E foi o que ele fez, uma longa gargalhada áspera que ecoou nas paredes da caverna, uma gargalhada sufocada de desprezo.
- Então, quem vai ser? - olhou para o Limo Manto Limão. - O corajoso com o man¬to cor de mijo? Não? E que tal você, Caçador? Já chutou alguns cães, experimente comi¬go. - Viu Barba-Verde. - Você é suficientemente grande, Tyrosh, avance. Ou será que espera que seja a garotinha a lutar comigo? - Voltou a rir. - Venha, quem quer morrer?
- Serei eu quem você enfrentará - disse Lorde Beric Dondarrion.
Arya recordou todas as histórias. Ele não pode ser morto, pensou, esperando com um último fio de esperança. Caçador Louco cortou as cordas que prendiam as mãos de San- dor Clegane.
- Vou precisar de espada e armadura. - Cão de Caça esfregou um pulso ferido.
- Terá a sua espada - declarou Lorde Beric -, mas a armadura terá de ser a sua ino¬cência.
A boca de Clegane torceu-se.
- Minha inocência contra a sua placa de peito, é assim que funciona?
- Ned, ajude-me a tirar a placa de peito.
Arya ficou arrepiada quando Lorde Beric disse o nome do pai, mas este Ned era só um garoto, um escudeiro de cabelos claros que não teria mais de dez ou doze anos.
Aproximou-se rapidamente para abrir as fivelas que prendiam o aço amassado em volta do senhor da Marcha. O almofadado por baixo estava podre de velhice e suor, e caiu quando o metal foi desprendido. Gendry prendeu a respiração.
- Mãe, misericórdia.
As costelas de Lorde Beric delineavam-se vivamente por baixo de sua pele. Uma cra¬tera enrugada marcava seu peito imediatamente acima do mamilo esquerdo, e quando se virou para pedir uma espada e um escudo, Arya viu uma cicatriz condizente em suas costas. A lança atravessou-o. Cão de Caça tinha visto também. Estará assustado? Arya queria-o assustado antes de morrer, tão assustado como Mycah deve ter se sentido.
Ned trouxe ao Lorde Beric o cinto da espada e um longo sobretudo negro, Destinava- -se a ser usado sobre a armadura, e por isso envolvia seu corpo com folga, mas nele crepi- tava o relâmpago púrpura bifurcado da sua Casa. Desembainhou a espada e devolveu o cinto ao escudeiro.
Thoros trouxe ao Cão de Caça seu cinto da espada.
- Um cão tem honra? - perguntou o sacerdote. - Caso pense em tentar abrir cami¬nho para a liberdade com a espada ou tomar alguma criança como refém... Anguy, Den- net, Kyle, encham-no de penas ao primeiro sinal de traição. - Só depois de os três ar- queiros prepararem suas flechas é que Thoros entregou a Clegane o cinto.