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    Parte 2 3 realm

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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:20 pm

    os estreitos limites do pavilhão nem por mais um momento. Quero sentir o vento no rosto e o aroma do mar.
    - Missandei - chamou mande selar a minha prata. E a sua montaria também.
    A pequena escriba fez uma reverência.
    - Às ordens de Vossa Graça. Deverei chamar seus companheiros de sangue para guardá-la?
    - Levaremos Arstan. Náo pretendo deixar os acampamentos. - Não tinha inimigos entre seus filhos. E o velho escudeiro não falaria em excesso, como Belwas, nem a olharia como Daario.
    O bosque de oliveiras queimadas onde montara o pavilhão ficava junto ao mar, entre o acampamento dothraki e o dos Imaculados. Assim que os cavalos foram selados, Dany e os companheiros seguiram ao longo da orla, para longe da cidade. Mesmo assim, sentia Meereen nas costas, zombando dela. Quando olhou por sobre um ombro, ali estava ela, com o sol da tarde refulgindo na harpia de bronze no topo da Grande Pirâmide. Dentro de Meereen, os senhores de escravos iam se reclinar em breve, vestidos com seus tokars debruados, para se banquetearem com carneiro e azeitonas, fetos de cachorro, arganazes com mel e outros acepipes do gênero, enquanto aqui fora seus filhos passavam fome. Uma súbita e violenta fúria encheu-a. Vou derrotá-los, jurou.
    Ao passarem pelas estacas e fossos que rodeavam o acampamento dos eunucos, Dany ouviu Verme Cinzento e seus sargentos fazendo uma companhia passar por uma série de exercícios com escudo, espada curta e lança pesada. Outra companhia banhava-se no mar, vestida apenas com tangas de linho branco. Tinha reparado que os eunucos eram muito asseados. Alguns de seus mercenários cheiravam como se não tivessem tomado banho ou trocado de roupa desde que o pai havia perdido o Trono de Ferro, mas os Imaculados tomavam banho todas as noites, mesmo depois de passarem o dia inteiro em marcha. Quando não havia água disponível, limpavam-se com areia, ao modo dothraki.
    Os eunucos ajoelharam à sua passagem, levando punhos fechados ao peito. Dany de¬volveu a saudação. A maré estava subindo, e a rebentação espumou em volta das patas de sua prata. Via seus navios ao largo. Balerion era o mais próximo; a grande coca anterior¬mente conhecida como Saduleon, de velas enroladas. Mais além encontravam-se as galés Meraxes e Vhagar, antes chamadas Partida de Joso e Sol de Verão. Na verdade os navios pertenciam ao Magíster Illyrio, e não a ela, e no entanto tinha lhes dado novos nomes quase sem pensar no assunto, Nomes de dragões, e mais do que isso; na antiga Valíria, de antes da Perdição, Balerion, Meraxes e Vhagar tinham sido deuses.
    A sul do reino ordenado de estacas, fossos, exercícios e eunucos tomando banho fi¬cavam os acampamentos de seus libertos, um lugar muito mais ruidoso e caótico. Dany tinha armado o melhor que pôde os ex-escravos, com armas de Astapor e Yunkai, e Sor Jorah organizou os homens capazes de lutar em quatro fortes companhias, mas não viu ali ninguém se exercitando. Passaram por uma fogueira feita com madeira trazida pelo mar, onde uma centena de pessoas se reunira para assar a carcaça de um cavalo. Sentia o odor da carne e ouvia a gordura chiando enquanto os assadores viravam o espeto, mas a cena só a fez franzir a testa.
    Crianças corriam sob os cavalos do grupo, saltando e gargalhando. Em vez de sauda¬ções, vozes chamavam-na de todos os lados numa balbúrdia de idiomas. Alguns dos li¬bertos saudavam-na como "Mãe", enquanto outros suplicavam mercês ou favores. Alguns rezavam para que estranhos deuses a abençoassem e outros pediam que ela abençoasse a eles. Ela sorria para eles, virando-se para a esquerda e para a direita, tocando suas mãos quando as erguiam, deixando que aqueles que ajoelhavam tocassem seu estribo ou sua perna. Muitos dos libertos acreditavam que havia boa sorte em seu toque. Se os ajuda a obter coragem, que me toquem, pensou, Ainda temos duros desafios pela frente.
    Dany havia parado para falar com uma grávida que queria que a Mãe de Dragões desse um nome ao seu bebê quando alguém se aproximou e agarrou seu pulso esquerdo. Virando-se, vislumbrou um homem alto e esfarrapado com a cabeça raspada e o rosto queimado pelo sol.
    - Com menos força - ela começou a dizer, mas antes de conseguir terminar, ele derrubou-a da sela, O chão avançou sobre si e fez com que perdesse o fôlego, en¬quanto sua prata relinchava e recuava. Atordoada, Dany rolou para o lado e apoiou- -se num cotovelo...
    ... e então viu a espada.
    - Aí está a porca traiçoeira - disse ele, - Eu sabia que acabaria vindo um dia para receber beijos nos pés. - Sua cabeça era calva como um melão, o nariz era vermelho e descascava, mas Dany conhecia aquela voz e aqueles olhos verde-claros. - Vou começar cortando suas tetas. - Dany estava vagamente consciente da voz de Missandei gritan¬do por ajuda. Um liberto deu um passo adiante, mas só um passo. Um golpe rápido e caiu de joelhos, com sangue escorrendo pelo rosto. Mero limpou a espada nos calções. - Quem é o próximo?
    - Sou eu. - Arstan Barba-Branca saltou do cavalo e colocou-se por cima dela, com o vento salgado fazendo ondular seus cabelos brancos como neve, e com ambas as mãos no grande bastão de madeira rija,
    - Avô - disse Mero -, fuja antes que eu parta seu cajado em dois e o enfie no seu...
    O velho fez uma finta com uma das pontas do bastão, puxou-a para trás, e brandiu
    a outra mais depressa do que Dany teria acreditado ser possível. O Bastardo do Titã cambaleou para trás, na direção da rebentação, cuspindo sangue e dentes quebrados da ruína de sua boca. Barba-Branca colocou Dany atrás de si. Mero lançou uma estocada no seu rosto. O velho saltou para trás, rápido como um gato. O bastão atingiu as coste¬las de Mero, fazendo-o recuar, Arstan chapinhou para o lado, parou um golpe em arco, afastou-se, dançando, de uma segunda investida, bloqueou um terceiro golpe no meio do caminho. Os movimentos eram tão rápidos que a garota quase não conseguia segui-los. Missandei estava ajudando Dany a ficar em pé quando esta ouviu um crac. Julgou que o bastão de Arstan tinha se partido até ver o osso irregular que se projetava da panturrilha de Mero. Ao cair, o Bastardo do Titã torceu-se e atacou, enviando a ponta da espada di¬retamente contra o peito do velho. Barba-Branca afastou sua lâmina quase com desprezo e atingiu violentamente a têmpora do grandalhão com a outra ponta do bastão. Mero estatelou-se, com sangue a borbulhar de sua boca enquanto as ondas o submergiam. Um momento mais tarde os libertos também o submergiram, com facas, pedras e punhos furiosos subindo e descendo num frenesi.
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:20 pm

    Dany afastou o olhar, nauseada. Sentia-se mais assustada agora do que enquanto os acontecimentos decorriam. Ele podia ter me matado.
    - Vossa Graça - Arstan ajoelhou. - Sou um velho, e estou envergonhado. Ele nunca devia ter se aproximado o suficiente para agarrá-la. Fui negligente. Não o reconheci sem a barba e os cabelos.
    - Assim como eu. - Dany respirou fundo para parar de tremer. Inimigos por todo lado. - Leve-me de volta à minha tenda. Por favor.
    Quando Mormont chegou, estava enrolada em sua pele de leão, bebendo uma taça de vinho com especiarias.
    - Examinei a muralha do rio - Sor Jorah começou a dizer. - É alguns centímetros mais alta do que as outras, e igualmente forte. E os meereeneses têm uma dúzia de barcos de fogo amarrados sob os baluartes...
    Ela interrompeu-o.
    - Podia ter me avisado de que o Bastardo do Titã tinha escapado.
    Ele franziu a testa.
    - Não vi necessidade de alarmá-la, Vossa Graça. Ofereci uma recompensa pela cabe¬ça dele...
    - Pague-a ao Barba-Branca. Mero tem nos acompanhado o tempo todo desde Yunkai. Raspou a barba e perdeu-se entre os libertos, aguardando uma oportunidade de vingana. Arstan matou-o.
    Sor Jorah dirigiu ao velho um longo olhar.
    - Um escudeiro com um bastão matou Mero de Bravos, foi isso que aconteceu?
    - Um bastão - confirmou Dany -, mas não mais um escudeiro. Sor Jorah, é meu desejo que Arstan seja armado cavaleiro.
    -Não.
    A sonora recusa já era bastante surpreendente. Mais estranho ainda foi vir de ambos os homens ao mesmo tempo.
    Sor Jorah puxou a espada.
    - O Bastardo do Titã era um homem perigoso. E bom em matar. Quem é você, velho?
    - Um cavaleiro melhor do que você, sor - disse friamente Arstan.
    Cavaleiro? Dany sentia-se confusa.
    - Disse que era um escudeiro.
    - E fui, Vossa Graça. - O velho ajoelhou-se. - Fui escudeiro de Lorde Swann na minha juventude, e a pedido do Magíster Illyrio servi também Belwas, o Forte. Mas du¬rante os anos que se passaram entre uma coisa e outra, fui um cavaleiro em Westeros. Não lhe disse mentiras, minha rainha. No entanto, há verdades que calei, e por isso e por todos os meus outros pecados só posso lhe pedir perdão.
    - Que verdades calou? - Dany não estava gostando daquilo. - Vai me dizer. Já.
    Ele inclinou a cabeça.
    - Em Qarth, quando perguntou meu nome, disse-lhe que me chamavam Arstan. Isso é verdade. Muitos homens me chamaram por esse nome enquanto Belwas e eu nos diri¬gíamos para leste ao seu encontro. Mas não é o meu verdadeiro nome.
    Dany estava mais confusa do que zangada. Ele enganou-me, tal como Jorah me avisou, e no entanto acabou de salvar minha vida.
    Sor Jorah enrubesceu.
    - Mero raspou a barba, mas você deixou crescer uma, não é verdade? Não é à toa que parece tão familiar para mim...
    - Conhece-o? - perguntou Dany ao cavaleiro exilado, perdida.
    - Vi-o talvez uma dúzia de vezes... de longe, geralmente, quando estava na com¬panhia dos irmãos ou participando de algum torneio. Mas todos os homens dos Sete
    Reinos conheceram Barristan, o Ousado. - Encostou a ponta da espada no pescoo do velho. - Khaleesi, perante a senhora ajoelha-se Sor Barristan Selmy, Senhor Comandante da Guarda Real, que traiu a sua Casa para servir o Usurpador Robert Baratheon.
    O velho cavaleiro sequer pestanejou.
    - O corvo chama de preto o melro, e você fala de traição.
    - Por que está aqui? - perguntou-lhe Dany. - Se Robert o enviou para me matar, por que salvou minha vida? - Ele serviu ao Usurpador. Ele traiu a memória de Rhaegar e aban¬donou Viserys para viver e morrer no exílio. Mas se quisesse me ver morta, teria precisado apenas ficar de lado... - Agora quero a verdade completa, por sua honra de cavaleiro. E um homem do Usurpador, ou meu?
    - Seu, se me aceitar. - Sor Barristan tinha lágrimas nos olhos. - Aceitei o perdão de Robert, é verdade. Servi-o na Guarda Real e no Conselho. Servi com o Regicida e outros quase tão maus, que mancharam o manto branco que eu usava. Nada poderá perdoar isso. Eu poderia continuar servindo em Porto Real se o vil rapaz sentado no Trono de Ferro não tivesse me posto de lado, envergonha-me admitir. Mas quando ele tirou o manto que o Touro Branco prendeu em volta de meus ombros e mandou homens para me matar nesse mesmo dia, foi como se tivesse tirado uma membrana da frente de meus olhos. Foi então que soube que tinha de procurar meu verdadeiro rei, e morrer a serviço dele...
    - Posso conceder esse desejo - disse sombriamente Sor Jorah.
    - Silêncio - disse Dany. - Quero ouvir o que ele tem a dizer.
    - Talvez tenha de morrer uma morte de traidor - disse Sor Barristan. - Se assim for, não deverei morrer só. Antes de receber o perdão de Robert, lutei contra ele no Tridente. Você estava do outro lado da batalha, Mormont, não é verdade? - Não esperou por uma resposta. - Vossa Graça,
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:20 pm

    lamento tê-la induzido ao erro. Foi a única forma de evitar que os Lannister soubessem que tinha me juntado à senhora. E vigiada, tal como seu irmão era. Lorde Varys relatou durante anos cada movimento de Viserys. Enquanto fiz parte do pequeno conselho, ouvi uma centena de tais relatórios, E desde o dia em que desposou Khal Drogo tem um informante ao seu lado, vendendo seus segredos, trocando sussur¬ros com a Aranha por ouro e promessas.
    Ele não pode querer dizer...
    - Está enganado. - Dany olhou para Jorah Mormont. - Diga-lhe que está enganado. Não há nenhum informante. Sor Jorah, diga-lhe. Atravessamos juntos o mar dothraki e o deserto vermelho... - Sentia o coração rodopiar como um pássaro apanhado numa armadilha. - Diga-lhe, Jorah. Diga-lhe como entendeu tudo errado.
    - Que os Outros o carreguem, Selmy. - Sor Jorah atirou a espada no tapete. - Khaleesi, foi apenas no início, antes de começar a conhecê-la... antes de começar a amá...
    - Não diga essa palavra! - afastou-se dele. - Como pôde Jazer isso? O que o Usur¬pador lhe prometeu? Ouro, foi ouro? - os Imorredouros tinham dito que ela seria traída mais duas vezes, uma por ouro e outra por amor. - Diga-me o que lhe foi prometido!
    - Varys disse... que eu poderia ir para casa. - Baixou a cabeça.
    Eu ia levá-lo para casa! Os dragões pressentiram a sua fúria. Viserion rugiu e uma fumaça cinza subiu de seu focinho. Drogon bateu o ar com asas negras e Rhaegal torceu a cabeça para trás e arrotou uma chama. Devia dizer a palavra e queimar os dois. Náo ha¬veria ninguém em que pudesse confiar? Ninguém que a mantivesse em segurança?
    - Serão todos os cavaleiros de Westeros tão falsos como vocês dois? Saiam, antes que os meus dragões assem ambos. Qual é o cheiro de mentiroso assado? Cheirará tão mal quanto os esgotos de Ben Mulato? Vão!
    Sor Barristan levantou-se, hirto e lento. Pela primeira vez, pareceu ter a idade que tinha.
    - Para onde devemos ir, Vossa Graça?
    - Para o inferno, servir o Rei Robert. - Dany sentiu lágrimas quentes nas bochechas. Dragon gritou, brandindo a cauda de um lado para o outro. - Que os Outros os carre¬guem. - Vão, vão embora para sempre, vocês dois, da próxima vez que vir suas caras cortarei essas suas cabeças de traidores. Mas não conseguiu dizer tais palavras. Eles me traíram. Mas me salvaram. Mas mentiram. - Vão... - Meu urso, meu feroz e forte urso, o que farei sem ele? E o velho, amigo de meu irmão. - Vão... vão... - Para onde?
    E então soube.
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:21 pm

