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    O Festim dos Corvos

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    O Festim dos Corvos - Página 23 Empty Re: O Festim dos Corvos

    Mensagem  Admin Sex Jun 29, 2012 2:14 pm

    Em nenhum lugar. Os Saltimbancos Sangrentos despiram seu
    cadáver e o deixaram para que os corvos carniceiros fizessem um festim.
    — Junto a um arroio. — mentiu. — Quando terminar esta guerra,
    irei buscar o lugar exato para levá-lo para casa. — Ossos eram ossos; não
    havia nada mais fácil de conseguir naqueles tempos.
    — Esta guerra... — Lorde Emmom tossiu; o pomo da sua garganta
    se moveu para cima e para baixo. — Você já deve ter visto as máquinas de
    assalto. Aríetes, trabuques, torres... Não servirão de nada, Jaime. Daven quer
    destroçar minhas muralhas e derrubar minhas portas. Fala de azeite
    fervendo, de tocar fogo no castelo. No meu castelo! — Enfiou a mão em
    uma manga, sacou um pergaminho e o balançou diante do rosto de Jaime. —
    Tenho o decreto. Firmado pelo rei, por Tommen, olhe, o selo real, o veado e
    o leão. Sou o legítimo senhor de Correrrio; não quero que o reduzam a um
    monte de ruínas chamejantes.
    — Anda, guarda essa porcaria. — espetou sua mulher. — Enquanto
    o Peixe Negro estiver em Correrrio, esse papel só vale para limpar o teu cu e
    pouco mais. — Fazia cinquenta anos que havia se unido aos Frey, mas
    continuava sendo uma Lannister. Uma enorme porção de Lannister. —
    Jaime te entregará o castelo.
    — Estou seguro. — assentiu Lorde Emmom. — Mostrarei que seu
    pai acertou ao confiar em mim, Sor Jaime. Serei firme, mas justo com meus
    novos vassalos. Blackwood, Bracken, Jason Mallister, Vance, Piper... Todos
    saberão que têm em Emmom Frey um senhor justo. E também meu pai, sim.
    É o senhor de Cruzaboi, mas eu sou o senhor de Correrrio. Um filho deve
    obedecer a seu pai sim, mas um vassalo deve obedecer a seu senhor.
    Que os deuses tenham piedade de mim.
    — Não é o seu senhor, sor. Leia bem o pergaminho. Está sendo
    outorgado ao senhor Correrrio, com todas as suas terras e rendas, mas nada
    mais. Petyr Baelish é o Senhor Supremo do Tridente. Correrrio está
    submetido ao governo de Harrenhall.
    Lorde Emmom não achou graça nisso.
    — Harrenhall não é mais do que um monte de ruínas malditas. —
    protestou. — E quanto a Baelish... Por favor, é somente um conta-moedas,
    não um senhor. Sua linhagem...
    — Se você tiver alguma queixa, vá a Porto Real e a exponha a minha
    querida irmã. — Cersei o comeria vivo e limparia os dentes com os seus
    ossos.
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    O Festim dos Corvos - Página 23 Empty Re: O Festim dos Corvos

    Mensagem  Admin Sex Jun 29, 2012 2:15 pm

    Quer dizer, se não estiver muito ocupada fodendo com Osmund
    Kettleblack.
    Senhora Genna soltou um resmungo.
    — Não há porque aborrecer Vossa Graça com essas besteiras.
    Porque não sai e vai tomar um pouco de ar, Emm?
    — Tomar ar?
    — Ou mijar, se quiser. Meu sobrinho e eu queremos tratar de
    assuntos de família.
    Lorde Emmom corou.
    — Sim, aqui faz calor. Esperarei fora, minha senhora. Sor... — Sua
    senhoria enrolou o pergaminho e fez uma falsa reverência em direção a
    Jaime antes de sair da tenda.
    Era difícil não desprezar Emmom Frey. Havia chegado a Rochedo
    Casterly quando tinha catorze anos para se casar com uma leoa de somente
    sete. Tyirion dizia sempre que o presente de casamento de Lorde Tywyn
    havia sido um ventre frouxo.
    Genna também contribuiu. Jaime recordava de mais de um banquete
    em que Emmom ficava sentado em silêncio, mal-humorado, remexendo a
    comida com o garfo, enquanto sua esposa fazia brincadeiras obscenas para o
    cavaleiro que estava sentado a sua esquerda, com a sua conversa em voz
    baixa, sempre salpicada de gargalhadas. Deu quatro filhos a Frey. Pelo
    menos diz que são seus. Em Rochedo Casterly, ninguém tinha coragem de
    insinuar o contrário, e Sor Emmom, menos que ninguém.
    Enquanto o homenzinho saía, sua senhora esposa pôs os olhos em
    branco.
    — Meu amor e meu senhor. Em que diabos estava pensando seu pai
    quando o nomeou senhor de Correrrio?
    — Suponho que em seus filhos.
    — Eu também penso neles. Ele será um péssimo senhor. Ty podia
    fazer melhor, se tivesse a sensatez de aprender comigo, e não com o pai. —
    Olhou ao redor. — Tem vinho?
    Jaime encontrou uma garrafa e lhe serviu um copo.
    — Que faz aqui, minha senhora? Devia ter ficado em Rochedo
    Casterly até que terminasse o problema.
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    O Festim dos Corvos - Página 23 Empty Re: O Festim dos Corvos

    Mensagem  Admin Sex Jun 29, 2012 2:15 pm

    — Quando soube de sua nomeação, ele tratou de vir imediatamente
    para reclamar suas posses. — Senhora Genna bebeu um gole e limpou a
    boca com a manga. — Teu pai devia ter nos dado Darry. Não sei se você se
    lembrará, mas Cleos estava casado com a filha de um agricultor. Sua sofrida
    viúva está furiosa porque seus filhos não receberam as terras de seu senhor
    pai. Minha nora Jeyne é sua tia; é irmã de Maryia.
    — Irmã menor. — lhe recordou Jaime. — E Ty receberá Correrrio,
    uma recompensa muito maior que Darry.
    — Um presente envenenado. A Casa Darry está extinta pela linha
    masculina, e a Casa Tully, não. Esse cretino do Sor Ryman põe uma corda
    no pescoço de Edmure, mas não está disposto a enforca-lo. E a Roslyn Frey
    lhe está crescendo uma truta na barriga. Meus netos nunca estarão seguros
    em Correrrio enquanto reste um Tully vivo.
    Jaime sabia que ela não estava equivocada.
    — Se Roslin tiver uma menina...
    — Pode se casar com Ty, sempre que o velho Lorde Walder dê o seu
    consentimento. Sim, eu já pensei nisso. Mas é igualmente provável que
    tenha um menino, e um bebê com pau acabaria com tudo. E se Sor Brynden
    sobrevive a este cerco, pode ser que resolva reclamar Correrrio para si... ou
    em nome de Robert Arryn.
    Jaime se recordava do pequeno Robert, em Porto Real, ainda
    mamando aos quatro anos de idade.
    — Arryn não viverá o suficiente para ter filhos. E para quê serve
    Correrrio para o senhor do Ninho das Águias?
    — Se um homem tem um cofre de ouro, para quê quer outro? As
    pessoas são gananciosas. Tywin deveria ter entregue Correrrio para Kevan, e
    Darry, para Emm. É o que eu teria lhe dito se tivesse me consultado; mas
    claro, seu pai nunca se preocupou em consultar a ninguém mais que a
    Kevan. — Deixou escapar um profundo suspiro. — Acredite, compreendo
    que Kevan quisesse o assentamento mais seguro para seu filho. O conheço
    muito bem.
    — Pois parece que Kevan e Lancel querem coisas muito diferentes.
    — Lhe falou sobre a decisão de Lancel de renunciar a sua esposa, suas
    terras, e sua posição para ir lutar pela Sagrada Fé. — Se ainda quiser Darry,
    escreva a Cersei e explique seu caso.
    Senhora Genna moveu o copo como se desconsiderasse a ideia.
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    Mensagem  Admin Sex Jun 29, 2012 2:15 pm

