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    O Festim dos Corvos

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    O Festim dos Corvos - Página 12 Empty Re: O Festim dos Corvos

    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:41 pm

    — Lorde Rodrik governa a Casa Harlaw.
    — Rodrik não tem filhas, só livros. Hotho será seu herdeiro, e eu
    serei o rei. Uma vez que ele dissesse as palavras em voz alta, elas soaram
    como verdade. Olho de Corvo tem estado muito tempo longe.
    — Alguns homens parecem maiores de longe — Asha advertiu. —
    Caminhe por entre as fogueiras se ousa, e ouça. Eles não estão contando
    histórias sobre a sua força nem sobre a minha beleza. Eles só falam de Olho
    de Corvo; os lugares distantes que viu, as mulheres que ele comeu e os
    homens que matou, as cidades que saqueou, o jeito que ele queimou a frota
    de Lorde Tywin em Lannisporto...
    — Eu queimei a frota do leão — Victarion insistiu. — Com minhas
    próprias mãos coloquei fogo na sua capitania.
    — Olho de Corvo tem um esquema. — Asha colocou sua mão sobre
    seu braço. — E matou sua esposa também... não foi?
    Balon ordenara-os a não falar sobre isso, mas Balon estava morto.
    — Ele colocou um bebê em sua barriga e me fez fazer o serviço. Eu
    o teria matado também, mas Balon não queria nenhum assassino em sua
    mansão. Ele mandou Euron ao exílio, para nunca retornar...
    — ... enquanto Balon viver?
    Victarion olhou para seus punhos.
    — Ela deu-me um par de chifres. Eu não tive escolha. Teria sido
    conhecido, homens estariam rindo de mim, como Olho de Corvo ria quando
    o confrontei. Ela veio a mim molhada e desejosa, ele se gabara. Parece que
    Victarion é grande em todo lugar, mas principalmente onde importa. Mas ele
    não podia conta-la isso.
    — Sinto muito por você — disse Asha — e mais ainda por ela... mas
    você me deu pouca escolha senão reivindicar a Cadeira de Pedra do Mar por
    mim mesma.
    — Não. Seu bafo é seu para desperdiçar, mulher.
    — Sim — ela disse, e o deixou.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:43 pm

    O Homem Afogado 324


    Somente quando seus braços e pernas estavam dormentes por causa do
    frio, foi que Aeron Greyjoy nadou de volta a costa e vestiu suas
    roupas novamente.
    Ele havia corrido diante do Olho de Corvo como se ainda fosse a
    coisa fraca que havia sido, mas quando as ondas quebravam-se sobre sua
    cabeça, o lembrava mais uma vez que aquele homem estava morto. Renasci
    do mar, um homem mais duro e mais forte. Nenhum homem poderia assustálo,
    não mais que a escuridão poderia, nem os ossos de sua alma, as cinzas e
    terríveis ossos de sua alma. O barulho de uma porta se abrindo, o grito de
    uma dobradiça de ferro enferrujada.
    Suas vestes de sacerdote estalaram quando ele as vestiu, ainda dura
    com o sal proveniente de sua ultima lavada nos últimos quinze dias. A lã se
    agarrou ao seu peito molhado, absorvendo a água que escorria do seu cabelo.
    Ele encheu o cantil e atirou-o sobre seu ombro.
    Assim que ele atravessou a costa, um homem afogado, retornando de
    um chamado da natureza tropeçou nele na escuridão.
    — Cabelo Molhado! — Ele murmurou.
    Aeron colocou a mão sobre sua cabeça, o abençoou e continuou
    andando.
    O chão se ergueu sob seus pés, delicadamente no inicio, e então mais
    acentuado. Quando ele sentiu a grama verde esfregando-se entre seus dedos,
    ele sabia que havia deixado à costa para trás. Lentamente ele subiu, ouvindo
    as ondas. O mar nunca está cansado. Devo ser incansável também.
    No topo da colina, monstruosas costelas de pedras erguiam-se da
    terra rosada, como troncos pálidos de grandiosas árvores. A visão fez o
    coração de Aeron bater mais rápido. Nagga havia sido o primeiro dragão do
    mar, o mais poderoso de todos os tempos que surgiu das ondas. Ela se
    alimentou de lulas e leviathans e afundou ilhas inteiras em sua ira, mas
    mesmo assim o Rei Cinzento havia a matado e o Deus Afogado tinha
    transformado seus ossos em pedras para que os homens nunca cessassem de
    admirar a coragens dos primeiros dos reis. As costelas de Nagga tornaramse
    as vigas e pilares de seu longo corredor, assim como suas mandíbulas se
    tornou seu trono. Por mil e sete anos ele reinou aqui, lembrou Aeron. Aqui
    ele pegou sua esposa sereia e planejou as suas guerras contra o Deus da
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:43 pm

    Tempestade. A partir daqui ele governou tanto pedra e sal, usando mantos
    tecidos de algas e uma coroa alta e pálida, feita com os dentes de Nagga.
    Mas isso fora na aurora dos dias, quando poderosos homens ainda
    habitavam a terra e o mar. O salão havia sido aquecido pelo fogovivo de
    Nagga, que o Rei Cinza havia feita seu escravo. Em suas paredes pendiam
    tapeçarias feitas de algas marinhas prateadas, mais agradáveis aos olhos. Os
    guerreiros do Rei Cinza tiveram um banquete da generosidade do mar, em
    uma mesa com o formato de uma grande estrela do mar, enquanto sentava-se
    sobre tronos entalhados pela mãe-de-pérola. Então, toda a glória se foi.
    Homens são menores agora. Suas vidas se tornaram curtas. O Deus da
    Tempestade afogou o fogo de Nagga após a morte do Rei Cinza. As cadeiras
    e as tapeçarias tinham sido roubadas, os telhados e as paredes haviam
    apodrecido. Mesmo o grande trono do Rei Cinza, feito com os dentes de
    Nagga havia sido engolido pelo mar. Apenas os ossos de Nagga resistiram
    para relembrar o ‘nascido do ferro’ de toda a maravilha que havia sido.
    É o suficiente, pensou Aeron Greyjoy.
    Nove passos de largura haviam sido cavados no topo da colina de
    pedra. Subiu por trás dos morros uivantes de Velha Wyk, com suas negras e
    cruéis montanhas ao longo. Aeron parou onde as portas uma vez se
    ergueram, retirou a rolha de seu cantil, bebeu um gole de água salgada, virou
    o rosto para o mar. Nascemos do mar, e ao mar devemos retornar. Mesmo
    aqui, ele podia ouvir o barulho incessante das ondas e sentir o poder do deus
    que se escondia sobre as águas. Aeron caiu de joelhos. Você enviou seu
    pessoal para mim, ele orou. Eles deixaram suas salas e casebres, seus
    castelos e seus pertences, e vieram aqui para os ossos de Nagga, de cada
    vila de pescadores e de cada vale escondido. Agora lhes conceda sabedoria
    para reconhecer o verdadeiro rei quando estiver diante deles e força para
    evitar o falso. Toda a noite ele orou, pois quando o deus estava nele, Aeron
    Greyjoy não tinha necessidade de sono, não mais que as ondas precisam, ou
    os peixes do mar.
    Nuvens escuras correram perante o vento quando a primeira luz
    adentrou o mundo. O céu negro se tornou cinza como ardósia. O mar preto
    virou cinza-verde; As montanhas negras de grande Wyk por toda a baía
    colocou os tons de azul-verde dos pinheiros. Assim como a cor voltou ao
    mundo, uma centena de estandartes se levantaram e começaram a bater.
    Aeron observou os peixes prateados de Botley, a lua sangrenta de Wynch, as
    árvores verdes escuras de Orkwood. Ele viu machados, leviatãs e foices, e
    por todo lado as lulas gigantes, grandes e dourados. Abaixo dele, os escravos
    e suas mulheres começaram a se mover, agitando carvões e criando brasas
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:44 pm