    Tyrion 681


    Tyrion vestiu-se na escuridão, escutando a respiração suave da esposa que vinha da cama que dividiam. Ela sonha, pensou, quando Sansa murmurou qualquer coisa em voz baixa - um nome, talvez, embora fosse tênue demais para ter certeza - e se virou para o lado. Como marido e mulher, dividiam uma cama de casados, mas era tudo. Até as lágrimas guarda para si.
    Esperava angústia e ira quando lhe contou da morte do irmão, mas o rosto de Sansa permaneceu tão imóvel que por um momento temeu que ela não tivesse compreendido. Foi só mais tarde, com uma pesada porta de carvalho entre ambos, que a ouviu soluçar. Tyrion então pensou em ir até ela, para lhe oferecer o conforto que pudesse, Não, teve de lembrar a si mesmo, ela não procurará consolo num Lannister, O máximo que podia fazer era protegê-la dos detalhes mais feios do Casamento Vermelho que continuavam a che¬gar das Gêmeas. Tinha decidido que Sansa não precisava ouvir como o corpo do irmão havia sido cortado e mutilado; nem como o cadáver da mãe fora atirado nu ao Ramo Verde numa zombaria selvagem dos costumes funerários da Casa Tully. A última coisa de que a garota precisava era mais alimento para seus pesadelos.
    Mas não era o bastante. Tinha enrolado seu manto em volta dos ombros dela e jurado protegê-la, mas isso era uma brincadeira tão cruel quanto a coroa que os Frey tinham colocado sobre a cabeça do lobo gigante de Robb Stark depois de a coserem ao seu cadá¬ver decapitado. Sansa também sabia disso. O modo como o olhava, sua rigidez quando subia para a cama... quando estava com ela, nem por um instante conseguia se esquecer de quem era, e do que era. Tal como ela não esquecia. A garota continuava indo todas as noites ao bosque sagrado rezar, e Tyrion imaginava se estaria rezando pela sua morte. Ela tinha perdido o lar, o seu lugar no mundo, e todos aqueles que alguma vez amara ou em quem confiara. O inverno está chegando, avisava o lema dos Stark, e realmente tinha chegado a eles com uma vingança. Mas é o auge do verão para a Casa Lannister. Então por que sinto este maldito frio?
    Enfiou as botas, prendeu o manto com um broche de cabeça de leão e deslizou para o salão iluminado por archotes. Pelo menos havia uma vantagem no seu casamento; permitira-lhe fugir da Fortaleza de Maegor. Agora que tinha esposa e criados, o senhor seu pai concordara que necessitava de instalações mais adequadas, e Lorde Gyles viu-se abruptamente despojado de seus espaçosos aposentos no topo da Fortaleza das Cozi¬nhas. E que magníficos aposentos eram, com um grande quarto de dormir e um aposento
    privado de tamanho adequado, uma sala de banhos e um quarto de vestir para a esposa, e pequenos quartos adjacentes para Pod e para as aias de Sansa. Até a cela de Bronn, perto da escada, tinha uma espécie de janela. Bem, é mais uma fenda para arqueiros, mas deixa a luz entrar. A cozinha principal do castelo ficava bem do outro lado do pátio, era verdade, mas Tyrion achava aqueles sons e cheiros infinitamente preferíveis a dividir Maegor com a irmã. Quanto menos tivesse de ver Cersei, mais chances havia de ser feliz.
    Tyrion ouviu Brella roncando quando passou por sua cela. Shae queixava-se disso, mas parecia um preço bastante pequeno a pagar. Foi Varys quem lhe sugeriu a mulher; em outros tempos, ela tinha gerido a casa de Lorde Renly na cidade, o que tinha lhe dado bastante prática em ser cega, surda e muda.
    Acendendo um círio, dirigiu-se à escada dos criados e desceu. Os andares abaixo daquele que habitava estavam em silêncio, e não ouviu outros passos além dos seus. Continuou descendo, passando pelo piso térreo e prosseguindo até emergir num porão sombrio com um teto abobadado de pedra. Boa parte do castelo estava interligada pelo subsolo, e a Fortaleza das Cozinhas não era exceção. Tyrion bamboleou-se por uma lon¬ga passagem escura até encontrar a porta que queria, empurrou-a e entrou.
    Lá dentro, os crânios de dragão esperavam, e Shae também.
    - Pensava que o senhor tinha se esquecido de mim. - O vestido dela encontrava- -se pendurado em um dente negro quase tão alto quanto ela, e a moça estava em pé dentro das mandíbulas do dragão, nua. Balerion, pensou Tyrion. Ou seria Vhagar? Um crânio de dragão parecia-se muito com os outros.
    Só de vê-la já ficou duro.
    - Saia daí.
    - Não saio. - A moça sorriu seu sorriso mais malicioso. - O senhor vai me arrancar de dentro das mandíbulas do dragão, eu sei. - Mas quando ele se bamboleou para mais perto, ela debruçou-se para a frente e soprou o círio.
    - Shae... - Ele estendeu a mão, mas ela rodopiou e escapou dele.
    - Vai ter de me pegar. - A voz vinha da esquerda. - O senhor deve ter brincado de monstros e donzelas quando era pequeno.
    - Está me chamando de monstro?
    - Não mais do que a mim de donzela. - Estava atrás dele, com passos leves no chão. - Vai ter de me pegar mesmo assim.
    E ele a pegou, finalmente, mas só porque ela deixou. Quando ela se enfiou para dentro de seu abraço, ele estava corado e sem fôlego de andar tropeçando em crânios de dragão. Tudo foi esquecido num instante quando sentiu os pequenos seios dela comprimidos contra o seu rosto, na escuridão, os pequenos mamilos rijos roçando levemente nos seus lábios e na cicatriz onde tivera o nariz. Tyrion puxou-a para baixo, para o chão.

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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:22 pm

    - Meu gigante - ela ofegou quando a penetrou. - Meu gigante veio me salvar.
    Mais tarde, enquanto jaziam abraçados entre os crânios de dragão, Tyrion apoiou
    nela a cabeça, inalando o cheiro suave e limpo de seus cabelos.
    - Devíamos voltar - disse com relutância. - Deve ser quase alvorada. Sansa deve estar acordando.
    - Devia dar vinho dos sonhos para ela - disse Shae - como a Senhora Tanda faz com Lollys. Uma taça antes de dormir, e podíamos foder na cama ao lado dela sem que acor¬dasse. - Soltou um rísinho. - Talvez devêssemos fazer isso uma noite dessas. O senhor ia gostar? - A mão dela encontrou o seu ombro e pôs-se a massagear seus músculos. - Seu pescoço está duro como pedra. O que o inquieta?
    Tyrion não conseguia ver seus dedos em frente do rosto, mesmo assim usou-os para contar as suas aflições.
    - A minha esposa. A minha irmã. O meu sobrinho. O meu pai. Os Tyrell. - Teve de passar para a outra mão. - Varys. Pycelle. O Mindinho. A Víbora Vermelha de Dorne. - Tinha chegado ao último dedo. - O rosto que me fita da água quando me lavo.
    Shae beijou seu nariz mutilado e cheio de cicatrizes.
    - Um rosto corajoso. Um rosto bondoso e amável. Queria poder vê-lo agora.
    Sua voz tinha toda a doce inocência do mundo. Inocência? Idiota, ela é uma puta, tudo o que conhece dos homens é o negócio que têm entre as pernas. Idiota, idiota.
    - Antes você do que eu. - Tyrion sentou-se, - Temos um longo dia à nossa frente, ambos. Não devia ter apagado aquele círio. Como vamos encontrar as roupas?
    Ela riu.
    - Talvez tenhamos de ir nus.
    E se formos vistos, o senhor meu pai a enforca. Contratar Shae como uma das aias de Sansa tinha lhe dado uma desculpa para ser visto falando com ela, mas Tyrion não se iludia quanto à sua segurança. Varys prevenira-o.
    - Eu dei a Shae uma história falsa, mas destinava-se a Lollys e à Senhora Tanda. Sua irmã tem uma mente mais desconfiada. Se me perguntar o que sei...
    - Contará alguma mentira inteligente para ela.
    - Não. Contarei que a garota é uma seguidora de acampamentos comum que você adquiriu antes da batalha do Ramo Verde e trouxe para Porto Real contra as ordens ex¬pressas do senhor seu pai. Não mentirei à rainha.
    - Já mentiu antes para ela. Deverei dizer-lhe isso?
    O eunuco suspirou.
    - Isso corta mais profundamente do que uma faca, senhor. Servi-lhe com lealdade, mas tenho também de servir à sua irmã sempre que puder. Quanto tempo acha que ela me deixaria viver se deixasse de lhe ser útil? Não tenho nenhum feroz mercenário para me proteger, nenhum irmão valente para me vingar, tenho apenas alguns passari¬nhos que segredam aos meus ouvidos. Com esses segredos tenho de comprar de novo a vida todos os dias.
    - Perdoe-me se não choro por você.
    - Perdoarei, mas você deve me perdoar se não choro por Shae. Confesso que não compreendo o que há nela para fazer com que um homem inteligente como você aja tão tolamente.
    - Poderia entender se não fosse um eunuco.
    - Então é isso? Um homem pode ter miolos ou um pedaço de carne entre as pernas, mas as duas coisas não? - Varys abafou um risinho. - Então talvez deva me sentir grato por ter sido cortado.
    A Aranha tinha razão. Tyrion tateou na escuridão assombrada por dragões à procura das roupas de baixo, sentindo-se infeliz. O risco que estava correndo deixava-o tenso como um tambor, e havia também culpa. Que os Outros levem a minha culpa, pensou enquanto enfiava a túnica pela cabeça. Por que devo me sentir culpado? Mitiha esposa não quer nada de mim e rejeita muito em especial a parte que parece desejá-la. Talvez devesse contar a ela sobre Shae. Não era o caso de ser o primeiro homem a ter uma concubina. O próprio oh-tão-honroso pai de Sansa lhe dera um irmão bastardo. Até onde sabia, sua esposa poderia ficar encantada por saber que ele andava fodendo Shae, desde que isso a poupasse de atenções que não desejava.
    Não, não me atrevo. Com votos ou sem eles, sua esposa não era digna de confiança. Podia ser donzela entre as pernas, mas dificilmente inocente de traição; uma vez tinha despejado os planos do próprio pai nos ouvidos de Cersei. E as garotas de sua idade não eram conhecidas por manterem segredos.
    O único caminho seguro era ver-se livre de Shae. Podia mandá-la a Chataya, refletiu Tyrion, relutantemente. No bordel de Chataya, Shae teria todas as sedas e pedras precio¬sas que poderia desejar e os mais gentis fregueses de elevado nascimento. Seria de longe uma vida melhor do que a que vivia quando a tinha encontrado.
    Ou então, se estivesse cansada de ganhar o pão deitada, podia arranjar-lhe um casa¬mento. Bronn, talvez? O mercenário nunca se recusara a comer do prato de seu senhor, e agora era um cavaleiro, podia almejar um partido melhor do que ela. Ou Sor Tallad? Tyrion vira-o mais do que uma vez fitando Shae com desejo. Por que não? E alto, forte, não é difícil olhá-lo, da cabeça aos pés um jovem cavaleiro talentoso. Claro, Tallad conhecia Shae apenas como a bonita aia de uma jovem senhora em serviço no castelo. Se se casasse com ela e depois ficasse sabendo que ela era uma prostituta...
    - Senhor, onde está? Os dragões comeram-no?
    - Não. Estou aqui. - Apalpou um crânio de dragão. - Encontrei um sapato, mas acho que é seu.
    - O senhor parece muito solene. Desagradei-o?
    - Não - disse, com demasiada brusquidão. - Você me agrada sempre. - E aí mora o perigo. Podia sonhar em mandá-la embora em horas como aquela, mas isso nunca dura¬va muito tempo.
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:22 pm

    Tyrion via-a tenuemente no meio das trevas, puxando uma meia de lã por uma perna esguia. Consigo ver. Uma vaga luminosidade vazava pela fileira de longas janelas estreitas abertas bem alto na parede do porão. Os crânios dos dragões Targaryen emergiam da escuridão que os rodeava, negros em fundo cinza, - O dia chega cedo de¬mais. - Um novo dia, Um novo ano. Um novo século. Sobrevivi ao Ramo Verde e à Água Negra, posso perfeitamente sobreviver ao casamento do Rei Joffrey.
    Shae despendurou o vestido do dente do dragão e enfiou-o pela cabeça.
    - Eu subo primeiro. Brella vai querer ajuda com a água do banho. - Debruçou-se para lhe dar um último beijo, na testa. - Meu gigante Lannister. Amo tanto você.
    E eu também a amo, querida. Podia ser uma prostituta, mas merecia mais do que o que ele tinha para dar, Vou casá-la com Sor Tallad. Ele parece ser um homem decente, E alto...
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:22 pm

    Sansa 686




    F
    oi um sonho tão bom, pensou Sansa, sonolenta. Estava de volta a Winterfell, correndo
    pelo bosque sagrado com sua Lady. O pai estava lá, e os irmãos também, todos quen¬tes e em segurança. Se os sonhos pudessem se tornar realidade,..
    Afastou os cobertores. Tenho de ser brava. Seus tormentos terminariam em breve, de um modo ou de outro. Se Lady estivesse aqui, não teria medo. Mas Lady estava morta; Robb, Bran, Rickon, Arya, o pai, a mãe, até a Septã Mordane. Todos mortos, menos eu. Agora estava sozinha no mundo.
    O senhor seu esposo não estava ao seu lado, mas estava habituada a isso. Tyrion dor¬mia mal, e freqüentemente acordava antes do nascer do dia. Normalmente ia encontrá- -lo no aposento privado, inclinado ao lado de uma vela, perdido num velho pergami- nho qualquer ou num livro encadernado em couro. Às vezes o cheiro do pão da manhã que vinha dos fomos levava-o às cozinhas, e às vezes subia ao jardim do telhado, ou ia passear, sozinho, pelo Corredor do Traidor.
    Abriu as venezianas e estremeceu quando o arrepio subiu por seus braços. Havia nu¬vens se acumulando no céu oriental, perfuradas por raios de sol. Parecem dois enormes castelos flutuando no céu da manhã. Sansa conseguia ver as muralhas de pedra arruinadas, suas poderosas fortalezas e barbacãs. Estandartes vaporosos rodopiavam no topo de suas torres e estendiam-se para as estrelas que se desvaneciam rapidamente. O sol erguia-se atrás deles, e viu-os passar de negro a cinza e a mil de tons de rosa, ouro e carmesim. Pou¬co depois o vento mesclou-os, e passou a haver apenas um castelo onde tinha havido dois.
    Ouviu a porta se abrindo quando as aias trouxeram a água quente para o banho. Eram ambas novas ao seu serviço; Tyrion dizia que as mulheres que tomavam conta dela antes eram todas espiãs de Cersei, tal como Sansa sempre suspeitara.
    - Venham ver - disse-lhes. - Há um castelo no céu.
    Elas foram dar uma olhada.
    - E feito de ouro. - Shae tinha cabelos escuros e curtos e olhos ousados. Fazia tudo o que lhe era pedido, mas às vezes dirigia a Sansa os mais insolentes dos olhares. - Um castelo todo feito de ouro, aí está uma coisa que eu gostaria de ver.
    - Um castelo, é? - Brella tinha de semicerrar os olhos. - Aquela torre tá caindo, pa¬rece, É tudo ruínas, aquilo.
    Sansa não queria ouvir falar de torres caindo e castelos arruinados. Fechou as vene¬zianas e disse:
    - Somos esperados no café da manhã da rainha, O senhor meu esposo está no apo¬sento privado?
    - Não, senhora - disse Brella. - Não o vi.
    - Pode ser que tenha ido ver o pai - declarou Shae. - Talvez a Mão do Rei precise de seus conselhos.
    Brella deu uma fungada.
    - Senhora Sansa, talvez queira entrar na banheira antes que a água esfrie demais.
    Sansa deixou que Shae puxasse sua camisa de dormir pela cabeça e entrou na
    grande banheira de madeira. Sentiu-se tentada a pedir uma taça de vinho, para lhe acalmar os nervos. O casamento estava marcado para o meio-dia no Grande Septo de Baelor, do outro lado da cidade. B, ao cair da noite, o banquete seria dado na sala do trono; mil convidados e setenta e sete pratos, com cantores, malabaristas e saltimbancos. Mas primeiro havia o café da manhã no Salão de Baile da Rainha, para os Lannister e os homens Tyrell - as mulheres Tyrell quebrariam o jejum com Mar¬gaery - e cento e tantos cavaleiros e fidalgos. Fizeram de mim uma Lannister, pensou Sansa com amargura.
    Brella mandou Shae ir buscar mais água quente enquanto lavava as costas de Sansa.
    - Está tremendo, senhora.
    - A água não está quente o suficiente - mentiu Sansa.
    As aias a vestiam quando Tyrion apareceu, com Podrick Payne a reboque.
    - Está adorável, Sansa. - Virou-se para o escudeiro. - Pod, faça a gentileza de me servir uma taça de vinho.
    - Vai haver vinho no café da manhã, senhor - disse Sansa.
    - Há vinho aqui. Não espera certamente que enfrente a minha irmã sóbrio? E um novo século, senhora. O tricentésimo ano desde a Conquista de Aegon. - O anão pegou a taça de tinto que Podrick tinha lhe entregado e ergueu-a bem alto. - A Aegon. Que cara afortunado. Duas irmãs, duas esposas e três grandes dragões, o que mais pode um homem pedir? - limpou a boca com as costas da mão.
    Sansa reparou que as roupas do Duende estavam sujas e em desalinho; parecia que tinha dormido vestido.
    - Vai vestir roupa lavada, senhor? Seu gibão novo é muito bonito.
    - O gibão é bonito, sim. - Tyrion pôs a taça de lado. - Ande, Pod, vamos ver se en¬contramos algum vestuário que me faça parecer menos anão. Não vou querer envergo¬nhar a senhora minha esposa.
    Quando o Duende retornou pouco depois, estava bastante apresentável, e até um pouco mais alto. Podrick Payne também tinha trocado de roupa, e por uma vez quase parecia um escudeiro como deve ser, embora uma espinha vermelha bastante grande que tinha no canto do nariz estragasse o efeito de seu magnífico traje púr- pura, branco e dourado. É um rapaz tão tímido. A
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:22 pm

