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    A dança dos dragões

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    A dança dos dragões - Página 4 Empty Re: A dança dos dragões

    Mensagem  Admin Qua Jul 11, 2012 3:54 pm

    — O seu Ferreiro deve ter sido de Roine — gracejou Illyrio. — Os ândalos aprenderam a arte de trabalhar o ferro com os roinares que viviam ao longo do rio. É sabido.
    — Não pelos nossos septões. — Tyrion indicou os campos com um gesto. — Quem vive nestas planícies?
    — Agricultores e trabalhadores, ligados a terra. Há pomares, quintas, minas… Eu próprio sou dono de algumas, embora raramente as visite. Porque haveria de passar os meus dias aqui, com a miríade de delícias de Pentos à mão?
    — Miríade de delícias. — E enormes e grossas muralhas. Tyrion fez o vinho girar na taça. — Não vimos vilas desde Pentos.
    — Há ruínas. — Illyrio indicou as cortinas com uma perna de frango.
    — Os senhores dos cavalos vêm nesta direção sempre que um khal qualquer mete na cabeça ver o mar. Os dothraki não gostam de vilas, devem saber disto até em Westeros.
    — Caí sobre um desses khalasares e destruí-o e descobrireis que os dothraki deixam de ser tão rápidos a atravessar o Roine.
    — Sai mais barato comprar os inimigos com comida e presentes.
    Se eu tivesse pensado em trazer um belo queijo para a batalha da Água Negra podia ainda ter o meu nariz completo. O Lorde Tywin sempre nutrira desprezo pelas Cidades Livres. Combatem com moedas em vez de espadas, costumava dizer. O ouro tem os seus usos, mas as guerras são ganhas com ferro.
    — O meu pai sempre disse que se der ouro a um inimigo ele se limitará a vir buscar mais.
    — Esse é o mesmo pai que assassinastes? — Illyrio atirou o osso de galinha para fora da liteira. — Mercenários não resistem contra cavaleiros dothraki. Isso ficou provado em Qohor.
    — Nem sequer o seu bravo Griff? — troçou Tyrion.
    — O Griff é diferente. Tem um filho que adora. Jovem Griff é como o rapaz se chama. Nunca houve rapaz mais nobre. O vinho, a comida, o sol, o balanço da liteira, tudo conspirava para o deixar sonolento. E por isso dormiu, acordou, bebeu. Illyrio acompanhava-o taça por taça. E quando o céu tomou o tom púrpura do ocaso, o gordo começou a ressonar.
    Nessa noite, Tyrion Lannister sonhou com uma batalha que tornou os montes de Westeros vermelhos como sangue. Estava no meio dela, entregando a morte com um machado do seu tamanho, combatendo lado a lado com Barristan, o Ousado, e Açamargo, enquanto dragões rodopiavam pelo céu por cima deles.
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    Mensagem  Admin Qua Jul 11, 2012 3:54 pm

    No sonho, tinha duas cabeças, ambas sem nariz. O pai liderava o inimigo, de modo que o matou outra vez. Depois matou o irmão Jaime, atacando-lhe a cara até a transformar numa ruína rubra, rindo-se de todas as vezes que dava um golpe. Foi só quando o combate terminou que se percebeu de que a sua segunda cabeça estava chorando.
    Quando acordou, tinha as pernas atrofiadas rígidas como ferro. Illyrio estava comendo azeitonas.
    — Onde estamos? — perguntou-lhe Tyrion.
    — Ainda não saímos das Planícies, meu apressado amigo. Em breve, a nossa estrada entrará nos Montes Veludo. Começamos aí a ascensão até Ghoyan Drohe, nas margens do Pequeno Roine.
    Ghoyan Drohe fora uma cidade roinar até que os dragões de Valíria a reduziram a uma desolação em brasa. Estou viajando tanto ao longo de léguas como de anos, refletiu Tyrion, regressando na história até aos dias em que os dragões governavam a terra.
    Tyrion dormiu, acordou e voltou a dormir, e o dia e a noite pareceram não importar. Os Montes Veludo revelaram-se uma desilusão.
    — Metade das rameiras de Lanisporto tem seios maiores do que estes montes — disse a Illyrio. — Devíam chamar-lhes Tetas Veludo. — Viram um círculo de pedras verticais que Illyrio afirmou terem sido erguidas por gigantes, e mais tarde um lago profundo.
    — Aqui vivia um grupo de salteadores que atacava todos os que passavam por cá — disse Illyrio — Diz-se que ainda vivem debaixo de água. Aqueles que pescam no lago são puxados para baixo e devorados. — Na noite seguinte chegaram a uma enorme esfinge valiriana acocorada ao lado da estrada. Tinha corpo de dragão e cara de mulher.
    — Uma rainha dragão — disse Tyrion. — Um presságio agradável.
    — Falta o rei dela. — Illyrio apontou para o plinto liso de pedra sobre o qual estivera em tempos a segunda esfinge, agora coberto de musgo e trepadeiras em flor. — Os senhores dos cavalos construíram rodas de pedra por baixo dele e arrastaram-no para Vaes Dothrak.
    Isso também é um presságio, pensou Tyrion, mas não tão esperançoso.
    Nessa noite, mais bêbado do que de costume, desatou subitamente a cantar.
    Cavalgou pelas ruas da cidade,
    desde o alto da sua colina,
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    Mensagem  Admin Qua Jul 11, 2012 3:54 pm

    Por becos e degraus e calçadas,
    para os braços da sua menina.
    Porque ela era o secreto tesouro,
    a sua vergonha e seu prazer.
    E corrente e forte nada são,
    comparados com beijos de mulher.
    Aquela era toda a letra que conhecia, à parte o refrão. Mãos de ouro são sempre frias, mas há calor numas mãos de mulher. As mãos de Shae tinham-lhe batido enquanto as mãos de ouro se enterravam na sua garganta. Não se lembrava se nelas houvera calor ou não. À medida que as forças lhe iam esgotando, os seus golpes tinham-se transformado em traças esvoaçando em volta do rosto. De cada vez que dava à corrente mais um torção, as mãos de ouro enterravam-se mais. E corrente e forte nada são, comparados com beijos de mulher. A teria beijado uma última vez, depois de estar morta? Não conseguia lembrar-se… embora ainda recordasse a primeira vez que a beijara, na sua tenda ao lado do Ramo Verde. Que bem soubera a sua boca.
    Também se lembrava da primeira vez com Tysha. Ela não sabia como se fazia, tal como eu. Andavamos sempre a dar encontrões com os narizes,mas quando lhe toquei na língua com a minha, ela tremeu. Tyrion fechou os olhos para evocar a cara dela, mas em vez disso viu o pai, acocorado numa latrina com o roupão erguido em volta da cintura.
    — Onde quer que as rameiras vão — dissera o Lorde Tywin, e a besta fizera trum.
    O anão virou-se ao contrário, enterrando profundamente meio nariz nas almofadas de seda. O sono abriu-se debaixo dele como um poço, e Tyrion atirou-se lá para dentro determinado a deixar que a escuridão odevorasse.
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:39 pm

