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    Parte 2 3 realm

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    Parte 2 3 realm - Página 7 Empty Re: Parte 2 3 realm

    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 9:53 am

    - Não - gritou Arya, antes de Harwin cobrir sua boca. Não, eles não podem jazer isso, ele ficará livre. Cão de Caça era mortífero com uma espada, todos sabiam disso. Ele vai rir deles, pensou.
    E foi o que ele fez, uma longa gargalhada áspera que ecoou nas paredes da caverna, uma gargalhada sufocada de desprezo.
    - Então, quem vai ser? - olhou para o Limo Manto Limão. - O corajoso com o man¬to cor de mijo? Não? E que tal você, Caçador? Já chutou alguns cães, experimente comi¬go. - Viu Barba-Verde. - Você é suficientemente grande, Tyrosh, avance. Ou será que espera que seja a garotinha a lutar comigo? - Voltou a rir. - Venha, quem quer morrer?
    - Serei eu quem você enfrentará - disse Lorde Beric Dondarrion.
    Arya recordou todas as histórias. Ele não pode ser morto, pensou, esperando com um último fio de esperança. Caçador Louco cortou as cordas que prendiam as mãos de San- dor Clegane.
    - Vou precisar de espada e armadura. - Cão de Caça esfregou um pulso ferido.
    - Terá a sua espada - declarou Lorde Beric -, mas a armadura terá de ser a sua ino¬cência.
    A boca de Clegane torceu-se.
    - Minha inocência contra a sua placa de peito, é assim que funciona?
    - Ned, ajude-me a tirar a placa de peito.
    Arya ficou arrepiada quando Lorde Beric disse o nome do pai, mas este Ned era só um garoto, um escudeiro de cabelos claros que não teria mais de dez ou doze anos.
    Aproximou-se rapidamente para abrir as fivelas que prendiam o aço amassado em volta do senhor da Marcha. O almofadado por baixo estava podre de velhice e suor, e caiu quando o metal foi desprendido. Gendry prendeu a respiração.
    - Mãe, misericórdia.
    As costelas de Lorde Beric delineavam-se vivamente por baixo de sua pele. Uma cra¬tera enrugada marcava seu peito imediatamente acima do mamilo esquerdo, e quando se virou para pedir uma espada e um escudo, Arya viu uma cicatriz condizente em suas costas. A lança atravessou-o. Cão de Caça tinha visto também. Estará assustado? Arya queria-o assustado antes de morrer, tão assustado como Mycah deve ter se sentido.
    Ned trouxe ao Lorde Beric o cinto da espada e um longo sobretudo negro, Destinava- -se a ser usado sobre a armadura, e por isso envolvia seu corpo com folga, mas nele crepi- tava o relâmpago púrpura bifurcado da sua Casa. Desembainhou a espada e devolveu o cinto ao escudeiro.
    Thoros trouxe ao Cão de Caça seu cinto da espada.
    - Um cão tem honra? - perguntou o sacerdote. - Caso pense em tentar abrir cami¬nho para a liberdade com a espada ou tomar alguma criança como refém... Anguy, Den- net, Kyle, encham-no de penas ao primeiro sinal de traição. - Só depois de os três ar- queiros prepararem suas flechas é que Thoros entregou a Clegane o cinto.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 9:53 am

    Cão de Caça libertou a espada com um movimento brusco e jogou fora a bainha. Caçador Louco entregou-lhe seu escudo de carvalho, cheio de tachões de ferro e pintado de amarelo, exibindo os três cães negros de Clegane. O pequeno Ned ajudou Lorde Beric com seu escudo, tão desgastado e cheio de marcas de golpes que o relâmpago púrpura e as estrelas esparramadas tinham sido quase obliterados.
    Mas quando Cão de Caça ameaçou se aproximar do adversário, Thoros de Myr impediu-o.
    - Primeiro oramos. - Virou-se para o fogo e ergueu os braços. - Senhor da Luz, olhe para nós.
    Por toda a gruta, a irmandade sem estandartes ergueu as vozes em resposta.
    - Senhor da Luz, defenda-nos.
    - Senhor da Luz, proteja-nos na escuridão.
    - Senhor da Luz, brilhe sobre nós.
    - Acenda a sua chama entre nós, R'hllor - disse o sacerdote vermelho. - Mostre-nos a verdade ou a falsidade deste homem. Abata-o se for culpado, e empreste força à sua espada se for inocente. Senhor da Luz, dê-nos sabedoria.
    - Pois a noite é escura - entoaram os outros, com a voz de Harwin e a de Anguy soan¬do mais altas que a dos demais - e cheia de terrores.
    - Esta gruta também é escura - disse Cão de Caça -, mas aqui o terror sou eu. Espe¬ro que seu deus seja bom, Dondarrion. Vai encontrá-lo em breve.
    Sem sorrir, Lorde Beric apoiou o gume da espada na palma da mão esquerda e puxou-a lentamente para baixo. O sangue correu, escuro, do golpe que ele fez, e espalhou-se pelo aço.
    E então a espada incendiou-se.
    Arya ouviu Gendry sussurrar uma prece.
    -Que queime nos sete infernos - praguejou Cão de Caça. - Você e Thoros também. - Lançou um olhar de relance ao sacerdote vermelho. - Quando acabar com ele, você é o próximo, Myr.
    - Cada palavra que pronuncia proclama a sua culpa, cão - respondeu Thoros, en¬quanto Limo, Barba-Verde e Jack Sortudo gritavam ameaças e pragas. O próprio Lorde Beric esperava em silêncio, calmo como águas paradas, com o escudo no braço esquerdo e a espada ardendo na mão direita. Mate-o, pensou Arya, por favor, tem de matá-lo. Ilumi¬nado de baixo, seu rosto era uma máscara de morte, o olho em falta, um ferimento ver¬melho e revolto. A espada estava em chamas da ponta ao copo, mas Dondarrion parecia não sentir o calor. Estava tão imóvel que podia ter sido esculpido em pedra.
    Mas quando Cão de Caça avançou sobre ele, moveu-se bastante depressa.
    A espada flamejante saltou para parar a fria, com longas flâmulas de fogo a segui-la como as fitas de que Cão de Caça falara. Aço ressoou em aço. Assim que o seu primeiro golpe foi parado, Clegane lançou um segundo, mas daquela vez o escudo de Lorde Beric colocou-se no caminho da espada, e voaram lascas de madeira com a força da pancada. As estocadas vieram duras e rápidas, de baixo e de cima, da direita e da esquerda, e todas elas foram bloqueadas por
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 9:53 am

    Dondarrion. As chamas rodopiavam em volta de sua espa¬da e deixavam para trás fantasmas vermelhos e amarelos marcando sua passagem. Cada movimento de Lorde Beric atiçava-as e fazia-as arder mais fortemente até parecer que o senhor do relâmpago se encontrava no interior de uma jaula de fogo.
    - É fogovivo? - perguntou Arya a Gendry.
    - Não. Isso é diferente. Isso é...
    - ... magia? - concluiu ela no momento em que Cão de Caça recuava,
    Agora era Lorde Beric que atacava, enchendo o ar com cordões de fogo, fazendo o ho¬mem maior apoiar-se nos calcanhares. Clegane parou um golpe elevado com o escudo, e um cão pintado perdeu uma cabeça. Contra-atacou, e Dondarrion interpôs o seu escudo e atirou um golpe incendiário para trás. A irmandade fora da lei incitava seu chefe aos gritos. "E seu!", ouviu Arya, e"Vai nele! Vai nele! Vai nele!". Cão de Caça parou um golpe dirigido à sua cabeça, fazendo uma careta quando o calor das chamas colidiu com seu rosto. Soltou um grunhido e uma praga e cambaleou para trás.
    Lorde Beric não lhe deu descanso. Pressionou duramente o homem maior, sem parar um momento de movimentar o braço. As espadas colidiram, saltaram para longe e voltaram a colidir, voaram lascas do escudo do relâmpago enquanto chamas rodopiantes beijavam os cães uma, duas, três vezes. Cão de Caça moveu-se para a direita, mas Dondarrion bloqueou-o com um rápido passo para o lado e empurrou- -o para o outro ... na direção do soturno clarão vermelho da fogueira. Clegane cedeu terreno até sentir o calor em suas costas. Um rápido relance de olhos sobre o ombro mostrou-lhe o que havia atrás de si, e quase lhe custou a cabeça quando Lorde Beric atacou novamente.
    Arya viu o branco nos olhos de Sandor Clegane quando voltou a arremeter para a frente. Três passos adiante e dois para trás, um movimento para a esquerda que Lorde Beric bloqueou, mais dois passos para a frente e um para trás, clang e clang, e os grandes escudos de carvalho recebiam um golpe após outro, após outro. Os cabelos escuros e escorridos de Cão de Caça colavam-se à sua testa, num brilho de suor. S«or de vinho, pen¬sou Arya, lembrando-se de que ele fora capturado bêbado. Julgou ver o início do medo despertando em seus olhos. Ele vai perder, disse a si mesma, exultante, enquanto a espada flamejante de Lorde Beric rodopiava e golpeava. Numa violenta saraivada, o senhor do relâmpago recuperou todo o terreno que Cão de Caça ganhara, voltando a deixar Clega- ne cambaleando à beira da fogueira. Ele vai morrer, vai, vai. Ficou nas pontas dos pés para ver melhor.
    - Maldito bastardo! - gritou Cão de Caça ao sentir o fogo lamber a parte de trás de suas coxas. Avançou, brandindo a pesada espada cada vez com mais violência, tentando esmagar o homem menor com força bruta, tentando quebrar lâmina, escu¬do ou braço. Mas as chamas das defesas de Dondarrion tentaram morder seus olhos, e quando Cão de Caça se afastou delas com uma sacudida, perdeu o apoio e caiu sobre um joelho. Lorde Beric aproximou-se de imediato, com um
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 9:53 am