    — Não, esse cavalo já não está no estábulo. Emm já meteu na
    cabeça e no seu pequeno cérebro que governará as terras dos rios. E quanto a
    Lancel... Isto teríamos que ter visto acontecer. Ao fim e ao cabo, uma vida
    dedicada a proteger o Septão Supremo não é tão diferente de uma vida
    dedicada a proteger o rei. Mas Kevan vai ficar furioso, tanto como Tywyn
    quando soube que você iria vestir o branco. Ao menos a Kevan lhe resta um
    herdeiro, Martyn. Sempre poderá casá-lo com Ami Portas Abertas para que
    ocupe o posto de Lancel. Que os Sete tenham piedade de nós. — deixou
    escapar um suspiro. — Falando dos Sete, porque permite que Cersei deixe a
    Fé voltar a tomar as armas?
    Jaime encolheu os ombros.
    — Ela deve ter seus motivos.
    — Seus motivos? — Senhora Genna fez um ruído um tanto
    grosseiro. — Tomara que sejam uns motivos excelentes. Os Espadas e
    Estrelas foram um problema até para os Targaryen. O próprio Conquistador
    tratava a fé com cuidado para não ter que enfrentá-los. E quando Aegon
    morreu e os senhores se alçaram contra seus filhos, as duas ordens estiveram
    a um passo da rebelião. Contavam com o apoio dos senhores mais devotos e
    da maior parte do povo. No fim, o rei Maegor teve que oferecer uma
    recompensa para eles. Se me lembro bem das lições de História, pagava um
    dragão pela cabeça de cada Filho do Guerreiro que não houvesse se
    arrependido, e um veado de prata pelo couro cabeludo de cada Clérigo
    Humilde. Morreram milhares, mas outros tantos seguiram percorrendo o
    reino, desafiantes, até que o Trono de Ferro decretou a morte de Maegor e o
    rei Jaehaerys outorgou o perdão a todos que rendessem a espada.
    — Tinha esquecido de tudo isso. — confessou Jaime.
    — E tua irmã também. — bebeu outro gole de vinho. — É verdade
    que Tywyin sorria em seu caixão?
    — Estava se apodrecendo no seu caixão. Sua boca ficou retorcida.
    — Era só isso? — pareceu entristecida. — Todos diziam que
    Tywyin nunca havia sorrido, mas sorria quando se casou com sua mãe, e
    também quando Aerys o nomeou Mão. Ty jurava que também sorriu quando
    Torre Tarbeck caiu em cima de Senhora Ellyn, aquela raposa intrigante. E
    sorriu quando você nasceu Jaime, isso eu mesma vi. Cersei e tu, tão rosados,
    tão perfeitos, idênticos como gotas de água... Bom, exceto entre as pernas.
    Que pulmões vocês tinham!
    — Ouviu meu rugido. — Jaime sorriu. — Agora você vai me dizer o
    quanto ele gostava de rir.
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    Mensagem  Admin Sex Jun 29, 2012 2:15 pm

    — Não. Tywyn não confiava no riso. Tinha ouvido muita gente rir
    de seu avô. — franziu a sobrancelha. — Te garanto que este fraco cerco não
    lhe teria feito nenhuma graça. Agora que está aqui, como pensa em pôr fim a
    isso?
    — Negociando com o Peixe Negro.
    — Não te servirá de nada.
    — Tenho intenção de lhe oferecer umas condições muito generosas.
    — Para oferecer condições é preciso que haja confiança. Os Frey
    assassinaram seus próprios convidados, e tu, bom... Sem intenção de te
    ofender, meu bem, matou um certo rei que havia jurado proteger.
    — E matarei o Peixe Negro se não se render. — A voz lhe saiu mais
    brusca do que havia pretendido, mas não estava de humor para que lhe
    esfregassem na cara o que aconteceu entre ele e Aerys Targaryen.
    — Como? Na base de insultos? — replicou em um tom carregado
    de desprezo. — Sou somente uma velha gorda Jaime, mas o que tenho entre
    as orelhas não é queijo. O mesmo se passa a Peixe Negro. Não o dobrarás
    com ameaças vazias.
    — O que me aconselha?
    Sua tia encolheu os enormes ombros.
    — Emm quer que cortem a cabeça de Edmure. Pode ser que tenha
    razão, uma vez na vida. As ameaças de execução de Sor Rymen se
    transformaram em piadas de mau gosto. Tem que mostrar a Sor Brynden que
    suas ameaças são sérias.
    — A morte de Edmure poderia reforçar a vontade de Sor Brynden de
    não sair do castelo.
    — Sor Brynden nunca precisou de mais motivos. Sor Hoster Tully
    poderia ter te falado isso. — Senhora Genna bebeu mais um copo de vinho.
    — Enfim, não quero que ache que estou te dizendo como deve conduzir uma
    guerra. Sei qual é o meu lugar... Diferentemente de tua irmã. É verdade que
    Cersei mandou atear fogo à Fortaleza Vermelha?
    — Só à Torre da Mão.
    Sua tia pôs os olhos em branco.
    — Teria feito melhor em deixar a Torre tranquila e queimar a Mão.
    Harys Swift? Por favor! Se houve alguma vez um homem que merecesse seu
    brasão, esse foi Sor Harys. E Gyles Rosby, que os Sete nos amparem, achava
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    Mensagem  Admin Sex Jun 29, 2012 2:16 pm

    que estava morto fazia anos! E Merryweather... Para você saber, seu pai
    chamava teu avô de Risonho. Tywyin dizia que Merryweather só servia para
    rir quando o rei falava algo supostamente engraçado. Creio recordar que sua
    senhoria ganhou o exílio a golpe de risadas. Cersei também meteu um
    bastardo no conselho, e um inútil Kettleblack na Guarda Real. Agora, a Fé
    está se rearmando, e os bravosianos se dedicam a reclamar o pagamento dos
    empréstimos por todo Westeros. Nada disso haveria acontecido se ela tivesse
    a sensatez de nomear Mão o seu tio.
    — Sor Kevan rechaçou a nomeação.
    — Isso ele nos disse. O que não disse é o porque. Houve muitas
    coisas que não disse. Que não quis dizer. — Senhora Genna fez uma careta.
    — Kevan sempre fez o que lhe foi pedido. Não é próprio dele dar as costas
    ao seu dever. Está acontecendo algo, sinto isso.
    — Disse que estava cansado.
    Ele sabe, lhe havia dito Cersei diante do cadáver de seu pai. Sabe
    sobre nós.
    — Cansado? — sua tia apertou os lábios. — Enfim, tem direito a
    estar. Deve ter sido duro passar toda a vida à sombra de Tywyin. Foi duro
    para todos os meus irmãos. A sombra que projetava Tywyin era grande e
    negra; todos tinham que se debater para encontrar um pouco de sol. Tygett
    tratou de se emancipar, mas nunca pôde competir com seu pai, e isso lhe
    tornou amargo com o passar dos anos. Geron sempre estava tentando ser
    engraçado. É melhor rir do jogo que jogar e perder. Mas Kevan se deu conta
    em seguida de como iam acabar as coisas, assim que conquistou um lugar ao
    lado de teu pai.
    — E tu? — perguntou Jaime.
    — Não era um jogo para garotas. Eu era a princesinha adorada de
    meu pai, e também a de Tywyn, até que o decepcionei. Nunca lidou bem
    com as decepções. — se pôs em pé. — Já te disse tudo o que tinha que dizer;
    não te roubarei mais tempo. Faz o que acha que faria Tywyn.
    — Ele queria isso? — se ouviu perguntar Jaime.
    Sua tia lhe lançou um olhar de estranheza.
    — Tinha sete anos quando Walder Frey convenceu meu senhor pai
    para que entregasse minha mão a Emm. A seu segundo filho, nem sequer a
    seu herdeiro. Meu pai era o terceiro filho, e os meninos buscam a aprovação
    dos adultos. Frey viu este ponto fraco, e meu pai aceitou sem outro motivo
    que não satisfazê-lo. Meu compromisso se anunciou em um banquete ao que
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    Mensagem  Admin Sex Jun 29, 2012 2:16 pm

