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    A dança dos dragões

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    A dança dos dragões - Página 8 Empty Re: A dança dos dragões

    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:43 pm

    aleijado do que nesse momento, observando impotente enquanto Meera Reed e Mãos-Frias esquartejavam o corajoso animal que os transportara até tão longe. Disse a si próprio que não comeria, que passar fome seria melhor do que banquetear-se com um amigo, mas, por fim, comeu duas vezes, uma na sua própria pele, e outra na de Verão. Embora o alce estivesse magro e esfomeado, os bifes que o patrulheiro cortou do seu corpo tinham os sustentado durante sete dias, até acabarem com o último aninhados junto a uma fogueira nas ruínas de um velho cume fortificado. — Ele precisa comer — concordou Meera, alisando a testa do irmão. — Todos nós precisamos, mas aqui não há comida. Vai. Bran reprimiu uma lágrima, pestanejando, e sentiu a bochecha congelando. Mãos-Frias pegou num braço de Hodor. — A luz está a sumindo. Se eles não estão aqui ainda, estarão em bre¬ve. Anda. Sem palavras, para variar, Hodor sacudiu com palmadas a neve das pernas, e começou a subir através dos montes de neve acumulada pelo vento com Bran às costas. Mãos-Frias caminhava ao lado deles, com a espada numa mão negra. Verão vinha atrás. Em alguns locais, a neve era mais alta do que ele, e o grande lobo gigante tinha que parar e se sacudir antes de mergulhar através da fina crosta. Enquanto subiam, Bran virou-se desajeitadamente no cesto para ver Meera enfiar um braço sob o irmão para ajuda-lo a pôr-se em pé. Ele é pesado demais para ela. Está meio morta de fome, não é tão forte como era antes. A menina pegou a lança para rãs com a outra mão, espetando os dentes na neve a fim de obter um pouco mais de apoio. Meera tinha começado a subir esforçadamente a colina, trazendo o irmão mais novo entre arrastado e carregado, quando Hodor passou entre duas árvores e Bran os perdeu de vista. A colina tornou-se mais íngreme. Montes de neve rangiam sob as botas de Hodor. Uma vez, uma pedra mexeu-se sob o seu pé e ele deslizou para trás, e quase caiu às cambalhotas pela colina abaixo. O patrulheiro o pegou pelo braço e o salvou. — Hodor — disse Hodor. Cada rajada de vento enchia o ar com um fino pó branco que brilhava como vidro à última luz do dia. Corvos esvoaçavam à volta deles. Um voou em frente e desapareceu dentro da gruta. Só faltam setenta metros, pensou Bran, não é nada longe. Verão parou de súbito na base de uma íngreme extensão de alva neve intocada. O lobo gigante virou a cabeça, farejou o ar, depois rosnou. Com a pelagem eriçada, começou a recuar. — Hodor, para — disse Bran. — Hodor. Espera. — Havia algo de errado. Verão cheirava-o, e ele também. Algo de mal. Algo próximo. — Hodor, não, volta para trás. Mãos-Frias continuava a subir, e Hodor queria acompanhá-lo. — Hodor, hodor, hodor — resmungou sonoramente, a fim de subjugar as queixas de Bran. A respiração tornou-se cansada. Uma névoa pálida enchia o ar.
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:43 pm

    Subiu um passo e depois outro. Ali, a neve chegava quase à cintura, e a encosta era muito íngreme. Hodor estava se inclinando para frente, agarrando-se a pedras e árvores com as mãos enquanto subia. Outro passo. Outro. A neve que Hodor perturbava deslizava pela colina abaixo, dando início a uma pequena avalanche abaixo deles. Cinquenta metros. Bran esticou-se para o lado para ver melhor a gruta. Então viu outra coisa. — Uma fogueira! — Na pequena fenda entre os represeiros via-se um brilho tremeluzente, uma luz avermelhada que chamava entre a escuridão que se aprofundava. — Olhe, alguém... Hodor gritou. Torceu-se, tropeçou, caiu. Bran sentiu o mundo deslizar para o lado quando o grande moço de estrebaria deu uma violenta volta sobre si próprio. Um forte impacto deixou-o sem fôlego. Sentiu a boca cheia de sangue e Hodor agitou os braços e rolou, esmagando o rapaz aleijado debaixo de si. Qualquer coisa lhe prendeu a perna. Durante meio segundo, Bran pensou que talvez uma raiz tivesse se emaranhado em volta do seu tornozelo... até que a raiz se mexeu. Uma mão, viu ele, na altura em que o resto da criatura irrompeu de debaixo da neve. Hodor pontapeou-a, atirando um calcanhar coberto de neve em cheio contra a cara da coisa, mas o morto nem sequer pareceu senti-lo. Depois, os dois engalfinharam, esmurrando e arranhando, deslizando pela colina abaixo. Neve encheu a boca e o nariz de Bran quando os outros rolaram, e meio segundo depois viu-se outra vez rolando para cima. Qualquer coisa lhe baseu na cabeça, uma pedra, um bocado de gelo ou o punho de um morto, não soube dizer, e deu por si fora do cesto, estatelado na vertente da colina, cuspindo neve, com a mão enluvada cheia de cabelo que arrancou da cabeça de Hodor. A toda a sua volta, criaturas estavam erguendo-se de debaixo da neve. Duas, três, quatro. Bran perdeu a conta. Saltavam violentamente por entre súbitas nuvens de neve. Algumas usavam mantos negros, algumas peles esfarrapadas, algumas nada. Todas tinham pele pálida e mãos pretas. Os seus olhos brilhavam como estrelas azuis claras. Três delas caíram sobre o patrulheiro. Bran viu Mãos-Frias golpeando uma na cara. A coisa continuou avançando como se nada fosse, empurrando-o para os braços de outra. Outras duas estavam dirigindo-se para Hodor, avançando desajeitadamente pela ladeira abaixo. Com uma sensação doentia de terror impotente, Bran percebeu que Meera ia subir para o meio daquilo. Baseu na neve e gritou um aviso. Algo o agarrou. Foi nessa altura que o grito se transformou num berro. Bran encheu um punho de neve e atirou-o, mas a criatura nem sequer pestanejou. Uma mão preta tateou a sua cara, outra a barriga. Os dedos da coisa pareciam ferro. Ele vai arrancar minhas tripas.
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:44 pm

    Mas, de súbito, Verão interpôs-se entre eles. Bran viu pele rasgando como tecido barato, ouviu o estilhaçar de ossos. Viu uma mão e um pulso soltando, dedos pálidos contorcendo, a manga de tecido grosseiro desbotado de negro. Negro, pensou, ele está vestido de negro, era um membro da Patrulha. Verão jogou o braço fora, torceu-se e mergulhou os dentes no pescoço do morto, sob o queixo. Quando o grande lobo cinzento se soltou, arrancou a maior parte da garganta da criatura numa explosão de carne pálida e podre. A mão cortada continuava se mexendo. Bran rolou para longe dela. Deitado de barriga, arranhando a neve, viu as árvores lá em cima, pálidas e cobertas de neve, com o brilho cor de laranja entre elas. Quarenta metros. Se conseguisse a se arrastar quarenta metros, eles não conseguiriam apanhá-lo. A umidade infiltrou em suas luvas enquanto ele se agarrava a raízes e pedras, rastejando na direção da luz. Um pouco mais, só um pouco mais. Depois pode descansar ao lado do fogo. Por essa altura a última luz já desaparecia entre as árvores. A noite caiu. Mãos-Frias golpeava e dilacerava o círculo de mortos que o rodeava. Verão rasgava aquele que matou, com a cara da criatura entre os dentes. Ninguém estava prestando nenhuma atenção a Bran. Rastejou para um pouco mais alto, arrastando as pernas inúteis atrás de si. Se conseguir chegar áquela gruta... — Hoooodor — soou um lamento, vindo de algum lugar mais abaixo. E, de súbito, ele deixou de ser Bran, o rapaz quebrado que rastejava pela neve, passando a ser Hodor, a meio da vertente, com a criatura tentando arranhar seus olhos. Rugindo, pôs-se hesitantemente em pé, atirando com violência a coisa para o lado. Ela caiu sobre um joelho, recomeçou a se levantar. Bran tirou a espada longa de Hodor do seu cinto. Lá muito no fundo, ainda ouvia o pobre Hodor choramingando, mas por fora era dois metros e dez de fúria com ferro antigo na mão. Ergueu a espada e a fez cair sobre o morto, grunhindo quando a lâmina rasgou lã úmida, cota de malha enferrujada e couro apodrecido, penetrando profundamente nos ossos e na carne que havia por baixo. — HODOR! — berrou, e deu outro golpe. Desta vez cortou a cabeça da criatura pelo pescoço, e por meio momento se alvoroçou... até que um par de mãos mortas tentou às apalpadas cegas agarrar a sua garganta. Bran recuou, sangrando, e Meera Reed apareceu lá, espetando profundamente a lança para rãs nas costas da criatura. — Hodor — voltou a rugir Bran, fazendo sinal para ela subir a colina. — Hodor; hodor. — Jojen estava contorcendo-se debilmente onde ela o colocou. Bran foi ao seu encontro, largou a espada, recolheu o rapaz no braço de Hodor, e voltou a pôr-se em pé. — HODOR! — berrou. Meera liderou o avanço pela colina acima, atirando estocadas às criaturas quando se aproximavam. As coisas não podiam ser feridas, mas eram lentas e desajeitadas. — Hodor — dizia Hodor a cada passo. — Hodor, hodor. — Perguntou a si próprio o que pensaria Meera se lhe dissesse de repente que a amava.
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:44 pm