    O Assistente do Mercador 105




    O Aventura fedia.
    Ostentava sessenta remos, uma única vela, e um longo casco esguio que prometia velocidade. Pequeno, mas talvez sirva, pensou Quentyn quando o viu, mas isso foi antes de subir a bordo e o cheirar bem. Porcos, foi o seu primeiro pensamento, mas depois de uma segunda farejada mudou de ideias. Os porcos tinham um cheiro mais limpo. Aquele fedor era mijo, carne podre e dejetos, aquele era o Fedor de carne de cadáver e de chagas em pus e de ferimentos gangrenados, tão forte que esmagava o ar salgado e o cheiro a peixe do porto.
    — Quero vomitar — disse a Gerris Drinkwater. Estavam à espera do aparecimento do capitão do navio, sufocando de calor enquanto o fedor que exalava da coberta por baixo deles.
    — Se o capitão cheirar nem que seja um bocadinho como este navio, pode confundir o seu vômito com perfume — respondeu Gerris. Quentyn aprestava-se a sugerir que tentassem outro navio quando o capitão finalmente apareceu, com dois tripulantes mal encarados a seu lado. Gerris cumprimentou-o com um sorriso. Embora não falasse tão bem a língua volantena como Quentyn, o estratagema exigia que falasse por ambos. Em Vila Tabueira, Quentyn desempenhara o papel de vendedor de vinho, mas irritara-se com a mascarada, e quando os dorneses tinham mudado de navio em Lys, tinham também mudado de papéis. A bordo do Cotovia-dos-Prados, Cletus Yronwood passara a ser o mercador, Quentyn o criado; em Volantis, com Cletus morto, Gerris assumira o papel do chefe.
    Alto e de pele clara, com olhos azuis esverdeados, um cabelo cor deareia com madeixas causadas pelo sol e um corpo esguio e bem feito, Gerris Drinkwater tinha em si altivez, uma confiança que roçava a arrogância. Nunca parecia pouco à vontade, e mesmo quando não falava a língua tinha maneiras de se fazer entender. Quentyn fazia fraca figura em comparação; com pernas curtas e atarracado, de constituição larga, com cabelo do castanho da terra recém remexida. A sua testa era alta demais, o queixo demasiadamente quadrado, o nariz largo demais. Uma cara boa e honesta, chamara-lhe um dia uma moça, mas devia sorrir mais.
    Os sorrisos nunca tinham sido fáceis para Quentyn Martell, tal como acontecia com o senhor seu pai.
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:39 pm

    — Quão rápido é o seu Aventura? — perguntou Gerris, numa aproximação hesitante ao alto valiriano.
    O capitão do Aventura reconheceu o sotaque e respondeu no idioma comum de Westeros.
    — Não há navio mais rápido, honrado senhor. O Aventura consegue apanhar o próprio vento. Diga-me para onde quer navegar, e o levare rapidamente até lá.
    — Procuro passagem para Meereen, para mim e para dois criados. Isso fez o capitão hesitar.
    — Meereen não me é estranha. Era capaz de voltar a encontrar a cidade, sim… mas por quê? Não há escravos a venda em Meereen, não se encontra lá lucro. A rainha prateada pôs fim a isso. Até fechou as arenas de combate, de modo que um pobre marinheiro nem sequer se pode divertir enquanto espera que os porões se encham. Diga-me, meu amigo de Westeros, o que há em Meereen para querer ir até lá?
    A mais bela mulher do mundo, pensou Quentyn. A minha futura esposa, se os deuses forem bons. Às vezes, à noite, ficava acordado imaginando sua face e silhueta, e se perguntava por que motivo uma mulher assim haveria de querer casar com ele, entre todos os príncipes do mundo. Eu sou Dorne, disse a si próprio. Ela vai querer Dorne. Gerris respondeu com a história que tinham congeminado.
    — O negócio da nossa família é o vinho. O meu pai tem grande extensão de vinhedos em Dorne, e quer que eu encontre novos mercados. É nossa esperança que a boa gente de Meereen acolha bem aquilo que eu vendo.
    — Vinho? Vinho de Dorne? — o capitão não estava convencido. — As cidades dos escravos estão em guerra. Será possível que não saiba disso?
    — Os combates são entre Yunkai e Astapor, segundo ouvimos dizer. Meereen não está envolvida.
    — Ainda não. Mas depressa estará. Um emissário da Cidade Amarela está em Volantis neste preciso momento, contratando espadas. Os Longas-lanças já embarcaram para Yunkai, e os Aventados e a Companhia do Gato os seguirão assim que acabarem de preencher as fileiras. A Companhia Dourada também marcha para leste. Tudo isto é conhecido.
    — Se você diz. Eu negocio em vinho, não em guerras. O vinho de Ghis tem fraca qualidade, todos concordam. Os meereeneses pagarão bom preço pelas minhas belas colheitas dornesas.
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:39 pm

    — Mortos não se importam com o tipo de vinho que bebem. — O capitão do Aventura afagou a barba. — Parece-me que não sou o primeiro capitão que abordaste. Nem o décimo.
    — Pois não — admitiu Gerris.
    — Então quantos foram? Cem?
    Bem perto disso, pensou Quentyn. Os volantenos gostavam de se gabar de que as cem ilhas de Braavos podiam ser mergulhadas no seu porto profundo e afogadas. Quentyn nunca vira Braavos, mas conseguia acreditar nisso. Rica, madura e podre, Volatis cobria a foz do Roine como um morno beijo úmido cobria uma boca, estendendo-se por colinas e pântanos de ambos os lados do rio. Havia navios por todo o lado, descendo o rio ou dirigindo-se para o mar, enchendo os cais e os molhes, embarcando carga ou descarregando-a; navios de guerra e baleeiros e galés mercantes, carracas e esquifes, cocas, grandes cocas, dracares, navios-cisne, navios de Lys, Tyrosh e Pentos, especiarieiros grandes como palácios, navios de Tolose Yunkai e das Basilisco. Tantos que Quentyn, ao ver o porto pela primeira vez do convés do Cotovia-dos-Prados, dissera aos amigos que só ficariam ali durante três dias.
    Mas tinham-se passado vinte e ali permaneciam, ainda sem navio. Os capitães do Melantino, da Filha do Triarca e do Beijo da Sereia tinham-nos recusado. Um imediato no Ousado Viajante rira-lhes na cara. O capitão do Golfinho enfurecera-se com eles por lhe fazerem perder tempo, e o dono do Sétimo Filho acusara-os de serem piratas. Tudo no primeiro dia.
    Só o capitão do Enho dera- lhes motivos para a recusa.
    — É verdade que vou zarpar para leste — dissera-lhes, à frente de vinho aguado. — Para sul em volta de Valíria e depois para o nascente. Embarcamos água e provisões em Nova Ghis e depois dobramos os remos para Qarth e os Portões de Jade. Todas as viagens têm perigos, e as longas mais do que a maioria. Porque haveria eu de procurar mais perigos virando para a Baía dos Escravos? É com o Enho que ganho a vida. Não irei arriscá-lo para levar três dorneses loucos para o meio de uma guerra.
    Quentyn começara a pensar que poderiam ter feito melhor se tivessem comprado o seu próprio navio em Vila Tabueira. Mas isso teria atraído atenções indesejadas. A Aranha tinha informantes por todo lado, até nos salões de Lançassolar.
    — Dorne sangrará se o seu propósito for descoberto — prevenira o pai enquanto observavam as crianças brincando nas piscinas e fontanários dos
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:39 pm