    assistia metade do Oeste. Ellyn Tarbeck começou a rir, e o Leão Vermelho
    saiu do salão cheio de fúria. Os demais permaneceram sentados e em
    silêncio. O único que se atreveu a se opor ao compromisso foi Tywyn. Um
    garoto de dez anos. Nosso pai ficou branco como leite de égua, e Walder
    Frey tremia. — sorriu. — Depois daquilo, como ia querê-lo? Não significava
    que aprovava tudo o que fazia, nem que gostasse muito de estar com o
    homem em quem se converteu... Mas toda garotinha necessita de um irmão
    maior que a proteja. Tywyn era grande até quando era pequeno. — deixou
    escapar um suspiro — Quem nos protegerá agora?
    Jaime lhe deu um beijo na bochecha.
    — Tywyn deixou um filho.
    — Certo. E isso é o que me dá mais medo.
    Era um comentário muito estranho.
    — Porque te dá medo?
    — Jaime. — disse enquanto lhe beliscava a orelha. — Meu bem, te
    conheço desde que era um bebê que mamava no peito de Joanna. Sorri como
    Gerion e luta como Tyg, e até tem algo de Kevan; do contrário não levaria
    essa capa... Mas o verdadeiro filho de Tywyn é Tyrion, não você. Eu disse
    isso a seu pai uma vez, e não voltou a me dirigir a palavra durante quase um
    ano. Às vezes, os homens podem chegar a ser tão estúpidos... Até os que
    aparecem uma vez a cada mil anos.
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    Mensagem  Admin Seg Jul 09, 2012 1:31 pm

    Briene 657


    Eles encontraram o primeiro cadáver a uma milha da encruzilhada.
    Ele balançava sob o galho de uma árvore morta, cujo tronco
    enegrecido ainda trazia as cicatrizes do relâmpago que o tinha
    matado. Os corvos haviam trabalhado em seu rosto, e os lobos fizeram um
    banquete da parte inferior de suas pernas, que ficaram perto do chão.
    Somente ossos e trapos permaneceram abaixo dos joelhos... juntamente com
    um sapato bem mastigado, semicoberto por lama e mofo.
    — O que ele tem na boca? — Perguntou Podrick. Brienne teve que
    se obrigar a olhar. Seu rosto era cinza, verde, medonho, e a boca estava
    aberta e distendida. Alguém tinha enfiado uma pedra branca entre seus
    dentes. Uma pedra, ou...
    — Sal — disse o Septão Meribald.
    Cinquenta metros adiante, viram o segundo corpo. Os lobos o
    tinham rasgado embaixo, e o que restou dele estava espalhado pelo chão,
    debaixo de uma corda desfiada que estava amarrada ao galho de um olmo.
    Brienne poderia ter passado por ele sem percebê-lo, se o cão não o tivesse
    cheirado e galopado mato adentro, seguindo o rastro do cheiro.
    — O que tem lá, cão? — Sor Hyle desmontou, caminhou atrás do
    cachorro, e voltou com um pedaço de elmo. O crânio de um homem morto
    ainda estava dentro dele, junto com algumas minhocas e besouros. — Aço
    bom, — ele examinou, — e não está muito estragado, ainda que o leão tenha
    perdido sua cabeça. Pod, gostaria de ter um elmo?
    — Não esse. Tem vermes nele.
    — Lave-o, rapaz. Você é medroso como uma menina.
    Brienne fez uma careta para ele.
    — É grande demais para ele.
    — Ele vai crescer dentro dele.
    — Eu não quero, — disse Podrick. Sor Hyle encolheu os ombros, e
    jogou o elmo quebrado de volta para o mato, com a cabeça do leão e tudo. O
    cachorro latiu e então foi levantar a perna contra uma árvore.
    Depois disso, raramente andavam cem metros sem encontrar um
    cadáver. Eles balançavam sob cinzas e amieiros, faias e bétulas, lariços e
    olmos, de velhos salgueiros cinza e imponentes castanheiras. Cada homem
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    Mensagem  Admin Seg Jul 09, 2012 1:31 pm

    tinha uma corda em seu pescoço, e pendia por um pedaço de corda de
    cânhamo, e a boca de cada um estava cheia de sal. Alguns usavam capas de
    cor cinza, azul ou carmesim, embora a chuva e o sol as tivesse desvanecido
    de tal forma que era difícil distinguir uma cor da outra. Outros tinham
    emblemas costurados em seus peitos. Brienne viu eixos, flechas, vários
    salmões, um pinheiro, uma folha de carvalho, besouros, galinhas anãs, uma
    cabeça de javali e meia dúzia de tridentes. Homens quebrados, ela percebeu,
    sobras de uma dúzia de exércitos, os restos dos senhores.
    Alguns dos homens mortos eram carecas, e alguns barbudos, alguns
    eram jovens e outros eram velhos, alguns eram baixos, alguns altos, alguns
    gordos e outros magros. Com o inchaço da morte, seus rostos roídos e
    podres, todos pareciam iguais. Numa árvore de forca, todos os homens são
    irmãos. Brienne tinha lido isso em um livro, embora qual ela não
    conseguisse lembrar.
    Foi Hyle Hunt, que, finalmente, disse as palavras que todos já
    tinham descobertos.
    — Estes são os homens que invadiram as Salinas.
    — Que o Pai julgue-os severamente, — disse Meribald, que tinha
    sido amigo do velho septão da cidade.
    Quem eles eram não preocupava Brienne, e sim quem os tinham
    pendurado. O enforcamento era o método preferido de execução de Beric
    Dondarrion e seu bando de foras da lei. Se assim fosse, o chamado senhor
    dos raios poderia estar bem próximo dali.
    O cão latiu, e Septão Meribald olhou em volta com a testa franzida.
    — Vamos aumentar o passo? O sol não tardará a se por, e os
    cadáveres não são uma boa companhia à noite. Estes homens eram escuros e
    perigosos, vivos. Duvido que a morte os tenha melhorados.
    — Nisso estamos em desacordo, — disse Sor Hyle. — Estes são
    exatamente o tipo de pessoas que estão melhores com a morte. — Tendo
    dito, ele colocou os calcanhares em seu cavalo, e eles passaram a andar um
    pouco mais rápido.
    Mais adiante as árvores começaram a ficarem escassas, mas não os
    cadáveres. O bosque deu seu lugar a campos de lama, galhos de árvores para
    forcas. Nuvens de corvos levantavam voo dos corpos entre grasnidos com a
    aproximação dos viajantes, e voltavam novamente após eles passarem. Estes
    homens eram maus, Brienne lembrou a si mesma, mas a visão ainda a deixou
    triste.
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    Mensagem  Admin Seg Jul 09, 2012 1:32 pm

