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    A dança dos dragões

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    A dança dos dragões - Página 5 Empty Re: A dança dos dragões

    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:44 pm

    — Senhor, a Cidadela… lá nos obrigam a cortar cadáveres. Não posso usar uma corrente.
    — Pode. Usará. O Meistre Aemon está velho e cego. As suas forças estão abandonando-o. Quem tomará o seu lugar quando morrer? O Meistre Mullin, da Torre Sombria, é mais guerreiro do que erudito, e o Meistre Harmune de Atalaialeste passa mais tempo bêbado do que sóbrio.
    — Se pedir mais meistres à Cidadela…
    — Tenciono pedir. Teremos falta de todos os que nos mandarem. Mas não é assim tão fácil substituir Aemon Targaryen. — Isto não está correndo como eu esperava. Sabia que Goiva seria difícil, mas partiu do princípio de que Sam ficaria contente por trocar os perigos da Muralha pelo calor deVilavelha. — Estava convencido de que isto te agradaria — disse, confundido. — Há tantos livros na Cidadela que ninguém pode ter a esperança de ler a todos. Dar-se-á bem por lá, Sam. Eu sei que sim.
    — Não. Podia ler os livros, mas… um m-meistre tem de ser um curandeiro e o s-s-sangue me faz desmaiar. — A mão tremeu-lhe para demonstrar a verdade do que dizia. — Sou Sam, o Assustado, não Sam, o Matador.
    — Assustado? Com quê? As censuras de velhos? Sam, tu viu as criaturas atacarem o Punho, uma maré de mortos-vivos com mãos negras e brilhantes olhos azuis. Matou um Outro.
    — Foi o vidro de d-d-d-dragão, não fui eu.
    — Cale-se — exclamou Jon. Depois de Goiva, não tinha paciência para os medos do gordo. — Mentiu, maquinou e conspirou para fazer de mim senhor comandante. Irá me obedecer. Irá para a Cidadela e forjará uma corrente, e se tiver de abrir cadáveres, que seja. Pelo menos em Vilavelha os cadáveres não levantarão objeções.
    — O senhor meu p-p-p-pai, o Lorde Randyll, ele, ele, ele, ele, ele… a vida de um meistre é uma vida de servidão. Nenhum filho da Casa Tarly alguma vez usará uma corrente. Os homens de Monte Chifre não se dobram nem se vergam perante senhores insignificantes. Jon, não posso desobedecer ao meu pai.
    Mata o rapaz, pensou Jon. O rapaz em ti, e o rapaz nele. Mata-os ambos, maldito bastardo.
    — Tu não tem pai. Só irmãos. Só tem a nós. A sua vida pertence à Patrulha da Noite, por isso, vai enfiar a sua roupa num saco, com o que quer que
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:44 pm

    queira levar para Vilavelha. Partirá uma hora antes do nascer do Sol. E eis outra ordem. Deste dia em diante, não se chamará de covarde. Enfrentou mais coisas neste último ano do que a maioria dos homens enfrenta no tempo de uma vida. Pode enfrentar a Cidadela, mas irá enfrentá-la como Irmão Juramentado da Patrulha da Noite. Não te posso ordenar que seja valente, mas posso ordenar-te que esconda os seus medos. Proferiu as palavras, Sam. Lembras-se?
    — Eu… eu vou tentar.
    — Não vai tentar. Vai obedecer.
    — Obedecer. — O corvo de Mormont baseu as suas grandes asas pretas.Sam pareceu fraquejar.
    — Às suas ordens, senhor. O… o Meistre Aemon sabe?
    — Isto foi tanto ideia dele como minha. — Jon abriu-lhe a porta. —Nada de despedidas. Quanto menos pessoas souberem disto, melhor. Uma hora antes da primeira luz da aurora, junto ao cemitério.
    Sam fugiu dele, tal como Goiva fugira.
    Jon estava cansado. Preciso dormir. Estive de pé metade da noite examinando mapas, escrevendo cartas e fazendo planos com o Meistre Aemon. Mesmo depois de tropeçar para dentro da sua estreita cama, o descanso não chegara facilmente. Sabia o que enfrentaria naquele dia, e dera por si a mexer-se irrequieto enquanto matutava nas últimas palavras do Meistre Aemon.
    — Permita-me dar ao meu senhor um último conselho — disse o velho — o mesmo conselho que dei em tempos ao meu irmão quando nos separamos pela última vez. Ele tinha trinta e três anos quando o Grande Conselho o escolheu para subir ao Trono de Ferro. Um homem feito com filhos seus, mas em alguns aspetos ainda um rapaz. Egg tinha em si uma inocência, uma doçura que todos amavamos. Mata o rapaz em ti, disse-lhe eu no dia em que embarquei para a Muralha. É preciso um homem para governar. Um Aegon, não um Egg. Mata o rapaz e deixa que o homem nasça.
    — O velho apalpara a cara de Jon. — Você tem metade da idade que o Egg tinha, e temo que o seu fardo seja mais cruel. Obterá poucas alegrias com o seu comando, mas acho que tem em ti a força necessária para fazer aquilo que tem de ser feito. Mate o rapaz, Jon Snow. O inverno já quase chegou. Mate o rapaz e deixe que o homem nasça.
    Jon envergou o manto e saiu a passos largos. Fazia uma ronda por Castelo Negro todos os dias, visitando os homens de vigia e ouvindo em primeira mão os relatórios, observando Ulmer e os seus subordinados nos alvos para
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:44 pm

    arqueiros, conversando tanto com homens da rainha como com homens do rei, percorrendo o gelo no topo da Muralha para dar uma olhada à floresta. Fantasma seguia atrás dele, uma sombra branca a seu lado.
    Kedge Olhobranco estava encarregado da Muralha quando Jon fez a sua ascensão. Kedge vira quarenta e tal dias do seu nome, trinta dos quais passados na Muralha. O seu olho esquerdo era cego, o direito era maldoso. Nas zonas selvagens, sozinho com machado e garrano, era tão bom patrulheiro como qualquer outro na Patrulha, mas nunca se dera bem com os outros homens.
    — Um dia sossegado — disse a Jon. — Nada a relatar, exceto os patrulheiros do lado errado.
    — Os patrulheiros do lado errado? — perguntou Jon. Kedge fez um sorriso.
    — Um par de cavaleiros. Partiram a cavalo há uma hora, para sul ao longo da estrada de rei. Quando Dywen os viu a dar à sola disse que os palermas sulistas estavam cavalgando no sentido errado.
    — Estou vendo — disse Jon.
    Ficou sabendo mais através do próprio Dywen, enquanto o velho patrulheiro servia uma tigela de caldo de cevada nas casernas.
    — Pois, senhor, vi-os. Eram o Horpe e o Massey. Disseram que Stannis os mandou lá para fora, mas não disseram para onde nem para quê nem quando é que voltam.
    Sor Richard Horpe e Sor Justin Massey eram ambos homens da rainha, e ocupavam posições elevadas no conselho do rei. Um par de comuns cavaleiros livres teria servido se Stannis só tivesse em mente bater o terreno, refletiu Jon Snow, mas cavaleiros são mais adequados para agir como mensageiros ou emissários. Cotter Pyke mandara de Atalaialeste a notícia de que o Cavaleiro da Cebola e Salladhor Saan tinham zarpado para Porto Branco, a fim de negociar com o Lorde Manderly. Fazia sentido que Stannis enviasse outros mensageiros. Sua Graça não era um homem paciente.
    Se os patrulheiros do lado errado regressariam ou não era outra questão. Até podiam ser cavaleiros, mas não conheciam o norte. Haverá olhos ao longo da estrada de rei, e nem todos serão amigáveis. Mas aquilo não dizia respeito a Jon. Que Stannis fique com os seus segredos. Os deuses bem sabem que eu tenho os meus.
    Fantasma dormiu aos pés da cama nessa noite, e por uma vez Jon não sonhou que era um lobo. Mesmo assim, dormiu aos arrancos, mexendo-se
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:45 pm

