. Os sacerdotes e acólitos tinham seus quartos
    no primeiro nível, Arya e os servos no segundo. O nível mais baixo era
    proibido para todos, salvo o sacerdote. Lá era onde o santuário sagrado
    estava.
    Quando não estava trabalhando, Arya estava livre para vagar como
    ela quisesse entre as abobadas e armazéns, no entanto, desde que não
    deixasse o templo, nem descesse ao porão do terceiro andar. Ela encontrou
    um quarto cheio de armas e armaduras: elmos ornamentados, e curiosas
    couraças velhas, espadas longas, punhais, bestas e lanças altas, com as folhas
    em formatos de cabeças. Outro cofre estava cheio de roupas, peles grossas e
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:08 pm

    sedas esplendidas em quase uma centena de cores, ao lado de pilhas de
    trapos de mal cheiro, e mantos ásperos e puídos. Deve haver câmaras de
    tesouros também, Arya pensou. Ela imaginou pilhas de placas de ouro,
    bolsas de moedas de pratas, safiras azuis como o mar, colares de pérolas
    verdes.
    Um dia o homem bondoso foi até ela inesperadamente e perguntou o
    que ela estava fazendo. Ela disse a ele que tinha se perdido.
    — Você mente. Pior, você mente miseravelmente. Quem é você?
    — Ninguém.
    — Outra mentira — ele suspirou.
    Weese teria batido nela pra caramba se tivesse pegado ela em uma
    mentira, mas era diferente na Casa do Preto e do Branco. Quando ela estava
    ajudando na cozinha, Umma, algumas vezes batia nela com sua colher se ela
    ficasse no caminho, mas ninguém mais nunca ergueu uma mão para ela. Eles
    somente levantam suas mãos para matar, ela pensou.
    Ela se dava bem o suficiente com a cozinheira. Se Umma colocava
    uma faca e uma cebola na mão dela, Arya iria cortá-la. Umma empurrava-a
    em direção a um monte de massa e Arya iria amassa-la até a cozinheira dizer
    pare (pare foi a primeira palavra Braavosi que ela aprendeu). Umma lhe
    entregava um peixe, e Arya o desossava e o foliava. As águas salobras que
    rodeavam Bravos fervilhavam com peixes e mariscos de toda espécie, o
    homem bondoso explicou. Um lento rio marrom entrava na lagoa pelo sul,
    vagando por uma vasta extensão de canas, piscinas de marés e poços de
    lama. Ameijoas e berbigões abundavam por ali; mexilhões, ranas, tartarugas,
    caranguejos de lama, caranguejos leopardos e caranguejos escaladores,
    enguias vermelhas, enguias pretas, enguias listradas, lampreias e ostras;
    todas tinham frequente aparições na mesa de madeira entalhada onde os
    servos do deus de Muitas Faces tomavam suas refeições. Algumas noites
    Umma temperava o peixe com sal marinho e pimenta rachada, ou cozia as
    enguias com alho picado. Muito de vez em quando, o cozinheiro até usava
    um açafrão. Torta quente cairia bem aqui, Arya pensava.
    A ceia era sua hora favorita. Já tinha se passado um longo tempo
    desde que Arya tinha ido dormir toda noite com a barriga cheia. Algumas
    noites o homem bondoso permitia que ela lhe fizesse perguntas. Uma vez ela
    perguntou a ele porque as pessoas que vinham ao templo pareciam tão
    pacíficas; em sua casa, as pessoas tinham medo de morrer. Ela se lembrou de
    como aquele escudeiro chorou quando ela o esfaqueou na barriga, e a forma
    como Sor Amory Lorch tinha implorado quando Goat o tinha jogado em
    uma cova de urso. Lembrou-se da aldeia no Olho de Deus e a maneira como
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:08 pm

    os moradores gritaram e gemeram toda vez que Tickler começava a
    perguntar atrás do ouro.
    — Morte não é a pior coisa — o homem bondoso replicou. — É o
    presente dele para nós, um fim para a ganância e para a dor. No dia que nós
    nascemos o deus de Muitas Faces envia para cada um de nós um anjo negro
    para caminhar através da vida do nosso lado. Quando nossos pecados e
    nossos sofrimentos crescem em demasia para serem suportados, o anjo nos
    toma pela mão para nos levar as terras da noite, onde as estrelas sempre
    queimam brilhantes. Aqueles que vem beber do copo negro estão procurando
    por seus anjos. Se eles estão com medo, as velas os acalmam. Quando você
    sente o cheiro das velas queimando, o que elas fazem você pensar, minha
    criança?
    Winterfell, ela talvez tivesse dito. Eu sinto cheiro da neve, fumaça e
    pinheiros. Eu sinto o cheiro dos estábulos. Eu sinto o riso de Hodor, e Jon e
    Robb batalhando no quintal, e Sansa cantando sobre algum estúpido conto
    de senhora. Eu sinto o cheiro das criptas onde os reis de pedras estão, eu
    sinto o cheiro de pão assado, eu sinto o cheiro das arvores-coração. Eu
    sinto o cheiro de minha loba, de seu pelo, quase como se ela ainda estivesse
    do meu lado.
    — Eu sinto o cheiro de nada — ela disse, para ver o que ele iria
    dizer.
    — Você mente — ele disse — mas você pode manter seus segredos
    se você deseja, Arya da Casa Stark. — Ele apenas a chamava assim quando
    ela o desapontava. — Você sabe que talvez deixe esse lugar. Você não é um
    de nós, não ainda. Você poderá ir para casa a hora que quiser.
    — Você me disse que se eu partir, eu não poderia voltar.
    — Exatamente.
    Aquelas palavra a entristeceram. Syrio costumava dizer isso também,
    Arya lembrava. Ele dizia isso todo o tempo. Syrio Forel lhe tinha ensinado
    esgrima e morrera por ela. — Eu não quero partir.
    — Então fique… Mas lembre-se, a Casa do Preto e Branco não é um
    lar para órfãos. Todo homem deve servir debaixo desses telhados. Valar
    dohaeris é como nós dizemos aqui. Permaneça se quiser, mas saiba que nós
    iremos requerer sua obediência. Em todo o tempo e em todas as coisas. Se
    você não pode obedecer, você deve partir.
    — Eu posso obedecer.
    — Nós veremos.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:09 pm