    Ela se forçou a olhar para cada homem em busca de rostos
    conhecidos. Alguns ela pensou reconhecer de Harrenhal, mas a condição
    deles tornava difícil ter certeza. Nenhum deles tinha um elmo em forma de
    cabeça de cão, embora alguns tivessem elmos de outras espécies. A maioria
    tinha sido despojada de suas armas, armaduras e botas, antes de serem
    enforcados.
    Quando Podrick perguntou o nome da estalagem onde eles iriam
    passar a noite, o Septão Meribald apoderou-se do assunto, talvez para tirar
    suas mentes das terríveis sentinelas ao longo da estrada.
    — A Velha Estalagem, alguns a chamam. Lá existiu uma estalagem
    por muitas centenas de anos, embora ela tenha sido construída apenas
    durante o reinado do Jaehaerys primeiro, o rei que construiu a Estrada do
    Rei. Jaehaerys e sua rainha dormiam lá durante suas viagens, dizem. Por um
    tempo a pousada foi conhecida como Duas Coroas em sua honra, até que o
    conservador da estalagem construiu uma torre com um sino, e o seu nome
    foi alterado para Estalagem do Sino. Mais tarde ela passou para as mãos de
    um cavaleiro aleijado chamado Longo Jon Liza, que se dedicou ao trabalho
    de ferreiro quando começou a se sentir velho demais para lutar. Ele forjou
    um novo signo para o pátio, um dragão negro de ferro com três cabeças, que
    ele pendurou num poste de madeira. A besta era tão grande que teve de ser
    feita em uma dezena de peças, unidas com corda e arame. Quando o vento
    soprava as peças se chocavam umas nas outras, de modo a que a estalagem
    acabou ficando conhecida como o Dragão Tilintante.
    — O signo do dragão ainda está lá? — Perguntou Podrick.
    — Não, — disse o Septão Meribald. — Quando o filho do ferreiro
    ficou velho, um filho bastardo de Aegon Quarto levantou-se em rebelião
    contra o seu irmão legítimo e adotou como escudo um dragão negro. Essas
    terras pertenciam a Lorde Darry, e sua senhoria era ferozmente leal ao rei. A
    visão do dragão de ferro negro o deixava indignado, por isso ele cortou o
    poste de madeira, e o dragão foi fatiado e depois lançado ao rio. Uma das
    cabeças do dragão foi achada na Ilha Quieta muitos anos depois, embora, por
    essa altura, já estivesse vermelha de ferrugem. O conservador da estalagem
    nunca pendurou outro sinal, assim os homens esqueceram o dragão e
    passaram a chamar o lugar de Estalagem do Rio. Naqueles dias, o Tridente
    corria por baixo da porta dos fundos, e metade de seus quartos foram
    construídas sobre a água. Os hóspedes podiam jogar uma linha pela janela e
    pegar uma truta, diziam. Também havia um barco que fazia a travessia do
    rio, assim os viajantes podiam ir para a aldeia do Senhor Harroway e para a
    Muralha.
    — Nós deixamos o sul do Tridente aqui, e andamos em direção ao
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    Mensagem  Admin Seg Jul 09, 2012 1:32 pm

    noroeste... não em direção ao rio, mas para longe dele.
    — Sim, minha senhora, — disse o septão. — O rio se moveu. Há
    setenta anos. Ou oitenta? Foi quando o avô de Masha Heddle cuidava da
    estalagem. Foi ela quem me contou toda esta história. Uma mulher bondosa,
    Masha, amante de folhamarga e bolos de mel. Quando ela não tinha um
    quarto vago para mim, me deixava dormir ao lado da lareira, e ela nunca me
    deixou seguir meu caminho sem um pouco de pão, queijo e alguns bolos
    duros.
    — Ela é a estalajadeira agora? — Perguntou Podrick.
    — Não. Os leões a enforcaram. Depois que eles se mudaram, eu
    ouvi dizer que um de seus sobrinhos tentou reabrir a estalagem, mas as
    guerras deixaram as estradas muito perigosas para o povo viajar, assim ele
    não teve muitos clientes. Ele trouxe prostitutas, mas nem isso o salvou.
    Alguns senhores o mataram, eu ouvi falar.
    Sor Hyle fez uma careta.
    — Eu nunca sonhei que manter uma estalagem pudesse ser tão
    perigoso.
    — O perigo é ser parte do povo quando os grandes senhores jogam o
    jogo dos tronos, — disse o Septão Meribald. — Não é assim, cachorro? — O
    cão latiu concordando.
    — Então, — disse Podrick, — como se chama a estalagem agora?
    — A chamamos de A Estalagem da Encruzilhada. O Irmão Maior
    me disse que duas das sobrinhas de Masha Heddle a abriram para o comércio
    mais uma vez. — Ele levantou seu bastão. — Se os deuses forem bons, esta
    fumaça que sobe além dos enforcados será a que sai de suas chaminés.
    — Eles podem chama-la de Estalagem da Forca — disse Sor Hyle.
    Chama-se o que fosse, era uma grande estalagem. Subia três andares
    acima das estradas enlameadas, suas paredes, suas torres e suas chaminés de
    uma fina pedra branca brilhavam pálidas e fantasmagóricas contra o céu
    cinzento. Sua ala sul fora construída sobre pilares de madeira, sobre um
    terreno cheio de ervas daninhas e grama seca. Na ala norte havia um
    estábulo com telhados de palha e uma torre com um sino. A estalagem era
    cercada por um muro baixo de pedras brancas, quebradas, cobertas por
    musgo.
    Pelo menos não a queimaram. Nas Salinas, tinham encontrado
    apenas morte e desolação. Até o momento Brienne e seus companheiros
    tinham sido levados de barco para fora da Ilha Quieta, os sobreviventes
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    Mensagem  Admin Seg Jul 09, 2012 1:32 pm

    tinham fugido e os mortos tinham sido enterrados, mas o cadáver da própria
    cidade permanecia pálido, insepulto. O ar ainda cheirava a fumaça e os
    grasnidos das gaivotas que sobrevoavam a região pareciam quase humanos,
    como os gritos das crianças que se perdem. Até mesmo o castelo parecia
    triste e abandonado. Tão cinza como a cidade que o rodeava, o castelo era
    um quadrado rodeado por uma muralha, construído de forma que pudesse ser
    avistado do porto. Ele foi firmemente fechado quando Brienne e os outros
    tiraram seus cavalos da balsa, e nada se movia em suas ameias. Demorou
    quinze minutos de latidos de cães e batidas no portão do Septão Meribald
    para uma mulher aparecer acima deles, lhes perguntando o que queriam.
    Por essa altura, o barco já havia partido e a chuva tinha começado a
    cair.
    — Eu sou um septão, boa senhora, — Meribald gritou para ela, — e
    estes são viajantes honestos. Procuramos abrigo da chuva, e um lugar ao
    fogo durante a noite. — A mulher foi indiferente a seus apelos. — A
    estalagem mais próxima fica na encruzilhada, a oeste, — ela respondeu. —
    Não queremos estranhos aqui. Vão embora.
    Quando ela desapareceu, nem as orações de Meribald, nem os
    latidos do cachorro, nem as maldições de Sor Hyle foram capazes de trazê-la
    de volta. Eles acabaram passando a noite no mato, debaixo de um abrigo
    feito de ramos entrelaçados.
    No entanto, havia vida na estalagem da encruzilhada. Mesmo antes
    de chegarem ao portão, Brienne tinha ouvido um som a martelar, fraco, mas
    constante.
    — Uma forja, — Sor Hyle disse. — Ou eles tem um ferreiro, ou o
    fantasma do velho estalajadeiro está fazendo outro dragão de ferro. — Ele
    colocou seus calcanhares no cavalo. — Eu espero que eles tenham um
    cozinheiro fantasma também. Um frango assado fresquinho me deixaria
    muito feliz.
    O pátio da estalagem era um mar de lama marrom que atolava os
    cascos dos cavalos. O barulho de aço era mais forte ali, e Brienne via o
    brilho vermelho da forja do outro lado dos estábulos, atrás de um carro de
    boi com uma roda quebrada. Ela podia ver os cavalos nos estábulos também,
    e um menino que balançava em uma forca nas cadeias enferrujadas que
    pairavam sobre o quintal. Quatro meninas estavam na varanda da estalagem,
    observando-os. A mais nova não tinha mais do que dois anos, e estava
    pelada. A mais velha, de nove ou dez, tinha os braços postos protetoramente
    sobra a pequena.
    — Meninas, — disse Sor Hyle, — corram e tragam sua mãe.
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    Mensagem  Admin Seg Jul 09, 2012 1:32 pm