    golpe para baixo que gritou pelo ar e foi seguido por flâmulas de fogo. Ofegando de exaustão, Clegane pôs o escudo por cima da cabeça bem a tempo, e a gruta ressoou com o sonoro crac do carvalho lascado.
    - O escudo dele pegou fogo - disse Gendry numa voz abafada. Arya viu isso no mes¬mo instante. As chamas espalharam-se pela rachada tinta amarela, e os três cães negros foram engolidos.
    Sandor Clegane tinha conseguido ficar em pé novamente com um contra-ataque te¬merário. Só depois de Lorde Beric ter recuado um passo é que Cão de Caça pareceu notar que o fogo que rugia tão perto de seu rosto era seu próprio escudo queimando. Com um grito de repugnância, golpeou violentamente o carvalho partido, completando sua destruição. O escudo estilhaçou-se, e uma parte voou, rodopiando, ainda em chamas, enquanto a outra se agarrava teimosamente ao antebraço de Clegane. Seus esforços para se libertar só conseguiram atiçar as chamas. A manga pegou fogo, e agora era todo o seu braço esquerdo que queimava.
    - Acabe com ele! - gritou Barba-Verde ao Lorde Beric, e outras vozes uniram-se num cântico de"Culpadof. Arya gritou com os demais."Culpado, culpado, mate-o, culpado!"
    Suave como seda de verão, Lorde Beric deslizou para perto, com o propósito de dar cabo do homem à sua frente. Cão de Caça soltou um grito áspero, levantou a espada com ambas as mãos e fez com que caísse com todas as suas forças. Lorde Beric bloqueou fa¬cilmente o golpe...
    - Nããããããããããão - gritou Arya.
    ... mas a espada flamejante partiu-se em duas, e o aço frio do Cão de Caça lavrou a carne de Lorde Beric onde o ombro se juntava ao pescoço, e abriu um golpe limpo dali até o esterno. O sangue irrompeu num jorro quente e negro.
    Sandor Clegane deu um salto para trás, ainda ardendo. Arrancou os restos do escudo e atirou-os para longe com uma praga, depois rolou na terra para abafar o fogo que corria por seu braço.
    Os joelhos de Lorde Beric dobraram-se lentamente, como que para rezar. Quando sua boca se abriu, só sangue saiu dela. A espada de Cão de Caça ainda estava em seu corpo quando tombou para a frente. A terra bebeu seu sangue. Sob o monte oco não se ouviu um som além do suave crepitar das chamas e do ganido que Cão de Caça soltou quando tentou se levantar. Arya só conseguia pensar em Mycah e em todas as estúpidas preces que rezara para que Cão de Caça morresse. Se existem deuses, por que Lorde Beric não ganhou? Ela sabia que Cão de Caça era culpado.
    - Por favor - rouquejou Sandor Clegane, agarrado ao braço. - Estou queimado. Ajudem-me. Alguém. Ajudem-me. - Estava chorando. - Por favor.
    Arya olhou-o com espanto. Ele está chorando como um bebezinho, pensou.
    - Melly, cuide dos ferimentos dele - disse Thoros. - Limo, Jack, ajudem-me com Lorde Beric. Ned, é melhor que venha também. - O sacerdote vermelho arrancou a es¬pada de Cão de Caça do corpo caído de seu senhor e espetou-a na terra empapada de sangue. Limo deslizou suas grandes
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 9:54 am

    mãos sob os braços de Dondarrion, enquanto Jack Sortudo o pegava pelos pés. Levaram-no ao redor da fogueira, para a escuridão de um dos túneis. Thoros e o pequeno Ned seguiram-nos.
    Caçador Louco cuspiu.
    - Acho que devíamos levá-lo de volta para o Septo de Pedra e enfiá-lo numa gaiola para corvos.
    - Sim - disse Arya. - Ele assassinou Mycah. Assassinou mesmo,
    - Que esquilo mais zangado - murmurou Barba-Verde,
    Harwin suspirou.
    - R'hllor considerou-o inocente.
    - Quem é o Rulore? - Arya nem conseguia pronunciar o nome.
    - Senhor da Luz. Thoros ensinou-nos...
    Arya não queria saber o que Thoros tinha ensinado a eles. Puxou o punhal de Barba- -Verde de sua bainha e girou para longe antes de ele conseguir agarrá-la. Gendry também tentou apanhá-la, mas sempre tinha sido rápida demais para ele.
    Tom Sete-Cordas e uma mulher qualquer estavam ajudando Cão de Caça a ficar em pé. O aspecto do braço dele chocou-a de tal modo que a deixou sem fala. Havia uma fai¬xa cor-de-rosa no local onde a correia de couro estava presa, mas, por cima e por baixo, a pele encontrava-se rachada, vermelha e sangrando desde o cotovelo até o pulso. Quando seus olhos se encontraram com os dela, sua boca retorceu-se.
    - Quer tanto assim que eu morra? Então vá, menina-lobo. Enfie em mim. E mais limpo do que o fogo. - Clegane tentou ficar em pé, mas quando se moveu, um pedaço de carne queimada desprendeu-se de seu braço e os joelhos perderam a força. Tom segurou- -o pelo braço bom e manteve-o em pé.
    O braço dele, pensou Arya, e o rosto, Mas ele era o Cão de Caça. Merecia queimar num inferno ardente. Sentiu a faca pesada na mão. Apertou-a com mais força»
    - Você matou Mycah - voltou a dizer, desafiando-o a negar. - Conte a eles. Matou. Matou.
    - Matei. - Todo o seu rosto se torceu. - Persegui-o a cavalo, cortei-o ao meio e ri. Também os vi espancarem sua irmã até sair sangue, e vi-os cortar a cabeça de seu pai.
    Limo agarrou o pulso de Arya e torceu-o, tirando o punhal dela. Ela chutou-o, mas ele não retrucou.
    - Vá para o inferno, Cão de Caça - gritou para Sandor Clegane numa fúria impoten¬te de mãos vazias. - Você vai para o inferno!
    - Ele já foi - disse uma voz, pouco mais forte do que um murmúrio.
    Quando Arya se virou, Lorde Beric Dondarrion estava em pé atrás dela, agarrando o ombro de Thoros com a mão ensangüentada.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 9:54 am

    Catelyn 412



    Q
    ue os reis do Inverno fiquem com a sua cripta fria debaixo da terra, pensou Catelyn. Os Tully tiravam a sua força do rio, e era ao rio que retornavam depois de suas vidas terem cumprido seus percursos.
    Deitaram Lorde Hoster num esguio barco de madeira, revestido por uma brilhante armadura de prata, com placa e cota de malha. O manto estava aberto por baixo dele, em ondas de azul e vermelho. O sobretudo também era azul e vermelho. Uma truta, com escamas de prata e bronze, coroava o grande elmo que colocaram ao lado de sua cabeça. Sobre o peito, pousaram uma espada de madeira pintada e fecharam seus dedos sobre o cabo. Manoplas de cota de malha escondiam suas mãos enfraquecidas e faziam com que quase parecesse forte de novo. Seu pesado escudo de carvalho e ferro estava apoiado junto ao seu flanco esquerdo, e o berrante à direita, O resto do barco fora enchido de ma¬deira trazida pelo rio, gravetos, pedaços de pergaminho e pedras, para torná-lo pesado na água. Seu estandarte flutuava à proa, a truta saltante de Correrrio.
    Foram escolhidos sete homens para empurrar o barco funerário para dentro da água, em honra às sete faces de deus. Robb era um deles, na qualidade de suserano de Lorde Hoster. Acompanhavam-no os lordes Bracken, Blackwood, Vance e Mallister, Sor Marq Piper... e o Coxo Lothar Frey, que chegara das Gêmeas com a resposta que aguardavam. Em sua escolta vieram quarenta soldados, comandados por Walder Rivers, o mais velho dos bastardos de Lorde Walder, um homem severo e grisalho com uma formidável repu¬tação como guerreiro. Sua chegada, apenas horas após o falecimento de Lorde Hoster, tinha deixado Edmure em fúria,
    - Walder Frey devia ser esfolado e esquartejado - gritou. - Manda um aleijado e um bastardo para negociar conosco, não me diga que não pretende nos insultar com isso.
    - Não tenho qualquer dúvida de que Lorde Walder escolheu seus enviados com cuida¬do - replicou Catelyn. - Foi um ato impertinente, uma forma mesquinha de vingança, mas lembre-se de quem é o homem com quem estamos lidando. O pai costumava chamá-lo de Atrasado Lorde Frey. O homem tem um gênio ruim, e é acima de tudo orgulhoso.
    Abençoadamente, o filho mostrara mais bom senso do que o irmão. Robb cumpri¬mentou os Frey com toda a cortesia, encontrou lugar nas casernas para a escolta e pediu calmamente a Sor Desmond Grell que se afastasse para que Lothar pudesse ter a honra de ajudar a enviar Lorde Hoster para sua última viagem. Meu filho ganhou noções de sabe¬doria que estão para além de sua idade. A Casa Frey podia ter abandonado o Rei no Norte,
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 9:54 am