    Ela tinha outras tarefas além de ajudar Umma. Ela varria o chão do
    templo, servia durante as refeições, separava as pilhas de roupas dos homens
    mortos, esvaziava seus bolsos e contava pilhas de moedas. Todas as manhãs
    ela caminhava ao lado do homem bondoso enquanto ele fazia sua patrulha
    no templo para encontrar os homens mortos. Silenciosa como uma sombra,
    ela disse a si mesma, se lembrando de Syrio. Ela carregava lanternas com
    persianas de ferro espesso. Em cada nicho, ela abria o disparador com um
    crack, para procurar cadáveres. Os mortos nunca eram difíceis de encontrar.
    Eles vinham para a Casa do Branco e Preto, oravam por uma hora, um dia ou
    um ano, bebiam da doce e negra água da piscina, e se esticavam em uma
    cama de pedra atrás de um deus ou outro. Eles fechavam seus olhos, e
    dormiam, e nunca mais acordavam.
    — O presente do Deus Muitas Faces assume formas variadas — o
    homem bondoso disse a ela — mas aqui é sempre gentil. — Quando eles
    encontravam um corpo, ele fazia uma oração e checava se realmente estava
    morto, então Arya buscava os homens servos, cuja tarefa era levar os mortos
    até o cofre. Lá acólitos iriam despir e lavar os corpos. Roupas, moedas e
    objetos de valores dos homens mortos iam para uma caixa para a seleção.
    Suas frias carnes eram levadas para o sacrário, onde apenas o sacerdote
    podia ir. O que acontecia ali não era permitido a Arya saber. Uma vez,
    enquanto ela comia sua ceia, uma terrível suspeita a tomou, então ela largou
    sua faca e encarou desconfiada a fatia pálida de carne branca em seu prato. O
    Homem bondoso viu o horror em seu rosto.
    — É um porco, criança — ele disse a ela. — Somente um porco.
    Sua cama era de pedra, e a fazia se lembrar de Harrenhal e a cama
    que ela dormia quando esfregava os degraus para Weese. O colchão era
    recheado com trapos ao invés de palha, o que a tornava menos volumosa do
    que em Harrenhal, mas menos arranhada também. A ela foi permitido tantos
    cobertores quando ela desejasse: Cobertores de lã grossos, verdes, vermelhos
    e xadrez. E sua cela era somente dela. Ela mantinha seus tesouros lá: O garfo
    de prata, o chapéu e luvas sem dedos dado a ela pelos marinheiros da Filha
    do Titã, sua adaga, botas e cintos, sua pequena economia de moedas e as
    roupas que vinha usando...
    E Agulha.
    Apesar de seus deveres deixarem pouco tempo para sua costura, ela
    praticava quando podia, duelando com sua sombra sob a luz de uma vela
    azul. Uma noite aconteceu de uma órfã passar e ver Arya em sua brincadeira
    com a espada. A garota não disse uma palavra, mas no outro dia, o homem
    bondoso acompanhou Arya de volta para sua cela.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:09 pm

    — Você precisa de livrar de tudo isso. — Ele disse sobre os seus
    tesouros.
    Arya sentiu como se fosse atingida.
    — Eles são meus.
    — Quem é você?
    — Ninguém.
    — Ele pegou o garfo de prata.
    — Isso pertence à Arya da Casa Stark. Todas essas coisas pertencem
    a ela. Aqui não há lugar para isso. Aqui não há lugar para ela. O nome dela
    carrega muito orgulho, e aqui nós não temos lugar para o orgulho. Nós
    somos servos aqui.
    — Eu sirvo — ela disse, ferida. Ela gostava do garfo de prata.
    — Você brinca de ser uma serva, mas em seu coração você é a filha
    de um lorde. Você tem usado outros nomes, mas você os usa como usa um
    vestido. Debaixo deles você é sempre Arya.
    — Eu não uso vestidos. Você não pode lutar em um estúpido
    vestido.
    — Porque você desejaria lutar? Você é algum bravo, caminhando
    por becos, procurando por sangue? — Ele suspirou. — Antes de você beber
    do copo frio, você deve oferecer você toda para o Deus de Muitas Faces. Seu
    corpo. Sua alma. Você mesma. Se você não pode trazer você para fazer isso,
    você deve deixar este lugar.
    — A moeda de ferro...
    —… tem pagado sua passagem aqui. A partir deste momento você
    deve pagar do seu jeito, e o custo é alto.
    — Eu não tenho nenhum ouro.
    — O que nós oferecemos não pode ser pago com ouro. O custo é
    você toda. Homens pegam muitos caminhos através deste vale de lágrimas e
    dor. O nosso é o mais difícil. Poucos são feitos para caminhar nele. É preciso
    ter força incomum de espírito, e um coração duro e forte.
    Eu tenho um buraco onde meu coração deveria estar, ela pensou, e
    nenhum lugar mais para ir.
    — Eu sou forte. Tão forte quanto você. E eu sou dura.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:09 pm