    durante horas na cama antes de deslizar para um pesadelo. Goiva entrava nele, chorando, suplicando-lhe que deixasse os seus bebês em paz, mas ele arrancou-lhe as crianças dos braços e cortou-lhes as cabeças, após o que as trocou e lhe disse para voltar a costura-las.
    Quando acordou, foi encontrar Edd Tollett em pé por cima dele na escuridão do seu quarto.
    — Senhor? Está na hora. Na hora do lobo. Deixaste ordens para ser acordado.
    — Traga-me qualquer coisa quente. — Jon atirou as mantas para o lado.
    Edd regressou na hora em que Jon acabava de se vestir, enfiando-lhe uma chávena fumegante nas mãos. Jon esperava vinho quente com especiarias, e ficou surpreendido por descobrir que era sopa, um caldo fino que cheirava a alho-poró e cenoura, mas parecia não ter nem alho-poró nem cenoura. Os cheiros são mais fortes nos meus sonhos de lobo, refletiu, e a comida também desce melhor. Fantasma está mais vivo do que eu. Deixou a chávena vazia em cima da forja.
    Era Barricas quem estava à sua porta naquela manhã.
    — Vou querer falar com Bedwyck e com Janos Slynt — disse-lhe Jon.
    — Traga-os à primeira luz da aurora.
    No exterior, o mundo estava negro e imóvel. Frio, mas não perigosamente frio. Ainda não. Ficará mais quente quando o Sol surgir. Se os deuses forem bons, a Muralha pode chorar. Quando chegaram ao cemitério, a coluna já se formara. Jon entregara ao Jack BlackBulwer o comando da escolta, com uma dúzia de patrulheiros a cavalo às suas ordens e duas carroças.Uma levava uma grande pilha de arcas, caixotes e sacos, provisões para a viagem. A outra tinha um teto rígido de couro fervido para manter o vento afastado. O Meistre Aemon estava sentado na parte de trás, aconchegado a uma pele de urso que o fazia parecer pequeno como uma criança. Sam e Goiva estavam ali perto, em pé. Os olhos dela estavam vermelhos e inchados, mas tinha o rapaz nos braços, bem entrouxado. Não podia ter a certeza se era o filho dela ou o de Dalla. Só vira os dois juntos algumas vezes. O filho de Goiva era mais velho, o de Dalla mais robusto, mas eram suficientemente próximos em idade e tamanho para que ninguém que não os conhecesse bem conseguisse distingui-los facilmente um do outro.
    — Lorde Snow — chamou o Meistre Aemon — deixei-lhe um livro nos meus aposentos. O Compêndio de Jade. Foi escrito pelo aventureiro
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:45 pm

    volanteno Colloquo Votar, que viajou até ao oriente e visitou todas as terras do Mar de Jade. Há uma passagem que pode achar interessante. Disse a Clydas para marca-la.
    — Certamente que a lerei. O Meistre Aemon limpou o nariz.
    — O conhecimento é uma arma, Jon. Arma-o bem antes de partir para a batalha.
    — O farei. — Jon sentiu algo de úmido e frio na cara. Quando ergueu os olhos, viu que estava nevando. Um mau presságio. Virou-se para Jack BlackBulwer. — Faça o melhor tempo que puder, mas não corra riscos desnecessários. Tem um velho e um bebê de peito contigo. Trate de mantê-los quentes e bem alimentados.
    — Faça o mesmo, senhor. — Goiva não parecia ter pressa nenhuma de subir para a carroça. — Faça o mesmo com o outro. Encontre outra ama de leite, como disse. Promeseu-me isso. O rapaz… o rapaz de Dalla… o principezinho, quer dizer… arranje uma boa mulher qualquer, para que ele cresça grande e forte.
    — Tem a minha palavra quanto a isso.
    — Não lhe dê nome. Não faça isso até ele ter mais de dois anos. Dá azar dar-lhes nome quando ainda ‗tão ao peito. Vocês, os corvos, pode não saber isso, mas é verdade.
    — Às suas ordens, senhora.
    — Não me chame disso. Eu sou uma mãe, não uma senhora. Sou mulher de Craster e filha de Craster e uma mãe. — Entregou o bebê ao Edd Doloroso quando subiu na carroça e cobriu-se com peles. Quando Edd lhe devolveu a criança, Goiva levou-a ao seio. Sam afastou os olhos da cena, corado, e içou-se para cima da sua égua.
    — Vamos a isto — ordenou o Jack BlackBulwer, fazendo estalar o chicote. As carroças rolaram em frente. Sam deixou-se ficar por um momento.
    — Bem — disse — até à vista.
    — Até à vista, Sam — disse o Edd Doloroso. — Não é provável que o seu navio se afunde, parece-me. Os navios só se afundam quando eu vou a bordo.
    Jon estava recordando.
    — Da primeira vez que vi Goiva, ela estava encostada à parede da For-taleza de Craster, esta menina magricela de cabelo escuro com a sua grande barriga, encolhida com medo do Fantasma. Ele tinha-se metido no meio dos coelhos dela, e me parece que tinha receio que a abrisse e devorasse o bebê… mas não era do lobo que ela devia ter tido medo, pois não?
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:45 pm

    — Ela tem mais coragem do que julga — disse Sam.
    — E você também, Sam. Faça uma viagem rápida e segura, e cuida dela, de Aemon e da criança. — Os pingos frios que lhe escorriam pela cara fizeram lembrar a Jon o dia em que se despediu de Robb em Winterfell, sem saber que seria pela última vez. — E puxa o capuz para cima. Os flocos de neve estão derretendo-se no seu cabelo.
    Quando a pequena coluna minguou à distância, o céu oriental já passara de negro a cinzento e a neve caía em grande quantidade.
    — O Gigante deve estar à espera das ordens do senhor comandante — fez-lhe lembrar o Edd Doloroso. — Janos Slynt também.
    — Sim. — Jon Snow ergueu os olhos para a Muralha, que se erguia acima deles como uma falésia de gelo. Cem léguas de ponta a ponta e duzentos metros de altura. A força da Muralha residia na sua altura; o comprimento da Muralha era a sua fraqueza. Jon lembrou-se de uma coisa que o pai dissera um dia. Uma muralha só tem a força dos homens que a defendem. Os homens da Patrulha da Noite eram bastante corajosos, mas eram muito menos do que tinham de ser para a tarefa que os aguardava. O Gigante esperava no armeiro. O seu verdadeiro nome era Bedwyck. Com pouco mais de metro e meio, era o homem menor da Patrulhada Noite. Jon foi direito ao assunto.
    — Precisamos de mais olhos ao longo da Muralha. De castelos intermediários onde as nossas patrulhas se possam abrigar do frio e encontrar comida quente e uma montada repousada. Vou pôr uma guarnição em Marcagelo e vou te dar o comando. O Gigante enfiou a ponta do seu mindinho na orelha para limpar a cera.
    — Comando? Eu? O senhor sabe que eu sou só filho dum caseiro e estou na Muralha por caça furtiva?
    — És patrulheiro há uma dúzia de anos. Sobreviveste ao Punho dos Primeiros Homens e à Fortaleza de Craster e voltaste para contar a história. Os homens mais novos olham-te de baixo. O pequeno homem riu-se.
    — Só anões me olham de baixo. Não sei ler, senhor. Num dia bom, consigo escrever o meu nome.
    — Mandei uma mensagem para Vilavelha pedindo mais meistres. Terá dois corvos para quando as tuas necessidades forem urgentes. Quando não forem, envia cavaleiros. Até termos mais meistres e mais aves, pretendo estabelecer uma linha de torres sinaleiras ao longo do topo da Muralha.
    — E quantos pobres tolos irão eu comandar?
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:45 pm