    para um novo dia, limpando peixes para os capitães e reis quebrarem seus
    jejuns.
    A luz da manhã tocou a vertente pedregosa, e ele assistiu os homens
    acordarem de seus sonos, jogando de lado seus cobertores de pele de foca
    enquanto eram chamados para seu primeiro chifre de cerveja. Bebam
    bastante, ele pensou, pois nós temos um trabalho de deus para fazer hoje.
    O mar estava se movimentando também. As ondas ficaram maiores
    quando o vento aumentou, enviando plumas como spray que se quebravam
    contras os navios. O deus Afogado acorda, pensou Aeron. Ele podia ouvir
    sua voz brotando das profundezas do mar. Eu estarei com vocês aqui hoje, a
    voz disse. Nenhum homem sem deus irá se sentar em minha cadeira de
    pedra do mar.
    Foi lá, sob os arcos das costelas de Nagga que seu homem afogado o
    encontrou, em pé, alto e severo com seus longos cabelos negros balançando
    ao vento.
    — É a hora? — Rus perguntou.
    Aeron deu um aceno de cabeça e disse.
    — É, Vá em frente e faça a convocação.
    Os homens afogados pegaram seus bastões de troncos e começaram
    a bater um contra o outro, enquanto caminhavam de volta morro abaixo.
    Outros juntaram-se a eles, e o retinir se espalhava ao longo da costa. Tais
    retinir criavam um barulho assustador, como se centenas de arvores fossem
    compelidas umas as outras com seus membros. Tambores começaram a bater
    também, boom-boom-boom-boom-boom, boom-boom-boom-boom-boomboom-
    boom. Um corno de guerra soou, e logo após outro.
    AAAAAAooooooooooooooo.
    Homens deixaram seus fogos para fazerem seus próprios caminhos
    para os ossos do Salão do Rei Cinza; remadores, timoneiros, veleiros,
    carpinteiros, os guerreiros com seus eixos e os pescadores com suas redes.
    Alguns tinham escravos para servi-los, outros tinham esposas de sal. Outros,
    que haviam navegado muitas vezes para terras verdes, foram atendidos por
    cantores, meisters e cavaleiros. Os homens comuns, amontoavam-se em
    torno da colina, com escravos, crianças e mulheres, na parte de trás. Os
    capitães e os reis fizeram seus caminhos até a encosta. Aeron Cabelo
    Molhado viu o alegre Sigfry Stonetree, Andrik, o Sério. O cavaleiro Sor
    Baelor Blacktyde em seu manto negro, ficando ao lado de Stonehouse em
    sua pele de foca irregular. Victarion pairava acima de todos eles, exceto
    Andrik. Seu irmão não usava capacete, mas tinha seu esplendor todo em sua
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:44 pm

    armadura: seu dourado manto de lula pendurado sobre seus ombros. Ele deve
    ser nosso rei. Que homem poderia olhar para ele e duvidar?
    Quando o Cabelo Molhado levantou suas mãos ossudas, os tambores
    e os chifres de guerra ficaram em silêncio. Os homens afogados abaixaram
    suas lanças e todas as vozes silenciaram-se. Apenas o som das ondas batendo
    permaneceu. Um rugido que homem algum poderia deter.
    — Nós nascemos do mar, e para o mar devemos retornar. — Aeron
    começou, suavemente no início, assim os homens se esforçavam para ouvilo.
    — O Deus da Tempestade em sua ira arrancou Balon de seu castelo e
    derrubou-o, mas agora ele festeja sob as ondas, nos salões de água do Deus
    Afogado. — Ele levantou seus olhos para o céu. — Balon está morto! O rei
    de ferro está morto!
    — O rei está morto! — Seus homens afogados gritavam.
    — Mas ainda, o que está morto pode nunca morrer, mas erguer-se
    novamente, mais duro e mais forte. — Lembrou-os — Balon caiu, Balon
    meu irmão, que honrou o Costume Antigo e pagou o preço do ferro. Balon, o
    Bravo, Balon, o Abençoado, Balon Duas Vezes Coroado. Que conquistou de
    volta nossa liberdade e nosso deus. Balon está morto, mas um rei de ferro
    precisa erguer-se novamente, e se assentar sobre ao Cadeira de Pedra do
    Mare governar as ilhas.
    — Um rei precisa erguer-se — eles responderam — Ele precisa
    erguer-se!
    — Ele precisa. Ele deve! — A voz de Aeron trovoou como as ondas.
    — Mas, quem? Quem deve sentar-se no lugar de Balon? Quem deve
    governar estas ilhas sagradas? Ele está entre nós agora? — O sacerdote abriu
    suas mãos amplamente. — Quem deve ser rei sobre nós?
    Uma gaivota gritou de volta para ele. A multidão começou a se
    mover, como se fossem homens acordando de um sonho. Cada homem olhou
    para seu vizinho, para ver qual deles talvez pretendiam reclamar uma coroa.
    Olho do Corvo nunca foi paciente, Aeron Cabelo Molhado disse a si mesmo.
    Talvez ele vá falar primeiro, e se assim for, seria sua ruína. Os capitães e
    reis haviam percorrido um longo caminho para aquele banquete e não
    escolheriam o primeiro prato que lhes fosse oferecido. Eles vão querer
    experimentar e provar, uma mordida deste, uma mordidela em outro, até
    aquele que melhor lhes convier.
    Euron deveria saber daquilo também. Ele permaneceu com seus
    braços cruzados entre seus mudos e seus monstros, apenas o vento e as
    ondas responderam ao apelo de Aeron.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:44 pm

    — Os nascidos do ferro devem ter um rei. — Ele insistiu depois de
    um longo silencio. — Eu pergunto novamente, quem deve ser rei sobre nós?
    — Eu serei. — A resposta veio de baixo.
    — Gylbert — Subiu da multidão um grito áspero. — Gylbert, Rei
    Gylbert.
    Os capitães deram lugar para deixar o requerente e seus campeões
    subirem ao monte e se postarem ao lado de Aeron, sob as costelas de Nagga.
    Este candidato a rei era um senhor alto com uma expressão
    melancólica, sua mandíbula se destacava raspada e limpa. Seus campeões
    tomaram posições dois passos atrás dele, tendo sua espada, escudo e
    estandarte. Eles compartilhavam da aparência do alto senhor, e Aeron
    acreditou que fossem seus filhos. Um desfraldou seu estandarte, uma grande
    e negra canoa contra um sol poente.
    — Eu sou Gylbert Farwynd, Senhor da Luz Solitária — o senhor
    disse à assembleia de homens livres.
    Aeron conhecia alguns Farwynd, um povo estranho que ocupou
    terras nas margens ocidental de Grande Wyk e as ilhas espalhadas além,
    pequenas rochas que a maioria das pessoas não poderia suportar, exceto uma
    única família. Destas, A Luz Solitária era a mais distante, velejando oito dias
    para o noroeste, entre colônias de focas, leões-marinhos, e o oceano cinza e
    sem limites. Os Farwynd ali presentes eram ainda mais estranhos que o
    resto. Alguns diziam que eles eram transformadores de pele, profanas
    criaturas que podiam assumir a forma de leões marinhos, morsas, e mesmo
    baleias manchadas, os lobos do mar selvagem.
    Lord Gylbert começou a falar. Ele falou de uma terra maravilhosa
    além do por do sol no mar, uma terra sem inverno, onde a morte não tinha
    domínio.
    — Façam-me seu rei, e eu levarei vocês até lá. — Ele proclamou. —
    Vamos construir dez mil navios, assim como Nymeria fez uma vez, e velejar
    com todo o nosso povo para a terra além do por do sol. Então todo homem
    será um rei, e toda esposa uma rainha.
    Seus olhos, Aeron viu, ora cinzas, ora azuis, eram tão mutáveis
    quanto o mar. Olhos de louco, ele pensou, olhos de tolo. A visão de que ele
    falava, sem dúvidas se tratava de uma armadilha armada pelo deus da
    tempestade, para trair os filhos do ferro a destruição. As ofertas que seus
    homens derramavam perante a assembleia de homens livres incluíam peles e
    presas de morsa, braceletes feitos de ossos de baleias, e cornos de guerra
    enfaixados em bronze. Os capitães olharam e se afastaram, deixando homens
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:44 pm