    princípio, Sansa desconfiava do escudeiro de Tyrion; ele era um Payne, primo de Sor Ilyn Payne, que tinha cortado a cabeça do pai. No entanto, depressa percebeu que Pod tinha tanto medo dela como ela tinha do primo. Sempre que falava com ele, o rapaz ficava do mais alarmante tom de vermelho.
    - Púrpura, dourado e branco são as cores da Casa Payne, Podrick? - perguntou-lhe
    - Não. Isto é, sim. - Corou. - As cores. Nossas armas são axadrezado de púrpura e branco, senhora. Com moedas de ouro. Nos quadrados. Púrpura e branco. Em ambos, - E estudou os pés dela.
    -Há uma história por trás dessas moedas - disse Tyrion. - Sem dúvida Pod a con¬fidenciará um dia aos seus dedos dos pés. Agora, porém, somos esperados no Salão de Baile da Rainha. Vamos ?
    Sansa sentiu-se tentada a pedir para não ir. Podia lhe dizer que tenho um incômodo na barriga, ou que o sangue da lua chegou. Nada desejava mais do que voltar a se enfiar na cama e puxar as cortinas. Tenho de ser corajosa, como Robb, disse a si mesma, ao dar rigi¬damente o braço ao senhor seu esposo.
    No Salão de Baile da Rainha quebraram o jejum com bolinhos de mel assados com amoras silvestres e nozes, fatias de presunto defumado, iscas de peixe empanadas, ba¬con, peras de outono e um prato domes de cebolas, queijo e fatias de ovo cozido com malaguetas.
    - Nada como um café da manhã robusto para despertar o apetite para o banquete de setenta e sete pratos que se seguirá - comentou Tyrion enquanto os criados enchiam seus pratos. Havia jarros de leite, de hidromel e de um vinho dourado, leve e doce para empurrar a refeição para baixo. Músicos vagueavam por entre as mesas, com gaitas, flau¬tas e rabecas, enquanto Sor Dontos galopava pela sala em seu cavalo de pau de vassoura e o Rapaz Lua fazia ruídos de peido com as bochechas e cantava canções rudes sobre os convidados.
    Sansa reparou que Tyrion quase não tocou na comida, embora tivesse bebido várias taças de vinho. Quanto a si, experimentou um pouco dos ovos dorneses, mas as malague¬tas queimaram sua boca. Além deles, limitou-se a beliscar a fruta, o peixe e os bolinhos de mel. Cada vez que JofFrey olhava para ela, sentia a barriga tão agitada que era como se tivesse engolido um morcego.
    Depois de tirarem a mesa, a rainha presenteou solenemente JofFrey com o manto de esposa com que envolveria os ombros de Margaery.
    - E o manto que eu usei quando Robert me tomou como sua rainha, o mesmo manto que a minha mãe, a Senhora Joanna, usou quando se casou com o senhor meu pai. - Sansa pensou que parecia puído, a bem da verdade, mas talvez fosse por ter sido tão usado.
    Então chegou a hora dos presentes. Era tradição da Campina dar presentes à noiva e ao noivo na manhã de seu casamento; no dia seguinte receberiam mais presentes como casal, mas as prendas naquele dia eram para cada um individualmente.
    De Jalabhar Xho, Joffrey recebeu um grande arco de madeira dourada e uma alja¬va cheia de longas flechas com penas verdes e escarlates; da Senhora Tanda, um par de botas flexíveis de montar; de Sor Kevan, uma magnífica sela para justas feita de couro vermelho; um broche de ouro vermelho, trabalhado em forma de escorpião, foi dado pelo dornês, o Príncipe Oberyn; recebeu esporas de prata de Sor Addam Marbrand; um pa¬vilhão de torneio em seda vermelha foi o presente de Lorde Mathis Rowan. Lorde Paxter Redwyne apresentou uma bela maquete em madeira da galé de guerra de duzentos re¬mos que estava sendo construída naquele momento na Árvore.
    - Se agradar a Vossa Graça, vai se chamar Valor do Rei Joffrey - disse ele, e JofF conce¬deu que estava muito agradado de fato.
    - Farei dele meu navio almirante quando zarpar para Pedra do Dragão a fim de ma¬tar meu tio traidor, Stannis - disse.
    Ele hoje se faz de rei atencioso. Sansa sabia que Joffrey podia ser galante quando lhe convinha, mas parecia convir-lhe cada vez menos. E de fato, toda a sua cortesia desapa¬receu de imediato quando Tyrion lhe entregou o seu presente: um enorme livro antigo intitulado Vidas de quatro reis, encadernado em couro e magnificamente recheado de ilu¬minuras, O rei folheou-o sem qualquer interesse,
    - E o que é isto, tio?
    Um livro. Sansa perguntou a si mesma se Joffrey movia aqueles seus gordos lábios vermiformes quando lia,
    - A história dos reinados de Daeron, o Jovem Dragão, Baelor, o Abençoado, Aegon, o Indigno, e Daeron, o Bom, escrita pelo Grande Meistre Kaeth - respondeu o seu pe¬queno esposo,
    - Um livro que todo rei deveria ler, Vossa Graça - disse Sor Kevan.
    - Meu pai não tinha tempo para livros. - Joffrey empurrou o presente para longe. - Se lesse menos, tio Duende, talvez a Senhora Sansa tivesse um bebê dentro dela a essa altura. - Riu... e quando o rei ri, a corte ri com ele. - Não fique triste, Sansa, depois de deixar a Rainha Margaery esperando um bebê, visitarei o seu quarto e mostrarei ao meu pequeno tio como se faz.
    Sansa enrubesceu. Deu um relance nervoso a Tyrion, com medo do que ele poderia dizer. Aquilo podia se tornar tão feio como a ida para a cama no banquete deles. Mas, por uma vez, o anão encheu a boca com vinho em vez de palavras.
    Lorde Mance Tyrell avançou para apresentar o seu presente: um cálice dourado de no¬venta centímetros de altura, com duas ornamentadas alças curvas e sete lados cintilando de pedras preciosas.
    - Sete lados para os sete reinos de Vossa Graça - explicou o pai da noiva. Mostrou- -lhes como cada lado ostentava o símbolo de uma das grandes casas: leão de rubi, rosa de esmeralda, veado de ônix, truta de prata, falcão de jade azul, sol de opala e lobo gigante de pérola.
    - Uma taça magnífica - disse Joffrey -, mas parece-me que vamos ter de arrancar o lobo e pôr uma lula no seu lugar.
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:23 pm

    Sansa fingiu não ouvi-lo.
    - Margaery e eu beberemos bastante no banquete, sogro. - Joffrey ergueu o cálice acima da cabeça, para que todos o admirassem.
    - A maldita coisa é tão alta quanto eu - resmungou Tyrion em voz baixa. - Metade do cálice e Joff estará caindo de bêbado.
    Ótimo, pensou ela. Talvez quebre o pescoço.
    Lorde Tywin esperou até o fim para entregar ao rei o seu presente: uma espada longa. A bainha era feita de cerejeira, ouro e couro vermelho oleado, incrustado de cabeças de leão em ouro. Sansa viu que os leões tinham olhos de rubi. O salão de baile ficou em silêncio quando Joffrey desembainhou a espada e a ergueu acima da cabeça. Ondulações vermelhas e negras no aço cintilaram à luz da manhã.
    - Magnífica - declarou Mathis Rowan.
    - Uma espada digna de canções, senhor - disse Lorde Redwyne.
    - A espada de um rei - disse Sor Kevan Lannister.
    O Rei JofFrey estava tão animado que parecia querer matar alguém ali mesmo e na¬quele momento. Golpeou o ar e soltou uma gargalhada.
    - Uma grande espada deve ter um grande nome, senhores! Como a chamarei?
    Sansa lembrou-se de Dente de Leão, a espada que Arya tinha atirado no Tridente, e
    da Devoradora de Corações, aquela que ele a obrigara a beijar antes da batalha. Pergun¬tou a si mesma se ele quereria que Margaery beijasse aquela.
    Os convidados estavam gritando nomes para a nova arma. JofF rejeitou uma dúzia antes de ouvir um que lhe agradou,
    - Lamento da Viúva! - gritou, - Sim! E ela irá criar muitas viúvas! - Voltou a golpear o ar. - E quando enfrentar o meu tio Stannis, quebrará a sua espada mágica em duas.
    - JofF experimentou um golpe vertical, forçando Sor Balon Swann a dar um apressado passo para trás. A expressão no rosto de Sor Balon fez ressoar gargalhadas no salão.
    - Tenha cuidado, Vossa Graça - avisou Sor Addam Marbrand. - O aço valiriano é perigosamente afiado.
    - Eu lembro. - JofFrey fez Lamento da Viúva cair, num violento golpe vertical com as duas mãos, sobre o livro que Tyrion tinha lhe dado. A pesada capa de couro fendeu-se em duas. - Afiado! Eu disse a vocês, não sou estranho ao aço valiriano. - Precisou de meia dúzia de outros golpes para despedaçar o grosso volume, e o rapaz estava sem fôle¬go quando acabou. Sansa conseguia sentir o marido lutando contra a fúria enquanto Sor Osmund Kettleblack gritava:
    - Rezo para que nunca vire esse perigoso gume contra mim, senhor.
    - Trate de nunca me dar motivos, sor. - JofFrey deu um piparote com a ponta da espada num naco de Vidas de quatro reis, atirando-o para fora da mesa, e então enfiou a Lamento da Viúva de volta na bainha.
    - Vossa Graça - disse Sor Garlan Tyrell, - Talvez não soubesse. Em todo o Westeros não havia mais de quatro cópias desse livro iluminadas pela própria mão de Kaeth.
    - Agora há três. - Joffrey desafivelou seu velho cinto da espada para trocá-lo pelo novo. - Você e a Senhora Sansa devem-me um presente melhor, tio Duende. Este está feito em pedaços.
    Tyrion estava encarando o sobrinho com seus olhos desiguais.
    - Talvez uma faca, senhor. Para combinar com a sua espada. Um punhal do mesmo belo aço valiriano... digamos, com um cabo de osso de dragão?
    JofF lançou-lhe um olhar penetrante.
    - Você... sim, um punhal para combinar com a minha espada, ótimo. - Fez um aceno,
    - Um... um cabo de ouro com rubis. Osso de dragão é simples demais.
    - Como quiser, Vossa Graça, - Tyrion bebeu outra taça de vinho. Julgando pela aten¬ção que prestava a Sansa, bem podia estar sozinho em seu aposento privado. Mas quan¬do chegou a hora de partir para o casamento, pegou-a pela mão.
    Enquanto atravessavam o pátio, o Príncipe Oberyn de Dorne pôs-se ao lado deles, de braço dado com a amante de cabelos negros. Sansa deu um olhar de relance curioso à mulher, Era filha ilegítima, não era casada, e tinha dado duas filhas bastardas ao príncipe, mas não temia olhar nos olhos nem sequer a rainha. Shae tinha lhe dito que aquela Ella¬ria adorava uma deusa do amor lisena qualquer.
    - Era quase uma prostituta quando ele a encontrou, senhora - confidenciara a aia - e agora é quase uma princesa. - Sansa nunca antes tinha estado tão perto da dornesa. Não
    é realmente bela, pensou, mas há alguma coisa nela que atrai o olhar.
    - Uma vez tive a grande sorte de contemplar a cópia de Vidas de quatro reis que há na Cidadela - o Príncipe Oberyn estava dizendo ao senhor seu esposo. - As iluminuras eram uma maravilha de se ver, mas Kaeth foi muito mais amável com o Rei Viserys do que devia.
    Tyrion lançou-lhe um olhar penetrante.
    - Muito amável? A meu ver, ele é vergonhosamente mesquinho com Viserys. Devia ter sido Vidas de cinco reis.
    O príncipe riu.
    - Viserys mal reinou por uma quinzena.
    - Reinou durante mais de um ano - disse Tyrion.
    Oberyn encolheu os ombros.
    - Um ano ou uma quinzena, que importa? Envenenou o próprio sobrinho para con¬quistar o trono e, depois de tê-lo, não fez nada.
    - Baelor matou-se de fome com jejuns - disse Tyrion. - O tio serviu-o lealmente como Mão, tal como tinha servido o Jovem Dragão antes dele. Viserys pode ter reina¬do apenas por um ano, mas governou por quinze, enquanto Daeron guerreava e Baelor rezava. - Fez uma expressão amarga. - E se realmente eliminou Baelor, pode culpá-lo? Alguém tinha de salvar o reino de suas loucuras.
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:23 pm

    Sansa estava chocada.
    - Mas Baelor, o Abençoado, foi um grande rei. Percorreu descalço o Caminho do Espinhaço para fazer a paz com Dorne e salvou o Cavaleiro do Dragão de um fosso de serpentes. As víboras recusaram-se a atacá-lo por ele ser tão puro e santo.
    O Príncipe Oberyn sorriu.
    - Se fosse uma víbora, senhora, quereria morder uma vara sem sangue como Baelor, o Abençoado? Eu preferiria reservar as minhas presas para alguém mais suculento...
    - O meu príncipe está brincando com você, Senhora Sansa - disse a mulher, Ellaria Sand. - Os septões e cantores gostam de dizer que as serpentes não morderam Baelor, mas a verdade é muito diferente, Ele foi mordido meia centena de vezes, e devia ter mor¬rido disso.
    - Se tivesse, Viserys teria reinado uma dúzia de anos - disse Tyrion - e os Sete Rei¬nos poderiam ter ficado mais bem servidos. Há quem pense que Baelor ficou demente por conta de todo aquele veneno,
    - Sim - disse o Príncipe Oberyn mas não vi serpentes nesta sua Fortaleza Verme¬lha, Como explica Joffrey?
    - Prefiro não explicar. - Tyrion inclinou rigidamente a cabeça. - Perdoe-nos. Nossa liteira nos aguarda. - O anão ajudou Sansa a subir e escalou desajeitadamente atrás dela. - Feche as cortinas, senhora, por gentileza.
    - Precisamos, senhor? - Sansa não queria ficar fechada atrás das cortinas. - O dia está tão agradável.
    - É provável que o bom povo de Porto Real atire bosta à liteira se me vir aqui dentro. Faça-nos uma gentileza, senhora. Feche as cortinas.
    Ela fez o que lhe foi pedido. Seguiram em silêncio durante algum tempo, enquanto o ar ia se tornando quente e abafado em volta deles.
    - Lamento por seu livro, senhor - ela obrigou-se a dizer.
    - O livro era de Joffrey. Podia ter aprendido uma coisa ou outra se o tivesse lido, - Parecia distraído. - Eu devia ter sabido. Devia ter visto... uma porção de coisas.
    - O punhal talvez lhe agrade mais,
    Quando o anão fez uma careta, a cicatriz retesou-se e torceu-se.
    - E não é que o rapaz arranjou uma maneira de ganhar um punhal? - felizmente Tyrion não esperou por sua resposta. - JofF discutiu com o seu irmão Robb em Winter¬fell. Diga-me, havia também maus sentimentos entre Bran e Sua Graça?
    - Bran? - a pergunta confundiu-a, - Fala de antes da queda? - Teve de tentar se lem¬brar. Tudo se passara havia tanto tempo. - Bran era um doce garotinho. Todos gostavam dele, Lembro que ele e Tommen lutaram com espadas de madeira, mas só de brincadeira.
    Tyrion caiu num silêncio taciturno. Sansa ouviu o distante tinir de correntes vindo do exterior; a porta levadiça estava sendo erguida. Um momento mais tarde ouviu-se um grito, e a liteira entrou em movimento com um solavanco. Privada do cenário que atra¬vessavam, escolheu fitar as mãos dobradas, desconfortavelmente consciente dos olhos de¬siguais do marido. Por que ele está me olhando dessa maneira?
    - Amava tanto os seus irmãos como eu amo Jaime.
    Será isso alguma armadilha Lannister para me levar a proferir traições?
    - Meus irmãos eram traidores, e partiram para sepulturas de traidores. E traição amar um traidor.
    Seu pequeno esposo fungou.
    - Robb levantou armas contra seu legítimo rei. Pela lei, isso fez dele um traidor. Os outros morreram novos demais para saber o que é a traição, - Esfregou o nariz. - Sansa, sabe o que aconteceu com Bran em Winterfell?
    - Bran caiu. Andava sempre escalando coisas, e por fim caiu. Sempre tememos que isso acontecesse. E Theon Greyjoy matou-o, mas isso foi mais tarde.
    - Theon Greyjoy. - Tyrion suspirou. - A senhora sua mãe acusou-me uma vez... bem, não vou enchê-la com os detalhes sórdidos. Acusou-me falsamente. Nunca fiz mal a seu irmão Bran. E não lhe quero nenhum mal.
    0 que ele quer que eu diga?
    - E bom saber, senhor. - Ele queria algo dela, mas Sansa não sabia o que era. Parece uma criança esfomeada, mas não tenho comida para lhe dar. Por que não me deixa em paz?
    Tyrion voltou a esfregar o nariz cheio de escaras e cicatrizes, um feio hábito que atraía o olhar para o seu feio rosto.
    - Nunca me perguntou como Robb ou a senhora sua mãe morreram.
    - Eu... prefiro não saber. Teria pesadelos.
    - Então nada mais direi.
    - Isso.,, isso é gentil de sua parte.
    -Ah, sim - disse Tyrion. - Eu sou a própria alma da gentileza. E sei o que são pesa¬delos.
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:23 pm

    Tyrion 694



    A nova coroa que o pai oferecera à Fé era duas vezes mais alta do que aquela que a multidão tinha esmagado, uma glória de cristal e fio de ouro, A luz do arco-íris refulgia e cintilava a cada vez que o Alto Septão movia a cabeça, mas Tyrion teve de per¬guntar a si mesmo como o homem conseguia suportar o peso, E até ele tinha de admitir que Joffrey e Margaery formavam um casal régio, ali em pé, lado a lado, entre as altas estátuas douradas do Pai e da Mãe.
    A noiva estava adorável, vestida de seda em tom marfim e renda de Myr, com as saias decoradas com padrões florais realçados com pérola-semente. Como viúva de Renly, po¬dia ter usado as cores Baratheon, ouro e negro, mas chegou como uma Tyrell, num man¬to de donzela composto por uma centena de rosas de pano de ouro cosidas ao veludo verde, Tyrion perguntou a si mesmo se ela seria realmente donzela, Não que seja provável que Joffrey saiba a diferença.
    O rei estava quase tão magnífico quanto a noiva, com o seu gibão de um rosa opaco, sob um manto de veludo de um profundo tom de carmesim, decorado com o seu veado e leão. A coroa assentava com facilidade em seus caracóis, ouro sobre ouro. Eu salvei aquela maldita coroa para ele. Tyrion deslocou o peso desconfortavelmente de um pé para o ou¬tro, Não conseguia ficar quieto. Vinho demais. Devia ter pensado em se aliviar antes de saírem da Fortaleza Vermelha. A noite sem dormir que passara com Shae também estava se fazendo sentir, mas acima de tudo queria estrangular o maldito do seu real sobrinho.
    Não sou estranho ao aço valiriano, vangloriara-se o rapaz. Os septões andavam sempre falando sobre o modo como o Pai no Céu nos julga a todos. Se o Pai tivesse a bondade de derrubar e esmagar Joff como se fosse um besouro vira-bosta, eu até podia acreditar nisso.
    Devia ter percebido há muito tempo. Jaime nunca mandaria outro homem matar em seu nome, e Cersei era esperta demais para usar uma faca cujo rastro poderia levar até si, mas Joff, o arrogante, perverso e estúpido canalha que era,,.
    Recordou a manhã fria em que tinha descido os íngremes degraus exteriores da bi¬blioteca de Winterfell e encontrou o Príncipe Joffrey gracejando com Cão de Caça sobre matar lobos. Mandar um cão matar um lobo, ele tinha dito. Contudo, nem mesmo Joff era tão tolo que ordenasse a Sandor Clegane que matasse um filho de Eddard Stark; Cão de Caça teria procurado Cersei. Em vez disso, o rapaz encontrou a sua ferramenta no duvi¬doso bando de cavaleiros livres, mercadores e seguidoras de acampamentos que se ligou à comitiva do rei à medida que esta seguia para o norte. Um cretino purulento qualquer
    disposto a arriscar a vida em troca do favor de um príncipe e de algumas moedas. Tyrion per¬guntou a si mesmo de quem teria sido a idéia de esperar até Robert partir de Winterfell para abrir a goela de Bran. O mais certo é ter sido de Joff. Sem dúvida pensou que isso era o cúmulo da astúcia.
    Tyrion julgava recordar que a adaga do príncipe tinha o botão incrustado de jóias e arabescos de ouro em relevo na lâmina. Pelo menos JofF não tinha sido suficientemente estúpido para usar essa. Em vez disso tinha metido o nariz nas armas do pai. Robert Ba- ratheon era um homem de descuidada generosidade e teria dado ao filho qualquer punhal que ele desejasse... mas Tyrion acreditava que o rapaz o teria simplesmente pego. Robert chegou a Winterfell com uma grande comitiva de cavaleiros e serventes, uma enorme casa rolante e um comboio de bagagem. Sem dúvida que algum criado diligente teria se assegu¬rado de que as armas do rei seguiam com ele, para o caso de desejar alguma.
    A lâmina que JofF escolheu era boa e simples. Nada de trabalhos em ouro, nada de jóias no cabo, nada de relevos de prata na lâmina, O Rei Robert nunca a usara, provavel¬mente tinha esquecido que lhe pertencia. Mas o aço valiriano era mortalmente afiado... suficientemente afiado para cortar pele, carne e músculo num golpe rápido. Náo sou estra¬nho ao aço valiriano. Mas tinha sido, não tinha? De outro modo nunca teria sido idiota a ponto de escolher a faca de Mindinho.
    O motivo ainda lhe escapava. Simples crueldade talvez? O sobrinho tinha disso em abundância. Só com grande dificuldade Tyrion evitava vomitar todo o vinho que tinha bebido, urinar-se nos calções ou fazer ambas as coisas. Remexeu-se com desconforto. Devia ter segurado a língua no café da manhã. O rapaz agora sabe que eu sei A minha grande boca será a minha morte, juro.
    Os sete votos foram feitos, as sete bênçãos invocadas e as sete promessas trocadas. Quando a canção nupcial foi cantada e o desafio passou sem resposta, chegou a hora da troca dos mantos. Tyrion deslocou o peso de uma perna deformada para a outra, ten¬tando ver entre o pai e o tio Kevan. Se os deuses forem justos, Joff vai estragar tudo isso. Assegurou-se de não olhar para Sansa, para o caso de a amargura estar visível nos seus olhos. Devia ter se ajoelhado, diabos. Teria sido assim tão difícil dobrar esses seus rígidos joe¬lhos Stark, permitindo que eu mantivesse alguma dignidade?
    Mace Tyrell removeu ternamente o manto de donzela da filha, enquanto Joffrey rece¬bia o manto de noiva, dobrado, das mãos do irmão Tommen e o sacudia com um florea- do.O rei rapaz era tão alto aos treze anos quanto a sua noiva aos dezesseis; não precisaria subir nas costas de um bobo. Envolveu Margaery em carmesim e ouro e inclinou-se para lhe prender o manto em volta do pescoço. E foi com essa facilidade que ela passou da proteção do pai para a do marido. Mas quem a protegerá de Joff? Tyrion deu um olhar de relance ao Cavaleiro das Flores, que se encontrava junto dos outros membros da Guarda Real, E melhor que mantenha a espada bem afiada, Sor Loras.
    - Com este beijo empenho o meu amor! - declarou Joffrey num tom retumbante. Quando Margaery ecoou as palavras, ele puxou-a para si e deu-lhe um longo e profundo beijo. Luzes
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:24 pm