    — Vinte, da Patrulha — disse Jon — e metade desse número de homens de Stannis. — Velhos, verdes ou feridos. — Não serão os seus melhores homens, e nenhum vestirá o preto, mas obedecerão. Use-os como puder. Quatro dos irmãos que vou enviar contigo serão portorrealenses que vieram para a Muralha com o Lorde Slynt. Mantém esse grupo debaixo de um olho, e fica atento a trepadores com o outro.
    — Podemos vigiar senhor, mas se suficientes trepadores chegarem ao topo da Muralha, trinta homens não vão bastar para os atirar lá para baixo.
    Trezentos podem não ser suficientes. Jon guardou essa dúvida para si. Era verdade que os trepadores estavam desesperadamente vulneráveis durante a ascensão. Podia-se fazer chover sobre eles pedras, lanças e potes de piche ardendo, e tudo o que eles podiam fazer era agarrarem-se desesperadamente ao gelo. Às vezes, a própria Muralha parecia sacudi-los, como um cão sacudiria pulgas. Jon vira isso pessoalmente, quando um lençol de gelo se soltara sob o amante de Val, Jarl, atirando-o para a morte.
    Contudo, se os trepadores atingissem o topo da Muralha sem serem detectados tudo mudava. A seu tempo podiam estabelecer uma testa-de-ponte lá em cima, erguendo fortificações próprias e fazendo descer cordas e escadas para centenas de outros subirem depois deles. Foi assim que Raymun BarbaVermelha o fizera, o Raymun que fora Rei-para-lá-da-Muralha nos tempos do avô do seu avô. Jack Musgood fora o senhor comandante nesses tempos. ―Alegre Jack‖ era como lhe chamavam antes de BarbaVermelha cair sobre o norte; ―Dorminhoco Jack‖ depois disso e para sempre. A hoste de Raymun encontrara um fim sangrento nas margens do LagoLongo, apanhada entre o Lorde Willam de Winterfell e o Gigante Bêbado, Harmond Umber. O BarbaVermelha fora morto por Artos, o Implacável, irmão mais novo do Lorde Willam. A Patrulha chegara tarde demais para combater os selvagens, mas a tempo de os enterrar, tarefa essa que Artos Stark lhes atribuíra em fúria enquanto chorava o corpo decapitado do seu irmão caído.
    Jon não pretendia ser lembrado como Dorminhoco Jon Snow.
    — Trinta homens terão melhores hipóteses do que nenhum — disse ao Gigante.
    — É bem verdade — disse o pequeno homem. — Então é só Marcagelo, ou o senhor vai também abrir os outros fortes?
    — Tenciono guarnecê-los a todos, a seu tempo — disse Jon — mas de momento será só Marcagelo e Guardagris.
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:45 pm

    — E o senhor já decidiu quem vai comandar em Guardagris?
    — Janos Slynt — disse Jon. Que os deuses nos protejam. — Um homem não ascende ao comando dos mantos dourados se não tiver qualidades. Slynt nasceu filho de um carniceiro. Era capitão do Portão de Ferro quando Manly Stokeworth morreu, e Jon Arryn promoveu-o e pôs a defesa de Porto Real nas suas mãos. Lorde Janos não pode ser um idiota tão grande como parece. — E eu quero-o bem longe de Alliser Thorne.
    — Pode ser que sim — disse o Gigante — mas eu continuaria a preferir mandá-lo para as cozinhas para ajudar o Hobb Três-Dedos cortando os nabos.
    Se o fizesse nunca mais me atreveria a comer um nabo.
    Metade da manhã se passou até que Lorde Janos se apresentasse conforme ordenado. Jon estava limpando Garralonga. Alguns homens teriam entregado tal tarefa a um intendente ou a um escudeiro, mas o Lorde Eddard ensinara os filhos a cuidar das próprias armas. Quando o Barricas e o Edd Doloroso chegaram com Slynt, Jon agradeceu-lhes e disse ao Lorde Janos para se sentar.
    Isso ele fez, embora com fraca elegância, cruzando os braços, franzindo o sobrolho e ignorando o aço nu nas mãos do senhor comandante. Jon fez deslizar o oleado ao longo da sua espada bastarda, observando o jogo que a luz da manhã fazia com as ondulações, pensando em quão facilmente a lâmina deslizaria por pele, gordura e tendões para separar a feia cabeça de Slynt do seu corpo. Todos os crimes de um homem eram anulados quando envergava o negro, e todas as suas lealdades também, mas Jon achava difícil pensar em Janos Slynt como num irmão. Há sangue entre nós. Este homem ajudou a matar o meu pai, e fez também o melhor que pôde para matar a mim.
    — Lorde Janos — Jon embainhou a espada. — Vou dar-lhe o comando de Guardagris.Aquilo surpreendeu Slynt.
    — Guardagris… Guardagris foi onde subiu a Muralha com os seus amigos selvagens.
    — Pois sim. O forte está num estado lastimável, admito. Irá restaurá-lo o melhor possível. Comece por desmatar a floresta junto à Muralha.Tire pedras das estruturas que ruíram para reparar as que continuam em pé. — O trabalho será duro e brutal, podia ter acrescentado. Vai dormir em cama de pedra, muito exausto para se queixar ou conspirar, e depressa se esquecerás de como era estar quente, mas pode ser que se lembre de como era ser um homem. — Terá
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:45 pm

    trinta homens. Dez daqui, dez da Torre Sombria, e dez emprestados à Patrulha pelo Rei Stannis.
    A cara de Slynt ficara da cor de uma ameixa. As suas papadas carnudas começaram a estremecer.
    — Julga que eu não vejo o que estás fazendo? Janos Slynt não é homem para ser enganado assim tão facilmente. Fui encarregado da defesa de Porto Real quando você estava sujando as fraldas. Fica com a sua ruína, bastardo.
    Estou a te dar uma hipótese, senhor. É mais do que dera ao meu pai.
    — Está me compreendendo mal, senhor — disse Jon. — Aquilo foi uma ordem, não uma oferta. São quarenta léguas até Guardagris. Embale as armas e a armadura, faça as suas despedidas, e apronte-se para partir à primeira luz da aurora.
    — Não. — O Lorde Janos pôs-se em pé de um salto, fazendo a cadeira cair para trás. — Eu não partirei docilmente para congelar e morrer. Nenhum bastardo de traidor dá ordens a Janos Slynt! Não sou desprovido de amigos, lhe aviso. Aqui, e também em Porto Real. Fui Senhor de Harrenhal! Dê a sua ruína a um dos idiotas cegos que depositaram uma pedra por ti, eu não a aceito. Está ouvindo-me, rapaz? Eu não a aceito!
    — Aceitará.
    Slynt não se dignou a responder aquilo e deu um pontapé para longe a cadeira ao partir.
    Ainda me vê como um rapaz, pensou Jon, um rapazinho verde, intimidável por palavras zangadas. Só podia esperar que uma noite de sono trouxesse juízo ao Lorde Janos.
    A manhã seguinte provou que essa esperança era vã.
    Jon foi encontrar Slynt quebrando o jejum na sala comum. Sor Alliser Thorne estava com ele, bem como vários dos seus compinchas. Estavam rindo de qualquer coisa quando Jon desceu a escada com o Emmett de Ferro e o Edd Doloroso e, atrás, Mully, o Cavalo, o Jack Vermelho Crabb, RustyFlowers e o Owen Idiota. O Hobb Três-Dedos estava servindo conchadas de papas que tirava da panela. Homens da rainha, homens do rei e irmãos negros sentavam-se nas suas mesas separadas, alguns dobrados sobre tigelas de papas de aveia, outros enchendo as barrigas com pão frito e bacon. Jon viu Pyp e Grenn a uma mesa, Bowen Marsh a outra. O ar cheirava a fumo e gordura, e o tinir de facas e colheres ecoava no teto abobadado.
    Todas as vozes morreram imediatamente.
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:46 pm