    Jardins de Água. — O que fazemos é traição, não se iluda. Confia só nos seus companheiros, e faz tudo o que puder para evitar atrair atenções.
    E assim Gerris Drinkwater concedeu ao capitão do Aventura o seu sorriso mais desarmante.
    — Para dizer a verdade, não contei todos os covardes que nos disseram não, mas na Casa dos Mercadores ouvi dizer que você é de um tipo de homem mais ousado, do tipo de homem que poderia arriscar qualquer coisa por ouro suficiente.
    Um contrabandista, pensou Quentyn. Era isso que os outros mercadores tinham chamado ao capitão do Aventura na Casa dos Mercadores.
    — Ele é um contrabandista e um escravagista, meio pirata e meio proxeneta, mas pode acontecer que seja a sua melhor esperança — dissera-lhes o estalajadeiro.
    O capitão esfregou o indicador no polegar.
    — E quanto ouro acharia suficiente para uma viagem como essa?
    — O triplo do seu preço normal para a Baía dos Escravos.
    — Por cada um de vocês? — o capitão mostrou os dentes em algo cuja intenção podia ser um sorriso, embora desse à sua cara estreita um ar ferino. — Talvez. É verdade, eu sou um homem mais ousado do que a maioria. Quando querem partir?
    — Amanhã não seria cedo demais.
    — Feito. Regressem uma hora antes da primeira luz da aurora, com os seus amigos e os seus vinhos. É melhor nos por a caminho enquanto Volantis dorme, para que ninguém nos faça perguntas inconvenientes sobre o nosso destino.
    — Como quiser. Uma hora antes da primeira luz. O sorriso do capitão alargou-se.
    — Estou contente por poder te ajudar. Vamos ter uma viagem feliz, sim?
    — Tenho a certeza que sim — disse Gerris. O capitão pediu então cerveja, e os dois beberam um brinde ao empreendimento de ambos.
    — Uma doçura de homem — disse Gerris mais tarde, enquanto ele e Quentyn se dirigiam ao início do molhe onde o hathay que tinham alugado os aguardava. O ar pairava quente e pesado, e o sol era tão brilhante que ambos estavam a cerrar os olhos.
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:39 pm

    — Isto é uma doçura de cidade — concordou Quentyn. Suficientemente doce para nos apodrecer os dentes. Beterrabas doces eram profusamente cultivadas por ali, e eram servidas em quase todas as refeições. Os volantenos faziam também com elas uma sopa fria, tão espessa e rica como mel purpúreo. Os vinhos deles também eram doces. — Mas temo que a nossa viagem acabe por ser curta. Aquela doçura de homem não tenciona levar-nos até Meereen. Foi muito rápido a aceitar a nossa proposta. Vai receber o triplo do preço habitual, sem dúvida, e depois de nos ter a bordo e fora de vista de terra, vai cortar-nos as goelas e roubar também o resto do nosso ouro.
    — Ou acorrentar-nos a um remo, ao lado daqueles desgraçados que estavamos cheirando. Acho que precisamos encontrar uma espécie melhor de contrabandista.
    O condutor aguardava-os ao lado do hathay. Em Westeros, o veículo podia ter recebido o nome de carro de boi, embora fosse muito mais ornamentado do que qualquer carro que Quentyn tivesse visto em Dorne e lhe faltasse um boi. O hathay era puxado por um elefante anão, com uma pele da cor de neve suja. As ruas da Velha Volantis estavam cheias de tais animais.
    Quentyn teria preferido caminhar, mas estava a milhas da estalagem. Além disso, o estalajadeiro na Casa dos Mercadores tinha-o avisado de que viajar a pé os macularia aos olhos tanto de capitães estrangeiros como de volantenos nativos. Pessoas de categoria viajavam de palanquim ou na parte de trás de um hathay… e calhava ao estalajeiro ter um primo que era dono de vários desses aparelhos e ficaria feliz por servi-los nesse campo.
    O condutor era um dos escravos do primo, um homem pequeno com uma roda tatuada numa bochecha, nu à exceção de uma tanga e de um par de sandálias. A pele era da cor da teca, os olhos lascas de sílex. Depois de os ajudar a subir para o banco almofadado entre as duas enormes rodas de madeira do carro, trepou para o dorso do elefante.
    — A Casa dos Mercadores — disse-lhe Quentyn — mas vai ao longo dos cais. — Para lá da zona ribeirinha e das suas brisas, as ruas e vielas de Volantis eram suficientemente quentes para afogar um homem no próprio suor, pelo menos daquele lado do rio.
    O condutor gritou qualquer coisa ao elefante na língua local. O animal começou a deslocar-se, balançando a tromba de um lado para o outro. O carro avançou pesadamente atrás dele, enquanto o condutor gritava tanto a marinheiros como a escravos para abrirem caminho. Era bastante simples distinguir estes
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:40 pm

    daqueles. Os escravos estavam todos tatuados; uma máscara de penas azuis, um relâmpago que ia do queixo à testa, uma moeda na bochecha, malhas de leopardo, um crânio, uma caneca. O Meistre Kedry dizia que havia cinco escravos por cada homem livre em Volantis, embora não tivesse sobrevivido durante tempo suficiente para verificar essa estimativa. Perecera na manhã em que os corsários abordaram o Cotovia-dos-Prados.
    Quentyn perdera mais dois amigos no mesmo dia; Willam Wells com as suas sardas e os seus dentes tortos, destemido com uma lança, e Cletus Yronwood, bem-parecido apesar do olho vesgo, sempre turbulento, sempre rindo. Cletus fora o amigo mais querido de Quentyn ao longo de metade da vida, um irmão em tudo menos no sangue.
    — Dá à tua noiva um beijo por mim — murmurara-lhe Cletus logo antes de morrer.
    Os corsários tinham subido a bordo na escuridão que precedia a aurora, quando o Cotovia-dos-Prados estava ancorado ao largo das Terras Disputadas. A tripulação repelira-os, com o preço de doze vidas. Depois, os marinheiros tinham despido os corsários mortos de botas, cintos e armas, dividido as suas bolsas, e arrancado pedras preciosas das suas orelhas e anéis dos seus dedos. Um dos cadáveres fora tão gordo que o cozinheiro do navio tivera de lhe cortar os dedos com um cutelo para recuperar os anéis. Tinham sido necessárias três Cotovias para rolar o corpo para o mar. Os outros piratas foram abandonados depois dele, sem uma palavra de preceou cerimónia.
    Os seus mortos receberam tratamento mais afetuoso. Os marinheiros coseram os corpos em tela e acrescentaram-lhes pedras de lastro para se afundarem mais depressa. O capitão do Cotovia-dos-Prados liderara a tripulação numa oração pelas almas dos camaradas mortos. Depois se virara para os passageiros dorneses, os três que restavam dos seis que tinham embarcado em Vila Tabueira. Até o grandalhão subira ao convés, pálido, enjoado e instável sobre as pernas, lutando por emergir das profundezas do porão do navio para fazer a sua última homenagem.
    — Um de vocês deveria dizer algumas palavras pelos seus mortos, antes de os entregarmos ao mar — dissera o capitão. Gerris fizera-lhe a vontade, mentindo palavra sim, palavra não, visto que não se atrevia a dizer a verdade sobre quem eles tinham sido ou por que motivo tinham vindo.
    As coisas não deviam ter terminado assim para eles.
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:40 pm