    O menino caiu da cadeira e correu em direção aos estábulos. As
    quatro meninas ficaram inquietas. Depois de um momento, uma deles disse:
    — Nós não temos mães, — e outra acrescentou:
    — Eu tinha uma, mas eles a mataram.
    A mais velha das quatro adiantou-se, empurrando a menor para trás
    de suas saias.
    — Quem são vocês? — Ela perguntou exigente.
    — Honestos viajantes à procura de abrigo. Meu nome é Brienne, e
    este é o Septão Meribald, muito conhecido nas terras do Tridente. O menino
    é o meu escudeiro, Podrick Payne, e o cavaleiro é Sor Hyle Hunt.
    O martelar parou de repente. A menina na varanda os analisou,
    cautelosa como só uma criança de dez anos pode ser. — Eu sou Willow.
    Vocês querem camas?
    — Camas e cerveja, e comida quente para encher a barriga, — disse
    Ser Hyle Hunt desmontando. — Você é a estalajadeira?
    Ela balançou a cabeça negativamente.
    — É a minha irmã Jeyne. Ela não está aqui. Tudo o que temos para
    comer é carne de cavalo. Se veio aqui buscando prostitutas, não há nenhuma.
    Minha irmã as expulsou. Temos camas, no entanto. Alguns colchões são de
    plumas, mas a maioria são feitos de palha.
    — E todos têm pulgas, não tenho dúvida, — disse Ser Hyle.
    — Vocês tem dinheiro para pagar? Prata?
    Ser Hyle riu.
    — Prata? Para uma só noite e um pernil de cavalo? Você quer nos
    roubar, filha?
    — Teremos prata. Ou você pode dormir na floresta com os mortos.
    — Willow olhou para o burro, e viu os tonéis e os fardos que ele carregava.
    — É comida? Onde você conseguiu?
    — Em Lagoa da Donzela, — disse Meribald. E o cachorro latiu.
    — Você questiona dessa forma todos seus hóspedes? — Perguntou
    Ser Hyle.
    — Nós não temos tantos hóspedes. Não é como antes da guerra. São
    principalmente pardais. Ou coisa pior.
    — Coisa pior? — Brienne perguntou.
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    Mensagem  Admin Seg Jul 09, 2012 1:32 pm

    — Ladrões, — disse a voz de um menino, vinda dos estábulos. —
    Ladrões.
    Brienne se virou, e viu um fantasma.
    Renly. Nem um golpe no coração poderia ter deixado ela assim.
    — Meu senhor? — Ela engasgou.
    — Senhor? — O menino empurrou para trás uma mecha de cabelo
    preto que havia caído sobre seus olhos. — Eu sou apenas um ferreiro.
    Ele não é Renly, compreendeu Brienne. Renly está morto. Renly
    morreu em meus braços. Este é só um menino. Um garoto que parecia com
    Renly quando ele visitara Tarth pela primeira vez. Não, é ainda mais jovem.
    Sua mandíbula é mais quadrada, e suas sobrancelhas maiores. Renly tinha
    sido magro e ágil, e este menino tinha os ombros pesados e o braço direito
    musculoso tão comum em ferreiros. Ele usava um avental de couro muito
    velho, mas por baixo do peito estava nu. A barba escura cobria o rosto e o
    queixo, e sua barba negra por fazer cobria seu rosto e seu queixo, e seu
    cabelo era um esfregão preto que descia abaixo de suas orelhas. O cabelo
    do rei Renly também fora daquele preto, mas o seu sempre tinha sido
    lavado, escovado e penteado. Às vezes, ele o cortava curto, e às vezes o
    deixava solto até os ombros, ou amarrados atrás de sua cabeça com uma
    fita de ouro, e nunca o deixava enrolado ou emaranhado de suor. E embora
    os olhos de ambos tivessem o mesmo azul profundo, Lorde Renly sempre
    teve um olhar caloroso e acolhedor, risonho, enquanto os olhos do menino
    eram cheios de raiva e desconfiança.
    Septão Meribald também achou isso.
    — Não lhe queremos fazer nenhum mal, rapaz. Quando Masha
    Heddle foi proprietária desta estalagem ela sempre tinha um bolo de mel
    para mim. Às vezes ela até me deixava ter uma cama, se a estalagem não
    estivesse cheia.
    — Ela está morta, — disse o garoto. — Os leões a enforcaram.
    — Enforcamento parece ser o esporte favorito por estas bandas, —
    disse Sor Hyle Hunt. — Se eu tivesse umas terras por aqui. Eu plantaria
    cânhamo, venderia cordas e faria uma fortuna.
    — Todas essas crianças, — perguntou Brienne a menina Willow. —
    Eles são suas... irmãs? Irmãos? Parentes e primos?
    — Não. — Willow olhava para ela de uma forma que ela conhecia
    muito bem. — Eles são apenas ... Eu não sei ... os pardais as trazem aqui, às
    vezes. Os outros encontram seu próprio caminho. Se você é uma mulher, por
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    Mensagem  Admin Seg Jul 09, 2012 1:32 pm

    que você está vestido como um homem?
    O Septão Meribald a respondeu.
    — A Senhora Brienne é uma guerreira e está em uma missão.
    Agora, porém, ela precisa de uma cama seca e de um fogo morno. Como
    todos nós. Meus velhos ossos dizem que logo irá chover novamente. Você
    tem quartos para nós?
    —Não, — disse o menino ferreiro.
    — Sim, — disse a menina Willow.
    Eles trocaram olhares. Então Willow bateu o pé.
    — Eles têm comida, Gendry. E os pequenos estão famintos. — Ela
    assobiou, e mais crianças apareceram como que por magia; meninos
    esfarrapados rastejaram debaixo do alpendre, e meninas furtivas apareceram
    nas janelas que tinham vista para o quintal. Alguns se agarravam a bestas,
    prontos para atacar.
    — Eles podem chamar isso de Estalagem das Bestas , — sugeriu
    Sor Hyle.
    Estalagem dos Órfãos seria mais apto, pensou Brienne.
    — Wat, ajude-os com os cavalos, — disse Willow. — Will, abaixe
    essa pedra, eles não vieram nos fazer mal. Pate, Tansy, procurem um pouco
    de madeira para alimentar o fogo. Jon, Penny, vocês vão ajudar o septão com
    a bagagem. Vou lhes mostrar seus quartos.
    No final, eles adotaram três quartos adjacentes, cada um com um
    colchão de penas, um penico e uma janela. O quarto de Brienne também
    tinha uma lareira. Ela deu mais algumas moedas para os órfãos em troca de
    um pouco de lenha.
    — Vou dormir no seu quarto, ou no do Sor Hyle? — Podrick
    perguntou enquanto ela abria as venezianas.
    — Não estamos na Ilha Quieta, — disse ela. — Aqui você pode ficar
    comigo. — Sua intenção era que eles continuassem no dia seguinte, ela
    explicou para os dois. O Septão Meribald estava indo para a Curva do Rio , e
    para a Aldeia de Lorde Harroway, mas Brienne não via sentido em continuar
    o seguindo. Ele tinha o cachorro para lhe fazer companhia, e o Irmão Mais
    Velho a convencera de que não encontrariam Sansa Stark ao longo da
    Tridente. — Quero que levantemos antes do nascer do sol, enquanto Sor
    Hyle ainda estiver dormindo. — Brienne não o havia perdoado pelo que
    acontecera em Jardim de Cima... e como ele mesmo disse, Hunt não tinha
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    Mensagem  Admin Seg Jul 09, 2012 1:33 pm