    — Lorde Janos — disse Jon — vou dar-lhe uma última chance. Pouse essa colher e vá aos estábulos. Mandei selar e ajaezar o seu cavalo. A estrada até Guardagris é longa e dura.
    — Então é melhor por você a caminho, rapaz. — Slynt riu, fazendo pingar papas sobre o peito. — Estou aqui pensando que Guardagris é um bom lugar para gente como você. Bem longe das pessoas decentes e piedosas. Tem em você o sinal da besta, bastardo.
    — Esta recusando obedecer à minha ordem?
    — Pode enfiar a sua ordem no seu cu de bastardo — disse Slynt, com os queixos tremendo.
    Alliser Thorne esboçou um fino sorriso, com os olhos negros fixos em Jon. Noutra mesa, o Godry Mata-Gigantes começou a rir.
    — Como quiserdes. — Jon dirigiu um aceno ao Emmett de Ferro. —Por favor, leva o Lorde Janos para a Muralha…
    … e confina-o a uma cela de gelo, poderia ele ter dito. Jon não duvidava de que um ou dez dias apertado dentro do gelo o deixaria tremendo, febril e suplicando libertação. E no momento em que sair, ele e Thorne recomeçarão a conspirar.
    … e ata-o ao cavalo, poderia ele ter dito. Se Slynt não desejava ir para Guardagris como comandante, podia ir como cozinheiro. Mas então seria só uma questão de tempo até desertar. E quantos mais levaria consigo?
    — … e enforque-o — concluiu Jon.
    A cara de Janos Slynt ficou branca como leite. A colher deslizou-lhe de entre os dedos. Edd e Emmett atravessaram a sala, fazendo ressoar os passos no chão de pedra. A boca de Bowen Marsh abriu-se e se fechou, embora nenhuma palavra tivesse saído. Sor Alliser Thorne estendeu a mão para o cabo da espada. Continua, pensou Jon. Tinha Garralonga a tiracolo. Mostra o seu aço. Dá-me um motivo para fazer o mesmo.
    Metade dos homens no salão estava de pé. Cavaleiros e homens-de-armas sulistas, leais do Rei Stannis ou à mulher vermelha ou a ambos, e Irmãos Juramentados da Patrulha da Noite. Alguns tinham escolhido Jon para ser o seu senhor comandante. Outros tinham depositado pedras por Bowen Marsh, por Sor Denys Mallister, por Cotter Pyke… e alguns por Janos Slynt. Centenas deles, se bem me lembro. Jon se perguntou quantos desses homens estariam na adega naquela altura. Por um momento, o mundo equilibrou-se no gume de uma espada.
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:46 pm

    Alliser Thorne tirou a mão da espada e afastou-se para deixar Edd Tollett passar.
    O Edd Doloroso pegou em Slynt por um braço, o Emmett de Ferro pelo outro. Juntos içaram-no do banco.
    — Não — protestou o Lorde Janos, com salpicos de papas de aveia voando dos lábios. — Não, largue-me. Ele é só um rapaz, um bastardo. O pai era um traidor. Tem nele o sinal da besta, aquele seu lobo… Largue-me! Vão se arrepender do dia em que puseram as mãos em Janos Slynt. Tenho amigos em Porto Real. Aviso-vos… — Ainda estava protestando quando o levaram, meio andando, meio arrastado, pelos degraus acima.
    Jon seguiu-os até lá fora. Atrás de si, a cave esvaziou-se. Junto da gaiola, Slynt conseguiu soltar-se por um momento e tentou fugir, mas o Emmett de Ferro agarrou-o pela garganta e atirou-o contra as barras de ferro até que ele desistiu. Por essa altura, todo o Castelo Negro tinha vindo para fora a fim de assistir. Até Val estava à sua janela, com a longa trança dourada por sobre um ombro. Stannis estava em pé nos degraus da Torre do Rei, rodeado pelos seus cavaleiros.
    — Se o rapaz julga que consegue assustar-me, está enganado — ou-viram Lorde Janos dizer. — Ele não se atreverá a enforcar-me. Janos Slynt tem amigos, amigos importantes, verão… — O vento varreu o resto das suas palavras.
    Isto está mal, pensou Jon.
    — Pare. Emmett virou-se para trás, franzindo o sobrolho.
    — Senhor?
    — Não o quero enforcar — disse Jon. — Traga-o para aqui.
    — Oh, que os Sete nos salvem — ouviu Bowen Marsh gritar.
    O sorriso que o Lorde Janos Slynt fez então tinha toda a doçura de manteiga rançosa. Até que Jon disse:
    — Edd, traga-me um cepo — e desembainhou Garralonga.
    Durante o tempo que demoraram para encontrar um cepo adequado, o Lorde Janos foi recuando até se enfiar na gaiola do guincho, mas Emmett de Ferro entrou atrás dele e arrastou-o para fora.
    — Não — gritou Slynt, quando Emmett o obrigou a atravessar o pátio, em parte puxando, em parte empurrando. — Largue-me… não pode… quando Tywin Lannister ouvir falar disso, arrependerão todos…
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:46 pm

    Emmett tirou-lhe o apoio das pernas com um pontapé. Edd Doloroso plantou-lhe um pé nas costas para mantê-lo de joelhos enquanto Emmett lhe metia o cepo debaixo da cabeça.
    — Isto será mais fácil se ficar quieto — promeseu-lhe Jon Snow.
    — Se você se mexer para evitar o golpe, morrerá na mesma, mas a sua morte será mais feia. Estique o pescoço, senhor. — O pálido sol da manhã percorreu-lhe a lâmina de cima a baixo quando Jon agarrou no cabo da espada bastarda com ambas as mãos e a ergueu bem alto. — Se tendes últimas palavras, agora é a hora de as dizer — disse, esperando uma última praga.
    Janos Slynt torceu o pescoço para o fitar.
    — Por favor, senhor. Misericórdia. Eu vou, vou mesmo, eu… Não, pensou Jon. Tu fechaste essa porta. Garralonga desceu.
    — Posso ficar com as botas dele? — perguntou o Owen Idiota quando a cabeça de Janos Slynt partiu rolando pelo terreno lamacento. — São quase novas, aquelas botas. Forradas de pele.
    Jon olhou de relance para Stannis. Por um instante, os olhos dos dois cruzaram-se. Depois, o rei fez um aceno com a cabeça e regressou para dentro da sua torre.
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    Mensagem  Admin Sex Jul 13, 2012 4:00 pm

    Tyrion 139



    Acordou sozinho e descobriu que a liteira estava parada.
    Uma pilha de almofadas esmagadas permanecia para mostrar o local onde Illyrio estivera deitado. O anão sentia a garganta seca e áspera. Sonhara… O que sonhara ele? Não se lembrava.
    Lá fora, vozes estavam conversando numa língua que não conhecia.Tyrion ultrapassou as cortinas com as pernas e saltou para o chão, indo encontrar o Magíster Illyrio em pé junto dos cavalos com dois cavaleiros erguerendo-se acima dele. Ambos usavam camisas de couro desgastado por baixo de mantos de lã castanha escura, mas tinham as espadas embainhadas e o gordo não parecia estar em perigo.
    — Preciso de dar uma mijada — anunciou o anão. Bamboleou-se até sair da estrada, desatou as bragas e aliviou-se para dentro de um emaranhado de espinhos. Demorou um tempo considerável.
    — Ele mija bem, pelo menos — observou uma voz.Tyrion sacudiu as últimas gotas e guardou o membro.
    — Mijar é o menor dos meus talentos. Devias me ver cagar. — Virou-se para o Magíster Illyrio. — Estes dois são seus conhecidos, magíster? Parecem fora-da-lei. Deverei ir buscar o meu machado?
    — O seu machado? — exclamou o mais alto dos cavaleiros, um homem musculoso com uma barba hirsuta e um matagal de cabelo cor de laranja. — Ouviu aquilo, Haldon? O homenzinho quer lutar conosco!
    O companheiro do homem era mais velho, estava escanhoado e tinha uma cara enrugada e ascética. O cabelo fora puxado para trás e preso num nó atrás da cabeça.
    — É frequente que os homens pequenos sintam necessidade de demonstrar a sua coragem com gabarolices impróprias — declarou. — Duvido que ele seja capaz de matar um pato.
    Tyrion encolheu os ombros.
    — Vai buscar o pato.
    — Se insiste. — O cavaleiro olhou o companheiro de relance. O homem musculoso desembainhou uma espada bastarda.
    — Eu sou o Pato, seu penicozinho linguarudo.
    Oh, pela bondade dos deuses.
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    Mensagem  Admin Sex Jul 13, 2012 4:01 pm