    mas o Senhor da Travessia ainda era o mais poderoso dos vassalos de Correrrio, e Lothar encontrava-se ali em seu nome.
    Os sete lançaram Lorde Hoster da escada de água, descendo os degraus enquanto a porta levadiça era içada. Lothar Frey, um homem corpulento e pouco musculoso, respi¬rava pesadamente enquanto empurravam o barco para a corrente. Jason Mallister e Tytos Blackwood, à proa, entraram no rio até o peito, para pôr o barco no curso certo.
    Catelyn observou das ameias, esperando e vigiando, como esperara e vigiara tantas vezes antes. Embaixo, o rápido e turbulento Pedregoso mergulhava como uma lança no flanco do largo Ramo Vermelho, agitando as lamacentas águas turvas do rio maior com sua corrente azul-esbranquiçada. Uma névoa matinal pairava sobre a água, fina como gaze e como os filamentos da memória.
    Bran e Rickon estarão à espera dele, pensou tristemente Catelyn, tal como eu costumava esperar antigamente.
    A esguia embarcação saiu, à deriva, sob a arcada de pedra vermelha do Portão da Água, ganhando velocidade ao ser apanhada pela impetuosa corrente do Pedregoso e empurrada na direção da zona turbulenta onde as águas se encontravam. No momento em que o barco emergiu de sob o abrigo das grandes muralhas do castelo, sua vela qua¬drada encheu-se de vento, e Catelyn viu a luz do sol relampejar no elmo do pai. O leme de Lorde Holter Tully manteve-se firme, e ele velejou serenamente pelo centro do canal, na direção do sol nascente.
    - Agora - disse o tio. Ao lado dele, o irmão Edmure (agora Lorde Edmure de fato, e quanto tempo levaria para se habituar a isso?) encaixou uma flecha na corda do arco. O escudeiro aproximou um tição da ponta. Edmure esperou até a chama pegar, e então er¬gueu o grande arco, puxou a corda até a orelha e soltou. Com um profundo trum, a flecha ergueu-se no ar. Catelyn seguiu seu voo com os olhos e o coração, até que mergulhasse na água com um silvo suave, bem à popa do barco de Lorde Hoster.
    Edmure soltou uma praga em voz baixa.
    - O vento - disse, pegando uma segunda flecha. - Outra vez. - O tição beijou o trapo ensopado em óleo atrás da ponta da flecha, as chamas subiram, Edmure ergueu o arco, puxou e soltou. A flecha voou alto e longe. Longe demais. Desapareceu no rio uma dúzia de metros para lá do barco, e o fogo tremeluziu e apagou-se num instante. Um ru- bor estava subindo pelo pescoço de Edmure, tão vermelho quanto sua barba, - De novo - ordenou, tirando uma terceira flecha da aljava. Está tão tenso quanto a corda de seu arco, pensou Catelyn.
    Sor Brynden deve ter visto o mesmo.
    - Permita-me, senhor - ofereceu.
    - Eu consigo - insistiu Edmure. Deixou-os acender a flecha, levantou bruscamente o arco, respirou fundo, puxou a corda. Por um longo momento pareceu hesitar enquanto o fogo subia
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 9:54 am

    lentamente a haste, crepitando. Por fim soltou. A flecha subiu como um re¬lâmpago, e por fim voltou a curvar para baixo, caindo, caindo... e passando com um silvo pela vela enfunada.
    Um erro por pouco, não mais do que uma mão, mas mesmo assim um erro.
    - Que os Outros levem isto! - praguejou o irmão de Catelyn. O barco estava quase fora de alcance, deslizando rio abaixo, penetrando e saindo das névoas fluviais. Sem uma palavra, Edmure entregou o arco ao tio.
    - Depressa - disse Sor Brynden, Encaixou uma flecha, manteve-a firme para receber o tição, puxou e soltou antes de Catelyn ter certeza de que o fogo tinha pegado,... mas quando a flecha subiu, viu as chamas a segui-la pelo ar, uma flâmula laranja-clara. O barco tinha desaparecido na névoa. Caindo, a flecha em chamas foi também engolida... mas só por um segundo. Então viram o vermelho desabrochar em flor, súbito como a esperança. A vela incendiou-se, e o nevoeiro incandesceu, cor-de-rosa e laranja. Por um momento, Catelyn viu claramente a silhueta do barco, decorada pela grinalda de chamas saltitantes.
    Espere-me, gatinha, ouviu-o murmurar.
    Catelyn estendeu cegamente a mão, tateando em busca da do irmão, mas Edmure afastara-se, para ficar só, no ponto mais elevado das ameias. Foi o tio Brynden quem pegou na sua mão em vez do irmão, entrelaçando seus fortes dedos aos dela. Juntos, observaram o pequeno incêndio diminuir à medida que o barco em chamas se afastava na distância.
    E então desapareceu... ainda à deriva pelo rio abaixo, talvez, ou quebrado e se afun¬dando. O peso da armadura levaria Lorde Hoster para o fundo, para descansar na lama mole do leito do rio, nos salões aquáticos onde os Tully concediam eternas audiências, com cardumes de peixes como seus últimos servidores.
    Assim que o barco em chamas desapareceu da vista de quem estava no castelo, Ed¬mure foi embora. Catelyn teria gostado de abraçá-lo, ainda que só por um momento; te¬ria gostado de se sentar por uma hora, por uma noite ou por uma volta de lua, para falar do morto e fazer luto. Mas sabia tão bem quanto ele que aquela não era a hora certa; ele era agora senhor de Correrrio, e seus cavaleiros estavam à sua volta, murmurando con¬dolências e promessas de lealdade, separando-o de algo tão pequeno como a dor de uma irmã. Edmure escutava, sem ouvir nenhuma das palavras.
    - Não é desonra falhar o tiro - disse-lhe o tio em voz baixa. - Alguém devia dizer isso a Edmure, No dia em que o senhor meu pai desceu o rio, Hoster também falhou.
    - Com a primeira flecha, - Catelyn era nova demais para se lembrar, mas Lorde Hos¬ter contara a história com freqüência. - A segunda atingiu a vela. - Suspirou.
    Edmure não era tão forte quanto parecia. A morte do pai havia sido uma misericórdia quando enfim chegou, mesmo assim atingiu duramente o irmão,
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 9:55 am

    Na noite anterior, embriagado, desabou e chorou, cheio de remorsos por coisas que não tinha feito e palavras que não tinha dito. Disse-lhe entre lágrimas que nunca devia ter saído para travar a sua batalha nos vaus; que devia ter ficado junto à cabeceira do pai.
    - Devia ter estado com ele, como você esteve - tinha dito, - Ele falou de mim no fim? Diga-me a verdade, Cat. Ele perguntou por mim?
    A última palavra de Lorde Hoster havia sido "Tanãsia", mas Catelyn não conseguia se levar a dizer isso,
    - Ele murmurou o seu nome - mentiu, e o irmão assentiu, grato, e beijou sua mão, Se ele não tivesse tentado afogar o pesar e a culpa, poderia ter sido capaz de dominar um arco, pensou consigo mesma, suspirando, mas isso era algo que não se atrevia a dizer.
    Peixe Negro levou-a das ameias até onde Robb se encontrava entre os vassalos, com sua jovem rainha ao lado. Quando a viu, o filho tomou-a nos braços, em silêncio.
    - Lorde Hoster parecia nobre como um rei, senhora - murmurou Jeyne. - Gostaria de ter tido a oportunidade de conhecê-lo.
    - E eu de conhecê-lo melhor - acrescentou Robb.
    - Ele também teria gostado disso - disse Catelyn, - Havia léguas demais entre Cor¬rerrio e Winterfell. - E montanhas, rios e exércitos demais entre Correrrio e o Ninho da Águia, ao que parece. Lysa não tinha respondido à sua carta.
    E de Porto Real chegara também só silêncio. Esperava que àquela altura Brienne e Sor Cleos já tivessem chegado à cidade com o seu cativo. Até podia acontecer de Brien¬ne retornar, trazendo consigo as meninas. Sor Cleos jurou que obrigaria o Duende a en¬viar o corvo assim que a troca fosse feita. Ele jurou! Mas os corvos nem sempre chegavam ao destino. Algum arqueiro podia ter abatido e assado a ave para o jantar. A carta que poderia deixar seu coração em paz talvez agora estivesse junto às cinzas de uma foguei¬ra, ao lado de uma pilha de ossos de corvo.
    Outros esperavam para entregar a Robb as suas condolências, e Catelyn afastou-se pacientemente enquanto Lorde Jason Mallister, Grande-Jon e Sor Rolph Spicer falavam com ele, um de cada vez. Mas quando Lothar Frey se aproximou, ela puxou-o pela man¬ga. Robb virou-se e esperou para ouvir o que Lothar ia dizer.
    - Vossa Graça - rechonchudo e com cerca de trinta e cinco anos, Lothar Frey tinha olhos juntos, uma barba pontiaguda e cabelos escuros que caíam em caracóis sobre os ombros. Uma perna, torcida no parto, dera-lhe o nome de Coxo Lothar, Havia servido como intendente do pai durante a última dúzia de anos. - E com relutância que nos in¬trometemos em seu luto, mas talvez possa nos conceder uma audiência esta noite?
    - Com todo o prazer - disse Robb. - Nunca foi minha intenção semear a inimizade entre nós.
    - Nem minha ser a causa disso - disse a Rainha Jeyne.
    Lothar Frey sorriu.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 9:55 am