    — Esta será uma história para contar aos nossos netos — declarara Cletus no dia em que partiram do castelo do pai. Will respondera àquilo com uma careta e dissera:
    — Uma história para contar a mulheres de taberna, você quer dizer, na esperança de que elas levantem as saias. Cletus dera-lhe um tapa nas costas.
    — Para netos precisa de filhos. Para filhos, precisas de levantar umas saias.
    Mais tarde, em Vila Tabueira, os dorneses tinham brindado à futura noiva de Quentyn, tinham feito gracejos obscenos sobre a noite de núpcias que teria, e tinham conversado sobre as coisas que veriam, os feitos que fariam, a glória que conquistariam. Tudo o que conquistaram foi um saco de tela cheio de pedras de lastro.
    Por mais que sofresse pela perda de Will e Cletus, era a perda do meistre que Quentyn sentia com mais agudeza. Kedry fora fluente nas línguas de todas as Cidades Livres e até no ghiscari mestiço que os homens falavam ao longo das costas da Baía dos Escravos.
    — O Meistre Kedry vai te acompanhar — dissera o pai na noite em que partiram. — Dê ouvidos aos seus conselhos. Ele dedicou metade da vida ao estudo das Nove Cidades Livres. — Quentyn perguntou-se as coisas não teriam corrido mais facilmente se ele estivesse ali para guiá-los.
    — Eu vendia a minha mãe por um pouco de brisa — disse Gerris, enquanto rolavam através das multidões das docas. — O ar já está úmido como a boceta da Donzela, e ainda nem meio-dia é. Odeio esta cidade.
    Quentyn partilhava aquele sentimento. O obstinado calor úmido de Volantis esgotava-lhe as forças e deixava-o a sentir-se sujo. A pior parte era saber que o cair da noite não traria qualquer alívio. Nos prados de altitude ao norte das propriedades do Lorde Yronwood, o ar era sempre vivificante e fresco depois de escurecer, por mais quente que o dia tivesse sido. Ali não. Em Volantis, as noites eram quase tão quentes como os dias.
    — A Deusa zarpa para Nova Ghis amanhã — fez-lhe lembrar Gerris.
    — Isso pelo menos iria levar-nos para mais perto.
    — Nova Ghis é uma ilha, e um porto muito menor do que este. Estaríamos mais perto, sim, mas podíamos dar por nós lá presos. E Nova Ghis aliou-se aos yunkaitas. — Essa notícia não surpreendera Quentyn. Tanto Nova Ghis como Yunkai eram cidades ghiscaritas. — Se Volantis também se aliar a eles…
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:40 pm

    — Precisamos encontrar um navio vindo de Westeros — sugeriu Gerris — um mercador qualquer vindo de Lannisporto ou de Vilavelha.
    — Poucos vêm até tão longe, e os que vêm enchem os porões com seda e especiarias vindas do Mar de Jade, após o que viram os remos para casa.
    — Talvez um navio bravosiano? Ouve-se falar de velas purpúreas em lugares tão distantes como Asshai e as ilhas do Mar de Jade.
    — Os bravosianos são descendentes de escravos fugidos. Não fazem negócio na Baía dos Escravos.
    — Temos ouro suficiente para comprar um navio?
    — E quem iria manobrá-lo? Você? Eu? — os dorneses nunca tinham sido navegadores, pelo menos desde que Nymeria queimara os seus dez mil navios. — Os mares em volta de Valíria são perigosos e estão repletos de corsários.
    — Já tive corsários que chegue. Proponho comprarmos um navio.
    Isto continua a não passar de um jogo para ele, percebeu-se Quentyn, sem nada de diferente em relação à altura em que levou seis de nós para as montanhas para encontrar o velho covil do Rei Abutre. Não estava na natureza de Gerris Drinkwater imaginar que podiam falhar, muito menos que poderiam morrer. Nem as mortes de três amigos lhe tinham servido de emenda, ao que parecia. Ele deixa isso comigo. Sabe que a minha natureza é tão cautelosa como a sua é ousada.
    — O grandalhão talvez tenha razão — disse Sor Gerris. — Caguemos no mar, podemos acabar a viagem por terra.
    — Tu sabes por que é que ele diz isso — disse Quentyn. — Preferia morrer a pôr os pés noutro navio. — O grandalhão passara enjoado todos os dias da viagem. Em Lys precisara de quatro dias para recuperar as forças. Tinham tido de se hospedar numa estalagem para que o Meistre Kedry pudesse enfiá-lo numa cama com colchão de penas e alimentá-lo de caldos e poções até que alguma tonalidade rosada regressasse ao seu rosto.
    Era possível ir por terra até Meereen, isso era verdade. As velhas estradas valirianas os levariam até lá. Estradas de dragões, eram como os homens chamavam às grandes estradas de pedra da Cidade Franca, mas a que seguia para leste de Volantis até Meereen ganhara um nome mais sinistro: a estrada dos demônios.
    — A estrada dos demônios é perigosa e muito lenta — disse Quentyn. — Tywin Lannister vai enviar os seus homens atrás da rainha, assim que as
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:40 pm

    notícias sobre ela chegarem a Porto Real. — O seu pai tivera a certeza disso. — Os dele virão com facas. Se chegarem a ela primeiro…
    — Esperemos que os dragões dela os farejem e os comam — disse Gerris. — Bem, se não conseguimos encontrar um navio e você não quer nos deixar seguir a cavalo, é melhor que compremos passagens de regresso a Dorne.
    Rastejar de volta para Lançassolar derrotado, com o rabo entre as pernas? A desilusão do pai seria mais do que Quentyn conseguiria suportar, e o escárnio das Serpentes de Areia seria mordaz. Doran Martell pusera o destino de Dorne em suas mãos, não podia falhar-lhe enquanto lhe restasse vida.
    Torvelinhos de calor erguiam-se da rua enquanto o hathay ia chacoalhando e sacudindo-se sobre as suas rodas de aros de ferro, emprestando às redondezas um ar onírico. Por entre os armazéns e os cais, lojas e bancadas de todos os tipos atafulhavam a borda-d‘água. Aqui podiam comprar-se ostras frescas, ali correntes e grilhões de ferro, acolá peças de cryvasse esculpidas em marfim e jade. Aqui se encontravam também templos, onde os marinheiros iam fazer sacrifícios a deuses estrangeiros, encostados a casas de almofadas onde mulheres chamavam das varandas os homens que passavam embaixo.
    — Olha para aquela — instou Gerris, quando passaram por uma casa de almofadas. — Acho que está apaixonada por você. E quanto custa o amor de uma rameira? Em boa verdade, as mulheres deixavam Quentyn ansioso, especialmente as bonitas.
    Quando chegara a Paloferro, ficou encantado com Ynys, a mais velha das filhas do Lorde Yronwood. Embora nunca chegasse a dizer uma palavra sobre os seus sentimentos, acarinhara os sonhos durante anos… até o dia em que ela fora enviada para desposar Sor Ryon Allyrion, o herdeiro de Graçadivina. Da última vez que a vira, tinha um rapaz ao peito e outro agarrado as saias.
    Depois de Ynys, tinham sido as gêmeas Drinkwater, um par de morenas e jovens donzelas que adoravam fazer falcoaria, caçar, escalar rochedos e fazer Quentyn corar. Uma delas dera-lhe o primeiro beijo, embora nunca tivesse sabido qual fora. Como filhas de um cavaleiro com terras, as gêmeas eram muito mal nascidas para se casar com elas, mas Cletus não achava que isso fosse motivo para que não as beijasse.
    — Depois de se casar, pode ficar com uma como amante. Ou com as duas, porque não? — mas Quentyn pensara em vários motivos por que não, e fizera os possíveis para evitar as gêmeas daí em diante, e não houvera um segundo beijo.
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:40 pm