    — Tinha um pato menor em mente. O grandalhão rugiu, às gargalhadas.
    — Ouviu, Haldon? Ele quer um Pato menor!
    — Eu de bom grado aceitaria um mais silencioso. — O homem chamado Haldon estudou Tyrion com frios olhos cinzentos antes de voltar a se virar para Illyrio. — Tem umas arcas para nós?
    — E mulas para carregá-las.
    — Mulas são lentas demais. Temos cavalos de carga, mudamos as arcas para eles. Pato, trate disso.
    — Porque é que é sempre o Pato a tratar das coisas? — o grandalhão voltou a enfiar a espada na bainha. — De que tratas você, Haldon? Quem é aqui o cavaleiro, você ou eu? — mas afastou-se na mesma, batendo com os pés, na direção das mulas de carga.
    — Como passa o nosso rapaz? — perguntou Illyrio enquanto as arcas eram presas. Tyrion contou seis arcas de carvalho com ferrolhos de ferro.O Pato mudava-as com bastante facilidade, transportando-as em cima de um ombro.
    — Está já tão alto como o Griff. Há três dias atirou o Pato para dentro de uma manjedoura.
    — Não fui atirado. Caí lá dentro só para fazê-lo rir.
    — O seu estratagema foi um sucesso — disse Haldon. — Eu próprio ri-me.
    — Há um presente para o rapaz numa das arcas. Um pouco de gengibre cristalizado. Ele sempre gostou disso. — Illyrio parecia estranhamente triste. — Pensei talvez prosseguir até Ghoyan Drohe com você. Um banquete de despedida antes de começar a descer o rio…
    — Não temos tempo para banquetes, senhor — disse Haldon. — Griff quer partir rio abaixo no instante em que regressarmos. Têm havido notícias subindo o rio, nenhuma delas boa. Foram vistos dothraki a norte do Lago Adaga, batedores do khalasar do velho Motho, e o Khal Zekko não vem muito atrás dele, deslocando-se através da Floresta de Qohor. O gordo soltou um ruído malcriado.
    — Zekko visita Qohor a cada três ou quatro anos. Os qohoritas dão-lhe um saco de ouro e ele volta a virar para leste. E quanto a Motho, os seus homens são quase tão velhos como ele, e há menos todos os anos. A ameaça é…
    — … Khal Pono — concluiu Haldon. — Motho e Zekko estão fugindo dele, se as histórias forem verdadeiras. Os últimos relatórios põem Pono perto das nascentes do Selhoru com um khalasar de trinta mil pessoas. Griff não quer
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    Mensagem  Admin Sex Jul 13, 2012 4:01 pm

    se arriscar a ser apanhado na travessia se Pono decidir arriscar o Roine. — Haldon olhou de relance para Tyrion. — O seu anão monta tão bem como mija?
    — Ele monta — interrompeu Tyrion, antes de o senhor do queijo ter tempo de responder por ele — embora monte melhor com uma sela especial e um cavalo que conheça bem. E também fala.
    — Realmente fala. Eu sou Haldon, o curandeiro no nosso pequeno bando de irmãos. Há quem me chame Semi-meistre. O meu companheiro é Sor Pato.
    — Sor Rolly — disse o grandalhão. — Rolly Campopato. Qualquer cavaleiro pode armar um cavaleiro e Griff armou-me. E tu, anão?
    Illyrio interveio rapidamente.
    — Chamam-lhe Yollo.
    Yollo? Yollo parece qualquer coisa que se pode chamar a um macaco. Pior, era um nome pentoshi, e qualquer idiota conseguia ver que Tyrion não era pentoshi.
    — Em Pentos sou Yollo — disse depressa, para consertar o que fosse possível — mas a minha mãe chamou-me Hugor Hill.
    — E é um reizinho ou um bastardinho? — perguntou Haldon.
    Tyrion percebeu-se de que faria bem em ser cauteloso nas imediações de Haldon Semi-meistre.
    — Todos os anões são bastardos aos olhos dos pais.
    — Sem dúvida. Bem, Hugor Hill, responde-me isto. Como foi que Serwyn do Escudo Espelhado matou o dragão Urrax?
    — Aproximou-se por trás do escudo. Urrax só viu o seu próprio reflexo até que Serwyn saltou e lhe mergulhou a lança num olho. Haldon não se mostrou impressionado.
    — Até o Pato conhece essa história. Sabe dizer-me o nome do cavaleiro que tentou usar o mesmo estratagema com Vhagar durante a Dança dos Dragões?
    Tyrion sorriu.
    — Sor Byron Swann. Foi assado pelo incômodo… só que o dragão foi Syrax, não Vhagar.
    — Temo que se engane. Em A Dança dos Dragões, Um Relato Verdadeiro, o Meistre Munkun escreve…
    — … que foi Vhagar. O Grande Meistre Munkun erra. O escudeiro de Sor Byron viu o seu amo morrer, e escreveu à filha descrevendo a forma como ele morreu. O seu relato diz que foi Syrax, a dragoa de Rhaenyra, o que faz mais
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    Mensagem  Admin Sex Jul 13, 2012 4:01 pm

    sentido do que a versão de Munken. Swann era filho de um senhor das marcas, e Ponta Tempestade apoiava Aegon. Vhagar era montado pelo Príncipe Armond, irmão de Aegon. Porque haveria Swann de querer matá-lo?
    Haldon projetou os lábios.
    — Tenta não cair do cavalo. Se caír, o melhor é bambolear-se de volta para Pentos. A nossa tímida donzela não esperará nem por homens, nem por anões.
    — Donzelas tímidas são o meu tipo preferido. À parte as descaradas. Diz-me, para onde vão as rameiras?
    — Tenho ar de ser um homem que frequenta rameiras?O Pato soltou uma gargalhada irónica.
    — Não se atreve. Lemore obrigava-o a rezar por perdão, o rapaz iria querer ir também, e o Griff talvez lhe cortasse a pica e a enfiasse pela goela abaixo.
    Bem — disse Tyrion — um meistre não precisa de pica.
    — Mas Haldon é só meio meistre.
    — Parece achar o anão divertido, Pato — disse Haldon. — Ele pode seguir montado contigo. — Fez a montaria dar meia volta.
    O Pato demorou mais alguns momentos prendendo as arcas de Illyrio aos três cavalos de carga. Por essa altura, já Haldon desaparecera. Pato não pareceu preocupado. Saltou para a sela, agarrou em Tyrion pelo colarinho e içou o homenzinho para a sua frente.
    — Agarra-te bem ao arção e não terá problemas. A égua tem um belo passo agradável, e a estrada dos dragões é lisa como um cu de donzela.
    — Agarrando as rédeas com a mão direita e as arreatas com a esquerda, Sor Rolly partiu a trote vivo.
    — Boa sorte — gritou Illyrio atrás deles. — Diz ao rapaz que tenho pena de não estar com ele para o casamento. Me juntarei a vocês em Westeros. Isso juro, pelas mãos da minha doce Serra.
    Quanto Tyrion Lannister viu pela última vez Illyrio Mopatis, o magíster estava em pé ao lado da liteira vestido com as suas vestes de brocado, com os maciços ombros descaídos. À medida que a sua silhueta ia diminuindo na poeira que levantavam, o senhor do queijo foi parecendo quase pequeno.
    O Pato apanhou Haldon Semi-meistre a um quarto de milha de distância. Daí em diante, os cavaleiros avançaram lado a lado. Tyrion agarrava-se
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    Mensagem  Admin Sex Jul 13, 2012 4:01 pm