    feito nenhum juramento com relação a Sansa.
    — Para onde iremos, sor? Quero dizer, minha senhora?
    Brienne não tinha uma resposta para ele. Eles tinham chegado a uma
    encruzilhada, literalmente, o lugar onde a Estrada do Rei, a Estrada do Rio, e
    a Estrada das Montanhas se encontravam. A estrada das Montanhas
    atravessava as colinas até o leste, indo para o Vale de Arryn, onde a tia da
    Senhora Sansa tinha governada até sua morte. Para o oeste corria a estrada
    do rio, que seguia o curso do Ramo Vermelho até Correrrio, onde o tio-avô
    de Sansa estava sitiado, mas ainda vivo. Ou eles poderiam caminhar para o
    norte pela Estrada do Rei, atravessar as Gêmeas e o Gargalo, com seus
    pântanos e brejos. Se ela pudesse encontrar uma maneira de passar em
    segurança pelo Fosso Cailin, a Estrada do rei iria levá-los até Winterfell.
    Ou eu poderia tomar a Estrada do Rei para o sul, pensou Brienne.
    Eu poderia voltar para Porto Real, confessar meu fracasso a Sor Jaime,
    devolver sua espada, e encontrar um navio que me leve para casa, em Tarth,
    como pediu o Irmão Mais Velho. O pensamento era muito amargo, uma
    parte dela ansiava por ver seu pai em Entardecer, e a outra se perguntava se
    Sor Jaime a confortaria e se ela deveria chorar em seu ombro. Isso é o que os
    homens querem, não é? Mulheres suaves e indefesas que precisam de
    proteção?
    — Sor? Minha senhora? Eu perguntei: para onde iremos?
    — Desceremos para a sala comum, para jantar.
    A sala comum estava cheia de crianças. Brienne tentou contá-las,
    mas eles não ficaram parados nem por um instante, de forma que ela contava
    alguns deles duas ou três vezes e outros nenhuma, até ela finalmente desistir.
    Eles tinham empurrado as mesas formando três fileiras, e os meninos mais
    velhos estavam lutando no banco de trás. Os mais velhos tinham apenas dez
    ou doze. Gendry era a coisa mais próxima de um homem adulto, mas era
    Willow quem dava as ordens, como se ela fosse uma rainha em seu castelo e
    as outras crianças não mais do que servos.
    Se fosse bem nascida, dar ordens seria natural para ela, e para eles,
    obedecer. Brienne se perguntou se Willow não poderia ser mais do que
    aparentava. A menina era muito jovem e muito simples para ser Sansa Stark,
    mas era da idade da irmã mais nova dela, e até mesmo a Senhora Catelyn
    dissera que em Arya faltava a beleza de sua irmã. Cabelos castanhos, olhos
    castanhos, magra... poderia ser? O Cabelo de Arya Stark era castanho, ela
    se lembrava, mas Brienne não tinha certeza da cor de seus olhos. Castanho e
    castanho,é isso? Será que ela não morreu nas Salinas, afinal?
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    Mensagem  Admin Seg Jul 09, 2012 1:33 pm

    Lá fora, a última luz do dia estava desaparecendo. Lá dentro, Willow
    tinha acendido quatro velas de sebo gorduroso e disse as meninas para
    manter o fogo da lareira queimando alto e quente. Os meninos ajudaram
    Podrick Payne a descarregar o burro e transportar o bacalhau, o carneiro, os
    legumes, as nozes, e os queijos, enquanto o Septão Meribald se dirigia à
    cozinha, para tomar conta do mingau.
    — Ai, minhas laranjas se foram, e duvido que verei outra até a
    primavera, — disse a um menino pequeno. — Você já teve uma laranja,
    rapaz? Alguma vez você espremeu uma laranja para beber o suco? —
    Quando o menino balançou a cabeça negando, o septão despenteou seu
    cabelo. — Então eu vou lhe trazer uma quando chegar a primavera, se você
    for um bom menino me ajudando a mexer o mingau.
    Sor Hyle tirou as botas para aquecer os pés no fogo. Quando Brienne
    sentou-se ao lado seu lado, ele apontou com a cabeça para a outra
    extremidade da sala.
    — Há manchas de sangue no chão, onde o cão está farejando. Elas
    foram limpas, mas o sangue está profundamente embebido madeira, não
    havendo maneira de limpa-la.
    — Esta é a estalagem onde Sandor Clegane matou três dos homens
    do seu irmão, — ela o lembrou.
    — Sim, — Hunt concordou, — mas quem é que disse que eles
    foram os primeiros a morrer aqui... ou que serão os últimos.
    — Você está com medo de algumas crianças?
    — Quatro são poucos. Dez um excesso. Isto está um caos. As
    crianças devem ser enroladas em panos e penduradas nas paredes até que
    cresçam os seios das meninas e os garotos tenham idade suficiente para fazer
    a barba.
    — Eu sinto pena deles. Todos eles perderam seus pais e mães.
    Alguns os viram morrer.
    Hunt revirou os olhos.
    — Eu esqueci que estava falando com uma mulher. Seu coração é
    tão mole quanto o mingau do nosso septão. Poderá ser? Em algum lugar
    dentro de nossa guerreira há uma mãe se contorcendo para dar à luz. O que
    você realmente quer é um doce bebê rosado para mamar no seu peito. — Sor
    Hyle sorriu. — Você precisa de um homem para isso, eu sei. Um marido de
    preferência. Por que não eu?
    — Você ainda tem esperança de ganhar aquela aposta?
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    Mensagem  Admin Seg Jul 09, 2012 1:33 pm

    — O que eu quero ganhar é você, a única menina de Lorde Selwyn.
    Eu conheço homens que se casariam com velhas ou com bebês por prêmios
    de um décimo do tamanho de Tarth. Eu não sou Renly Baratheon, confesso,
    mas eu tenho a virtude de ainda estar entre os vivos. Alguns diriam que é a
    minha única virtude. Um casamento serviria a nós dois. Terras para mim, e
    um castelo cheio desses para você. — Ele acenou com a mão para as
    crianças. — Eu sou capaz, lhe garanto. Eu já gerei pelo menos um bastardo.
    Não tenha meda, não terá problemas coma mãe dele. A última vez que fui
    vê-la, ela me encharcou com uma caldeira de sopa.
    Um rubor subiu pelo seu pescoço.
    — Meu pai só tem cinquenta e quatro anos. Não é velho demais para
    se casar novamente e ter um filho com sua nova esposa.
    — Mas isso é arriscado... se seu pai se casar novamente, se sua
    noiva for fértil e se o bebê for um menino. Eu já fiz apostas piores.
    — E as perdeu. Jogue o seu jogo com outra pessoa, sor.
    — Assim fala uma donzela que nunca jogou nenhum jogo. Uma vez
    que você jogar, terá uma visão diferente. No escuro você ficaria tão bonita
    quanto qualquer outra. Seus lábios foram feitos para beijar.
    — São lábios, — disse Brienne. — Todos os lábios são iguais.
    — E todos os lábios são feitos para beijar, — concordou Hunt
    prazerosamente. Deixe a porta do seu quarto destrancada hoje à noite, e irei
    furtivamente a sua cama e provarei que é verdade o que digo.
    — Se fizer isso, será um eunuco quando sair. — Brienne se levantou
    e caminhou para longe dele.
    O Septão Meribald perguntou se poderia abençoar a mesa e os
    pequenos, ignorando a pequena menina que engatinhava pelada sobre a
    mesa.
    — Sim, — disse Willow, agarrando a garota antes que ela chegasse
    ao mingau. Então, inclinaram-se e juntos, agradeceram ao Pai e a Mãe por
    sua generosidade... todos, mas o menino de cabelos negros da forja cruzou
    os braços contra o peito e se sentou com um olhar furioso enquanto os outros
    rezavam. Brienne não foi a única a notar. Quando terminaram a oração, o
    Septão Meribald olhou para ele, do outro lado da mesa, e disse:
    — Você não têm amor pelos deuses, filho?
    — Não para seus deuses. — Gendry disse abruptamente. — Eu
    tenho trabalho a fazer. — E saiu sem comer um pedaço sequer.
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    Mensagem  Admin Seg Jul 09, 2012 1:33 pm