    Mais recentemente, a mais nova das filhas do Lorde Yronwood pusera-se a segui-lo pelo castelo. Gwyneth não tinha mais de doze anos, e era uma moça pequena e magricela cujos olhos escuros e cabelo castanho a distinguiam naquela casa de loiros de olhos azuis. Mas era esperta, tão rápida com as palavras como com as mãos, e gostava de dizer a Quentyn que ele tinha de esperar que ela florescesse para poder casar com ele.
    Isso fora antes do Príncipe Doran o chamar aos Jardins de Água. E agora a mais bela mulher do mundo estava à espera em Meereen, e ele pretendia cumprir o seu dever e reclamá-la como noiva. Ela não me recusará. Irá honrar o acordo. Daenerys Targaryen precisaria de Dorne para conquistar os Sete Reinos, e isso queria dizer que precisaria dele. Mas não quer dizer que me ame. Pode nem sequer gostar de mim.
    A rua curvava onde o rio se encontrava com o mar e aí, ao longo da curva, uma quantidade de vendedores de animais aglomerava-se, todos juntos, oferecendo lagartos, gigantescas serpentes aneladas e ágeis macaquinhos com caudas listradas e inteligentes mãos cor-de-rosa.
    — A sua rainha talvez goste de um macaco — disse Gerris.
    Quentyn não fazia a mínima ideia do que Daenerys Targaryen poderia apreciar. Prometera ao pai que a traria de volta a Dorne, mas cada vez mais se interrogava sobre se estaria à altura da tarefa.
    Nunca pedi isto, pensou.
    Para lá da larga extensão azul do Roine, via a Muralha Negra que foi erguida pelos valirianos quando Volantis não passava de um posto avançado do seu império; uma grande oval de rocha fundida com sessenta metros de altura e tão espessa que seis quadrigas podiam fazer uma corrida lado a lado ao longo do seu topo, como fazia todos os anos para festejar a fundação da cidade. Estrangeiros e libertos não eram permitidos dentro da Muralha Negra, exceto a convite daqueles que viviam lá dentro, descendentes de Sangue Antigo cuja ancestralidade remontava à própria Valíria.
    O tráfego era ali mais denso. Estavam perto da extremidade oriental da Ponte Longa, que ligava as duas metades da cidade. Carros, carroças e hathays atulhavam as ruas, todos a dirigirem-se para a ponte ou vindos de lá. Havia escravos por toda a parte, numerosos como baratas, correndo de um lado para o outro a tratar dos assuntos dos seus amos.
    Não muito longe da Praça dos Peixeiros e da Casa dos Mercadores, irromperam gritos de uma rua perpendicular àquela que seguiam e uma dúzia de
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:40 pm

    lanceiros Imaculados em armaduras ornamentadas e mantos de pele de tigre surgiram como que vindos de nenhum lugar, fazendo sinal a toda a gente para que se afastasse, a fim de que o triarca pudesse passar empoleirado no seu elefante e escolta. O elefante do triarca era um monstro de pele cinzenta vestido com uma complicada armadura esmaltada que matraqueava suavemente quando ele se mexia, e o castelo que levava ao dorso era tão alto que raspava no topo do arco de pedra ornamental sob o qual estava a passar.
    — Acha-se que os triarcas têm uma categoria tão elevada que não se permite que os seus pés toquem o chão durante o ano em que prestam serviço — disse Quentyn ao companheiro. — Vão para todo o lado montados em elefantes.
    — Bloqueam as ruas e deixam pilhas de bosta com que gente como nós tem de lidar — disse Gerris. — Nunca saberei por que Volantis precisa de três príncipes quando Dorne se governa com um.
    — Os triarcas não são nem reis nem príncipes. Volantis é uma cidade franca, como a Valyria de antigamente. Todos os proprietários de terras nascidos livres partilham o governo. Até as mulheres podem votar, desde que possuam terras. Os três triarcas são escolhidos de entre as famílias nobres que conseguirem provar ascendência nunca interrompida até à velha Valíria, para servirem até ao primeiro dia do novo ano. E saberia tudo isto se tivesse se incomodado de ler o livro que o Meistre Kedry te deu.
    — Não tinha imagens.
    — Havia mapas.
    — Os mapas não contam. Se ele me tivesse dito que era sobre tigres e elefantes, podia ter tentado. Parecia-se de forma suspeita com uma história.
    Quando o hathay chegou à Praça dos Peixeiros, o elefante que o puxava ergueu a tromba e soltou um som de buzina como se fosse algum enorme ganso branco, relutante em mergulhar no emaranhado de carroças, palanquins e tráfego a pé que tinha em frente. O condutor espetou-lhe os calcanhares e manteve-o em movimento.
    Os vendedores de peixe estavam em força na rua, gritando as capturas da manhã. Quentyn compreendia uma palavra em duas, no máximo, mas não precisava de conhecer as palavras para conhecer os peixes. Viu bacalhaus, agulhões e sardinhas, barricas de mexilhões e amêijoas. Enguias estavam penduradas à frente de uma bancada. Outra mostrava uma gigantesca tartaruga, presa pelas patas com correntes de ferro, pesada como um cavalo. Caranguejos esgravatavam dentro de barris de salmoura e algas. Vários dos vendedores
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:41 pm

    estavam fritando porções de peixe com cebolas e beterrabas, ou vendendo guisado de peixe picante que tiravam de pequenas panelas de ferro.
    No centro da praça, sob a estátua estalada e sem cabeça de um triarca morto, uma multidão tinha começado a reunir-se em volta de uns anões que montavam um espetáculo. Os homenzinhos envergavam armaduras de madeira, cavaleiros em miniatura que se preparavam para uma justa. Quentyn viu um deles montar um cão, enquanto o outro saltava para cima de um porco… só para escorregar imediatamente para o chão, entre gargalhadas dispersas.
    — Parecem divertidos — disse Gerris. — Paramos para vê-los lutar? Uma gargalhada podia fazer-te bem, Quent. Parece um velho que já não usa as tripas há meio ano.
    Tenho dezoito anos, sou seis anos mais novo do que você, pensou Quentyn. Não sou nenhum velho. Mas em vez disso, disse:
    — Não tenho necessidade nenhuma de anões cômicos. A menos que tenham um navio.
    — Um pequeno, imagino.
    Com quatro andares de altura, a Casa dos Mercadores dominava as docas, molhes e armazéns que a rodeavam. Ali, mercadores vindos de Vilavelha e Porto Real misturavam-se com os seus homólogos de Bravos, Pentos e Myr, com Ibbeneses peludos, com viajantes de pele clara de Qarth, com ilhéus do Verão negros como carvão vestidos com mantos de penas, até com umbromantes mascarados de Asshai da Sombra.
    Quentyn sentiu as pedras do pavimento quentes sob os pés quando desceu do hathay, mesmo através do couro das botas. À porta da Casados Mercadores tinha sido montada uma mesa à sombra, decorada com flâmulas às riscas azuis e brancas que esvoaçavam a cada sopro de ar. Quatro mercenários de olhos duros preguiçavam em volta da mesa, chamando todos os homens e rapazes que por ali passavam. Aventados, compreendeu Quentyn. Os sargentos andavam a procura de carne fresca para preencher as fileiras antes de embarcarem para a Baía dos Escravos. E cada homem que alistarem é mais uma espada para Yunkai, outra lâmina destinada a beber o sangue da minha futura noiva.
    Um dos Aventados gritou-lhes.
    — Não falo a sua língua — respondeu Quentyn. Embora soubesse ler e escrever alto valiriano, tinha pouca prática do falar. E a maçã volantena rolara até uma distância razoável da árvore valiriana.
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:41 pm