    ao arção elevado da sela, com as pernas curtas abertas desajeitadamente para fora, sabendo que o esperavam bolhas, cãibras e esfoladuras de sela.
    — Me pergunto o que os piratas do Lago Adaga acharão do nosso anão — disse Haldon enquanto avançavam.
    — Bom para fazer guisado de anão? — sugeriu o Pato.
    — Urho, o Imundo, é o pior deles — confidenciou Halden. — Basta o fedor que deita para matar um homem. Tyrion encolheu os ombros.
    — Felizmente, eu não tenho nariz. Haldon concedeu-lhe um sorriso fino.
    — Se encontrarmos a Senhora Korra no Dentes da Bruxa, podem vir a te faltar em breve outros bocados também. Korra, a Cruel, é como lhe chamam. O navio é tripulado por belas e jovens donzelas que castram todos os machos que capturam.
    — Aterrorizador. Posso bem mijar-me nas bragas.
    É melhor não — avisou o Pato, sombrio.
    — Como quiser. Se encontrarmos essa Senhora Korra, limito-me a enfiar-me numa saia e digo que sou Cersei, a famosa beldade barbuda de Porto Real. Daquela vez o Pato riu-se e Haldon disse:
    — Que tipinho engraçado que você é, Yollo. Diga-se que o Senhor Amortalhado concede uma mercê a qualquer homem que consiga fazê-lo rir. Sua Graça Cinzenta talvez te escolha para ornamentar a sua pétrea corte. O Pato deitou um relance inquieto ao companheiro.
    — Não é bom brincar sobre esse, especialmente estando nós tão perto do Roine. Ele ouve.
    — Sabedoria vinda de um pato — disse Haldon. — Peço perdão, Yollo. Não vale a pena ficar tão pálido, estava só brincando contigo. O Príncipe das Mágoas não concede o seu beijo cinzento com ligeireza.
    O seu beijo cinzento. A ideia encheu-o de pele de galinha. A morte perdera o seu terror para Tyrion Lannister, mas a escamagris era outra coisa. O Senhor Amortalhado é só uma lenda, disse a si, não é mais real do que o fantasma de Lann, o Esperto, que alguns afirmam que assombra o Rochedo Casterly. Mesmo assim, conteve a língua.
    O súbito silêncio do anão passou despercebido, pois o Pato começara a regalá-lo com a história da sua vida. O pai fora armeiro em Pontamarga, segundo disse, portanto ele nascera com o som do aço ressoando-lhe nos ouvidos e dedicara-se à esgrima numa idade precoce. Um rapaz tão grande e promissor
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    Mensagem  Admin Sex Jul 13, 2012 4:01 pm

    atraíra a atenção do velho Lorde Caswell, que lhe oferecera um lugar na sua guarnição, mas o rapaz quisera mais. Vira o filho fracote de Caswell ser nomeado pajem, escudeiro e finalmente cavaleiro.
    — Era um covardola esgalgado de cara chupada, mas o velho senhor tinha quatro filhas e só aquele filho, de modo que ninguém podia dizer uma palavra contra ele. Os outros escudeiros quase nem se atreviam a pôr um dedo nele no pátio de treinos.
    — Mas você não era tão receoso. — Tyrion via com bastante facilidade para onde aquela história se dirigia.
    — O meu pai fez-me uma espada longa para assinalar o décimo sexto dia do meu nome — disse Pato — mas Lorent gostou tanto do aspecto dela que ficou com a espada para si, e o sacana do meu pai não se atreveu a dizer-lhe que não. Quando me queixei, Lorent disse-me na cara que a minha mão tinha sido feita para pegar num martelo, não numa espada. De modo que fui buscar um martelo e dei-lhe com ele até ficar com os dois braços e metade das costelas partidas. Depois disso tive de sair da Campina o mais depressa possível. Consegui atravessar o mar até à Companhia Dourada. Passei alguns anos como aprendiz de ferreiro, mas depois o Sor Harry Strickland recebeu-me como escudeiro. Quando o Griff mandou dizer rio abaixo que precisava de alguém que ajudasse a treinar o filho com as armas, Harry enviou-me.
    — E Griff te armou cavaleiro?
    — Um ano depois. O Haldon Semi-meistre fez um sorriso astuto.
    — Porque é que não conta ao nosso pequeno amigo como arranjou
    o nome?
    — Um cavaleiro precisa de mais do que só o nome próprio — insistiu o grandalhão — e, bem, estávamos num campo quando ele me armou cavaleiro, e eu olhei para cima e vi uns patos, de modo que… ora, não terias.
    Logo depois do pôr-do-sol abandonaram a estrada para descansar num pátio coberto de ervas daninhas ao lado de um velho poço de pedra. Tyrion saltou para o chão, a fim de fazer desaparecer as cãibras das barrigas das pernas enquanto Pato e Haldon davam de beber aos cavalos. Uma erva dura e castanha e árvores daninhas brotavam dos espaços entre as pedras, e das paredes cobertas de musgo do que em tempos poderia ter sido uma enorme mansão de pedra. Depois de terem cuidado dos animais, os cavaleiros partilharam um jantar simples de porco salgado e feijão branco e frio, empurrado para baixo com cerveja. Tyrion
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    Mensagem  Admin Sex Jul 13, 2012 4:01 pm

    achou a comida simples uma mudança agradável em relação à comida rica que comera com Illyrio.
    — Estas arcas que lhes trouxemos — disse enquanto mastigavam. — A princípio pensei que fosse ouro para a Companhia Dourada, até ver Sor Rolly içar uma delas para cima de um ombro. Se estivesse cheia de dinheiro, nunca lhe teria pegado tão facilmente.
    — São só armaduras — disse o Pato, encolhendo os ombros.
    — E também roupa — interrompeu Haldon. — Roupa de corte, para todo o nosso grupo. Boas lãs, veludos, mantos de seda. Uma pessoa não se apresenta a uma rainha com roupa maltrapilha… nem de mãos vazias. O magíster teve a bondade de nos fornecer presentes adequados.
    Ao nascer da Lua estavam de volta às selas, trotando para leste sob um manto de estrelas. A velha estrada valiriana cintilava à frente deles como uma longa fita de prata serpenteando através de bosques e vales. Durante algum tempo, Tyrion Lannister sentiu-se quase em paz.
    — O Lomas Longstrider disse a verdade. A estrada é uma maravilha.
    — Lomas Longstrider? — perguntou o Pato.
    — Um escriba, há muito morto — disse Haldon. — Passou a vida viajando pelo mundo e escrevendo sobre as terras que visitou em dois livros a que chamou Maravilhas e Maravilhas Feitas Pelo Homem.
    — Um tio meu ofereceu-me quando eu era rapaz — disse Tyrion. —Li-os até se desfazerem em pedaços.
    — Os deuses fizeram sete maravilhas, e os mortais fizeram nove — citou o Semi-meistre. — Foi bastante ímpio da parte dos mortais fazerem mais duas do que os deuses, mas pronto. As estradas de pedra de Valíria eram uma das nove do Longstrider. A quinta, creio eu.
    — A quarta — disse Tyrion, o qual decorara todas as dezesseis maravilhas em rapaz. O tio Gerion gostava de fazê-lo subir para cima da mesa durante os banquetes e de o pôr a recitá-las. Gostava bastante daquilo, não gostava? Estar ali em pé entre as bandejas com todos os olhos postos em mim, demonstrando como era um anãozinho esperto. Ao longo de anos, mais tarde, acariciara o sonho de um dia viajar pelo mundo e ver pessoalmente as maravilhas de Longstrider. O Lorde Tywin pusera fim a essa esperança dez dias antes do décimo sexto dia do nome do seu filho anão, quando Tyrion pedira para fazer uma viagem pelas Nove Cidades Livres como os tios tinham feito na mesma idade.
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    Mensagem  Admin Sex Jul 13, 2012 4:02 pm