    — Você acredita que este é o único lugar para você. — Era como se
    ele tivesse lido seus pensamentos — você está errada nisso. Você
    encontraria mais delicado serviço na casa de algum mercador. Ou você logo
    seria uma cortesã, e teria músicas sobre sua beleza? Diga a palavra, e nós a
    enviaremos para o Pérola Negra ou a Filha do Crepúsculo. Você ira dormir
    em pétalas de rosas e usar saias de seda que irão farfalhar enquanto você
    anda, e grandes lordes vão mendigar por seu sangue de donzela. Ou se é
    casamento e crianças que você deseja, diga-me, e então encontraremos um
    marido para você. Algum aprendiz honesto, um velho rico, um marinheiro, o
    que quer que deseje.
    Ela não queria nada disso. Sem palavras, ela sacudiu sua cabeça.
    — É com Westeros que você sonha, criança? A Senhora Luminosa
    de Luco Prestayn parte amanha, para Vila Gaivota, Valdocaso, Porto Real, e
    Tyrosh. Devemos encontrar uma passagem nela pra você?
    — Eu acabei de chegar de Westeros. — Às vezes parecia que se
    tinha passado mil anos desde que ela fugira de Porto Real, e às vezes parecia
    como se fosse ontem, mas ela sabia que não podia voltar. — Eu irei se você
    não me quiser, mas eu não quero ir pra lá.
    — Meus desejos não importam — disse o homem bondoso. — Pode
    ser que o Deus de Muitas Faces a conduziu aqui para ser seu instrumento,
    mas quando eu olho para você eu vejo uma criança... E pior, uma criança
    garota. Muitos têm servido ao Deus de Muitas Faces por séculos, mas apenas
    alguns de seus servos tem sido mulheres. Mulheres trazem vida para o
    mundo. Nós trazemos o presente da morte. Ninguém pode fazer os dois.
    Ele esta tentando me assustar pra fora, Arya pensou, do mesmo
    modo que ele faz com algum verme.
    — Eu não me importo com isso.
    — Você deveria. Fique, e o Deus de Muitas Faces irá pegar suas
    orelhas, seu nariz, sua língua. Ele ira pegar seus tristes olhos cinzentos que já
    viram muito. Ele ira pegar suas mãos, seus pés, seus braços e pernas, suas
    partes privadas. Ele ira tomar suas esperanças e sonhos, seus amores e seus
    ódios. Aqueles que entram para seu serviço devem desistir de tudo que os
    fazem quem eles são. Você pode fazer isso?
    Ele a segurou pelo queixo e olhou profundamente em seus olhos, tão
    profundo que a fez estremecer.
    — Não — ele disse. — Eu acho que você não pode
    Arya empurrou suas mãos.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:09 pm

    385
    — Eu poderia se eu quisesse.
    — Assim diz Arya da Casa Stark, comedora de grandes vermes.
    — Eu posso desistir de qualquer coisa que eu quiser.
    Ele gesticulou para seus tesouros.
    — Então comece com esses.
    Aquela noite depois da sopa, Arya voltou para sua cela, retirou seu
    robe e sussurrou seus nomes, mas o sono recusou pegá-la. La se jogou no
    colchão recheado com trapos e mordeu seu lábio. Ela podia sentir o buraco
    dentro dela onde um coração havia estado.
    Na escuridão da noite ela se levantou outra vez, vestiu as roupas que
    ela usara em Westeros, e seu cinturão. Agulha estava pendurada em um
    quadril, sua adaga em outro. Com seu chapéu em sua cabeça, e suas luvas
    sem dedos dobrado em seu cinto, e seu garfo de prata em uma mão, ela
    furtivamente subiu os degraus. Aqui não há lugar para Arya da Casa Stark,
    ela estava pensando. O lugar de Arya era Winterfel, só que Wenterfell tinha
    se acabado. Quando a neve cai e os ventos brancos sopram, o lobo solitário
    morre, mas a alcateia sobrevive. Ela não tinha alcateia, no entanto. Eles
    haviam matado sua matilha, Sor Ilyn, Sor Meryn e a rainha, e quando ela
    tentou fazer uma nova, todos eles fugiram, Torta Quente, Gendry, Yoren e
    Lommy Mãos-verdes, até mesmo Harwin, que tinha sido homem de seu pai.
    Ela passou através das portas, para fora, dentro da noite.
    Era a primeira vez que ela estava do lado de fora desde que entrara
    no templo. O céu estava nublado e a neblina cobria o chão como um manto
    cinza desgastado. A sua direita, ela ouvia o remar do canal. Bravos, a Cidade
    Secreta, ela pensou. O nome parecia muito apto. Ela rastejou descendo os
    degraus íngremes para o cais coberto, as brumas rodopiantes rodando em
    seus pés. Estava tão nebuloso que ela não podia nem ver a água, mas ela
    ouvia o gotejar suave nas estacas de pedras. Ao longe, uma luz brilhava na
    penumbra: O fogo noturno no templo dos sacerdotes vermelhos, ela pensou.
    A beira da água, ela parou, o garfo de prata na mão. Era prata real.
    Totalmente sólido em sua mão. Não é meu garfo. É das Salinas. Ela deixou
    que ele caísse de sua mão, ouviu o plop suave enquanto ele se afundava na
    água.
    Seu chapéu foi o próximo, e então as luvas. Eles pertenciam a
    Salinas também. Ela esvaziou a bolsa em sua palma. Cinco moedas de prata
    e nove de cobre, além de alguns cereais. Ela os espalhou através da água.
    Depois suas botas. Elas fizeram o barulho mais alto. Sua adaga a seguiu,
    aquela que ela conseguira do arqueiro que implorara a Cão de Caça por
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:09 pm