    Acima deles, silhuetas em chamas estavam dançando na neve. As criaturas, compreendeu Bran. Alguém incendiou as criaturas. Verão rosnava e atirava dentadas enquanto dançava em volta da mais próxima das criaturas, uma grande ruína de um homem envolta em chamas rodopiantes. Ele não devia se aproximar tanto, que está fazendo? Depois viu-se a si próprio, estatelado na neve de cara para baixo. Verão estava tentando afastar a coisa de si. O que acontecerá se a coisa me matar? perguntou o rapaz a si próprio. Serei Hodor para sempre? Voltarei para a pele de Verão? Ou ficarei simplesmente morto? O mundo moveu-se rapidamente à sua volta. Árvores brancas, céu negro, chamas vermelhas, estava tudo rodopiando, alterando, girando. Sentiu-se tropeçar. Conseguia ouvir Hodor gritando: "Hodor hodor hodor hodor. Hodor hodor hodor hodor. Hodor hodor hodor hodor hodor." Uma nuvem de corvos estava jorrando da gruta, e viu uma menininha com um archote na mão correndo de um lado para o outro. Por um momento, Bran pensou que fosse a irmã, Arya... loucamente, pois sabia que a irmã estava a mil léguas de distância, ou morta. E, no entanto, ali estava ela, rodopiando, uma coisinha magricela, esfarrapada, selvagem, com o cabelo todo emaranhado. Lágrimas encheram os olhos de Hodor e congelaram lá. Tudo se virou ao contrário e de pernas para o ar, e Bran deu por si de volta à própria pele, meio enterrado na neve. A criatura incendiada erguia-se acima dele, delineado, alto, contra as árvores e os sudários nevados que as tapavam. Bran viu que era uma das criaturas nuas um instante antes de a árvore mais próxima largar a neve que a cobria e deixá-la cair, toda, em cima da sua cabeça. Quando voltou a si, estava deitado numa cama de agulhas de pinheiro sob um escuro teto de pedra. A gruta. Estou na gruta. A boca ainda sangrava onde mordeu a língua, mas uma fogueira estava ardendo à sua direita, com o calor cobrindo a sua cara, e nunca sentiu nada tão bom. Verão estava lá, farejando à sua volta, e Hodor também, completamente ensopado. Meera embalava a cabeça de Jojen no colo. E a coisa Arya estava em pé por cima deles, agarrada ao archote. — A neve — disse Bran. — Caiu em cima de mim. Me enterrou. — Te escondeu. Eu te puxei para fora. — Meera indicou a menina com um aceno. — Mas foi ela que nos salvou. O archote... o fogo mata-os. — O fogo queima-os. O fogo está sempre com fome. Aquela não era a voz de Arya, nem de nenhuma criança. Era uma voz de mulher, aguda e doce, dotada de uma estranha música que não se assemelhava a nenhuma que Bran tivesse ouvido, e uma tristeza que achou que talvez lhe quebrasse o coração. Bran semicerrou os olhos para vê-la melhor. Era uma menina, mas menor do que Arya, com a pele sarapintada como a de uma corça sob um manto de folhas. Os seus olhos eram estranhos; grandes e líquidos, dourados e verdes, fendidos como os olhos de um gato. Ninguém tem olhos
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:44 pm

    como aqueles. O seu cabelo era um emaranhado de castanho, vermelho e dourado, cores de outono, com trepadeiras, gravetos e flores murchas a ele atadas. — Quem é você? —Meera Reed perguntou. Bran sabia. — É uma criança. Uma filha da floresta. — Estremeceu, tanto de espanto como de frio. Tinham caído numa das histórias da Velha Nan. — Os Primeiros Homens nos deram esse nome — disse a mulherzinha. — Os gigantes chamavam-nos woh dak naggran, o povo esquilo, porque éramos pequenos e rápidos e gostávamos de árvores, mas não somos nem esquilos nem crianças. O nosso nome no idioma verdadeiro significa aqueles que cantam a canção da terra. Antes de o seu idioma antigo começar a ser falado, já cantávamos as nossas canções há dez mil anos. Meera disse: — Agora fala o idioma comum. — Por ele. O rapaz Bran. Nasci no tempo do dragão, e percorri o mundo dos homens durante duzentos anos, para observar, escutar e aprender. Podia ainda estar percorrendo, mas as minhas pernas estavam cansadas e o meu coração cansado, portanto virei os pés para casa. — Duzentos anos?— disse Meera. A criança sorriu. — Homens, são eles as crianças. — Tem nome? — perguntou Bran. — Quando preciso de um. — Indicou com o archote a fenda negra na parede do fundo da gruta. — O nosso caminho é para baixo. Tem que vir comigo agora. Bran voltou a estremecer. — O patrulheiro... — Ele não pode vir. — Vão matá-lo. — Não. Já o mataram há muito tempo. Agora venha. Lá no fundo faz mais calor, e lá ninguém os fará mal. Ele está à nossa espera. — O corvo de três olhos? — perguntou Meera. — O vidente verde. — E com aquilo foi embora, e não teve alternativa a não ser segui-la. Meera ajudou Bran a voltar a subir as costas de Hodor, apesar de o cesto estar meio esmagado e úmido de neve derretida. Depois pôs um braço em volta do irmão e voltou a colocá-lo em pé. Os olhos dele se abriram. — O que é? — disse. — Meera? Onde estamos? — quando viu a fogueira sorriu. — Tive o mais estranho dos sonhos. O caminho era estreito e retorcido, e tão baixo que Hodor depressa teve de se abaixar. Bran encolheu-se o melhor que podia, mas mesmo assim depressa o cocuruto da sua cabeça começou a raspar e a bater no teto. Terra solta desfazia-se a cada toque e caía para os olhos e cabelo, e uma vez baseu com a testa numa
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:44 pm

    grossa raiz branca que crescia da parede do túnel, com gavinhas penduradas e teias de aranha entre as suas ramificações. A filha da floresta seguia à frente com o archote na mão, fazendo sussurrar atrás de si o seu manto de folhas, mas a passagem tinha tantas curvas que Bran depressa a perdeu de vista. Depois, a única luz passou a ser a que se refletia nas paredes da passagem. Depois de terem descido um pouco, a gruta se dividiu, mas um ramo estava escuro como breu, e até Hodor compreendeu que devia seguir o archote em movimento pelo outro lado. O modo como as sombras se moviam fazia parecer que as paredes também estavam se mexendo. Bran viu grandes serpentes brancas deslizando para dentro e para fora da terra que o rodeava, e o seu coração saltou de medo. Perguntou a si próprio se teriam tropeçado num ninho de cobras de leite ou de gigantescos vermes sepulcrais, moles, brancos e úmidos. Vermes sepulcrais têm dentes. Hodor também os viu. — Hodor — choramingou, relutante em continuar. Mas quando a filha da floresta parou para permitir que a vissem, a luz do archote estabilizou e Bran percebeu que as cobras eram só raízes brancas como aquela em que baseu com a cabeça. — São raízes de represeiro — disse. — Lembra da árvore coração no bosque sagrado, Hodor? A árvore branca com as folhas vermelhas? Uma árvore não pode te fazer mal. — Hodor. — Hodor mergulhou em frente, apressando-se a seguir a filha da floresta e o seu archote, penetrando mais profundamente na terra. Passaram por outra ramificação, e por outra, e depois chegaram a uma caverna cheia de ecos, tão grande como o enorme salão de Winterfell, com dentes de pedra pendurados do teto e mais se projetando para cima desde o chão. A criança da floresta teceu um caminho entre eles. De tempos em tempos, parava e acenava impacientemente com o archote. Por aqui, parecia dizer, por aqui, por aqui, mais depressa. Houve mais passagens laterais depois disso, mais salas, e Bran ouviu água pingando em algum lugar à sua direita. Quando olhou nessa direção viu olhos a olhá-los de volta, olhos fendidos que resplandeciam brilhantemente, refletindo de volta a luz do archote. Mais filhos da floresta, disse a si próprio, a menina não é a única, mas a história da Velha Nan sobre os filhos de Gendel também lhe veio à mente. Havia raízes por todo o lado, se retorcendo através da terra e da pedra, fechando algumas passagens e sustentando os tetos de outras. Toda a cor desapareceu, compreendeu Bran de súbito. O mundo era solo negro e madeira branca. A árvore coração em Winterfell tinha raízes tão grossas como a perna de um gigante, mas aquelas eram ainda mais grossas. E Bran nunca vira tantas. Deve haver um bosque inteiro de represeiros crescendo por cima de nós. A luz voltou a minguar. Apesar de tão pequena, a criança-que-não-era-uma-criança movia-se depressa quando queria. Quando Hodor a seguiu batendo
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:44 pm