    — De Westeros? — respondeu o homem no idioma comum.
    — Dorneses. O meu amo é vendedor de vinhos.
    — Amo? Que se foda. É escravo? Venha conosco e seja o seu próprio amo. Quer morrer na cama? Nós lhe ensinamos a combater com espada e lança. Irá para a batalha com o Príncipe Esfarrapado e voltarás para casa mais rico do que um lorde. Rapazes, meninas, ouro, tudo o que quiserem, se for suficientemente homem para agarrá-lo. Nós somos os Aventados, e fodemos a deusa massacre pelo cu acima.
    Dois dos mercenários começaram a cantar, berrando a letra de uma canção de marcha qualquer. Quentyn compreendeu o suficiente para apanhar a essência da coisa. Nós somos os Aventados, cantavam eles. Sopre-nos para leste para a Baía dos Escravos, e mataremos o rei carniceiro e foderemos a rainha dos dragões.
    — Se Cletus e Will ainda estivessem conosco, podíamos voltar com o grandalhão e matá-los todos — disse Gerris.
    Cletus e Will estão mortos.
    — Não ligue para eles — disse Quentyn. Os mercenários atiraram provocações às suas costas enquanto eles cruzavam as portas da Casa dos Mercadores, chamando-os de covardes sem sangue e meninas assustadas.
    O grandalhão esperava-os nos aposentos que tinham alugado no segundo andar. Embora a estalagem tivesse sido recomendada pelo capitão do Cotovia-dos-Prados, isso não queria dizer que Quentyn estivesse disposto a deixar os bens e o ouro sem proteção. Todos os portos tinham ladrões, ratazanas e rameiras, e Volantis tinha mais do que a maioria.
    — Estava quase a ir à sua procura — disse Sor Archibald Yronwood, enquanto fazia deslizar a tranca para deixá-los entrar. Fora o primo Cletus quem começara a lhe chamar ―grandalhão‖, mas o nome era bastante merecido. Arch tinha dois metros de altura, era largo de ombros, possuía uma barriga enorme, as pernas eram como troncos de árvores, as mãos tinham o tamanho de presuntos e não tinha pescoço de que valesse a pena falar. Alguma enfermidade de infância fizera-lhe cair todo o cabelo. A sua cabeça calva fazia lembrar a Quentyn um pedregulho liso e cor-de-rosa. — Então — perguntou o grandalhão — que disse o contrabandista? Temos barco?
    — Navio — corrigiu Quentyn. — Sim, ele nos leva, mas só até ao inferno mais próximo. Gerris sentou-se numa cama decaída ao meio e descalçou as botas.
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:41 pm

    Dorne parece mais atraente a cada momento que passa. O grandalhão disse:
    — Continuo dizendo que faríamos melhor se cavalgássemos pela estrada dos demônios. Pode ser que não seja tão perigosa como os homens dizem. E se for, isso só significa mais glória para os que se atrevem a enfrentá-la. Quem se atreveria a incomodar-nos? O Drink com a sua espada, eu com o meu martelo, somos mais do que qualquer demônio consegue digerir.
    — E se Daenerys morrer antes de chegarmos junto dela? — questionou Quentyn. — Temos de arranjar navio. Mesmo se for o Aventura. Gerris riu.
    — Deve estar mais desesperado pela Daenerys do que eu pensava, se está disposto a aguentar aquele pivete durante meses sem parar. Passados três dias, eu punha-me a pedir-lhes que me assassinassem. Não meu príncipe, te suplico, o Aventura não.
    — Tem maneira melhor? — perguntou-lhe Quentyn.
    — Tenho. Acabou de me ocorrer. Tem os seus riscos, e não é aquilo que eu chamaria honroso, admito… mas te levará a sua rainha mais depressa do que a estrada dos demônios.
    — Conte-me — disse Quentyn Martell.
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:41 pm

    Jon 119



    Jon Snow releu a carta até as palavras começarem a desfocar-se e a confun-dir-se umas com as outras. Não posso assinar isto. Não assinarei isto.
    Quase queimou o pergaminho ali e naquele momento. Mas em vez disso, bebeu um trago de cerveja, o que restou da meia taça que sobrou do seu jantar solitário na noite anterior. Tenho de assinar. Eles escolheram-me para ser seu senhor comandante. A Muralha é minha e a Patrulha também. A Patrulha da Noite não participa.
    Foi um alívio quando o Edd Doloroso Tollett abriu a porta para lhe dizer que Goiva estava lá fora. Jon pôs a carta do Meistre Aemon de lado.
    — Eu a recebo. — Temia aquilo. — Vai à procura do Sam. Vou querer falar com ele a seguir.
    Ele deve estar lá em baixo com os livros. O meu velho septão costumava dizer que os livros são os mortos falando. O que eu digo é que os mortos deviam ficar sossegados. Ninguém quer ouvir o falar de um morto. — O Edd Doloroso saiu resmungando sobre vermes e aranhas.
    Quando Goiva entrou, caiu imediatamente de joelhos. Jon deu a volta à mesa e a pôs em pé.
    — Não precisa de se ajoelhar à minha frente. Isso é só para reis. —Embora fosse esposa e mãe, Goiva ainda lhe parecia meio criança, uma coisinha esguia enrolada num dos mantos velhos de Sam. O manto ficava-lhe tão grande que podia ter escondido várias outras meninas sob as suas dobras. — Os bebês estão bem? — perguntou-lhe.
    A menina selvagem sorriu timidamente de dentro do capuz.
    — Sim, senhor. Tinha medo de não ter leite suficiente para os dois, mas quanto mais mamam mais leite tenho. Eles são fortes.
    — Tenho uma coisa difícil para te dizer. — Quase disse pedir, mas segurou-se no último instante.
    — É o Mance? Val suplicou ao rei para poupá-lo. Disse que deixava que um ajoelhador qualquer se casasse com ela e nunca lhe cortaria a goela se Mance pudesse viver. Aquele Senhor dos Ossos, ele vai ser poupado. O Craster sempre jurou que o matava se mostrasse a cara na fortaleza. Mance nunca fez metade das coisas que ele fez.
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:42 pm

    Tudo o que Mance fez foi liderar um exército contra o reino que tinha jurado proteger.
    — Mance proferiu as nossas palavras, Goiva. Depois virou o manto, casou com Dalla e coroou-se Rei-para-lá-da-Muralha. A vida dele está agora nas mãos do rei. Não é sobre ele que temos de falar. É sobre o filho dele. O filho de Dalla.
    O bebê? — a voz dela tremeu. — Ele nunca quebrou nenhum juramento, senhor. Dorme, e chora e mama, só isso, nunca fez mal nenhum a ninguém. Não os deixei queimá-lo. Salve-o, por favor.
    — Só tu pode fazer isso, Goiva — Jon disse-lhe como.
    Outra mulher teria gritado, teria o amaldiçoado, o teria condenado aos sete infernos. Outra mulher podia ter-se atirado a ele numa raiva, podia tê-lo esbofeteado, pontapeado, esgatanhado os olhos com as unhas. Outra mulher podia ter-lhe atirado o desafio aos dentes.
    Goiva abanou a cabeça.
    — Não. Por favor, não. O corvo pegou na palavra. — Não — gritou.
    — Se recusar, o rapaz vai arder. Não amanhã, não no dia seguinte… mas em breve, quando Melisandre precisar despertar um dragão ou levantar um vento ou fazer outro feitiço que precise do sangue de um rei. Por essa altura, Mance será cinza e ossos, portanto, exigirá o filho dele para o fogo, e Stannis não o negará. Se não levar o rapaz para longe, ela vai queimá-lo.
    — Eu vou — disse Goiva. — Eu levo-o, levo os dois, o miúdo de Dalla e o meu. — Lágrimas correram-lhe pela cara abaixo. Se não fosse pelo modo como a vela cintilava, Jon podia não se ter percebido de que ela estava chorando. As mulheres de Craster devem ter ensinado as filhas a derramar as lágrimas para uma almofada. Talvez saíssem de casa para chorar, bem para longe dos punhos de Craster.
    Jon fechou os dedos da mão da espada.
    — Se levar os dois rapazes, os homens da rainha vão atrás de ti e lhe arrastam de volta. O rapaz arderá da mesma maneira… e você com ele. — Se a confortar, ela pode julgar que lágrimas me conseguem demover. Tem de com-preender que eu não irei ceder. — Vai levar um rapaz, e esse rapaz será o de Dalla.
    — Uma mãe não pode abandonar o filho, senão fica amaldiçoada para todo o sempre. Um filho não. Nós o salvamos, eu e o Sam. Por favor. Por favor, senhor. Salvamo-o do frio.
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:42 pm