    menores ajudarem-nos com os presentes. Quando o tolo havia terminado de
    falar e seus campeões começaram a gritar seu nome, apenas os Farwynd
    ajudaram no coro, e nem todos eles. Logo, o grito de ‘Gylbert, Gylbert Rei’
    deu lugar ao silêncio. A gaivota gritou bem alto acima deles e pousou em
    cima de uma das costelas de Nagga, enquanto o Senhor da Luz Solitária
    fazia seu caminho de volta morro abaixo.
    Aeron Cabelo Molhado adiantou-se novamente.
    — Eu pergunto outra vez, quem deve ser rei sobre nós?
    — Eu! — uma voz profunda soou, e mais uma vez a multidão se
    afastou.
    O orador foi levado até o monte em uma flutuante cadeira de
    madeira esculpida, carregada nos ombros de seus netos. O homem era uma
    grande ruína, tinha o peso de vinte pedras e noventa anos de idade, e estava
    envolto em uma pele de urso branco. Seu próprio cabelo era tão branco
    como a neve também, e sua enorme barba cobria-o como um cobertor, de
    suas bochechas até suas coxas, então era difícil dizer onde a barba terminava
    e a pele de urso começava. Apesar de seus netos serem grandes homens, eles
    lutaram com seu peso através dos degraus de pedra íngreme. Antes do salão
    do Rei Cinza, eles o colocaram no chão e se puseram atrás dele, como seus
    campeões.
    Sessenta anos atrás, ele poderia ter ganho o favor da Assembleia,
    Aeron pensou, mas isso seria há muito tempo atrás.
    — Sim, Eu! — O homem gritou sentado onde estava, com uma voz
    tão grande quanto ele era. — Porque não? Quem é melhor? Eu sou Erick
    Ironmaker, para aqueles que são cegos. Erik, o Justo, Erick, o Batedor de
    Bigorna! Mostre-lhes o meu martelo Thormor.
    Um de seus campeões levantou para que todos pudessem ver. Era
    uma coisa monstruosa. Seu cabo envolto com couro vermelho, e sua cabeça
    como um tijolo de aço tão grande como um pedaço de pão.
    — Eu não consigo contar quantas mãos eu esmaguei com este
    martelo. — Erik disse. — Mas talvez algum ladrão possa dizer. Eu não
    posso dizer quantas cabeças eu esmaguei contra minha bigorna também, mas
    há algumas viúvas que poderiam. Eu poderia dizer a vocês todas as obras
    que fiz em batalha, mas eu tenho oitenta e oito anos, e não vivi ainda o
    suficiente para terminar. Se velho é sábio, ninguém é mais sábio que eu. Se
    grande é forte, ninguém é mais forte. Você quer um rei com herdeiros? Eu
    tenho mais do que posso contar. Rei Erik, sim, eu gosto de como isso soa.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:44 pm

    Venham, digam comigo: ERIK! ERIK BATEDOR DE BIGORNA! REI
    ERIK!
    Assim como seus netos assumiram o coro, seus filhos se adiantaram
    com os peitos estufados, quando eles suspenderam-no na base dos degraus
    de pedra, uma torrente de prata, bronze e aço foram derramados, braçadeiras,
    colares, punhais e machados de arremesso. Alguns capitães se aproximaram
    e escolheram os melhores itens, acrescentando suas vozes ao coro. Mas,
    assim que o grito começou a crescer, a voz de uma mulher cortou-o.
    — ERIK! — Homens moveram-se para o lado para deixá-la passar.
    Com um pé no degrau mais baixo ela disse: — Erik, levante-se.
    Um silencio se fez. O vento soprava, as ondas quebravam-se na
    costa, homens sussurravam nos ouvidos dos outros. Erik Ironmaker olhou
    para Asha Greyjoy.
    — Menina! Três vezes maldita menina, o que você disse?
    — Levante-se Erik — ela disse. — Levante-se e eu gritarei seu
    nome junto com todos os outros, levante-se e eu serei a primeira a te seguir.
    Você quer uma coroa? Sim, levante-se e pegue-a.
    Em outra parte da multidão, Olho de Corvo riu. Erik olhou para ele.
    As mãos do grande homem se fecharam firmemente em volta dos braços de
    seu trono. Sua face ficou vermelha, e então roxa. Seus braços tremiam com o
    esforço. Aeron podia ouvir uma grossa veia azul pulsando em seu pescoço
    enquanto ele se esforçava para se levantar. Por um momento, pareceu que
    ele conseguiria, mas sua respiração saiu de uma só vez, e ele gemeu e
    afundou de volta para suas almofadas. Euron riu ainda mais alto. O grande
    homem abaixou a cabeça e envelheceu, tudo em um piscar de olhos. Seus
    netos o levaram de volta para baixo do monte.
    — Quem deve governar os filhos do ferro? — Aeron chamou outra
    vez. — Quem deve ser rei sobre nós?
    Homens entreolharam-se. Uns olharam para Euron, uns para
    Victarion, alguns para Asha. Ondas quebravam verdes e brancas contra as
    canoas. A gaivota gritou mais uma vez, um grito estridente, desesperado.
    — Faça sua reivindicação, Victario. —Merlyn falou. — Vamos
    acabar com essa farsa.
    — Quando eu estiver pronto. — Victarion gritou de volta.
    Aeron estava satisfeito. É mesmo melhor ele esperar.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:44 pm

    Drumm veio depois, outro homem velho, porém não tão velho
    quanto Erik. Ele subiu a colina com suas próprias pernas, em seu quadril
    estava Chuva Vermelha, a sua famosa espada, forjada de aço valiriano ainda
    nos dias antes da Perdição. Seus campeões eram homens importantes; seus
    filhos Denys e Donnel, ambos lutadores robustos, e entre eles Andrik, O
    Sério, um gigante homem com braços da grossura de uma árvore, o que era
    bom para Drumm, demonstrando o tipo de homem que estaria com ele.
    — Onde está escrito que nosso rei deve ser uma lula gigante? —
    Drumm começou. — Que direito Pyke tem para nos governar? Grande Wyk
    é a maior ilha, Harlaw a mais rica, Velha Wyk a mais sagrada. Quando a
    linha preta foi consumida pelo dragão de fogo, o filho do ferro deu primazia
    à Vickon Greyjoy, sim... mas como Senhor, não como Rei.
    Foi um bom começo. Aeron ouviu gritos de aprovação, mas
    diminuiu quando o velho começou a falar das glórias dos Drumms. Falou do
    Dale, o Temor, Roryn, o Salteador, os cem filhos de Gormond Drumm, o
    Velho Pai. Ele desembainhou Chuva Vermelha e contou-lhes como Hilmar
    Drumm, o Astuto, havia tomado a lamina de um cavaleiro com armadura,
    usando apenas a inteligência e um porrete de madeira. Ele falou de navios
    perdidos há muito tempo e de batalhas esquecidas há oitocentos anos, e a
    multidão começou a ficar impaciente. Ele falou e falou, e então falou um
    pouco mais. E quando as caixas de Drumm foram abertas, os capitães viram
    os presentes avarentos que ele trouxe.
    Nenhum trono nunca foi comprado com bronze, Cabelo Molhado
    pensou. A verdade estava clara de se perceber, os gritos de ‘Drumm,
    Drumm, Dustan Rei’ morreram.
    Aeron começou a sentir um frio na barriga, e de repente as ondas
    pareciam estar batendo mais alto que antes. É a hora, ele pensou. É a hora
    de Victarion fazer sua reclamação.
    — Quem deve ser rei sobre nós? — O sacerdote clamou uma vez
    mais, mas desta vez os seus ferozes olhos negros encontraram seu irmão no
    meio da multidão. — Nove filhos nasceram de Quellón Greyjoy. Um era
    mais forte que o resto, e não conhecia o medo.
    Victarion encontrou seus olhos e acenou. Os capitães se separaram
    diante dele enquanto ele subia os degraus.
    — Irmão, me dê sua benção — ele pediu, quando chegou ao topo.
    Ele ajoelhou-se e abaixou a cabeça. Aeron desarrolhou seu cantil e
    derramou um fluxo de água do mar sobre sua testa.
    — O que está morto não pode morrer — disse o sacerdote.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:45 pm