    misericórdia. Seu cinturão mergulhou no canal. Seu manto, túnica, calças,
    roupas pequenas, tudo isso. Todos, exceto Agulha.
    Ela permaneceu no final da doca, pálida e tremendo no nevoeiro. Em
    sua mão, Agulha parecia sussurrar para ela. Fure-os com a extremidade
    pontiaguda, e não conte a Sansa! A marca de Mikken estava na lamina. É
    somente uma espada. Se ela precisasse de uma espada havia centenas
    debaixo do templo. Agulha era pequena demais para ser uma espada
    apropriada, ela era pouco mais que um brinquedo. Ela tinha sido uma
    estúpida garotinha quando Jon tinha feito para ela.
    — É apenas uma espada. — ela disse, em voz alta desta vez.
    ...mas não era.
    Agulha era Robb, Bran e Rickon, sua mãe e seu pai, até mesmo
    Sansa. Agulha era os muros cinzentos de Winterfell, e o riso de suas pessoas.
    Agulha era a neve de verão, as histórias da Velha Ama, a árvore coração
    com suas folhas vermelhas e rosto assustador, o cheiro quente da terra dos
    jardins de vidro, o som do vento do norte chacoalhando as janelas do seu
    quarto. Agulha era o sorriso de Jon Snow. Ele costumava bagunçar meu
    cabelo e me chamar de irmãzinha, ela se lembrou, e repentinamente havia
    lágrimas em seus olhos.
    Polliver havia roubado a espada dela quando a Montanha havia a
    prendido, mas quando ela e o cão entraram em uma estalagem em uma
    encruzilhada, lá estava ela. Os deuses querem que eu a tenha. Não os sete,
    nem o Deus de Muitas Faces, mas os deuses de seus pais, os velhos deuses
    do norte. O Deus de Muitas Faces pode ter o resto, ela pensou, mas ele não
    pode ter isto.
    Ela caminhou para os degraus tão nua quanto no dia do seu nome,
    segurando Agulha. No meio do caminho, uma das pedras se moveu sob seus
    pés. Arya ajoelhou-se e cavou ao redor de suas bordas com os dedos. Não
    quis se mover de inicio, mas Arya persistiu, pegando na argamassa em ruína
    com as unhas. Finalmente a pedra deslocou. Ela usou as duas mãos e a
    puxou, uma fenda se abriu a sua frente.
    — Você ficara salva aqui — ela disse a Agulha. — Ninguém saberá
    onde você está exceto eu.
    Ela empurrou espada e bainha para debaixo do degrau, então
    empurrou a pedra de volta ao lugar, de modo que parecesse com todas as
    outras pedras. Enquanto ela subia de volta para o templo, ela contou os
    degraus, então ela saberia onde encontrar a espada outra vez. Um dia talvez
    precisasse dela.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:10 pm

    — Um dia. — Ela sussurrou para si mesma.
    Ela nunca contou ao homem bondoso que ela tinha feito, mas
    mesmo assim ele sabia. Na próxima noite ele veio até a cela dela, depois da
    ceia.
    — Criança — ele disse — venha e se sente comigo. Eu tenho um
    conto para contar a você.
    — Que tipo de conto? — Ela perguntou cautelosa.
    — O conto de seus princípios. Se você for um de nós, você faria
    bem em saber quem nós somos e como chegamos a ser. Os homens podem
    talvez sussurrar sobre os Homens Sem Rosto de Bravos, mas nós somos
    mais velhos que a Cidade Secreta. Antes que se fizesse o Titã , antes do
    desmascaramento de Uthero, antes da Fundação, nós já existíamos. Nós
    florescemos em Bravos entre essas névoas nortenhas, mas começamos a
    aparecer em Valiria, entre os escravos miseráveis que trabalhavam nas minas
    profundas sob as Quatorze Chamas que iluminava as antigas noites da
    Cidade Franca. A maioria das minas são locais úmidos e frios, pedaços de
    pedras frias e mortas, mas as Quatorze Chamas vivia nas montanhas com
    veias de rocha fundida e corações de fogo. Então, as minhas da velha Valiria
    permaneciam sempre quentes, e elas cresceram cada vez mais quentes
    enquanto os eixos se cavavam, mais profundos, cada vez mais. Os escravos
    trabalhavam em um forno. As rochas em volta deles eram muito quentes
    para tocar. O ar fedia a enxofre e enchia seus pulmões enquanto respiravam.
    As solas de seus pés queimavam mesmo através das mais grossas sandálias.
    Às vezes, quando eles quebravam uma parede a procura de ouro, eles
    encontravam vapor ao invés de disso, ou água em ebulição, ou rocha
    fundida. Certos eixos foram cortados tão baixos que os escravos não podiam
    ficar de pé, mas tinham que dobrar e se rastejar. E havia vermes naquela
    escuridão vermelha também.
    — Minhocas? — ela perguntou, franzido a testa.
    — Foginhocas. Alguns dizem que são semelhantes a dragões, por
    cuspirem fogo também. Mas ao invés de voar pelo céu, eles perfuram pedras
    e o solo. Se os velhos contos podem ser acreditados, elas estavam entre as
    Quatorze Chamas antes mesmo de os dragões chegarem. Os mais novos não
    eram mais largos do que estes seus magros braços, mas eles podiam crescer
    até monstruosos tamanhos e não tem nenhum amor por homens.
    — Eles mataram os escravos?
    — Cadáveres queimados e enegrecidos eram encontrados
    frequentemente em poços onde as rochas foram rachadas ou cheias de
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:10 pm