    — Podia confiar-se nos meus irmãos para não trazerem a vergonha à Casa Lannister — respondera o pai. — Nunca nenhum se casou com uma rameira. — E quando Tyrion fizera lhe lembrar de que dentro de dez dias seria um homem feito, livre para viajar para onde quisesse, o Lorde Tywin dissera:
    — Nenhum homem é livre. Só as crianças e os tolos pensam o contrário. Vai, à vontade. Usa roupa de retalhos e faz o pino para divertir os senhores das especiarias e os reis do queijo. Basta que trate de pagar as suas passagens e que ponhas de parte quailquer ideia que possa ter sobre regressar. — Perante aquilo, o desafio do rapaz ruíra. — Se é ocupação útil que quer, será ocupação útil que terás — dissera o pai. E, portanto, para assinalar a sua passagem à idade adulta, Tyrion fora encarregado de todos os escoadouros e cisternas no interior do Rochedo Casterly. Ele se calhar esperava que eu caísse em alguma. O Lorde Tywin, nisso, ficara desapontado. Os escoadouros nunca escoaram tão bem como quando estiveram sob a sua responsabilidade.
    Preciso de uma taça de vinho, para lavar da boca o sabor a Tywin. Um odre de vinho me serviria ainda melhor.
    Cavalgaram a noite inteira, com Tyrion dormindo aos arrancos, cochilando contra o arção e acordando de repente. De vez em quando, começava a deslizar da sela para o lado, mas Sor Rolly deitava-lhe uma mão e voltava a endireitá-lo. Pela madrugada, as pernas do anão doíam e as suas nádegas estavam esfoladas e em carne viva.
    Foi só no dia seguinte que chegaram ao local de Ghoyan Drohe, mesmo ao lado do rio.
    — O lendário Roine — disse Tyrion, quando vislumbrou o lento e verde curso de água do cume de uma elevação.
    — O Pequeno Roine — disse o Pato.
    — É isso, sim. — Um rio bastante agradável suponho, mas o ramo menor do Tridente tem o dobro da largura e todos os três correm mais depressa. A cidade não era mais impressionante. Ghoyan Drohe nunca foi grande, segundo Tyrion recordava das suas histórias, mas foi um lugar bonito, verde e florescente, uma cidade de canais e fontanários. Até à guerra. Até à chegada dos dragões. Mil anos mais tarde, os canais estavam afogados em ervas daninhas e lama, e lagoas de água estagnada geravam enxames de moscas. As pedras quebradas de templos e palácios estavam afundando-se de regresso a terra, e velhos salgueiros nodosos cresciam densos ao longo das margens do rio.
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    Mensagem  Admin Sex Jul 13, 2012 4:02 pm

    Algumas pessoas ainda continuavam vivendo naquela miséria, cuidando de pequenos jardins entre as ervas daninhas. O som de cascos de cavalos ressoando na velha estrada valiriana pôs a maioria a se precipitar de regresso aos buracos de onde tinham saído, mas as mais ousadas deixaram-se ficar ao sol durante tempo suficiente para fitar os cavaleiros de passagem com olhos mortiços e incuriosos. Uma mulher nua com lama até os joelhos não parecia ser capaz de tirar os olhos de Tyrion. Ela nunca tinha visto um anão, compreendeu. Muito menos um anão sem nariz. Fez uma careta e deitou a língua de fora, e a menina desatou a chorar.
    — O que foi que você fez? — perguntou Pato.
    — Soprei-lhe um beijo. Todas as mulheres choram quando as beijo.
    Atrás dos salgueiros emaranhados, a estrada terminava abruptamente e viraram para norte, para um curto percurso, cavalgando ao lado da água até que a vegetação rasteira desapareceu e deram por si num velho cais de pedra, meio submerso e rodeado de altas e castanhas ervas daninha.
    — Pato! — soou um grito. — Haldon! — Tyrion espetou a cabeça para um lado e viu um rapaz em pé no telhado de um edifício baixo de madeira, acenando com um chapéu de palha de aba larga. Era um jovem ágil e bem feito, com uma constituição esguia e uma cabeleira azul escura. O anão estimou-lhe a idade em quinze, dezesseis anos, ou tão perto disso que não faria diferença.
    O telhado sobre o qual o rapaz se encontrava veio a revelar-se a cabine da Tímida Donzela, um velho e decrépito barco de varejo com um só mastro. Era largo e de baixo calado, ideal para abrir caminho pelos menores dos cursos d‘água e para caranguejar por cima de bancos de areia. Uma feia donzela, pensou Tyrion, mas às vezes as mais feias são as mais famintas quando caem na cama. Os barcos de varejo que percorriam regularmente os rios de Dorne eram com frequência pintados em cores berrantes e cobertos de talha requintada, mas aquela donzela não. A sua pintura era de um castanho acinzentado de lama, manchada e a descascar, a sua grande e curva cana do leme era simplese sem adornos. Parece um bocado de terra, pensou, mas sem dúvida que é esse o objetivo.
    Por essa altura, já o Pato respondia às saudações. A égua fez esparrinhar água nos baixios, espezinhando os juncos. O rapaz saltou do teto da cabine para o convés do barco de varejo e o resto da tripulação da Tímida Donzela fez a sua aparição. Um casal mais idoso com uma qualidade roinar nas feições estava ao lado da cana do leme, ao passo que uma bonita septã vestida
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    Mensagem  Admin Sex Jul 13, 2012 4:02 pm

    com um suave traje branco atravessou a porta da cabine e afastou dos olhos uma madeixa de cabelo castanho escuro.
    Mas Griff era inconfundível.
    — Já chega de gritaria — disse. Um súbito silêncio caiu sobre o rio. Este vai dar problemas, compreendeu Tyrion de imediato. O manto de Griff fora feito com a pele e a cabeça de um lobo vermelho do Roine. Sob a pele usava couro castanho enrijecido com anéis de ferro. A cara escanhoada também era coriácea, com rugas nos cantos dos olhos. Embora o cabelo fosse tão azul como o do filho, tinha raízes ruivas e sobrancelhas ainda mais ruivas. Ao quadril pendia uma espada e um punhal. Se estava contente por ter Pato e Haldon de volta, escondia-o bem, mas não se preocupou em ocultar o desprazer que sentiu ao ver Tyrion.
    — Um anão? O que é isto?
    — Eu sei, estava à espera de uma rodela de queijo. — Tyrion virou-se para o Jovem Griff e dirigiu ao rapaz o seu sorriso mais desarmante. —Cabelo azul pode servir-te bem em Tyrosh, mas em Westeros as crianças lhe atiriam pedras e as mulheres ririam na sua cara. O rapaz foi apanhado de surpresa.
    — A minha mãe foi uma senhora de Tyrosh. Pinto o cabelo em sua memória.
    — Que criatura é esta? — exigiu saber Griff.
    — Illyrio mandou uma carta explicando.
    — Então a quero. Leva o anão para a minha cabine.
    Não gosto dos olhos dele, refletiu Tyrion quando o mercenário se sentou na sua frente na relativa escuridão do interior do barco, com uma mesa cheia de marcas e uma vela de sebo entre ambos. Eram de um azul de gelo, claros, frios. O anão não gostava de olhos claros. Os olhos de Tywin tinham sido verdes claros, e pintalgados de dourado.
    Observou o mercenário enquanto lia. Que soubesse ler já dizia algo em si mesmo. Quantos mercenários podiam gabar-se de tal coisa? Ele quase nem mexe os lábios, refletiu Tyrion.
    Por fim, Griff ergueu os olhos do pergaminho e aqueles olhos claros estreitaram-se.
    — Tywin Lannister está morto? Pelas suas mãos?
    — Ao meu dedo. Este. — Tyrion ergueu-o para que Griff o admirasse. — O Lorde Tywin estava sentado numa latrina, portanto, espetei-lhe um dardo de besta nas tripas para ver se ele cagaria mesmo ouro. Não cagava. Uma pena,
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    Mensagem  Admin Sex Jul 13, 2012 4:02 pm