    os pés, algo fez um ruído de esmagamento debaixo deles. A sua parada foi tão súbita que Meera e Jojen quase colidiram com as suas costas. — Ossos — disse Bran. — São ossos. — O chão da passagem estava cheio com os ossos de aves e animais. Mas havia também outros, ossos grandes que deviam vir de gigantes, e ossos pequenos que podiam ter pertencido a filhos da floresta. De ambos os lados, em nichos esculpidos na rocha, crânios os olhavam. Bran viu um crânio de urso e um crânio de lobo, meia dúzia de crânios humanos e quase outros tantos de gigantes. Todos os outros eram pequenos, com formas estranhas. Filhos da floresta. As raízes tinham crescido sobre, em volta e através deles, de todos eles. Alguns tinham corvos empoleirados em cima, vendo-os passar com brilhan¬tes olhos pretos. A última parte da sua escura viagem foi a mais íngreme. Hodor fez a última descida de costas, ressaltando e deslizando para baixo num estridor de ossos partidos, terra solta e pedrinhas. A filha da floresta estava à espera deles, em pé no início de uma ponte natural sobre um abismo escancarado. Lá em baixo, nas trevas, Bran ouviu o som de água corrente. Um rio subterrâneo. — Temos que atravessar? — perguntou Bran quando os Reed apareceram deslizando atrás dele. A ideia o assustava. Se Hodor escorregasse naquela ponte estreita, cairiam e cairiam... — Não, rapaz — disse a criança. — Atrás de você. — Levantou mais o archote, e a luz pareceu deslocar-se e mudar. Num momento as chamas arderam em tons de laranja e amarelo, enchendo a caverna com um brilho avermelhado; depois todas as cores sumiram, deixando apenas preto e branco. Atrás deles, Meera soltou um arquejo. Hodor virou-se. À frente deles estava sentado um lorde pálido adornado de ébano, sonhando, num emaranhado ninho de raízes, um trono entretecido de represeiro que abraçava os seus membros mirrados como uma mãe abraça um filho. O seu corpo era tão esquelético e a roupa estava tão apodrecida que a princípio Bran o tomou por outro cadáver, um morto escorado há tanto tempo que as raízes tinham crescido por cima dele, por baixo dele e através dele. A pele que o lorde cadáver mostrava era branca, exceto uma mancha sangrenta que lhe subia pelo pescoço até a bochecha. O cabelo branco era fino e estreito como pelos de raízes e suficientemente comprido para roçar no chão de terra. Raízes enrolavam-se em volta das suas pernas como serpentes de madeira. Uma enterrava nas calças e penetrava na carne ressecada da sua coxa, para voltar a emergir do ombro. Um rebento de folhas vermelhas escuras brotava do crânio, e cogumelos cinzentos pintavam a sua testa. Restava um pouco de pele, esticada sobre a sua cara, apertada e dura como couro branco, mas mesmo essa estava rasgando e aqui e ali aparecia o osso castanho e amarelo que tinha por baixo. — Você é o corvo de três olhos? — ouviu Bran perguntar. Um corvo de três olhos devia ter três olhos. Ele só tem um, e esse é vermelho. Bran conseguia sentir o olho o fitando, brilhando como uma lagoa de sangue à luz dos archotes.
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:45 pm

    Onde o seu outro olho devia ter estado, uma fina raiz branca crescia de uma órbita vazia, pela cara abaixo e para dentro do seu pescoço. — Um... corvo? — a voz do lorde pálido era seca. Os seus lábios moviam-se lentamente, como se tivessem se esquecido de como formar palavras. — Em tempos, sim. Negro de vestuário e negro de sangue. — A roupa que ele usava estava apodrecida e desbotada, manchada de bolor e comida pelos vermes, mas em tempos tinha sido negra. — Eu fui muitas coisas, Bran. Agora sou como me vê e agora compreenderá por que motivo não pude ir até você... Exceto em sonhos. Observo-te há muito tempo, te observei com mil e um olhos. Vi o seu nascimento e o do senhor seu pai antes de você. Vi o seu primeiro passo, ouvi a sua primeira palavra, fiz parte do seu primeiro sonho. Estava te observando quando caiu. E agora veio finalmente ao meu encontro, Brandon Stark, embora a hora seja tardia. — Estou aqui — disse Bran — só que estou quebrado. Você vai... você vai me consertar? Consertar as minhas pernas, quero eu dizer. — Não — disse o pálido lorde. — Isso está para lá dos meus poderes. Os olhos de Bran se encheram de lágrimas. Percorremos um caminho tão longo. A sala ecoou com o som do rio negro.
    — Nunca mais voltará a andar, Bran — prometeram os pálidos lábios — mas irá voar.
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:45 pm

    Tyrion 211


    Durante muito tempo não se mexeu, ficou imóvel em cima da pilha de sacos velhos que lhe servia de cama, à escuta do vento nas cordas, do bater do rio contra o casco. Uma Lua cheia flutuava sobre o mastro. Está me seguindo rio abaixo, me observando como se fosse um grande olho. Apesar do calor das peles quentes que o cobriam, um arrepio percorreu o homenzinho. Preciso de uma taça de vinho. De uma dúzia de taças de vinho. Mas a Lua pestanejaria antes daquele filho da puta do Griffome deixar matar a sede. Em vez de vinho, bebia água, e era condenado a noites sem dormir e a dias de suores e tremores. O anão sentou-se, apoiando a cabeça nas mãos. Terei sonhado? Todas as memórias do sonho lhe tinham fugido. As noites nunca tinham sido bondosas para Tyrion Lannister. Dormia mal mesmo em suaves colchões de penas. Na Tímida Donzela fazia a cama no topo do teto da cabine com um rolo de corda de cânhamo como almofada. Gostava mais desse lugar do que do pequeno porão do barco. O ar era mais fresco, e os sons do rio eram mais suaves do que o ressonar de Pato. Havia um preço a pagar por essas alegrias, porém; o convés era duro, e ele acordava duro e dolorido, com cãibras e dores nas pernas.
    Agora estavam latejando, com as barrigas duras como madeira. Mas as afagou com os dedos, tentando afastar a dor com uma esfregadela, mas quando se pôs em pé a dor ainda foi suficiente para levá-lo a fazer uma careta. Preciso tomar banho. A sua roupa de rapaz fedia, e ele também. Os outros se banhavam no rio, mas até naquele momento não se juntava a eles. Algumas das tartarugas que vira nos baixios pareciam suficientemente grandes para fazê-lo em dois com uma dentada. Pato os chamava de "quebra-ossos". Além do mais, não queria que Lemore o visse nu.
    Uma escada de madeira descia do teto da cabine. Tyrion calçou as botas e desceu para a cobertura da popa, onde Griff estava sentado enrolado num manto de pele de lobo ao lado de um braseiro de ferro. O mercenário guardava para si a vigia da noite, levantando-se quando o resto do bando ia em busca das camas e recolhendo-se quando o Sol nascia.
    Tyrion acocorou-se na frente dele e aqueceu as mãos por cima das brasas. Para lá da água cantavam rouxinóis.
    — Depressa será dia — disse a Griff.
    — Não suficientemente depressa. Precisamos nos colocar a caminho. — Se dependesse de Griff, a Tímida Donzela continuaria descendo o rio tanto de dia como de noite, mas Tandry e Ysilla recusavam-se a arriscar o seu barco de varejo no escuro. O Roine Superior estava cheio de obstáculos submarinos e troncos flutuantes, qualquer um dos quais seria capaz de rasgar o casco da Tímida Donzela. Griff não queria saber disso. O que queria era Volantis.
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:45 pm