    buraco. Ainda assim as minas foram mais para o fundo. Escravos pereceram
    pelas rochas, mas seus mestres não se importavam. Ouro vermelho, ouro
    amarelo e prata eram reconhecidos por serem mais preciosos do que as vidas
    dos escravos, pois os escravos eram baratos na velha Cidade Franca. Durante
    a guerra, os valirianos os pegaram aos milhares. Em tempos de paz eles os
    criavam, acho que só os piores eram enviados para morrer na escuridão
    vermelha.
    — Os escravos não se levantaram e lutaram?
    — Alguns fizeram — ele disse. — Revoltas eram comuns nas minas,
    mas poucos conseguiram muito. Os senhores dragões da velha Cidade
    Franca eram fortes em feitiçaria, e os homens menores os desafiavam
    correndo enorme risco. O primeiro Homem sem Rosto foi um dos que o fez.
    — Quem era ele? — Arya desabafou, antes de parar para pensar.
    — Ninguém — ele respondeu — Alguns dizem que ele era um
    escravo. Outros insistem que ele era filho de um homem da Cidade Franca,
    nascido de ações nobres. Alguns vão mesmo dizer que ele era um bispo que
    teve pena de suas acusações. A verdade é: ninguém sabe. Quem quer que ele
    fosse moveu-se entre os escravos e deu ouvido a suas orações. Homens de
    centenas de diferentes nações trabalhavam na mina, e cada oração era para
    seus próprios deuses em suas próprias línguas, porém todos eles oravam pela
    mesma coisa. Era liberdade que eles pediam, e para que a dor acabasse.
    Uma pequena coisa, e simples. Mesmo assim seus deuses não responderam,
    e seus sofrimentos continuaram. Seus deuses estariam todos mortos? Ele se
    perguntou… Até que algo aconteceu com ele, uma noite, na escuridão
    vermelha. Todos os deuses têm seus instrumentos, homens e mulheres que
    os servem e os ajudam para trabalhar em sua vontade na terra. Os escravos
    não estavam chorando para milhares de deuses diferentes, parecia, mas para
    um Deus com milhares de diferentes faces... E ele era o instrumento do
    deus. Naquela mesma noite ele escolheu o mais miserável dos escravos,
    aquele que havia orado fervorosamente para a liberação, e libertou-o de seu
    cativeiro. O primeiro presente havia sido dado.
    Arya recuou.
    — Ele matou o escravo? — Aquilo não soava certo — Ele devia ter
    matado os mestres!
    — Ele trouxe o presente para eles da mesma forma… mas este é um
    conto para outro dia, um que é melhor não compartilhar com ninguém. —
    Ele abaixou a cabeça. — E quem é você, criança?
    — Ninguém.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:10 pm

    — Mentira.
    — Como você sabe? É uma mágica?
    — Um homem não precisa ser mago pra reconhecer a verdade da
    falsidade, não se ele tem olhos. Você só precisa aprender a ler um rosto.
    Olhos nos olhos. A boca. Os músculos aqui, no canto da mandíbula, e aqui,
    onde o pescoço se junta aos ombros. — Ele a tocou levemente com os dois
    dedos. — Alguns mentirosos piscam. Alguns encaram, outros desviam o
    olhar, outros lambem os lábios. Muitos cobrem suas bocas assim que contam
    uma mentira, como se quisesse esconder suas decepções. Outros sinais
    podem ser mais sutis, mas eles estão sempre lá. Um sorriso falso e um
    verdadeiro podem parecer iguais, mas eles são tão diferentes quando o
    crepúsculo e o amanhecer. Você pode diferenciar o crepúsculo e o
    amanhecer?
    Arya assentiu, embora não estivesse certa se poderia.
    — Então você pode aprender a ver uma mentira… E uma vez que
    você aprender, nenhum segredo será salvo de você.
    — Me ensine. — Ela seria ninguém se fosse isso o que precisasse.
    Ninguém não tinha buracos dentro dela.
    — Ela vai ensinar você. — Disse o homem bondoso quando a órfã
    apareceu do lado de fora de sua porta. — Começando com a língua de
    Bravos. Que uso você tem se não pode falar ou entender? E você deve
    ensiná-la sua própria língua. Vocês duas devem aprender juntas, uma com a
    outra. Você fará isso?
    — Sim. — Disse, e a partir daquele momento ela era uma noviça na
    Casa do Preto e Branco. Seus trapos de servos foram levados embora, e a ela
    foi dado roupas para usar, um robe preto e branco, tão suave quanto o velho
    cobertor vermelho que ela uma vez teve em Winterfell. Por baixo ela usava
    roupas de linho branco fino, além de uma pequena túnica preta que batia
    pouco abaixo de seus joelhos.
    Posteriormente, ela e a órfã passavam o tempo todo tocando e
    apontando coisas, enquanto uma tentava ensinar à outra algumas palavras em
    sua própria língua. Simples palavras a princípio, copo, velas e sapatos; então
    palavras difíceis, e então frases. Tempos atrás Syrio Forel costumava fazer
    Arya permanecer em uma perna. Outra vez a enviava para perseguir gatos.
    Ela teve que dançar a dança da água entre as árvores, com uma espada de
    pau na mão. Todas essas coisas tinham sido difíceis, mas isto era ainda mais
    difícil.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:10 pm