    — Existe algum outro deus que ele ama? — Perguntou Hyle Hunt.
    — O Senhor da Luz, — disse um menino magrelo, com quase seis
    anos.
    Willow acertou-o com a colher.
    — Ben Boca Grande. Vai ficar sem comida. Você deveria estar
    comendo, não incomodando os senhores com essa conversa.
    As crianças caíram sobre a ceia como lobos caem em cima de um
    cervo ferido, disputando o bacalhau, rasgando o pão de cevada em pedaços e
    tomando o mingau. Mesmo a enorme roda de queijo não sobreviveu por
    muito tempo. Brienne contentou-se com peixe, pão e cenouras, enquanto o
    Septão Meribald alimentava o cão com dois pedaços para cada um que ele
    mesmo comia. Lá fora, uma chuva começou a cair. No interior, o fogo
    crepitava, e a sala estava cheia de sons de mastigação, e Willow golpeava as
    crianças com uma colher.
    — Um dia essa menina vai ser para algum homem uma esposa
    terrível, — observou, Sor Hyle. — Provavelmente para esse pobre aprendiz.
    — Alguém deve levar comida para ele, antes que acabe.
    — Você é alguém.
    Ela pegou uma fatia de queijo, um pedaço de pão, uma maçã seca e
    dois pedaços de bacalhau frito. Quando Podrick se levantou para
    acompanha-la, ela disse para ele voltar a se sentar e comer.
    — Não vou demorar.
    A chuva estava caindo com força no quintal. Brienne cobriu a
    comida com uma dobra de seu manto. Alguns dos cavalos relincharam para
    ela quando ela passou pelos estábulos. Eles também estão com fome, ela
    pensou.
    Gendry estava em sua forja, com o peito nu sob o avental de couro.
    Ele estava batendo em uma espada como se ela fosse um inimigo, seu cabelo
    molhado de suor escorria pela testa. Ela o observou por um momento. Ele
    tem os olhos e os cabelos de Renly, mas não a sua constituição. O Senhor
    Renly era mais ágil do que forte... não como seu irmão Robert, cuja força foi
    fabulosa.
    Renly não a tinha visto até o momento em que parou para limpar sua
    testa.
    — O que você quer?
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    Mensagem  Admin Seg Jul 09, 2012 1:33 pm

    — Eu trouxe o jantar. Ela abriu o pano para ele ver.
    — Se eu quisesse comida, teria comido.
    — Um ferreiro precisa comer para conservar sua força.
    — Você é a minha mãe?
    — Não. — Ela colocou a comida no chão. — Quem era sua mãe?
    — O que você tem a ver com isso?
    — Você nasceu em Porto Real. — Ela tinha certeza, devido ao seu
    modo de falar.
    — Eu e muitos mais. — Ele mergulhou a espada em uma banheira
    de água da chuva para resfriá-la. O aço quente sibilou raivoso.
    — Quantos anos você tem? — Brienne perguntou. — E a sua mãe
    ainda está viva? E seu pai, quem era ele?
    — Você faz muitas perguntas. — Ele deixou a espada. — Minha
    mãe está morta e eu nunca soube quem é o meu pai.
    — Você é um bastardo.
    Ele tomou isto como um insulto.
    — Eu sou um cavaleiro. E a espada vai ser minha, uma vez que ficar
    pronta.
    O que um cavaleiro estaria fazendo em uma forja?
    — Você tem cabelo preto e olhos azuis, e você nasceu à sombra da
    Fortaleza Vermelha. Ninguém nunca comentou sobre o seu rosto?
    — O que há de errado com meu rosto? Não é tão feio quanto o seu.
    — Em Porto Real você deve ter visto o Rei Robert.
    Ele deu de ombros.
    — Às vezes. Em torneios, de longe. Uma vez no Septo de Baelor os
    mantos dourados nos empurraram de lado para que ele pudesse passar. Outra
    vez eu estava brincando perto do Portão de Lama quando ele voltou de uma
    caçada. Ele estava tão bêbado que quase me atropelou. Um grande gordo e
    beberrão, ele era, mas um rei melhor que esses seus filhos.
    Eles não são seus filhos. O que Stannis disse é verdade, naquele dia
    em que ele se encontrou com Renly. Joffrey e Tommen nunca foram filhos de
    Robert. Este menino, apesar de...
    — Ouça-me, — começou Brienne. Então ela ouviu os latidos do
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    Mensagem  Admin Seg Jul 09, 2012 1:33 pm

    cachorro, altos e frenéticos. — Alguém está vindo.
    — Amigos, — disse Gendry, despreocupado.
    — Que tipo de amigos? — Brienne foi para trás da porta da oficina
    para espiar através da chuva.
    Ele deu de ombros.
    — Você vai encontrá-los em breve.
    E se eu não quiser conhecê-los, Brienne pensou, quando os
    primeiros cavaleiros entraram espirrando pelas poças do quintal. Sob o
    tamborilar da chuva e os latidos do cão, ela podia ouvir o tilintar de espadas
    e armaduras sob mantos esfarrapados. Ela os contou a medida em que
    passavam. Dois, quatro, seis, sete. Alguns deles estavam feridos, a julgar
    pela forma como eles montavam. O último homem era enorme e desmedido,
    tão grande como dois dos outros. Seu cavalo estava exausto e
    ensanguentado, cambaleando sob o seu peso. Todos os cavaleiros tinham
    seus capuzes os protegendo da chuva, exceto um. Seu rosto era largo e sem
    pelos, branco como um verme, e suas bochechas redondas estavam cobertas
    de feridas que sangravam.
    Brienne prendeu a respiração e puxou sua espada. Muitos, ela
    pensou, com um pouco de medo, eles são muitos.
    — Gendry, — disse ela em voz baixa, — você vai querer uma
    espada e uma armadura. Estes não são seus amigos. Eles não são amigos de
    ninguém.
    — Do que você está falando? — O menino veio e ficou ao lado dela,
    com seu martelo na mão.
    Um relâmpago rasgou o céu indo para o sul enquanto os cavaleiros
    desmontavam. Pelo tempo de meio batimento cardíaco a escuridão virou luz.
    Um machado brilhou azul e prateado, e a luz refletiu na armadura e na
    couraça, e sob o capuz de chumbo escuro de um cavaleiro Brienne
    vislumbrou um focinho de ferro e fileiras de dentes de aço, que rosnavam.
    Gendry também viu.
    — Ele.
    — Não ele. Seu elmo. — Brienne tentou manter o medo longe de
    sua voz, mas sua boca estava seca como pó. Ela sabia muito bem quem
    usava o elmo do Cão de Caça. As crianças, ela pensou.
    A porta da estalagem se abriu com uma batida. Willow saiu para a
    chuva, carregando uma besta em suas mãos. A garota gritou com os
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    Mensagem  Admin Seg Jul 09, 2012 1:34 pm

    cavaleiros, mas um trovão ecoou pelo quintal, abafando suas palavras. Ela
    desapareceu, e Brienne ouviu o homem com o elmo do Cão de Caça dizer:
    — Se se atrever a atirar uma flecha em mim, eu vou enfiar essa besta
    na sua boceta e vou te foder com ela. Então eu vou arrancar seus olhos fora e
    fazer você comê-los. — A fúria na voz do homem fez Willow retroceder um
    passo, tremendo.
    Sete, Brienne pensou novamente, desesperada. Ela não tinha
    nenhuma chance contra sete, ela sabia. Sem chance, e sem escolha.
    Ela saiu para a chuva, de espada na mão.
    — Deixe-a em paz, Sor. Se quer estuprar alguém, tente a mim.
    Os bandidos a olharam como um só. Um riu, e outro disse algo em
    uma língua que Brienne não conhecia. O enorme com o rosto largo e branco
    soltou um suaaaaaaaa malévolo. O homem com o elmo do Cão de Caça
    começou a rir.
    — Você é ainda mais feia do que eu me lembrava. Prefiro estuprar
    seu cavalo.
    — Cavalos, que é o que queremos, — disse um dos feridos. —
    Cavalos frescos, e alguns alimentos. Tem bandidos atrás de nós. Dê-nos seus
    cavalos e vamos embora. Nós não vamos lhes fazer mal.
    — Foda-se. — O bandido com o elmo do Cão de Caça puxou um
    machado de batalha da sela. — Eu quero cortar suas pernas fora. Eu vou
    coloca-la em seus cotos para que possa me ver foder a menina da besta.
    — Com o quê? — O insultou Brienne. — Shagwell disse que
    cortaram sua masculinidade fora quando tomaram seu nariz.
    Ela quis dizer isso para provocá-lo, e ela conseguiu. Gritando
    maldições, ele veio para cima dela, seus pés levantando salpicos de água
    negra. Os outros estavam assistindo ao show, como resposta as suas orações.
    Brienne permaneceu imóvel como pedra, esperando. O quintal estava escuro,
    a lama escorregadia sob seus pés. Melhor deixar ele vir para cima de mim.
    Se os deuses forem bons, ele vai escorregar e cair.
    Os deuses não eram tão bons, mas sua espada era. Cinco passos,
    quatro passos, agora, contou Brienne, e a espada se lançou junto à corrida.
    Aço se chocou contra aço quando a lâmina atravessou seus trapos e abriu um
    corte na cota de malha, mesmo com seu machado desabando sobre ela. Ela
    torceu de lado, cortando o peito novamente, enquanto recuava.
    Ele, cambaleou e sangrou, rugindo de raiva.
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    Mensagem  Admin Seg Jul 09, 2012 1:34 pm