    - Compreendo, e o senhor meu pai também. Ele instruiu-me para dizer que já foi jovem um dia, e se lembra bem do que é se deixar levar pelo coração.
    Catelyn duvidava muito de que Lorde Walder tivesse dito tal coisa, ou que alguma vez tivesse se deixado levar pelo coração. O senhor da Travessia sobrevivera a sete es¬posas e estava agora casado com a oitava, mas falava delas apenas como aquecedoras de cama e éguas de reprodução. Apesar disso, as palavras eram bonitas, e dificilmente pode¬ria levantar objeções ao elogio. Robb tampouco o fez.
    - Seu pai é muito atencioso - disse. - Esperarei ansiosamente a nossa conversa.
    Lothar fez uma reverência, beijou a mão da rainha e retirou-se. A essa altura, uma
    dúzia de outros homens já tinha se reunido para dar uma palavra ao rei. Robb falou com todos, deixando um agradecimento aqui, um sorriso ali, conforme era necessário. Só se virou para Catelyn depois que o último foi embora.
    - Há algo que temos de discutir. Pode vir comigo?
    - As suas ordens, Vossa Graça.
    - Não foi uma ordem, mãe.
    - Então será um prazer.
    - O filho tratara-a com bastante gentileza desde que retornara a Correrrio, mas rara¬mente a procurava. Se ele se sentia mais confortável com sua jovem rainha, Catelyn não podia censurá-lo. Jeyne faz Robb sorrir, e eu nada tenho a partilhar com ele exceto o pesar. Robb também parecia apreciar a companhia dos irmãos de sua esposa; o jovem Rollam, seu escudeiro, e Sor Raynald, seu porta-estandartes. Está substituindo aqueles que perdeu, percebeu Catelyn quando os viu juntos. Rollam ocupou o lugar de Bran, e Raynald é em parte Iheon e em parte Jon Snow. Só quando estava com os Westerling é que via Robb sorrir, ou o ouvia rir como o rapaz que era. Para os outros era sempre o Rei no Norte, com a cabeça sobrecarregada com o peso da coroa, mesmo quando sua testa estava nua.
    Robb deu um beijo carinhoso na mulher, prometeu encontrá-la em seus aposentos e saiu com a senhora sua mãe. Seus passos levaram-nos para o bosque sagrado.
    - Lothar pareceu amigável, e isso é sinal esperançoso. Precisamos dos Frey.
    - Isso não significa que viremos a tê-los.
    Ele assentiu com a cabeça. Havia um ar sombrio em seu rosto e uma inclinação em seus ombros que fez com que o coração de Catelyn se dirigisse a ele. A coroa o está esma¬gando, pensou. Ele deseja tanto ser um bom rei, ser bravo, honroso e inteligente, mas o peso é excessivo para ser suportado por um rapaz. Robb estava fazendo tudo que podia, mas os golpes continuavam caindo, um após outro, sem darem descanso. Quando lhe trouxeram a notícia da batalha em Valdocaso, onde Lorde Randyll Tarly desbaratara as forças de Robett Glover e de Sor Helman Tallhart, seria de se esperar vê-lo enfurecido, mas ele limitou-se a olhar, numa incredulidade estupidificada, e dizer:
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 9:55 am

    - Valdocaso, no mar estreito? Por que eles iriam para Valdocaso? - sacudiu a cabeça, desconcertado. - Um terço de minha infantaria perdido por Valdocaso?
    - Os homens de ferro têm o meu castelo e agora os Lannister têm o meu irmão - dis¬se Galbart Glover, numa voz carregada de desespero. Robett Glover sobreviveu à bata¬lha, mas fora capturado perto da estrada do rei não muito mais tarde.
    - Não será por muito tempo - prometeu o filho de Catelyn. - Vou oferecer Martyn Lannister em troca dele. Lorde Tywin terá de aceitar, por causa do irmão. - Martyn era filho de Sor Kevan, irmão gêmeo de Willem, que Lorde Karstark assassinara. Catelyn sabia que aqueles homicídios ainda perturbavam o filho. Ele tinha triplicado a guarda em volta de Martyn, mas ainda temia por sua segurança.
    - Devia ter trocado o Regicida por Sansa quando me pediu - disse Robb no momen¬to em que entraram na galeria. - Se tivesse proposto casá-la com o Cavaleiro das Flores, os Tyrell poderiam ser nossos e não de JofFrey. Devia ter pensado nisso.
    - Sua cabeça estava nas suas batalhas, e com razão. Nem mesmo um rei pode pensar em tudo.
    - Batalhas - resmungou Robb enquanto seguiam sob as árvores. - Ganhei todas as batalhas mas, sem saber como, estou perdendo a guerra. - Olhou para cima, como se a resposta pudesse estar escrita no céu. - Os homens de ferro controlam Winterfell e tam¬bém Fosso Cailin. O pai está morto, Bran e Rickon também, e talvez até Arya. E agora também o seu pai.
    Não podia permitir que ele se desesperasse. Conhecia bem demais o sabor dessa bebida.
    - Meu pai esteve moribundo durante muito tempo, Você não podia ter mudado isso. Cometeu erros, Robb, mas que rei não os comete? Ned estaria orgulhoso de você,
    - Mãe, há uma coisa que precisa saber.
    O coração de Catelyn parou por um instante. Isso é algo que ele detesta. Algo que tem medo de me contar. Tudo em que conseguiu pensar foi em Brienne e na sua missão.
    - E o Regicida?
    - Não. E Sansa.
    Está morta, pensou imediatamente Catelyn. Brienne falhou, Jaime está morto, e Cersei matou a minha querida menina por vingança. Por um momento quase não conseguiu falar.
    - Ela... ela partiu, Robb?
    - Partiu? - ele pareceu sobressaltado. - Morta? Ah, mãe, não, isso não, não lhe fize¬ram mal, dessa forma não, só... chegou uma ave ontem à noite, mas não consegui arranjar coragem de lhe contar até que seu pai fosse enviado para o descanso dele. - Robb pegou na mão dela. - Casaram-na com Tyrion Lannister,
    Os dedos de Catelyn agarraram-se aos dele.
    - O Duende.
    - Sim.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 9:55 am

    - Ele jurou trocá-la pelo irmão - disse, entorpecida. - Sansa e Arya. Teríamos as duas de volta se devolvêssemos o seu precioso Jaime, ele jurou perante toda a corte. Como pôde se casar com ela depois de dizer aquilo à vista dos deuses e dos homens?
    - E irmão do Regicida. A quebra de promessas corre no sangue deles. - Os dedos de Robb rasparam o botão de sua espada, - Se pudesse, cortaria aquela cabeça feia dele. Sansa seria então viúva, e livre. Não há outra maneira, que eu veja. Obrigaram-na a pro¬nunciar os votos perante um septão e a vestir um manto carmesim.
    Catelyn recordou o homenzinho retorcido que tinha capturado na estalagem do en¬troncamento e levado até o Ninho da Águia.
    - Devia ter deixado que Lysa o atirasse por sua Porta da Lua. Minha pobre, querida, Sansa... por que alguém faria isso com ela?
    - Por Winterfell - disse Robb de imediato. - Com Bran e Rickon mortos, Sansa é minha herdeira. Se algo acontecer comigo...
    Catelyn agarrou com força a mão dele.
    - Nada acontecerá a você. Nada. Eu não suportaria. Eles roubaram-me Ned e os seus irmãos. Sansa está casada, Arya, perdida, meu pai, morto... se algo de mal acontecer com você, eu enlouqueço, Robb. E tudo que me resta. E tudo que resta ao norte.
    - Ainda não estou morto, mãe.
    De repente, Catelyn sentiu-se repleta de terror.
    - As guerras não têm de ser travadas até a última gota de sangue. - Até ela conseguia ouvir o desespero em sua voz. - Não seria o primeiro rei a dobrar o joelho, nem sequer o primeiro Stark.
    A boca dele apertou-se.
    - Não. Nunca.
    - Não há vergonha nisso. Balon Greyjoy dobrou o joelho a Robert quando sua rebe¬lião falhou. Torrhen Stark preferiu dobrar o joelho diante de Aegon, o Conquistador, a obrigar seu exército a enfrentar os incêndios.
    - Aegon matou o pai do Rei Torrhen? - ele puxou suas mãos de entre as dela. - Nunca, já disse.
    Agora está brincando de rapaz, não de rei.
    - Os Lannister não precisam do Norte. Irão exigir homenagens e reféns, nada mais... e o Duende ficará com Sansa, façamos o que fizermos, portanto, já têm o seu refém. Os homens de ferro serão um inimigo mais implacável, garanto. Para ter alguma espe¬rança de manter o Norte, os Greyjoy não podem deixar vivo nem um rebento da Casa Stark, para não terem quem dispute o direito ao trono com eles. Theon assassinou Bran e
    Rickon, agora basta-lhes matar você... sim, e Jeyne. Acha que Lorde Balon pode se dar ao luxo de deixá-la viver para lhe dar herdeiros?
    O rosto de Robb estava frio.
    - Foi por isso que libertou o Regicida? Para fazer a paz com os Lannister?
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 9:56 am