    arco-íris voltaram a dançar em volta da coroa do Alto Septão quando este declarou solenemente que Joffrey, das Casas Baratheon e Lannister, e Margaery, da Casa Tyrell, eram uma só carne, um só coração, uma só alma.
    Ótimo, terminado. Voltemos agora para o maldito castelo para que eu possa dar uma mijada.
    Sor Loras e Sor Metyn seguiram à frente da procissão que partiu do septo, trajando suas armaduras de escamas brancas e mantos de neve. Depois vinha o Príncipe Tommen, espalhando à frente do rei e da rainha pétalas de rosa que tirava de um cesto. Após o casal real seguiam a Rainha Cersei e Lorde Tyrell, atrás destes a mãe da rainha de braço dado com Lorde Tywin. Depois vinha a Rainha dos Espinhos, cambaleando com uma mão apoiada no braço de Sor Kevan Lannister e a outra em sua bengala, trazendo os guardas gêmeos logo atrás, para o caso de cair. Depois vinha Sor Garlan Tyrell e a senho¬ra sua esposa, e por fim era a vez deles.
    - Senhora. - Tyrion ofereceu o braço a Sansa.
    Ela aceitou-o obedientemente, mas o anão conseguia sentir a rigidez da garota en¬quanto caminhavam juntos pelo corredor. Não o olhou nem uma vez.
    Ouviu-os em aclamações lá fora antes mesmo de chegar às portas. A multidão amava tanto Margaery que estava até disposta a voltar a amar Joffrey. Ela pertencera a Renly, o belo e jovem príncipe que os amava tanto que tinha voltado da sepultura para salvá-los. E a prodigalidade de Jardim de Cima chegara com ela, fluindo do sul pela estrada de rosas. Os palermas não pareciam lembrar-se de que foi Mace Tyrell quem fechou a estrada de rosas para começar, e quem gerou a maldita fome.
    Saíram para o ar puro de outono.
    - Temi que nunca conseguíssemos fugir - gracejou Tyrion.
    Sansa não teve alternativa a olhá-lo.
    - Eu... sim, senhor. E como diz. - Parecia triste. - Mas foi uma cerimônia tão bela.
    Tanto quanto a nossa nãojoi,
    - Foi longa, é o que tenho a dizer. Preciso voltar ao castelo para uma boa mijada. - Tyrion esfregou o que lhe restava de nariz. - Gostaria de ter inventado uma missão qual¬quer que me levasse para fora da cidade. O Mindinho é que foi esperto.
    Joffrey e Margaery estavam rodeados pela Guarda Real no topo dos degraus que da¬vam para a grande praça de mármore. Sor Addam e seus homens de manto dourado mantinham a multidão afastada, enquanto a estátua do Rei Baelor, o Abençoado, os fita¬va com benevolência. Tyrion não teve alternativa exceto juntar-se à fila, com os demais, para dar os parabéns ao casal. Beijou os dedos de Margaery e desejou-lhe todas as felici¬dades, Felizmente, havia outras pessoas atrás deles esperando sua vez, e não precisaram demorar muito tempo.
    A liteira tinha ficado ao sol, e dentro fazia muito calor. Quando entraram em movi¬mento, Tyrion reclinou-se sobre um cotovelo e Sansa sentou-se, de olhos fixos nas mãos. Ela é tão bonita quanto a garota Tyrell Os cabelos eram de um rico ruivo outonal; os olhos, de um profundo azul Tully. A mágoa tinha lhe dado um aspecto assombrado e vulnerável; isso a tornava ainda mais bela. Desejou chegar até ela, atravessar a armadura de sua cortesia. Teria sido isso que o fez falar? Ou só a necessidade de se distrair da be¬xiga cheia?
    - Tenho andado pensando que, quando as estradas estiverem de novo seguras, podía¬mos fazer uma viagem a Rochedo Casterly. - Para longe de Joffrey e da minha irmã. Quan¬to mais pensava no que Joff tinha feito ao Vidas dos quatro reis, mais perturbado se sentia. Havia uma mensagem ali, ah, sim. - Adoraria mostrar-lhe a Galeria Dourada, a Boca do Leão e o Salão dos Heróis, onde Jaime e eu brincávamos quando crianças. Pode-se ouvir o trovão vindo de baixo, de onde o mar entra...
    Ela levantou lentamente a cabeça. Sabia o que a garota estava vendo; a testa brutal e inchada, o toco em carne viva do nariz, a cicatriz cor-de-rosa e irregular e os olhos desi¬guais. Os olhos dela eram grandes, azuis e vazios.
    - Irei aonde quer que o senhor meu esposo desejar.
    - Esperava que pudesse agradá-la, senhora.
    - Será do meu agrado agradar ao meu senhor.
    A boca dele comprimiu-se. Que homenztnho patético você é. Achava que tagarelar a respeito da Boca do Leão iria fazê-la sorrir? Quando foi que fez uma mulher sorrir sem ser por ouro?
    - Não, foi uma idéia tola. Só um Lannister pode amar o Rochedo.
    - Sim, senhor. Como desejar.
    Tyrion ouvia os plebeus gritarem o nome do Rei Joffrey. Daqui a três anos esse rapaz cruel será um homem e governará sozinho... e qualquer anão com metade dos miolos funcio¬nando estará muito longe de Porto Real, Talvez em Vilavelha. Ou até nas Cidades Livres. Sempre desejou muito ver o Titã de Bravos. Isso talvez agradasse a Sansa. Em tom gentil, falou de Bravos, e encontrou uma muralha de taciturna cortesia tão gelada e inflexível como a Muralha por onde caminhara uma vez no norte. Isso o deixou fatigado. Naquela ocasião e agora.
    Passaram o resto da viagem em silêncio. Após algum tempo, Tyrion viu-se esperando que Sansa dissesse alguma coisa, fosse o que fosse, a mais insignificante das palavras, mas ela não falou. Quando a liteira parou no pátio do castelo, permitiu que um dos palafre- neiros a ajudasse a descer.
    - Somos esperados no banquete dentro de uma hora, senhora. Irei encontrá-la em breve. - Afastou-se sobre pernas duras. Ouviu as gargalhadas sem fôlego de Margaery do outro lado do pátio enquanto Joffrey a tirava da sela. Um dia o rapaz será tão alto e forte quanto Jaime, pensou. E eu continuarei a ser um anão debaixo de seus pés. E um dia é bem capaz de me deixar ainda mais curto...
    Descobriu uma latrina e suspirou, grato, enquanto se aliviava do vinho da manhã. Havia momentos em que uma mijada era tão boa quanto uma mulher, e aquele era um deles. Gostaria de conseguir se aliviar das dúvidas e das culpas com metade da¬quela facilidade.
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:24 pm

    Podrick Payne esperava-o à porta de seus aposentos.
    - Preparei o seu gibão novo. Aqui não. Na sua cama. No quarto.
    - Sim, é lá que fica a cama. - Sansa devia estar lá, vestindo-se para o banquete. E Shae também. - Vinho, Pod.
    Tyrion bebeu-o no banco que ficava ao lado da janela, matutando enquanto observava o caos das cozinhas lá embaixo. O sol ainda não tinha tocado o topo da muralha do cas¬telo, mas já sentia o cheiro de pães e de carnes assando. Os convidados começariam em breve a entrar em torrente na sala do trono, cheios de expectativa; aquela seria uma noite de canções e esplendor, planejada não só para unir Jardim de Cima e Rochedo Casterly, mas também para proclamar poderio e riqueza, como lição para todos os que pudessem ainda pensar em se opor ao domínio de Joffrey.
    Mas quem seria suficientemente louco para se opor agora ao domínio de Joffrey, de¬pois daquilo que sucedera com Stannis Baratheon e Robb Starkf Ainda se lutava nas terras fluviais, mas por todos os lados os nós se apertavam. Sor Gregor Clegane tinha atravessado o Tridente e capturado o vau rubi, para em seguida tomar Harrenhal quase sem esforço. Guardamar rendeu-se ao Walder Negro Frey, Lorde Randyll Tarly domi¬nava Lagoa da Donzela, Valdocaso e a estrada do rei. No ocidente, Sor Daven Lannis- ter uniu-se a Sor Forley Prester no Dente Dourado para marchar sobre Correrrio. Sor Ryman Frey descia das Gêmeas à frente de dois mil lanceiros para se juntar a eles. E Paxter Redwyne dizia que a sua frota zarparia em breve da Árvore, a fim de dar início à longa viagem em volta de Dorne e através dos Degraus. Os piratas lisenos de Stannis ficariam numa inferioridade numérica de dez para um. A luta que os meistres andavam chamando de Guerra dos Cinco Reis estava praticamente no fim. Mace Tyrell foi ouvido se queixando de que Lorde Tywin não tinha deixado vitórias para ele.
    - Senhor? - Pod encontrava-se ao seu lado. - Irá trocar de roupa? Preparei o gibão. Na sua cama. Para o banquete.
    - Banquete? - disse Tyrion, ácido. - Que banquete?
    - O banquete de casamento. ~ Pod não entendeu o sarcasmo, claro. - O Rei Joffrey e a Senhora Margaery, Rainha Margaery, quer dizer.
    Tyrion decidiu ficar muito, muito bêbado naquela noite.
    - Muito bem, jovem Podrick, vamos lá me deixar festivo.
    Shae estava ajudando Sansa com os cabelos quando entraram no quarto. Alegria e dor, pensou o anão quando as contemplou juntas. Riso e lágrimas. Sansa usava um ves¬tido de cetim prateado debruado com veiro, com mangas pendentes que quase tocavam o chão, forradas de suave feltro roxo, Shae tinha arrumado os cabelos artisticamente em uma delicada rede de prata que reluzia com pedras preciosas de um tom escuro de púr- pura. Tyrion nunca a vira mais adorável, mas ostentava a mágoa naquelas longas mangas de cetim.
    - Senhora Sansa - disse-lhe -, esta noite será a mais bela senhora no salão.
    - O senhor é bondoso demais.
    - Senhora - disse Shae em tom desejoso. - Eu não poderia ir servir às mesas? Quero tanto ver os pombos saírem voando da torta.
    Sansa olhou-a com incerteza.
    - A rainha escolheu todos os criados.
    - E o salão estará muito cheio de gente. - Tyrion teve de reprimir o aborrecimento. - Mas haverá músicos por todo o castelo, e mesas no pátio exterior com comida e bebida para todos. - Inspecionou o seu gibão novo, de veludo carmesim com ombros almofada- dos e mangas bufantes com cortes que mostravam o cetim negro que tinham por baixo. Um belo traje. Tudo o que precisa é de um belo homem para vesti-lo. - Venha, Pod, ajude- -me a entrar nisto.
    Bebeu outra taça de vinho enquanto se vestia, e então tomou a esposa pelo braço e acompanhou-a para fora da Fortaleza das Cozinhas, a fim de se juntarem ao rio de seda, cetim e veludo que fluía para a sala do trono. Alguns convidados já tinham ocupado seus lugares nos bancos. Outros zanzavam diante das portas, aproveitando o calor fora de época da tarde. Tyrion desfilou com Sansa em volta do pátio, a fim de cumprir as corte¬sias da praxe.
    Ela é boa nisso, pensou, enquanto a observava dizer ao Lorde Gyles que sua tosse parecia melhor, elogiar Elinor Tyrell pelo vestido e interrogar Jalabhar Xho acerca dos costumes nupciais das Ilhas do Verão. O primo de Tyrion, Sor Lancei, havia sido trazido para baixo por Sor Kevan, era a primeira vez que deixava a cama desde a batalha. Tem um aspecto horrível Os cabelos de Lancei tinham se tornado brancos e quebradiços, e ele estava magro como um espeto. Se não tivesse o pai ao seu lado para mantê-lo em pé, cer¬tamente teria tombado no chão. Mas quando Sansa elogiou sua bravura e disse como era bom vê-lo ganhando forças de novo, tanto Lancei como Sor Kevan resplandeceram. Ela teria sido uma boa rainha e uma esposa ainda melhor para Joffrey se ele tivesse tido o bom- -senso de amá-la. Perguntou a si mesmo se o sobrinho seria capaz de amar alguém.
    - Seu visual está muito requintado, filha - disse a Senhora Olenna Tyrell a Sansa quando se aproximou deles em seu passo titubeante, trajando um vestido de pano de ouro que devia pesar mais do que ela. - Mas o vento desmanchou seus cabelos. - A pequena velha esticou-se e ocupou-se com as madeixas soltas, voltando a colocá-las no lugar e endireitando a rede para cabelo de Sansa. - Fiquei muito triste quando soube de suas perdas - disse enquanto remexia e repuxava. - Seu irmão era um horrível traidor, eu sei, mas se começarmos a matar homens em bodas, eles ficarão com ainda mais medo do casamento do que já têm. Pronto, assim está melhor, - A Senhora Olenna sorriu. - Tenho o prazer de dizer que parto para Jardim de Cima depois de amanhã. Já estou por aqui desta cidade malcheirosa, muito obrigada. Talvez queira me acompanhar para uma pequena visita, enquanto os homens estão longe entretidos com a guerra deles? Vou sen¬tir uma falta tão terrível de minha Margaery, e de todas as suas adoráveis senhoras. Sua companhia seria um conforto tão querido.
    - E gentil demais, senhora - disse Sansa -, mas o meu lugar é junto do senhor meu esposo
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:24 pm