    Os olhos do mercenário estavam sempre mexendo, investigando a noite em busca de... Quê? Piratas? Homens de pedra? Caçadores de escravos? O rio tinha perigos, o anão bem o sabia, mas o próprio Griff parecia a Tyrion mais perigoso do que qualquer um desses perigos. Ele o fazia se lembrar de Bronn, embora Bronn tivesse o humor negro de um mercenário e Griff não possuísse humor nenhum.
    — Estou capaz de matar por uma taça de vinho — resmungou Tyrion. Griff não respondeu. Vai morrer antes de beber, pareciam dizer os seus olhos claros. Tyrion embebedou-se até cair na primeira noite que passou na Tímida Donzela. No dia seguinte, acordou com dragões lutando no seu crânio. Griff deu-lhe uma olhadela a vomitar da borda do barco de varejo e disse:
    — Acabou a bebida para você. — O vinho me ajuda a dormir — protestara Tyrion. O vinho afoga os meus sonhos, poderia ter dito.
    — Então fica acordado — replicou Griff, implacável.
    Para leste, a primeira pálida luz do dia espalhava-se pelo céu, sobre o rio. As águas do Roine passaram lentamente de negras a azuis, para combinar com o cabelo e a barba do mercenário. Griff pôs-se em pé.
    — Os outros devem acordar em breve. O convés é seu. — À medida que os rouxinóis foram silenciando, as aves do rio foram nos substituindo na canção. Garças chapinhavam entre os juncos e deixavam os seus rastos nos bancos de areia. As nuvens no céu estavam afogueadas; róseas e purpúreas, castanhas e douradas, cor de pérola e açafrão. Uma parecia um dragão. Uma vez que um homem veja um dragão em voof que fique em casa e cuide satisfeito do jardim, escrevera alguém um dia, pois este vasto mundo não possui maior maravilha. Tyrion coçou a cicatriz e tentou se recordar do nome do autor. Os dragões tinham andado muito nos seus pensamentos nos últimos tempos.
    — Bom dia, Hugor. — A septã Lemore apareceu com as suas vestes brancas, cingidas à cintura por um cinto tecido de sete cores. O cabelo fluía solto em volta dos ombros. — Dormiu bem? — Aos arrancos, minha boa senhora. Voltei a sonhar com você. — Um sonho acordado. Não conseguia dormir, portanto, enfiou uma mão entre as pernas e imaginou a septã em cima dele, de seios balançando.
    — Um sonho perverso, sem dúvida. É um homem perverso. Quer rezar comigo e pedir perdão pelos seus pecados?
    Só se rezarmos à moda das Ilhas do Verão.
    — Não, mas dê a Donzela um longo e doce beijo da minha parte.
    Rindo, a septã se dirigiu à proa do barco. Era seu costume se banhar no rio todas as manhãs.
    — É evidente que este barco não foi batizado em sua honra — gritou Tyrion enquanto ela se despia.
    — A Mãe e o Pai nos fizeram à sua imagem, Hugor. Devíamos nos alegrar com os nossos corpos, pois são a obra de deuses.
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    A dança dos dragões - Página 8 Empty Re: A dança dos dragões

    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:46 pm

    Os deuses deviam estar bêbados quando chegou a minha vez. O anão observou enquanto Lemore deslizava para dentro da água. A cena deixava-o sempre duro. Havia algo de maravilhosamente perverso na ideia de arrancar da septã aquelas castas vestes brancas e de lhe abrir as pernas. Inocência roubada, pensou... Embora Lemore não fosse nem por sombras tão inocente como parecia. Tinha estrias na barriga que só podiam vir de um parto.
    Yandry e Ysilla tinham se levantado com o sol e estavam tratando dos seus assuntos. Yandry deitava olhares à Septã Lemore enquanto verificava as cordas. A sua pequena e escura mulher, Ysilla, não reparava. Alimentou o braseiro da pavimento de popa com algumas lascas de madeira, mexeu as brasas com uma lâmina enegrecida, e começou a trabalhar a massa para os biscoitos matinais.
    Quando Lemore voltou a subir para o convés, Tyrion saboreou a visão da água escorrendo entre os seios, da sua pele suave brilhando dourada à luz da manhã. Tinha mais de quarenta anos, era mais atraente do que bonita, mas continuava a ser agradável à vista. Depois de estar bêbado, a melhor coisa é a luxúria, decidiu. Fazia-o se sentir ainda vivo.
    — Viu a tartaruga, Hugor? — perguntou a septã, torcendo o cabelo para secá-lo. — A grande corcunda?
    O início da manhã era a melhor hora para ver tartarugas. Durante o dia nadavam para o fundo, ou se escondiam em covas ao longo das margens, mas logo após o nascer do Sol vinham à superfície. Algumas gostavam de nadar junto do barco. Tyrion vira uma dúzia de espécies diferentes; tartarugas grandes e pequenas, chatas e de ouvido vermelho, de carapaça mole e quebra-ossos, tartarugas castanhas, tartarugas verdes, tartarugas pretas, tartarugas de garras e tartarugas de chifres, tartarugas cujas carapaças corcundas e ornamentadas estavam cobertas de volutas de ouro, jade e creme. Algumas eram tão grandes que podiam ter sustentado um homem sobre o dorso. Yandry jurava que os príncipes roinares costumavam montá-las no rio. Ele e a mulher tinham nascido no Sangueverde, um par de órfãos dorneses regressados a casa, à Mãe Roine. — Não vi a corcunda. — Estava observando a mulher nua.
    — Me sinto triste por você. — Lemore enfiou a veste pela cabeça. — Sei que só se levanta tão cedo na esperança de ver tartarugas.
    — Também gosto de ver o Sol nascer. — Era como ver uma donzela sair nua do banho. Algumas podiam ser mais bonitas do que outras, mas estavam todas cheias de promessas. — As tartarugas têm os seus encantos, admito. Nada me delicia tanto como ver um belo par de bem torneadas... carapaças.
    A Septã Lemore soltou uma gargalhada. Como todos os outros a bordo da Tímida Donzela, tinha os seus segredos. Que lhe fizessem bom proveito. Não quero conhecê-la, só quero fodê-la. E ela também sabia. Quando pendurou o cristal de septã ao pescoço, aninhando-o na cova entre os seios, provocou-o com um sorriso.
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:46 pm

    Yandry levantou âncora, fez deslizar uma das grandes varas para fora do teto da cabine e as empurrou para o rio. Duas das garças ergueram as cabeças para observar quando a Tímida Donzela se afastou da margem e penetrou na corrente. Lentamente, o barco começou a se mover para jusante. Yandry se dirigiu à alavanca do leme. Ysilla estava virando os biscoitos. Colocou um tacho de ferro em cima do braseiro e pois o bacon lá dentro. Havia dias em que cozinhava biscoitos e bacon, em outros bacon e biscoitos. Uma vez por quinzena talvez houvesse um peixe, mas naquele dia não.
    Quando Ysilla virou as costas, Tyrion roubou um biscoito do braseiro, fugindo a tempo de evitar apanhar com a sua temível colher de pau. Os biscoitos eram melhores quando eram comidos quentes, pingando mel e manteiga. O cheiro do bacon cozinhando depressa trouxe Pato do porão. Farejou por cima do braseiro, recebeu uma pancada da colher de Ysilla, e foi dar a sua mijada matinal à popa do barco.
    Tyrion se moveu para se juntar a ele.
    — Ora aqui está uma cena digna de se ver — brincou enquanto esva-ziavam as bexigas — um anão e um pato, tornando o poderoso Roine mais poderoso ainda.
    Yandry soltou uma fungadela de zombaria.
    — A Mãe Roine não precisa da sua água, Yollo. É o maior rio do mundo.
    Tyrion sacudiu as últimas gotas.
    — É suficientemente grande para afogar um anão, admito. Mas o Vago é igualmente largo. E o Tridente também, perto da foz. A Água Negra é mais profunda.
    — Não conhece o rio. Espera e verá.
    O bacon estalou, os biscoitos ficaram num tom dourado de castanho. O Jovem Griff subiu ao convés aos tropeções e a bocejar.
    — Bom dia a todos. — O rapaz era mais baixo do que Pato, mas a sua constituição esguia sugeria que ainda não tinha chegado à sua altura completa. Este rapaz sem barba podia obter qualquer donzela dos Sete Reinos, com cabelo azul ou sem ele. Aqueles as derreteriam. Como o pai, o Jovem Griff tinha olhos azuis, mas enquanto os do pai eram claros, os do filho eram escuros. À luz das lâmpadas se tornavam negros, e à luz do crepúsculo pareciam purpúreos. As pestanas eram tão longas como as de qualquer mulher.
    — Cheiro bacon — disse o rapaz, calçando as botas.
    — Bom bacon — disse Ysilla. — Sente.
    Deu a eles de comer na cobertura da popa, pressionando o Jovem GrifF a comer biscoitos com mel e batendo na mão do Pato com a colher sempre que este tentava pegar mais bacon. Tyrion partiu dois biscoitos, encheu-os com bacon e levou um a Yandry, que estava na alavanca do leme. Depois ajudou Pato
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:46 pm