    - Libertei Jaime por Sansa... e por Arya, se ainda estiver viva. Sabe disso, Mas se nu¬tria alguma esperança de comprar também a paz, seria isso assim tão ruim?
    - Sim - disse ele. - Os Lannister mataram meu pai.
    - Acha que me esqueci disso?
    - Não sei. Esqueceu?
    Catelyn nunca batera nos filhos quando em fúria, mas naquele momento quase bateu em Robb. Precisou de um grande esforço para lembrar-se de como ele devia sentir-se assustado e só.
    - Você é Rei no Norte, a escolha é sua. Só peço que pense no que eu disse, Os can¬tores põem nas alturas os reis que morrem valentemente em batalha, mas a sua vida vale mais do que uma canção. Pelo menos para mim, que fui quem a deu. - Baixou a cabeça. - Tenho licença para ir embora?
    - Sim. - Ele virou as costas a ela e puxou a espada. Catelyn não saberia dizer o que o filho pretendia fazer com ela. Ali não havia inimigos, não havia ninguém com quem lutar. Só estavam lá os dois, por entre árvores altas e folhas caídas. Há batalhas que nenhuma es¬pada pode ganhar, quis lhe dizer, mas temia que o rei estivesse surdo para palavras assim.
    Horas mais tarde, estava costurando em seu quarto quando o jovem Rollam Wester- ling veio correndo chamá-la para o jantar. Ótimo, pensou Catelyn, aliviada. Não tinha certeza de que o filho a quereria lá, depois da discussão que tinham tido.
    - Um escudeiro cumpridor - disse a Rollam com um ar grave. Bran teria sido igual.
    Se Robb parecia frio à mesa e Edmure mal-humorado, o Coxo Lothar compensava
    a ambos. Era um modelo de cortesia, recordando calorosamente Lorde Hoster, dan¬do a Catelyn amáveis condolências pela perda de Bran e Rickon, elogiando Edmure pela vitória no Moinho de Pedra, e agradecendo a Robb pela justiça rápida e segura" que fizera com Rickard Karstark. O irmão bastardo de Lothar, Walder Rivers, era bem diferente; um homem amargo e ríspido, com o rosto suspeito do velho Lorde Walder, falava raramente e dedicava a maior parte de sua atenção aos alimentos e às bebidas que eram colocados na sua frente.
    Depois de proferidas todas as palavras vazias, a rainha e os demais Westerling pedi¬ram licença, os restos da refeição foram levados, e Lothar Frey pigarreou.
    - Antes de passarmos ao assunto que nos trouxe aqui, há outra questão - disse com solenidade. - Uma questão grave, temo. Esperei que não coubesse a mim trazer essas notícias a vocês, mas aparentemente tem de ser assim. O senhor meu pai recebeu uma carta dos netos.
    Catelyn tinha estado tão perdida em desgosto pelos seus que quase havia se esquecido dos dois Frey que aceitara criar. Mais, não, pensou. Pela misericórdia da Mãe, quantos gol¬pes mais poderemos suportar? De algum modo sabia que as palavras que ouviria em segui¬da iriam mergulhar mais uma lâmina no seu coração.
    - Os netos em Winterfell? - obrigou-se a perguntar. - Os meus protegidos
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 9:56 am

    - Walder e Walder, sim. Mas, no momento, eles encontram-se no Forte do Pavor, se¬nhora. Dói-me contar-lhe isso, mas houve uma batalha. Winterfell foi incendiado.
    - Incendiado? - a voz de Robb estava incrédula.
    - Seus senhores do norte tentaram tomar o castelo de volta dos homens de ferro. Quando Theon Greyjoy viu que a conquista estava perdida, passou o archote no castelo.
    - Não ouvimos dizer nada de batalha alguma - falou Sor Brynden.
    -Os meus sobrinhos são novos, admito, mas estavam lá. O Grande Walder escreveu a carta, embora o primo também tenha assinado. Pelo relato deles a coisa foi sangrenta. Seu castelão foi morto. Sor Rodrik, era esse o nome dele?
    - Sor Rodrik Cassei - disse Catelyn, atordoada. Aquela leal, corajosa e querida velha alma. Quase conseguia vê-lo puxando as ferozes suíças brancas. - E o resto do nosso povo?
    - Temo que os homens de ferro tenham matado muitos deles na espada.
    Sem palavras devido à fúria, Robb atirou um punho contra a mesa e virou o rosto para que os Frey não vissem suas lágrimas.
    Mas a mãe viu. 0 mundo fica um pouco mais escuro a cada dia. Os pensamentos de Catelyn estenderam-se para a filha pequena de Sor Rodrik, Beth, para o incansável Meistre Luwin e o alegre Septão Chayle, Mikken em sua forja, Farlen e Palia nos canis, a Velha Ama e o simples Hodor. Sentiu o coração doente.
    - Por favor, que não sejam todos.
    - Não - disse o Coxo Lothar. - As mulheres e crianças esconderam-se, com os meus sobrinhos Walder e Walder entre elas. Com Winterfell em ruínas, os sobreviventes fo¬ram levados para o Forte do Pavor por um filho de Lorde Bolton.
    - Um filho de Bolton? - a voz de Robb estava tensa.
    Walder Rivers interveio.
    - Um filho bastardo, creio.
    - Não seria Ramsay Snow? Lorde Roose tem mais algum bastardo? - Robb franziu a testa, - Esse Ramsay era um monstro e um assassino, e morreu como um covarde. Ou pelo menos foi o que me disseram.
    - Nada posso dizer quanto a isso. Em todas as guerras existe muita confusão. Muitas notícias falsas. Tudo que posso lhe dizer é que meus sobrinhos afirmam que foi o filho bastardo de Bolton quem salvou as mulheres de Winterfell e os pequenos. Agora todos os que restam estão em segurança no Forte do Pavor.
    - Theon - disse subitamente Robb. - O que aconteceu com Theon Greyjoy? Foi morto?
    O Coxo Lothar abriu as mãos.
    - Isso não sei dizer, Vossa Graça. Walder e Walder não fazem menção ao destino dele. Lorde Bolton talvez saiba, caso tenha recebido notícias desse filho dele.
    Sor Brynden disse:
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 9:56 am

    - Certamente lhe perguntaremos.
    - Vejo que estão todos perturbados. Lamento ter lhes trazido esse novo desgosto. Talvez devêssemos adiar nossa reunião até amanhã. Nosso assunto pode esperar até terem se recomposto...
    - Não - disse Robb -, quero a questão resolvida.
    Edmure assentiu.
    - Eu também. Tem uma resposta para a nossa proposta, senhor?
    - Tenho. - Lothar sorriu. - O senhor meu pai pede-me que diga a Vossa Graça que concordará com essa nova aliança de matrimônio entre as nossas casas e em renovar a sua lealdade ao Rei no Norte sob a condição de que a Graça Real peça perdão pelo insulto feito à Casa Frey, na sua real pessoa, cara a cara.
    Um pedido de desculpas era um preço bastante pequeno a pagar, mas Catelyn sentiu imediato desagrado por aquela mesquinha condição imposta por Lorde Walder.
    - Estou satisfeito - disse cautelosamente Robb. - Nunca foi meu desejo causar essa fratura entre nós, Lothar. Os Frey lutaram valentemente pela minha causa. Gostaria de tê-los de novo ao meu lado.
    - É muita gentileza, Vossa Graça. Uma vez esses termos aceitos, fui instruído para oferecer ao Lorde Tully a mão de minha irmã, a Senhora Roslin, uma donzela de dezes¬seis anos. Roslin é a filha mais nova de meu pai e da Senhora Bethany da Casa Rosby, sua sexta esposa. Tem um temperamento afável e um dom para a música.
    Edmure mexeu-se na cadeira.
    - Não seria melhor se eu primeiro a conhecesse?
    - Vai conhecê-la quando se casarem - disse bruscamente Walder Rivers, - A menos que Lorde Tully sinta necessidade de contar seus dentes primeiro.
    Edmure conteve o gênio.
    - Confiarei em sua palavra no que diz respeito aos seus dentes, mas seria agradável se pudesse contemplar o seu rosto antes de desposá-la.
    - Tem de aceitá-la agora, senhor - disse Walder Rivers. - Caso contrário a oferta de meu pai será retirada.
    O Coxo Lotar abriu as mãos.
    - Meu irmão tem a falta de modos de um soldado, mas o que diz é verdade, E desejo . do senhor meu pai que este casamento ocorra imediatamente.
    - Imediatamente? - Edmure soou tão infeliz que Catelyn teve o indigno pensamento de que ele talvez alimentasse idéias de quebrar a promessa após o fim da guerra.
    - Será que Lorde Walder esqueceu-se de que estamos travando uma guerra? - per¬guntou Brynden Peixe Negro num tom duro.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 9:56 am

    - Nem um pouco - disse Lothar. - E por isso que insiste que o casamento aconte¬ça agora, sor. Os homens morrem na guerra, até aqueles que são jovens e fortes. O que aconteceria à nossa aliança se Lorde Edmure caísse antes de tomar Roslin como esposa? E também deve-se levar em conta a idade de meu pai. Já tem mais de noventa anos e não é provável que veja o fim dessas lutas. Seu nobre coração ficaria em paz se pudesse ver sua querida Roslin casada e em segurança antes de os deuses o levarem, para poder morrer sabendo que a garota teria um esposo forte para lhe dar carinho e protegê-la.
    Todos nós queremos que Lorde Walder morra feliz. Catelyn estava ficando cada vez me¬nos confortável com aquele acordo,
    - Meu irmão acabou de perder o pai. Precisa de tempo para o luto,
    - Roslin é uma garota alegre - disse Lothar. - Pode ser exatamente aquilo de que Lorde Edmure precisa para o ajudar a superar o desgosto.
    - E meu pai ganhou aversão a noivados longos - acrescentou o bastardo Walder Rivers. - Não consigo imaginar o motivo.
    Robb lançou-lhe um frio olhar.
    - Compreendo o que quer dizer, Rivers. Por favor, deixem-nos a sós.
    - Às ordens de Sua Graça. - O Coxo Lothar ergueu-se, e o irmão bastardo ajudou-o a manquejar para fora da sala.
    Edmure estava fervendo de raiva.
    - E quase como se estivessem dizendo que a minha palavra de nada vale. Por que devo deixar que aquela velha doninha escolha a minha noiva? Lorde Walder tem outras filhas além dessa Roslin. E netas também. Deviam ser oferecidas a mim as mesmas op¬ções que a você. Sou o suserano dele, ele devia transbordar de alegria por eu estar dispos¬to a me casar com qualquer uma delas.
    - Ele é um homem orgulhoso e nós o ferimos - disse Catelyn.
    - Que os Outros levem o seu orgulho! Não serei envergonhado em meu próprio sa¬lão. A minha resposta é não.
    Robb lançou-lhe um olhar cansado.
    - Não ordenarei que faça isso. Isso não. Mas, se recusar, Lorde Frey vai encarar como outra desfeita, e qualquer esperança de colocar a situação nos eixos será perdida.
    - Não pode saber se será assim - insistiu Edmure. - O Frey me quer para uma de suas filhas desde o dia em que nasci. Não deixará que uma chance dessas escape daqueles seus dedos ambiciosos. Quando Lothar lhe levar a nossa resposta, ele retornará todo adulador e aceitará um noivado... com uma filha que eu escolher.
    - Talvez, a seu tempo - disse Brynden Peixe Negro. - Mas será que podemos esperar enquanto Lothar anda para trás e para a frente com propostas e contrapropostas?
    As mãos de Robb fecharam-se em punhos.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 9:56 am