    Até mesmo costura é mais divertido do que aprender línguas, ela
    pensou, depois de uma noite em que tinha esquecido metade das palavras
    que ela pensou que sabia, e pronunciou a outra metade tão mal que a órfã
    tinha rido dela. Minhas frases são tão tortas como meus pontos costumavam
    ser. Se a menina não fosse tão pequena e carente, Arya teria estapeado seu
    rosto estúpido. Ao invés disso ela mordia o lábio. Muito estúpida para
    aprender e muito estúpida para desistir.
    A órfã aprendeu a língua comum mais rápido. Um dia ela se virou
    para Arya durante a ceia e perguntou:
    — Quem é você?
    — Ninguém — Arya respondeu em bravosiano.
    — Você mente — disse a órfã. — Você deve mentir mais bom.
    Arya riu.
    — Mais bom? Você quer dizer melhor, estúpida.
    — Melhor estúpida. Eu vou mostrar a você.
    No próximo dia eles começaram o jogo de mentiras, fazendo
    perguntas uma para a outra, usando turnos. Algumas vezes elas
    responderiam a verdade, às vezes deveriam mentir. O questionador deveria
    tentar dizer o que era real e o que era falso. A órfã parecia saber sempre.
    Arya tinha que adivinhar. Na maioria das vezes ela adivinhava errado.
    — Quantos anos você tem? — A órfã a perguntou uma vez, na
    língua comum.
    — Dez — disse Arya, e cruzou os dedos. Ela pensava que ainda
    tinha dez, embora fosse difícil saber com certeza. Os bravosiano contavam
    os dias diferente de como eles faziam em Westeros. Tudo o que ela sabia era
    que o dia de seu nome havia chegado e passado.
    A órfã assentiu. Arya assentiu de volta, e em seu melhor bravosiano
    disse:
    — Quantos anos você tem?
    A órfã lhe mostrou dez dedos. Então dez outra vez, e ainda outra
    vez. Então seis. Sua expressão permaneceu como água parada. Ela não pode
    ter trinta e seis anos, Arya pensou. Ela é uma garotinha.
    — Você está mentindo. — Ela disse. A órfã balançou a cabeça e
    mostrou mais uma vez: dez, dez, dez e seis. Ela disse as palavras para trinta
    e seis, e fez Arya dizer também.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:10 pm

    No próximo dia, ela disse ao Homem Bondoso o que a órfã tinha
    dito.
    — Ela não mentiu — o sacerdote disse, rindo. — Aquela que você
    chama de órfã é uma mulher crescida que passou sua vida servindo ao Deus
    de Muitas Faces. Ela deu a ele tudo o que ela era, tudo o que ela talvez
    viesse a ser, toda a vida que continha nela.
    Arya mordeu o lábio.
    — Eu serei como ela?
    — Não — ela disse. — Não, a menos que você deseje. São os
    venenos que fizeram ela do jeito que você a vê.
    Venenos. Ela entendia então. Toda noite depois da oração à órfã
    esvaziava um frasco de pedra dentro das águas da piscina negra.
    A órfã e o homem bondoso não eram os únicos servos do Deus de
    Muitas Faces. De tempo em tempo, outros visitavam a casa do Branco e
    Preto. O sujeito gordo tinha vorazes olhos negros, um nariz adunco, e uma
    boca cheia de dentes amarelos. O rosto severo nunca sorria, seus olhos eram
    pálidos e seus lábios nunca sorriam. O homem charmoso tinha a barba
    diferente em cada vez que ela o via, e um nariz diferente, mas ele nunca era
    nada menos que gracioso. Estes três vinham frequentemente, mas ainda
    tinham outros: O vesgo, o fidalgo, e o homem esfomeado. Uma vez o
    homem gordo e o vesgo vieram juntos. Umma enviou Arya para servi-los.
    — Quando você não está servindo, você deve ficar imóvel como se
    tivesse sido esculpida em pedra — o Homem Bondoso lhe disse. — Você
    pode fazer isso?
    — Sim! —Antes que você possa aprender a se mover você deve
    aprender a ficar parada, Syrio Forel tinha dito a ela muito tempo atrás em
    Porto Real, e ela aprendeu. Ela tinha servido como copeira de Roose Bolton
    em Harrenhal, e ele a esfolaria se ela derramasse o seu vinho.
    — Bom — o homem Bondoso disse. — Seria melhor se você fosse
    cega e surda também. Você talvez escute coisas, mas você deve deixá-las
    passar de um ouvido para o outro. Não as ouça.
    Arya ouviu muito e mais naquela noite, mas quase tudo foi na língua
    dos homens de Bravos, e ela dificilmente entendia uma palavra em dez.
    Parada como uma pedra, ela disse a si mesmo. A parte mais difícil era ela
    lutando para não bocejar. Antes de a noite acabar, seus pensamentos estavam
    vagando. Permanecendo de pé lá com a bandeja em suas mãos, ela sonhou
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:10 pm

    que era um lobo, correndo livre em uma floresta a meia noite com uma
    grande alcateia uivando em seus calcanhares.
    — Os outros homens são todos sacerdotes? — Ela perguntou ao
    homem bondoso na manha seguinte. — Aquelas são seus verdadeiros rostos?
    — O que você acha criança?
    Ela achava que não.
    — Jaqen H’ghar é um sacerdote também? Você sabe se Jaqen vai
    voltar para Bravos?
    — Quem? — Ele disse todo inocente.
    — Jaqen H’ghar. Ele me deu a moeda de ferro.
    — Não conheço ninguém com este nome, criança.
    — Eu o perguntei como ele muda sua face, e ele disse que não é
    mais difícil do que pegar um novo nome, se você sabe o jeito.
    — Ele disse?
    — Você vai me mostrar como mudar meu rosto?
    — Se você deseja — ele pegou o queixo dela com a mão e virou sua
    cabeça — estufe suas bochechas e estique sua língua.
    Arya estufou sua bochecha e colocou sua língua pra fora.
    — Ai está. Seu rosto esta mudado.
    — Não foi isso que eu quis dizer. Jaqen usava magia.
    — Toda feitiçaria tem custo, criança. Anos de oração, sacrifício e
    estudo são requeridos para ter um glamour apropriado.
    — Anos? — Ela disse, desanimada.
    — Se isso fosse fácil, todos os homens fariam. Você deve caminhar
    antes de correr. Porque usar um feitiço, onde truques de atores vão servir?
    — Eu não sei nenhum truque de ator também.
    — Então pratique fazer expressões. Debaixo de sua pele estão
    músculos. Aprenda a usá-los. É o seu rosto. Suas bochechas, seus lábios,
    suas orelhas. Sorrisos e carrancas não devem vir a você como rajadas
    repentinas. Um sorriso deve ser seu servo, e vir apenas quando você o
    chamar. Aprenda a controlar o seu rosto.
    — Mostre-me como.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:11 pm