    a içar a grande vela triangular da Tímida Donzela. Yandry os levou para o centro do rio, onde a corrente era mais forte. A Tímida Donzela era um bom barco. Tinha um calado tão baixo que podia abrir caminho mesmo pelo menor dos afluentes do rio, navegando por entre bancos de areia que teriam encalhado embarcações maiores, mas com a vela içada e uma corrente por baixo conseguia atingir uma boa velocidade. Yandry afirmava que isso poderia significar a diferença entre a vida e a morte nos trechos superiores do Roine.
    — Acima das Mágoas não há lei, e há mil anos que é assim. — E também não há gente, que eu veja. — Vislumbrara algumas ruí-nas ao longo das margens, pilhas de pedras cobertas de trepadeiras, musgo e flores, mas nenhum outro sinal de habitação humana.
    — Não conhece o rio, Yollo. Um barco pirata pode estar escondido em qualquer ribeiro, e escravos fugidos se escondem com frequência entre as ruínas. Os caçadores de escravos raramente vêm tão para norte.
    — Caçadores de escravos seriam uma mudança bem-vinda relativamente às tartarugas. — Não sendo um escravo fugido, Tyrion não precisava temer ser apanhado. E não era provável que um pirata incomodasse um barco de varejo se deslocando para jusante. Os bens valiosos vinham rio acima desde Volantis.
    Quando o bacon acabou, Pato deu um murro no ombro do Jovem Griff.
    — Está na altura de ganhar umas nódoas negras. Hoje é espadas, parece-me.
    — Espadas? — o Jovem Griff fez um sorriso. — Espadas será bom.
    Tyrion ajudou-o a vestir-se para o combate, com calças pesadas, gibão almofadado e uma armadura amolgada de velho aço. Sor Rolly enfiou-se na sua cota de malha e couro fervido. Ambos puseram elmos na cabeça e tiraram espadas longas sem fio do fardo guardado na arca das armas. Foram combater para a coberta de popa, atacando-se energicamente um ao outro enquanto o resto do grupo matinal os observava.
    Quando combatiam com maça de armas ou machado embotado, o tamanho e a força superiores de Sor Rolly depressa se sobrepunham ao seu aluno. Com espadas, os desafios eram mais equilibrados. Nenhum dos homens tinha pegado num escudo naquela manhã, de modo que foi um jogo de golpe e parada, para trás e para diante pela coberta fora. O rio ressoava com o ruído do combate. O Jovem Griff acertou mais estocadas, embora as do Pato fossem mais fortes. Passado algum tempo, o homem maior começou a cansar-se. Os seus golpes começaram a chegar um pouco mais lentos, um pouco mais baixos. O Jovem Griff afastou-os a todos e desencadeou um furioso ataque que forçou Sor Rolly a recuar. Quando chegaram à popa, o rapaz prendeu as lâminas e atirou um ombro contra Pato, e o grandalhão caiu ao rio.
    Reapareceu a cuspir e a praguejar, berrando por alguém que o pescasse antes de uma quebra-ossos lhe comer as partes pudendas. Tyrion atirou-lhe uma corda.
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:46 pm

    — Os patos deviam nadar melhor do que isso — disse, enquanto ele e Yandry voltavam a içar o cavaleiro para bordo da Tímida Donzela.
    Sor Rolly agarrou em Tyrion pelo colarinho.
    — Vejamos como nadam os anões — disse, atirando-o de cabeça ao Roine.
    O anão foi o último a rir; conseguia chapinhar razoavelmente bem, e foi o que fez até começar a sentir cãibras nas pernas. O Jovem Griff estendeu-lhe uma vara.
    — Não é o primeiro a tentar afogar-me — disse ao Pato enquanto despejava água do rio da bota. — O meu pai atirou-me a um poço no dia em que nasci, mas eu era tão feio que a bruxa de água que vivia lá em baixo me cuspiu de volta. — Descalçou a outra bota, após o que fez a roda pelo convés fora, salpicando-os a todos.
    O Jovem Griff riu-se.
    — Onde aprendeste a fazer isso?
    — Os saltimbancos ensinaram-me — mentiu. — A minha mãe gostava mais de mim do que do resto dos filhos porque eu era tão pequeno. Amamentou-me até ter sete anos. Isso deixou os meus irmãos com ciúmes, por isso enfiaram-me num saco e venderam-me a uma trupe de saltimbancos. Quando tentei fugir, o chefe dos saltimbancos cortou-me metade do nariz, portanto não tive alternativa senão seguir com eles e aprender a ser divertido.
    A verdade era bastante diferente. O tio ensinara-lhe um pouco de malabarismo aos seis ou sete anos. Tyrion dedicara-se a isso com avidez. Durante meio ano, andara alegremente a fazer rodas por todo o Rochedo Casterly, trazendo sorrisos tanto às caras de septões, como às de escudeiros e criados. Até Cersei rira uma ou duas vezes ao vê-lo.
    Tudo isso terminara abruptamente no dia em que o pai regressara de uma estadia em Porto Real. Nessa noite, ao jantar, Tyrion surpreendera o seu progenitor percorrendo toda a mesa elevada a fazer o pino. O Lorde Tywin não ficara contente.
    — Os deuses fizeram-te anão. Terás também de ser bobo? Nasceu leão, não macaco.
    E tu és um cadávery pai, portanto, farei as cabriolas que quiser.
    — Tem o dom para fazer os homens sorrir — disse a Septã Lemore a Tyrion enquanto este secava os dedos dos pés. — Devia agradecer ao Pai no Céu. Ele dá dons a todos os seus filhos. — Pois dá — concordou o anão num tom agradável. E quando eu morrer; por favor que me enterrem com uma besta para poder agradecer ao Pai no Céu pelos seus dons da mesma forma que agradeci ao pai na terra.
    Ainda tinha a roupa ensopada do mergulho involuntário, colando-se-lhe desconfortavelmente aos braços e às pernas. Quando o Jovem Griff se foi embora com a Septã Lemore para ser instruído nos mistérios da Fé, Tyrion despiu a roupa molhada e vestiu outra seca. Pato soltou uma valente gargalhada quando
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:46 pm

    ele voltou a aparecer no convés. Não podia censurá-lo. Vestido como estava era uma visão cômica. O gibão estava dividido ao meio; o lado esquerdo era de veludo púrpura com tachões de bronze, o direito de lã amarela bordada com padrões florais verdes. As bragas estavam divididas de forma semelhante; a perna direita era verde, a esquerda listada de vermelho e branco. Uma das arcas de Illyrio fora enchida com roupa de criança, bafienta mas bem feita. A Septã Lemore cortara ao meio cada peça de roupa e depois voltara a cosê-las, juntando metade disto com metade daquilo para arranjar retalhos improvisados. Griff insistira mesmo que Tyrion ajudasse a cortar e a coser. Não havia dúvida de que pretendera que a atividade o humilhasse, mas Tyrion gostara da costura. Lemore era sempre uma companhia agradável, apesar da queda que tinha para repreendê-lo sempre que ele dizia qualquer coisa rude sobre os deuses. Se Griff me quer pôr no papel de bobo,jogarei esse jogo. Em algum lugar, bem sabia, Lorde Tywin Lannister estava horrorizado, e isso fazia com que o fato não o picasse. O seu outro dever era tudo menos pateta. O Pato tem a sua espada, eu a minha pena e o meu pergaminho. Griff ordenara-lhe que tomasse nota de tudo o que sabia sobre dragões. A tarefa era gigantesca, mas o anão trabalhava nela todos os dias, escrevendo o melhor que podia enquanto se mantinha sentado de pernas cruzadas no teto da cabine.
    Tyrion lera muitíssimo sobre dragões ao longo dos anos. A maioria desses relatos eram histórias vãs em que não era possível confiar, e os livros que Illyrio lhes fornecera não eram aqueles que poderia ter desejado. O que realmente queria era o texto completo de Os Fogos da Cidade Franca, a história de Valíria escrita por Galendro. Mas nenhuma cópia completa era conhecida em Westeros; até à Cidadela faltavam vinte e sete rolos. Decerto que deverão ter uma biblioteca na Velha Volantis. Poderei encontrar aí uma cópia melhor; se conseguir arranjar maneira de atravessar as Muralhas Negras e entrar no coração da cidade. Sentia menos esperança a respeito dos Dragões, Wyrms e Serpes: A Sua História Não-Natural, do Septão Barth. Barth fora um filho de ferreiro que ascendera a Mão do Rei durante o reinado de Jaehaerys, o Conciliador. Os seus inimigos sempre tinham afirmado que era mais feiticeiro do que septão. Baelor, o Abençoado, ordenara a destruição de todos os escritos de Barth quando ascendera ao Trono de Ferro. Dez anos antes, Tyrion lera um fragmento da História Não-Natural que tinha escapado ao Amado Baelor, mas duvidava de que algum do trabalho de Barth tivesse chegado ao outro lado do mar estreito. E claro que havia ainda menos hipóteses de se deparar com o tomo fragmentário, anônimo e ensopado de sangue por vezes chamado Sangue e Fogo e outras vezes A Morte de Dragões, cuja única cópia sobrevivente estava supostamente escondida numa cave trancada sob a Cidadela.
    Quando o Semi-meistre surgiu no convés, bocejando, o anão estava escrevendo aquilo de que se lembrava a respeito dos hábitos de acasalamento dos dragões, assunto sobre o qual Barth, Munkun e Thomax defendiam pontos de
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:46 pm