    algum ouro podia ter-me sido útil. E também matei a minha mãe, algo mais cedo. Oh, e o meu sobrinho Joffrey, envenenei-o no banquete de casamento e vi-o sufocar até à morte. O queijeiro esqueceu-se dessa parte? Pretendo acrescentar o meu irmão e a minha irmã à lista antes de acabar, se agradar à sua rainha.
    — Agradar-lhe? Terá Illyrio perdido o juízo? Porque é que ele imagina que Sua Graça aceitará os serviços de um confesso regicida e traidor? Uma questão pertinente, pensou Tyrion, mas o que disse foi:
    — O rei que matei estava sentado no trono dela, e todos aqueles que traí eram leões, por isso, parece-me que já prestei à rainha bons serviços. —Coçou o toco do nariz. — Não tenha medo, não vou matar-lhe, não é da minha família. Posso ver o que o queijeiro escreveu? Tenho um fraquinho por ler a meu respeito.
    Griff ignorou o pedido. Em vez de lhe dar resposta levou a carta à chama da vela e ficou observando o pergaminho a enegrecer, enrolar e incendiar-se.
    — Há sangue entre Targaryen e Lannister. Porque haveria você de apoiar a causa da Rainha Daenerys?
    — Por ouro e pela glória — disse o anão num tom alegre. — Oh, e por ódio. Se tivesse conhecido a minha irmã, compreenderia.
    — Eu compreendo o ódio bastante bem. — Pelo modo como Griff disse a palavra, Tyrion compreendeu que aquilo era verdade. Este também jantou ódio. Foi aquecendo-o durante a noite ao longo de anos.
    — Então temos isso em comum, sor.
    — Não sou cavaleiro nenhum.
    Não só é mentiroso, como é mal mentiroso. Isso foi desastrado e estúpido, senhor.
    — E, no entanto, Sor Pato diz que o armou cavaleiro.
    — Pato fala demais.
    — Alguns poderiam espantar-se por um pato conseguir falar de todo. Não importa, Griff. Não é cavaleiro nenhum e eu sou Hugor Hill, um monstrinho. O seu monstrinho, se quiser. Tem a minha palavra, tudo o que desejo é ser um leal servo da sua rainha dos dragões.
    — E como é que propõe servi-la?
    — Com a língua. — Lambeu os dedos, um por um. — Posso dizer a Sua Graça como a minha querida irmã pensa, se é que é possível chamar aquilo pensar. Posso dizer aos seus capitães qual a melhor maneira de derrotar o meu
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    Mensagem  Admin Sex Jul 13, 2012 4:02 pm

    irmão Jaime em batalha. Sei quais dos senhores têm coragem e quais são covardes, quais são leais e quais são venais. Posso entregar-lhe aliados. E sei muitíssimo sobre dragões, como o seu semi-meistre te dirá. E também sou divertido, e não como muito. Considera-me o seu leal duende. Griff refletiu naquilo por um momento.
    — Compreende o seguinte, anão. É o último e o menos importante do nosso grupo. Domina a língua e faz o que lhe é dito, senão depressa desejará tê-lo feito.
    Sim, pai, quase disse Tyrion.
    — Como quiser, senhor.
    — Não sou senhor nenhum.
    Mentiroso.
    — Era uma cortesia, meu amigo.
    — Também não sou seu amigo.
    Não é cavaleiro, não é senhor, não és amigo.
    — É uma pena.
    — Poupe-me da sua ironia. Levo-te até Volantis. Se mostrar-se obediente e útil, poderá ficar conosco, para servir a rainha o melhor que puder. Se mostrar que dá mais problemas do que os que vale, pode seguir o seu próprio caminho.
    Sim, e o meu caminho irá levar-me ao fundo do Roine com peixes mordiscando o que me resta de nariz. — Valar dohaeris.
    — Pode dormir no convés ou no porão, como preferir. A Ysilla vai lhe arranjar mantas.
    — Que bondade a dela. — Tyrion fez uma mesura bamboleante, mas ao chegar à porta da cabine virou-se para trás. — E se encontrarmos a rainha e descobrirmos que esta conversa de dragões não passou da fantasia ébria de um marinheiro qualquer? O vasto mundo está cheio desse tipo de histórias loucas. Gramequins e snarks, fantasmas e vampiros, sereias, demônios das rochas, cavalos alados, porcos alados… leões alados.
    Griff fitou-o, franzindo o semblante.
    — Te avisei Lannister. Ou controla a sua língua ou a perde. Há aqui reinos em risco. As nossas vidas, os nossos nomes, a nossa honra. Isto não é nenhum jogo que estamos jogando para seu divertimento.
    Claro que é, pensou Tyrion. O jogo dos tronos.
    — Às suas ordens, capitão — murmurou, voltando a fazer uma venia.
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    Mensagem  Admin Sex Jul 13, 2012 4:03 pm

    Davos 151


    O relâmpago dividiu o céu setentrional, delineando a torre negra da Lâmpada da Noite contra o céu branco azulado. Seis segundos mais tarde chegou o trovão, como um tambor distante. Os guardas levaram Davos Seaworth por uma ponte de basalto negro e sob uma porta levadiça de ferro que mostrava sinais de ferrugem. Atrás dela ficava um profundo fosso salgado e uma porta levadiça suportada por um par de enormes correntes. Águas verdes ergueram-se por baixo, atirando para cima plumas de borrifos que iam se esmagar contra as fundações do castelo. Depois apareceu uma segunda casa de portão, maior do que a primeira, cujas pedras eram barbadas por algas verdes. Davos atravessou aos tropeções um pátio lamacento com as mãos presas pelos pulsos. Uma chuva fria picou-lhe os olhos. Os guardas empurraram-no pela escada acima, para dentro da cavernosa fortaleza de pedra de Quebrágua. Uma vez lá dentro, o capitão tirou o manto e pendurou-o em um pino, para não deixar poças no gasto tapete de Myr. Davos fez o mesmo, remexendo no pregador com as mãos atadas. Não tinha esquecido as cortesias que aprendera em Pedra do Dragão durante os seus anos de serviço. Foram encontrar o senhor sozinho nas sombras do seu salão, comendo um jantar de cerveja, pão e estufado das irmãs. Vinte arandelas de ferro estavam montadas ao longo das espessas paredes de pedra, mas só quatro continham archotes, e nenhum deles estava aceso. Duas grossas velas de sebo davam uma luz parca e tremeluzente. Davos ouvia a chuva açoitando as paredes e um pingar constante vindo de onde, no telhado, se abrira uma goteira. — Senhor — disse o capitão — encontramos este homem na Barriga da Baleia, tentando comprar passagem pra fora da ilha. Tinha doze dragões com ele, e também esta coisa. — O capitão colocou na mesa ao lado do senhor: uma fita larga de veludo negro ornada com pano de ouro e ostentando três selos; um veado coroado estampado em cera de abelha dourada, um coração flamejante em vermelho, uma mão em branco. Davos esperou, molhado e pingando, com os pulsos arranhados onde a corda úmida se enterrava na pele. Bastaria uma palavra daquele senhor para ele estar em breve pendurado do Portão da Forca de Vilirmãs, mas pelo menos estava fora da chuva, com pedra sólida debaixo dos pés em vez de um convés

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