    - Eu tenho de voltar para o Norte. Meus irmãos mortos, Winterfell incendiado, meu povo submetido à espada... só os deuses sabem o que esse bastardo de Bolton anda fa¬zendo, ou se Theon ainda está vivo e à solta. Não posso ficar aqui sentado, à espera de um casamento que pode ou não acontecer.
    - Tem de acontecer - disse Catelyn, embora sem alegria. - Não desejo mais do que você agüentar os insultos e as queixas de Walder Frey, irmão, mas não vejo aqui muitas opções. Sem esse casamento, a causa de Robb está perdida. Edmure, temos de aceitar.
    - Temos de aceitar? - ecoou ele num tom impertinente. - Não a vejo se oferecendo para se tornar a nona Senhora Frey, Cat.
    - A oitava Senhora Frey ainda está viva e bem de saúde, que eu saiba - respondeu ela. Felizmente. Caso contrário, poderia bem ter chegado a esse ponto, pelo que conhecia de Lorde Walder.
    Peixe Negro disse:
    - Eu sou o último homem nos Sete Reinos a poder dizer a alguém com quem se casar, sobrinho. No entanto, você disse algo a respeito de uma reparação por sua Batalha dos Vaus.
    - Tinha em mente um tipo diferente de reparação. Combate singular com o Regici¬da. Sete anos de penitência como irmão suplicante. Atravessar o mar do poente a nado com as pernas amarradas, - Quando viu que ninguém sorria, Edmure atirou as mãos ao ar. - Que os Outros carreguem todos vocês! Muito bem, casarei com a garota. Como reparação.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 9:57 am

    Davos 424




    L
    orde Alester olhou vivamente para cima.
    - Vozes - disse. - Está ouvindo, Davos? Alguém vem nos buscar.
    - Lampreia - disse Davos. - Está na hora do jantar, ou perto disso. - Na noite ante¬rior, Lampreia trouxera meio empadão de carne com bacon e também um jarro de hidro- mel. Só de pensar nisso sua barriga começou a roncar.
    - Não, é mais de uma pessoa.
    Ele tem razão, Davos ouvia pelo menos duas vozes, e passos se tornavam mais sono¬ros. Ficou em pé e dirigiu-se às barras.
    Lorde Alester sacudiu a palha da roupa.
    - O rei mandou me buscar. Ou então a rainha, sim, Selyse nunca me deixaria ficar aqui apodrecendo, logo eu, de seu próprio sangue.
    Fora da cela, Lampreia surgiu com um molho de chaves na mão. Sor Axell Florent e quatro guardas seguiam-no de perto. Esperaram sob o archote enquanto Lampreia pro¬curava a chave certa.
    - Axell - disse Lorde Alester. - Pela bondade dos deuses, E o rei que manda me bus¬car, ou a rainha?
    - Ninguém mandou buscá-lo, traidor - disse Sor Axell.
    Lorde Alester recuou como se tivesse levado um tapa.
    - Não, juro, não cometi nenhuma traição. Por que não me escuta? Se ao menos Sua Graça me deixasse explicar...
    Lampreia enfiou uma grande chave de ferro na fechadura, virou-a e abriu a cela. As ferraduras enferrujadas guincharam num protesto.
    - Você - disse ele a Davos. - Venha.
    - Para onde? - Davos olhou para Sor Axell. - Diga-me a verdade, sor, pretendem me queimar?
    - Mandaram chamá-lo. Consegue andar?
    - Consigo. - Davos saiu da cela. Lorde Alester soltou um grito de consternação quando Lampreia voltou a fechar a porta com estrondo.
    - Traga o archote - ordenou Sor Axell ao carcereiro. - Deixe o traidor nas trevas,
    - Não - disse o irmão, - Axell, por favor, não leve a luz... que os deuses tenham piedade...
    - Deuses? Só existem Rhllor e o Outro. - Sor Axell gesticulou categoricamente, e um de seus guardas puxou o archote da arandela e começou a subir a escada à frente dos demais.
    - Está me levando até Melisandre? - perguntou Davos.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 9:57 am

    - Ela estará lá - disse Sor Axell. - Nunca está longe do rei. Mas é Sua Graça em pes¬soa quem manda buscá-lo.
    Davos levou a mão ao peito, ao local onde a sua sorte estivera pendurada por uma correia, dentro de uma bolsa de couro. Desapareceu, lembrou-se, e as pontas de meus dedos com ela. Mas as mãos ainda eram suficientemente longas para se fechar em volta da gar¬ganta de uma mulher, pensou, especialmente uma garganta esguia como a dela.
    E subiram, ascendendo em fila indiana pela escada em caracol. As paredes eram de pedra escura áspera, Iria ao toque. A luz das tochas seguia à frente e, nas paredes, as som¬bras dos homens marchavam ao lado deles. Na terceira volta, passaram por um portão de ferro que se abria para a escuridão, e por um outro na quinta volta. Davos calculou que, a essa altura, deviam estar perto da superfície, talvez já acima dela. A terceira porta a que chegaram era feita de madeira, mas continuaram a subir. Agora as paredes eram inter¬rompidas por estreitas fendas para arqueiros, mas nenhuma brecha de luz do sol abria caminho através da espessura da pedra. Lá fora era noite.
    Suas pernas doíam quando Sor Axell escancarou uma porta pesada e, com gestos, lhe indicou que passasse. Para lá da porta, uma ponte elevada de pedra fazia um arco sobre o vazio e levava à maciça torre central que tinha o nome de Tambor de Pedra. Um vento ma¬rítimo soprava incessantemente pelas arcadas que suportavam o telhado, e quando cruzou a ponte, Davos conseguiu sentir o cheiro da água salgada. Respirou fundo, enchendo os pulmões com o ar puro e frio. Vento e água, deem-me forças, orou. Uma enorme fogueira ar¬dia no pátio lá embaixo, para manter afastados os terrores da escuridão, e os homens da rai¬nha encontravam-se reunidos ao seu redor, cantando louvores ao seu novo deus vermelho.
    Estavam no centro da ponte quando Sor Axell parou subitamente. Fez um gesto brusco com a mão, e seus homens afastaram-se para onde não pudessem ouvi-los.
    - Se a escolha fosse minha, queimaria você com o meu irmão Alester - disse a Davos. - São ambos traidores.
    - Diga o que quiser. Eu nunca trairia o Rei Stannis.
    - Trairia. Trairá. Vejo em seu rosto. E também vi nas chamas. R'hllor abençoou-me com esse dom. Tal como à Senhora Melisandre, mostra-me o futuro no fogo. Stannis Baratheon irá sentar no Trono de Ferro. Eu vi. E sei o que tem de ser feito. Sua Graça precisa fazer de mim sua Mão, no lugar de meu irmão traidor. E você vai lhe dizer exata¬mente isso.
    Ah, vou? Davos nada disse.
    - A rainha pediu a minha nomeação - prosseguiu Sor Axell. - Até seu velho amigo de Lys, o pirata Saan, até ele diz o mesmo. Construímos juntos um plano, ele e eu. Mas Sua Graça não age. A derrota o corrói por dentro, um verme negro em sua alma. Cabe a nós, os que o amamos, mostrar-lhe o que fazer. Se é tão devotado à sua causa como diz, contra¬bandista, irá juntar sua voz à nossa. Diga-lhe que eu sou a única Mão de que ele necessita. Diga-lhe e, quando zarparmos, vou me assegurar de que você tenha um novo navio.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 9:57 am