    A Senhora Olenna concedeu a Tyrion um sorriso enrugado e desdentado.
    - Oh? Perdoe uma velha tonta, senhor, não pretendi roubar a sua adorável esposa de você. Assumi que estaria longe, liderando uma tropa Lannister contra um inimigo mal¬vado qualquer.
    - Uma tropa de dragões e veados. O mestre da moeda tem de permanecer na corte para garantir que todos os exércitos sejam pagos.
    - Com certeza. Dragões e veados, é muito inteligente. E também a moeda do anão. Já ouvi falar dessa moeda do anão. Sem dúvida que coletá-la é uma ocupação tão desagradável.
    - Deixo a outros a coleta, senhora.
    - Ah, deixa? Eu pensava que gostaria de tratar disso em pessoa. Não podemos admi¬tir que a Coroa seja espoliada de sua moeda do anão. Podemos?
    - Que os deuses não o permitam. - Tyrion começava a perguntar a si mesmo se Lor¬de Luthor Tyrell não teria cavalgado falésia abaixo intencionalmente, - Se nos perdoar, Senhora Olenna, é hora de ocuparmos nosso lugar.
    - E eu também. Setenta e sete pratos, certamente. Não acha que isso é um pouco ex¬cessivo, senhor? Eu não comerei mais do que três ou quatro garfadas, mas nós dois somos muito pequenos, não somos? - voltou a dar palmadinhas nos cabelos de Sansa e disse: - Bem, vá lá, filha, e tente se mostrar mais alegre. Onde se meteram os meus guardas? Esquerdo, Direito, onde estão? Venham me ajudar a subir para o estrado.
    Embora o anoitecer ainda estivesse a uma hora de distância, a sala do trono já es¬tava um esplendor de luz, com tochas ardendo em todas as arandelas. Os convidados alinhavam-se, em pé, ao longo das mesas, enquanto arautos gritavam nome e títulos dos senhores e senhoras que faziam sua entrada. Pajens com a libre real escoltavam-nos pelo largo corredor central. A galeria encontrava-se repleta de músicos; tambores, flautistas e rabequeiros, corda, sopro e percussão.
    Tyrion pegou no braço de Sansa e fez a caminhada num passo pesado e bambolean- te. Sentia os olhos postos nele, espiando a nova cicatriz que o tinha deixado ainda mais feio do que já era. Que olhem, pensou enquanto saltava para a cadeira. Que me encarem e que murmurem até sejartarem, não me esconderei por causa deles. A Rainha dos Espinhos seguiu-o, avançando com passinhos minúsculos. Tyrion perguntou a si mesmo qual dos dois pareceria mais absurdo, ele com Sansa ou a mulherzinha encarquilhada entre seus guardas gêmeos de dois metros e dez de altura.
    Joffrey e Margaery entraram na sala do trono montados em cavalos brancos combi¬nando. Pajens corriam à frente deles, espalhando pétalas de rosa sob os cascos. O rei e a rainha também tinham se trocado para o banquete. Joffrey usava calções com listras negras e carmesim e um gibão de pano de ouro com mangas de cetim negro e rebites de ônix. Margaery trocou o vestido recatado que tinha usado no septo por outro muito mais revelador, um traje de samito verde-claro com um corpete em renda miúda que lhe desnudava os ombros e a parte superior de seus pequenos seios. Soltos, os suaves cabelos castanhos caíam sobre seus ombros brancos e desciam pelas costas quase até a cintura, Na testa trazia uma esguia coroa de ouro. Seu sorriso era tímido e doce, Uma garota ado¬rável, pensou Tyrion, e um destino mais gentil do que o que o meu sobrinho merece.
    A Guarda Real escoltou-os até o estrado, até os lugares de honra à sombra do Trono de Ferro, envolto para a ocasião em longas fíâmulas do dourado Baratheon, do carmesim Lannister e do verde Tyrell Cersei abraçou Margaery e beijou suas bochechas. Lorde Tywin fez o mesmo, e o mesmo fizeram Lancei e Sor Kevan. Joffrey recebeu beijos de carinho do pai da noiva e de seus dois novos irmãos, Loras e Garlan, Ninguém pareceu muito ansioso por beijar Tyrion. Depois do rei e da rainha ocuparem seus lugares, o Alto Septão levantou-se para comandar uma prece. Pelo menos não é tão monótono quanto o último, pensou Tyrion, consolando-se.
    Ele e Sansa tinham sido postos em lugares distantes à direita do rei, ao lado de Sor Garlan Tyrell e de sua esposa, a Senhora Leonette. Havia uma dúzia de outros convivas sentados mais perto de Joffrey, o que um homem mais suscetível teria tomado como uma afronta, dado ter sido Mão do Rei não muito tempo antes. Tyrion teria se sentido con¬tente se esses convivas tivessem sido cem.
    - Que as taças sejam enchidas! - proclamou Joffrey, depois que os deuses receberam o que lhes era devido. Seu copeiro despejou um jarro inteiro de escuro tinto da Árvore no cálice nupcial de ouro que Lorde Tyrell lhe dera naquela manhã. O rei teve de usar ambas as mãos para erguê-lo. - A minha esposa, a rainhaí
    - Margaery! - gritou o salão em resposta. - Margaery! Margaery! A rainha! - Mil taças retiniram umas nas outras e o banquete nupcial teve o seu verdadeiro início. Tyrion Lannister bebeu com os outros, esvaziando a taça naquele primeiro brinde e fazendo sinal para que voltassem a enchê-la assim que se sentou de novo.
    O primeiro prato era uma sopa cremosa de cogumelos e caracóis na manteiga, servida em tigelas douradas. Tyrion quase não tocara no café da manhã, e o vinho já tinha lhe subido à cabeça, por isso a comida era bem-vinda. Terminou depressa. Um já era, faltam setenta e seis. Setenta e sete pratos, enquanto ainda há crianças passando fome nesta cidade,
    e homens capazes de matar por um rabanete. Poderiam amar bem menos os Tyrell se nos
    vissem agora.
    Sansa provou uma colherada de sopa e afastou a tigela.
    - Não lhe agrada, senhora? - perguntou Tyrion.
    - Haverá tanta coisa, senhor. Tenho uma barriga pequena. - Remexeu nervosamente nos cabelos e olhou ao longo da mesa para onde Joffrey se encontrava com a sua rainha Tyrell
    Será que desejaria estar no lugar de Margaery? Tyrion franziu a testa. Até uma criança devia ter mais juízo. Afastou os olhos, procurando uma distração, mas para onde quer que olhasse via mulheres; boas, lindas, felizes e belas mulheres que pertenciam a outros homens. Margaery, claro, sorria com doçura enquanto partilhava com Joffrey uma bebida vinda do cálice de sete lados. Sua mãe, a Senhora Alerie, grisalha e bonita, ainda orgu¬lhosa ao lado de Mace Tyrell. As três jovens
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:24 pm

    primas da rainha, vivas como passarinhos. A esposa myresa de Lorde Merryweather, com seus cabelos negros e seus grandes olhos, negros e provocantes. Ellaria Sand entre os dorneses (Cersei colocara-os numa mesa só para eles, logo abaixo do estrado, num lugar de grande honra, mas tão longe dos Tyrell quanto a largura do salão permitia), rindo de qualquer coisa que a Víbora Vermelha ha¬via lhe dito.
    E havia uma mulher, sentada quase na ponta da terceira mesa da esquerda... a esposa de um dos Fossoway, achava ele, e bem grávida do filho dele. Sua delicada beleza não era em nada diminuída pela barriga, e o prazer que obtinha da comida e dos divertimentos também não. Tyrion observou-a enquanto o marido lhe oferecia pedacinhos de seu prato, Bebiam da mesma taça e beijavam-se com freqüência e imprevisivelmente. Sempre que o faziam, a mão dele pousava com gentileza no estômago dela, num gesto terno e protetor.
    Perguntou a si mesmo o que Sansa faria se ele se debruçasse e a beijasse naquele exato momento. O mais certo seria recuar. Ou armar-se de coragem e agüentar, cumprindo o seu dever. Não se pode dizer que esta minha esposa não seja cumpridora de seu dever. Se lhe dissesse que queria romper sua virgindade esta noite, ela agüentaria isso obedientemente e não choraria mais do que tivesse de chorar.
    Pediu mais vinho. Quando o obteve, o segundo prato estava sendo servido, uma fôrma feita de massa de torta e cheia de carne de porco, pinhões e ovos. Sansa não comeu mais do que uma de suas garfadas, enquanto os arautos anunciavam o primeiro dos sete cantores.
    Hamish, o Harpista, de barba grisalha, anunciou que iria tocar "pros ouvidos de deuses e homens uma canção nunca antes ouvida em todos os Sete Reinos". Chamou-a de "A cavalgada de Lorde Renly".
    Os dedos do homem moveram-se pelas cordas da harpa vertical, enchendo a sala do trono com um som doce.
    - Do seu trono de ossos o Senhor da Morte olhou o lorde assassinado - começou Ha¬mish, e prosseguiu contando o modo como Renly, arrependendo-se de sua tentativa de usurpar a coroa do sobrinho, tinha desafiado o próprio Senhor da Morte e regressado à terra dos vivos para defender o reino contra o irmão.
    E foi por isso que o pobre Symon acabou numa tigela de castanho, refletiu Tyrion. A Rainha Margaery lacrimejou no fim, quando a sombra do bravo Lorde Renly voou até Jardim de Cima para olhar uma última vez o rosto de seu verdadeiro amor.
    - Renly Baratheon nunca se arrependeu de nada na vida - disse o Duende a Sansa - mas se é para arriscar alguma coisa, diria que Hamish acabou de ganhar um alaúde dourado.
    O Harpista também lhes ofereceu várias canções mais familiares, "Uma rosa de ouro" era para os Tyrell, sem dúvida, assim como "As chuvas de Castamere" se destinava a lison- jear o pai de Tyrion."Donzela, mãe e velha" deliciou o Alto Septão, e"A senhora minha esposa" agradou a todas as mocinhas com romance no coração, e, sem dúvida, a alguns dos rapazinhos também. Tyrion escutou com meio ouvido, enquanto provava bolinhos fritos de milho doce e pão de aveia quente com pedaços de tâmara; maçã e laranja e roía a costela de um javali selvagem.
    Daí em diante, os pratos e diversões sucederam-se uns aos outros numa profusão des- concertante, boiando numa enchente de vinho e cerveja. Hamish deixou-os, e o seu lugar foi ocupado por um urso razoavelmente pequeno e idoso, que dançou desajeitadamen¬te ao som de flautas e tambores, enquanto os convidados da boda comiam truta com uma crosta de purê de amêndoas. O Rapaz Lua subiu nas pernas de pau e começou a caminhar imponentemente em volta das mesas, perseguindo o Abetouro, o bobo ridi- culamente gordo de Lorde Tyrell, e os senhores e as senhoras provaram garças assadas e empadões de queijo e cebolas. Uma trupe de malabaristas de Pentos executou estrelas e mortais, equilibrou bandejas nos pés descalços e formou uma pirâmide, apoiando-se nos ombros uns dos outros. Seus feitos foram acompanhados por caranguejos cozidos com ardentes especiarias orientais, tabuleiros cheios de nacos de carneiro guisado em leite de amêndoa com cenouras, passas e cebolas, e tortas de peixe recém-saídas dos fornos, ser¬vidas tão quentes que queimavam os dedos.
    Então os arautos chamaram outro cantor; Collio Quaynis de Tyrosh, cuja barba os¬tentava um tom vermelho-alaranjado e cujo sotaque era tão ridículo como Symon garan¬tira que seria. Collio começou com a sua versão de "A dança dos dragões", que era mais adequada como canção para dois cantores, um homem e uma mulher. Tyrion suportou-a com a dupla ajuda de uma perdiz com mel e gengibre e de várias taças de vinho. Uma balada insinuante sobre um casal de amantes moribundos no meio da Destruição de Valíria poderia ter agradado mais ao salão se Collio não a tivesse cantado em alto va- liriano, língua que a maior parte dos convidados desconhecia. Mas "Bessa, a criada de bar" reconquistou-os com a sua letra libertina. Foram servidos pavões na sua plumagem, assados inteiros e recheados de tâmaras, enquanto Collio chamava um tambor, fazia uma profunda reverência perante Lorde Tywin e se lançava em "As chuvas de Castamere".
    Se me obrigarem a ouvir sete versões daquilo, pode ser que desça à Baixada das Pulgas para pedir desculpas ao guisado. Tyrion virou-se para a esposa.
    - Então, qual preferiu?
    Sansa olhou-o, pestanejando.
    - Senhor?
    - Os cantores. Qual preferiu?
    - Eu.„ lamento, senhor. Não estava ouvindo.
    E também não estava comendo.
    - Sansa, há alguma coisa errada? - falou sem pensar, e sentiu-se instantaneamente idiota. Toda a família dela foi massacrada e está casada comigo, e eu não sei o que há de errado.
    - Não, senhor, - Afastou os olhos dele e fingiu um interesse pouco convincente no Rapaz Lua, que enchia Sor Dontos de tâmaras.
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:25 pm

    Quatro mestres piromantes conjuraram feras de chamas vivas para se atacarem umas às outras com garras ardentes enquanto os criados carregavam para o salão tigelas de blandissório, uma mistura de caldo de carne com vinho fervido adoçado com mel e sal¬picado de amêndoas descascadas e pedaços de capão. Então veio um grupo de flautistas ambulantes, cães amestrados e engolidores de espadas, com ervilhas na manteiga, nozes fatiadas e lascas de cisne escaldado num molho de açafrão e pêssegos.
    - Cisne outra vez, não - resmungou Tyrion, lembrando-se do jantar com a irmã na véspera da batalha.
    Um malabarista manteve meia dúzia de espadas e machados rodopiando no ar en¬quanto espetos de morcela eram trazidos ainda chiando para as mesas, uma justaposição que Tyrion achou bastante esperta, embora talvez não do melhor dos gostos.
    Os arautos sopraram as suas trombetas.
    - Para cantar pelo alaúde dourado - gritou um deles - apresentamos Galyeon de Cuy.
    Galyeon era um grande homem, com o peito em forma de barril, barba negra, cabeça
    calva e uma voz trovejante que enchia cada canto da sala do trono. Trouxe nada menos que seis músicos para tocar para ele.
    - Nobres senhores e belas senhoras, não cantarei mais do que uma canção para vocês esta noite - anunciou. - E a canção da Água Negra e de como um reino foi salvo, - O tambor começou num ritmo lento e agourento.
    - 0 negro lorde cismou, no topo de sua torre - começou Galyeon - num castelo tão negro como a noite.
    - Negro eram seus cabelos e negra a sua alma - entoaram os músicos em uníssono. Uma flauta juntou-se à melodia.
    - Alimentava-se de sangue e inveja, e enchia a taça até transbordar de rancor - cantou Galyeon. - Meu irmão governou sete reinos, disse à bruxa da esposa. Tomarei o que era seu e vou torná-lo meu. Que o seu filho sinta o gume de minha adaga.
    - Um jovem bravo com cabelos de ouro - entoaram os músicos, enquanto uma harpa de mão e uma rabeca começavam a tocar.
    - Se algum dia voltar a ser Mão, a primeira coisa que faço é enforcar todos os canto¬res - disse Tyrion, alto demais.
    A Senhora Leonette soltou uma leve gargalhada ao seu lado, e Sor Garlan debruçou- -se para dizer:
    - Um feito valente que não for cantado não será menos valente.
    - O lorde negro reuniu as legiões, rodearam-no como corvos fazendo-o feliz. E sedentos de sangue embarcaram nos navios...
    ~ ... e do pobre Tyrion cortaram o nariz - concluiu Tyrion.
    A Senhora Leonette soltou um risinho.
    - Talvez devesse ser um cantor, senhor. Rima tão bem quanto este Galyeon.
    - Não, senhora - disse Sor Garlan. - O senhor de Lannister está destinado a realizar grandes feitos, não a cantar a respeito deles. Se não fosse a sua corrente e o seu fogovi- vo, o inimigo teria atravessado o rio. E se os selvagens de Tyrion não tivessem matado a maior parte dos batedores de Lorde Stannis, nunca teríamos sido capazes de pegá-los desprevenidos.
    Aquelas palavras fizeram com que Tyrion se sentisse absurdamente grato, e ajudaram a apaziguá-lo enquanto Galyeon cantava intermináveis versos sobre o valor do rei rapaz e de sua mãe, a rainha dourada.
    - Ela não fez isso - exclamou Sansa de repente.
    - Nunca acredite em nada que ouça numa canção, senhora. - Tyrion chamou um criado para voltar a encher de vinho suas taças.
    Já era noite cerrada do lado de fora das grandes janelas, e Galyeon continuava a cantar. Sua canção tinha setenta e sete versos, embora parecesse ter mil. Um para cada conviva presente no salão. Tyrion aguentou os últimos vinte e tantos bebendo, para ajudar a resis¬tir à vontade de enfiar cogumelos nos ouvidos. Quando o cantor finalmente fez as suas vênias, alguns dos convidados estavam suficientemente bêbados para começar a apresen¬tar seus próprios divertimentos involuntários. O Grande Meistre Pycelle adormeceu, en¬quanto dançarinos das Ilhas do Verão giravam e rodopiavam com vestimentas feitas de penas brilhantes e seda esfúmaçada. Medalhões de alce recheados com queijo mofado maduro estavam sendo servidos quando um dos cavaleiros de Lorde Rowan apunhalou um dornês. Os homens de manto dourado arrastaram ambos para fora da sala, um para apodrecer numa cela e o outro para ser cosido pelo Meistre Ballabar,
    Tyrion brincava com o bolo de carne de porco cozido em leite e temperado com cane¬la, cravo, açúcar e leite de amêndoa, quando o Rei Joffrey se levantou subitamente.
    - Tragam 05 meus reais cavaleiros! - gritou, numa voz pesada de vinho, batendo as mãos.
    Meu sobrinho está mais bêbado do que eu, pensou Tyrion enquanto os homens de man¬to dourado abriam as grandes portas no fundo do salão, Do local em que se encontrava sentado só conseguia ver o topo de duas lanças listradas quando dois homens a cavalo entraram lado a lado, Uma onda de gargalhadas seguiu-os pelo corredor central, na dire¬ção do rei. Devem vir montados em pôneis, concluiu... até surgirem à sua vista.
    Os cavaleiros eram um par de anões. Um montava um feio cão cinzento, de pernas longas e maxilas pesadas, O outro montava uma imensa porca malhada. Armaduras de madeira pintada chocalhavam e estalavam enquanto os pequenos cavaleiros eram sacudi¬dos para cima e para baixo em suas celas. Os escudos eram maiores do que eles e lutavam intrepidamente com as lanças enquanto avançavam, balançando de um lado para o outro e trazendo à tona rajadas de humor. Um cavaleiro vinha todo de dourado, com um veado negro pintado no escudo; o outro usava cinza e branco e trazia como símbolo um lobo. As montarias vinham albardadas da mesma forma.
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:25 pm