    — Mas ergue-se de novo, mais duro e mais forte – Victarion
    replicou.
    Quando Victarion se ergueu, seus campeões se dispuseram abaixo
    dele, Ralf, o Manco, Ralf Stonehouse, o Vermelho, e Nute, o Barbeiro, todos
    notados guerreiros. Stonehouse carregava o estandarte Greyjoy; a lula
    gigante dourada em um campo tão negro como o mar a meia noite. Assim
    que desfraldada, os capitães e os reis começaram a gritar o nome do Senhor
    Comandante. Victarion esperou até que se aquietasse, e então disse:
    — Vocês todos me conhecem, se vocês querem palavras doces,
    procure em outro lugar, eu não tenho língua de cantor. Eu tenho um
    machado, e eu tenho esses — Ele ergueu suas enormes mãos para lhes
    mostrar, e Nude, o Barbeiro, exibiu seu machado, um temível pedaço de aço.
    — Eu era um irmão leal. — Victarion continuou — Quando Balon
    se casou, foi a mim quem ele enviou a Harlaw para trazer de volta sua
    esposa. Eu conduzi seus navios em muitas batalhas e não perdi nenhuma. A
    primeira vez que Balon pegou uma coroa, fui eu quem navegou até
    Lannisporto para queimar a cauda do leão. Da segunda vez, foi a mim quem
    ele enviou para esfolar o Jovem Lobo para que este viesse uivando para casa.
    Tudo que vocês terão de mim é mais do que tiveram de Balon. Isso é tudo
    que tenho a dizer.
    Com isso, seus campeões começaram a cantar:
    — VICTARION, VICTARION, REI VICTARION! — A seguir,
    seus homens derramaram para fora de suas cestas uma cascata de prata, ouro
    e pedras preciosas. Uma pilha de riquezas. Capitães mexiam-se para
    aproveitar as peças mais ricas, gritando enquanto isso: — VICTARION!
    VICTARION! REI VICTARION!. — Aeron observou o Olho do Corvo.
    Ele falará agora, ou deixaria a assembleia de homens livres decida seu
    curso? Orkwood de Montrasgo estava sussurrando no ouvido de Euron.
    Mas, não foi Euron quem colocou um fim no canto, foi à mulher. Ela
    colocou dois dedos na boca e assobiou, um som agudo e estridente que
    cortou o tumulto como uma faca na coalhada.
    — Tio! Tio! — Dobrando-se, ela pegou um colar de ouro torcido e
    subiu os degraus. Nute agarrou-a pelo braço, e por metade de uma batida de
    coração, Aeron estava esperando que o campeão de seu irmão conseguisse
    mantê-la em silencio, mas Asha arrancou suas mãos do Barbeiro e disse algo
    a Ralf, o Vermelho que o fez se afastar. Assim que ela o empurrou para trás,
    toda a torcida se extinguiu. Ela era filha de Balon Greyjoy, e a multidão
    estava curiosa para ouvi-la falar.
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    O Festim dos Corvos - Página 12 Empty Re: O Festim dos Corvos

    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:45 pm

    — Foi bom você trazer estes presentes para minha assembleia de
    mulheres livres, tio. — Ela disse a Victarion. — Mas você não precisava ter
    usado tanta armadura. Eu prometo não machucá-lo. — Asha virou seu rosto
    para os capitães. — Não há ninguém mais bravo do que meu tio, ninguém
    mais forte, ninguém tão feroz em luta. E ele conta até dez tão rápido quanto
    qualquer outro homem, eu o vi fazer isso... embora quando ele precisa ir até
    vinte ele tenha que tirar suas botas. — Isso fez eles rirem. — Ele não tem
    filhos, eu acho. Suas esposas continuam morrendo. O Olho de Corvo sim, é
    mais velho e possui um melhor argumento...
    — Ele tem! — Oarsman, o Vermelho gritou lá de baixo.
    — Ah, mas minha reivindicação é melhor ainda! — Asha colocou o
    colar em sua cabeça em um confiante ângulo, de forma que o ouro brilhou
    contra seu cabelo escuro. — O irmão de Balon não pode vir antes do filho de
    Balon!
    — O filho de Balon está morto! — Exclamou Ralf, O Manco —
    Tudo o que vejo é a filhinha de Balon.
    — Filha? — Asha escorregou a mão sobre seu gibão. — Oho! O
    Que é isso? Deveria eu mostrar a vocês? Alguns de vocês não viram um
    desde que foram desmamados. — Eles riram de novo. — Mamilos em um
    rei é uma coisa terrível, é isso que parece? Ralf, você me pegou, eu sou uma
    mulher. Embora não velha como você. Ralf, o Manco, não deveria ser Ralf o
    Coxo? — Asha desenhou um punhal entre seus seios. — Eu sou uma mãe
    também, e aqui está o meu bebe mamão. — Ela ergueu-o. — E aqui estão
    meus campeões. Eles empurraram os três de Victarion para trás e se
    postaram atrás dela; Qarl, a Donzela, Tristifer Botley, e o cavaleiro Sor
    Harras Harlaw, cuja espada anoitecer era tão celebre quanto a Chuva
    Vermelha de Dustan Drumm é. — Meu tio disse que você o conhece. Vocês
    me conhecem também!
    — Eu quero te conhecer melhor! — alguém gritou.
    — Vá para casa e conheça sua esposa. — Asha gritou de volta. —
    Meu tio disse que dará a você mais do que meu pai deu. Bem, e o que foi
    isso? Ouro e glória, alguns dirão. Liberdade, sempre doce. Sim, então, ele
    nos deu isso... E viúvas também, como Lorde Blacktyde irá dizer. Quantos
    de vocês tiveram suas casas queimadas quando Robert chegou? Quantos de
    vocês tiveram suas filhas estupradas e despojadas? Cidades queimadas e
    castelos quebrados! Meu pai os deu isso. Derrota foi o que ele os deu. O tio
    aqui dará a vocês mais. Não eu.
    — O que você vai nos dar? — perguntou Lucas Codd. — Tricô?
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:45 pm

    — Sim Lucas, eu irei vos tricotar todo um reino! — Ela jogou sua
    adaga de uma mão para outra. — Nós precisamos aprender uma lição com o
    Jovem Lobo, que venceu todas as batalhas... e perdeu tudo.
    — Um lobo não é uma lula. — Victarion objetou. – O que uma lula
    gigante agarra não perde, seja uma canoa ou um leviathan.
    — E o que nós temos apreendido, tio? O norte? O que é isso além de
    léguas, léguas, léguas e léguas longe do som do mar? Temos tomado Cailin,
    Bosque Profundo, Praça de Torrhen, até mesmo Winterfell. E o que temos
    ganho com isso? – ela acenou, e seus homens do Vento Negro foram
    empurrando para frente arcas de carvalho e ferro em seus ombros.
    — Eu vos dou a riqueza de Costa Pedregosa. – Asha disse assim que
    o primeiro se levantou. Uma avalanche de pedras caíram para a frente,
    descendo os degraus em cascatas; pedrinhas cinzas, brancas e pretas,
    desgastadas pelo mar. — Eu dou a vocês a riqueza de Bosque Profundo —
    Ela disse, e o segundo cesto foi aberto. — Pinhos vieram a tona, rolando e
    saltando para dentro da multidão. — E por ultimo, o ouro de Winterfell. —
    Do terceiro cesto vieram nabos amarelos, redondos, duros e grandes como a
    cabeça de um homem. Eles caíram em meios às pedras e pinhos. Asha
    espetou um em seu punhal. — Harmund Sharp. – ela gritou. – Seu filho
    Harrag morreu em Winterfell por isso. — Ela puxou o nabo para fora de sua
    lamina e o jogou para ele. — Você tem outros filhos, eu acho. Se você
    trocaria sua vida por nabos, grite o nome de meu tio.
    — E se eu gritar o seu nome? — Harmund perguntou. — O que será
    então?
    — A paz — disse Asha. — Terra, Vitória. Te darei a Ponta do
    Dragão Marinho, e Costa Pedregosa. Terra negra, árvores altas e pedras
    suficientes para cada filho mais novo construir um salão. Nós teremos os
    homens do norte também, como amigos, para estarem conosco contra o
    Trono de Ferro. Sua escolha é simples. Coroem-me para paz e vitória, ou
    coroem meu tio, para mais guerra e mais derrota. — Ela embainhou sua
    adaga novamente. — o que vocês escolhem, homens de ferro?
    — VITÓRIA! — Gritou Rodrik, o Leitor com as mãos em concha
    sobre a boca — Vitória e Asha!
    — ASHA! — Lord Baelor Blacktyde ecoou. — RAINHA ASHA!
    A própria Asha tomou o canto da multidão.
    — ASHA! ASHA! RAINHA ASHA! — Eles batiam os pés,
    sacudiam os punhos e gritavam, enquanto Cabelo ouvia incrédulo. Ela quer
    desfazer o trabalho de seu pai! Mesmo assim, Tristifer Botley estava
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:45 pm