    Um navio. Davos estudou o rosto do outro. Sor Axell tinha grandes orelhas Florent, muito semelhantes às da rainha. Pelos ralos cresciam nelas, tal como nas narinas; mais pelos brotavam em tufos e manchas por baixo de seu queixo duplo. Seu nariz era largo e a testa, proeminente, os olhos eram juntos e hostis. Ele antes me daria uma pira do que um navio, joi o que afirmou, mas se lhe fizer esse favor...
    - Se acha que pode me trair - disse Sor Axell rogo que se lembre de que sou castelão de Pedra do Dragão há muito tempo. A guarnição é minha. Talvez não possa queimá-lo sem o consentimento do rei, mas quem dirá que não poderia sofrer uma queda? - apoiou uma mão carnuda na parte de trás do pescoço de Davos e empurrou- -o com força contra a balaustrada da ponte, que chegava à cintura, e depois empurrou com um pouco mais de força, para obrigar sua cabeça a projetar-se sobre o pátio. - Está me ouvindo?
    - Estou - disse Davos. E atreve-se a me chamar de tratdor?
    Sor Axell largou-o.
    - Ótimo. - Sorriu. - Sua Graça aguarda. E melhor não o fazermos esperar.
    Bem no topo do Tambor de Pedra, dentro da grande sala redonda chamada Câma¬ra da Mesa Pintada, foram encontrar Stannis Baratheon em pé, atrás do objeto que dava nome ao salão, uma maciça prancha de madeira esculpida e pintada com a forma de Westeros, tal como havia sido nos tempos de Aegon, o Conquistador. Um braseiro de ferro estava ao lado do rei, com as brasas brilhando num tom laranja avermelhado. Quatro janelas altas e pontiagudas olhavam para norte, sul, leste e oeste. Para além de¬las ficava a noite e o céu estrelado, Davos ouvia o vento em movimento e, mais baixos, os sons do mar.
    - Vossa Graça - disse Sor Axell -, segundo as suas ordens, trouxe o Cavaleiro das Cebolas.
    - Estou vendo que sim. - Stannis usava uma túnica de lã cinza, um manto vermelho- -escuro e um cinto simples de couro negro, de onde pendiam a espada e o punhal. Uma coroa de ouro vermelho com pontas em forma de chama rodeava sua testa. Sua aparência foi um choque. Parecia dez anos mais velho do que o homem que Davos tinha deixado em Ponta Tempestade quando zarpou para a Água Negra e para a batalha que seria a ruína deles. A barba do rei, aparada rente, incluía vários pelos grisalhos, e ele tinha perdi¬do quinze quilos ou mais. Nunca foi um homem carnudo, mas, agora, os ossos moviam- -se sob a sua pele como lanças, lutando para atravessá-la. Até a coroa parecia grande demais para a sua cabeça. Os olhos eram poços azuis perdidos em profundas covas, e conseguia-se ver a forma do crânio sob o rosto.
    Mas quando viu Davos, um tênue sorriso roçou seus lábios.
    - Então o mar devolveu-me meu cavaleiro do peixe e das cebolas.
    - Devolveu, Vossa Graça. - Será que sahe que me tinha numa masmorra? Davos ajoelhou-se.
    - Levante-se, Sor Davos - ordenou Stannis. - Senti sua falta, sor. Tenho necessidade de bons conselhos, e você nunca me deu outra coisa. Portanto, diga-me a verdade: qual é a pena por traição?
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 9:58 am

    A palavra pairou no ar. Uma palavra medonha, pensou Davos. Estaria sendo pedido a ele que condenasse o companheiro de cela? Ou talvez a si próprio? 05 reis conhecem melhor do que qualquer outro homem a pena por traição.
    - Traição? - conseguiu enfim dizer, em voz fraca.
    -De que mais chamaria renegar o rei e tentar roubar o trono que é dele por direito? Volto a perguntar: qual é a pena por traição, segundo a lei?
    Davos não tinha alternativa exceto responder.
    - A morte - disse. - A pena é a morte, Vossa Graça.
    - Sempre foi assim- Eu não sou... um homem cruel, Sor Davos. Conhece-me. Conhece-me há muito tempo. Este decreto não é meu. Sempre foi assim, desde os tem¬pos de Aegon, e mesmo antes. Daemon Blackfyre, os irmãos Toyne, o Rei Abutre, o Grande Meistre Hareth... traidores sempre pagaram com a vida... até Rhaenyra Targa- ryen. Era filha de um rei e mãe de mais dois, e no entanto teve uma morte de traidora por tentar usurpar a coroa do irmão. E a lei. Lei, Davos. Não crueldade.
    - Sim, Vossa Graça. - Ele nãojala de mim. Davos sentiu um momento de compaixão por seu companheiro de cela, lá embaixo, no escuro. Sabia que deveria manter silêncio, mas estava cansado e doente até o âmago, e ouviu-se dizer: - Senhor, Lorde Florent não pretendeu trair.
    - Os contrabandistas têm outro nome para o ato? Fiz dele Mão, e ele teria ven¬dido meus direitos por uma tigela de creme de ervilhas. Até lhes teria dado Shireen. Minha única filha, que ele teria casado com um bastardo nascido do incesto. - A voz do rei estava carregada de fúria. - Meu irmão tinha um dom para inspirar lealdade. Até nos adversários. Em Solarestival ganhou três batalhas num só dia, e trouxe Lor¬de Grandison e Lorde Cafferen para Ponta Tempestade como prisioneiros. Pendu¬rou seus estandartes como troféus no salão. Os corços brancos de Cafferen estavam manchados de sangue, e o leão adormecido de Grandison encontrava-se quase rasga¬do em dois. E, no entanto, eles passavam noites sentados por baixo desses estandar¬tes, bebendo e festejando com Robert. Até os levou à caça. "Esses homens queriam entregá-lo a Aerys para ser queimado", eu disse-lhe depois de vê-los arremessando machados no pátio. "Não devia pôr machados em suas mãos." Robert limitou-se a rir. Eu teria atirado Grandison e Cafferen numa masmorra, mas ele transformou-os em amigos. Lorde Cafferen morreu no Castelo de Vaufreixo, abatido por Randyll Tarly enquanto lutava por Robert. Lorde Grandison foi ferido no Tridente e morreu em decorrência disso um ano mais tarde. Meu irmão fez com que o amassem, mas, ao que parece, eu só inspiro traição. Até no meu próprio sangue e família. Irmão, avô, primos, tio da esposa...
    - Vossa Graça - disse Sor Axell -, eu imploro, dê-me a oportunidade de lhe provar que nem todos os Florent são assim tão fracos.
    - Sor Axell gostaria de me levar a retomar a guerra - disse o Rei Stannis a Davos. - Os Lannister acham que estou acabado e derrotado, e os senhores meus vassalos abandonaram-me, quase todos. Até Lorde Estermont, pai de minha própria mãe, dobrou o joelho a Joffrey. Os poucos
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 9:58 am

    homens leais que me restam vão perdendo o ânimo. Des¬perdiçam seus dias bebendo e jogando e lambem as feridas como vira-latas enxotados.
    - A batalha voltará a incendiar seus corações, Vossa Graça - disse Sor Axell. - A derrota é uma doença, e a vitória é a cura.
    - Vitória. - A boca do rei retorceu-se. - Há vitórias e vitórias, sor. Mas conte o seu plano a Sor Davos. Quero ouvir o que ele pensa do que você propõe.
    Sor Axell virou-se para Davos, com uma expressão no rosto bem próxima à expressão que o orgulhoso Lorde Belgrave deve ter feito no dia em que o Rei Baelor, o Abençoado, lhe ordenou que lavasse os pés ulcerados do pedinte. Apesar disso, obedeceu.
    O plano que Sor Axell concebera com Salladhor Saan era simples. A algumas horas de viagem de Pedra do Dragão estava a Ilha da Garra, sede marítima ancestral da Casa Celtigar. Lorde Ardrian Celtigar lutara sob o coração flamejante na Água Negra, mas, depois de capturado, não perdeu tempo até passar para o lado de JofFrey. Ainda perma¬necia em Porto Real.
    - Com medo demais da fúria de Sua Graça para se aproximar de Pedra do Dragão, sem dúvida - declarou Sor Axell. - E sensatamente. O homem traiu seu legítimo rei.
    Sor Axell propunha usar a frota de Salladhor Saan e os homens que escaparam da Água Negra - Stannis ainda tinha cerca de mil e quinhentos homens em Pedra do Dra¬gão, mais de metade dos quais pertenciam aos Florent - a fim de exigir compensação pela deserção de Lorde Celtigar. A Ilha da Garra tinha uma guarnição leve, e dizia-se que o castelo estava recheado de tapetes de Myr, vidro volanteno, baixelas de ouro e prata, taças cravejadas de jóias, magníficos falcões, um machado de aço valiriano, um berrante que era capaz de invocar monstros vindos das profundezas, baús de rubis, e mais vinho do que um homem conseguiria beber em cem anos. Embora o Celtigar tivesse mostrado ao mundo um rosto avarento, nunca impusera limites ao seu próprio conforto.
    - Sugiro que imponha a tocha ao seu castelo e a espada ao seu povo - concluiu Sor Axell. - Que deixe a Ilha da Garra numa desolação de cinzas e ossos, adequada apenas para gralhas pretas, para que o reino veja o destino que aguarda aqueles que se deitam na cama dos Lannister.
    Stannis ouviu em silêncio a récita de Sor Axell, mexendo lentamente o maxilar de um lado para o outro. Quando terminou de ouvir, disse:
    - Creio que pode ser realizado. O risco é pequeno. JofFrey não tem força no mar até que Lorde Redwyne zarpe da Árvore. O saque pode servir para manter leal esse pirata liseno do Salladhor Saan durante algum tempo. A Ilha da Garra em si não tem valor algum, mas sua queda pode servir de aviso ao Lorde Tywin que a minha causa ainda não está acabada. - O rei virou-se de novo para Davos. - Fale a verdade, sor. O que acha da proposta de Sor Axell?
    Fale a verdade, sor. Davos lembrou-se da cela escura que dividira com Lorde Alester, lembrou-se de Lampreia e de Mingau. Pensou nas promessas que Sor Axell havia feito na ponte por cima do pátio, Um navio ou um empurrão, o que será? Mas aquele que per¬guntava era Stannis.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 9:58 am