    — Estufe suas bochechas — ela estufou — levante suas
    sobrancelhas. Não, mais alto. — Ela fez isso também — Bom. Veja quanto
    tempo você consegue segurar assim. Não será muito. Tente novamente
    amanha. Você encontrara um espelho de Myr nos cofres. Treine diante dele
    uma hora todos os dias. Olhos, bochechas, orelhas, lábios, narinas, aprenda a
    controlar todos eles. — Ele pegou o queixo dela. — Quem é você?
    — Ninguém.
    — Mentira. Uma triste pequena mentira, criança.
    Ela encontrou o espelho de Myr no dia seguinte. E toda manhã e
    toda noite ela sentava diante dele com uma vela em cada lado, fazendo
    expressões. Controle seu rosto, ela disse a si mesmo, e assim você pode
    mentir.
    Logo depois o homem bondoso a mandou ir ajudar os outros acólitos
    a ir preparar os cadáveres. O trabalho não estava nem perto de ser tão duro
    como lavar os degraus de Weese. Às vezes se o cadáver era grande ou
    gordo, ela lutava com o peso, mas a maioria dos mortos eram velhos com
    ossos secos e pele enrugada. Arya os observava enquanto os lavava, se
    perguntando o que os trouxe para a piscina negra. Ela se lembrou do conto
    que ela tinha ouvido da Velha Ama, sobre como às vezes durante um longo
    inverno, homens que viveram além de seus anos anunciavam que iam caçar.
    E suas filhas choravam e seus filhos viravam seus rostos para o fogo, ela
    podia ouvir a Velha Ama dizendo, mas ninguém podia para-los, ou
    perguntar o que eles pretendiam caçar, com a neve tão profunda e o vendo
    cortante. Ela se perguntou o que o velho homem de Bravos disse a seus
    filhos e suas filhas, antes deles virem para a casa do Branco e Preto.
    A lua foi e voltou, e Arya nunca a viu. Ela serviu, lavou os mortos,
    fez expressões em frente os espelhos, aprendeu a língua de Bravos, e tentava
    se lembrar de que ela era ninguém.
    Um dia o homem bondoso foi até a ela.
    — Seu sotaque é terrível. — Ele disse. — Mas você tem palavras
    suficiente para fazer seus desejos entendidos. É tempo de você nos deixar
    por um tempo. O único jeito de você ser mestre em nossa língua é se você a
    falar todos os dias do amanhecer ao entardecer. Você deve ir.
    — Quando? — Ela perguntou a ele. — Pra onde?
    — Agora — ele respondeu. — Por trás desses muros você
    encontrará uma centena de ilhas de Bravos no mar. A você foi ensinado
    palavras como mexilhões, berbigões, e ameijoas, certo?
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:11 pm

    — Sim. — Ela os repetiu, em seu melhor bravosiano.
    Seu melhor bravosiano o fez rir.
    — Isso vai servir. Ao longo do cais abaixo da cidade Afogada você
    vai encontrar um peixeiro chamado Brusco. Um homem bom com um
    problema nas costas. Ele precisa de uma garota para empurrar seu carrinho
    de mão e vender seus berbigões, mexilhões e ameijoas, para os marinheiros
    no navio. Você deve ser essa garota. Você entendeu?
    — Sim.
    — E quando Brusco perguntar, quem é você?
    — Ninguém.
    — Não, isto não vai servir do lado de fora desta Casa.
    Ela hesitou.
    — Eu poderia ser Salty, das Salinas.
    — Salty é conhecida para Ternesio, Terys e os homens do Filha do
    Titã. Você esta marcada pelo jeito que você fala então você deve ser alguma
    garota de Westeros... Mas uma garota diferente, eu acho.
    Ela mordeu seu lábio.
    — Eu poderia ser Cat?
    — Cat — ele considerou. — Sim. Bravos está cheio de gatos. Um a
    mais não será notado. Você é Cat, uma órfã de...
    — Porto Real. — Ela tinha visitado Porto Branco com seu pai duas
    vezes, mas ela conhecia Porto Real melhor.
    — Exatamente. Seu pai era remador em uma galera. Quando sua
    mãe morreu, ele levou você para o mar com ele. Então ele morreu também, e
    o seu capitão não tinha uso para você, então ele colocou você para fora do
    navio em Bravos. E qual é o nome do navio?
    — Nymeria — ela disse de uma vez.
    Aquela noite ela deixou a Casa do Preto e do Branco. Uma longa
    faca de ferro estava em seu quadril direito, escondido por sua capa, uma
    coisa remendada e desbotada que um órfão poderia vestir. Seus sapatos
    apertavam os seus dedos dos pés, e sua túnica estava tão surrada que o vento
    podia entrar através dela. Mas Bravos estava adiante dela. O ar da noite
    cheirava a fumo, sal e peixe. Os canais eram tortos, e as vielas ainda mais
    tortas. Homens lhe lançavam curiosos olhares quando ela passava, e crianças
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:11 pm

    mendigas falavam palavras que ela não conseguia entender. Por muito tempo
    ela esteve completamente perdida.
    — Sor Gregor — ela cantou, enquanto cruzava a ponte de pedra
    suportada por quarto colunas. Do seu centro ela podia ver as velas dos
    navios no Porto de Ragman — Dunsen, Raff, o Querido, Sor Ilyn, Sor
    Meryn, Rainha Cersei. — A Chuva começou a cair. Arya ergueu seu rosto
    para cima para deixar as gotas de chuva lavar suas bochechas, tão feliz que
    poderia dançar.
    — Valar morghulis — ela disse. — Valar morghulis, valar
    morghulis.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:11 pm