    — Os homens dizem que morrer gelado é quase pacífico. Mas o fogo… vê a vela, Goiva? Ela olhou para a chama.
    — Sim.
    — Toca-a. Põe a mão por cima da chama.
    Os seus grandes olhos castanhos tornaram-se ainda maiores. Não se mexeu.
    — Faz o que te digo. — Mata o rapaz. — Já.
    Tremendo, a moça estendeu a mão e a deteve bem acima da chama tremeluzente da vela.
    — Para baixo. Deixa que ela te beije.
    Goiva baixou a mão. Um centímetro. Outro. Quando a chama lambeu-lhe a pele, puxou a mão de repente e desatou a soluçar.
    — O fogo é uma maneira cruel de morrer. Dalla morreu para dar vida a esta criança, mas você a alimentou, a acaricio. Você salvou o seu rapaz do gelo. Agora salva o dela do fogo.
    — Mas assim eles vão queimar o meu bebê. A mulher vermelha. Se ela não puder ter o da Dalla, vai queimar o meu.
    — O seu filho não tem nenhum sangue de rei. Melisandre não ganha nada em entregá-lo ao fogo. Stannis quer que o povo livre lute por ele, não irá queimar um inocente sem um bom motivo. O seu rapaz ficará em segurança. Eu arranjo-lhe uma ama-de-leite, e ele será criado aqui em Castelo Negro sob a minha proteção. Aprenderá a caçar e a montar a cavalo, a combater com espada, machado e arco. Até me assegurarei de que seja ensinado a ler e a escrever. — Sam gostaria daquilo. — E quando tiver idade suficiente, aprenderá a verdade sobre quem é. Será livre de ir à sua procura, se for isso que quiser.
    — Irá fazer dele um corvo. — Ela limpou as lágrimas com as costas de uma mão pálida e pequena. — Não deixo. Não deixo. Mata o rapaz, pensou Jon.
    — Vai deixar. Senão, te prometo que no dia em que queimarem o rapaz de Dalla o seu morre também.
    — Morre — guinchou o corvo do Velho Urso. — Morre, morre, morre. A menina ficou encolhida e enrolada sobre si, fitando a chama da vela, com lágrimas cintilando nos olhos.
    Por fim, Jon disse:
    — Tem a minha licença para saír. Não fale disto, mas trata de estar pronta para partir uma hora antes da primeira luz da aurora. Os meus homens irão te buscar.
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:42 pm

    Goiva pôs-se em pé. Partiu pálida e sem palavras, sem lhe deitar um olhar. Jon ouviu os seus passos a atravessar apressadamente o armeiro. Ia quase correndo.
    Quando foi fechar a porta, Jon viu que Fantasma estava estendido ao lado da bigorna, roendo o osso de um boi. O grande lobo gigante branco ergueu os olhos quando se aproximou.
    — Já era mais que tempo de estar de volta. — Regressou à sua cadeira, para voltar a reler a carta do Meistre Aemon.
    Samwell Tarly apareceu alguns momentos mais tarde agarrado a uma pilha de livros. Assim que ele entrou, o corvo de Mormont voou para ele exigindo milho. Sam fez o que pôde para lhe cumprir a vontade, oferecendo alguns grãos tirados do saco que estava ao lado da porta. O corvo fez o que pôde para trespassar- lhe a palma da mão com uma bicada. Sam soltou um uivo, a ave voou para longe, o milho espalhou-se pelo chão.
    Esse patife lhe rompeu a pele? — perguntou Jon. Sam descalçou cuidadosamente a luva.
    Rompeu. Estou sangrando.
    — Todos derramamos o nosso sangue pela Patrulha. Use luvas mais grossas. — Jon empurrou uma cadeira para ele com um pé. — Sente-se e dê uma olhadela nisto. — Entregou o pergaminho a Sam.
    — O que é?
    — Um escudo de papel. Sam leu-o lentamente.
    — Uma carta para o Rei Tommen?
    — Em Winterfell, Tommen lutou com o meu irmão Bran com espadas de madeira — disse Jon, recordando. — Estava tão almofadado que parecia um ganso estufado. Bran atirou-o ao chão. — Foi até à janela e abriu as janelas. O ar lá fora estava frio e tonificante, embora o céu mostrasse um cinzento monótono. — Mas Bran está morto, e o rechonchudo Tommen de cara rosada está sentado no Trono de Ferro, com uma coroa aninhada entre os seus caracóis dourados.
    Aquilo obteve um olhar estranho de Sam, o qual por um momento pareceu querer dizer qualquer coisa. Mas, em vez disso, engoliu em seco evoltou a virar-se para o pergaminho.
    — Não assinou a carta. Jon abanou a cabeça.
    — O Velho Urso suplicou ajuda ao Trono de Ferro uma centena de vezes. Enviaram-lhe Janos Slynt. Nenhuma carta fará com que os Lannister
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:43 pm

    gostem mais de nós. Em especial, depois de ouvirem dizer que temos ajudado Stannis.
    — Só a defender a Muralha, não na sua rebelião. É o que aqui diz.
    — A diferença pode escapar ao Lorde Tywin. — Jon voltou a agarrar na carta. — Porque haveria de nos ajudar agora? Nunca o fez antes.
    — Bem, ele não vai querer que se dissesse que Stannis correu em defesa do reino enquanto o Rei Tommen estava brincando com os seus brinquedos. Isso faria cair o escárnio sobre a Casa Lannister.
    — O que eu quero fazer cair sobre a Casa Lannister é a morte e a destruição, não o escárnio. — Jon leu um trecho da carta. — A Patrulha da Noite não participa nas guerras dos Sete Reinos. Os nossos juramentos são prestados ao reino, e o reino encontra-se agora em terrível perigo. Stannis Baratheon ajuda-nos contra os inimigos vindos do além-Muralha, embora nós não sejamos seus homens …
    Sam torceu-se na cadeira.
    — Bem, e não somos. Somos?
    — Eu dei a Stannis alimentos, abrigo e Fortenoite, além de autorização para instalar algum povo livre na Dádiva. É tudo.
    — O Lorde Tywin dirá que foi muito.
    — Stannis diz que não é o suficiente. Quanto mais der a um rei, mais ele vai querer. Estamos percorrendo uma ponte de gelo com um abismo de cada lado. Agradar a um rei já é bastante difícil. Agradar a dois é praticamente impossível.
    — Sim, mas… se os Lannister prevalecerem e o Lorde Tywin decidir que traímos o rei ao ajudarmos Stannis, isso poderá significar o fim da Patrulha da Noite. Ele tem os Tyrell atrás de si, com todo o poderio de Jardim de Cima. E derrotou o Lorde Stannis na Água Negra.
    — A Água Negra foi uma batalha. Robb venceu todas as suas batalhas e perdeu na mesma a cabeça. Se Stannis for capaz de levantar o Norte… Sam hesitou, depois disse:
    — Os Lannister têm os seus próprios nortenhos. O Lorde Bolton e o seu bastardo.
    — Stannis tem os Karstark. Se conseguir conquistar Porto Branco…
    — Se — sublinhou Sam. — Se não… senhor, até um escudo de papel é melhor do que nenhum.
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:43 pm