    Tyrion relanceou pelo estrado, para todos os rostos sorridentes. Joffrey estava verme¬lho e sem fôlego, Tommen gritava, aos saltos na cadeira, Cersei soltava risinhos polidos, e até Lorde Tywin parecia moderadamente estar se divertindo. De todos os que estavam sentados à mesa elevada, só Sansa Stark não sorria. Poderia tê-la amado por isso, mas na verdade os olhos da garota Stark encontravam-se longe, como se nem sequer tivesse visto os ridículos cavaleiros saltitando em sua direção.
    Os anões não têm culpa, decidiu Tyrion. Quando terminarem, vou elogiá-los e dar uma gorda bolsa de prata a eles. E ao chegar a manhã, descobrirei quem planejou esta pequena diversão e tratarei de arranjar uma forma diferente de agradecer.
    Quando os anões frearam as montarias sob o estrado para saudar o rei, o cavaleiro do lobo deixou o escudo cair. Ao inclinar-se para apanhá-lo, o cavaleiro do veado perdeu o controle de sua pesada lança e atingiu-o nas costas. O cavaleiro do lobo caiu da por¬ca, e sua lança tombou e deu uma traulitada na cabeça do adversário. Ambos acabaram no chão, numa grande confusão. Quando se ergueram, ambos tentaram montar o cão. Seguiram-se muitos gritos e empurrões. Por fim, reconquistaram as selas, só que um montado no corcel do outro, segurando o escudo errado e virados para trás.
    Levou algum tempo para ajeitarem as coisas, mas por fim esporearam as montarias, dirigiram-se às extremidades opostas do salão e viraram-se para a justa. Enquanto os senhores e as senhoras soltavam gargalhadas e risinhos, os pequenos homens colidiram com estrondo e tinido, e a lança do cavaleiro do lobo atingiu o elmo do cavaleiro do vea¬do, fazendo sua cabeça saltar. Esta rodopiou pelo ar, espalhando sangue, e foi aterrissar no colo de Lorde Gyles. O anão sem cabeça começou a cambalear ao redor das mesas, agitando os braços. Cães ladraram, mulheres gritaram, e o Rapaz Lua deu um grande espetáculo, oscilando de um lado para o outro sobre suas pernas de pau, até que Lorde Gyles tirou um melão vermelho pingando de dentro do elmo despedaçado, no mesmo momento em que o cavaleiro do veado tirou a cabeça para fora da armadura, e outra tem-pestade de risos sacudiu o salão. Os cavaleiros esperaram que terminasse, rodearam-se um ao outro trocando coloridos insultos e estavam prestes a se separar para outra justa quando o cão atirou seu cavaleiro ao chão e montou a porca. O enorme animal guinchou de aflição, enquanto os convidados da boda guinchavam de riso, redobrado quando o cavaleiro do veado saltou para cima do cavaleiro do lobo, despiu seus calções de madeira e começou a se sacudir freneticamente de encontro às partes baixas do outro.
    - Rendo-me, rendo-me - gritou o anão de baixo. - Bom sor, guarde a espada!
    - Guardaria, guardaria, se parasse de mexer a bainha! - respondeu o anão de cima, para divertimento geral.
    Vinho jorrava de ambas as narinas de Joffrey. Arfando, pôs-se em pé com dificuldade, quase derrubando seu grande cálice de duas mãos.
    - Um campeão - gritou. - Temos um campeão! - O salão começou a ficar em silên¬cio quando os convidados perceberam que o rei estava falando. Os anões separaram-se, sem dúvida à espera dos agradecimentos reais. - Mas não é um verdadeiro campeão - disse JofF. - Um verdadeiro campeão derrota todos aqueles que o desafiam. - O rei subiu para cima da mesa. - Quem mais desafiará o nosso minúsculo campeão? - com um sor¬riso cheio de satisfação, virou-se para Tyrion. - Tio! Você irá defender a honra do meu reino, não é verdade? Pode montar o porco!
    As gargalhadas estouraram sobre ele como uma onda. Tyrion Lannister não lembrava de ter se levantado, nem de ter subido na cadeira, mas deu por si empoleirado na mesa. O salão era uma mancha de rostos maliciosos, iluminada pelos archotes. Torceu o rosto na mais hedionda caricatura de um sorriso que os Sete Reinos já tinham visto.
    - Vossa Graça - gritou eu montarei o porco... mas só se o senhor montar o cão!
    JofF franziu a testa, confuso.
    - Eu? Eu não sou nenhum anão. Por que eu?
    Meteu o pé direitinho na argola,Joff.
    - Ora, é o único homem presente no salão que eu tenho a certeza de derrotar!
    Não poderia dizer o que era mais agradável; o instante de silêncio chocado, o venda- val de gargalhadas que se seguiu, ou a expressão de fúria cega no rosto do sobrinho. O anão voltou ao chão com um salto, bastante satisfeito, e, quando olhou novamente, Sor
    Osmund e Sor Meryn estavam ajudando Joff a descer também. Quando viu que Cersei o fulminava com o olhar, Tyrion soprou-lhe um beijo.
    Foi um alívio quando os músicos começaram a tocar. Os minúsculos cavaleiros leva¬ram o cão e a porca para fora do salão, os convidados retornaram aos seus tabuleiros de bolo de carne de porco e Tyrion pediu outra taça de vinho. Mas de repente sentiu a mão de Sor Garlan em sua manga.
    - Senhor, atenção - avisou o cavaleiro. - O rei.
    Tyrion virou-se na cadeira. Joffrey estava quase em cima dele, rubro e cambaleante, fazendo saltar vinho sobre a borda do grande cálice nupcial dourado que carregava com ambas as mãos.
    - Vossa Graça - foi tudo que teve tempo de dizer antes de o rei virar o cálice sobre a sua cabeça. O vinho caiu sobre seu rosto numa torrente vermelha. Empapou seu cabelo, fez seus olhos arderem, queimou seu ferimento, escorreu por suas bochechas e ensopou o veludo de seu gibão novo.
    - O que acha disso, Duende? - escarneceu Joffrey.
    Os olhos de Tyrion estavam em fogo. Esfregou várias vezes o rosto com a parte de trás da manga e, piscando, tentou devolver clareza ao mundo.
    - Isso não foi correto, Vossa Graça - ouviu Sor Garlan dizer em voz baixa.
    - De modo algum, Sor Garlan, - Tyrion não se atrevia a deixar que aquilo ficasse ainda mais feio do que já estava, não ali, com metade do reino como testemunha. - Não é um rei qualquer que
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:25 pm

    pensaria em honrar um humilde súdito servindo-o do seu próprio cálice real, Uma pena que o vinho tenha se derramado.
    - Não se derramou - disse Joffrey, dotado de demasiada deselegância para aceitar a retratação que Tyrion tinha lhe oferecido. - E também não o estava servindo.
    A Rainha Margaery surgiu de repente junto do cotovelo de Joffrey.
    - Meu querido rei - rogou a moça Tyrell -, venha, volte ao seu lugar, há outro cantor à espera.
    - Alaric de Eysen - disse a Senhora Olenna Tyrell, apoiando-se na bengala e sem prestar mais atenção no anão encharcado de vinho do que a neta havia prestado, - Tenho tanta esperança de que ele toque "As chuvas de Castamere" para nós. Já se passou uma hora, esqueci-me da melodia.
    - Além disso, Sor Addam quer fazer um brinde - disse Margaery. - Vossa Graça, por favor.
    - Não tenho vinho - declarou Joffrey, - Como é que posso fazer um brinde se não tenho vinho? Tio Duende, pode me servir. Uma vez que não quer justar, será o meu copeiro.
    - Será uma honra.
    - Não é para ser uma honra! - gritou Joffrey. - Dobre-se e pegue o meu cálice. - Tyrion fez o que lhe foi pedido, mas ao estender a mão para a alça, Joff chutou o cálice por entre suas pernas. - Pegue-o! Será que é tão desastrado quanto feio? - teve de se enfiar debaixo da mesa para achar aquela coisa. - Ótimo, agora encha-o com vinho. - Pegou um jarro que uma criada transportava e encheu a taça até três quartos. - Não, de joelhos, anão. - Ajoelhando, Tyrion ergueu a pesada taça, perguntando a si mesmo se estaria prestes a tomar um segundo banho. Mas Joffrey pegou o cálice nupcial com uma só mão, bebeu longamente e apoiou-o na mesa. - Agora pode se levantar, tio.
    Sentiu cãibras nas pernas ao tentar se erguer, e quase voltou a cair. Tyrion teve de se agarrar a uma cadeira para se firmar. Sor Garlan estendeu-lhe uma mão. Joffrey riu, e Cersei também. Depois foram outros. Não viu quem, mas ouviu-os.
    - Vossa Graça - a voz de Lorde Tywin estava impecavelmente correta. - A torta está chegando. Sua espada é necessária.
    - A torta? - Joffrey pegou na mão de sua rainha, - Venha, senhora, é a torta.
    Os convidados ficaram em pé, gritando, aplaudindo e batendo as taças de vinho umas nas outras enquanto a grande torta avançava lentamente ao longo da extensão do salão, empurrada por meia dúzia de radiantes cozinheiros. Tinha dois metros de largura, uma crosta e um tom dourado de marrom, e ouviam-se guinchos e batidas vindos lá de dentro.
    Tyrion voltou a subir na cadeira. Tudo que lhe faltava agora era que uma pomba ca¬gasse em cima dele para que o dia ficasse completo. O vinho tinha atravessado o gibão e as roupas de baixo, e sentia a umidade contra a pele. Devia trocar de roupa, mas não era permitido a ninguém abandonar o banquete até chegar a hora de levar os noivos para a cama. Calculou que isso ainda estivesse a uns vinte ou trinta pratos de distância.
    O Rei Joffrey e sua rainha dirigiram-se à torta, colocada diante do estrado. Quando JofF puxou a espada, Margaery apoiou uma mão em seu braço para detê-lo.
    - A Lamento da Viúva não se destina a cortar tortas.
    - E verdade. - Joffrey ergueu a voz. - Sor Ilyn, a sua espada!
    Das sombras do fundo do salão surgiu Sor Ilyn Payne. 0 espectro no festim, pensou Tyrion enquanto observava o Magistrado do Rei avançar, descarnado e sombrio. Era novo demais para ter conhecido Sor Ilyn antes de perder a língua. Teria sido um homem diferente nesse tempo, mas agora o silêncio faz tanto parte dele como aqueles olhos vazios, aquela malha enferrujada e a espada longa que traz às costas,
    Sor Ilyn fez uma reverência perante o rei e a rainha, estendeu a mão por sobre o ombro e apresentou um metro e oitenta de ornamentada prata, cintilante de runas. Ajoe¬lhou para oferecer a enorme lâmina a Joffrey, com o cabo para a frente; pontos de fogo vermelho piscaram dos olhos de rubi no botão, um pedaço de vidro de dragão esculpido em forma de uma caveira sorridente.
    Sansa agitou-se na cadeira,
    - Que espada é aquela?
    Os olhos de Tyrion ainda ardiam por causa do vinho, Piscou e voltou a olhar. A espada de Sor Ilyn era tão longa e larga quanto Gelo, mas era brilhante e prateada de¬mais; o aço valiriano possuía certa escuridão, uma espécie de fumaça em sua alma. Sansa agarrou seu braço.
    - O que Sor Ilyn fez com a espada de meu pai?
    Eu devia ter mandado Gelo de volta a Robh Stark, pensou Tyrion. Olhou de relance para o pai, mas Lorde Tywin observava o rei.
    Joffrey e Margaery juntaram as mãos para erguer a espada e brandi-la, juntos, num arco prateado. Quando a crosta da torta se quebrou, as pombas jorraram num turbilhão de penas brancas, espalhando-se em todas as direções, dirigindo-se às janelas e às vigas. Um rugido de deleite ergueu-se dos bancos, e os rabequeiros e gaiteiros na galeria come¬çaram a tocar uma melodia jovial. Joff tomou a noiva nos braços e fê-la girar alegremente.
    Um criado colocou uma fatia quente de torta de pombo diante de Tyrion e cobriu-a com uma colherada de creme de limão. Naquela torta os pombos estavam bem e verda¬deiramente cozidos, mas não os achou mais apetitosos do que os brancos que esvoaça- vam pelo salão. Sansa também não comia.
    - Está mortalmente pálida, senhora - disse Tyrion. - Precisa respirar um pouco de ar fresco e eu preciso de um gibão lavado. - Ergueu-se e ofereceu-lhe um braço. - Venha.
    Mas antes de conseguirem se retirar, Joffrey voltou.
    - Tio, aonde vai? E o meu copeiro, esqueceu?
    - Preciso vestir um traje limpo, Vossa Graça. Posso ter a sua licença?
    - Não. Gosto do aspecto que tem, Sirva-me o vinho.
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:25 pm

    O cálice do rei encontrava-se na mesa, onde ele o deixara. Tyrion teve de voltar a subir na cadeira a fim de alcançá-lo. Joff arrancou-o de suas mãos e bebeu longa e profunda¬mente, com a garganta se agitando enquanto o vinho lhe escorria, purpúreo, pelo queixo.
    - Senhor - disse Margaery -, devíamos regressar aos nossos lugares. Lorde Buckler quer fazer um brinde à nossa saúde.
    - Meu tio não comeu sua torta de pombo. - Segurando o cálice com uma mão, JofF enfiou a outra na torta de Tyrion. - Não comer a torta traz má sorte - ralhou com ele enquanto enchia a boca com pombo quente e condimentado. - Está vendo? E boa. - Cuspindo flocos de crosta, tossiu e serviu-se de outro bocado. - Mas está seca. Precisa ser empurrada para baixo. - Joff bebeu um trago de vinho e voltou a tossir, com mais violência. - Quero ver, cof, como monta aquele, cof cof, porco, tio. Quero... - As suas pala¬vras interromperam-se num ataque de tosse.
    Margaery olhou-o com preocupação.
    - Vossa Graça?
    - E, cof, a torta, nad... cof, torta, - Joff bebeu outro gole, ou tentou, mas o vinho foi todo cuspido quando outro ataque de tosse o fez se dobrar, O rosto dele estava ficando vermelho. - Eu, cof não consigo, cof cof cof cof... - O cálice escapou de sua mão e o escuro vinho tinto escorreu pelo estrado.
    - Ele está sufocando - arquejou a Rainha Margaery.
    A avó pôs-se ao seu lado.
    - Ajudem o pobre rapaz! - guinchou a Rainha dos Espinhos, com uma voz que era dez vezes maior do que ela, - Palermas! Vão ficar todos aí de boca aberta? Ajudem o seu rei!
    Sor Garlan afastou Tyrion com um empurrão e começou a bater nas costas de Joffrey. Sor Osmund Kettleblack rasgou o colarinho do rei. Um terrível som forte e agudo emer¬giu da garganta do rapaz, o som de um homem que tentava sugar um rio através de um caniço; então parou, e isso foi ainda mais terrível.
    - Virem-no ao contrário! - berrou Mace Tyrrell para todos e para ninguém. - Virem- -no ao contrário, sacudam-no pelos calcanhares!
    Uma voz diferente estava gritando:
    - Água, deem-lhe um pouco de água! - o Alto Septão começou a rezar ruidosamen¬te, O Grande Meistre Pycelle gritou para alguém ajudá-lo a voltar aos seus aposentos, a fim de ir buscar as suas poções. Joffrey começou a arranhar a garganta, rasgando com as unhas fendas sangrentas na carne. Por baixo da pele, os músculos projetavam-se, duros como pedra. O Príncipe Tommen gritava e chorava.
    Ele vai morrer, compreendeu Tyrion. Sentiu-se curiosamente calmo, embora o pande¬mônio se alastrasse por toda a sua volta. Estavam de novo batendo nas costas de Joff, mas o rosto dele só ficava mais escuro, Cães latiam, crianças berravam, homens gritavam con¬selhos inúteis uns aos outros. Metade dos convidados do casamento estava em pé, alguns empurrando-se para ver melhor, outros correndo para as portas na pressa de irem embora.
    Sor Meryn abriu a boca do rei para lhe enfiar uma colher goela abaixo. Quando fez isso, os olhos do rapaz encontraram-se com os de Tyrion. Ele tem os olhos de Jaime. Porém nunca vira Jaime com uma expressão tão assustada. O rapaz só tem treze anos. Joffrey fa¬zia um som seco, uma espécie de estalido, tentando falar. Seus olhos dilataram-se, bran¬cos de terror, e ergueu uma mão... estendendo-a para o tio, ou apontando... Estará me pedindo perdão, ou será que pensa que posso salvá-lo?
    - Nããããão - uivou Cersei - Pai, ajude-o, alguém o ajude, o meu filho, o meu filho...
    Tyrion deu por si pensando em Robb Stark. Em retrospectiva, o meu casamento está
    parecendo muito melhor. Tentou ver como Sansa estaria recebendo aquilo, mas a confusão no salão era tanta que não conseguiu encontrá-la. Mas seus olhos caíram sobre o cálice nupcial, esquecido no chão. Inclinou-se e apanhou-o. No fundo ainda havia um centíme¬tro e meio de vinho de um profundo tom púrpura. Tyrion refletiu por um momento, e depois despejou-o no chão,
    Margaery Tyrell chorava nos braços da avó enquanto a velha dizia: "Coragem, cora¬gem". A maior parte dos músicos tinha fugido, mas o último flautista na galeria soprava uma canção triste. Nos fundos da sala do trono, uma balbúrdia tinha se instalado em vol¬ta das portas, e os convidados tropeçavam uns nos outros. Os homens de manto dourado de Sor Addam entraram para restaurar a ordem. Havia convidados que se precipitavam para a noite, alguns choravam, outros tropeçavam e vomitavam, outros estavam brancos de medo. Ocorreu tardiamente a Tyrion que talvez fosse sensato sair também.
    Quando ouviu o grito de Cersei, soube que tinha chegado ao fim.
    Eu devia sair. Já. Em vez disso bamboleou-se na direção da irmã.
    Ela estava sentada numa poça de vinho, embalando o corpo do filho. Tinha o vestido rasgado e manchado, e o rosto branco como cal. Um cão negro e magro aproximou-se dela, farejando o cadáver de Joffrey.
    - O rapaz está morto, Cersei - disse Lorde Tywin. Pousou a mão enluvada no ombro da filha enquanto um dos guardas enxotava o cão. - Largue-o. Deixe-o partir. - Ela não ouviu. Foram precisos dois homens da Guarda Real para desprender seus dedos de modo que o corpo do Rei Joffrey Baratheon deslizasse, sem forças e sem vida, para o chão.
    O Alto Septão ajoelhou-se ao seu lado.
    - Pai no Céu, julgue o nosso bom Rei Joffrey com justeza - entoou, dando início à prece pelos mortos. Margaery Tyrell desatou a soluçar, e Tyrion ouviu a mãe dela, Se¬nhora Alerie, dizer:
    - Ele engasgou-se, querida. Engasgou-se com a torta. Não teve nada a ver com você. Ele engasgou-se. Todos vimos.
    - Ele não se engasgou. - A voz de Cersei era tão cortante quanto a espada de Sor Ilyn. - Meu filho foi envenenado. - Olhou para os cavaleiros brancos, em pé, impotentes, em volta dela. - Guarda Real, cumpra o seu dever.
    - Senhora? - disse Sor Loras Tyrell, sem compreender.
    - Prendam o meu irmão - ordenou-lhe. - Foi ele quem fez isto, o anão. Ele e a mu- lherzinha dele» Eles mataram o meu filho. Levem-nos! Levem os dois!
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:26 pm