    Alayne 396


    Quando a luz do sol nascente começou a entrar pelas janelas, Alayne
    saiu da cama e se espreguiçou. Gretchel a ouviu se mover, e
    imediatamente levantou-se para lhe levar o robe. O ambiente havia
    esfriado muito durante a noite.
    E será muito pior quando o inverno chegar, pensou. Este lugar
    ficará frio como uma tumba. Alayne vestiu o robe e o atou contra a sua
    cintura.
    — O fogo se apagou quase todo. — Observou. — Ponha mais lenha,
    por favor.
    — Como queira, minha senhora. — Respondeu a anciã.
    Os aposentos de Alayne na Torre da Donzela eram maiores e mais
    luxuosas que o pequeno dormitório que lhe haviam designado quando ainda
    vivia com a Senhora Lysa. Tinha um armário e um banheiro somente para
    ela, e um balcão forjado em pedra branca, de onde podia se divisar toda a
    extensão do Vale. Enquanto Gretchel atiçava o fogo, Alayne percorreu o
    ambiente descalça e saiu ao exterior. Sentiu a pedra fria debaixo dos seus
    pés, e o vento soprava feroz, como sempre ali em cima, mas a vista fez com
    que tudo fosse esquecido por um instante. A Donzela era a torre mais
    oriental de todas as sete do Ninho da Águia, de modo que o Vale se estendia
    à sua frente, com os bosques, os rios e seus braços envoltos na névoa da luz
    da manhã. Ao iluminar as montanhas, o sol fazia com que parecessem de
    ouro maciço.
    É tão bonito... O cume nevado da Lança do Gigante se alçava ante
    ela, uma imensidão de pedra e gelo que diminuía o castelo pousado em seu
    ombro. Estalactites de seis metros de altura pendiam coladas da borda do
    precipício de onde, no verão, caíam as Lágrimas de Alyssa. Um falcão
    sobrevoou a cascata gelada, com as asas azuis estendidas contra o céu da
    manhã. Quem dera se eu tivesse asas também.
    Apoiou as mãos na balaustrada de pedra e se obrigou a olhar para
    baixo. Cerca de duzentos metros abaixo se alçava o Céu, com as bases de
    pedra escavadas na montanha, a trilha serpenteante que passava por Neve e
    Pedra até chegar ao fundo do Vale. Divisou as torres e edifícios da Porta da
    Lua, pequenos como brinquedos de crianças. Ao redor das muralhas, os
    exércitos dos Senhores Rebeldes começavam a ganhar vida, e os homens
    saiam de suas tendas como formigas de um formigueiro.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 2:12 pm

    Quem dera fossem formigas de verdade, pensou. Poderia pisá-las e
    esmagá-las.
    Lord Hunter, o Jovem, e seus homens haviam se unido aos demais
    fazia dois dias. Nestor Royce havia cerrado os portões para detê-los, mas sua
    guarnição contava com menos de trezentos homens. Cada um dos Senhores
    Rebeldes havia chegado com pelo menos mil, e eram seis. Alayne conhecia
    seus nomes tão bem como o seu próprio. Benedar Belmore, senhor de Forte
    Canção. Symond Templeton, o Cavaleiro das Nove Estrelas. Horton Redfort,
    senhor de Forte Vermelho. Anya Waynwood, senhora de Carvalho de Ferro.
    Gilwood Hunter, ao que muitos chamavam Lorde Hunter, o Jovem, senhor
    de Arco Longo. E Yohn Royce, o mais poderoso de todos, o temível Yohn
    Bronze, senhor de Pedra das Runas, primo de Nestor e cabeça do ramo mais
    importante da Casa Royce. Os seis haviam se reunido em Pedra das Runas
    após a queda de Lysa Arryn, e haviam feito o juramento de defender Lorde
    Robert, o Vale e uns aos outros. Em sua declaração não se mencionava o
    Lorde Protetor, mas falava-se de um mal governo ao qual se havia de pôr
    fim, assim como de falsos amigos e conselheiros astutos.
    Uma lufada de vento frio lhe percorreu as pernas. Entrou no
    dormitório para escolher um vestido para o desjejum. Petyr lhe havia dado o
    guarda-roupa de sua esposa defunta, um tesouro de sedas, cetins, peles e
    veludos mais ricos do que jamais havia sonhado, ainda que quase todas as
    roupas acabassem ficando muito grandes para ela. A Senhora Lysa havia
    engordado muito em sua longa sucessão de gestações, abortos e partos de
    bebês mortos. Por sorte, alguns dos vestidos mais antigos haviam sido
    confeccionados para a jovem Lysa Tully de Correrrio, e Gretchel havia
    conseguido ajustar outros para que servissem a Alayne, que aos seus treze
    anos tinhas as pernas quase tão largas quanto às teve sua tia aos vinte.
    Naquela manhã, o que captou sua atenção foi um vestido costurado
    em vermelho e azul dos Tully, com acabamento de arminho. Gretchel a
    ajudou a meter os braços nas mangas em forma de sino e atou os cordões das
    costas, e logo penteou o cabelo e o amarrou. Alayne havia voltado a
    escurecê-lo na noite anterior, antes de dormir. O banho de cor que sua tia
    havia lhe dado trocara o cabelo ruivo de Alayne pelo castanho claro, mas em
    pouco tempo, o vermelho voltava a aparecer nas suas raízes.
    O que vou fazer quando a tinta acabar? A tinta que usava vinha de
    Tyrosh, do outro lado do mar Estreito.
    Quando desceu para o desjejum, Alayne voltou a surpreender-se
    com a calmaria do Ninho da Águia. Não havia castelo mais silencioso nos
    Sete Reinos. Os criados eram poucos e velhos, e falavam em voz baixa, para
    não perturbar o seu pequeno senhor. Na montanha não havia cavalos, nem

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