    gritando por ela, como muitos Harlaw, alguns Bons Irmãos, Lord Merlyn, e
    mais homens do que o sacerdote jamais teria acreditado... para uma mulher!
    Mas outros estavam segurando suas línguas, ou murmurando a parte
    para seus vizinhos.
    — Não queremos a paz dos covardes! — Ralf, O Manco rugiu. Ralf
    Stonehouse, o Vermelho, rodou a bandeira Greyjoy e berrou:
    — Victarion! VICTARION! VICTARION! — Os homens
    começaram a empurrar uns aos outros, alguém jogou uma pinha na cabeça
    de Asha. Quando ela se abaixou, sua coroa provisória caiu. Por um
    momento, pareceu ao sacerdote que ele estava em cima de um formigueiro
    gigante, com milhares de formigas fervendo em seus pés. Gritos de ‘Asha’ e
    ‘Victarion’ iam e vinham, e parecia que uma alguma tempestade selvagem
    estava prestes a engolir todos eles. O deus da tempestade está entre nós, o
    sacerdote pensou, semeando fúria e discórdia.
    Afiada como uma espada, o som de um corno de guerra dividiu o ar.
    Brilhante e funesta foi sua voz, um tremendo e quente grito que fez
    os ossos dos homens parecerem tamborilar dentro deles. O grito pairava no
    ar úmido do mar: AAAAAAAARRRRRRRREEEEEEEEE!
    Todos os olhares se viraram em direção ao som. Foi um dos
    mestiços de Euron quem fez a chamada, um monstruoso homem com a
    cabeça raspada. Anéis de ouro e jade brilhavam em seus braços, e em seu
    peito largo estava tatuado uma ave de rapina, com as garras pingando
    sangue.
    aaaaRRREEEEeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee.
    O corno que ele tocou era preto brilhante e torcido, maior que um
    homem, tanto que quem o segurava usava as duas mãos. Ele estava preso
    com bandas de ouro vermelho e aço escuro, inciso com antigos grifos
    Valirianos, que pareciam brilhar enquanto o som se propagava.
    aaaaaaaRRREEEEEEEEEEEEeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee.
    Era um terrível som. Um gemido de dor e fúria que parecia queimar
    os ouvidos. Aeron Cabelo Molhado cobriu os seus ouvidos, e orou ao deus
    afogado para erguer uma grande onda e esmagar o corno para o silencio.
    Ainda assim, o grito soou, soou. É o cifre do inferno, ele quis gritar, pensava
    que nenhum homem havia o escutado. As bochechas do homem tatuado
    estavam Tão estufadas que pareciam prestes a estourar. E os músculos em
    seu peito contraídos de tal forma que parecia que o pássaro ali estava prestes
    a rasgar seu peito e voar livremente, e agora os grifos foram acesos, cada
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:45 pm

    linha e letra brilhando com o fogo branco. E o som foi, foi, foi... ecoando
    entre as colinas, uivando atrás deles e através das águas do Berço de Nagga,
    para se chocar contra as montanhas de Grande Wyk, e indo e indo e indo, até
    preencher completamente as mundo.
    E quando parecia que o som nunca iria acabar, acabou.
    A respiração do soprador do corno falhou por fim. Ele cambaleou e
    quase caiu. O sacerdote viu Orkwood de Montrasgo agarrá-lo por um braço e
    segurá-lo em pé, enquanto a mão esquerda de Lucas Codd tomou o retorcido
    corno negro de suas mãos. Uma fina coluna de fumaça se erguia do corno, e
    o sacerdote viu sangue e bolha nos lábios do homem que havia o soado. O
    pássaro em seu peito estava sangrando também.
    Euron Greyjoy subiu o morro lentamente, com todos os olhares
    sobre ele. Acima, a gaivota gritou e gritou novamente. Nenhum homem sem
    deus deveria sentar-se na Cadeira de Pedra do Mar, Aeron pensou, mas
    sabia que deveria deixar seu irmão falar. Seus lábios moviam-se
    silenciosamente em oração.
    Os campeões de Asha se afastaram, e os de Victarion também. O
    sacerdote deu um passo para trás e colocou uma mão sobre a fria e áspera
    costela de Nagga. Olho de Corvo parou em cima dos degraus, ás portas do
    salão do Rei Cinza, e voltou seu olho sorridente aos capitães e aos reis, mas
    Aeron podia sentir seu outro olho também, aquele que ele mantinha
    escondido.
    — HOMENS DE FERRO — gritou Euron Greyjoy. — Vocês
    ouviram meu corno, agora, ouçam minhas palavras. Eu sou o irmão de
    Balon. O mais velho filho vivo de Quellon, o sangue de Lorde Vickon está
    em minhas veias, e o sangue da velha lula gigante. Ainda assim eu tenho
    navegado para mais longe do que qualquer um desses. Apenas uma lula viva
    nunca conheceu a derrota. Apenas uma nunca dobrou o joelho. Apenas uma
    navegou para Asshai pelas sombras, e viu maravilhas e terrores além da
    imaginação...
    — Se você gosta das sombras tanto assim, volte para lá. — Chamou,
    com as faces rosadas Qarl, a Donzela, uma entre os campeões de Asha.
    Olho de Corvo o ignorou.
    — Meu irmãozinho iria terminar a guerra de Balon e tomar o norte.
    Minha doce sobrinha iria vos dar paz e pinhos — seus lábios azuis se
    torceram em um sorriso. – Asha prefere vitória à derrota. Victarion quer um
    reino, não uns poucos metros de terra. De mim, vocês terão os dois. Olho do
    Corvo, vocês me chamam. Bem, quem tem o olho mais aguçado que o
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:46 pm

    corvo? Depois de cada batalha os corvos vem em centenas e em milhares
    para banquetear-se dos caídos. Um corvo pode espiar a morte de longe. E eu
    digo que todos o Westeros está morrendo. Aqueles que me escolherem irão
    festejar até o fim de seus dias. Nós somos os homens de ferro, e uma vez
    fomos conquistadores. Nosso lema corria por toda a parte em que o som das
    ondas eram ouvidos. Meu irmão fizeram vocês se contentarem com o frio e
    sombrio norte, minha sobrinha com menos ainda... Mas eu darei a vocês
    Lannisporto. Jardim de Cima. A Árvore. Vilavelha. As terras dos rios e a
    Campina, a estrada do rei e a Mata da Chuva, Dorne e a Marca, as
    Montanhas da Lua e o Vale de Arryn, Tarth e os Degraus. Eu digo que
    pegaremos tudo isso! Eu digo que pegaremos Westeros — ele olhou para o
    sacerdote. — Tudo para a maior glória do nosso deus afogado, na realidade.
    Pela metade de um batimento cardíaco até Aeron foi varrido pela
    ousadia de suas palavras. O sacerdote havia sonhado o mesmo sonho,
    quando ele tinha visto o cometa vermelho no céu pela primeira vez.
    Devemos varrer as terras verdes com fogo e espada, extirpar os sete deuses
    e as arvores brancas dos homens do norte...
    — Olho do Corvo. — Asha chamou — Você deixou seu juízo em
    Asshai? Se não podemos manter o norte — e não podemos — como vamos
    ganhar os Sete Reinos?
    — Porque não? Já foi feito antes. Será que Balon ensinou tão pouco
    a sua garota sobre os caminhos das guerras? Victarion, a filha de nosso
    irmão nunca ouviu falar de Aegon o Conquistador, é o que parece.
    — Aegon? — Victarion cruzou seus braços sobre a armadura em seu
    peito. — O que o conquistador tem a ver conosco?
    — Eu sei tanto de guerra quanto você, Olho do Corvo — Asha disse
    — Aegon Tagaryen conquistou Westeros com dragões.
    — E assim iremos nós — Euron Greyjoy prometeu — Esse corno
    que vocês ouviram eu encontrei entre as ruínas fumegantes que foram
    Valiria, onde nenhum homem ousou andar, exceto eu. Você ouviu seu
    chamado, e sentiu seu poder. Isto é um chifre de dragão, amarrados com
    bandas de ouro vermelho e esculpido em aço Valiriano com encantamentos.
    Os antigos senhores dragões procuraram tais chifres, antes de a Perdição os
    devorarem. Com esse corno, homens de ferro, eu posso trazer dragões a
    minha vontade.
    Asha riu em voz alta.
    — Um chifre para ligar cabras a sua vontade seria de mais uso, Olho
    de Corvo. Não existem mais dragões.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:46 pm