    vista marcadamente diferentes. Haldon caminhou a passos largos até à popa para mijar para o local onde o sol cintilava na água, quebrado por cada sopro de vento.
    — Devemos chegar à junção com o Noine antes de cair a noite, Yollo — gritou o Semi-meistre.
    Tyrion ergueu o olhar do que estava escrevendo.
    — O meu nome é Hugor. O Yollo está escondido nas minhas calças. Quer que o tire para brincar?
    — É melhor que não. Podia assustar as tartarugas. — O sorriso de Haldon era tão penetrante como a lâmina de um punhal. — Como era o nome da tal rua em Lannisporto onde me disse que tinha nascido, Yollo?
    — Era uma viela. Não tinha nome. — Tyrion retirava um prazer mordaz de inventar os detalhes da colorida vida de Hugor Hill, também conhecido como Yollo, um bastardo originário de Lannisporto. As melhores mentiras estão temperadas com um pouco de verdade. O anão sabia que soava como um ocidental, e um ocidental bem nascido, ainda por cima, pelo que Hugor teria de ser bastardo de um fidalgote qualquer. Nascido em Lannisporto porque conhecia essa cidade melhor do que Vilavelha ou Porto Real, e porque era nas cidades que a maioria dos anões acabavam, mesmo aqueles que eram paridos pela Governanta Saloia no meio do nabal. O campo não tinha espetáculos de aberrações ou de saltimbancos... Embora tivesse fartura de poços, para engolir gatinhos indesejados, bezerros de três cabeças e bebês como ele.
    — Vejo que tem andado estragando mais do bom pergaminho, Yollo. — Haldon voltou a atar as bragas.
    — Nem todos podemos ser meios meistres. — Tyrion estava com cãibras na mão. Pôs a pena de parte e flexionou os dedos curtos. — Lhe agrada outro jogo de cyvasse7. — o Semi-meistre derrotava-o sempre, mas era uma maneira de passar o tempo.
    — Esta noite. Não te quer se juntar a nós para a aula do Jovem Griff?
    — Porque não? Alguém tem de corrigir os seus erros. Havia quatro cabines na Tímida Donzela. Yandry e Ysilla partilhavam uma, Griff e o Jovem Griff outra. A Septã Lemore tinha uma cabine para si, e Haldon também. A cabine do Semi-meistre era a maior das quatro. Uma das paredes estava coberta de prateleiras e caixas atafulhadas de velhos rolos e pergaminhos; outra tinha estantes de unguentos, ervas e poções. Uma luz dourada entrava em diagonal pelo ondulado vidro amarelo da janela redonda. A mobília incluía um beliche, uma mesa para escrever, uma cadeira, um banco e a mesa de cyvasse do Semi-meistre, coberta de peças esculpidas de madeira.
    A aula começou pelas línguas. O Jovem Griff falava o idioma comum como se fosse a sua língua natal, e era fluente em alto valiriano, nos dialetos inferiores de Pentos, Tyrosh, Myr e Lys e na língua comercial dos marinheiros. O dialeto volanteno era tão novo para ele como para Tyrion, de modo que aprendiam todos os dias mais algumas palavras enquanto Haldon lhes corrigia os
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:47 pm

    erros. O meereenês era mais difícil; as suas raízes também eram valirianas, mas a árvore fora enxertada com a dura e feia língua da Velha Ghis.
    — É preciso enfiar uma abelha no nariz para falar ghiscari como deve ser — queixou-se Tyrion. O Jovem Griff riu-se, mas o Semimeistre apenas disse:
    — Outra vez. — O rapaz obedeceu, embora daquela vez fizesse rolar os olhos com os seus zzzs. Ele tem melhor ouvido do que eu, Tyrion foi forçado a admitir, se bem que aposto que a minha língua continua a ser mais ágil.
    A geometria seguiu-se às línguas. Aí, o rapaz era menos hábil, mas Haldon era um professor paciente, e Tyrion conseguiu também tornar-se útil. Aprendera os mistérios dos quadrados, círculos e triângulos com os meistres do pai no Rochedo Casterly, e voltaram-lhe à memória mais depressa do que teria julgado possível.
    Quando se viraram para a história, o Jovem Griff estava ficando irrequieto.
    — Estávamos discutindo a história de Volantis — disse-lhe Haldon. — Pode explicar a Yollo qual a diferença entre um tigre e um elefante?
    — Volantis é a mais antiga das Nove Cidades Livres, a primeira filha de Valíria — respondeu o rapaz com uma voz aborrecida. — Depois da Destruição, agradou aos volantenos considerarem-se os herdeiros da Cidade Franca e os legítimos governantes do mundo, mas estavam divididos quanto a como o domínio poderia ser melhor alcançado. O Sangue Antigo preferia a espada, enquanto os mercadores e os prestamistas defendiam o comércio. Enquanto competiam pelo governo da cidade, as fações tornaram-se conhecidas como tigres e elefantes, respetivamente. Os tigres imperaram durante quase um século após a Destruição de Valíria. Durante algum tempo foram bem sucedidos. Uma frota volantena conquistou Lys e um exército volanteno capturou Myr, e durante duas gerações as três cidades foram governadas do interior das Muralhas Negras. Isso acabou quando os tigres tentaram engolir Tyrosh. Pentos entrou na guerra do lado de Tyrosh, juntamente com o Rei da Tempestade de Westeros. Bravos forneceu a um exilado liseno cem navios de guerra, Aegon Targaryen voou de Pedra do Dragão montado no Terror Negro, e Myr e Lys ergueram-se em rebelião. A guerra transformou as Terras Disputadas num deserto, e libertou Lys e Myr do jugo. Os tigres sofreram também outras derrotas. A frota que enviaram para reclamar Valíria desapareceu no Mar Fumegante. Qohor e Norvos quebraram o seu poderio no Roine quando as galés de fogo combateram no Lago Adaga. Do leste vieram os dothraki, expulsando os plebeus das suas cabanas e os nobres das suas propriedades, até só restar erva e ruínas entre a floresta de Qohor e as nascentes do Selhoru. Depois de um século de guerra, Volantis deu por si quebrada, falida e despovoada. Foi então que os elefantes se ergueram. Tem imperado desde então. Há anos em que os tigres elegem um triarca, e há anos em que não elegem, mas nunca mais do que um, de modo que os elefantes governam a cidade há trezentos anos.
    — É isso mesmo — disse Haldon. — E os triarcas atuais?
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:47 pm

    — Malaquo é um tigre, Nyessos e Doniphos são elefantes.
    — E que lição podemos retirar da história volantena?
    — Se queremos conquistar o mundo é bom que tenhamos dragões.
    Tyrion não conseguiu evitar uma gargalhada.
    Mais tarde, quando o Jovem Griff subiu ao convés para ajudar Yandry com as velas e as varas, Haldon preparou a mesa de cyvasse para o jogo com Tyrion. Este observou com olhos desiguais e disse:
    — O rapaz é inteligente. Saiu-se bem com ele. Metade dos senhores de Westeros são menos instruídos, infelizmente. Línguas, história, canções, somas... É um guisado e peras para o filho de um mercenário qualquer.
    — Um livro pode ser tão perigoso como uma espada nas mãos certas — disse Haldon. — Tente me dar melhor batalha desta vez, Yollo. Joga cyvasse tão mal como cabriolas.
    — Estou tentando te levar a uma falsa sensação de confiança — disse Tyrion enquanto organizavam as peças de ambos os lados de um anteparo de madeira entalhada. — Você pensa que me ensinou a jogar, mas as coisas nem sempre são o que parecem. Talvez tenha aprendido o jogo com o queijeiro, já pensou nisso? — Illyrio não joga cyvasse. Pois não, pensou o anão, joga o jogo de tronos, e você, Griff e Pato não passam de peças, para serem movidas para onde ele quiser e sacrificadas conforme necessário, tal como sacrificou Viserys.
    — Então a culpa tem de te caber a ti. Se eu jogo mal, é obra sua.
    O Semi-meistre soltou um risinho.
    — Yollo, vou sentir a sua falta quando os piratas te cortarem a goela.
    — Onde estão esses famosos piratas? Estou começando a achar que você e Illyrio os inventaram todos.
    — Onde há mais é no troço de rio entre Ar Noy e as Mágoas. Acima das ruínas de Ar Noy, os qohorik governam o rio, e abaixo das Mágoas as galés de Volantis imperam, mas nenhuma cidade reclama as águas intermediarias, portanto, os piratas tornaram-nas suas. O Lago Adaga está cheio de ilhas onde eles espreitam de grutas escondidas e fortes secretos. Estás pronto?
    — Para você? Sem qualquer dúvida. Para os piratas? Menos.
    Haldon removeu o anteparo. Cada um contemplou a formação de abertura do outro.
    — Está aprendendo — disse o Semimeistre.
    Tyrion quase agarrou no dragão, mas pensou melhor. No último jogo tinha-o feito avançar cedo demais e perdera-o para um trabuco.
    — Se encontrarmos mesmo esses célebres piratas talvez me junte a eles. Vou dizer-lhes que me chamo Hugor Semimeistre. — Moveu a cavalaria ligeira em direção das montanhas de Haldon.
    Este respondeu com um elefante.
    — Hugor Semisperto condizia melhor contigo.
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:47 pm