    Sansa 713





    Longe, do outro lado da cidade, um $ino começou a repicar.
    Sansa sentiu-se como se estivesse num sonho.
    - Joffrey está morto ~ disse às árvores, para ver se isso a acordaria.
    Não estava morto quando ela tinha abandonado a sala do trono. Mas estava de joe¬lhos, arranhando a garganta, rasgando a própria pele enquanto lutava para respirar. A cena havia sido terrível demais para observar, e ela virou-se e fugiu, soluçando. A Senho¬ra Tanda também tinha fugido.
    - Tem um bom coração, senhora - disse para Sansa. - Não é qualquer donzela que choraria assim por um homem que a pôs de lado e a casou com um anão.
    Um bom coração. Eu tenho um bom coração. Um riso histérico subiu por sua gargan¬ta, mas Sansa sufocou-o. Os sinos tocavam, lentos e fúnebres. Ressoando, ressoando, ressoando. Tinham tocado da mesma forma pelo Rei Robert. Joffrey estava morto, ele estava morto, estava morto, morto, morto. Estava chorando por quê, se o que queria era dançar? Seriam lágrimas de alegria?
    Encontrou a roupa onde a escondera, na noite da antevéspera. Sem aias que a ajudassem, levou mais tempo do que devia desatando os cordões do vestido. Tinha as mãos estranhamente desajeitadas, embora não estivesse tão assustada como devia estar.
    - Os deuses são cruéis por o levarem tão jovem e bonito, em seu próprio banquete de casamento - tinha dito a Senhora Tanda.
    Os deuses são justos, pensou Sansa. Robb também morrera num banquete de casamen¬to. Era por Robb que chorava. Por ele e por Margaery. Pobre Margaery, duas vezes casada e duas vezes viúva. Sansa tirou o braço de uma manga, empurrou o vestido para baixo e contorceu-se para fora dele. Enrolou-o numa bola, enfiou-o no tronco de um carvalho e puxou a roupa que ali escondera, sacudindo-a. Vista roupa quente, Sor Dontos havia dito, e roupa escura. Não tinha nada preto, por isso escolheu um vestido de grossa lã marrom. O corpete era decorado com pérolas de água doce, porém. O manto vai cobri-las. O manto era de um verde profundo, com um grande capuz. Enfiou o vestido pela cabeça e pren¬deu o manto, deixando o capuz abaixado por enquanto. Também havia sapatos, simples e resistentes, com saltos baixos e ponta quadrada. Os deuses ouviram as minhas preces, pensou. Sentia-se tão atordoada, tão dentro de um sonho. Minha pele transformou-se em porcelana, em marfim, em aço. As mãos moviam-se rigidamente, de maneira desajeitada,
    como se nunca antes tivessem soltado seus cabelos. Por um momento, desejou que Shae estivesse ali, para ajudá-la com a rede.
    Quando a libertou, seus longos cabelos ruivos caíram em cascata pelas costas e sobre os ombros. A rede de prata tecida pendia de seus dedos, com o fino metal a brilhar sua¬vemente, e as pedras negras ao luar. Ametistas negras de Asshai. Uma delas tinha desapa¬recido. Sansa levantou a rede para ver melhor, Havia uma mancha escura no encaixe de prata de onde a pedra caíra.
    Um súbito terror preencheu-a. O coração martelou contra suas costelas, e por um instante prendeu a respiração. Por que estou tão assustada? É só uma ametista, uma ame¬tista negra de Asshai, nada mais. Devia estar solta no engaste, só isso. Estava solta e caiu, e agora jaz num ponto qualquer da sala do trono, ou no pátio, a menos que...
    Sor Dontos tinha dito que a rede para cabelos era mágica, que a levaria para casa. Disse que ela devia usá-la naquela noite, no banquete de casamento de Joffrey. O fio de prata estendia-se, apertado, sobre os nós de seus dedos. Esfregou com o polegar o buraco onde a pedra estivera. Tentou parar, mas os dedos não lhe pertenciam. O polegar era atraído para o buraco, como a língua é atraída para um dente em falta. Que tipo de magia? O rei estava morto, o rei cruel que tinha sido o seu galante príncipe mil anos antes. Se Dontos havia mentido a respeito da rede para cabelos, teria mentido também sobre o resto? E se não vier? E se não houver nenhum navio, nenhum barco no rio, nenhuma fuga? O que lhe aconteceria se assim fosse?
    Ouviu um tênue restolhar de folhas, e enfiou a rede de prata bem fundo no bolso do manto.
    - Quem está aí? - gritou. - Quem é? - O bosque sagrado encontrava-se escuro e sombrio, e os sinos carregavam JofF para a sepultura.
    - Eu. - Ele saiu cambaleando de debaixo das árvores, caindo de bêbado, Pegou no seu braço para se equilibrar. - Doce Jonquil, eu vim, O seu Florian veio, não tenha medo.
    Sansa afastou-se do toque dele.
    - Disse que eu devia usar a rede para cabelos. A rede de prata com... que tipo de pe¬dras são estas?
    - Ametistas. Ametistas negras de Asshai, senhora.
    - Elas não são ametistas coisa nenhuma. São? São? Você mentiu.
    - Ametistas negras - jurou ele, - Havia magia nelas.
    - Havia assassinato nelas!
    - Mais baixo, senhora, mais baixo. Assassinato não. Ele engasgou-se com a torta de pombo. - Dontos gargalhou. - Oh, torta saborosa, tão saborosa. Prata e pedras, é tudo que era, prata, pedras e magia.
    Os sinos repicavam e o vento fazia um ruído igual ao que ele tinha feito ao tentar ins¬pirar uma golfada de ar.
    - Envenenou-o. Foi isso. Tirou uma pedra dos meus cabelos...
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:27 pm

    - Chiu, será a nossa morte. Eu não fiz nada. Venha, temos de ir, eles vão nos procurar. O seu esposo foi preso.
    - Tyrion? - disse ela, chocada.
    - A senhora tem outro esposo? O Duende, o tio anão, ela pensa que foi ele quem matou o rei. - Dontos agarrou a mão dela e puxou-a. - Por aqui, temos de ir, depressa, não tenha medo.
    Sansa seguiu-o sem resistir. "Nunca consegui tolerar os choros das mulheres", Joff ha¬via dito uma vez, mas a mãe dele era a única mulher que chorava agora, Nas histórias da Velha Ama os gramequins fabricavam coisas mágicas que eram capazes de fazer com que um desejo se tornasse realidade. Será que desejei a sua morte?, perguntou a si mesma, antes de se lembrar que já tinha idade para não acreditar em gramequins,
    - Tyrion envenenou-o? - sabia que o seu esposo anão odiava o sobrinho, Poderia realmente tê-lo matado? Será que sabia da minha rede para cabelo, das ametistas negras? Ele levou vinho a Joff. Como era possível sufocar alguém pondo uma ametista no vinho? Se Tyrion fez isso, eles julgarão que eu também desempenhei um papel, compreendeu com um sobressalto de medo. E por que não? Eram marido e mulher, e joff matara seu pai e zombara dela a propósito da morte do irmão, Uma carne, um coração, uma alma.
    - Silêncio agora, doçura - disse Dontos. - Fora do bosque sagrado, não podemos fazer um som. Puxe o capuz e esconda o rosto. - Sansa assentiu e fez o que ele dizia.
    O homem estava tão bêbado que Sansa teve de lhe dar o braço algumas vezes para impedir que caísse. Os sinos tocavam do outro lado da cidade, com um número cada vez maior se juntando aos demais. Manteve a cabeça baixa e permaneceu nas sombras, logo atrás de Dontos. Ao descer a escada em espiral, ele caiu de joelhos e vomitou. Meu pobre Florian, pensou, enquanto limpava a boca dele com uma manga larga,"Vista roupa escura", ele tinha dito, mas sob o manto marrom com capuz vestia o seu velho sobretudo; riscas horizontais em vermelho e rosa sob um chefe negro portando três coroas de ouro, as armas da Casa Hollard,
    - Por que está usando o seu sobretudo? Joff decretou que seria a sua morte se fosse pego outra vez vestido como um cavaleiro, ele... ah... - Nada do que Joff tinha decretado importava mais.
    - Quis ser um cavaleiro. Pelo menos para isto. - Dontos pôs-se de novo em pé e pe¬gou no seu braço. - Venha. Agora fique em silêncio, nada de perguntas.
    Continuaram a descer a escada em espiral e atravessaram um pequeno pátio rodeado de altas paredes. Sor Dontos abriu com um empurrão uma porta pesada e acendeu um círio. Encontravam-se dentro de uma longa galeria. Ao longo das paredes havia arma¬duras vazias, escuras e empoeiradas, com os elmos coroados com fileiras de escamas que desciam por suas costas. Enquanto passavam rapidamente por elas, a luz do círio fazia com que as sombras de cada escama se estendessem e torcessem. Os cavaleiros ocos estão se transformando em dragões, pensou.
    Mais uma escada levou-os a uma porta de carvalho reforçada com ferro.
    - Seja forte agora, minha Jonquil, está quase lá. - Quando Dontos levantou a tranca e abriu a porta, Sansa sentiu uma brisa fria no rosto. Passou através de três metros e meio de muralha e então viu-se fora do castelo, no topo da falésia. Embaixo ficava o rio, em cima, o céu, e um era tão negro quanto o outro.
    - Temos de descer - disse Sor Dontos, - Lá embaixo há um homem esperando para nos levar num bote até o navio.
    - Eu vou cair. - Bran tinha caído, e ele adorava escalar.
    - Não, não cairá, Há uma espécie de escada, uma escada secreta, entalhada na pe¬dra, Veja, pode tateá-la, senhora, - Ajoelhou-se com ela e fez Sansa debruçar-se sobre a borda da falésia, apalpando com os dedos até encontrar o apoio de mão cortado na face do penhasco. - É quase tão bom quanto degraus de uma escada de mão.
    Mesmo assim, a descida era muito longa.
    - Não consigo.
    - Precisa.
    - Não há outro caminho?
    - O caminho é este. Não será muito difícil para uma mulher jovem e forte como você. Agarre-se bem e nunca olhe para baixo, e chegará lá embaixo num instante. - Os olhos dele brilhavam. - Seu pobre Florian é gordo, velho e bêbado, eu é que devia estar assus¬tado. Eu costumava cair do cavalo, esqueceu? Foi assim que começamos. Estava bêbado e caí do cavalo e Joffrey quis a minha cabeça boba, mas você me salvou. Você me salvou, querida.
    Ele está chorando, reparou Sansa.
    - E agora foi você que me salvou,
    - Só se descer. Se não, matei-nos ambos.
    Foi ele, pensou ela. Ele matou Joffrey. Tinha de ir, tanto por ele como por si mesma.
    - Vá na frente, sor. - Se ele caísse, não o queria caindo sobre a sua cabeça e arrastan¬do ambos falésia abaixo,
    - Como quiser, senhora. - Deu-lhe um beijo úmido e passou desajeitadamente as pernas pela borda do precipício, esperneando até encontrar um apoio para os pés. - Deixe-me descer um pouco, e siga-me depois. Vai vir? Precisa jurar.
    - Vou - prometeu.
    Sor Dontos desapareceu. Sansa ouvia-o bufando e arquejando enquanto começava a descida. Ficou escutando o repique dos sinos, contando cada batida. Ao chegar a dez, baixou-se cautelosamente sobre a borda do penhasco, tateando com os dedos dos pés até encontrar um lugar para eles descansarem. As muralhas do castelo elevavam-se, grandes, por cima de si, e por um momento nada desejou mais do que puxar-se para cima e correr de volta para seus quentes aposentos na Fortaleza das Cozinhas. Seja brava, disse a si mesma. Seja brava, como uma senhora numa canção.
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:27 pm

    Sansa não se atreveu a olhar para baixo. Manteve os olhos postos na face da falé¬sia, assegurando-se de cada passo antes de estender os pés para o seguinte. A pedra era áspera e fria. As vezes sentia os dedos deslizando, e os apoios para as mãos não eram espaçados de uma forma tão regular como teria preferido. Os sinos não queriam parar de tocar. Antes de chegar na metade do caminho seus braços já estavam tremendo, e soube que ia cair. Mais um passo, disse a si mesma, mais um passo. Tinha de continuar em movi¬mento. Se parasse, nunca mais se moveria, e a alvorada iria encontrá-la ainda agarrada à falésia, congelada de medo. Mais um passo, e mais um passo.
    O chão apanhou-a de surpresa. Tropeçou e caiu, com o coração aos saltos. Quando rolou sobre as costas e fitou o local de onde tinha vindo, sentiu a cabeça a nadar, entonte' cida, e os dedos agarraram-se à terra. Consegui. Consegui. Não caí, consegui descer e agora vou para casa.
    Sor Dontos ajudou-a a ficar em pé.
    - Por aqui, Agora silêncio, silêncio, silêncio. - Permaneceu perto das sombras que se estendiam, negras e espessas, sob os penhascos. Felizmente não tiveram de ir longe. Cinqüenta metros a jusante, um homem estava sentado num pequeno esquife, meio es¬condido pelos restos de uma grande galé que tinha dado à costa ali e queimado. Dontos manqueou até ele, bufando. — Oswell?
    - Nada de nomes - disse o homem. - Para o barco. - Estava sentado, curvado sobre os remos, um homem velho, alto e de membros esguios, com longos cabelos brancos, um grande nariz adunco e os olhos escondidos por um capuz. - Entrem, e depressa - res¬mungou, - Temos de nos pôr a caminho.
    Depois de ambos estarem a salvo a bordo, o encapuzado deslizou as pás para den¬tro de água e entregou as costas aos remos, fazendo o barco avançar para o canal. Por trás deles, os sinos continuavam a repicar a morte do rei rapaz. Tinham o rio escuro todo para si,
    Com remadas lentas, constantes e ritmadas, abriram caminho para jusante, des¬lizando por cima das galés afundadas, passando por mastros partidos, cascos quei¬mados e veias rasgadas. Os toletes tinham sido revestidos, de modo que o barco se movia quase sem um som. Uma névoa pairava sobre a água, Sansa viu o baluarte com ameias de uma das torres do guincho do Duende erguendo-se na margem, mas a grande corrente tinha sido descida e passaram sem impedimentos pelo local onde mil homens tinham ardido, A costa afastou-se, o nevoeiro tornou-se mais denso, o som dos sinos começou a se atenuar. Por fim, mesmo as luzes desapareceram, perdi¬das em algum lugar atrás deles. Estavam na Baía da Água Negra, e o mundo reduziu- -se a água escura, névoa soprada pelo vento e o companheiro silencioso encurvado sobre os remos.
    - Temos de ir até muito longe? - ela perguntou.
    - Nada de falar. - O remador era velho, mas mais forte do que parecia, e sua voz era feroz. Havia algo estranhamente familiar no rosto dele, embora Sansa não conseguisse identificar o que seria.
    - Não é longe. - Sor Dontos tomou sua mão na dele e esfregou-a com gentileza. - Seu amigo está perto, à sua espera.
    - Nada de falar! - rosnou de novo o remador. - O som chega longe sobre a água, Sor Bobo.
    Desconcertada, Sansa mordeu o lábio e encolheu-se em silêncio. O resto foi remar, remar, remar,
    O céu do oriente já mostrava o primeiro vago indício da alvorada quando Sansa viu por fim uma silhueta fantasmagórica na escuridão que se estendia adiante; uma galé mer¬cante, com as velas enroladas, deslocando-se lentamente, movida por uma única fileira de remos. Quando se aproximaram, viu a figura de proa do navio, um tritão com uma coroa dourada soprando um grande búzio. Ouviu uma voz gritar, e a galé deu a volta lentamente,
    Quando se posicionaram ao lado da galé, uma escada de corda foi atirada por sobre a amurada. O remador puxou os remos para o barco e ajudou Sansa a ficar em pé,
    - Agora para cima. Vá lá, menina, eu seguro você. - Sansa agradeceu-lhe pela gentile¬za, mas só recebeu um grunhido em resposta.
    Foi muito mais fácil subir a escada de corda do que tinha sido descer a falésia. O remador Oswell seguiu logo atrás dela, ao passo que Sor Dontos permaneceu no barco.
    Dois marinheiros esperavam junto à amurada, para ajudá-la a subir até o convés. San¬sa tremia.
    - Ela está com frio - ouviu alguém dizer. O homem tirou o manto e aconchegou-o em volta de seus ombros. - Pronto, está melhor, senhora? Descanse, o pior já passou.
    Conhecia a voz. Mas ele está no Vale, pensou. Sor Lothor Brune estava ao lado dele, com um archote.
    - Lorde Petyr - chamou Dontos do barco. - Tenho de remar de volta, antes que pen¬sem em procurar por mim.
    Petyr Baelish pôs uma mão na amurada.
    - Mas primeiro vai querer o pagamento. Dez mil dragões, não é?
    - Dez mil. - Dontos esfregou a boca com as costas da mão. - Conforme prometeu,
    senhor.
    - Sor Lothor, a recompensa.
    Lothor Brune baixou o archote. Três homens aproximaram-se da amurada, ergueram bestas, e dispararam. Um dardo atingiu Dontos no peito quando ele olhou para cima, penetrando através da coroa esquerda de seu sobretudo. Os outros rasgaram a garganta e a barriga. Aconteceu tão depressa que nem Dontos nem Sansa tiveram tempo de gritar. Quando terminou, Lothor Brune atirou o archote para cima do cadáver. O pequeno bar¬co ardia violentamente enquanto a galé se afastava.
    - Matou-o. - Agarrando-se à amurada, Sansa virou-se e vomitou. Teria fugido dos Lannister para cair em armadilha pior?
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:27 pm