    — Novamente garota, você está errada. Existem três, e eu sei onde
    encontrá-los. Certamente isso vale uma coroa de troncos.
    — EURON! — gritou Lucas Codd, o Mão o Esquerda.
    — EURON! OLHO DE CORVO! EURON! — cantou o Oarsman, o
    Vermelho.
    Os mudos e mestiços do Silencio abriram os cestos de Euron e derramaram
    seus presentes diante dos capitães e dos reis. Em seguida, foi Hotho Harlaw
    que o sacerdote ouviu, assim que ele enchia suas mãos de ouro. Gorold
    Goodbrother gritou também, e Erik, o Quebrador de Bigornas.
    — EURON! EURON! EURON! — o grito cresceu, tornou-se um
    rugido. — EURON! EURON! OLHO DE CORVO! REI EURON! — Rolou
    pela Colina de Nagga, como o deus da tempestade chacoalhando as nuvens.
    — EURON! EURON! EURON! EURON! EURON! EURON!. — Até
    mesmo um sacerdote pode duvidar. Até mesmo um profeta pode conhecer o
    terror. Aeron Cabelo Molhado procurou dentro de si mesmo por seu deus e
    encontrou apenas o silencio. Com as milhares de vozes gritando o nome de
    seu irmão, tudo o que ele podia ouvir era o grito de uma dobradiça de ferro
    enferrujada.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:46 pm

    Briene 339


    A leste desta Lagoa da Donzela, os montes erguiam-se, selvagens, e
    os pinheiros fechavam-se em volta deles como uma hoste de
    soldados cinzentos esverdeados.
    Dick dizia que a estrada costeira era o caminho mais curto e mais
    fácil, portanto raramente perdiam de vista a baía. As vilas e aldeias ao longo
    da costa iam-se tornando mais pequenas à medida que avançavam, e também
    menos frequentes. Ao cair da noite procuravam uma estalagem. Crabb
    partilhava a cama comum com outros viajantes, enquanto Brienne pagava
    um quarto para si e para Podrick.
    — Era mais barato se dormíssemos todos na mesma cama,
    senhora — dizia o Dick. — Poderia pôr a sua espada entre nós. O Velho
    Dick era um tipo inofensivo. Cavalheiresco como um cavaleiro e tão honesto
    como o dia é longo.
    — Os dias estão ficando mais curtos — fez notar Brienne.
    — Bom, pode ser que sim. Se não confia em mim na cama, podia
    enrolar-me no chão, senhora.
    — No meu chão, não.
    — Um homem pode pensar que não tem nenhuma confiança em
    mim.
    — A confiança ganha-se. Como o ouro.
    — Como quiser, senhora — disse Crabb — mas lá em cima, a norte,
    onde a estrada acaba, nessa altura irá ter de confiar no Dick. Se eu quisesse
    roubar lhe o ouro à espadeirada, quem é que me impedia?
    — Não tem uma espada. Mas eu tenho
    Brienne fechou a porta entre eles e ficou ali à escuta até ter a certeza
    dele se ter ido embora. Por mais lesto que fosse, Dick Crabb não era nenhum
    Jaime Lannister, nenhum Rato Louco, nem sequer um Humfrey Wagstaff.
    Era magro e mal alimentado, e a sua única armadura era um meio-elmo
    amolgado e salpicado de ferrugem. Em vez de espada, usava uma velha
    adaga cheia de entalhes. Enquanto estivesse acordada, o homem não
    constituía qualquer ameaça para si.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:46 pm

    — Podrick — disse — chegará uma altura em que não haverá mais
    estalagens para nos fornecer abrigo. Não confio no nosso guia. Quando
    acamparmos, pode me vigiar enquanto durmo?
    — Ficar acordado, senhora? Sor. — O rapaz refletiu. — Tenho uma
    espada. Se Crabb tentar te fazer mal, posso matá-lo.
    — Não — disse ela com severidade. — Não deve tentar lutar com
    ele. Tudo o que peço é que o vigie enquanto eu durmo e me acorde se ele
    fizer alguma coisa suspeita. Vai descobrir que acordo depressa.
    Crabb mostrou as suas verdadeiras cores no dia seguinte, quando
    pararam para dar água aos cavalos. Brienne teve de se esconder atrás de uns
    arbustos para esvaziar a bexiga. No momento em que se acocorava, ouviu
    Podrick dizer:
    — O que está fazendo? Saí daí. — Acabou o que tinha a fazer,
    puxou as bragas para cima e quando regressou à estrada foi encontrar Dick a
    limpar farinha dos dedos.
    — Não vai encontrar dragões nos alforges — disse-lhe. —
    Transporto o ouro comigo. — Algum encontrava-se na bolsa que trazia ao
    cinto, o resto estava escondido num par de bolsos cosidos no interior do
    vestuário. A gorda bolsa que tinha dentro do alforge estava cheia de cobres
    grandes e pequenos, dinheiros e meios-dinheiros, pequenas moedas de prata
    e estrelas... e fina farinha branca, para a tornar ainda mais gorda. Comprara a
    farinha ao cozinheiro das Sete Espadas, na manhã em que partira de
    Valdocaso.
    — O Dick não tinha más intenções, senhora. — Torceu os seus
    dedos manchados de farinha para mostrar que não tinha armas. — Tava só
    vendo se tinha esses dragões que me prometeu. O mundo está cheio de
    mentirosos, prontos a aldrabar um homem honesto. Não que você seja um
    deles.
    Brienne esperava que ele fosse melhor guia do que era ladrão.
    — É melhor irmos andando. — Voltou a montar
    Dick costumava cantar enquanto viajavam; nunca era uma canção
    inteira, só um bocado desta, um verso daquela. Brienne suspeitava que o
    homem pretendia seduzi-la, para a fazer baixar a guarda. Por vezes tentava
    levar a ela e a Podrick a cantar com ele, mas sem sucesso. O rapaz era
    demasiado tímido e tinha a língua demasiado presa, e Brienne não cantava.
    Cantava para o seu pai? Perguntara-lhe uma vez a Senhora Stark, em
    Correrrio. Cantava para Renly? Não o fizera, nunca, embora tivesse
    desejado... tinha-o desejado...
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:46 pm

    Quando não estava a cantar, o Dick falava, regalando-os com
    histórias sobre a Ponta da Garra Rachada. Cada vale sombrio tinha o seu
    senhor, dizia ele, todos unidos apenas pela desconfiança que sentiam por
    forasteiros. Nas suas veias, o sangue dos Primeiros Homens corria escuro e
    forte.
    — Os ândalos tentaram tomar a Garra, mas sangramos eles nos vales
    e os afogamos nos pântanos. Só que o que os filhos deles não conseguiram
    conquistar com as espadas, as lindas filhas conquistaram com beijos.
    Casaram com as casas que não conseguiam conquistar, ah foi.
    Os reis Darklyn de Valdocaso tinham procurado impor o seu
    domínio sobre a Ponta da Garra Rachada; os Mooton de Lagoa da Donzela
    também, e mais tarde fora a vez dos altivos Celtigar da Ilha dos Caranguejos.
    Mas os homens da Garra conheciam os seus pântanos e florestas como
    nenhum forasteiro podia conhecer, e quando eram muito pressionados
    desapareciam nas cavernas que transformavam os seus montes em colmeias.
    Quando não lutavam com aspirantes a conquistadores, lutavam uns com os
    outros. As suas rixas de sangue eram tão profundas e escuras como os
    pântanos entre os seus montes. De tempos a tempos, algum campeão trazia a
    paz à Ponta, mas nunca durava mais do que a sua vida. Lorde Lúcifer Hardy,
    esse fora um dos grandes, e os Irmãos Brune também. O Velho Crackbones
    ainda mais, mas os Crabb eram os mais poderosos de todos. — Dick ainda se
    recusava a acreditar que Brienne nunca tivesse ouvido falar de Sor Clarence
    Crabb e das suas façanhas.
    — Porque haveria eu de mentir? — perguntou-lhe ela. — Todos os
    sítios têm os seus heróis locais. No lugar de onde venho, os cantores cantam
    sobre Sor Galladon de Morne, o Cavaleiro Perfeito.
    — Sor Gallaquem de Quê? — O homem soltou uma fungadela. —
    Nunca ouvi falar. Porque diabo era ele assim tão perfeito?
    — Sor Galladon foi um campeão de tal valor que a própria Donzela
    perdeu o coração por ele. Deu-lhe uma espada encantada como símbolo do
    seu amor. Chamava-se a Justa Donzela. Nenhuma espada vulgar era capaz
    de a parar, e nenhum escudo podia aguentar o seu beijo. Sor Galladon usava
    orgulhosamente a Justa Donzela, mas só por três vezes a desembainhou. Não
    queria usar a Donzela contra os mortais, pois era tão potente que
    desequilibraria qualquer luta.
    Crabb achou aquilo hilariante.
    — O Cavaleiro Perfeito? Soa mais ao Palerma Perfeito. Pra que raio
    se há-de ter uma espada mágica, se não é pra lhe dar uso?
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:47 pm