    — Só preciso de metade da minha esperteza para me igualar a você. — Tyrion moveu a cavalaria pesada em apoio da ligeira. — Talvez queira apostar no resultado?
    O Semimeistre arqueou uma sobrancelha.
    — Quanto?
    — Não tenho dinheiro. Jogaremos a segredos.
    — Griff me cortaria a língua.
    — Medinho, hã? Eu também teria, se fosse você. — O dia em que me derrotar no cyvasse será o dia em que tartarugas saem do meu cu rastejando. — O Semimeistre moveu as lanças. — Aceito a sua aposta, homenzinho.
    Tyrion estendeu uma mão para o dragão.
    Foi três horas mais tarde que o homenzinho finalmente voltou para o convés a fim de esvaziar a bexiga. Pato estava ajudando Yandry a puxar a vela para baixo, enquanto Ysilla manejava o leme. O Sol pairava baixo sobre os canaviais ao longo da margem ocidental, enquanto o vento começava a soprar em rajadas. Preciso do tal odre de vinho, pensou o anão. Tinha cãibras nas pernas de estar acocorado naquele banco, e sentia a cabeça tão leve que se achava com sorte por não cair ao rio.
    — Yollo — chamou o Pato. — Onde está Haldon?
    — Foi para a cama, com um certo desconforto. Estão-lhe a sair tar-tarugas do cu. — Deixou o cavaleiro a tentar entender o que aquilo queria dizer e subiu a escada para o teto da cabine. Para leste, havia escuridão juntando por trás de uma ilha rochosa.
    A Septã Lemore foi lá ter com ele.
    — Consegue sentir as tempestades no ar, Hugor Hill? À nossa frente está o Lago Adaga, onde piratas vagueiam em busca de presas. E depois do lago ficam as Mágoas.
    As minhas não. Eu levo as minhas próprias mágoas comigo, para onde quer que vá. Pensou em Tysha e sentiu curiosidade de saber para onde iriam as rameiras. Porque não Volantis? Talvez a encontre lá. Um homem devia agarrar-se à esperança. Perguntou-se o que lhe diria. Lamento por ter deixado que te violassem, amor. Julgava que era uma rameira. Conseguirás encontrar no coração maneira de me perdoar? Quero regressar à nossa cabana, a como as coisas eram quando fomos marido e mulher.
    A ilha afastou-se atrás deles. Tyrion viu ruínas erguendo-se ao longo da margem oriental; paredes tortas e torres caídas, cúpulas quebradas e fileiras de pilares podres de madeira, ruas afogadas em lama e cobertas de musgo púrpura. Outra cidade morta, dez vezes maior do que Ghoyan Drohe. Agora viviam ali tartarugas, grandes quebra-ossos. O anão via-as se refastelando ao sol, montículos castanhos e negros com cristas denteadas ao longo do centro das carapaças. Algumas viram a Tímida Donzela e deslizaram para dentro de água, deixando ondulações na sua esteira. Aquele não seria bom lugar para um banho.
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:47 pm

    Então, através das árvores retorcidas e meio afogadas e as largas ruas úmidas, vislumbrou o reflexo prateado da luz do sol em água. Outro rio,compreendeu de imediato, correndo para o Roine. As ruínas foram ficando mais altas à medida que a terra foi se tornando mais estreita, até que a cidade terminou numa ponta de terra onde se erguiam os restos de um colossal palácio de mármore rosa e verde, com cúpulas arruinadas e coruchéus quebrados a erguerem-se bem alto sobre uma fileira de arcadas cobertas. Tyrion viu mais quebra-ossos dormindo nas rampas onde meia centena de navios podia ter atracado em tempos. Nesse momento soube onde estava. Aquele era o palácio de Nymeria, e isto é tudo o que resta de Ny Sar, a sua cidade. — Yollo — gritou Yandry quando a Tímida Donzela passou pelo cabo — fala-me lá outra vez desses rios de Westeros tão grandes como a Mãe Roine.
    — Não sabia — gritou ele em resposta. — Nenhum rio nos Sete Reinos tem metade da largura deste. — O novo rio que acabara de se juntar-lhes era praticamente gêmeo daquele ao longo do qual vinham navegando, e esse, sozinho, quase igualara o Vago ou o Tridente.
    — Isto é Ny Sar, onde a Mãe reúne a si a sua Filha Selvagem, Noine — disse Yandry — mas não chegará ao seu ponto mais largo até encontrar as outras filhas. No Lago Adaga, o Qhoine junta-se a este, A Filha Escura, cheia de ouro e âmbar provenientes do Machado e de pinhas da Floresta de Qohor. A sul, a Mãe encontra-se com Lhorulu, a Filha Sorridente dos Campos Dourados. Onde se unem, erguia-se em tempos Choryane, a cidade festival, onde as ruas eram feitas de água e as casas feitas de ouro. Depois é outra vez para sul e para leste durante longas léguas, até que por fim aparece Selhoru, a Filha Tímida que esconde o seu leito em juncos e se contorce. Aí a Mãe Roine faz-se tão larga que um homem num barco no centro da corrente não consegue ver a margem de ambos os lados. Verá, meu pequeno amigo. Verei, estava o anão pensando, quando detectou uma ondulação em frente, a menos de seis metros do barco. Aprestava-se a fazê-la notar a Lemore quando a coisa veio à superfície com uma onda de água que fez a Tímida Donzela balançar de lado.
    Era outra tartaruga, uma cornuda de um tamanho enorme, com a carapaça verde-escura pintalgada de castanho e coberta de limos e moluscos fluviais duros e negros. Ergueu a cabeça e berrou, um rugido gutural a trovejante, mais forte do que qualquer corno de guerra que Tyrion tivesse ouvido.
    — Fomos abençoados — estava Ysilla gritando ruidosamente, en-quanto lágrimas lhe corriam pela cara. — Fomos abençoados, fomos abençoados.
    Pato estava aos gritos e o Jovem Griff também. Haldon veio ao convés para saber qual fora a causa do alvoroço... Mas tarde demais. A gigantesca tartaruga voltara a desaparecer debaixo de água.
    — Qual foi a causa de todo aquele barulho? — perguntou o Semi-meistre.
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:47 pm

    — Uma tartaruga — disse Tyrion. — Uma tartaruga maior do que este barco. — Era ele — gritou Yandry. — O Velho do Rio. E porque não? Tyrion sorriu. Aparecem sempre deuses e maravilhas para assistir ao nascimento de reis.
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:48 pm

    Davos 224



    A Alegre Parteira entrou furtivamente em Porto Branco na maré da noite, com a vela remendada ondulando a cada rajada de vento.
    Era uma velha coca, e mesmo na juventude nunca ninguém a achava bonita. A figura da proa mostrava uma mulher rindo e agarrando um bebê por um pé, mas as bochechas da mulher e o rabo do bebê estavam esburacados por bichos. Incontáveis camadas de monótona tinta castanha cobriam o casco; as velas eram cinzentas e esfarrapadas. Não um era navio que atraísse um segundo olhar, a menos que fosse para tentar perceber como permanecia à tona de água. Além disso, a Alegre Parteira era conhecida em Porto Branco. Durante anos realizou diligentemente um humilde comércio entre esse porto e Vilirmãs.
    Não era o tipo de chegada que Davos Seaworth esperava quando zarpou com Salla e sua frota. Nessa altura, tudo aquilo parecera mais simples. Os corvos não tinham trazido ao Rei Stannis a aliança de Porto Branco, portanto, Sua Graça mandaria um emissário para negociar pessoalmente com o Lorde Manderly. Como exibição de força, Davos chegaria a bordo da galé Valiriana, de Salla, com o resto da frota lisena atrás. Todos os cascos seriam listrados: de preto e amarelo, rosa e azul, verde e branco, púrpura e ouro. Os lisenos adoravam tons vivos, e Salladhor Saan era o mais colorido de todos. Salladhor, o Esplêndido, pensou Davos, mas as tempestades escreveram o fim de tudo isso.
    Em vez da entrada triunfal, ia se contrabandear para dentro da cidade, como poderia ter feito vinte anos antes. Até saber em que pé estavam às coisas, era mais prudente desempenhar o papel de marinheiro comum, não de lorde.
    As muralhas de pedra caiada de Porto Branco ergueram-se na frente deles, na margem oriental, onde a Faca Branca mergulhava no golfo. Algumas das defesas da cidade tinham sido fortalecidas desde a última vez que Davos estivera lá, meia dúzia de anos antes. O quebra-mar que dividia o porto interior do exterior foi fortificado com uma longa muralha de pedra com nove metros de altura e quase uma milha de comprimento, com torres a cada cem metros. Havia também fumo erguendo-se do Rochedo das Focas, onde em tempos tinham existido apenas ruínas. Isso pode ser bom ou mau, dependendo do lado que Lorde Wyman escolher.
    Davos sempre gostou daquela cidade, desde a primeira vez que viera até ali como criado a bordo do Gato da Calçada. Embora fosse pequena quando
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:48 pm