    - Minha senhora - murmurou Mindinho -, seu pesar é desperdiçado num homem como aquele. Era um bêbado, e não era amigo de ninguém,
    - Mas ele salvou-me,.
    - Ele vendeu a senhora em troca da promessa de dez mil dragões. Seu desapareci¬mento irá fazê-los suspeitar de seu papel na morte de Joffrey. Os homens de manto dou¬rado irão à caça, e o eunuco fará tinir a sua bolsa. Dontos,,. bem, ouviu-o. Vendeu-a por ouro e, quando o bebesse, teria voltado a vendê-la. Um saco de dragões compra o silêncio de um homem durante algum tempo, mas um dardo bem colocado compra-o para sem¬pre. - Deu um sorriso triste. - Tudo que ele fez foi às minhas ordens. Não me atrevi a travar abertamente amizade com você, Quando me contaram como Dontos salvou sua vida no torneio de JofF, soube que ele seria o instrumento perfeito.
    Sansa sentiu-se enjoada.
    - Ele disse que era o meu Florian.
    - Por acaso lembra-se do que lhe disse naquele dia em que seu pai se sentou no Tro¬no de Ferro?
    O momento voltou-lhe à memória com grande clareza.
    - Disse-me que a vida não era uma canção. Que um dia eu aprenderia isso para mi¬nha tristeza. - Sentiu lágrimas nos olhos, mas não saberia dizer se chorava por Sor Don¬tos Hollard, por JofF, por Tyrion ou por si mesma, - E tudo mentira, desde sempre e para sempre, tudo e todos?
    - Quase todos. Menos eu e você, claro. - Sorriu. - Venha esta noite ao bosque sagrado, se quiser ir para casa.
    - A nota... era você?
    - Tinha de ser o bosque sagrado. Nenhum outro local da Fortaleza Vermelha está a salvo dos passarinhos do eunuco... ou ratazaninhas, como eu os chamo. No bosque sagrado há árvores em vez de paredes. Céu no lugar de tetos. Raízes, terra e pedras em vez de assoalhos. As ratazanas não têm por onde correr. As ratazanas precisam se escon¬der, para que os homens não espetem espadas nelas. - Lorde Petyr pegou-a pelo braço.
    - Permita que lhe mostre a sua cabine. Teve um dia longo e penoso, eu sei. Deve estar cansada.
    O barquinho já não era mais do que um turbilhão de fumaça e fogo atrás deles, quase perdido na imensidão do mar da alvorada. Não havia volta; seu único caminho era em frente.
    - Muito cansada - admitiu.
    Enquanto a levava para baixo, ele disse:
    - Fale-me do banquete. A rainha dedicou-se tanto. Os cantores, os malabaristas, o urso dançarino... o pequeno senhor seu esposo gostou de meus anões combatentes?
    - Seus?
    - Tive de mandar buscá-los em Bravos e de escondê-los num bordel até o casamento. A despesa só foi excedida pelo incômodo. E surpreendentemente difícil esconder um anão, e Joffrey... pode levar um rei até a água, mas com Joffrey era preciso espalhá-la por todo lado antes que ele entendesse que a podia beber, Quando lhe falei de minha peque¬na surpresa, Sua Graça disse: "Por que eu iria querer uns anões feios no meu banquete? Detesto anões." Tive de me aproximar e sussurrar: "Mas não tanto quanto o seu tio os detestará".
    O convés balançou sob os pés de Sansa, e ela sentiu como se o próprio mundo tivesse se tornado instável.
    - Eles pensam que Tyrion envenenou Joffrey. Sor Dontos disse que o prenderam.
    Mindinho sorriu,
    - A viuvez cairá bem em você, Sansa.
    A idéia agitou sua barriga. Podia nunca mais ser obrigada a dividir uma cama com Tyrion. Era isso o que queria... não?
    A cabine era baixa e apertada, mas tinham colocado um colchão de penas no estreito beliche a fim de deixá-lo mais confortável, e grossas peles foram empilhadas por cima.
    - E pequeno, eu sei, mas não deverá ficar muito desconfortável. - Mindinho indi¬cou uma arca de cedro sob a vigia. - Achará roupa lavada lá dentro. Vestidos, roupa de baixo, meias quentes, um manto. Temo que sejam de lã e linho. Vestuário indigno de uma donzela tão bela, mas servirá para mantê-la seca e limpa até que possamos lhe arranjar algo melhor.
    Ele mandou preparar tudo isso para mim.
    - Senhor, eu... eu não compreendo... Joffrey deu-lhe Harrenhal, fez de você Senhor Supremo do Tridente... por quê...
    - Por que haveria de querê-lo morto? - Mindinho encolheu os ombros, - Não tive nenhum motivo, Além disso, estou a mil léguas de distância, no Vale. Mantenha sempre seus inimigos confusos. Se nunca estiverem seguros de quem é ou do que quer, não po¬dem saber o que é provável que faça em seguida. As vezes, a melhor maneira de confundi- -los é fazer coisas que não têm nenhum propósito, ou até que parecem prejudicar você. Lembre-se disso, Sansa, quando começar a jogar o jogo.
    - Que... que jogo?
    - O único jogo. O jogo dos tronos. - Afastou uma madeixa dos cabelos dela. - Já tem idade para saber que sua mãe e eu éramos mais do que amigos. Houve uma época em que Cat era tudo o que eu desejava neste mundo. Atrevi-me a sonhar com a vida que podíamos ter e os filhos que ela me daria... mas ela era filha de Correrrio, e de
    Hoster Tully. Família, Dever, Honra, Sansa. Família, Dever, Honra significavam que eu nunca poderia obter a mão dela. Mas ela deu-me algo melhor, um presente que uma mulher não pode dar mais do que uma vez. Como eu poderia dar as costas à filha dela? Num mundo melhor, você poderia ter sido minha, não de Eddard Stark. Minha leal e adorada filha... Afaste Joffrey da cabeça, querida. Dontos, Tyrion, todos. Nunca mais a incomodarão. Agora está em segurança, e isso é tudo o que importa. Está a salvo comi¬go, e a caminho de casa.
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:28 pm

    Jaime 721




    O
    rei está morto, disseram-lhe, sem saber que Joffrey não era só seu soberano, mas também seu filho,
    - O Duende abriu a goela dele com um punhal - declarou um vendedor ambulante na estalagem à beira da estrada onde passaram a noite. - Bebeu seu sangue num grande cálice de ouro. - O homem não foi mais capaz de reconhecer o cavaleiro barbudo e ma¬neia com o grande morcego no escudo do que qualquer um dos demais, por isso disse coisas que de outro modo poderia ter engolido, caso soubesse quem o estava ouvindo.
    - Foi veneno o que despachou a coisa - insistiu o estalajadeiro. - A cara do rapaz ficou preta que nem uma ameixa.
    - Que o Pai o julgue com justiça - murmurou um septão.
    - A mulher do anão tratou do assassinato com ele - jurou um arqueiro vestido com a libré de Lorde Rowan, - Depois desapareceu do salão numa nuvem de enxofre, e um lobo gigante fantasma foi visto percorrendo a Fortaleza Vermelha, com sangue pingando das mandíbulas.
    Jaime ouviu tudo sentado e em silêncio, deixando-se cobrir pelas palavras, com um corno de cerveja esquecido na mão boa. Joffrey. O meu sangue. Meu primogênito. Meu filho. Tentou trazer à memória o rosto do rapaz, mas seus traços teimavam em transformar- -se nos de Cersei. Ela vai estar de luto, com os cabelos despenteados e os olhos vermelhos de tanto chorar, a boca tremendo enquanto tenta falar. Voltará a chorar quando me vir, embora lute contra as lágrimas. A irmã raramente chorava, exceto quando estava com ele. Não conseguia suportar que outros a julgassem fraca. Só ao gêmeo mostrava as feridas. Ela procurará conforto e vingança em mim.
    Cavalgaram duramente no dia seguinte, por insistência de Jaime. O filho estava mor¬to, e a irmã precisava dele.
    Quando viu a cidade à sua frente, com as torres de vigia escuras contra o ocaso que se aprofundava, Jaime Lannister aproximou-se a meio-galope de Walter Pernas-de-Aço, que seguia atrás de Nage e da bandeira de paz.
    - Que fedor horrível é esse? - protestou o nortenho.
    A morte, pensou Jaime, mas disse:
    - Fumaça, suor e merda. Porto Real, em suma. Se tiver um bom nariz, poderá tam¬bém cheirar a traição. Nunca tinha cheirado uma cidade?
    - Cheirei Porto Branco. Nunca fedeu assim.
    - Porto Branco está para Porto Real como o meu irmáo Tyrion está para Sor Gregor Clegane.
    Nage subiu uma pequena colina à frente deles, com a bandeira de paz de sete pontas erguendo-se e virando ao vento, e a estrela polida de sete pontas cintilando brilhante no topo do mastro. Veria Cersei em breve, e também Tyrion, e o pai. Meu irmão poderia real¬mente ter matado o rapaz? Jaime achava difícil acreditar naquilo.
    Sentia-se curiosamente calmo. Sabia que esperava-se que os homens enlouqueces¬sem de desgosto quando os filhos morriam. Esperava-se que arrancassem os cabelos, que amaldiçoassem os deuses e jurassem rubra vingança. Então por que será que sentia tão pouco? O rapaz viveu e morreu acreditando que Robert Baratheon era o pai dele.
    Jaime vira-o nascer, isso era certo, embora mais por Cersei do que pela criança. Mas nunca o pegara no colo.
    - O que iriam achar? - avisou-o a irmã quando as mulheres finalmente os deixaram. - Já é suficientemente ruim que Joff se pareça com você sem que fique babando por cima dele. - Jaime cedeu quase sem luta. O rapaz fora uma coisinha cor-de-rosa e estridente que exigia demasiado do tempo de Cersei, do amor de Cersei e dos seios de Cersei. Que Robert ficasse com ele.
    E agora está morto. Imaginou Joff jazendo imóvel e frio, com um rosto negro de vene¬no, e continuou a não sentir nada. Talvez fosse o monstro que o acusavam de ser. Se o Pai no Céu descesse para lhe oferecer de volta o filho ou a mão, Jaime sabia qual das coisas escolheria. Afinal, tinha um segundo filho, e sêmen bastante para muitos mais, Se Cersei quiser outro filho, eu dou... e dessa vez vou pegá-lo no colo, e que os Outros carreguem quem não gostar. Robert apodrecia em sua sepultura, e Jaime estava farto de mentiras.
    Virou-se abruptamente e galopou para trás, ao encontro de Brienne. Só os deuses sa¬bem por que me incomodo. Ela é a criatura menos sociável que tive o infortúnio de conhecer. A garota seguia bem atrás e cerca de um metro desviada para o lado, como que para pro¬clamar que não fazia parte do grupo. Ao longo do caminho tinham encontrado roupas de homem para ela; uma túnica aqui, uma capa ali, um par de calções e um manto com capuz, até uma velha placa de peito de ferro. Parecia mais confortável vestida de homem, mas nada nunca faria com que parecesse bonita. Nem feliz. Uma vez fora de Harrenhal, sua habitual teimosia casmurra rapidamente voltou a se instalar,
    - Quero minhas armas e armadura de volta - tinha insistido.
    -Oh, com certeza, que a tenhamos de novo coberta de aço - respondeu Jaime. - Es¬pecialmente um elmo. Ficaremos todos mais felizes se mantiver a boca fechada e a viseira abaixada.
    Pelo menos isso Brienne podia fazer, mas seus silêncios carrancudos depressa come¬çaram a desgastar tanto o bom humor dele como as constantes tentativas de Qyburn para ser agradável. Nunca pensei que daria por mim com saudades da companhia de Cleos Frey, que os deuses me ajudem. Começava a desejar tê-la deixado para o urso.
    - Porto Real - anunciou Jaime quando a encontrou. - Nossa viagem terminou, se¬nhora. Cumpriu o seu voto e entregou-me em Porto Real. Inteiro, exceto por uns dedos e uma mão.
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    Mensagem  Admin Qui Jun 14, 2012 3:28 pm

    Os olhos de Brienne mostraram-se indiferentes.
    - Isso foi apenas metade de meu voto. Disse à Senhora Catelyn que lhe levaria de volta as filhas. Ou Sansa, pelo menos. E agora...
    Ela nunca conheceu Robh Stark, e no entanto o pesar que sente por ele é mais profundo do que o meu por Joff. Ou talvez fosse pela Senhora Catelyn que fazia luto. Essa notícia chegara até eles em Bosque Malhado, pela boca de um cavaleiro corado que mais parecia uma barrica chamado Sor Bertram Beesbury, cujas armas eram três colmeias em fundo listrado de negro e amarelo. Uma companhia de homens de Lorde Piper tinha passado por Bosque Malhado no dia anterior, disse-lhes Beesbury, correndo para Porto Real sob a sua bandeira de paz.
    - Com o Jovem Lobo morto, Piper náo viu objetivo em continuar a lutar. Seu filho é cativo nas Gêmeas. - Brienne tinha escancarado a boca como uma vaca prestes a engasgar com o bolo de grama, e assim coube a Jaime extrair a história do Casamento Vermelho.
    - Todos os grandes senhores têm vassalos insubmissos que invejam sua posição - disse-lhe depois. - Meu pai tinha os Reyne e os Tarbeck, os Tyrell têm os Florent, Hoster Tully tinha Walder Frey. Só a força mantém homens assim em seus lugares. No momento em que sentem cheiro de fraqueza... durante a Idade dos Heróis, os Bolton costumavam esfolar os Stark e usar suas peles como mantos. - Ela tinha feito uma ex¬pressão tão infeliz que Jaime quase deu por si desejando confortá-la.
    Desde esse dia Brienne agia como alguém que estivesse meio morto. Nem chamá-la de "garota" conseguia provocar uma resposta. A força dela desapareceu. A mulher fizera cair um rochedo sobre Robin Ryger, batalhara contra um urso com uma espada de tor¬neio, arrancara a orelha de Vargo Hoat com uma dentada e lutara com Jaime até a exaus¬tão... mas agora encontrava-se quebrada, acabada.
    - Falarei com o meu pai para devolvê-la a Tarth, se isso lhe agradar - disse-lhe. - Ou, se preferir ficar, talvez possa arranjar alguma posição para você na corte.
    - Como senhora acompanhante da rainha? - disse ela sem interesse.
    Jaime recordou o aspecto dela naquele vestido de cetim cor-de-rosa e tentou não ima¬ginar o que a irmã poderia dizer de uma tal acompanhante.
    - Talvez um posto na Patrulha da Cidade...
    - Não servirei com perjuros e assassinos.
    Então por que quis prender uma espada na cintura?, podia ter dito, mas reprimiu as palavras.
    - Como queira, Brienne. - Com uma só mão, deu meia-volta com o cavalo e deixou-a para trás,
    O Portão dos Deuses estava aberto quando lá chegaram, mas havia duas dúzias de carros alinhados ao longo da beira da estrada, carregados com tonéis de sidra, barris de maçã, fardos de feno e algumas das maiores abóboras que Jaime já tinha visto. Quase todas as carroças tinham seus próprios guardas; homens de armas ostentando os símbo¬los de fidalgos menores, mercenários vestidos de cota de malha e couro fervido, às vezes apenas um filho de agricultor de cara rosada, agarrado a uma lança de fabricação caseira com a ponta endurecida pelo fogo. Jaime sorriu a todos eles enquanto passavam a trote. Ao portão, os homens de manto dourado recebiam moedas de cada um dos condutores antes de mandarem as carroças avançar.
    - O que é isto? - quis saber Pernas-de-Aço.
    - Eles têm de pagar pelo direito de vender dentro da cidade. Por ordem da Mão do Rei e do mestre da moeda.
    Jaime olhou para a longa fila de carroças, carros de mão e cavalos carregados.
    - E mesmo assim fazem fila para pagar?
    - Dá para fazer um bom dinheiro aqui, agora que a luta terminou - disse-lhes ale¬gremente o moleiro da carroça mais próxima. - São os Lannister que dominam a cidade agora, o velho Lorde Tywin do Rochedo. Dizem que ele caga prata.
    - Ouro - corrigiu secamente Jaime. - E Mindinho cunha a coisa a partir de capim- -dourado, garanto.
    - Agora o mestre da moeda é o Duende - disse o capitão do portão. - Ou era, até o prenderem por assassinar o rei. - O homem examinou os nortenhos com suspeita. - Quem são vocês?
    - Homens de Lorde Bolton, para falar com a Mão do Rei.
    O capitão olhou de relance Nage com a sua bandeira de paz.
    - Vêm dobrar o joelho, quer dizer. Não são os primeiros. Subam diretamente ao cas¬telo e tratem de não causar confusão. - Mandou-os passar com um gesto e voltou a se virar para as carroças.
    Se Porto Real estava de luto pela morte de seu rei rapaz, Jaime nunca o teria dedu¬zido. Na Rua das Sementes um irmão mendicante vestido com uma túnica puída reza¬va ruidosamente pela alma de Joffrey, mas os transeuntes não prestavam mais atenção nele do que teriam prestado a uma janela aberta batendo ao vento. Em outros locais, as multidões habituais deslocavam-se de um lado para o outro; homens de manto doura¬do e cota de malha negra, ajudantes de padeiro vendendo tortas, pães e tortas quentes, prostitutas dèbruçadas em janelas com os corpetes meio desatados, sarjetas fedendo aos dejetos da noite. Passaram por cinco homens que tentavam arrastar um cavalo morto de uma viela, e, em outro local, por um malabarista que fazia girar facas no ar, para deleite de um grupo de soldados Tyrell bêbados e crianças pequenas.
    Percorrendo a cavalo ruas familiares na companhia de duzentos nortenhos, um meístre sem corrente e uma mulher fenomenalmente feia ao seu lado, Jaime descobriu que quase não atraía um segundo olhar. Não sabia se devia se divertir ou se aborrecer com a situação.
    - Eles não me reconhecem - disse ao Pernas-de-Aço enquanto atravessavam a Praça dos Sapateiros.
    - Seu rosto está mudado, e suas armas também - disse o nortenho -, e agora eles têm um novo Regicida,

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