    — Honra — disse ela. — O motivo é a honra.
    Aquilo só conseguiu fazê-lo rir mais alto.
    — Sor Clarence Crabb era capaz de limpar aquele rabo peludo que
    tinha com o seu Cavaleiro Perfeito, senhora. Se algum dia se tivessem
    encontrado, era mais uma cabeça cheia de sangue na prateleira dos
    Murmúrios, cá pra mim. ‘Devia ter usado a espada mágica’, ele iria dizer às
    outras cabeças. ‘Devia ter usado a merda da espada.’
    Brienne não pôde evitar sorrir.
    — Talvez — concedeu — mas Sor Galladon não era palerma
    nenhum. Contra um inimigo com dois metros e quarenta, montado num
    auroque, podia perfeitamente ter desembainhado a Justa Donzela. Usou-a
    uma vez para matar um dragão, segundo se diz.
    Dick não se deixou impressionar.
    — O Crackbones também lutou com um dragão, mas não precisou
    de espada mágica nenhuma. Deu-lhe só um nó no pescoço, de modo que de
    cada vez que ele largava fogo, assava o próprio rabo.
    — E o que fez o Crackbones quando Aegon e as irmãs chegaram? —
    perguntou-lhe Brienne.
    — Tava morto. A senhora tem de saber disso. — Crabb deitou-lhe
    um olhar de través. — Aegon mandou a irmã à Garra Rachada, a tal
    Visenya. Os senhores tinham ouvido falar do fim de Harren. Como não eram
    palermas nenhuns, puseram as espadas aos pés dela. A rainha tomou-os
    como seus homens, e disse que não deviam lealdade a Lagoa da Donzela,
    Ilha dos Caranguejos ou Valdocaso. Isso não impediu aqueles malditos
    Celtigar de mandar homens à costa oriental pra coleta de impostos. Se
    mandar suficientes, alguns regressam... fora isso, a gente dobra-se só aos
    nossos senhores, e ao rei. Ao rei verdadeiro, não a Robert e gente desse. —
    Cuspiu. — Havia alguns Crabb, Brune e Boggse com o Príncipe Rhaegar no
    Tridente, e na Guarda Real também. Um Hardy, um Cave, um Pyne, e três
    Crabb, o Clement, o Rupert e Clarence, o Baixo. Tinha um metro e oitenta, o
    tipo, mas era baixo comparado com o verdadeiro Sor Clarence. Somos todos
    bons homens dos dragões, aqui no caminho da Garra Rachada.
    O tráfego continuou a reduzir-se à medida que avançavam para norte
    e para leste, até que por fim deixaram de encontrar estalagens. Por essa
    altura, a estrada costeira era mais ervas daninhas do que sulcos. Naquela
    noite abrigaram-se numa aldeia de pescadores. Brienne pagou um punhado
    de cobres aos aldeões para os deixarem pernoitar num celeiro cheio de feno.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:47 pm

    Ficou com o sobrado para si e para Podrik e puxou a escada depois de
    subirem.
    — Se me deixar aqui em baixo sozinho, posso perfeitamente roubar
    os cavalos — gritou Crabb de baixo. — É melhor que os faça subir a escada
    tamem, senhora. — Quando ela o ignorou, ele prosseguiu dizendo:
    — Esta noite vai chover. Uma chuva fria e forte. Você e o Pod irão
    dormir todos aconchegadinhos e quentes, e o pobre velho Dick vai ficar aqui
    em baixo a tremer sozinho. — Abanou a cabeça, resmungando, enquanto
    transformava uma pilha de feno numa cama. — Nunca conheci donzela tão
    desconfiada como você.
    Brienne enrolou-se debaixo do manto, com Podrick a bocejar a seu
    lado. Não fui sempre cautelosa, podia ter gritado a Crabb. Quando era
    rapariguinha., acreditava que todos os homens eram tão nobres como o meu
    pai. Até os homens que lhe diziam como era uma menina bonita, como era
    alta, esperta e inteligente, como era graciosa quando dançava. Fora a Septã
    Roelle quem tirara as lascas de cima dos seus olhos.
    — Eles só dizem aquelas coisas para conquistar o favor do senhor
    vosso pai — dissera a mulher. — Encontrará a verdade no espelho, não na
    língua dos homens. — Fora uma lição dura, uma lição que a deixara a
    chorar, mas servira-lhe bem em Harrenhal quando Sor Hyle e os amigos
    tinham jogado o seu jogo. Uma donzela tem de ser desconfiada neste mundo,
    senão não será donzela por muito tempo, estava ela a pensar quando a chuva
    começou a cair.
    No corpo-a-corpo, em Pontamarga, procurara os seus pretendentes e
    espancara-os um por um, Farrow, Ambrose e Bushy, Mark Mullendore,
    Raymond Nayland e Will, o Cegonha. Atropelara Harry Sawyer e quebrara o
    elmo de Robin Potter, deixando-lhe uma cicatriz com mau aspecto. E quando
    o último deles caíra, a Mãe entregara-lhe Connington. Daquela vez, Sor
    Ronnet empunhava uma espada, em vez de uma rosa. Cada golpe que lhe
    dera era mais doce do que um beijo.
    Loras Tyrell fora o último a enfrentar a sua fúria naquele dia. Nunca
    a cortejara, quase nem sequer a olhara, mas naquele dia trazia três rosas
    douradas no escudo, e Brienne odiava rosas. Vê-las dera-lhe uma força
    furiosa. Adormeceu sonhando com a luta que tinham tido, e com Sor Jaime a
    prender-lhe um manto de arco-íris em volta dos ombros.
    Ainda chovia na manhã seguinte. Ao quebrarem o jejum, Dick
    sugeriu que esperassem que a chuva parasse.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:47 pm

    — E isso será quando? Amanhã? Dentro de uma quinzena? Quando
    o verão voltar? Não. Temos mantos, e léguas a percorrer.
    Choveu durante todo aquele dia. O estreito trilho que seguiam
    rapidamente se transformou em lama por baixo deles. As árvores que viam
    estavam despidas, e a chuva contínua transformara as folhas delas caídas
    num tapete encharcado e castanho. Apesar do seu forro de pele de esquilo, o
    manto de Dick deixava passar a água, e Brienne via-o a tremer. Sentiu um
    momento de piedade pelo homem. Ele não tem comido bem, isso é evidente.
    Perguntou a si própria se haveria realmente uma angra de contrabandistas,
    ou um castelo arruinado chamado Murmúrios. Homens famintos fazem
    coisas desesperadas. Tudo aquilo podia ser um estratagema para a intrujar. A
    suspeita amargou-lhe o estômago.
    Durante algum tempo pareceu que o marulhar constante da chuva
    era o único som que havia no mundo. Dick continuou a avançar, sem querer
    saber de nada. Observou-o de perto, notando o modo como ele dobrava as
    costas, como se enrolar-se na sela pudesse mantê-lo seco. Daquela vez não
    havia uma aldeia à mão quando a escuridão caiu sobre eles. Nem havia
    árvores que lhes fornecessem abrigo. Foram forçados a acampar por entre
    uns rochedos, cinquenta metros acima da linha das marés. Os rochedos, pelo
    menos, manteriam o vento afastado.
    É melhor a gente fazer turnos de vigia esta noite, senhora — disselhe
    Crabb, no momento em que Brienne lutava por acender uma fogueira
    com a madeira trazida pelas marés. — Num sítio como este pode haver
    chapinheiros.
    — Chapinheiros? — Brienne deitou-lhe um olhar desconfiado.
    — Monstros — disse Dick com satisfação. — Parecem homens até
    se chegar perto, mas a cabeça é grande demais, e têm escamas onde um
    homem comum deve ter pelos. São brancos como a barriga dum peixe, com
    pele entre os dedos. Tão sempre úmidos e a cheirar a peixe, mas atrás
    daqueles lábios com ar choramingas que têm há filas de dentes verdes
    afiados como agulhas. Há quem diga que os Primeiros Homens os mataram a
    todos, mas não acredite nisso. Chegam de noite e roubam criancinhas
    malcriadas, andando por aí com aqueles pés de pato com um ruidinho de
    chapinhar. Ficam com as moças pra acasalar, mas comem os rapazes,
    roendo-os com aqueles dedos verdes e afiados. — Mostrou um sorriso a
    Podrick. — A você comeriam, moço. O comeriam cru.
    — Se tentarem, eu mato-os. — Podrick tocou a espada.
    — Tenta lá. Tenta. Os chapinheiros não são fáceis de matar. —
    Piscou o olho a Brienne. — É uma mocinha má, senhora?
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:47 pm