    — Suponho que sim. — Tanto ele como Aemon. Tivera alguma esperança de que Sam Tarly pudesse ver o assunto de forma diferente. É só tinta e pergaminho. Resignado, pegou na pena e assinou. — Traga-me a cera de selar. — Antes que eu mude de ideia. Sam apressou-se a obedecer. Jon fixou o selo do Senhor Comandante e entregou-lhe a carta. — Leva isto ao Meistre Aemon quando saír e diz-lhe para despachar uma ave para PortoReal.
    — Farei. — Sam pareceu aliviado. — Senhor, posso perguntar… vi Goiva saindo. Quase chorando.
    — Val enviou-a outra vez para suplicar por Mance — mentiu Jon, e conversaram durante algum tempo sobre Mance, Stannis e Melisandre de Ashai, até que o corvo comeu o último grão de milho e gritou:
    — Sangue!
    — Vou mandar Goiva embora — disse a Sam. — Ela e o rapaz. Teremos de arranjar outra ama-de-leite para o seu irmão de leite.
    — Leite de cabra pode servir, até que a encontre. É melhor para um bebê do que o de vaca. — Era claro que falar sobre seios deixava Sam desconfortável, e de súbito desatou a falar de história e de rapazes comandantes que tinham vivido e morrido centenas de anos antes. Jon interrompeu-o:
    — Diga-me algo de útil. Me fala do nosso inimigo.
    — Os Outros. — Sam lambeu os lábios. — São mencionados nos anais, embora não com tanta frequência como eu esperava. Isto é, nos anais que encontrei e vasculhei. Sei que há mais que ainda não encontrei. Alguns dos livros mais antigos estão caindo aos poucos. As páginas se desfazem quando tento virá-las. E os livros realmente velhos… ou se desfizeram por completo ou estão enterrados em algum local onde ainda não procurei, ou… bem, pode acontecer que esses livros não existam e nunca tenham existido. As histórias mais antigas que temos foram escritas depois dos ândalos chegarem a Westeros. Os Primeiros Homens só nos deixaram runas em pedras, de modo que tudo o que julgamos saber acerca da Era dos Heróis e da Era da Alvorada vem de relatos escritos por septões milhares de anos mais tarde. Há arquimeistres na Cidadela que questionam tudo isso. Essas velhas histórias estão cheias de reis que reinaram por centenas de anos, e cavaleiros que andaram por aí mil anos antes de haver cavaleiros. Conhece as histórias, Brandon, o Construtor, Symeon Olhos de Estrela, o Rei da Noite… dizemos que você é o nongentésimo nonagésimo oitavo Senhor Comandante da Patrulha da Noite, mas a lista mais antiga que encontrei
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    A dança dos dragões - Página 4 Empty Re: A dança dos dragões

    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:43 pm

    mostra seiscentos e setenta e quatro comandantes, o que sugere que foi escrita durante…
    — Há muito tempo — interrompeu Jon. — E os Outros?
    — Encontrei menções a vidro de dragão. Os filhos da floresta costumavam oferecer à Patrulha da Noite cem punhais de obsidiana todos os anos, durante a Era dos Heróis. A maior parte das histórias concorda que os Outros vêm quando está frio. Ou então fica frio quando eles vêm. Por vezes aparecem durante tempestades de neve e somem-se quando os céus limpam-se. Escondem-se da luz do sol e emergem à noite… ou então à noite cai quando emergem. Algumas histórias falam deles montados nos cadáveres de animais mortos. Ursos, lobos gigantes, mamutes, cavalos, não importa, desde que o animal esteja morto. Aquele que matou o Paul Pequeno estava montado num cavalo morto, portanto, essa parte é claramente verdade. Al-guns relatos falam também de aranhas gigantes de gelo. Não sei o que elas são. Homens que caem em batalha contra os Outros têm de ser queimados, caso contrário os mortos voltarão a erguer-se como seus servos.
    — Já sabíamos tudo isso. A questão é: como os combatemos?
    — A armadura dos Outros é à prova da maior parte das lâminas co-muns, se é possível crer nas histórias, e as espadas que eles usam são tão frias que estilhaçam o aço. Mas o fogo desencoraja-os, e são vulneráveis à obsidiana. Encontrei um relato da Longa Noite que falava do último herói a matar Outros com uma lâmina de aço de dragão. Supostamente não conseguiam resistir-lhe.
    — Aço de dragão? — o termo era novo para Jon. — Aço valiriano?
    — Foi também essa a minha primeira ideia.
    — Então se eu conseguir convencer os senhores dos Sete Reinos a darem-nos as suas lâminas valirianas, tudo será salvo? Isso não há de ser difícil. — Não será mais difícil do que pedir-lhes para entregarem o dinheiro e os castelos. Soltou uma gargalhada amarga. — Descobriu quem os Outros são, de onde vêm, o que querem?
    — Ainda não, senhor, mas pode ser que tenha simplesmente andado lendo os livros errados. Há centenas que ainda não folheei. Dê-me mais tempo, e encontrarei tudo o que houver para encontrar.
    — Não há mais tempo. Você tem de juntar as suas coisas, Sam. Vai com Goiva.
    — Vou? — Sam olhou-o de boca aberta, como se não compreendesse o significado da palavra. — Eu vou? Para Atalaialeste, senhor? Ou… para onde…
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    Mensagem  Admin Qui Jul 12, 2012 3:44 pm

    — Vilavelha.
    — Vilavelha? — repetiu Sam, num guincho agudo.
    — Aemon também.
    — Aemon? O Meistre Aemon? Mas… ele tem cento e dois anos de idade, senhor, ele não pode… está mandando ele e a mim? Quem tratará dos corvos? Se adoecerem ou se ferirem, quem…
    — Clydas. Ele está com Aemon há anos.
    — Clydas é só um intendente, e está perdendo a visão. Precisa de um meistre. O Meistre Aemon está tão fraco que uma viagem marítima… isso pode… ele é velho, e…
    — A sua vida estará em risco. Estou consciente disso, Sam, mas o risco aqui é maior. Stannis sabe quem Aemon é. Se a mulher vermelha precisar de sangue real para os seus feitiços…
    — Oh. — A cor pareceu escoar-se das bochechas gordas de Sam.
    — Daeron juntará a você em Atalaialeste. A minha esperança é que as suas canções nos conquistem alguns homens no sul. O Melro os desembarcará em Braavos. A partir daí, arranjará você a passagem para Vilavelha. Se ainda quiser assumir o bebê de Goiva como seu bastardo, manda-a e à criança para Monte Chifre. Se não, Aemon encontrará para ela um lugar de criada na Cidadela.
    — Meu b-b-bastardo. Sim, eu… a minha mãe e irmãs ajudarão Goiva a criar a criança. Daeron podia levá-la para Vilavelha tão bem como eu. Eu sou… tenho andado treinando o tiro com arco todas as tardes com Ulmer, conforme ordenou… bem, menos quando estou nas caves, mas disse-me para descobrir coisas sobre os Outros. O arco me faz doer os ombros e me faz crescer bolhas nos dedos. — Mostrou a mão a Jon. — Mas continuo treinando. Agora já são mais as vezes que acerto no alvo do que as que não acerto, mas continuo a ser o pior arqueiro que alguma vez curvou um arco. Mas gosto das histórias de Ulmer. Alguém tem de escrevê-las e de colocá-las num livro.
    — Faça você isso. Têm pergaminhos e tinta na Cidadela, e também têm arcos. Conto que continue com o seu treino. Sam, a Patrulha da Noite tem centenas de homens capazes de disparar uma seta, mas só uma mão cheia sabe ler ou escrever. Preciso que se torne no meu novo meistre.
    — Senhor, eu… o meu trabalho é aqui, os livros…
    —… ainda aqui estarão quando voltar para nós. Sam levou uma mão à garganta.

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