    - Vossa Graça - disse lentamente acho uma loucura... sim, e uma covardia.
    - Covardia? - Sor Axell quase gritou, - Ninguém me chama de covarde perante meu
    rei!
    - Silêncio - ordenou Stannis. - Sor Davos, prossiga, quero ouvir suas razões.
    Davos virou-se para encarar Sor Axell.
    - Diz que devíamos mostrar ao reino que ainda não estamos acabados. Dar um golpe. Sim, fazer a guerra... mas com que inimigo? Não vai encontrar nenhum Lannister na Ilha da Garra,
    - Encontraremos traidores ~ disse Sor Axell se bem que eu possa até encontrar alguns mais perto de casa, Até mesmo nesta sala.
    Davos ignorou a provocação.
    - Não duvido de que Lorde Celtigar tenha dobrado o joelho ao jovem JofFrey. E um homem velho e acabado, que nada mais deseja do que terminar seus dias no seu castelo, bebendo seu bom vinho de uma de suas taças cravejadas de jóias. - Voltou-se novamente para Stannis. - E, no entanto, veio quando o chamou, senhor. Veio, com seus navios e suas espadas. Esteve ao seu lado em Ponta Tempestade quando Lorde Renly caiu sobre nós, e seus navios subiram a Água Negra. Seus homens lutaram pelo senhor, mataram pelo senhor, arderam pelo senhor. A Ilha da Garra tem fracas defesas, sim. E defendida por mulheres, crianças e velhos, E por quê? Porque seus maridos, filhos e pais morreram na Água Negra, eis o porquê. Morreram nos remos, ou com espadas nas mãos, lutando sob as nossas bandeiras. E, no entanto, Sor Axell propõe que ataquemos as casas que eles deixaram para trás, que violemos suas viúvas e que submetamos seus filhos à espada. Essas pessoas não são traidoras...
    - Mas são - insistiu Sor Axell. - Nem todos os homens de Celtigar foram mortos na Água Negra. Centenas foram capturados com o seu senhor e dobraram o joelho quando ele o fez.
    - Quando ele o fez - repetiu Davos. - Eram seus homens. Estavam juramentados a ele, Que alternativa foi dada a eles?
    - Todo homem tem alternativas. Podiam ter se recusado. Alguns se recusaram e mor¬reram por isso. Mas morreram honestos e leais.
    - Alguns homens são mais fortes do que outros. - Era uma resposta fraca, e Davos sabia disso. Stannis Baratheon era um homem com determinação de ferro, que nem com¬preendia nem perdoava a fraqueza nos outros. Estou perdendo, pensou, desesperando-se.
    - E dever de todos os homens permanecerem leais ao seu legítimo rei, mesmo se o se¬nhor que servem se revela falso - declarou Stannis num tom que não admitia discussões.
    Um desvario desesperado dominou Davos, uma temeridade próxima da loucura.
    - Tal como o senhor permaneceu leal ao Rei Aerys quando seu irmão convocou os vassalos? - deixou escapar.
    Seguiu-se um pesado silêncio, até que Sor Axell gritou:
    - Traição! - e desembainhou o punhal. - Vossa Graça, ele diz essa infâmia na sua cara!
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 9:58 am

    Davos ouvia Stannis rangendo os dentes. Uma veia latejava, azul e inchada, na testa
    do rei. Os olhos dos dois encontraram-se.
    - Guarde essa faca, Sor Axell. E deixe-nos.
    - Se Vossa Graça desejar...
    - Desejo que vá embora - disse Stannis. - Saia da minha presença e mande-me Me¬lisandre,
    - Às suas ordens. - Sor Axell voltou a embainhar a faca, fez uma reverência e apressou-se em direção à porta. Suas botas ressoavam contra o chão, furiosas.
    - Sempre abusou de minha indulgência - preveniu-o Stannis quando ficaram sozinhos. - Posso encurtar sua língua tão facilmente como encurtei seus dedos, contrabandista.
    - Eu pertenço ao senhor, Vossa Graça. Por isso a língua é sua, para fazer com ela o que quiser.
    - Pois é - disse ele, mais calmo. - E eu quero que ela fale a verdade. Mesmo que a verdade às vezes tenha um gosto amargo. Aerys? Se soubesse... essa foi uma escolha difí¬cil. Meu sangue ou meu suserano. Meu irmão ou meu rei. - Fez uma careta. - Alguma vez viu o Trono de Ferro? As farpas no encosto, as fitas de aço retorcido, as pontas espe¬tadas de espadas e facas, todas emaranhadas e derretidas? Não é um assento confortável, sor. Aerys cortava-se tantas vezes que os homens começaram a chamá-lo de Rei Crosta, e Maegor, o Cruel, foi assassinado nessa cadeira. Por essa cadeira, segundo a versão que alguns contam. Não é assento em que um homem possa descansar descontraído. Muitas vezes me pergunto por que será que meus irmãos o desejaram tão desesperadamente.
    - Então por que é que o senhor o deseja? - perguntou-lhe Davos.
    - Não é questão de desejo. O trono é meu, como herdeiro de Robert. Essa é a lei. Depois de mim, deve passar para a minha filha, a menos que Selyse finalmente me dê um filho. - Passou três dedos levemente pela mesa, sobre as camadas de verniz liso e duro, escurecido pela idade. - Eu sou rei. Os quereres não entram nisso. Tenho um dever para com a minha filha. Para com o reino. Até para com Robert. Ele gostava pouco de mim, eu sei, mas era meu irmão. A mulher Lannister pôs os chifres nele e fez dele um bobo vestido de xadrez. Até pode tê-lo assassinado, tal como assassinou Jon Arryn e Ned Stark. Para crimes assim tem de haver justiça. Começando por Cersei e suas abomina- ções. Mas só para começar. Pretendo esfregar aquela corte até ficar limpa. Como Robert devia ter feito, depois do Tridente. Sor Barristan disse-me uma vez que a podridão no reinado do Rei Aerys começou com Varys. O eunuco nunca devia ter sido perdoado. Tal como o Regicida. No mínimo, Robert devia ter arrancado de Jaime o manto branco e en¬viado o homem para a Muralha, como Lorde Stark lhe pediu. Em vez disso, deu ouvidos a Jon Arryn. Eu ainda estava em Ponta Tempestade, sob cerco e sem ser consultado, - Virou-se abruptamente, para lançar a Davos um olhar duro e astuto. - E agora a verdade. Por que quis assassinar a Senhora Melisandre?
    Então ele sabe. Davos não podia mentir.
    - Quatro de meus filhos arderam na Água Negra. Ela entregou-os às chamas.
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    Mensagem  Admin Qui maio 31, 2012 9:59 am

    - Está sendo injusto com Melisandre. Aqueles incêndios não foram obra dela. Amal¬diçoe o Duende, amaldiçoe os piromantes, amaldiçoe aquele idiota do Florent que avan¬çou com a minha frota para dentro das mandíbulas de uma armadilha. Ou amaldiçoe- -me por meu orgulho obstinado, por mandá-la embora quando mais precisava dela. Mas Melisandre não. Ela continua sendo minha fiel servidora.
    - Meistre Cressen era seu fiel servidor. Ela matou-o, tal como matou Sor Cortnay Penrose e seu irmão Renly.
    - Agora soa como um tolo - protestou o rei. - Ela viu o fim de Renly nas chamas, sim, mas não desempenhou nele um papel maior do que eu. A sacerdotisa estava na mi¬nha companhia. Seu Devan poderá confirmar. Pergunte a ele, se duvida de mim. Ela teria poupado Renly se tivesse podido. Foi Melisandre quem me pediu para me encontrar com ele e lhe dar uma última chance de reparar sua traição. E foi Melisandre quem me disse para mandar buscar você quando Sor Axell quis entregá-lo a R'hIlor. - Deu um fino sor¬riso. - Isso o surpreende?
    - Sim. Melisandre sabe que não sou amigo dela ou de seu deus vermelho.
    - Mas é meu amigo. Ela também sabe disso. - Fez sinal para que Davos se aproxi¬masse, - O garoto está doente. Meistre Pylos tem andado sangrando-o.
    - O garoto? - os pensamentos de Davos rumaram ao seu Devan, o escudeiro do rei. - Meu filho, senhor?
    - Devan? Bom garoto. Tem nele muito de você. É o bastardo de Robert que está do¬ente, o garoto que encontramos em Ponta Tempestade.
    Edric Storm.
    - Falei com ele no Jardim de Aegon.
    -Tal como ela quis. Tal como ela viu, - Stannis suspirou. - O garoto encantou- -o? Tem esse dom. Tirou isso do pai, com o sangue. Sabe que é filho de um rei, mas prefere esquecer que é ilegítimo. E adora Robert, tal como Renly adorava quando era novo. O meu real irmão se fazia de pai amigo durante as suas visitas a Ponta Tem¬pestade, e havia presentes... espadas, pôneis e mantos forrados de peles. Trabalho do eunuco, todos eles, O garoto escrevia para a Fortaleza Vermelha, cheio de agradeci¬mentos, e Robert ria e perguntava a Varys o que tinha enviado naquele ano. Renly não era melhor. Deixou a educação do garoto a castelões e meistres, e todos eles caíram vítimas de seu encanto. Penrose preferiu morrer a entregá-lo. - O rei rangeu os dentes. - Isso ainda me enfurece. Como ele pôde pensar que eu iria fazer mal ao garoto? Escolhi Robert, não escolhi? Quando esse duro dia chegou. Escolhi o sangue em detrimento da honra.
    Ele não usa o nome do garoto. Isso deixou Davos muito desconfortável.
    - Espero que o jovem Edric se recupere rapidamente.
    Stannis sacudiu uma mão, colocando de lado a sua preocupação.

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