    — Não. — Só uma idiota. A madeira estava demasiada úmida para
    pegar, por mais faíscas que Brienne fizesse saltar da pederneira e do aço. Os
    gravetos fumegaram um pouco, mas foi tudo. Descontente, instalou-se com
    as costas apoiadas num rochedo, cobriu-se com o manto e resignou-se a uma
    noite fria e úmida. Sonhando com uma refeição quente, roeu uma porção de
    carne de vaca dura e salgada enquanto Dick falava sobre a altura em que Sor
    Clarence Crabb lutara com o rei dos chapinheiros. Ele conta histórias bem
    contadas, teve de admitir, mas Mark Mullendore também era divertido, com
    o seu macaquinho.
    O tempo estava demasiado úmido para se ver o sol a pôr-se,
    demasiado cinzento para se ver a lua a nascer. A noite foi negra e desprovida
    de estrelas. Crabb esgotou as histórias e foi dormir. Podrick também estava
    em breve a ressonar. Brienne ficou sentada com as costas apoiadas ao
    rochedo, escutando as ondas. Está perto do mar, Sansa? Perguntou a si
    própria. Está à espera nos Murmúrios por um navio que nunca chegará?
    Quem está com você? Passagens para três disse ele. Terá o Duende se
    juntado a vós e a Sor Dontos ou será que encontrou a sua irmãzinha?
    O dia fora longo, e Brienne estava fatigada. Descobriu que até ficar
    sentada contra o rochedo, com a chuva a tamborilar levemente a toda a volta,
    fazia com que as pálpebras começassem a pesar. Dormitou por duas vezes.
    Da segunda, acordou de repente, com o coração aos saltos, convencida de
    que alguém estava em pé por cima dela. Sentia os membros rígidos, e o
    manto estava a enrodilhar-se em volta dos seus tornozelos. Libertou-se dele
    com um pontapé e levantou-se. Dick estava aninhado de encontro a um
    rochedo, meio enterrado em areia molhada e pesada, a dormir. Um sonho.
    Foi um sonho.
    Talvez tivesse cometido um erro ao abandonar Sor Creighton e Sor
    Illifer. Tinham-lhe parecido honestos. Gostaria que Jaime estivesse comigo,
    pensou... mas ele era um cavaleiro da Guarda Real, o lugar que lhe competia
    era com o rei. Além disso, era Renly quem desejava. Jurei que o protegeria,
    e falhei. Depois jurei que o vingaria, e também falhei em fazê-lo. Em vez
    disso, fugi com a Senhora Catelyn, e também a ela falhei. O vento mudara
    de direção, e a chuva escorria-lhe pela cara.
    No dia seguinte, a estrada reduziu-se a um fio pedregoso, e por fim a
    uma mera sugestão. Perto do meio-dia, chegou a um fim abrupto no sopé de
    uma escarpa esculpida pelo vento. Por cima, um pequeno castelo franzia o
    cenho por sobre as vagas, com três torres tortas delineadas contra um céu de
    chumbo.
    — Aquilo são os Murmúrios? — perguntou Podrick.
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:47 pm

    — Aquilo parece-te uma porcaria duma ruína? — Crabb cuspiu. —
    Aquilo é o Antro Terrível, onde o velho Lorde Brune tem a sede. Mas a
    estrada acaba aqui. Pra nós, daqui pra frente são pinheiros.
    Brienne estudou a escarpa.
    Como chegamos lá acima?
    — É fácil. — Dick deu a volta ao cavalo. — Fique perto do Dick. Os
    chapinheiros são bichos pra apanhar os que ficam pra trás.
    O caminho ascendente revelou-se um íngreme trilho pedregoso
    escondido no interior de uma fenda na rocha. A maior parte era natural, mas
    aqui e ali tinham sido esculpidos degraus para facilitar a ascensão. Paredes
    abruptas de rocha, carcomida por séculos de vento e borrifos das ondas,
    apertavam-nos de ambos os lados. Em alguns pontos tinham tomado formas
    fantásticas. Dick indicou algumas enquanto subiam.
    — Ali está a cabeça de um ogro, vê? — disse, e Brienne sorriu
    quando a viu. — E aquilo ali é um dragão de pedra. A outra asa partiu-se
    quando o meu pai era moço. Aquilo ali por cima são as tetas descaídas como
    as duma velha bruxa. — E deitou um relance ao peito de Brienne.
    — Sor? Senhora? — disse Podrick. — Há um cavaleiro.
    — Onde? — Nenhuma das rochas lhe sugeria um cavaleiro.
    — Na estrada. Não é cavaleiro de pedra. Um verdadeiro. A seguirnos.
    Lá em baixo. — Apontou.
    Brienne torceu-se na sela. Tinham subido até uma altura suficiente
    para ver léguas ao longo da costa. O cavalo aproximava-se pela mesma
    estrada que tinham percorrido, duas ou três milhas atrás deles. Outra vez?
    Deitou um relance desconfiado a Dick.
    — Não me olhe de lado — disse Crabb. — Ele não tem nada a ver
    com o velho Dick, seja quem for. Algum homem do Brune, o mais certo, a
    voltar das guerras. Ou um daqueles cantores que andam dum lado pró outro.
    — Virou a cabeça e cuspiu. — Não é chapinheiro nenhum, isso é certo.
    Esses não montam a cavalo.
    —Não — disse Brienne. Naquilo, pelo menos, podiam concordar.
    Os últimos trinta metros da subida revelaram-se os mais íngremes e
    traiçoeiros. Pedrinhas soltas rolavam por baixo dos cascos dos cavalos e
    caíam aos saltinhos pelo caminho pedregoso que tinham deixado para trás.
    Quando emergiram da fenda na rocha, encontraram-se junto às muralhas do
    castelo. Num parapeito, por cima deles, uma cara espreitou-os, após o que
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    Mensagem  Admin Sáb Jun 23, 2012 1:47 pm

    desapareceu. Brienne achou que podia ter sido uma mulher e disse isso
    mesmo a Dick.
    Ele concordou.
    — O Brune é velho demais pra andar a subir aos adarves, e os filhos
    e netos foram prás guerras. Não ficou ali ninguém a não ser mulheres, e um
    bebê ranhoso ou dois.
    Estava nos lábios de Brienne perguntar ao guia de qual dos reis fora
    a causa que o Lorde Brune abraçara, mas já não tinha importância. Os filhos
    de Brune tinham partido; alguns podiam nem regressar. Não obteremos aqui
    hospitalidade esta noite. Não era provável que um castelo cheio de velhos,
    mulheres e crianças abrisse as portas a estranhos armados.
    — Fala de Lorde Brune como se o conhecesse — disse ela ao Dick.
    — Pode ser que tenha conhecido, em tempos.
    Brienne deitou um relance ao peito do gibão do homem. Fios soltos
    e um bocado esfarrapado de pano mais escuro indicavam o lugar de onde um
    símbolo qualquer fora arrancado. O seu guia era um desertor, não duvidava.
    Poderia o cavaleiro que os seguia ser um dos seus irmãos de armas?
    — Devíamos continuar — exortou o homem — antes do Brune
    começar a perguntar a si próprio por que diabo estamos aqui à sombra das
    suas muralhas. Até uma mulher pode esticar a porcaria da corda duma besta.
    — Dick indicou com um gesto os montes de pedra calcária que se erguiam
    atrás do castelo, com as suas vertentes arborizadas. — Daqui prá frente não
    há mais estradas, só ribeiros e trilhos de caça, mas a senhora não precisa de
    ter medo. Dick conhece esta zona.
    Era isso que Brienne temia. O vento soprava em rajadas ao longo do
    topo da escarpa, mas a única coisa que conseguia cheirar era uma armadilha.
    — E aquele cavaleiro? — A menos que o seu cavalo fosse capaz de
    caminhar sobre as ondas, em breve subiria a escarpa.
    — Que é que ele tem? Se for um palerma qualquer de Lagoa da
    Donzela, pode nem sequer encontrar a porcaria do caminho. E se encontrar,
    a gente despista-o nos bosques. Não vai ter lá estrada pra seguir.
    Só o nosso rastro. Brienne perguntou a si própria se não seria melhor
    enfrentar o cavaleiro ali, de espada na mão. Parecerei uma completa idiota
    se for um cantor ambulante ou um dos filhos do Lorde Brune. Supunha que
    Crabb tinha razão. Se ainda vier atrás de nós amanhã, posso lidar com ele
    nessa altura.

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