    — Sua puta, — ele gritou. — Aberração! Puta! Vou te dar para o
    meu cão te foder, sua puta sanguinária! — Seu machado girava em arcos
    assassinos, uma brutal sombra negra que virava prata cada vez que os
    relâmpagos a iluminavam. Brienne não tinha um escudo para parar os
    golpes. Tudo o que ela podia fazer era se esquivar para longe dele, lançandose
    de um lado ao outro a cada estocada da cabeça do martelo. Quando a lama
    cedeu sob seu calcanhar ela quase caiu, mas de alguma forma se recuperou,
    embora o machado tenha passado sobre seu ombro esquerdo deixando uma
    mancha de dor.
    — Você é uma puta! — Disse um deles, e outro disse:
    — Olha como ela está dançando.
    Ela dançava, aliviada porque eles apenas assistiam. Melhor isso do
    que tê-los interferindo. Ela não poderia lutar contra sete, não sozinha,
    mesmo que um ou dois estivessem feridos. Fazia muito tempo que o velho
    Sor Goodwin jazia em seu túmulo, no entanto, ela podia ouvi-lo sussurrando
    em seu ouvido. Os homens sempre subestimam você, ele disse, e seu orgulho
    vai fazê-los querer vencer rapidamente, para que não se possa dizer que
    uma mulher os pôs a prova. Deixe-os gastar suas forças em ataques
    furiosos, enquanto você conserva a sua. Aguarde e observe, menina,
    aguarde e observe. Ela esperou, observando, movendo-se de lado, depois
    recuando, em seguida, novamente para os lados, atacando o rosto, depois as
    pernas, depois o braço. Os golpes dele ficavam mais lentos à medida que o
    machado ficava mais pesado. Brienne o fez girar de forma que a chuva
    caísse em seus olhos, e ela rapidamente recuou dois passos. Ele brandiu seu
    machado novamente, xingando, e se precipitou ao ataque, e seu pé deslizou
    na lama...
    ... E ela saltou contra ele, ambas as mãos seguras na espada. A ponta
    da espada foi até ele, e perfurou através do pano, da cota de malha, do couro
    e de muito mais pano, e entrou fundo em suas entranhas e em suas costas,
    raspando em sua espinha. Seu machado caiu dos dedos, e os dois se
    chocaram, o rosto de Brienne contra o elmo de cabeça de cachorro. Ela
    sentiu o metal frio e úmido contra o rosto. A chuva corria em rios pelo aço, e
    quando os relâmpagos novamente iluminaram, ela viu dor, medo e descrença
    nos olhos dele.
    — Safiras, — ela sussurrou para ele, e lhe tocou com a lâmina, o
    fazendo estremecer. Sentia o seu peso contra ela, e de repente ela se viu
    abraçada a um cadáver na chuva negra. Ela recuou e o deixou cair...
    ... e Dentadas se lançou contra ela, gritando.
    Ele caiu sobre ela como uma avalanche de lã molhada e carne
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    Mensagem  Admin Seg Jul 09, 2012 1:34 pm

    branca, levantando-a do chão e depois a jogando contra ele. Ela caiu em uma
    poça, e um esguicho de água foi de encontro ao seu nariz e olhos. Todo o ar
    foi expulso de seu corpo, e ela bateu a cabeça contra alguma pedra
    semienterrada.
    — Não, — foi tudo o que ela teve tempo de dizer antes dele cair em
    cima, seu peso a enterrando mais fundo na lama. Uma de suas mãos agarrava
    seu cabelo, empurrando a cabeça para trás. A outra tateou até a garganta. A
    espada tinha desaparecido, arrancada de seu alcance. Ela tinha apenas as
    mãos para combatê-lo, mas quando ela bateu o punho em seu rosto, viu que
    era como golpear uma massa branca e molhada. Ele silvou para ela.
    Ela lhe bateu novamente, novamente e novamente, e com a palma da
    mão acertou seu olho, mas ele não parecia sentir os golpes. Ela cravou suas
    unhas nos pulsos dele, mas só conseguiu ser ainda mais sufocada, embora o
    sangue corresse onde ela o arranhara. Ele estava a esmagando, a sufocando.
    Ela empurrou os seus ombros para tirá-lo de cima, mas ele era pesado como
    um cavalo, impossível de ser movido. Quando ela tentou dar uma joelhada
    na virilha, tudo que conseguiu foi levar uma joelhada no ventre. Grunhindo,
    Dentadas arrancou um punhado do cabelo de Brienne.
    Meu punhal. Brienne se agarrou a esse pensamento, desesperada.
    Ela trabalhou a mão entre eles, os dedos se contorcendo sob sua carne
    sufocante, tateando, até que finalmente encontrou o cabo. Mordedor colocou
    ambas as mãos sobre seu pescoço e começou a bater sua cabeça contra o
    chão. Mais um raio, desta vez dentro de seu crânio, mas de alguma forma,
    com os dedos apertados, ela puxou o punhal da bainha. Com ele em cima
    dela, ela não podia levantar a lâmina para apunhalar, assim ela arrastou o
    punhal sobre sua barriga. Algo quente e molhado jorrou entre os dedos.
    Mordedor voltou a silvar, mais alto do que antes, e soltou a garganta dela
    apenas tempo suficiente para esmagar a sua cara. Ela ouviu o quebrar de
    ossos, e a dor a cegou por um instante. Quando ela tentou cortar ele de novo,
    ele arrancou a adaga de seus dedos e bateu o joelho em seu antebraço,
    quebrando-o. Então ele pegou a cabeça dela novamente e voltou a tentar
    arrancá-la de seus ombros.
    ` Brienne podia ouvir o latir do cão, e os homens gritavam tudo sobre
    ela, e entre os trovões, e ela ouviu o choque de aço no aço. Sor Hyle, ela
    pensou, Sor Hyle juntou-se à luta, mas tudo parecia distante e sem
    importância. Seu mundo não era maior do que as mãos no seu pescoço e no
    rosto que pairava acima dela. A chuva pingou do seu capuz quando ele se
    inclinou. Seu hálito cheirava a queijo podre.
    O peito de Brienne estava queimando, e a tempestade cegava seus
    olhos. Ossos rangiam uns contra os outros dentro dela. A boca de Dentadas
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    Mensagem  Admin Seg Jul 09, 2012 1:34 pm

    estava escancarada, incrivelmente grande. Ela viu os dentes, amarelos e
    tortos, afiados e pontiagudos. Quando eles se fecharam na carne macia de
    seu rosto, ela mal o sentiu. Ela podia sentir-se em espiral para baixo no
    escuro. Eu não posso morrer ainda, disse a si mesma, ainda há algo que
    preciso fazer.
    A boca de Dentadas se afastou, cheia de sangue e carne. Cuspiu,
    sorriu, e afundou os dentes afiados em sua carne novamente. Desta vez ele
    mastigou e engoliu. Ele está me comendo, ela percebeu, mas não tinha forças
    para lutar com ele por mais tempo. Ela se sentia como se estivesse flutuando
    acima de si mesma, observando o horror como se estivesse acontecendo com
    alguma outra mulher, com uma garota estúpida que achava que ela era um
    cavaleiro. Acabaria em breve, disse a si mesma. Então não importa se ele
    me comer. Dentadas jogou sua cabeça para trás e abriu a boca novamente,
    urrando, e mostrou a língua para ela. Era pontiaguda, pingava sangue.
    Nenhuma língua podia ser tão grande. Entrava e saía de sua boca, entrava e
    saía, vermelha, molhada, brilhante, era uma visão medonha, obscena. Sua
    língua tem um palmo de comprimento, Brienne pensou, pouco antes de a
    escuridão a tomar. Parece uma espada.

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