    comparada com Vilavelha e Porto Real, era limpa e bem ordenada, com ruas calcetadas largas e direitas que faziam com que fosse fácil a um homem se orientar. As casas eram feitas de pedra caiada, com telhados muito inclinados de ardósia cinzenta-escura. Roro Uhoris, o velho e rabugento capitão do Gato da Calçada, costumava dizer que era capaz de distinguir um porto de outro só pelo modo como cheiravam. As cidades eram como mulheres, insistia; cada uma tinha o seu próprio e único odor. Vilavelha era tão florida como uma viúva perfumada. Lannisporto era uma ama-de-leite, fresca e terra-a-terra, com fumo de lenha no cabelo. Porto Real fedia como uma rameira por lavar. Mas o odor de Porto Branco era penetrante e salgado, e também cheirava um pouco a peixe.
    — Cheira como uma sereia deve cheirar — dizia Roro. — Cheira a mar. E ainda cheira, pensou Davos, mas também conseguia cheirar o fumo de turfa que pairava vindo do Rochedo das Focas. A pedra marinha dominava as abordagens ao porto exterior, um maciço afloramento verde acinzentado que se erguia quinze metros acima das águas. O seu topo estava coroado por um círculo de pedras gastas, um forte anelar dos Primeiros Homens que se manteve desolado e abandonado por centenas de anos. Agora não estava abandonado. Davos via balistas e catapultas de fogo por trás das pedras verticais, e besteiros a espreitar entre elas. Ali em cima deve estar frio e úmido. Em todas as suas visitas anteriores podiam se ver focas se aquecendo ao sol sobre as pedras partidas, lá em baixo. O Bastardo Cego o obrigava sempre a contá-las quando o Gato da Calçada zarpava de Porto Branco; quanto mais focas houvesse, dizia Roro, mais sorte teriam na viagem. Agora não havia focas. O fumo e os soldados as tinham espantado para longe. Um homem mais sensato veria nisso uma advertência. Se eu tivesse um dedal de bom senso, teria ido com Salla. Podia ter voltado para sul, para junto de Marya e dos filhos. Perdi quatro filhos ao serviço do rei, e o quinto serve como seu escudeiro. Devia ter o direito de dar carinho os dois rapazes que ainda restam. Passou-se muito tempo desde que os vi pela última vez.
    Em Atalaialeste, os irmãos negros lhe tinham dito que não havia amizade entre os Manderly de Porto Branco e os Bolton do Forte do Pavor. O Trono de Ferro fizera ascender Roose Bolton a Protetor do Norte, pelo que fazia sentido que Wyman Manderly declarasse o seu apoio a Stannis. Porto Branco não pode resistir sozinho. A cidade precisa de um aliado, um protetor. O Lorde Wyman precisa tanto do Rei Stannis como Stannis precisa dele. Pelo menos foi o que pareceu em Atalaialeste.
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:48 pm

    Vilirmãs corroerá essa esperança. Se o Lorde Borrell falava a verdade, se os Manderly tencionavam juntar as suas forças aos Bolton e aos Frey... não, não remoeria essa ideia. Em breve conheceria a verdade. Rezava para não ter chegado tarde demais. Aquela muralha do quebra-mar oculta o porto interior, compreendeu na altura em que a Alegre Parteira arriava a vela. O porto exterior era maior, mas o porto interior oferecia melhor ancoragem, abrigado pela muralha da cidade de um lado e pela elevada massa do Covil do Lobo do outro, e agora também pela muralha do quebra-mar. Em Atalaialeste-do-Mar, Cotter Pyke disse a Davos que Lorde Wyman estava construindo galés de guerra. Podia haver uma vintena de navios escondidos atrás daquelas muralhas, à espera apenas de uma ordem para se lançarem ao mar.
    Por trás das espessas muralhas brancas da cidade, o Novo Castelo erguia-se orgulhoso e pálido na sua colina. Davos viu também o telhado abobadado do Septo das Neves, coroado por altas estátuas dos Sete. Os Manderly tinham trazido a Fé para o norte quando foram expulsos da Campina. Porto Branco possuía também o seu bosque sagrado, um melancólico emaranhado de raízes, ramos e rochas trancado por trás das arruinadas muralhas negras do Covil do Lobo, uma antiga fortaleza que agora servia apenas como prisão. Mas eram principalmente os septões a dominar ali.
    O tritão da Casa Manderly estava em evidência por todo o lado, es-voaçando nas torres do Novo Castelo, por cima do Portão das Focas, e ao longo das muralhas da cidade. Em Atalaialeste, os nortenhos insistiam que Porto Branco nunca abandonaria a sua fidelidade a Winterfell, mas Davos não viu qualquer sinal do lobo gigante dos Stark. Também não há leões. Lorde Wyman não pode ter se declarado por Tommen ainda, de contrário teria içado a sua bandeira.
    Os pontões estavam repletos. Um aglomerado de barcos menores estava amarrado ao longo do mercado de peixe, desembarcando pescado. Viu também três corredores de rio, barcos longos e esguios, feitos de forma resistente para enfrentar as rápidas correntes e os rápidos pedregosos da Faca Branca. Mas eram as embarcações marítimas que lhe interessaram mais; um par de carracas tão sem graça e andrajosas como a Alegre Parteira, a galé mercante Dançarina da Tempestade, as cocas Bravo Magíster e Cornucópia, um galeão de Bravos identificado pelo casco e velas de cor púrpura...
    ... e ali, mais atrás, o navio de guerra.
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    Mensagem  Admin Seg Jul 23, 2012 3:48 pm

    Vê-lo atravessou-lhe a esperança com uma faca. O casco era negro e dourado, a figura da proa mostrava um leão com uma pata levantada. Leostrela, diziam as letras na sua popa, por baixo de um estandarte flutuante que ostentava as armas do rei rapaz sentado no Trono de Ferro. Um ano antes, não teria sido capaz de lê-las, mas o Meistre Pylos lhe ensinou algumas das letras em Pedra do Dragão. Por uma vez, a leitura lhe deu pouco prazer. Davos rezava pela galé ter se perdido nas mesmas tempestades que tinham assolado a frota de Salla, mas os deuses não tinham mostrado essa bondade. Os Frey estavam ali, e ele teria de enfrentá-los. A Alegre Parteira foi amarrada à ponta de um desgastado pontão de madeira no porto exterior, bem longe da Leostrela. Enquanto a tripulação a prendia aos pilares e baixava uma prancha de embarque, o capitão aproximou-se descontraidamente de Davos. Casso Mogat era um mestiço do mar estreito, gerado por um baleeiro ibbenês e por uma rameira de Vilirmãs. Com só um metro e meio de altura e muito peludo, pintava o cabelo e as suíças de um verde musgoso. Isso o fazia parecer um toco de árvore com botas amarelas. Apesar da aparência, parecia ser um bom marinheiro, embora fosse um chefe duro para a tripulação.
    — Quanto tempo fica em terra?
    — Pelo menos um dia. Pode ser mais. — Davos descobriu que os lordes gostavam de manter as pessoas à espera. Suspeitava de que o faziam para deixá-las ansiosas e para demonstrar o seu poder. — A Parteira fica aqui três dias. Mais nenhum. Vão me procurar lá em Vilirmãs.
    — Se as coisas correrem bem, posso estar de volta amanhã de manhã.
    — E se essas coisas correrem mal?
    Posso não regressar.
    — Não precisa esperar por mim.
    Um par de homens da alfândega estava subindo a bordo quando Davos desceu a prancha, mas nenhum lhe deu sequer um relance. Estavam ali para falar com o capitão e inspecionar o porão; marinheiros comuns não lhes diziam respeito, e poucos homens pareciam tão comuns como Davos. Tinha uma altura mediana, a sua astuta cara de camponês estava bronzeada pelo vento e pelo sol, a barba grisalha e o cabelo castanho eram bem salgados de cinzento. O vestuário era simples também: botas velhas, calças castanhas e túnica azul, uma capa de lã por tingir, presa com um pregador de madeira. Usava um par de luvas de couro

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